1. Spirit Fanfics >
  2. Os Opostos Se Atraem (Romance Lésbico) >
  3. A Reabilitação

História Os Opostos Se Atraem (Romance Lésbico) - A Reabilitação


Escrita por: Nutlinha

Notas do Autor


Oiii \o/

Olhem, olhem, eu trouxe a Vick para vocês conhecerem hehe

Victoria: "E já vem trazendo spoiler".

Mas os nossos leitores merecem, Vick. Você não acha?

Victoria: "Que seja".

Não adianta gente. Ela está de mau humor hoje.

Bem, boa leitura para vocês!!!!
E obrigada pelo apoio, vocês são demais.
o(^-^o)(o^-^)o

Victoria: "Sim, obrigada. E boa leitura".

:x

Capítulo 3 - A Reabilitação


Fanfic / Fanfiction Os Opostos Se Atraem (Romance Lésbico) - A Reabilitação


Ponto de Vista Victoria Beckham


Segunda-Feira

14h30


Hoje foi mais um dia que resolvi não ir ao colégio, ainda não estava com humor para encarar as pessoas daquele lugar. Sei muito bem que os fofoqueiros de plantão só estão esperando eu aparecer para começarem com os boatos, principalmente depois de me verem sair acompanhada da policia. Eles adoram falar mal das pessoas, ainda mais se essa pessoa for eu 'a lésbica, drogada e delinquente, do Colégio Liberty', meu pai ia adorar saber disso. Eu deveria levar ele para passar um dia comigo na escola, 'a filhinha marginal e o papai alcoólatra'. Ri com ironia dos meus pensamentos.


Na real, eu não estava me importando de verdade com as fofocas. Só não estava com cabeça para aguentar todos aqueles olhares julgadores como se eles me conhecessem, sem que terminasse comigo explodindo a cabeça de alguém na parede.


E para piorar ainda tinha a Diretora Foucher, era certeza que eu teria de ir à sala dela quando chegasse no colégio. Sem contar que é hoje o dia em que aquela palhaçada de reabilitação iria começar. Ainda não conseguia acreditar que me deixei ser levada pelas ameaças daquela velha e concordei com isso.


O celular tocou pela milésima vez, olhei o nome no visor, era a Alexia. Nem o pessoal do Banco me ligava tanto quanto ela estava me ligando nesses últimos dias.


Depois do que aconteceu a única pessoa que cheguei a ver de verdade - fora a minha imagem no espelho - foi a Evilyn, ela veio umas três vezes aqui em casa para conversar. De todos, Evy era a minha amiga mais íntima. Claro que eu amava e me dava bem com todos os quatro, principalmente com Alexia. Mas mesmo tendo uma namorada, Evy sempre foi a que melhor me compreendeu, e também a única que sabia com clareza sobre todos os detalhes da minha vida. Por isso ela sabia muito bem como era um porre ser eu. Assim, no final de todas às visitas dela, sempre terminávamos com boas risadas, enquanto comíamos dos salgadinhos e bebíamos do refrigerante que ela trazia.


Apesar de querer ficar um tempo sozinha para acalmar os ânimos, era sempre bom ter a morena por perto para distrair a mente. Cheguei cogitar a ideia de ligar para Alexia e pedir para ela vir aqui várias vezes. Mas no fim, achei melhor deixar quieto. O motivo de todo esse receio era o meu pai, ele ainda não aceitava muito bem o nosso namoro. Da última vez que eu trouxe a morena pra cá, Richard chegou bêbado em casa e quase bateu na Alexia. A nossa sorte foi que Ed e Fred também estavam juntos nesse dia e me ajudaram a imobilizar o meu pai no sofá. Por isso eu digo que é melhor deixar as coisas como estão. Ter outra briga com a Alexia envolvida era tudo o que eu não precisava no momento.


E para ajudar, os pais da morena me odiavam com todas as forças. E do fundo de seus corações eles me entregavam para o diabo mais velho do inferno. Então não tinha muito escolha.


2 Novas Mensagens


Lexy: Amor, por que você não me atende?


Lexy: Estou preocupada com você.


Enquanto eu lia as mensagens, ouvi a porta da frente ser fechada com força, seguido de alguma coisa se quebrando e xingos sem sentidos. Provavelmente era meu pai chegando bêbado da rua, de novo. Coisas do meu dia-a-dia. Não demorou muito tempo para que fortes batidas fossem desferidas na porta do meu quarto como se ela estivesse sendo esmurrada.


"Abre a porta!!". A voz arrastada do meu pai me causou calafrios. Era uma merda quando ele chegava em casa nesse estado, nunca terminávamos bem quando ele parava de me ignorar e resolvia dialogar comigo. A minha demora para abrir a porta só fez com que ele aumentasse a força em que batia na porta. "Eu mandei abrir essa merda, porra!!!". Meu estômago ficou nauseado.


Levantei e fui abrir a porta antes que ele derrubasse ela no soco. "Está aberta. Feliz?". Voltei para perto da cama, dando espaço para Richard que entrou feito um furacão no quarto com uma garrafa de cerveja colada na mão. Era só isso que ele sabia fazer, chegar em casa e se embebedar ainda mais.


"Você não foi hoje de novo para o colégio?". Eu podia sentir o ódio transparecer no seu tom de voz. Apesar de estar bêbado, ele conseguia perfeitamente se equilibrar sobre os seus pés, como se estivesse sóbrio.


"Não estava afim". Tentei dar a mínima importância para a presença dele diante de mim. Quando atingi uma certa idade aprendi a controlar o medo que sinto de Richard, mas o receio dele fazer alguma coisa comigo sempre continuou aqui dentro do meu peito. Isso é uma coisa impossível de tirar.


Richard se aproximou num piscar de olhos e segurou o meu rosto com a mão, deixando as minhas bochechas marcadas com o seus dedos. "Eu não vou ficar sustentando vagabunda, enquanto você anda pra cima e pra baixo com aquele bando de inutéis". Juntei toda a minha força e empurrei ele de cima de mim, sentindo o meu maxilar dolorido. Nunca precisei de nenhum tustão dele. Pelo contrário as poucas contas aqui de casa que conseguíamos pagar eram todas quitadas com o dinheiro que eu ganhava dos trampos que eu arrumava, enquanto que ele pegava a maior parte do dinheiro para alimentar o seu vício alcoólico.


"Eu não admito que fale assim dos meus amigos. O único inútil aqui é você, que fica andando pra cima e pra baixo com essa garrafa de cerveja na mão, fingindo ser o bonzão, quando na verdade você não passa de um velho abandonado e imprestável". Senti a ardência no lado direito do meu rosto depois do tapa que levei. Falar da maneira como ele acabou sozinho nessa casa comigo sempre feria o ego dele.


"Dobre sua língua imunda antes de falar de mim". Uma lágrima queria cair, mas eu a limpei. Não iria dar esse gostinho para ele.


Peguei as chaves do carro e desci. Richard veio atrás de mim. "Onde você vai? Eu ainda não terminei de falar". Disse ele acompanhando os meus passos.


"Vou para bem longe de você. Não é isso o que você quer?". Peguei minha jaqueta que estava jogada no sofá, hoje o tempo estava sombrio e congelante, assim como a minha vida.


"Aposto que vai correndo para os braços daquela outra sapatão". Ele caçoou. Pudi sentir o desprezo em seu tom. Virei para ele com ódio de suas palavras.


"Vou mesmo! E sabe o que mais eu vou fazer? Vou aproveitar para usar a minha língua imunda com ela. Porque eu pelo menos sei dar prazer a uma mulher e consigo manter ela ao meu lado". Senti o olhar raivoso dele para mim. Sorri vitoriosa. Eu queria mesmo era tirar aquele risinho nojento do rosto dele, e consegui.


Alcancei a maçaneta. Assustei quando Richard tacou a garrafa de cerveja na parede, fazendo ela estourar bem próxima ao meu rosto, por muito pouco que não me atingiu. Cacos de vidro se espalharam por todo lado da sala.


Sem olhar para trás, saí de casa dando de cara com Fred na porta, o que me pegou de surpresa. Não esperava a visita dele.


"Parece que cheguei em boa hora". Ele sorriu meio sem jeito depois de ouvir os berros do meu pai, seguido de palavras ofensivas e de baixo calão que não devem ser repitidas aqui. Fred me olhava com espectativa por debaixo da aba reta de seu boné.


Sorri. "Não podia ter sido em hora melhor". Arrastei ele até meu carro e seguimos para longe daquele lugar, longe do meu pai. Nossas discussões sempre me faziam algum mal, como se o ar ficasse preso na minha garganta e me sufocasse até que eu morresse. Mas em uma dessas brigas, acabei descobrindo que dirigir é um tipo de válvula de escape para eu sair dos meus problemas. Cheguei até a participar de algumas corridas clandestinas, ganhando uma grana extra. Por isso sou tão boa fugindo da policia e a motorista do rolê.


"Onde vamos?". Fred perguntou já se animando com o passeio. Tenho certeza que ele estava pensando em alguma loucura.


"Você, vai para sua casa. Vou te levar até lá". Falei enquanto virava à esquina, fazendo o caminho mais rápido até a casa do meu amigo.


Fred ficou desanimado na mesma hora. "E você vai a onde?". Pensei um pouco antes de responder. Eu não queria ir até a casa da Alexia, eu me sentia um pouco mal depois de ter exposto a morena daquela forma para o idiota do meu pai. O melhor a se fazer agora seria ficar sozinha e refletir sobre as dores de cabeça. E para piorar ainda tinha aquela parada de programa para eu ir. Porra, parece que o universo resolveu conspirar contra mim de uma única vez.


"Eu vou naquele bang de reabilitação". Parei no semáforo.


"Você vai mesmo fazer parte daquilo?". Pela primeira vez, Fred estava realmente ouvindo o que eu estava dizendo. Deve ser porque ele não estava chapado.


"Eu preciso. A velha da Foucher me colocou contra a parede dessa vez". Ele balançou a cabeça compreendendo a minha situação. Era até engraçado ver ele tão conscentrado assim em alguma coisa.


"Nós devíamos ter ido lá na diretoria te ajudado naquela hora que o tira te levou". Ele estava arrependido de não ter feito nada. Assim como Ed, Evy e Alexia. Mas eles apenas respeitaram um pedido meu.


"E pra quê? Pra vocês entrarem nessa merda de situação também?". Fred ficou em silêncio. "É até melhor assim, não preciso ter os meus amigos fodidos". Observamos em silêncio as pessoas na faixa de pedestre.


"Nem sabia que existia esse tipo de coisa. Para mim era só os viciados que precisavam fazer essas paradas". Ele confessou. Meu pensamento não era muito diferente do dele. Na real, eu nem sabia o que esperar disso tudo. Mas é como diz aquele ditado, 'vivendo e aprendendo'.


"Vai ver que se divertir também é um vício". Olhei através da janela, o semáforo estava demorando uma eternidade para abrir e eu não estava muito afim de falar sobre aquele assunto. E Fred me conhecia o suficiente para saber disso. Mas ele nunca conseguia ficar com a língua quieta dentro da boca. Talvez isso fosse uma coisa boa a final. "Seu velho pegou pesado com você, não foi?". Retiro o que eu disse. Seria muito melhor se ele calasse a boca.


"Não to afim de falar disso?". Cortei o assunto logo de cara e para a minha felicidade o sinal ficou verde. Fred ergueu seus braços em rendição e ligou o rádio do carro, colocando em alguma música aleatória que não prestei muita atenção.


Deixei Fred na porta da sua casa e depois de nos despedirmos fui direto para o centro de reabilitação, encarar de uma vez por todas essa palhaçada.


Por praticamente ter crescido nas ruas, eu conheci e me envolvi com todos os tipos de pessoas, desde baladeiros que só pensavam em curtir a vida feito loucos até criminosos e traficantes barra pesadas. Por isso estar em um lugar como esse centro de reabilitação não significa nada para mim. Só que eu imaginava que aqui teria apenas adolescentes rebeldes, revoltados com a vida e ladrõezinhos de conveniência. Mas também tinha adultos, homens e mulheres de todas as idades, até idosos. Cada um mais esquisito que o outro. Resolvi ficar na minha e não dar muita moral para o pessoal.


Um homem com seu estilo punk, cheio de tatuagens e piercing espalhados por toda parte de seu rosto me encarou, seu olhar era de poucos amigos e uma cicatriz enorme se destacava em seu olho esquerdo. Mas eu não abaixei a cabeça, devolvi o olhar para ele com a mesma intensidade. A pior coisa a se fazer quando se está em um lugar cheio de delinquentes é mostrar fraqueza, pois eles não perdem tempo para pisar encima de quem demonstra ser um mero capacho, atazanando e fazendo bullying.


"Victoria Beckham". Um homem alto e atlético se aproximou. Pelas roupas que ele vestia e o crachá de identificação tive certeza que ele era um funcionário daqui. "Prazer, sou Scott Peterson". Ele estendeu a mão em um cumprimento, mas eu nem fiz questão de tirar as minhas do bolso da jaqueta.


"Vamos pular toda essa parte chata, ok?". Ele recolheu sua mão entendendo o que eu quis dizer. Scott me levou até umas cadeiras que ficavam de frente para um palanque.


Escolhi o fundo e me sentei, logo todos os lugares passaram a ser ocupados por outras pessoas. O esquisitão das tatuagens de antes escolheu justo o meu lado para se sentar. Ignorei o olhar dele sobre mim, fingindo não ser um incomodo a presença dele.


"Boa tarde". Um velho no auge dos seus cinquenta anos falou ao microfone. Ele estava bem arrumado dentro de um terno de grife, seu sorriso falso mostrava o quanto ele se importava com todos daqui. "Queria desejar as boas-vindas a todos e parabenizá-los por escolherem mudar de vida". Quanta gentileza, pensei com irônia. O homem ao meu lado sorriu como se tivesse lido a minha mente. Ignorei. Que cara estranho. "Como vocês sabem, nossa missão é ajudá-los a serem cidadãos de bem e por isso criamos esse programa de intervenção para que vocês voltem para o caminho da luz, o caminho de Deus". Comecei a rir, chamando a atenção de algumas pessoas para mim, inclusive a do missionário que estava falando no palanque. Eu não consegui segurar a gargalhada. O velho pigarreou voltando ao foco do assunto e assim como ele, as outras pessoas resolveram me ignorar também, voltando a prestar atenção nele. "...Para demonstrar que confiamos no desejo de vocês em se socializarem melhor, e considerando que todos que estão aqui não cometeram crimes realmente graves, designaremos um parceiro para cada um de vocês, com o objetivo de ajudá-los da melhor forma no reingresso da sociedade como pessoas boas e honestas". Se ele demorasse mais um pouco para terminar com aquele discurso de meia tigela eu iria embora. Que se foda a diretora, ela que enfie aquela carta de recomendação no...


De repente várias pessoas começaram a subir no palanque junto ao velho pançudo, assim dispersando os meus pensamentos. Fiquei sem enterder o que estava acontecendo. Dentre todos aqueles homens e mulheres, uma pessoa em especial chamou a minha atenção para si.


Os olhos azuis da garota se conectaram diretamente com os meus, me causando uma sensação desconfortável no peito. Logo uma única pergunta se apossou da minha cabeça. O que a Angel estava fazendo ali?


Assim, o homem começou a anunciar os nomes das pessoas que estavam lá em cima com o seu respectivo delinquente. Então entendi que aquelas pessoas eram os tais ajudantes encarregados de nós.


Espera um pouco. Isso quer dizer que a Angel também está envolvida nisso?! Isso só poderia ser zoação do destino.


"Angel Gray e Victoria Beckham".


"Merda!!". Saiu da minha boca sem que eu percebesse. Então Angel sorriu para mim, mas não foi um típico sorriso amigável.


***


"Eu não acredito". Reclamei pela milésima vez. Angel estava parada na minha frente usando suas típicas roupas de senhorinha com o seu cabelo preso em um alto rabo de cavalo, mas dessa vez não usava seu óculos de grau como na escola. "Eu ainda não acredito nisso!!". Eu a encarava como se estivesse presa dentro de um pesadelo, o que de fato eu estava.


Angel cruzou os braços e suspirou perdendo a paciência. "Ficar dizendo isso não vai mudar em nada. E também, está me irritando ficar ouvindo você reclamar". Apesar dela ficar estressada, Angel nunca alterava o seu tom de voz. Com ninguém. Ela nem mesmo brigou quando a Chloe derrubou propositalmente suco de uva em seu vestido. Ela apenas se levantou e foi limpar a mancha, enquanto o grupinho dos mauricinhos davam risada dela.


"Que bom, quem sabe se eu ficar repetindo isso você não se cansa e vai embora". Falei sendo sugestiva. Seria um sonho se ela desistisse.


"Pode tirar seu cavalinho da chuva. Eu não vou desistir até cumprir o meu dever". Ela mostrou uma Angel responsável. Vi a determinação em seu olhar, ela estava mesmo falando sério quanto a isso.


Bufei. Tudo nela me irritava, desde o seu jeito calmo até o seu sorriso de garota inocente. Só estou a três minutos com ela e sua presença já estava se tornando insuportável para mim. "Isso é o que veremos". Passei por ela, deixando-a sozinha. Eu precisava sair daquele lugar o mais rápido possível, antes que eu a enforcasse e recebesse penitência pior do que ter que passar às horas com ela. Coisa que acho difícil de ter.


"Onde você vai?". Angel me alcançou quando viu que eu estava indo em direção à saída.


"Para bem longe de você". Respondi sem me importar com ela, o que não era uma coisa difícil de se fazer.


"Você vai me deixar aqui, sozinha? E como eu vou voltar, minha casa é muito longe daqui". Perguntou realmente preocupada com sua situação.


Sério que ela pensou que ganharia uma carona? Tô fácil.


"Por acaso eu tô com as suas pernas?". Ela fez uma careta com a minha pergunta. Se eu não estivesse em uma situação tão drástica daria risada dela.


"Grossa". Reclamou. Só faltou bater o pé feito uma criança.


"Grissi". Fiz uma voz fininha numa imitação bem zoada dela.


"Imbecíl". Me empurrou, mas eu nem liguei. Na verdade quase não senti seu empurrão de tão fraquinha que ela era.


"Caipira". Retruquei. Já estávamos na porta do meu carro. Dei um meio sorriso para ela, deixando-a irritada. Entrei no carro e assim que o liguei, larguei ela para trás, sem um pingo de remorço.



Ponto de Vista Angel Gray


Eu sabia que essa história de voluntariado não daria certo. Victoria e eu não nos dávamos bem nem como colegas de classe, imagina trabalhando junto como uma dupla. Eu devia ter insistido mais e convencido o meu pai a me deixar continuando a cuidar dos idosos, que com certeza são bem mais agradecidos e educados que a troglodita da Beckham.


"O que faz uma jovem tão bonita perdida por aqui, no meio de toda essa gente duvidosa?". Uma voz surgiu atrás de mim. Eu estava tão irritada com a grosseria de Victoria que me esqueci completamente que estava rodeada de pessoas desconhecidas e um tanto perigosas.


Quando virei para olhar a pessoa que falava comigo quase desmaiei de susto. O homem tinha piercing para todo lado. Consegui contar treze. Fora as tatuagens de caveiras e tribais espalhadas pelo corpo. Ele era muito intimidador. Além de ser alto e ter um corte de cabelo estranho, ele tinha uma cara horripilante de gente má, cheia de cicatrizes espalhadas pela pele.


"Eu não estou perdida, não". Consegui dizer sem gaguejar depois de rezar pela minha segurança. Se esse homem tentasse fazer alguma coisa, eu estava preparada para gritar.


"Ah, não?". Ele arqueou sua sobrancelha que tinha um detalhe raspado com gilete. Estava escrito na cara dele que ele não tinha acreditado em mim.


"Não. Ela está comigo, idiota". Minha pele se arrepiou por completo quando ouvi aquela voz atrás de mim.


Olhei por cima do meu ombro apenas para ter certeza de que era ela mesmo, e lá estava Victoria, com um olhar nada amigável no rosto e seu maxilar travado, mostrando sua hostilidade.


De repente notei o quanto nossas alturas se diferenciavam uma da outra, Victoria era alguns centimetros mais alta que eu. Não sei como nunca reparei nesse detalhe antes. Talvez fosse porque na escola ela sempre andava com uma postura mais desleixada. E agora seu corpo inteiro estava na defensiva, mostrando uma postura impecável e destemida. O que acabou transmitindo uma aura intimadadora de predominância igual a de um lobo quando está protegendo seu território.


"Qualé, eu vi você deixando a garota para trás". O homem de aparência exótica retrucou. Por um momento eu quase concordei com ele. Mas resolvi fechar a minha boca para não piorar ainda mais a situação.


Victoria não perdeu a compostura depois da alegação feita pelo rapaz. "Então você precisa de óculos. Vai ver que um desses teus pregos furaram seus olhos e você nem percebeu". Eu estava sem acreditar na audácia dela ao falar com o homem mal encarado. "Eu fui apenas buscar um refrigerante para ela. Aliás toma aqui". Ela praticamente fundiu a latinha de cola na minha mão.


"Da próxima vez vá buscar você mesma, tá legal? Sou sua empregada não". Por mais que ela estivesse me ajudando, minha vontade era de socar aquela latinha na cara dela, indo totalmente contra a minha política de 'sem violência'.


Eu odiova esse jeito grosseiro dela falar comigo. "E você ainda está aqui?". Victoria se dirigiu ao homem que nos observava ainda sem acreditar na história dela. "Qual é, cara, vaza daqui. Tá vendo que tá atrapalhando não?". Eu achei que ela iria acabar apanhando do homem tatuado por causa desse seu jeito impertinente. Mas ele apenas deu uma encarada estranha nela antes de virar as costas e ir embora, sem dizer mais nada. Fiquei de queixo caído, sem acreditar que havia sido tão fácil assim se livrar dele.


Quando virei para olha-la de frente, me surpreendi quando deparei com o seu par de olhos castanhos me observando com cuidado. Por um momento senti o meu rosto corar. "O qu-que você está fazendo?". Perguntei, estranhando o comportamento dela. Era a primeira vez que eu a via me olhar com tanta atenção.


"Ele te machucou?". Perguntou ela preocupada.


"Como é?". Eu estava desacreditada, duvidando ser real o fato de Victoria estar me fazendo esse tipo de pergunta, quando na verdade ela é o tipo de pessoa que passa e ignora quem está sofrendo bully, por não se importar nem um pouco com a situação do próximo. Mas os olhos de uma pessoa são portões para sua alma, por isso eles nunca mentem, e os dela estavam sendo bem sinceros quando me mostraram preocupação.


"Ele te encostou? Fez alguma coisa? Te machucou?". Ela bufou, se irritando por ter que me explicar. Pelo visto paciência não era uma virtude para ela.


"Eu entendi a sua pergunta. Só não entendi sua preocupação". Victoria pareceu pensar nas minhas palavras, como se nem mesmo ela tivesse percebido as suas ações.


"Falô. Da próxima vez eu te largo sozinha aqui". Ela voltou ao normal, espalhando um pouco da sua gentileza ao vento.


"Você já fez isso". Sustentei o olhar dela sobre o meu. Todas as nossas conversas quase sempre terminavam com uma batalha de olhares. Isso era estranho, mas eu não conseguia evitar. O jeito arrogante dela para com a minha pessoa, como se ela me conhecesse, me tirava do sério.


Victoria bufou outra vez mostrando sua irritação que a essa altura já deveria ser crônica. "Você me tira do sério, garota". Ela rosnou.


Em um ato repentino, Victoria ergueu seu punho. Tive medo de apanhar, mas ela apenas levantou sua mão para segurar o meu braço. Por mais estúpida que ela fosse com as palavras, seus gestos mostravam o contrário, seu aperto era suave em meu pulso, e sem me machucar ela me guiou até seu carro.


Ela só soltou o meu braço quando chegamos. "O que foi?". Victoria perguntou quando viu que eu encarava do carro para ela e vise-versa. Eu estava confusa e tentava entender o porquê dela ter mudado de ideia tão de repente. "Será que também vou precisar abrir a porta pra você entrar?". Ela perdeu a paciência.


"Não, eu ainda sei fazer isso". Eu tentava não me importar com o seu jeito grosseiro, mas era quase impossível de se fazer.


"Ótimo!". Cansada de me esperar, ela rodeou o carro e entrou já dando partida no motor. Não perdi tempo e entrei no carro com medo dela mudar de ideia e me largar para trás de novo.


Assim que entrei senti vontade de vomitar, o cheiro forte de bebida e cigarro me deixou com náuseas. Acho que eu estava melhor lá fora. Mas eu não seria mau agradecida, diferente dela eu tinha educação. Então escolhi encarar o fedor insuportável do carro dela, o que não seria tão difícil, bastava abaixar o vidro e deixar o ar puro entrar.


Mexi no botão que abria e fechava o vidro mas ele não respondia ao comando, não importava a direção que eu o apertasse, o vidro não fazia nada.


Victoria sorriu ao ver o meu objetivo fracassar. Ela travou os vidros de propósito. Olhei para ela em desespero o que só fez o sorriso dela aumentar ainda mais.


"Se eu fosse você eu colocava o cinto". Victoria sugeriu com um sorriso diabólico em seus lábios. Engoli a seco. Meu estômago estava ficando enjoado, tanto pelo cheiro horrível do carro quanto pela intenção maldosa dela.


"Por q-...?". Nem consegui terminar a pergunta e ela arrancou com o carro, fazendo os pneus cantarem sobre o asfaulto, dirigindo a toda velocidade.


Com o medo assumindo o meu corpo, acabei fincando as mãos no estofado do banco. Fechei os olhos rezando para não morrer. "Senhor me salve!!!". Saiu da minha boca em um ato de desespero. A última coisa da qual me lembro dessa viagem foi a gargalhada que Victoria deu da minha cara durante todo o percurso até minha casa.


Eu praticamente me joguei para fora do banco quando o carro parou. Minhas pernas estavam trêmulas de medo. Esse foi o pior passeio de carro que tive em toda a minha vida.


"Está entregue". Disse ela com aquele sorriso petulante no rosto.


"Você é um ser humano horrível". Foi a única coisa que consegui pensar para dizer. Meu estômago estava todo revirado dentro de mim, senti vontade de vomitar.


Victoria apenas piscou para mim e outra vez deu partida em seu carro, sumindo do meu campo de visão no horizonte.


Eu não sei se aguentarei outra dessa.


Quando entrei em casa vi que tinha um bilhete do meu pai escrito em cima da mesa da cozinha. Peguei o pedaço de papel para ler:


Olá princesa,


Espero que sua tarde tenha sido agradável. Encomendei o jantar e deixei ele no forno como recompensa por ter dado o seu melhor hoje.


O seu favorito, pizza!!!


Beijos, papai!

Amo você!


Sorri ao terminar de ler. Só mesmo o meu pai para me animar depois de um dia como esse. Tomei um banho bem demorado para recobrar as energias e depois de vestir o pijama, fui direto para a cama e levei a caixa de pizza junto, para atacá-la.


Por fim acabei não percebendo quando peguei no sono assistindo tv.




Notas Finais


Terminamos mais um capítulo.
Espero que tenham gostado.

Voltaremos numa próxima vez.

Até xD

Victoria: "Até!!!".


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...