"O passado não reconhece o seu lugar. Está sempre presente." (Mario Quintana)
[MUITOS ANOS ATRÁS]
– Mamãe, será que um dia poderei ser uma estrela do cinema? Gostaria de ser como essas lindas moças da cidade que eu vejo quando vamos ao centro vender queijo! – disse a menina e seus alvos olhos brilhavam esperançosamente.
– Zelena, deixe de falar tonteiras e vá ajudar a sua irmã! – repreendeu a Senhora Hensel.
– Já viu aqueles vestidos? – rodopiou Zelena segurando na barra de seu vestido sujo e maltrapilho – Elas parecem fadas! – sorriu ainda esperançosa.
– Fadas? De onde tira essas caraminholas menina? Ande, vá ajudar Marian! – respondeu carrancuda.
– Mas mamãe, eu já fiz toda a minha parte e Marian passou o dia descansando, não é jus...
Fora interrompida:
– Cale a boca e obedeça, menina! Não vai querer que eu chame o seu pai, não é? – ameaçou-a arqueando a sobrancelha.
A ruiva menina ao ouvir a intimidação, logo se aterrorizou.
– Não mamãe, por favor, não diga nada a papai! – pediu.
– Então vá! – praguejou.
Zelena caminhou tristonha até fora de sua simples casa que ficava no interior da Alemanha em uma cidade chamada Radofzell am Bodense. Foi até o pequeno celeiro que a família Hensel possuía e encontrou Marian deitada descansadamente enquanto trançava seu negro cabelo.
– Você ainda não ajeitou nada aqui? – perguntou Zelena a sua irmã mais velha.
– Não. – respondeu Marian sem ligar muito e continuou enroscando seus fios.
– Mas a mamãe logo virá e não vai gostar de ver as coisas assim ainda!
– Não seja tão medrosa, Zelena.
– Ela disse que chamará o papai se não tiver nada no lugar... – sua voz falhou.
Quanto medo ela carregava ali.
– Zelena, o papai pode ser um homem duro, mas no final ele sempre se esquece de nos punir realmente. – ri.
Bom, a realidade não era assim para a ruiva menina. Zelena fora adotada ainda quando bebê pela família após um episódio onde a Senhora Hensel havia perdido um filho prestes a dar a luz. Ela já havia tido Marian, mas pelo segundo filho ter sido um menino, o Senhor Hensel ficou muito decepcionado e logo ela tratou de resolver as coisas para manter o seu marido em casa e fora dos tão constantes bares noturnos. Foi até um antigo internato onde moravam crianças abandonadas e fez de tudo para achar um menino ainda bebê, mas na faixa etária que ela desejava, Zelena era a única no lugar. Desesperada, a Senhora Hensel decidiu adota-la com a esperança de que tudo voltaria ao normal em casa. Para a sua desgraça, as coisas não sucederam dessa forma, pois seu esposo ao saber que era uma menina, a rejeitou desde que a viu, e, de trunfo, a pequena Zelena passou a ser um fardo para todos. Ela sempre foi uma menina risonha e sonhadora, mesmo que muito simples. Marian, sua irmã, não era má pessoa, mas sempre foi mais favorecida pela família e muitas vezes não percebia as atrocidades que seus pais faziam com a ruivinha.
Na adolescência as coisas pioraram, pois, Zelena já não suportava ser tão mal tratada por quem deveria cuida-la e a única pessoa que ela podia contar era a sua irmã mais velha. Infelizmente, as coisas mudaram quando ela completou 16 anos. Marian tinha por volta dos seus 18 e havia se apaixonado por Robin nos tempos que frequentavam os últimos anos da escola. O infortúnio começou quando Zelena também se apaixonou por ele e uma guerra fria entre irmãs começou a ser travada. Como todas às vezes, Marian levou a melhor e Robin, que nunca havia demonstrando nenhum interesse por Marian, a pediu em namoro. Isso sempre foi muito velado, ou seja, toda essa disputa era feita de forma sutil entre elas e Zelena na frente da irmã fingia não se importar, mas as suas costas, sempre tentava convencer Robin de que ele havia feito a escolha errada entre as irmãs.
Aos 17 anos, foi diagnosticada como uma maníaco-depressiva, ou vulgarmente conhecida como bipolar, durante a sua primeira crise que durou quase seis meses. Desde ali, Zelena nunca mais teve o juízo no lugar e sempre era taxada como um peso na família. Toda a sua vida foi construída em meio a fantasias de casamento e filhos com Robin e os seus doces sonhos de infância, se tornaram o seu pior pesadelo fazendo-a beirar sempre a loucura.
A verdade é que ela sempre foi louca por Robin e o amava mais que qualquer pessoa. Por algum motivo ela projetou um amor platônico por Robin e ele representava a sua salvação para ela. Após a morte da irmã, Zelena, como de costume, não saia de perto de Robin até que apenas uma só vez conseguiu o que sempre sonhou com ele. Robin estava desolado depois do terrível câncer que degradou a sua mulher e cedeu. Logo depois, o arrependimento já era presente e depois de poucas semanas havia decidido recomeçar a sua vida longe da Alemanha indo para a America do Norte, mais especificamente, Storybrooke.
Claro que ela em momento algum foi avisada por ele sobre seus planos de mudança e só soube quando ele já havia partido com Roland. Sua obsessão tornou-se maior até conseguir descobrir seu paradeiro, principalmente já sabendo de sua gravidez. Conseguiu dinheiro onde pôde e, aos trancos e barrancos, encontrou Robin em uma manhã de domingo em sua nova casa na presença de seu filho e Regina, sua nova namorada.
Zelena claramente se desestabilizou (se ainda fosse mais possível) com a presença da morena, mas pensou ser algo de momento e o filho que carregava consigo a dava confiança de que ele algum dia seria dela. Após a separação de Robin e Regina, Zelena sentia-se vitoriosa, mas não contava com a forma que Robin a trataria desde então. Frieza e indiferença era o que sempre tinha do loiro, mas mesmo com esse banquete mórbido todos os dias, a criança que crescia em seu ventre a causava uma sensação diferente... Por alguns momentos, Robin não estava mais no centro e ela não servira apenas para ser o bilhete premiado para entrar na vida dele, em contrapartida, aquela criança, mesmo que minimamente e em apenas alguns momentos singulares, gerava em Zelena um amor materno que transcendia sua loucura e obsessão por Robin. Mas claro, essa parte nunca fora exposta e nem reconhecida por ninguém.
Tristeza, carência paterna e materna, solidão, incompreensão e mais alguns ingredientes eram mascados com camadas e mais camadas de ironia, frieza e claro, uma boa dose de loucura. Essa era Zelena Hensel.
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