Marinette
- Você está bem? – disse a pessoa que me segurou. Quando olhei para cima, vi um garoto loiro de olhos verdes olhando para mim.
- Ah, ahn, estou, obrigada. – eu disse, me levantando, colocando atrás da orelha uma mecha de cabelo que estava no meu rosto. – me desculpa, me desculpa mesmo, eu me distraí e acabei tropeçando, foi mal – senti meu rosto corar.
- Tudo bem, não precisa se desculpar. – disse ele. Quando olhei melhor, o reconheci.
- Ei, você é aquele cara que meu cachorro derrubou na praça ontem, não é?
Ele me olhou estranho por alguns instantes e então pareceu se lembrar.
- Ah, era seu o cachorro? É verdade, eu me lembro de você.
- É – eu disse, rindo um pouco, me lembrando daquele momento meio caótico na praça. – me desculpa por aquilo também, meu cachorro é muito sem noção às vezes. Não sei o que deu nele aquele dia. Espero que ele não tenha te machucado.
Ele não parecia ter prestado atenção em nada que eu disse, estava me olhando meio estranho.
- O que foi? – perguntei. Ele sacudiu a cabeça e piscou algumas vezes, como se estivesse tentando se livrar de um pensamento repentino.
- Ah, nada não. Desculpa, mas o que você estava falando? Eu meio que voei aqui. – disse ele, coçando a cabeça, sorrindo sem graça.
- Ahn... Eu perguntei se meu cachorro te machucou. Ontem na praça. – expliquei, sorrindo também, para ele não se sentir desconfortável.
- Ah, não, não foi nada. Eu até achei ele divertido.
- Ah, que bom. – eu disse, rindo um pouco. Ficamos um momento sem assunto. – bem, eu acho que preciso ir. Hora do almoço.
- Ah, ok. Eu... eu também tenho que ir. – disse ele, de novo com aquele olhar meio estranho.
- Até mais. – eu disse, me virando e começando a andar para casa.
- Até. – ele respondeu.
Adrian
Eu estava caminhando pelas ruas de Paris à luz do dia, depois de negociar com Natalie uma hora de passeio por dia sozinho por onde eu quisesse, desde que não causasse nenhum problema nem me metesse em festas ou brigas. E dessa vez eu estava disposto a me manter longe de confusões, estava disposto a manter a palavra e não fazê-la de boba outra vez. Suspeitava que Natalie não sabia que seu emprego estava em risco, o que tornava as coisas ainda piores. Ela nem sabia que estava quase sendo demitida. Mas eu ainda podia controlar a situação.
Eu caminhava distraído, pensando em onde poderia ir antes que meu tempo acabasse, quando vi uma moça parada no meio da rua, olhando hipnotizada para algum lugar. Segui seu olhar e me virei para trás. Ela parecia estar olhando para uma loja mais à direita, mas não tinha certeza. Era estranho. Mas os carros começaram a buzinar, e em questão de segundos ela pareceu ter acordado do transe, e correu para a calçada onde eu estava. Ao chegar, atrapalhada, tropeçou no degrau, e corri na frente para segurá-la, pois se não o fizesse ela cairia no chão e passaria mais vergonha ainda.
- Você está bem? – eu disse. Ela olhou para cima para me ver, e pude ver seu rosto corado.
- Ah, ahn, estou, obrigada. – disse ela, se levantando e ajeitando o cabelo, que tinha caído na frente do rosto. – Me desculpa, me desculpa mesmo, eu me distraí e acabei tropeçando, foi mal. – seu rosto estava cada vez mais vermelho.
- Tudo bem, não precisa se desculpar. – eu disse, tentando tranquilizá-la. Ela parou e observou meu rosto, franzindo as sobrancelhas.
- Ei, você é aquele cara que meu cachorro derrubou na praça ontem, não é? - disse ela.
- Ah, era seu o cachorro? É verdade, eu me lembro de você. – eu disse, me lembrando daquela confusão toda na praça, incluindo a briga entre ela e minha prima. Tão estranho tudo isso.
- É – disse a garota, rindo um pouco. Ela começou a falar alguma coisa sobre seu cachorro, mas não prestei atenção em nada que ela dizia. Porque quando ela olhou diretamente para mim, só reparei em seus olhos azuis. E eram de um azul...
Havia alguma coisa neles, algo de muito interessante, algo familiar. Mas se era familiar, eu não fazia a menor ideia de onde havia visto. Mas queria muito saber. Será que ela era alguma das garotas com quem já saí em Paris? Ou em qualquer outro lugar?
Só então notei que a garota havia parado de falar há muito tempo e que eu estava a encarando sem dizer nada. Ela estava me olhando esquisito.
- O que foi? – perguntou ela.
Balancei um pouco a cabeça e pisquei algumas vezes para sair do transe.
- Ah, nada não. Desculpa, mas o que você estava falando? Eu meio que voei aqui. – eu disse, coçando a cabeça, sorrindo sem graça. Devia estar parecendo um retardado.
- Ahn... Eu perguntei se meu cachorro te machucou. Ontem na praça. – disse ela, com um sorriso.
- Ah, não, não foi nada. Eu até achei ele divertido. – eu disse, tentando parecer uma pessoa normal. Mas não estava mentindo.
- Ah, que bom. – ela disse, rindo um pouco. Ficamos um momento sem assunto, até que ela disse: – bem, eu acho que preciso ir. Hora do almoço.
- Ah, ok. Eu... eu também tenho que ir. – eu disse, me lembrando do horário que combinei com Nathalie. Não queria ir agora, mas prometi que estaria no hotel para o almoço.
- Até mais. – disse ela, se virando e começando a andar.
- Até. – respondi.
Fiquei um tempo observando a garota ir embora antes de tomar meu caminho para o hotel.
Chloe
Chloe estava esperando Emanuelle na casa das prostitutas, onde moravam. Burnier era dono daquele lugar, várias de suas prostitutas moravam ali. A casa tinha quatro cômodos, sem contar com o banheiro. Três eram quartos e um era cozinha e sala de estar. Chloe dividia seu quarto apenas com quatro mulheres, nos outros tinham mais. Entre todas elas, três eram menores de idade. Mas fazia muito tempo que Burnier não trazia novas prostitutas, a mais nova agora tinha 16 anos. Na cozinha-sala havia uma geladeira velha, dois armários sem porta, uma mesa, algumas cadeiras e dois sofás velhos.
Emanuelle abriu a porta e entrou na cozinha.
- Pronto. Acho que comprei tudo. – disse ela, deixando as sacolas em cima da mesa.
- Valeu. – disse Chloe, sentada à mesa.
- Quase que um cara me pega no caminho de volta. Isso porque eu fui na hora do almoço. Geralmente isso acontece mais é à noite. – disse ela, guardando cada coisa que comprou em seu devido lugar. – você bem que podia ter ido ontem, Chloe.
- Claro que não! Não depois do que aconteceu naquela praça. Vim pra cá direto, não quis nem saber. Ninguém lá me respeita. – disse Chloe, ajudando Emanuelle a guardar a comida na geladeira.
- Rá, respeito! – riu Emanuelle. – desde quando isso importa?
- E não importa?
- Acho que você está pedindo demais. Você se acostumou a ser a preferida do Burnier.
- Ah, grande coisa. – disse Chloe, irritada. Ela detestava quando falavam dela assim, como se fosse algum prestígio ser a “preferida”.
Depois de algumas horas as duas foram para a casa onde trabalhavam, que era cheia de quartos com camas caprichadas, para os clientes aproveitarem. Burnier estava lá, assim como quase todas as outras prostitutas.
- Meninas, cumprimentem suas novas colegas de quarto. A mais velha pode trabalhar na boate, tá de boa. Mas a mais nova fica aqui por um tempo, vocês sabem, o esquema de sempre. – disse ele, abrindo a porta da frente e chamando as garotas para dentro. A primeira era adolescente, loira dos olhos castanhos. - Essa é a Louise. - disse Burnier. A outra veio em seguida. - e essa é Allice.
Chloe ficou chocada quando viu a segunda entrar. Ela era morena, bem quieta, parecia nem saber o que estava acontecendo. Era uma criança, e bem pequena.
- 15 e 6. – disse Burnier, tocando na cabeça da loira e da pequena, respectivamente.
- 6 anos? – disse uma das prostitutas, surpresa, mas não tão horrorizada quanto Chloe.
- Estou tentando ampliar o mercado, os outros caras têm muitas putas melhores do que vocês, estou perdendo clientes. – respondeu ele.
- Tá querendo pedófilos agora? – disse a mesma mulher.
- Por que não? Cada um tem seu gosto. – disse ele, como se fosse apenas uma opção sexual, e não um problema psicológico sério.
- Você ficou MALUCO? – disse Chloe, sem conseguir se conter mais. – UMA MENINA DE SEIS ANOS?
- Já vi com 4, trabalhando todos os dias.
- EU NÃO VOU PERMITIR ISSO! VOCÊ É UM FILHO DA PUTA! VAI ARRUINAR A VIDA DELA! ISSO É UM ABSURDO! – gritou Chloe, se aproximando de Burnier. Péssima ideia. Ela ia bater nele, mas ele agarrou a mão dela no ar, antes que o tapa o atingisse.
- O que você pensa que vai fazer?! – rosnou Burnier, espumando de raiva. – Chega! Você tá muito autoritária pro meu gosto!
Burnier deu um tapa no rosto de Chloe.
- De agora em diante, quero que pense em quem você é antes de falar algo sobre mim.
Ele se virou para as outras e disse:
- Não quero ouvir um pio de nenhuma de vocês. Tá entendido? – todas ficaram caladas, inclusive Chloe, que sentia seu rosto latejando e ardendo.
Burnier saiu e bateu a porta. Em poucos segundos, os clientes chegaram. Alguns deles eram amigos de Burnier e iam lá para transar e vigiar as prostitutas. Louise foi atrás de Burnier, e um homem levou Allice para um quarto. Chloe tentou impedi-lo, mas Emanuelle segurou-a para que não fizesse nenhuma bobagem. As outras prostitutas foram para os quartos e começaram seu trabalho.
Marinette
- Daí ela disse “e é melhor não faltar, ninguém com um currículo tão fraco é valioso o suficiente para receber segundas chances” – eu disse, fazendo uma vozinha irritante forçada. Alya e eu guardávamos roupas, acessórios e outros objetos no guarda-roupa do meu quarto. Thommy dormia em seu berço, no canto do quarto.
- Nossa, que absurdo! Ela já tinha te contratado, como pode ter tão pouco caso? – disse Alya, guardando um pijama dobrado em uma das gavetas.
- Pois é! Só porque eu não tenho tanta coisa assim no currículo ela já foi me julgando... – eu disse, pegando um vestido da mala. – Eu não tenho muita experiência porque acabei de me formar, ué. – pendurei o vestido no cabide e me estiquei para alcançar o guarda-roupa no meio de um monte de roupas dobradas no chão. – Só trabalhei em uns três lugares em Cherbourg antes de vir para cá.
- É, bem, eu imaginei que você não fosse fazer algo de grande escala logo no começo, mas não pensei que as pessoas de lá dessa empresa seriam tão... grossas. – disse Alya, se sentando no chão para separar mais roupas que iam em gavetas.
- Nem me fale, fiquei morrendo de raiva na hora. – peguei algumas pilhas de roupa que estavam no caminho entre eu e o guarda-roupa e deixei ao lado de Alya. – Mas tudo bem, é só eu fazer o meu trabalho bem feito e as coisas vão se ajeitar.
- Por falar nisso, Marinette, por que você fez curso de arquitetura? – disse Alya, dobrando um short jeans. – Eu sempre pensei que você faria moda.
- Moda? – eu disse, pegando uma camiseta azul e um cabide. – eu? Por que eu faria moda?
- E por que eu faria jornalismo? – disse Alya. Ela estava fazendo curso de jornalismo, porque era o que ela sempre quis.
- Por que é o que você sempre quis! – eu disse.
- Então! – disse ela, como se fosse óbvio.
- Você está me dizendo que eu sempre quis fazer curso de moda?
- Sim.
- Eu? Curso de moda?
- É! Você adorava!
- Nada a ver. Não sei de onde você tirou isso.
- Você sempre quis ser estilista de moda. Desde que eu te conheci. – disse Alya.
Fiquei encarando minha amiga por um tempo.
- Eu me lembraria disso. – eu disse, voltando o olhar para a camiseta que estava guardando. – você deve estar me confundindo com alguém.
- Marinette, eu não estou te reconhecendo mais. – disse Alya, parando de dobrar o short que estava dobrando e me encarando. – eu lembro de quando éramos mais novas. Você era animada, conseguia por graça em tudo, gostava de se arrumar, gostava de fazer presentes à mão para as pessoas, gostava de moda! Você queria fazer moda, não arquitetura. E tudo bem as pessoas mudarem de ideia, mas você não parece tão entusiasmada com arquitetura quanto você era com moda. A sua vida era colorida, e agora parece muito mais cinza, muito mais sem vida. O que aconteceu?
- Eu gostava tanto assim de moda? Tem certeza?
- Sim, você já tinha certeza de que era isso que queria pra sua vida! Você não se lembra?
- Não... – eu disse, começando a me sentir confusa.
- Por que você fez arquitetura? – perguntou Alya, tentando me ajudar a organizar meus pensamentos.
- Bom, eu gosto. E sempre gostei de desenhar. E confesso que não sou apaixonada por arquitetura, mas que eu saiba nunca fui tão apaixonada assim por nenhuma profissão. E eu não tinha tanta certeza, pra mim era meio que “tanto faz”, sabe? Além do mais, não dá pra ficar enrolando. Chegou a hora de decidir e eu decidi. Arquitetura.
- Hum. Conheço alguém que passou por isso.
Nino
Eram onze horas da noite, e a casa estava escura e silenciosa quando Nino entrou. Ele tomou cuidado para não fazer barulho, mas o portão de entrada sempre fazia. Porém ninguém pareceu ter ouvido.
Ao chegar no corredor de seu quarto, ele ouviu seus pais brigando no quarto deles, que ficava no mesmo corredor.
- Você nunca me escuta! Parece que a minha opinião é sempre ignorada nessa casa! – disse sua mãe.
- De onde você tirou isso? – disse seu pai.
- De onde? Que tal daquela briga em que você disse pro nosso filho que ele é a vergonha da família?!
- O que isso tem a ver?
- O que tem a ver?! Tem a ver que você não me escutava em momento algum! Eu só estava tentando impedir que vocês dois brigassem, e aí você vai e fala aquilo pro Nino!
- Ele tem que tomar algum rumo na vida!
- Isso não é motivo pra humilhar seu próprio filho!
- Não estava o humilhando! Estava fazendo ele perceber que ele deveria ter vergonha de ser quem ele é!
- Então nunca mais faça isso! Estou cansada dessa sua falta de paciência! Você não pode tratar nosso filho assim!
- É por sua causa que ele está assim! Você é mole demais para educá-lo direito!
Nino jogou sua mochila no chão e foi até o quarto de seus pais.
- Nino! O que está fazendo... – seu pai começou a dizer, mas foi interrompido.
- Você não pode falar assim com a minha mãe! – gritou Nino para seu pai.
- Não se meta, Nino! – disse o Sr. Lahiffe.
- CHEGA VOCÊS DOIS! NÃO QUERO OUVIR MAIS NINGUÉM! NINO, JÁ PRA CAMA! E JORDAN, HOJE VOCÊ DORME NO SOFÁ. – gritou a senhora Lahiffe, estava mais que do farta de Nino e seu marido estarem brigando o tempo todo. Nenhum dos dois falou mais nada, Nino foi para seu quarto, o senhor Lahiffe foi para a sala e a senhora Lahiffe ficou no quarto.
Mestre Fu
- Mestre, eu não entendo como planeja reuni-los novamente. O que o senhor vai fazer? – disse o kwami tartaruga.
- Tudo a seu tempo, Wayzz. Tudo a seu tempo. – disse o Mestre. – não será um processo rápido. Entrarei em contato com todos, mas tudo com muito cuidado. Para alguns deles pode ser um choque saber de tudo de uma vez. Por isso, não posso contar a eles, eles precisam vivenciar tudo novamente, eles precisam se lembrar.
- O senhor está pensando em usar o chá que o senhor desenvolveu? – disse Wayzz, o kwami.
- Sim. Se serviu para mim, acredito que servirá para eles também.
- E suas lembranças? Já terminou de vê-las?
- Creio estar quase terminando. Mas preciso meditar também, para tentar descobrir coisas que não vivenciei para me lembrar. Mas – completou ele, com o dedo indicador erguido no ar enfaticamente. – tenho uma novidade. Em breve teremos uma pessoa para nos ajudar a fazer os quatro recuperarem a memória.
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