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História Our Castle - Our sons, our pride, our christimas


Escrita por: paansy

Notas do Autor


Demorei, né? Demorei mesmo. Me perdoem. Como esse é o capítulo final da Our Castle (não o último, mas o final), eu tinha a ideia de fazer algo maior, mais elaborado pra vocês. E no meio disso tudo, muitas coisas aconteceram comigo; perdi meu avô, fiquei doente, tive problemas com a universidade... quem me segue no twitter sabe que eu não estive bem por um tempo e eu avisei lá também que iria demorar e que não tinha pretensão de quando ia postar. Esse capítulo é MUITO especial e não merecia ser feito de maneira desleixada, sabe? Quis fazer algo mais bonito do que nunca, vocês merecem, a estória merece. Então cá estou eu, com quase 19k de palavras pra você. Acharam que eu não voltaria???

Não irei falar muita coisa aqui, sei que vocês estão muito ansiosos pra isso, então bora lá. Boa leitura e aproveitem esse finzinho de ciclo que esteve conosco por um aninho. ♥

Capítulo 59 - Our sons, our pride, our christimas


Yoongi sabia que ia dar algo errado quando seu computador começou a travar e por infelicidade congelou no instante em que precisou passar a música para o pen drive. Por que mesmo não tinha feito isso na noite anterior? Céus.

— Yoongi, já estamos atrasados! — Ouviu o pai gritar impaciente e bateu a cabeça na escrivaninha. Choramingou. — Anda logo.

Seokjin apenas encarou o noivo que estava batendo o pé no chão, apressado. Já havia pedido para o mais novo não ficar pressionando o garoto, porque ele mesmo já havia ido no quarto e teve Yoongi explicando o porquê de estar demorando. Terminou de enrolar o cachecol no pescoço de Jimin que insistia em mover as mãozinhas enluvadas, imitando jutsu.

— Papai, eu bem sei fazer o jutsu do Sasuke. — Se gabou e o cozinheiro sorriu para aquele pacotinho humano, coberto de casacos.

— Sabe nada, mentiroso. — Jungkook gritou, mesmo tendo a máscara de bichinho tampando seus lábios. Estava gripado. — Eu quem sei.

— Você nunca será o Sasuke. — O menino de bochechas fofas cruzou os braços para o mais novo que estava no sofá.

O Kim mais velho apenas suspirou. Havia coisas que não mudavam mesmo. Mesmo morando juntos por todos aqueles meses, Jungkook e Jimin ainda mantinham aquelas briguinhas, mas eram os maiores cúmplices, a ponto de um quebrar o copo de Taehyung e o outro cobrir, fingir que estava perto e não viu o irmão fazer nada.

No fim, a culpa caiu sobre Hoseok que nem em casa estava. Namjoon descobriu a mentira e os dois ficaram de castigo.

Em relação a Taehyung, o bebê todo entupido de casacos, este jazia agarrado a Hoseok que mexia no celular do pai, jogando algum jogo. Só se via a touca azul escondendo os cabelos do bebê.

— Você é mais novo, tem que ser o Naruto e eu o Sasuke. — Jimin simplificou e Jungkook pareceu ofendido.

— Não! — Gritou injuriado.

— Não era Star Wars o motivo da briga deles? — Namjoon parecia tão confuso que procurou no noivo respostas.

O moreno suspirou mais uma vez antes de abrir um sorrisinho para o noivo que sempre se perdia no diálogo das crianças, mesmo sendo ele que ficava a maior parte do tempo com eles, já que o mais baixo precisava trabalhar no restaurante. Naqueles meses, as crianças haviam se apegado muito mais ao militar; Seokjin não queria estar perto para quando ele precisasse voltar para o trabalho.

Namjoon havia conversado muito com o noivo e com os próprios pais sobre a carreira militar e foi decidido – ele decidiu – que voltaria para a delegacia de polícia, abandonando de vez a carreira militar. Não saberia mais sobreviver fora daquele mundo, por isso encontrou a compreensão da família.

— Agora é Naruto, amor. — Murmurou confidente e o militar suspirou. — Por que um não é o Itachi? Ele é tão bonito quanto o Sasuke. — Tentou apaziguar, mas ganhou mais briga.

Hoseok pareceu transtornado com aquilo, porque em um segundo ficou de pé, quase derrubando Taehyung no caminho.

Quem seria Itachi? Ninguém! Ora essa.

— Porque eu que sou o Itachi. — Falou óbvio. — Ninguém mais pode ser o Itachi a não ser eu.

— Jungkook é o Kakashi. — Jimin apontou para o de máscara que parecia bravo só pelo olhar. Sorriu divertido consigo mesmo. — Kakashi!

— Eu sou o Sasuke. — Gritou irritado e viu o menor lhe dar língua.

— Kakashi! — Gritou de volta.

— Eu quero ser o Lee. — O bebê gritou risonho, levantando os braços para prestarem atenção em si.

O corpinho vestido com aquele casaco grosso, para aguentar a nevasca e o inverno de Seul, parecia muito mais gordinho que o normal. Aquilo era adorável. Mas nem Taehyung, com sua fofura, apaziguou aquela arena de batalha.

Jungkook estava bravo e Jimin morria de rir. Hoseok, bem, esse estava de braços cruzados, só esperando a chance para falar que era o Itachi de novo.

— Meu irmão é o Itachi, então eu sou o Sasuke! — O de cabelo grande até tentou, mas ouviu o pai resmungar. Namjoon não gostou daquilo.

Mas Kim Jimin não pareceu se abalar. Ao contrário, fortificou a expressão dura no rosto e inflou mais as bochechas.

— E daí? Ele também é meu irmão! — Retrucou e Seokjin sorriu. — Você está de máscara, então você é o Kakashi.

— Eu não sou o Kakashi. — Fez menção de ir até o hyung, mas foi segurado pela cabeça. O acastanhado o segurou e puxou para perto. — Pai, diz pra ele que eu sou o Sasuke. — Choramingou para o mais velho.

— Você é Jungkook. — Acabou com a brincadeirinha que estava indo longe demais. — E ele é Jimin. Pronto. Os dois são ninjas do clã Kim.

— Mas eu sou o Itachi. — O de dez anos, com um moletom vermelho berrante e cachecol amarelo, disse como quem não quer nada.

O mais alto levantou, trazendo consigo o garotinho bravo que fazia menção de que iria chorar por ser tão contrariado. Olhou feio para Hoseok que abriu bem os olhos e disse algo como “mangekyo sharingan”. Namjoon, sinceramente, não sabia mais o que fazer com aquelas crianças.

Ia falar algo, mas as crianças voltaram a gritar e Seokjin achou melhor simplificar.

— Amor, olha pra mim. — Chamou o mais novo que parecia perdido naquela confusão de “sharingan” e sei lá mais o quê. Segurou as bochechas do homem e o fez encarar seus olhos. — Vai na frente com as crianças e eu vou em seguida com o Yoongi, pode ser? A cadeirinha de Taehyung está no seu carro. Jimin e Hoseok já estão atrasados.

— Me liga quando chegar lá. — Pediu para o noivo que ajeitou a gola de sua jaqueta de couro. — Vou indo então. — Disse e recebeu uma ação afirmativa. Selaram os lábios algumas vezes com muito esforço, já que Jungkook se debatia para descer do colo do pai. — Te amo.

— Eu te amo. — Beijou as costas do garotinho hiperativo. — Nos encontramos lá.

O acastanhado assentiu e se afastou, pegando a bolsa de Taehyung e jogando sob o ombro disponível.

— Todo mundo indo pro carro, vamos, vamos. — Anunciou para os garotos que pararam de discutir. — Hoseok, coloca o seu irmão na cadeirinha do carro.

— Farei isso usando o jutsu multi-clone das somb-... — Antes de terminar, ganhou um olhar severo do pai.

— Chega de jutsu. — Avisou e o garotinho fez uma expressão ofendida. — Eu mandei agora e é pra UM Hoseok fazer.

O de dez anos pegou o irmãozinho e o colocou nas costas antes de ir arrastando os pés pela casa, mostrando sua infelicidade. Namjoon puxou Jimin pelos ombros e deu um último selar nos lábios do noivo antes de sair carregando as crianças para o carro, tentando apaziguar aqueles dois garotinhos brigões.

O tempo em família estava passando e as crianças se adaptando cada vez mais, ao ponto de Jimin acabar se tornando outro brigão, mas ainda com aquela essência de criança adorável. Em um instante, a casa estava vazia, apesar de bagunçada. Seokjin suspirou; quando não estava?

Arrumou melhor o suéter no corpo e andou até o quarto das crianças mais velhas, tocando rapidamente na porta de madeira pintada de branco e ouvindo um resmungo de “entre”.

— E aí? — Perguntou apoiando-se no batente da porta e encarando o enteado que parecia lutar com o computador. — O que tá havendo?

— Eu reiniciei e não... argh. — Grunhiu irritado ao ver que não estava funcionando mesmo. — Eu desisto dessa porcaria.

— Calma. — Aproximou-se do garoto que bufava irritado. — Não estava no computador do seu pai? Vocês tinham trabalhado por lá.

O adolescente pareceu ter a mente esclarecida antes de largar o computador e sair correndo para o quarto dos adultos. Seokjin riu. Pacientemente fechou o computador que já estava implorando para ser trocado. Pegou o casaco térmico do menino e também um cachecol preto, bem quentinho, que haviam comprado assim que o inverno chegou.

— Onde está o notebook, Jin? — Ouviu o grito desesperado de Yoongi.

— Está dentro da primeira gaveta da cômoda. — Respondeu rapidamente e esperou alguma resposta, mas o silêncio denunciava que o mini rapper tinha achado.

Voltou a separar a roupa de frio e logo saiu do quarto, indo para o seu próprio e vendo o menino jogado na cama com o notebook prateado do pai, pegando sua música que tinha certeza de estar lá. Com a mão disponível pegou as chaves do carro e a carteira. Era bom ter seu próprio carro novamente.

Foi uma surpresa quando dezembro chegou e com ele trouxe seu aniversário logo no começo do mês e também um carro. Foi um presente de seu pai; ganhou um jantar em família e dessa vez até pôde apresentar Jihyo para os filhos e o noivo. Foi um bom dia, rendeu boas fotos na câmera de Yoongi.

Uma nostalgia ter novamente um Toyota 4x4. Seu pai ainda lembrava a paixão que tinha por aquele modelo de carro.

— Peguei. — Seokjin tomou um susto quando ouviu o garoto de cabelo preto comemorar, sorrindo aliviado. — Tá no pen drive.

— Podemos ir então?

— Sim, só preciso do meu casac-... — Olhou para frente e viu o mais velho lhe estender as roupas que faltavam. Sorriu tranquilo. — Obrigado. — Fechou o computador e saiu da cama, vestindo o casaco e aceitando que o padrasto arrumasse o cachecol em seu pescoço. — Onde estão as crianças?

— Namjoon foi na frente e agora só falta a gente. — Disse alto enquanto andavam apressadamente para a garagem de casa. — Afinal, eu nunca deixaria meu parceiro de rap para trás.

O menino abriu um sorriso quase escondido pelo cachecol enquanto andava atrás do padrasto. Desde o acidente de Namjoon, eles haviam se tornado uma espécie de... parceiros?! Algo assim. Eram como bons amigos.

E isso era o bastante para os dois: uma ótima amizade. Uma boa parceria.

*

Tentou não ficar dando uma de “pai maluco”, mas fala sério, quem não piraria vendo Kim Jimin vestido de príncipe? Namjoon tentava usar esse pensamento a cada foto tirada para rechear suas redes sociais e mandar para a família em Daegu. Havia feito um álbum no Facebook com o título “razões para ter um bom dia” e lá havia tanta foto.

Seus amigos deviam estar de saco cheio de tanta foto, mas quem ligava? Ele realmente não. Todo dia era uma foto diferente. Quem não gostasse que não visse e era até melhor assim, era um pai ciumento!

A professora de Jimin disse que eles precisariam de um responsável acompanhando e ajudando a arrumar as crianças e na ausência de Seokjin, o militar teve que se virar. Se virar em dois, mas por sorte, Jaebum estava lá e foi com ele; assim Hoseok também teria um responsável consigo. Na plateia estava Youngjae tirando foto do panfleto do recital – só porque tinha o nome das crianças –, e Kunpimook e Lalisa, os mais novos oficialmente casados do grupo. Haviam voltado há menos de duas semanas da lua de mel e obviamente quiseram ir prestigiar suas crianças.

Porque, sim, aquelas cinco crianças eram compartilhadas; tanto com Jaebum e Youngjae, quanto com Bambam e Lalisa. E eles que cuidavam de Jungkook e Taehyung enquanto Seokjin não chegava. O menino de seis anos estava no colo do tailandês e ria sentindo seu corpinho ser chacoalhado e um repetitivo “pocotó pocotó”. A cada relinchar, eram cócegas feitas naquele pacotinho humano.

A mulher só conseguia encarar aquilo e rir, notando como o marido seria um ótimo pai no futuro.

E o bebê estava sentado no colo do professor, atento ao que ele falava, mesmo que fosse apenas a leitura do panfleto ou lendo algo no celular. Parecia calmo demais, o que não acontecia com uma criança da mesma idade cadeiras à frente.

Claramente todos agradeciam pelos filhos de Namjoon e Seokjin, serem calmos. Ou, quase isso.

— Pai, eu acho que eu me esqueci como é. — A vozinha fina e tímida soou no meio daquele mar de barulho que era o camarim do auditório. O militar olhou o filho e ajoelhou perto, chamando-o. — E essa roupa pinica. — Resmungou puxando o tecido de veludo azul royal.

Ele estava mesmo igual a um príncipezinho com aquela roupa azul e dourada. Havia também uma menina de princesa, o par dele, mas ela estava por ali com a mãe. Óbvio que Jimin foi cumprimentado por ela, se abraçaram timidamente, mas o garotinho colou no pai e não quis mais largar. Queria muito se apresentar, mas não gostava muito do público; e se não gostassem dele? E se achassem sua roupinha feia?

— Você está lindo demais, sabia? — Sorriu confortador para a criança que tinha aqueles olhinhos inchados, repletos de medo. Acariciou gentilmente as bochechas rosadas e admirou aquele conjunto de feições infantis por que era apaixonado. Apaixonou-se por Jimin à primeira vista; assim como foi com todos os seus filhos. — Você é um verdadeiro príncipe dos papais, não é isso que dizemos todos os dias?

O menininho assentiu e viu o mais velho abrir mais o sorriso. Namjoon via tanto do noivo em Jimin, que se tornava até loucura. Para ele, aquela criança se tornaria o espelho do pai. Mais do que ninguém, seria a cópia fiel de Kim Seokjin e ele teria muito orgulho disso, porque sabia que o amor de sua vida era um homem incrível e aquele garoto se tornaria um homem tão incrível quanto.

Arrumou melhor a roupinha no corpo gordinho do menor e tocou o nariz dele com a ponta do indicador. Não havia razões para temer!

— Lembra quando você estava dançando com seu tio Jae Jae? — Lembrou, o tom calmo e carinhoso alinhado às carícias no rosto do garoto estavam dissipando pouco a pouco a insegurança. Assentiu devagar, mantendo aquele contato visual com o pai. — Você disse que quem não sabe a coreografia, inventa. Então é isso o que você vai fazer se esquecer.

— Não vai ficar feio? Vão rir de mim. — Choramingou e o militar negou veemente.

— Prometo que se isso acontecer, eu levanto pra ir dançar com você. Eu, seu papai Jin, Jaebum, Youngjae, Lalisa e Bambam. — Disse pausadamente cada nome e fez o menininho sorrir. — Ah, claro, seus irmãos também. E se alguém rir...

— Jungkook morde eles. Grrr! — Mostrou os dentinhos cerrados e rosnou para o militar que começou a rir.

Era pai de cinco joias raras, havia se conformado. A áurea “pai maluco” havia voltado e ele quase – foi por pouco – pegou o celular para fotografar o filho fazendo aquela carinha fofa, vestido de príncipe... ah, qual é? Aquele poderia ser seu bloqueio de tela muito facilmente.

— Eu ia dizer que riríamos juntos porque é muito bom fazer alguém rir, mas Jungkook também é uma opção. — Ponderou e viu Jimin rir junto, claramente mais relaxado.

— Ya, ya, ya. — Ouviram a voz de Hoseok e rapidamente olharam para o lado, onde o garoto de bermuda camuflada, tênis branco e camisa social branca, bem leve, vinha. Namjoon grunhiu em confusão; quem era aquele e o que fez com seu filho? — Eu tô ridículo! — Apontou para si mesmo.

Jimin negou e foi abraçar o irmão para confortá-lo. Jaebum prendia a risada a cada olhar severo que ganhava do afilhado, mas no restante de tempo, ele ria mesmo. Não tava nem aí. Ver Kim Hoseok vestido com roupas no padrão “normal”, era muito diferente.

Esquisito, até.

— Quem fez isso com você, meu filho? — Namjoon estava perplexo. Chamou o de dez anos para seu abraço e o escondeu ali, acariciando o cabelo de sua criança. — Você está lindo.

— Pai! — O tom magoado mostrou que ele não estava nada feliz com aquela roupa. Cadê as cores? Os acessórios? Não! — Não tô nada lindo. — Fungou, realmente se sentindo mal.

O acastanhado sentiu-se ferido pelo filho. Ainda que achasse muito... extravagante a ideia de moda de Kim Hoseok, gostava de deixar os filhos serem criativos e trabalharem a criatividade deles a seu modo. Se expressarem como quiserem e aí sim moldar a personalidade; afinal, já não eram mais bebês.

Bebê só Taehyung e ele seria seu bebê mesmo com trinta anos de idade. Isso estava no livro de leis da família Kim!

Acariciou os fios castanhos do garotinho e deixou um beijo ali, consolando seu “mini eu”, porque se Jimin era a imagem e semelhança de Seokjin, Hoseok era a sua própria. Não havia ninguém no mundo mais parecido consigo do que aquela criatura excêntrica.

— Eu não sei, sinceramente, pra que você tem celular, Namjoon. — A voz irritada do cozinheiro soou e todos olharam na direção do homem deslumbrante que vinha carregando sua bolsa de couro com certa pressa.

O cabelo preto estava bagunçado, o suéter escondido por um sobretudo preto que combinava com a calça e os sapatos. Ele estava tão lindo; e emburrado. O militar apenas piscou os olhos devagar, admirando o que tinha só para si todos os dias e pensando como se livrar da bronca que já havia se tornado tão comum.

E que culpa tinha se sempre esquecia o celular no modo silencioso? Aquilo se tornou pauta diária de reclamação após começarem a morar juntos e terem uma vida juntos. Namjoon saía para ir ao mercado e esquecia a lista em casa? Seokjin ligava e aí estava no modo silencioso. O resultado era imprescindível; ele voltava sempre com algo faltando. Um caos.

— Eu estava arrumando os meninos. Esqueci, desculpe. — E sempre havia uma desculpa e óbvio que o cozinheiro sempre desculpava. Apenas fez uma daquelas suas caretas de “já sei”.

O militar sorriu. Se tornou com Seokjin o que menos esperava; seu pai e sua mãe. Lembrava muito bem do relacionamento que eles tinham e sempre achava engraçado as briguinhas bobas e as reconciliações mais bobas ainda. Era engraçado notar como ele e o noivo avançaram tanto em um ano e como avançavam mais todos os dias. Não tinham nem um ano de relacionamento e já parecia uma vida. Se conheciam tanto e já estavam tão enraizados naquela vida familiar que nada parecia fora de sintonia.

Era como se... fosse para ser. Como se apenas duas peças fossem encaixadas e agora sim o quebra-cabeça estivesse finalizado.

E então o Kim mais velho notou o filho de dez anos vestido daquele jeito.

— O que fizeram com o meu filho? — Questionou o mais novo que deu de ombros e pegou o garoto no colo, acariciando suas costas. — Ainda bem que eu trouxe as coisas dele. — Ergueu a bolsa.

Hoseok virou o rostinho tristonho para o moreno que lhe deu língua e começou a rir, contagiando o menino que agora parecia radiante. Namjoon encarou o mais velho e riu desacreditado; por que a parte mais legal sempre era do noivo? Injustiça.

— Papais do ano, meu serviço acabou. Vou voltar para o meu marido e vocês que se virem. — Jaebum chamou a atenção para si, rindo de como eles pareciam aquelas famílias típicas de filme. — Se vocês caírem, tá tranquilo, usem aquele movimento incrível de b-boy que ensinei. — Direcionou para as crianças.

— Tio, eu sou bailarino. — O mais novo o encarou confuso, tombando a cabeça para o lado, analisando o soldado.

— Então... — Pausou e pensou um pouco. Não fazia sentido mesmo. — chora. Você é fofo e um pouquinho de drama vai fazer todo mundo se comover.

— Im Jaebum! — Seokjin encarou o amigo, tentando soar sério, mas não dava.

Não enquanto o Im tinha aquele sorriso travesso e aquela pose descontraída. Era tão criança quanto as próprias crianças. Namjoon riu, claro, porque era o fã número dois – porque o “um” sempre seria Choi Youngjae – do senso de humor ruim daquele militar pancada da cabeça. Com alguns acenos, Jaebum saiu e voltou para seu lugar ao lado do marido.

O cozinheiro olhou para o filho mais novo e abriu um sorriso enorme. Seu bebê estava tão lindo de príncipe, tão precioso. Droga, não ia chorar! Se não chorou com Jimin vestido de florzinha no prézinho, não choraria ali. Ok, a quem queria enganar? Chorou sim e por isso a gravação ficou péssima em seu celular. E choraria de novo, a sorte era ter outras pessoas para gravar.

— O meu filhote tá tão lindo de príncipe. — Comentou cheio de manha para cima do menininho que abriu um sorrisão e abraçou as pernas do pai. Seokjin agachou para abraçá-lo melhor. — Nossa senhora, que coisa mais linda. Eu vou te morder todo! — A voz saía atrapalhada entre os beijos que deixava no cabelo, no rosto do menino, recebendo gargalhadas em resposta.

Namjoon sorriu cheio de adoração por aquela cena. O mais velho era sempre tão cheio de carinho e amor com as crianças, que chegava a ser maldade pensar que um dia, há meses atrás, tentaram tirar aquilo dele. Não havia dúvida de que as crianças eram a vida daquele casal, nada havia de mais valioso no mundo.

Hoseok foi colocado no chão e foi abraçado também pelo pai mais velho, recebendo um monte de beijo e um cheirinho no pescoço.

— Tá cheiroso... — Murmurou em apreciação e viu o menino se encolher por causa de cócegas. Riu baixinho e repetiu o cheirinho só para provocar, ganhou mais risadas. — Conheço esse perfume, ein.

— Eu usei só um pouquinho, pai. — Olhou para Namjoon que sorria todo apaixonado. — Talvez muito. — Sussurrou.

O acastanhado nem se importou com aquilo. Aquela cena, a sua família, era o centro das atenções, pelo menos para si. Não havia coisa mais linda em todo o mundo. Viu o noivo sorrir em sua direção e piscou pra ele; amava tanto aquele homem, céus.

Como viveu vinte e cinco anos sem ele? Precisou passar por tantos amores ruins, desilusões, pessoas que só queriam parte dele e renegavam o resto, seja seus filhos ou seus sentimentos... aos vinte e seis recém completados, encontrou aquele homem que fazia tudo fazer sentido. Desde as músicas melosas que ouvia, até as comédias românticas que sempre detestou. E para tudo isso era bem-vindo, porque nunca viu coisa tão linda quanto Kim Seokjin e aqueles olhões brilhantes, sendo o chefe número um do lar deles.

Acho que isso que chamam de amor, certo? Deve ser.

— Oh, vamos trocar de roupa, Hobi. — Namjoon acordou ao ouvir o noivo falar e o filho concordar. — Temos quinze minutos até o Jimin começar a dançar.

— Vem, mochi. — O pai mais novo chamou o príncipe que agora se sentia lindo com aquela roupinha. — Amor, depois me encontra aqui para subirmos juntos, ok?

— Okay. — Segurou a mão do filho mais velho e se aproximou do mais alto, dando-lhe um beijo no canto da boca, tentando ser polido no meio de tanta gente estranha. — Já voltamos. — Recebeu um beijo na testa e afastou-se com Hoseok.

O homem olhou para baixo e viu Jimin olhar para cima, ambos sorrindo um para o outro. Namjoon rangeu os dentes e rosnou para o filho que fez o mesmo antes de começarem a rir. Algo deles, uma brincadeirinha que só tinha graça e sentido para os dois.

E era pra ser assim; apenas os dois.

*

Faltando quase três minutos para começar a apresentação de Jimin, o casal pôde subir, tendo certeza de que os filhos ficariam bem e estavam felizes com seus figurinos. Ao que parecia, estava tudo bem. Hoseok parecia muito mais satisfeito com uma calça de moletom preto, meias amarelas, o converse vermelho de cano alto e casaco de moletom da mesma cor da calça. Fez aquela tarde de inverno brilhar.

E com as crianças felizes, os pais estavam felizes.

Sentaram lado a lado na mesma fileira dos amigos, entre os dois casais. Taehyung procurou o colo do pai, mas Jungkook pouco ligou, continuou agarrado a Bambam, quem ele dizia ser fielmente seu melhor amigo dali por diante. Além de ele ser legal, entendia quem era o real Sasuke naquela família e óbvio que era Kim Jungkook – para Kim Jungkook.

— Cadê o Yoongi? — Perguntou ao mais velho que ajeitava Taehyung sob o colo.

— Disse que ficaria com Jinyoung, mas que iria assistir. — Comentou e viu o acastanhado assentir e lhe envolver os ombros, abraçando-o. — Ele pegou a música do seu computador.

— Mas a que está lá não é a terminada. — Franziu as sobrancelhas confuso e o cozinheiro o encarou seriamente. — É sério. Eu disse isso pra ele ontem.

— E agora, amor? — Um frio na barriga ia tomando o mais velho que pegou imediatamente o celular para tentar telefonar para o menino.

Namjoon grunhiu sem saber como responder. Suspirou e olhou para frente, tentando pensar em alguma solução útil para ajudar o filho mais velho. As luzes se apagaram e a cortina se abriu, atraindo a atenção de todos. Uma luz azul bem clarinha acendeu, mostrando o cenário como um castelo. Era adorável. Seokjin mandou a mensagem para o filho mais velho enquanto Namjoon já apontava o celular pare frente, a fim de filmar aquilo. Entrou o primeiro mini casalzinho, dançando ao som de uma valsa, mesmo com passos um pouquinho atrapalhados.

E então entrou Jimin. A menina era só um pouquinho mais alta que ele e ainda que fosse pequenininho, mantinha sua pose. Se seus papais e irmãos diziam que era um ótimo dançarino, então era um ótimo dançarino. A mãozinha enluvada por um pano de seda, estava encostada na cintura da garotinha de vestido azul, da mesma cor da roupinha do mini príncipe, e a outra segurava gentilmente a mão também enluvada da garotinha que o olhava tão timidamente. Trocavam aqueles olhares tímidos – porque a professora disse que era para se olharem – e sorrisinhos nervosos.

— Namjoon, o meu bebê é um homenzinho. — O cozinheiro resmungou para o noivo que riu baixinho e olhou rapidamente para o lado, vendo o mais velho agarrado ao bebê e todo choroso.

— Ele é. Logo vai ser um homem incrível como você. — Sorriu e ganhou um rosto choroso em sua direção. Eish, que papai bobo... — Vem cá. — Chamou baixinho e o mais baixo foi.

Trocaram alguns selares demorados e palavras carinhosas antes de voltarem a encarar o palco onde o menino baixinho de bochechas grandes dançava com sua parceira. Agora indo mais para o ballet naquela musiquinha calma. Estava tão lindo, chegava a ser judiação com o coração dos adultos. Youngjae estava agarrado ao braço do marido, suspirando apaixonado. Queria tanto ter seu bebê logo...

E Lalisa entrara para aquele clube, por sorte Kunpimook era o presidente daquele clube familiar e logo teriam sua criança também.

A música durou uns três minutos e quando acabou, as crianças reverenciaram o público antes da cortina fechar e as palmas eclodirem no local. Foi tudo tão bonito que só vendo de novo para comentarem. Jimin não havia esquecido nada e dançou muito bem ao lado da garotinha. Todos os alunos foram muito bem. Seokjin secou o rosto e ouviu Taehyung rir, ao procurar do que o filho estava rindo, encontrou o noivo imitando-o chorar. Idiota!

— Eish. Quantos anos tem? Cinco? — Se fingiu de bravo só para ganhar beijos. Sua tática era infalível.

Demorou algumas turmas para Hoseok se apresentar. Teve o coral do colégio, as crianças mais novas correndo pelo palco ao invés de se apresentar e a professora maluca com medo de alguém cair de lá de cima. Foi divertido.

Quando anunciaram a turma do Hoseok, as luzes se apagaram e começou a tocar uma batida muito conhecida. O caso era que o garoto ensaiou tanto, mas tanto no último mês... era como se nunca tivesse ouvido a música ou dançado na vida. Ensaiou no banho, durante o jantar, antes de dormir. Fez até Jungkook dançar com ele. Jimin e Jungkook sabiam a coreografia por culpa de Hoseok e até que eles fizeram bonitinho.

A turma de street dance não era tão grande, tinha no máximo dez alunos e a dança foi aberta por três alunos e Kim Hoseok estava no meio deles, claro que estava. Dono de um carisma inconfundível, entrou pulando e cumprimentando a plateia. Parecia tão radiante.

— Eu nunca vi o Hoseok tão feliz desse jeito. — Jaebum riu para o melhor amigo que tinha o maior sorriso do mundo e filmava aquilo. — Sério, nem quando ele ganhou o jogo de basquete.

— Ele tá muito feliz mesmo. — Youngjae apoiou-se nas coxas do marido, só para falar com Seokjin. — O que aconteceu com essa criança?

— Isso é ele fazendo o que quer fazer. — O cozinheiro respondeu simplesmente, rindo contagiado com a energia daquele raio solar que eles chamavam carinhosamente de Kim Hoseok.

Lalisa quis levantar para filmar e tirar fotos, mas foi impedida por Bambam que estava com medo de atrapalhar alguém. A morena pouco se importava com isso, sinceramente. Ela e Jungkook queriam ficar de pé para dançar junto. A verdade é que a música Don’t Wanna Fall In Love do Kyle, fazia qualquer um sair do lugar para se remexer. O fato do garoto de meias amarelas dançar todo sorridente, parecendo um velho amigo do palco, deixava qualquer um pensativo se aquela criança poderia fazer outra coisa a não ser dançar no futuro.

Muito provavelmente não.

Yoongi não sabia se sorria orgulhoso do irmão ou se ficava aflito pelo horário. Já eram quase seis horas, o combinado era a apresentação ser às cinco e vinte. Quem estava cronometrando aquela porcaria de espetáculo? Estava com Jinyoung, Jennie, Rosé e Jisoo perto da entrada para a parte lateral do backstage, onde não podiam ficar, mas em que insistiam de ficar só para assistir ao show e não se atrasar para a apresentação. O garoto tinha o rap para apresentar, as meninas dançariam alguma coisa de girl group que não fazia ideia do que e Jinyoung só estava ali porque eles eram seus únicos amigos. A hora estava passando e passando...

— O show vai acabar às seis e dez. — O mais alto murmurou para o melhor amigo, preocupando-se. — Vai juntar todo mundo no palco pra cantar música de natal.

— Mas nossa classe não foi chamada. Ninguém foi. — Refletiu um tanto confuso, sem entender o que estava se passando com aquele lugar. — Estamos aqui por todo o show e nem Jiwon subiu no palco. Ele também vai apresentar um rap.

O garoto mais alto mordeu o lábio inferior, nervoso. O Kim olhou de relance para a menina que gostava; ela estava linda como todos os dias, mas especialmente naquele dia ela estava radiante. Elas iram fazer algum cover e ela também cantaria rap. Seu pobre coração adolescente...

— E agora? — Foi a Kim que se referiu aos meninos. Uma expressão de tristeza inundava seu belo rosto delicado. — Acho que não vamos nos apresentar.

— Impossível. — Negou veemente. Olhou em volta, procurando a diretora. — Nós treinamos muito, não é justo.

— Mas já está acontecendo. — A menina metade australiana murmurou, apontando para o palco onde a turma de Hoseok já começava a abandonar. — Acabaram de anunciar que virá o encerramento.

— Não. — O mais velho dali riu nasal, negando. Estava incrédulo. Como assim não mostraria sua música? — Não mesmo.

Deu as costas para os amigos e saiu dando passos largos e firmes para dentro do backstage, procurando qualquer pessoa que pudesse explicar o que estava havendo. Por que sua turma fora ignorada? Cada um se preparou tanto... ouviu Jennie gritar seu nome, mas continuou andando, irritado o suficiente. Não podia passar por aquilo, tinha que mostrar seu rap. Era sua chance...

Encontrou Jiwon e Junhoe voltando da companhia da vice-diretora e acabou congelando. Se eles falaram com ela e estavam com aquela cara; não iria ter apresentação alguma. Já entendera tudo. Esperou os dois garotos chegarem perto e respirou fundo, procurando coragem para ouvir o que precisava ouvir.

— Não vai rolar. — O menino de olhos inchados e cabelos enrolados disse rindo debochado. — Acabou.

— Mas por quê? — A desolação era tão evidente em sua voz, que nem se reconheceu.

O menino de jaqueta camuflada e jeans rasgados bufou e escondeu as mãos nos bolsos do casaco, parecendo desgostoso por estar falando com aquele garoto mais baixo, porém mais velho. Não se batiam, aliás, nunca se bateram. Desde que Yoongi chegou na cidade.

E depois do episódio “Jennie Kim” é que eles não iam se dar bem nunca mesmo.

— Ao que parece, nosso professor orientador esqueceu de nos inscrever no recital. — Explicou entediado. — Não vai rolar pra ninguém do nosso ano, desiste.

— Mas eu-...

— Tá frustrado por que não vai mostrar sua decorada? — O sorriso irônico inundou os lábios finos do mais alto.

Yoongi o encarou seriamente; sério que ainda teria que aguentar aquele garoto? Ouviu Junhoe rir e ignorou aquela sombra que andava com o amigo para qualquer lado. Ridículo. Achava os dois ridículos.

Jiwon por ter pose de rapper e viver rimando sobre coisas que ele não sabia e nunca saberia, só tinha ideia pela TV. E Junhoe por ser tão sem personalidade.

— Tô frustrado por não poder mostrar oficialmente pra todo mundo o quanto você é um rapper ruim. — Retrucou como nunca fez durante o ano letivo. Recebeu um sorriso cheio de deboche.

Aquele cara era tão cheio de si...

— E quem seria melhor que eu? Você?

— Até agora somos só nós dois que rimamos aqui. — Cruzou os braços sob o dorso e ouviu o mais alto rir, negando fraquinho. — É uma pena.

— Você não aguenta um bate e volta freestyle, Yoongi. Sabe disso. — Aquela afirmação fez o mini rapper sorrir. Era seu momento de sorrir.

Não aguentaria uma droga de bate e volta? Até parece. Esse era seu trabalho quando era mais novo, na praça em Daegu; fazendo aquilo que conseguia o dinheiro para comer. Claro que não fazia há anos, porque começou a ter uma rotina e vida “normal” de uma criança de treze anos, mas nunca negou de onde veio e nunca negaria. Foi lá que conheceu seu pai e foi lá que aprendeu suas primeiras lições.

— Tá me desafiando? — Arqueou o cenho e viu o mais novo assentir com aquela mesma áurea debochada. — Onde e quando quiser, Kim Jiwon-ssi.

— Agora, lá fora. Duas rodadas de três versos pra cada. — Ofereceu já fechando o casaco, preparando-se para sair. O outro concordou. — Ótimo, vamos lá.

Yoongi sentia-se quente e muito motivado. A frustração que estava sentindo por causa do Cypher, por hora, não estava sendo sentida. Claro que ele queria se apresentar e por mais que ele tivesse aquele receio de pessoas, uma fobia social leve, ele queria mostrar para os pais o quanto era bom, que seu trabalho por todo aquele ano não foi em vão. Ele realmente fez algo bom e de se orgulhar e sobretudo, orgulhar os pais; os dois. Ali tinha um pouquinho de cada um e Kim Yoongi queria muito mostrar aquilo para o mundo.

Talvez não estivesse pronto, mas ele queria fazer. Aparentemente, não seria naquele dia. Hoje o dia seria reservado para mostrar para Kim Jiwon o quanto era bom sem decorar nada e principalmente, o quanto aprendeu com Rap Monster; seu pai.

*

 Namjoon levantou-se assim que as crianças começaram a se arrumar para apresentar a última canção. O recital terminaria na hora marcada, mas faltando apresentações. Onde estava Yoongi? Ele precisava apresentar o rap. O moreno olhou para o noivo que já se preparava para sair e suspirou. Estava tão preocupado quanto.

— Amor, espera, aonde você vai? — Perguntou em um tom baixo visto que Taehyung estava sonolento recostado em seu peito.

— Vou procurar o Yoongi. Ele não respondeu sua mensagem, não se apresentou... — Comentou impaciente. Antes estava nervoso pela música incompleta, agora por não saber o paradeiro de seu adolescente. — Vou procurar ele.

— Eu vou com você.

Não foi preciso nem pensar duas vezes para Seokjin passar o bebê para os braços de Jaebum que o pegou com cuidado e o arrumou sob o peito, deixando a criança confortável para dormir se quisesse. Youngjae abraçou o marido e beijou o rostinho de Taehyung de olhinhos quase fechados. Sorriu para ele e depois sorriu para o marido que o beijou devagar. Andavam tão românticos e paternais, o casal Kim já tinha apostado sobre a adoção; eles logo fariam, tinham certeza.

Os dois homens saíram da fileira e procuraram andar pelo canto, sem atrapalhar os outros familiares que estavam assistindo àquela apresentação que se tornou adorável com quase todas as turmas para agradecer a presença de todos e desejar um bom natal. Porém, ter cinco filhos pode ser um tanto complicado, ainda mais se eles se dispersam. Namjoon e Seokjin nunca ficavam parados, não tinha tempo. Quando não é um que precisa, é o outro.

Avistaram Jinyoung e Jennie Kim próximos ao backstage do auditório e foram até lá.

— Jinyoung-ah, você viu o Yoongi? — O militar foi quem perguntou, vendo o garotinho magricela assentir repetidamente.

— Ele estava aqui até agora, mas então saiu e ouvi que ele foi lá pra atrás do auditório com Kim Jiwon. — Contou e viu o mais alto franzir o cenho confuso. Aquele nome não era estranho.

Por outro lado, o cozinheiro já pegou logo de uma vez. Lembrava das duas vezes que Yoongi citara aquele garoto em questão: a vez em que o menino mandou uma carta para Jennie Kim e outra quando ele citou sobre sentir inveja da relação pai e filho de Jiwon com o pai, sobre ele não correr riscos. Bom, em sua visão, eles não pareciam se dar muito bem. Tocou o ombro do noivo e o puxou.

— Ele foi lá pra fora, nesse frio, com ele? — Questionou e dessa vez foi Jennie quem assentiu. Xingou mentalmente antes de sair puxando o parceiro consigo para aquele corredor cheio de professores, alunos...

O melhor amigo de Yoongi encarou a garota baixinha de mechas azuis – falsas – no cabelo e suspiraram. Sabiam que o adolescente era meio quieto na sua, sempre estava com os irmãos ou com apenas um amigo, não sabiam se ele poderia ser agressivo... brigar na escola era burrice. Ainda mais no fim do ano letivo. Por isso saíram correndo atrás dos pais do menino, deixando Rosé lá assistindo a apresentação e vigiando sua irmãzinha que fazia parte da turma das crianças agitadas que quase caíram do palco.

Por outro lado, o garoto de pele muito pálida e cabelo muito preto, tremeu de frio assim que saíram do ambiente fechado e aquecido. Enterrou as mãos nos bolsos do casaco depois de ajustar o cachecol, quase tampando até o nariz. Estava muito frio. O outro menino vestiu um gorro e grunhiu pelo desconforto do frio de inverno. Os pés afundando na neve fofa, indo para um pouco distante da porta, só os três ali, naquele espaço vazio. Poucas luzes iluminavam o local e o clima frio; já anoitecia mais rápido do que o normal, piorando o frio.

— Sem ofender. — O mais alto dali e também de voz mais grave, pronunciou, pegando o celular do bolso. — Três versos para o beat rodar. Tirem no kawi, bawi, bo quem vai começar.

Yoongi olhou para o oponente e tiraram na sorte quem seria o dono do primeiro verso. Tesoura corta papel, o Kim mais jovem iria iniciar. O Koo apertou play em um instrumental que usariam como base e Doom Dada do T.O.P iniciou. Era um bom beat. O de cabelos enrolados sorriu, mostrando os charmosos dentes tortos, os olhos quase fechando. Aqueceu a garganta e esperou o beat iniciar para enfim começar a rimar.

Ah, assim, vou começando devagarzinho. Pediu pra eu começar porque tá com medo de rimar sozinho. — Fez a primeira rima e o mais velho o encarou com uma expressão de “quê?”, mas o Kim mais jovem riu. — Aí, Yoongi, a primeira linha é minha, porque o rei sempre vai com a infantaria; entendeu? Eu acho que não, porque você não aprendeu a improvisação. — Finalizou balançando o corpo no ritmo da música.

A porta foi aberta e por ela passou um Namjoon preocupado, pronto para segurar o filho caso ele estivesse em uma típica briguinha adolescente. Conhecia Yoongi, sabia que ele podia ser bem esquentado quando provocado; mas se surpreendeu assim que sentiu o vento frio de inverno tocar-lhe as bochechas. Viu o corpo franzino do menino, de costas, ouviu a batida. Uma batalha de rap?

— O que ele tá fazendo? Está frio. — Murmurou preocupado e fez menção de se aproximar, mas sentiu a mão ser segurada de maneira firme, porém carinhosa. Olhou para quem estava o segurando e viu o rosto de quem amava.

Kim Seokjin parecia calmo, apesar de ter o cabelo escuro voando sob os olhos, por causa do vento frio. O mais alto admirava a forma natural que aquele homem tinha de conhecer as crianças sem nem precisar se esforçar. Respirou fundo, acalmando o coração.

— Ele te assistiu uma vez e agora é hora de você assistir ele. — O tom pacífico, calmo, fez o mais novo lembrar do dia que batalhou com um cara na frente do filho. Entrelaçou os dedos aos do noivo e o trouxe para seu abraço. O cozinheiro grunhiu antes de abraçar o corpo forte de Namjoon, se aconchegando naquele abraço quente. — Você sabe do que nosso filho é capaz. Apenas assista. — Sussurrou e o acastanhado assentiu.

Jinyoung e Jennie Kim pararam por ali também e mesmo sentindo o frio tocando seus rostos jovens, ficaram ali, interessados no que aconteceria entre os dois adolescentes metidos a mini rapper.

Que que você tá falando? Ganhou no kawi, bawi, bo e tá se achando. — A rima saiu no meio de risadas. Ele realmente não havia entendido aquela linha. — Pabo, abaixa tua bola, antes de você pensar em hip-hop, eu já tava na escola; — Encostou a destra no ombro do oponente e apontou a canhota, para numerar nos dedos o que viria a seguir. O tom baixo e tranquilo. — de rap, de trap. Levando uma surra de boom-bap só pra hoje te ensinar rap.

Jiwon riu junto e se afastou das mãos do garoto mais velho, começando a ficar um pouco irritado.

Nisso você tem razão, levar surra não é comigo não. Você apanhou pra me encontrar e eu aqui, te esperando empolgadão. — O tom de voz cresceu um pouco mais conforme o menino ia se empolgando. — Ficou tristinho porque a decorada não vai mandar e quase chorou quando eu vim te desafiar, — Deu de ombros e o outro riu irônico. — tu sabe que comigo não se cria, tem que ter muita coragem pra botar a cara na minha mira.

O olhar agressivo que o de cabelo preto recebeu, não o intimidou. Nem tampouco aquela pose de dono do mundo, que o mais alto tinha quase sempre, o desmotivou. Houve dias que, sim, invejou a popularidade daquele menino, a facilidade de ele lidar com as pessoas, por ele ter a atenção de Jennie Kim e principalmente por ter o pai são e salvo consigo todos os dias. Mas um belo dia aprendeu que ele era o suficiente; ele, Kim Yoongi, era o suficiente e não precisava invejar ninguém, porque tinha o que precisava e o que merecia.

E isso já era muito, era muito mais do que um dia já quis. Por isso tornou-se grato, não só por sua própria vida, mas pela família que tinha, pela casa onde morava, por si mesmo, pelos poucos amigos e pela capacidade e coragem de correr atrás de seus sonhos, afinal era isso que o movia. Era o que lhe motivou a continuar vivendo no passado e era o que o motivava a continuar acreditando que algum dia as coisas iam dar certo.

“Ainda que você possa morrer, não desista, tente e tente de novo. Arrisque-se!” Era o que seu pai militar disse sobre sonhos, e era isso que ele anotou em sua mente.

Calma, calma, Jiwon não se espante, — Continuava rindo irônico, cansando suas rimas com cada batida que soava. — briguei sozinho pra apresentar meu rap porque sabia que ia te destruir em um instante, infelizmente a oportunidade não rolou, mas cá estou, te dando aula de flow. — Deu alguns pulinhos no lugar, grunhindo de excitação em fazer exatamente o que lhe dava prazer: rimar. Queria fazer aquilo pro resto da vida. — Doom dada, doom dada, que delícia de beat, obrigado T.O.P, expandiu o meu limite.

O de cabelo castanho respirou fundo já um tanto impaciente. Não gostava daquele garoto e odiava mais ainda aquela pose que tinha; marrento, petulante. O detestava.

Me destruir em um instante? Calma, menino, você tá muito petulante. — Aumentou um pouco o tom, rindo debochado. — Desde o início do ano você tá muito irritante, você é só mais um selvagem, a família um desastre; qual foi, Yoongi? Tu quer falar de limite? Explica pro seu pai o que é limite. — Indicou as costas do menino que olhou por cima do ombro e viu os pais.

 Respirou fundo. Lambeu os lábios ressecados e sentiu o vento jogar alguns fios de cabelo sob seus olhos, o beat tocando. Encarou o pai por um tempo, vendo o olhar atento sob si. Conhecia aquele olhar... o mesmo olhar que recebeu no dia que rimaram juntos, no dia que apostaram e perdeu.

 — Limite? Limite. — Murmurou, ainda olhando para quem mais admirava no rap: seu pai. Assentiu. Jiwon queria mesmo falar de seu pai? Certo. — MC burro que não sabe o tempo do beat. — Voltou no beat mais forte, aumentando o tom tanto quanto o outro. Olhou para o Kim mais novo, expondo o desagrado pelo que escutou. — Eu não entendi sua linha, acho que você quis fazer gracinha. — Sorriu irônico e viu o outro rir zombeteiro. — Mas de qual pai você tá falando? — Cruzou os braços sob o peitoral. — Porque um é monstro nas batalhas e o outro é monstro na cozinha. — Indicou os adultos. — Aí moleque, você deveria sentir vergonha de citar minha família, boca suja que nem a sua, não fala da minha vida.

 Seokjin olhou para o noivo e viu o sorriso orgulhoso nos lábios bonitos do militar. Sorriu junto. Sabia muito bem que o adolescente não precisava decorar rimas, não precisava produzir nada, ele sempre estava pronto para rimar o que for. Estava em sua essência. Via isso todos os dias, viu isso todas as madrugadas que Yoongi virou só para escrever Cypher ou para montar seu próprio beat. Namjoon sabia que seu sonho estava plantado naquele garoto e tudo o que não conseguiu, seu filho conseguiria.

 Ele era um artista.

 O menino de olhos pequenos já ia abrir a boca para rimar, esquecendo-se completamente a ordem daquela batalha; estava irritado. Entretanto, o menor levou o indicador até os lábios e pediu silêncio.

 — Roda o beat, a rima é minha: cala a boca e aguenta a crítica. — Não estava mais ligando para o tom de voz e nem tampouco a forma agressiva que as palavras saíam. Suas bochechas coradas demonstravam sua irritação. — Quer ser MC de respeito? Ética, lê lá e pensa direito. Não se fala sobre família, ainda mais do que não sabe, mas é o que dizem: abriu a boca, então toma embate. Falar do meu pai é uma ofensa, ainda mais de quem não tem nem ideia do que é uma guerra, cuzão. — Seu ar foi todo perdido no meio daquele beat rápido e as palavras na mesma agilidade. Respirou fundo. Talvez estivesse irritado demais mesmo.

 — Rodou o beat e ele se revelou: olha só, June, o pivete até xingou. — Fingiu-se de ofendido e assustado para o melhor amigo que observava quieto. Yoongi revirou os olhos, impaciente. — É batalha de rima, Yoongi, não pira, não vem me atacar com sua ira; eu sei que você é revoltado, afinal, nunca foi adotado. — As palavras foram ditas quase preguiçosamente e o menino à frente o encarou com seriedade. E o papo de “não pode ofender”? — Haha, nada pessoal colega, tu sabe que na batalha a gente se enfrenta, mas lá fora a gente não tem problema. — Piscou para o mais velho.

 Não que se incomodasse com as palavras de alguém em uma batalha de rima, até porque uma das leis é nunca levar para o pessoal. Mas, sabia bem que Kim Jiwon não falava aquilo por esporte, sabia bem que não era o favorito daquele menino magrelo. Como se ligasse de verdade para isso, fala sério.

 — Não tem problema? — Riu a plenos pulmões. Que idiotice. — Jiwon, entenda, falou da minha família, amigo, arrumou problema. — Deu de ombros e viu o menino acastanhado o encarar com mais seriedade. — Não nego ser pivete, foi na rua que eu fui criado, na batalha adotado e de Rap Monster aliado. Gay, ateu, deus do rap, militar, valeu pelo ensinamento pai, agora eu posso ensinar. — Olhou para trás rapidamente, mas logo voltou a encarar o rosto pálido do oponente. — Vai usar contra mim o que eu já sei ou vai começar a rimar?

 Jinyoung até deu uns gritinhos de motivação para o melhor amigo, sendo contagiado pela energia de uma troca boa de rimas. Não entendia muito bem como funcionava o rap, mas sabia que Yoongi era bom, era realmente bom. Olhou para a menina ao lado e viu o sorriso nos lábios dela. Sorriu junto. Tirou o casaco e ofereceu, vendo que tremia sob o frio cruel do começo de noite. Fizeram uma boa amizade por intermédio do adolescente mais velho.

 Eram um grande grupo agora. O que era apenas dois, agora são cinco e Kim Yoongi, que tinha fobia social, já começava a se sentir mais incluído, mais à vontade. Sentia-se, finalmente, parte de algum círculo social.

Não envolve Deus na sua rima, deveria ir à igreja e agradecer pela sua vida. — Rimou em um tom raivoso, realmente se enfurecendo. Era um cristão devoto. — Irmão, você já sabe a vergonha que passa, quem sou eu pra compartilhar? — Deu de ombros. — É, eu não entendo o orgulho que você tem ao falar, porque pra mim, você não tem nada pra passar. Que ensinamento que teu pai deu? O caminho certo pra pecar? — Sorriu com ironia.

 — Agradeço todos dias ao meu pai pela minha vida; — A voz sempre muito baixa e calma, soou raivosa, nem esperando direito a rima do Kim mais alto, acabar. Deu as costas para Jiwon e reverenciou Seokjin. — valeu pai, pela comida. — Levantou-se e voltou a encarar o menino que lhe encarava com raiva. — Tá falando demais dos meus pais, que foi? Tá querendo se juntar? Eu sei que teu pai é professor de história, de história eu não entendo, deve ser porque meu pai me ensinou a fazer história e é só isso que ando fazendo. — Namjoon olhou para o noivo e sussurrou um “porra”, assustado. Seokjin riu e beijou o rosto do militar que ainda estava assustado com a capacidade do filho. — Minha última linha, agora eu vou te ensinar: — Abraçou os ombros do mais novo e abaixou o tom de voz. — para de tentar ser como eu e comece a tentar me superar. Para de falar da minha família e vem me atacar. Tô te esperando ano que vem, Jiwon, tu tem tempo pra melhorar. — Deu uns tapinhas no ombro do garoto antes de ser empurrado.

 Kim Jiwon estava enfurecido com a petulância, a arrogância daquele garoto. Yoongi riu provocativo e encarou o adolescente mais alto que si. Bufava de raiva, cada vez mais descontrolado, só de ver aquela expressão de vitória na feição delicada do oponente. A primeira vez que batalharam, foi no intervalo do colégio e o Kim mais velho não parecia tão solto daquela forma. Não fez metade do que havia feito. Foi pego de surpresa.

 Por outro lado, Namjoon também estava surpreso. Sabia sim do potencial do filho, o conheceu daquela forma. Quase perdeu nas rimas para ele. Mas era diferente. Muito diferente. Anos se passaram, ele mudou, Yoongi também mudou, mas a diferença entre os dois, foi que o rap ainda fazia parte da vida do garoto e parecia cada vez mais forte. Mais maduro. Não esperava ser defendido daquela forma, não esperava que seu filho o fizesse de centro de admiração daquele jeito.

 Estava... sem palavras. Completamente sem palavras.

 — Não vou esperar até ano que vem pra a acabar com você, pivete, vamos terminar isso aqui. — Andou alguns passos em direção ao menor que ergueu a cabeça com petulância e o encarou de igual para igual. Ele queria brigar fisicamente? Ótimo. Estava pronto para isso. — Eu nunca quis ser igual a você, tá falando sobre Jennie Kim? Cara, vai se fod-...— Antes de terminar sua linha, teve seu corpo puxado para trás por seu melhor amigo.

 — Quem é o pivete que tá xingando agora? — O mais velho provocou com um sorriso zombeteiro e viu o menino tentar se soltar dos braços do moreno alto e forte. — Fraco. — Cuspiu as palavras. — Não mete o nome de ninguém de fora na batalha, aprende isso, novato. — Continuou provocando e viu Jiwon mais vermelho ainda.

 — Seu-...

 — Para de arrumar briga. — Namjoon interveio, puxando o filho pelo casaco, o trazendo para sua companhia. Olhou sério para o adolescente que o encarou com tédio. — Você não é mais aquele Yoongi, não faça isso. — Referiu-se ao passado, quando ainda era um garoto de rua.

 Yoongi assentiu, refletindo sobre seus gestos. Não podia negar que seu defeito era ser um pouquinho egocêntrico e arrogante quando se tratava de rap e, sim, nas batalhas antigas, sempre comprava briga. Era um defeito seu, um defeito que por muito tempo esqueceu que tinha. Olhou para o lado, onde Kim Jiwon o encarava ainda bufando de raiva. Curvou o corpo educadamente.

 — Obrigado pela batalha. Você foi bem. — Mostrou respeito. Todo oponente devia ser respeitado, aprendeu isso com o pai. Não sabemos o dia de amanhã, certo?

 Não disse nada mais, até porque não se arrependia de nada. Defendeu sua família, defendeu a si próprio, apenas respondeu os ataques que sofreu. Não tinha culpa se Kim Jiwon decidiu que seria inteligente falar de sua família.

 Ainda estava se recuperando do efeito de energia da batalha, quando sentiu um corpo sendo jogado contra o seu. Jinyoung. Deu alguns tapinhas nas costas do melhor amigo antes de afastá-lo; não gostava de muito contato. Dava falta de ar. Por isso era abraçado o tempo inteiro por seus amigos e familiares.

 Uma perturbação.

 — Você é incrível, hyung. — O uso do honorífico mostrava que o mais novo estava realmente vibrando. Ele nunca o fazia. — Quando você ficar famoso, me apresenta ao Junho do 2PM?

 — Quê? — Do que raios Park Jinyoung estava falando?

 Observou Junhoe carregar o melhor amigo para dentro do auditório novamente, mesmo que ele ainda estivesse irritado demais para se enturmar por hora. Suspirou. Ainda sentia aquela inquietação por não ter se apresentado e mostrado seu rap para todos, mas... até que aquela batalha valeu a pena. Matou as saudades que tinha de fazer uma rima de verdade, em uma batalha de verdade.

 Não rimas em uma batalha de brincadeira onde faz um freestyle dizendo que Jungkook é um baixinho feio e que Hoseok tem chulé.

 — Deixa ele respirar, Jinyoung-ssi. — A menina de mechas azuis puxou o braço do amigo que desgrudou do mini rapper. Sorriu tímida quando os olhares se cruzaram. Sentiu aquele friozinho na barriga. — Você é um ótimo rapper, oppa. Parabéns.

 — Eu... — Perdeu a fala, as bochechas corando novamente, e agora não tinha nada a ver com raiva. Era timidez mesmo.

 A menina, que estava engolida pelo casaco do Park, aproximou-se um pouco mais e deixou um beijo na bochecha do adolescente de bochechas avermelhadas. Namjoon olhou para o noivo que também o encarava; aquela conversa muda de “viu isso?”. Estavam tão orgulhosos... Yoongi era um orgulho para aquela família.

 Os olhos estavam bem abertos assim que Jennie se afastou e abriu um sorriso grande, mostrando que estava realmente feliz.

 — Vem logo pra dentro antes que pegue um resfriado. — Ajeitou o cachecol do garoto antes de chamar com a mão, já dando alguns passos para longe, seguindo o caminho para dentro do auditório.

 O chamado não foi para Jinyoung, mas ele estava todo se tremendo de frio e por isso seguiu a garota baixinha, dando uma pequena corrida até o ambiente quente. Não sentia mais o nariz, estava congelado, com certeza.

 Finalmente o cozinheiro deu alguns passos em direção ao menor e o acastanhado fez o mesmo, estando só os três ali, na intimidade familiar. Yoongi enfiou as mãos dentro do bolso do casaco e tremeu um pouco de frio. A noite seria muito fria, já estava vendo. Inspirou e expirou devagar, vendo a fumaça branca se formando à sua frente.

 — Estamos muito orgulhosos de você. — Ouviu a voz delicada e baixa do mais velho. Recebeu carinho no cabelo e olhou para cima, encontrando a expressão calma no rosto pálido do padrasto. Havia uma coisa que achava, só que nunca falaria em voz alta: ele ficava muito mais bonito no inverno, mas sempre manteria sua fala sobre Seokjin ser esquisito. Era de praxe. — Obrigado por nos defender. — Puxou o menino para um abraço, mesmo sabendo que ele não gostava. Abriu o sobretudo e o envolveu ali, como um abraço completo, bem quentinho. — Meu filhote. — Murmurou emocionado demais.

 Yoongi riu baixinho e fechou os olhos, inalando o cheiro do perfume que desprendia das roupas do outro. Aquele perfume que o acalmou no dia que recebeu a notícia sobre o pai estar internado, o perfume que sentiu quando conversaram sobre Jennie Kim... o perfume que o transmitia conforto. Abraçou o moreno e deixou um pouquinho de lado aquilo sobre a falta de ar.

 Podia abrir algumas exceções.

 — Meus garotos. — Namjoon abraçou o noivo e o filho, prendendo os dois em seu corpo forte, ignorando o vento frio. Beijou o cabelo escuro do cozinheiro e sorriu. Era tão sortudo por ter aquela família... sua família. Apenas sua. — Eu amo vocês. Vocês são a minha vida. — Sussurrou e ouviu o filho resmungar algo como “que meloso”. — Cala a boca que eu não esqueci que você xingou. — Repreendeu o filho, esquecendo totalmente a áurea carinhosa de antes.

 Yoongi fugiu daquele abraço e olhou seriamente para o pai que o devolveu o olhar.

 — Aprendi com você. — Provocou e viu o militar fingir-se de ofendido na frente de Seokjin que o encarou com descrença. — Sabia Seokjin-ssi que el-...

 Antes que pudesse terminar de contar sobre a batalha de rap passada, o acastanhado pegou o adolescente e tampou sua boca, sorrindo nervosamente para o noivo que o encarava de uma maneira acusativa. Então Kim Namjoon ensinou o que não devia para seus bebês? Isso não ficaria assim.

 Combinaram de não falar palavras pesadas, xingamentos, na frente das crianças. Eles aprendiam e repetiam. Um dia, enquanto via um jogo, Namjoon acabou soltando um “puta que pariu” que foi repetido por Jimin e Jungkook. Uma semana repetindo aquilo, falando no colégio. Foi Seokjin quem foi chamado na escola para ouvir sobre dois garotinhos hiperativos que estavam xingando para os coleguinhas.

 A palavra “camisinha” também estava proibida, uma vez que Hoseok ouviu um assunto muito errado entre Youngjae e Seokjin sobre: “preferir com ou sem camisinha”. Ele foi perguntar para o pai se ele preferia com ou sem camisinha, mesmo sem saber o que era uma camisinha.

 Namjoon ficou assustado e por isso criaram aquele livro de palavras proibidas. Pelo menos por ora.

 — Vamos pra dentro antes que eu coloque os dois no cantinho do pensamento. — Ameaçou os dois que começaram a andar. Seokjin sorriu. Era ótimo ser adulto. — Ótimo, muito bem.

 Era ótimo ser o membro mais velho daquela família.

*

 Dia 24 de dezembro nunca foi um dia tão esperado por eles quanto naquele ano. Afinal, era a primeira vez que passariam natal em família, todos juntos. Seria um bom natal, tinham certeza de que seria. A ideia inicial era fazer um grande amigo oculto com todos os amigos e a família, mas Youngjae e Jaebum acabaram viajando para a casa do Choi e no dia 25 passariam com a família do Im. Por conta da nevasca, Seokjung e Jihyo não poderiam ir também, então combinaram de viajar todos no ano novo. Iriam para uma casa no lago que Kim Seokmin havia comprado. Estava marcado.

Namjoon até avisou sua família que seria perfeito se juntassem todos para estourar fogos e comer churrasco na virada de ano. Bom, esperava que seu pai aceitasse o convite porque sabia que a mãe e a irmã viriam de todo o modo.

Os únicos que puderam confirmar presença no natal dos Kim foram Lalisa e Kunpimook, então Seokjin teve uma ideia brilhante junto da melhor amiga. Fariam aquele dia vinte e quatro ser incrível, não só para eles, mas para o máximo de gente possível. Com isso em mente, telefonou para seu padrinho e seu pai, pedindo algo especial para eles, fazendo o que sempre fez quando era criança: pediu presente e escolheu exatamente o que queria.

Quando era mais novo sempre pedia coisas para si mesmo, mas ali, naquele dia, depois de muitos anos, pediu um pouquinho mais do que sempre pediu, mas não foi só para si que pediu.

— Eu preciso da ajuda de vocês, vocês podem me ajudar? — Ajoelhou-se à frente dos filhos mais novos que assentiram. Sorriu e tocou o rosto dos dois. — Vão se comportar e fazer exatamente o que o papai pedir?

— Sim. — Os dois gritaram e o cozinheiro sorriu.

— Ótimo, então vamos lá. Trouxe dois aventais especiais para vocês. — Levantou e pegou de cima da bancada, dois aventais temáticos: um do Darth Vader e um do Yoda. — Um pro lado negro da força. — Vestiu o de cabelos grandes com o avental preto com o enorme cyborgue estampado na frente. — E um para o mestre jedi bonzinho. — Vestiu o avental verde no bochechudo que sorria, todo empolgado com o aventalzinho que escondia seu suéter azul pastel.

Aquele suéter fora bordado especialmente pela esposa do senhor Kang e cada criança Kim ganhou um; eles escolheram a cor também. E falando na senhora Kang, ela também estava ali. Ela, Sunghee e Seokjin comandavam a cozinha. Só pratos caseiros e de muito bom gosto.

— Só faltou meu sabre de luz, pai. — Jungkook abriu um sorrisão com dentes faltando e Jimin abriu o mesmo sorriso, mostrando algumas janelinhas também. — É muito legal. — Olhou para si mesmo, empolgado. — Vamos fazer o quê? — Olhou para o mais velho que pegou uma pequena caixa de heating pack* e voltou a se abaixar.

O moreno colocou-se de joelhos perante os filhos e apoiou a caixa leve no chão, abrindo para mostrar o seu conteúdo. Havia muitos saquinhos vermelhos ali dentro.

— Vocês vão entregar para todos. — Explicou, olhando atentamente para os filhos que assentiram. — Quatro pacotinhos pra cada, tá bem? Se acabar, então venham me pedir mais. — Recebeu polegares estendidos em sua direção, mostrando que haviam entendido. — Quem vai carregar a caixa e quem vai entregar?

— Kawi, bawi, bo? — Jimin olhou para o mais novo que tirava a franja de cima dos olhos e assentia. — Kawi, bawi, bo. — Disse antes de colocar pedra e o mais alto, tesoura. Riu da cara dele. — Você é muito ruim nisso, Jeonggukie.

— Eu vou te colocar nessa caixa e te mandar pra bem, bem longe. — Ameaçou o baixinho que riu ainda mais, fechando os olhinhos.

— Okay, jedis, ao trabalho. — Levantou-se e as crianças assentiram, dispostos a fazer a tarefa.

O Kim mais velho vigiou os filhos, Jungkook carregando a caixa nos braços e Jimin sorrindo para todas aquelas pessoas que não se aguentavam com aquele sorriso doce e acabavam sorrindo junto. Virou-se para trás e quase bateu no senhor Cha que vinha com duas bandejas nas mãos, equilibrando os pratos como dava.

— Não olha por onde anda, garoto? — Ralhou o ex funcionário que também tinha tomado um susto. — Os pratos vão ser cozidos sozinhos, não é? Vão criar pernas...

— Eu já tô indo. — Levantou as mãos, rendendo-se. — Cadê meu noivo?

— Ainda não voltou. — Saiu de perto do mais novo, dirigindo-se ao salão. — Jiho, seu mole, vá encher essas bandejas. Trabalhe direito. Hoje é natal, mas o papai Noel não virá na hora do almoço, então pare de vigiar. — Gritou com o homem que olhava pela janela, vendo alguns flocos de neve caindo lá fora.

— Opa. Passando. Cuidado. — Soomin, esposa de Kang Jiho, avisou alto para que o mais alto não acabasse esbarrando nela. Sorriu para o ex vizinho. — A cozinha está uma bagunça de pedidos. — Avisou e o homem assentiu.

No caminho para a cozinha, ainda encontrou Hoseok trazendo uma bandeja com alguns pratos de sopa, sentindo-se incrivelmente bem de óculos escuros, moletom vermelho, gorro de natal e um avental laranja. Ele estava incrível naquele natal. Olhou por cima do balcão e viu Taehyung preso dentro de um cercadinho com Taeyong, brincando com alguns bonecos. Eles podiam até estar soltos por ali, correndo loucamente como gostavam de fazer, mas sem a supervisão de um adulto, era perigoso.

E se eles acabassem caindo ou batendo em alguma pessoa? Melhor prevenir. Lalisa e Soomin se revezavam para vigiá-los, impedindo que se matassem em pequenos ataques de fúria entre bebês. Tudo normal, tudo dentro da centralidade.

A ideia de fazer aquele almoço comunitário, foi na verdade, de senhor Kang. Ele estava tentando convencer o síndico do prédio a fazer um grande almoço no pátio do prédio, para os moradores de rua ou pessoas carentes daquele bairro. O homem não aceitou, mas a ideia bateu no ouvido do cozinheiro que já procurava uma coisa para aprontar naquele dia, então foi tudo muito rápido. A família Kim uniu-se à família Kang, o casal Bhuwakul aceitou de muito bom grado e senhor Cha acabou entrando naquela ideia por simplesmente conhecer muita gente naquele bairro e ele quem chamou a maioria. Sunghee ficou feliz quando o Kim de cabelo preto a convidou para juntar-se, já que passaria a data sozinha. Formaram uma boa equipe.

Naquele momento, Namjoon, Bambam, Yoongi e senhor Kang tinham ido em um lugar onde moravam alguns meninos de rua, iriam convencê-los a se juntar. O adolescente quis ir por saber exatamente o que era passar aquela data sozinho, no frio e com fome. Achou que poderia convencer melhor do que os adultos. Sabiam que aquele almoço não era tudo o que aquelas pessoas precisavam, mas cada um fazia o que podia. Eles queriam fazer o máximo que podiam, com o que tinham e em cima da hora. Foi aquilo.

— Cheguei. — Disse para as duas mulheres que cozinhavam concentradas, mas conversavam entre si. Vestiu o avental e arregaçou a manga da camisa social que vestia. — Como estamos? Ainda temos comida o suficiente, certo?

— Você comprou o suficiente para alimentar o quarteirão inteiro. — A Kang sorridente disse ao mais alto que suspirou em alívio. — Foi uma ótima ideia abrir o restaurante pra esse almoço, Seokjin-ssi.

O homem sorriu tranquilo, pegando algumas folhas de alface para lavar. Sentia-se bem como nunca... tão bem...

— Podemos fazer isso uma vez no mês, dependendo do lucro do restaurante. — Pensou alto e viu Sunghee assentindo, comprando a ideia. — E então quem sabe a gente consiga fazer um projeto em breve?

— Isso seria legal. — A mulher que Seokjin tinha como tia, resmungou, remexendo a sopa de legumes. — Eu esqueci de te contar sobre sua mãe, Jin-ssi. — Olhou de relance para o mais novo que suspirou e negou fraquinho. Não queria saber.

Já fazia meses que não tinha notícias da mãe, nem se quer se viam por conta da ordem judicial. Ela realmente levou a sério, pelo menos aquilo. Nunca mais se falaram, isso era reconfortante para o homem que só esperava viver em paz com sua família sem precisar ter uma pessoa constantemente apontando o dedo em sua cara, o depreciando ou depreciando sua vida. Isso era ridículo. Ninguém merecia uma coisa dessas; por que as pessoas não podiam simplesmente tomar conta de suas próprias vidas? Era tão difícil?

Depois da audiência, Koo Minjae sumiu do mapa e isso era bom. Muito bom. Estava finalmente em paz!

— Ela pagou o que o juiz estipulou. — Continuou mesmo sabendo que o Kim não estaria interessado. — Parece que ela se mudou para Anyang um pouco depois da audiência.

— Meus avós são de lá. — Comentou por alto, sem o real interesse de falar sobre sua mãe. — Deve ter ido morar com meus tios.

— Parece que ela estava em depressão antes de ir. — Foi a Kang que inteirou, atraindo finalmente a atenção do rapaz que respirou fundo. — Não saía de casa, quase. O síndico chegou a ir no apartamento dela por vezes, para ver se estava tudo bem.

Suspirou. Não desejava mal a sua mãe, até porque acreditava que todo ser humano tem que ter a oportunidade de aprender com seus erros e pagar em vida por eles, assim se reabilitando das coisas ruins e tomando uma nova postura. Saber que ela estava daquele jeito, era ruim, mas não conseguia sentir nada além de pena e sabia que esse sentimento era tão feio... mas não conseguia conter.

Mas não era pena pela depressão, era pena por saber que Koo Minjae era tão perturbada mentalmente que esqueceu totalmente de si mesma, que dedicou totalmente sua vida a atrasar, atrapalhar a vida dele e esqueceu que ela também estava viva e precisava viver. Uma vez impedida de todas as formas de se aproximar, acabou perdendo totalmente a direção. Ela viu que não havia mais jeito, mais nada que pudesse fazer, Kim Seokjin não mudaria, ele nunca seria como ela desejava, sonhava que fosse.

O desgosto lhe consumiu ao ponto de perder até a vontade de viver; era por isso que Seokjin sentia pena dela. Pela perturbação mental que aquela mulher tinha, era totalmente atormentada.

— Eu sinto muito por ela. — Foi a única coisa que conseguiu dizer, mas foi sincero. Muito sincero, porque sentia mesmo.

— Oppa, seu príncipe chegou. — Lalisa gritou da porta da cozinha, despertando Seokjin daquela áurea ruim. — Trouxe junto o bobo da corte que eu chamo de marido. — Riu divertida e o cozinheiro acabou rindo junto.

Adorava aquela relação que os amigos construíram e continuavam construindo. Continuavam o casal engraçado mesmo depois de casados. Era uma diferença discrepante: Jaebum e Youngjae eram totalmente melosos e grudados, no entanto Lalisa e Kunpimook pareciam competir por quem fazia as melhores piadas um com o outro. Viviam se pregando peças. Um amor tão divertido...

Seokjin podia dizer que naquele ano aconteceram muitas coisas ruins, de fato, mas também aconteceu tanta coisa boa. Tanta. Ganhou novos amigos, viu sua família crescer mais, tornou-se o homem comprometido mais feliz do mundo, tornou-se pai três vezes mais e amadureceu. Amadureceu muito. Via-se desapegado do passado, pronto para viver um dia de cada vez, torcendo muito para que passassem devagar para conseguir aproveitar cada milésimo de segundo ao lado de seus garotos.

Crianças crescem tão rápido, o mundo gira tão depressa, a vida é tão corrida... queria viver e viver muito. Queria viver mais do que nunca, mais do que já quis um dia. Sabia que queria viver quando olhava o sorriso dos filhos, quando via Namjoon ao acordar e ao adormecer, sabia que queria viver quando abria o restaurante todos os dias e podia chamá-lo de seu. Sabia que queria viver quando se olhava todos os dias no espelho e via que, embora fosse jovem, já tinha a vida feita e queria viver para desfrutar de tudo aquilo.

A vida não era fácil, claro que não. Ele ainda chorava de frustração e tristeza às vezes. Se irritava e queria sumir do mundo; mas nada superava aquela vontade insana de querer viver e ver o que o amanhã trazia consigo. Quais coisas novas poderia conhecer? Quais manias seus filhos iam aprender? As receitas que aprenderia? Quantas declarações trocaria com Namjoon? E como fariam? Eram tantos pontos de interrogações... queria viver para transformá-los em exclamação.

Um dia de cada vez e de preferência, bem devagar...

Saiu da cozinha, passando pela amiga que ria para o marido que lhe apertava as bochechas como castigo pela piadinha. Procurou no salão cheio e achou o acastanhado acompanhado de mais três crianças; dois meninos e uma garotinha. Aproximou-se e notou que as crianças tremiam de frio, inclusive Yoongi que estava sem casaco. Estranhou.

— Onde está seu casaco? — Perguntou para o adolescente que tinha os lábios um tantinho arroxeados. Apontou para o menino mais velho, que tinha o grande sobretudo térmico, escondendo suas roupas gastas. — Vamos arrumar algumas roupas pra vocês. — Garantiu para as crianças que pareciam retraídas.

Namjoon tocou o cabelo do noivo e deixou um beijo na imensidão de fios negros. Estava tão orgulhoso.

— Eles disseram que gostam de comer kimbap. — Anunciou para o mais velho que o encarou com um sorriso calmo. O atual policial (novamente ao início), piscou para o menor. — Ah, também gostam de batata-frita.

— Apenas isso? — Encarou as crianças que tinham olhares atentos sob si. Suspirou e fingiu pensar. — Se vocês comerem só isso, vão enjoar... — Entortou os lábios e a garotinha levantou a mão, como se pedisse permissão pra falar. Sorriu para ela. — Sim?

Ajeitou o cabelo escuro que lhe tampava o rostinho delicado. Tinha a pontinha do nariz bem vermelha de frio, assim como as bochechas. O cozinheiro não lhe dava mais do que oito anos. Quase a idade de seu filho... isso partia seu enorme coração fraternal.

— Bibimbap? — Sussurrou acanhada e o mais velho abriu os olhos surpreso.

— É um bom prato. — Elogiou e viu a garota sorrir timidamente. — Bibimbap, batata-frita, kimbap... o que mais? — Olhou para os garotos dessa vez.

O menor deles olhou para o maior que era um pouco mais baixo que Yoongi. Esse tinha uma feição mais séria e analisava todo o local, como se tudo pudesse ser uma ameaça. Isso era triste. Olhou para o noivo que também prestava atenção naquelas crianças. Via muito de Yoongi no mais velho deles e isso era muito triste, porque aquelas crianças não tinham a chance de conhecer um Kim Namjoon, disposto a tirá-las da rua e fazer com que vivessem como crianças, que tivessem direito a uma infância boa.

— Carne de porco? — Foi Yoongi quem disse, direcionado ao garoto que o encarou. — Todo mundo gosta de carne de porco. — Resmungou como quem não quer nada.

— Que tal... — O cozinheiro pensou por um tempo. — Kimchi frito, presunto, carne de porco e arroz?

Os olhos do garoto do meio, brilharam. Ele viu isso. Por isso fechou naquilo, um cardápio especial para aquelas três crianças. Era aquilo.

— Fechamos nisso? — Estendeu a mão para o menino dos olhos brilhantes que o encarou receoso. Continuou com a mão estendida e sorriu gentil. — Se não apertar, então nada feito. — Arqueou o cenho e a criança encarou o mais velho que ainda analisava toda a situação.

— Vai, aperta. A comida dele é a mais gostosa do mundo. — O policial incitou, usando um tom mais informal e relaxado com as crianças. Seokjin o encarou, sorrindo todo bobo. — Ele não é só bonito, garanto pra vocês. — Brincou fazendo a garotinha rir, sentindo-se mais familiarizada.

Namjoon sempre tão bobo... revirou os olhos e voltou a olhar para o menino de olhos enormes e brilhantes. Talvez tivesse uns onze anos?!

— Aperte, Hyunseo oppa. — A menorzinha ficou na ponta dos pés, pegando na mão do menino, tentando levar até a do cozinheiro. — Eu tô com fome.

— Por que estão fazendo isso? — A voz grossa, porém juvenil, do mais velho soou séria para os dois adultos.

Ele ainda tinha aquele olhar duro e desconfiado e parecia liderar os dois menores, porque eles não faziam nada sem que o mais velho confirmasse ou desse o aval, mas não pareciam irmãos ou algo assim. Seokjin suspirou e olhou para o mais novo que o tocou na cintura, o confortando. Sabia que ele não sabia lidar com aquilo, mas ele sim, então tomaria a frente.

Ou melhor, Yoongi tomaria a frente, porque foi ele quem bufou impaciente e coçou a nuca.

— Porque é natal. — Disse como se fosse óbvio, atraindo os olhares para si e sua feição de tédio. — A comida do meu pai é boa e ele é bonzinho demais. — Levou um empurrão do pai acastanhado, mas continuou na mesma postura. Sabia lidar com aquilo. — Mas se não quiserem comer, fiquem à vontade. Voltem pra casa e fiquem com fome, mas não digam que ninguém ofereceu nada! — Avisou seriamente antes de recuar alguns passos.

Olhou em volta e viu todo mundo envolvido naquela tarefa de servir e ajudar quem precisava. Já haviam dado roupas quentes, comida... estavam tentando fazer o natal menos frio para algumas pessoas e ele estava feliz com aquilo. Estava feliz por não ser mais quem precisava de ajuda, mas estava mais feliz de poder ajudar alguém, porque sabia como é querer ajuda e ninguém estar ali para ajudar.

Então... sentia-se muito feliz, embora com frio. Deu o casaco para aquele garoto porque ele era o único que não estava agasalhado propriamente entre os três. Aparentemente ele havia deixado as melhores roupas que receberam da doação da igreja, para os menores, então estava com frio. Não pensou na hora de tirar o casaco e mandar o menino vestir; tinha outro. O frio passaria.

— O senhor pode, por favor, nos alimentar? — Foi o mais velho quem pronunciou depois de um tempo, de cabeça baixa.

— Eu posso, mas com uma condição. — Sorriu fraternal para aquelas crianças que o encararam com olhos cheios de dúvidas. — Quando sentirem fome daqui por diante, venham me ver, certo? Temos um trato?

Obteve acenos positivos e então sentiu-se em paz para se retirar, mas não sem antes pedir para o noivo arrumar uma mesa especial para as crianças. Acenou para Jimin e Jungkook que eram mimados por um casal de idosos que vieram de um asilo. Senhor Cha quem os levou, eram os pais de sua falecida esposa. Apontou para a mesa das crianças e viu Jungkook assentir antes de sair puxando Jimin para completarem o serviço.

No caminho para a cozinha, encontrou Yoongi arrumando alguns guardanapos, procurando alguma coisa para fazer e ajudar. Não queria ficar parado.

— Meu casaco está dentro da bolsa. — Avisou para o adolescente que o encarou por um tempo, sem entender. — O de Jimin e Jungkook também.

— Eu não estou com frio. — Franziu o cenho, confuso. — E o que tem o casaco deles? Por que não estão vestindo?

— Não é pra você. — Fingiu indignação e viu o menino ficar mais confuso. — O casaco daquelas crianças está bem fino. Acho que o de Jimin vai dar na garota, já que ela é magrinha e pequena. O de Jungkook é dois números maior, então deve dar no garoto. — Indicou as crianças.

— E o seu?

Seokjin indicou um adolescente, devia ter uns dezessete anos no mínimo. Ele comia quieto em um canto, embora tivesse mais pessoas na mesa. Parecia um tanto incomodado e envergonhado, porque tentava esconder-se naquela blusa fina com que tentava se agasalhar.

— Ele foi posto pra fora de casa há uns dias... — Contou para o filho mais velho que ainda encarava o adolescente. — Senhor Kang disse que ele está dormindo no quarto de zelador lá do prédio, porque não tem pra onde ir ainda.

— Podemos fazer algo por ele? — Perguntou ao cozinheiro que estava apoiado no balcão e brincava com alguns guardanapos.

— Dar comida e um casaco bem quentinho já é um bom começo. — Piscou para o menino que assentiu compreensivo. — Depois de fazer o que eu pedi, vem me ajudar. Tenho que cozinhar muita coisa e não consigo sozinho. — Sorriu zombeteiro para o pré-adolescente que abriu a boca para reclamar, mas o mais velho sinalizou pra ele ficar quieto. — Sem reclamar, é natal, seja grato. — Sorriu novamente e viu o filho rolar os olhos antes de descer do banco.

Correu para a cozinha, pronto pra cozinhar tudo o que aquelas três crianças queriam comer. Bambam já havia assumido a louça, rindo de algo que senhora Kang havia dito. Jiho, Soomin, Lalisa e claro, Hoseok, trabalhavam duro para servir todos, retirar a mesa e sempre parar pra dar atenção para as conversas nas quais eram envolvidos. Aquelas pessoas pareciam felizes por estarem fazendo parte de algo em um dia especial, pareciam querer retribuir com boas histórias, boas conversas. Era tudo o que podiam dar e eles aceitavam, porque era sempre bom aprender com o próximo.

Seokjin lembrou de pedir pro noivo ir em casa pegar novos casacos para eles. Ah, algumas roupas também... eles tinham tantas. Podiam dar algumas. É, isso.

Céus, tanta coisa para fazer que Seokjin sentia-se perdido no próprio eixo, mas outro ponto de interrogação de sua vida tornou-se uma exclamação.

O que faria para melhorar o mundo? Ajudaria o próximo da melhor forma, da forma que podia. Não iria ficar parado, não havia tempo para isso.

*

Seokjin tinha o celular na orelha e o polegar na boca, mordendo a unha enquanto ouvia o pai relatar algumas coisas burocráticas. Detalhes, apenas isso. Estava em seu quarto, sentado na cama de casal, enquanto sentia seu corpo totalmente desgastado pelo dia agitado que tiveram. Suas pernas estavam doloridas, seus braços também, fora a dor de cabeça e nas costas... estava se sentindo um velho.

— Você entendeu? — O mais velho perguntou e o cozinheiro bufou, levando a mão até o cabelo, jogando para trás, completamente exausto. — Não, claro que não.

— Pai, só me diz o resultado final. Você sabe que não entendo de finanças, isso é com Seokjung hyung. — Resmungou infantil e ouviu o mais velho grunhir algo como “claro”. — Conseguiu ou não?

— Consegui, Seokjinie. É seu presente de natal, como eu não conseguiria? — O tom cansado do homem, fez o cozinheiro pensar que talvez o pai estivesse trabalhando demais. — Hyunjae-ah disse que assim que as festividades acabarem, entrará em contato com a prefeitura e eu hoje mesmo já liguei para o abrigo infantil e o asilo.

— E...?

— E já dei seu presente de aniversário, garoto. — Disse risonho, ouvindo o filho rir junto. — Seokjung e eu doamos uma boa quantia para os dois lugares, também oferecemos a reforma que eu havia comentado com você. — Aquilo alarmou o mais novo que ficou mais animado. — Vou me reunir com o dono dos dois locais que você escolheu e começar a planejar tudo.

— E o padrinho...? — Havia pedido algo especial para o Kwon Hyunjae e esperava muito que aquilo pudesse acontecer.

Seokmin suspirou do outro lado.

— Ele está tentando conseguir o show beneficente para o começo do ano, parece que conseguiu dois grupos de kpop já. — Seokjin urrou de felicidade. Aquilo daria certo, sentia que daria. — Se tudo der certo e o dinheiro for bem arrecadado, as obras sairão como o planejado.

— Eu conversei com o Mark e ele disse que também gostaria de ajudar. — Levantou da cama, a casa estava muito silenciosa. Isso era estranho, precisava ir verificar. — Na viagem de ano novo a gente conversa sobre isso, pai. Agora preciso desligar porque os meninos estão muito quietos e isso é estranho.

— Avise que o vovô dará os apresentes atrasados. — Ouvir o pai falando daquela forma o fez derreter. O quanto sonhou com aquilo? Sorriu bobo. — Tenha um bom natal, filho.

— O senhor também. — Desejou, ainda com aquele sorriso bobo. — Amo você.

Seokmin riu fraquinho. Seu garoto estava novamente em seus braços depois de tantos anos longe.

— Também amo você, Jinie. — E, com aquele sentimentalismo, desligaram.

Jogou o aparelho em cima da cama e ajeitou a blusa quente e fofa que vestia. Foi Lalisa quem a deu de presente, parecia um urso de pelúcia quando vestia – de acordo com os filhos, que adoravam ficar abraçados consigo quando vestia aquele moletom. Um grude.

Saiu do cômodo e viu tudo realmente muito quieto. Quando saiu para atender o pai, estava tudo uma loucura porque estavam jogando Xbox, algum jogo de luta com o kinect, quase se batendo de verdade ou tacando o controle na cabeça um do outro. Mas agora estava tudo muito silencioso. Ao chegar na sala, entendeu exatamente o motivo de tanto silêncio.

O cômodo que estava com a luz baixa e tinha uma árvore de natal grande no canto, com alguns presentes embaixo, era iluminado pelos pisca-pisca coloridos que envolviam o pinheiro artificial e também decoravam a janela que dava para o quintal. Tudo normal, a não ser por um grande lençol branco que estava estendido, sustentado por algumas cadeiras. Tinham feito uma cabana? Havia outros lençóis sustentando aquela cabana ruim, sendo impossível ser visto o que tinha ali dentro. Franziu o cenho e na hora que ia puxar o lençol que servia de “porta”, a cabeça de Hoseok surgiu ali, o assustando. O garotinho sorriu todo travesso.

— Pai, só pode entrar com senha. — Avisou e o cozinheiro franziu as sobrancelhas confuso. Que senha?

Só ficou no máximo quinze minutos com o pai no telefone. Quando eles arrumaram tempo pra erguer um forte com senha ali no meio de sua sala? E o mais importante, onde estava Namjoon? Ah, mas só podia ser ideia dele... quando se juntava com os meninos, só saía aquele tipo de coisa maluca.

— Que senha?

— A que inventamos! — Foi óbvio e o mais velho cruzou os braços, encarando sua criança que tinha a franja castanha quase cobrindo os olhos enquanto sorria.

— Esquece. — Yoongi apareceu vindo da cozinha enquanto comia uma tigela de cereal, falando de boca cheia. — Esses malucos estão se achando escoteiros acampando em uma floresta.

— Com animais venenosos. — O de dez anos completou, olhando para o irmão mais velho que havia parado ao lado do padrasto. — Igual a você.

— Isso mesmo. — Sorriu maldoso, entrando na provocação do irmão. — Porque se vocês me irritarem, eu enveneno todos vocês. — Abriu bem os olhos, fingindo uma cara brava que assustou o garoto.

— Yoongi-ya, não seja malvado. — Brigou com o filho mais velho que rolou os olhos e foi sentar no sofá, voltar a assistir o programa de variedades em especial de natal. — Cadê seu pai? — Perguntou para Hoseok que voltou a sorrir.

Houve risadinhas dentro daquele lençol estendido, então soube que os mais novos estavam ali também. Houve também um “sh” que soava divertido, então as risadas foram calando. Então sua pergunta foi respondida: Kim Namjoon estava ali, cooperando com aquela loucura dos filhos. Ou melhor, ele era o louco líder. Só ele inventava aquelas maluquices.

— Amor, a senha! — Ouviu a voz divertida do policial soar entre as risadas das crianças.

— Mas eu não sei a senha, Kim Namjoon, como espera que eu adivinhe? — Fingiu-se de impaciente e teve mais risadas. Estalou a língua no céu da boca. — Então é assim? — Encarou Hoseok que assentiu firme, certo daquilo. — Certo. — Empinou o nariz. — Apenas mostrarei para o Yoongi o presente que está no porão. — Deu de ombros e recuou alguns passos, fingindo não ligar mais.

Contou mentalmente três segundos até ter aquela correria atrás de si. Viu Hoseok com o pijama que consistia em uma grande camisa de basquete e calça de moletom, Jungkook com pijama de corpo inteiro, do mestre Yoda e Jimin com um do Naruto. Um verdinho e o outro laranjinha. Vestiam máscaras de plástico no rosto, um era o Yoda completo e o outro diferia com a do Darth Vader; vai entender. Por último veio Taehyung, com aquela fantasia do Stitch que quase o engolia, mas era adorável. Todos presentes para saber que presente era aquele. Seokjin sorriu.

Quem era o pai mais esperto agora? Namjoon podia ter o QI mais elevado, mas ele ainda era Kim Seokjin, o dono dos maiores truques da paternidade. Aquele geniozinho não seria páreo para si.

— O que é? — Jungkook começou a pular ao redor do mais velho que se viu perdido com tanta criança animada ao seu redor.

Teve Jimin agarrado em sua perna, Taehyung imitando Jungkook na parte de pular e Hoseok tagarelando sem parar sobre querer abrir presentes que eles haviam combinado de abrir apenas na manhã de natal, ou seja, no dia seguinte.

— Por que vocês não vão lá buscar? — Deu a ideia e viu os garotos ficarem mais animados. — Cuidado com o Taehyung, meninos. — Avisou antes de ver aquela gangue de pijama partir em disparada para o porão de casa.

Sorriu satisfeito com sua tática e viu Yoongi totalmente desinteressado com aquele momento, seu programa sobre nada era muito mais interessante. Ouviu uma risada baixinha e olhou para Namjoon que estava deitado para fora da cabana improvisada, olhando para o noivo.

— Trapaceiro. — Murmurou para o moreno que deu língua e se aproximou, sentando ao lado do maior que se achegou mais, deitando a cabeça sobre a coxa do noivo. — Você sabe qual é a senha.

— Não sei não. — Riu para o outro que o encarava, atento aos detalhes faciais do cozinheiro. Tão lindo. — Como eu saberia? Vocês inventaram essa doideira enquanto eu estive fora.

Namjoon riu fraquinho e levou uma mão até o rosto do mais velho, acariciando a pele macia, subindo até a franja negra, ajeitando os fios que se atrapalhavam na visão do homem.

— Quem é a pessoa mais bonita de todo o mundo? — Arqueou o cenho e o cozinheiro riu nasal, desviando o olhar. — Quer uma dica? — Ofereceu risonho, deslizando a mão até o maxilar e o puxando delicadamente ali, fazendo o olhar cruzar novamente. — Dica um: Essa pessoa também é quem mais amamos no mundo. — Disse e esperou o noivo dizer algo, mas tendo apenas o olhar dele, continuou. — Dica dois: Essa pessoa cozinha as coisas mais gostosas do mundo. — Viu o mais velho sorrir tímido, acabou sorrindo junto. — Ah, amor, tá fácil agora...

— Eu? — Fingiu-se de desentendido e viu o policial rir daquilo, assentindo em seguida. — A senha é meu nome?

— Era pra ser Anpanman, mas o Taehyung não sabe pronunciar, então trocamos. — Brincou e recebeu um tapa fraco no braço, voltou a rir. — Você sempre foi nossa primeira opção, querido, juro.

— É bom mesmo. — Curvou-se a fim de tocar os lábios do noivo em um selar.

Conseguiram selar os lábios apenas, porque antes de começarem a se beijar propriamente, ouviram um barulho de vozes muito animadas se aproximando. Tinham achado o presente. Afastaram-se e viram os garotos andando juntos, muito juntos, porque queriam ficar perto do pequeno filhote que Taehyung trazia no colo, todo atrapalhado.

— Coloca no chão, filho. — Namjoon pediu ao bebê que parecia encantado demais com o filhotinho. — Ele pode cair e se machucar. — Alertou e o garoto se convenceu, abaixando-se e deixando o cãozinho livre.

Este que correu todo atrapalhado por entre os garotos, conhecendo a casa pela primeira vez. Se tratava de um filhote de pug comprado pelos dois mais velhos, cumprindo a promessa de que quando tivessem uma casa, teriam um cachorrinho; ali estava ele. Até Yoongi se aproximou para ver aquela bolinha de pêlos claros e focinho preto, correndo animado, feliz por estar em uma casa nova.

— Ele é muito fofo! — Jimin gritou eufórico, correndo atrás do bichinho que passou a correr dele. — Vem cá. — Chamou enquanto corria.

Taehyung se juntou naquela corrida, rindo animado por ter um bebê para si. Ele sempre pedia um bebê para o pai porque sempre que iam na casa de Youngjae, ele via o tio chamando Jia de bebê e cuidando dela, então queria um também. Agora tinha.

— É nosso, pai? — O de máscara Yoda perguntou aos dois adultos que apenas observavam aquela cena. Assentiram. — É sério? Agora temos um cachorro?

A animação das crianças com aquela bolinha de pêlos fez os dois mais velhos se questionarem sobre o porquê de não terem comprado aquele cachorro antes. Até Yoongi parecia encantado pelo animal que agora aceitava de bom grado os carinhos que recebia.

Havia tantas mãos o tocando que apenas deitou de barriga para cima, a língua para fora, rendendo-se aos carinhos dos garotos Kim.

— Sim, vocês agora precisam cuidar desse cãozinho. — Namjoon sentou ao lado do noivo e viu que as crianças pouco ligaram. — Grande moral, não? — Olhou para o moreno que ria à vontade. — Pare de rir. Você mima eles demais.

— Olha só quem fala. — Retrucou perdendo as gargalhadas, encarando o mais novo que apertava os olhos em sua direção. — Quem vive dando doce fora de hora pra eles? — O policial até tentou abrir a boca pra rebater, mas teve um dedo indicador sendo empurrado em seus lábios. — Nem vem com desculpas, hm?

O acastanhado revirou os olhos e bufou. O que era um docinho e outro antes do jantar? Nada demais. Moveu o rosto, afastando o dedo do menor e o pegou em um selinho rápido. Seguido de outro e outro. Começaram a rir e aquilo evoluiu para uma guerrinha de beijos e cócegas que logo as crianças se juntaram e o cãozinho, animado, latia e pulava em cima de qualquer um, querendo participar.

Ele era oficialmente um Kim agora, certo? Queria brincar também.

*

Nunca imaginaram que a escolha de um nome poderia ser tão caótica. O cachorro estava sem nome até aquele momento da madrugada porque, com toda aquela confusão, não pode receber nenhum. Mickey, Jazz, Ravi, Kimchi, Jongu e até Drake foram os nomes cotados. – nem precisa pensar muito para saber quem sugeriu Drake.

O fato era que: houve briga. Tudo era briga se um discordava do outro e dessa vez Yoongi também brigou, porque queria participar daquilo. Adorava cães! Hoseok e Jungkook saíram no tapa e acabaram no castigo. Foi fatigante.

Para acalmar as crianças, os pais tiveram uma ideia: deixar o cachorro em paz e focar em outra coisa. Foi assim que Namjoon acabou jogando videogame com os mais velhos e Seokjin contando historinhas para os mais novos. Sua entrada na incrível cabana de lençóis foi permitida e acabou descobrindo da forma mais inusitada possível que, havia colchões ali, travesseiros e até cobertor.

— Então João e Miguel seguiram com os meninos perdidos para brincarem de esconde-esconde com os índios. — Contou suavemente, fazendo carinho no cabelo grande de Jungkook, que estava sentado em sua coxa esquerda. — Mas por causa do sequestro da princesa Tigrinha, os índios capturaram os garotos para levar até a aldeia.

— E o Peter, papai? — Jimin perguntou, envolvido na história. Agarrou as mãozinhas no casaco fofo do pai, tentando atrair sua atenção.

O cozinheiro ajeitou melhor o filho na coxa direita, procurando uma posição que não ficasse desconfortável para si e muito menos para os garotos. Taehyung, chupando chupeta como raras vezes, tinha o cachorro desnomeado em seu colo. O bichinho dormia sob os carinhos do bebê que jazia sentado entre as pernas do pai e não parecia tão atento à história assim.

— Peter Pan estava com a Wendy, lembra que eu contei? Com a Wendy e a Tilim-Tim. — Viu o menininho assentir compreensivo e então continuou. — Chegando lá os meninos perdidos disseram: “soltem a gente! Hoje você ganhou chefe”, para o chefe dos índios. — Fingiu uma voz mais fina para imitar a criança. — Mas o chefe disse: “entreguem princesa Tigrinha ou vocês vão virar churrasco.” — Fingiu uma voz mais grossa e obteve expressões de susto de suas crianças.

Os garotos o encaravam com expressões de susto e acabou sorrindo com aquilo. Gostava daquele momento com os filhos, onde podia sentar, ficar pertinho, contar histórias ou ouvir eles contando as histórias que aprendiam no colégio ou apenas coisas do cotidiano. Era interessado em qualquer coisa que viesse daqueles meninos. Era o fã número um de cada um deles, junto a Namjoon, é óbvio.

Continuou sua história, usando um tom de voz baixo o suficiente para causar sonolência nos garotos que antes mesmo da história chegar no fim, já haviam adormecido. Eram quase três da manhã de natal, não podiam ficar acordados. Nem acreditavam em Papai Noel ou algo do tipo; só queriam que o dia 25 chegasse logo para comerem comidas gostosas, abrirem os presentes finalmente e era isso.

— Eu amo tanto vocês... — Sussurrou carinhoso, deixando um beijo na cabeça dos dois meninos que estavam jogados em seu corpo, dormindo.

Taehyung já havia buscado um cantinho no colchão e dormia tranquilamente, todo encolhidinho em sua fantasia do Stitch. O pug elétrico não estava ali. Com muito jeito, colocou cada criança ali naquele colchão, pegando os travesseiros para tornar aquele lugar mais aconchegante para os meninos. Só saiu dali quando estavam juntos, os três, bem cobertos e à vontade. Dever cumprido.

Saiu engatinhando daquela cabaninha e reclamou de dor pelo menos três vezes ao levantar e estalar a coluna, sentindo tudo doer. Estava ficando velho, era isso. Olhou para o sofá e quis ter o celular perto para fotografar o que seus olhos captaram. Namjoon estava jogando videogame, concentrado, mas não se movia. Quer dizer, movia apenas os dedos no joystick, porque seu corpo estava imóvel.

Hoseok estava sentado sob seu colo, dormindo com o rosto afundado em seu ombro e Yoongi recostado em si. Dormindo sentado. Coitadinho... isso amoleceu mais ainda o coração do mais velho que aproximou alguns passos até tocar o rosto delicado do adolescente, passando para o cabelo muito preto, acariciando ali.

— Yoongi-ya. — Chamou o menino que grunhiu algo. Continuou acariciando o cabelo liso, retirando a franja escura que caía sobre os olhos pequenos. — Levanta, vai pra cama. Suas costas vão doer. — Yoongi abriu os olhos e o mais velho sorriu pra ele. — Tá acordado?

— Tô. — Respondeu com a voz rouca e arrastada, mostrando que sim, estava acordado, mas logo cairia no sono novamente.

O moreno ajudou o filho mais velho a levantar e bagunçou seu cabelo antes de deixá-lo seguir caminho para o quarto no fim do corredor. Agora era outra tarefa, levar Hoseok para o quarto. Namjoon pausou o jogo e deixou o joystick de lado. Seokjin até ia pegar a criança no colo, mas foi interrompido pelo mais novo que ergueu o corpo e sustentou o de dez anos nos braços.

— Vou colocá-lo na cama. — Avisou ao noivo que assentiu e deixou um beijo leve na bochecha do menino. — Já volto. Enche duas taças de vinho pra gente. — Inclinou o rosto selou os lábios com o mais baixo que grunhiu em confirmação.

O Kim mais velho segurou o policial pelas bochechas e o puxou, sorrindo fraquinho antes de repetir os selares. Riram juntos entre aqueles beijinhos rápidos e delicados. Com muito custo, o cozinheiro liberou a ida do mais novo.

Olhou em volta e achou a bagunça que as crianças fizeram. Copos vazios de leite, um prato que antes tinha cookies e agora tinha migalhas. Suspirou. Seu TOC de limpeza estava sendo provado com aquela casa maior e mais filhos. Mas, estranhamente, se sentia confortável com aquilo.

Pegou a louça suja e levou para a cozinha que tinha mais bagunça para arrumar. Negou. Não arrumaria agora, de jeito nenhum! O dia foi tão corrido que nem pôde aproveitar a companhia do mais novo. Deixou tudo ali para pegar duas taças grandes e logo buscar o vinho dentro do armário alto, onde guardavam as bebidas. Abriu a garrafa e despejou a bebida vermelha, não enchendo mais do que o suficiente.

— Os meninos estão bem no colchão lá na cabaninha ou precisa que eu os leve para o quarto? — O acastanhado perguntou baixo, entrando na cozinha.

— Eles estão bem, não precisa. Depois levamos. — Pegou ambas as taças e estendeu para o mais alto que aceitou de bom grado. — Onde está o cachorro desnomeado?

Namjoon riu com aquele apelido que deram para o filhote. Queria ver se ele pegasse aquilo como nome e começasse a atender.

— Acho que está dormindo na cama que você colocou lá no canto da sala. — Encostou-se na bancada de mármore e puxou a cintura do cozinheiro, o colocando entre suas pernas. — Foi uma ótima ideia dar um cachorro pra eles.

— Foi, não é? — Sorriu feliz com sua ótima ideia. Envolveu o braço esquerdo no pescoço do policial que assentiu e o abraçou com o braço disponível. — Somos bons pais.

— Um brinde ao nosso senso genial de paternidade? — Ergueu a taça e o moreno de lábios bonitos sorriu. Ergueu a própria taça e houve aquele tilintar suave antes de ambos darem um gole curto na bebida doce. — Eu não tive tempo pra falar sobre hoje, sobre sua iniciativa de fazer tudo aquilo...

— Ah, Namjoonie, para. — Riu sem jeito, escondendo sua timidez com o vinho, tomando um pouco mais.

Namjoon riu e deixou um beijo demorado na testa do menor.

— É sério. — Abriu os olhos, tomando um tom mais brincalhão, apesar de falar sério. — Eu fiquei muito orgulhoso, muito feliz. Feliz por sua iniciativa, feliz por poder participar, feliz por mostrar pros nossos filhos o quanto é bom compartilhar, dividir, ajudar o próximo.

— Eu achei que era importante eles terem essa lição. — Suspirou. — Quero que eles cresçam sabendo que se puderem ajudar, eles devem.

— Essa foi a primavera mais bonita que eu assisti, sabia? — Olhou diretamente para o rosto bonito do cozinheiro que bebia um pouco mais do vinho. — Eu conheci você. Conheci meu marido da forma mais inusitada possível.

Seokjin sorriu e rolou os olhos ainda de boca cheia. Sempre era zoado pelo fato de estar chutando a máquina de sabão. Aquilo não gostava de si, qual é? Não era piada. Engoliu toda a bebida e lambeu os lábios vermelhos, mantendo o contato visual com o mais alto que tinha um sorrisinho travesso nos lábios. Conhecia aquele sorriso. Sorriso de quem estava escondendo algo.

— No fim do verão, quando as coisas estavam ficando difíceis, eu fiquei com medo de chegar o inverno. — Admitiu sob o olhar atento do policial que o media com atenção. Suspirou, olhando por cima do ombro direito do noivo, vendo os flocos de neve caindo delicadamente lá fora. — Fiquei com medo de como seria, sabe? Pra falar a verdade, queria que nosso verão fosse eterno, não queria precisar encarar as demais estações do ano. Mas então, — Riu sozinho, piscando os olhos devagar. Relaxou o corpo quando sentiu o toque morno dos lábios do mais alto em seu pescoço, deixando alguns beijos, o nariz sendo esfregado delicadamente na derme cheirosa. — então veio o outono, você quase me deixou e eu... eu nunca senti tanto medo na minha vida como naquele dia. — A voz embargou e precisou fechar os olhos por algum tempo, se deixando levar pelos toques carinhosos de Namjoon. Começou a mover a mão nas costas dele, deslizando os dedos pela camisa preta de seda, sentindo o pano gostoso sob seu toque. — Eu pensei que se você me deixasse, então eu viveria em um inferno, pois era você quem me segurava todos os dias. Eu pensei que estaria vivendo o inverno, no outono. Meu filho foi pra longe, você também... — Ouviu o barulho do vidro sendo depositado na bancada e logo sentiu os braços fortes do noivo o envolvendo a cintura, abraçando forte o corpo menor. Sentiu-se seguro. — Mas então... tudo clareou. Meu pai, meu irmão, as audiências, você voltou. Nossa casa, o aniversário das nossas crianças, seu aniversário, meu restaurante.

— O outono não foi tão ruim assim, não é? — Perguntou contra o pescoço do menor que grunhiu em negação, ainda prestando atenção nos flocos de neve caindo lá fora. — Falam que sua adoração por uma pessoa só dura no primeiro mês e então as coisas normalizam. — Afastou o rosto do pescoço cheiroso só para conseguir o olhar do cozinheiro que tinha a ponta do nariz avermelhada, os olhos cintilantes. Sorriu carinhoso. — Mas daqui uns dois meses faz um ano que estamos juntos e eu continuo adorando você. Continuo querendo você, continuo vivendo por você, continuo enxergando apenas seu rosto, seu corpo, ouvindo sua voz, sorrindo ao falar seu nome, ao ouvir seu nome. Meu coração ainda falha quando você sorri, ele ainda acelera quando nos beijamos, ainda me sinto um louco viciado quando fazemos amor, meus olhos... eles brilham quando você chega em casa. Eu ainda me sinto quente, trêmulo quando se declara pra mim. Eu ainda me sinto dobrado às suas vontades, desesperado pra te fazer feliz, pra cuidar de você e te manter a salvo nem que isso custe tudo o que eu tenho. — Não se importou de ter algumas lágrimas rolando pela pele bronzeada, a voz um tanto embargada. Seokjin soluçou emocionado, abaixando o olhar. Droga de mania que Namjoon tinha de fazê-lo chorar. Teve as bochechas seguradas com amor e logo os olhos úmidos se encaravam e eles choravam juntos mais uma vez, só que dessa vez, de alegria, emoção. Amor. — Dizem que o amor só faz a gente rir, sorrir, mas é mentira. Ele também faz a gente chorar, mas isso é bom. — Sorriu atrapalhado e o mais velho sorriu junto, mesmo que entre as lágrimas. — Eu me sinto muito honrado por poder chorar de amor por você, me sinto muito honrado de me deixar ver você chorar de amor, por mim. Só por mim.

— Porque eu só amo você, droga. — Chorou ainda mais, largando a taça de vinho em cima do mármore escuro. Não tinha mais capacidade de fazer nada que não fosse olhar para o rosto molhado do noivo e pensar em como amava aquele homem... amava tanto. — Eu já me relacionei outras vezes, eu já achei que amei alguém uma vez, mas é diferente. Com você eu senti tanta coisa pela primeira vez... eu demorei vinte e sete anos pra te encontrar e eu demoraria mais quantos anos fossem precisos, se no fim, eu viesse te encontrar. Tanto tempo se passou, mas eu ainda quero você como na primeira vez que quis. Eu achei que era feliz antes, eu achei que sabia viver antes, mas nunca soube de verdade. Porque só agora, com você, eu sinto que sou completamente feliz, que estou vivendo. Com você foi a primeira vez que senti isso e todos os dias vem se repetindo o mesmo sentimento.

— Eu te amo. — Trouxe o rosto molhado do mais velho para si, selando os lábios algumas vezes, trocando aquele gosto salgado, compartilhando aquelas lágrimas emotivas. — Eu te amo muito, muito, muito. — Seokjin assentiu, sem muita capacidade de responder naquele instante.

Só de chorar emotivo daquela forma, já era a confirmação que o acastanhado precisava. O amor não precisava ser verbalizado, embora o fizessem a todo instante. Eles sentiam, sentiam em cada gesto, nos olhares... eles sentiam lá no fundo. Eles preservavam a intimidade daquele sentimento, algo como um segredo que apenas os dois sabiam. Era algo deles, apenas deles.

Ficaram um tempo ali, se beijando, deixando aquele momento emotivo passar. No fim, apenas ficaram abraçados, compartilhando carinho, alguns beijos, algumas palavras curtas e amorosas. Um momento agradável de silêncio e calmaria, curtindo o silêncio da casa. Era bom estarem a sós finalmente.

— Você disse que sentia medo do inverno, de como seria. Disse que queria que o verão fosse eterno... — Sorriu fraquinho, acariciando o cabelo escuro do cozinheiro, o sentindo calmo contra seu peitoral. — eu acho que podemos fazer aquela sensação, aquele sentimento bom do verão, durar e perpetuar se estivérmos juntos. Todos juntos. Eu não tenho medo do inverno porque eu tenho você e sei que lutaremos juntos se algo der errado. Sei que consertaremos qualquer erro, que se um cair, o outro vai carregar e se ambos caírem, nos arrastaremos juntos. De mãos dadas. Porque eu sou teu e você é meu. — Afastou a mão da cintura do noivo só para enfiar dentro do bolso dianteiro do jeans, tirando de lá dois anéis dourados, grossos demais. — E já está na hora de oficializar isso.

Seokjin afastou o rosto do noivo e encarou as alianças. Eram lindas. Completamente douradas, reluzentes, grossas e com algo gravado no interior. Pegou um dos anéis e analisou, era a aliança que pertenceria a Namjoon, tinha seu nome dentro, a data que se conheceram e a palavra “serendipidade”. Estava sem reação. O policial pegou a aliança que estava em sua mão e olhou dentro, vendo as letras que formavam aquela palavra que usava para definir o que tinha com o futuro marido. Um acaso, um acaso da sorte.

— Uma obra do acaso, boas descobertas, era pra ser. — Disse, tendo a atenção do menor. — É assim que vejo a gente; uma obra do acaso, mas coberta com sorte. Porque eu fui o homem mais sortudo do mundo naquela segunda-feira de primavera.

— Eu sou o homem mais sortudo do mundo todos os dias. — O moreno sorriu emotivo, olhando admirado para aquele anel. — É lindo, amor. É a coisa mais linda que já vi na vida.

Namjoon riu e tomou gentilmente a aliança da mão do noivo, puxando a mão esquerda dele no processo. Primeiramente deixou um beijo no dedo anelar e volveu o olhar para aquele homem lindo por que era completamente apaixonado. Já era desejo dos dois começarem a usar a aliança de casamento, mas Seokjin foi pego realmente de surpresa. Combinaram que não fariam nenhuma comemoração, até porque eram reservados e gostavam de compartilhar aquelas coisas apenas entre si, sem muito alarde. Mas ainda assim, era uma surpresa.

— Eu prometo ser fiel, leal a você; prometo te amar sempre como se fôssemos morrer amanhã, prometo cuidar de você e dos nossos filhos, prometo ser sempre um bom homem, um bom marido, um bom pai, prometo sempre ser quem você precisar que eu seja. Prometo estar aqui enquanto quiser que eu esteja, prometo ser seu melhor amigo. Muito mais do que promessas, muito mais do que aliança, eu quero que saiba que você, nossa família, é a minha vida. É pra vocês que eu vivo e é por vocês que me manterei vivo. — Deslizou a aliança pelo dedo do marido e deixou um beijo na testa coberta pela franja negra.

O mais velho estava tão estático que só conseguia piscar os olhos rapidamente e se perguntar se aquilo era real. Impossível, não podia ser. “Wuah!”, pensou. Aquilo era mesmo real? Estava se casando oficialmente com aquele policial? O policial mais lindo do mundo? Pai de seus filhos? Ah... impossível.

— Mais do que palavras, mais do que desejos, mais do que qualquer coisa, eu farei. Farei de tudo por você e pelos nossos filhos, eu serei o melhor pra vocês e sempre viverei por você, pra você e pela nossa casa. Eu serei seu marido, seu melhor amigo, seu hyung, seu enfermeiro particular e até um diário para relatar seu dia-a-dia, histórias que ninguém sabe. Seu confidente para chorar um pouco durante a madrugada, quando as coisas ficarem difíceis, seu cozinheiro particular, seu conselheiro e também aquele que cuida de tudo para que você possa ser feliz. — Sorriu calmo, vendo os olhos brilhantes daquele altão sempre tão sorridente. Havia aquelas covinhas... aqueles dois furinhos que conquistaram seu coração desde o primeiro dia. — Contigo o silêncio é música, o inverno é verão e qualquer momento, é especial. Está tudo guardado aqui, — Apontou pra cabeça. — e principalmente, aqui. — Apontou para o próprio coração. — É tudo o que quero levar comigo. Nenhum bem material, nada, é mais importante do que nossas memórias. É com elas que construímos nossa história, nosso castelo, e são elas que me motivam a querer continuar fazendo história ao seu lado.

Deslizou o anel dourado no dedo anelar do acastanhado que sorria tão bobo que os olhos quase fechavam. Tomou novamente o rosto pálido do marido em suas mãos e o beijou daquela forma tão preguiçosa, calma, que o corpo largo do cozinheiro, amoleceu. Era sempre aquela mesma sensação; tudo se repetia em um intenso looping de sentimentos.

Embora os sentimentos fossem em looping, as histórias eram diferentes. Todos os dias eles construíam um enredo diferente no meio da rotina, todo dia era um dia diferente. Eles realmente estavam construindo a história deles com base naquela família de sete membros, um pouco – nada – normal, onde o amor era a maior regra e era ele que motivava todos eles a serem melhores. E por isso chegariam tão, tão longe...

Porque um castelo construído sobre a pedra não caía quando a tempestade vinha. Nem ao menos balançava. Era mais ou menos assim que aquela família havia chegado ali e continuaria vivendo, chegando a mais lugares, um dia de cada vez, um passo de cada vez.

Obrigado, Jimin, pela caixinha de suco estourada. Obrigado, Jungkook, pelo pijama manchado. E, principalmente, obrigado máquina de sabão, por ter emperrado!


Notas Finais


*Heating Pack é aquele pacotinho que esquenta e os coreanos usam pra esquentar, os pés, as mãos. Geralmente eles usam nos bolsos, dentro dos sapatos. É bem eficiente.
*Rap do Yoongi totalmente de minha autoria. Perdoem pelo amadorismo porque aqui a gente faz de tudo, mas não tem garantia de satisfação. (risos)

E então? Terminamos. Confesso que chorei umas 3x enquanto escrevia porque por mais que não seja o ÚLTIMO CAPÍTULO REAL da fanfic, é aqui que findamos esse ciclo. No próximo as coisas não serão como são agora e isso vai deixar uma saudade... foi muito bom me envolver nesse tema, porque apesar de deveras vezes ser difícil (vocês não imaginam o quanto) escrever um tema leve, um tema raso. Nesses um ano eu aprendi MUITO de psicologia infantil, eu aprendi com pessoas que eu sentava pra ouvir e me inspirar, aprendi com as crianças ao meu redor, aprendi coisas com meus personagens, aprendi coisas com vocês que me mandam coisas lindas, lindas, lindas por mp, no twitter; eu cresci muito como escritora e como pessoa graças a oc. Tenho certeza que não sairei daqui do jeito que eu cheguei, vou sair mil vezes melhor graças a vocês. Só tenho agradecer por aguentarem minhas bobeirinhas, muito fluffy com as crianças, muito mel nesse namjin, meus smuts virados, meu crossover loucasso e minhas demoras. Muitos não estão mais aqui, acompanhando, mas muitos permaneceram até aqui, até o ponto final do ciclo, pra ver o que ia acontecer com essa família linda. Eu amei escrever os meninos pequenos, no início vi como um desafio, porque não conseguia imaginar eles assim, mas vocês me fizeram ver que podia dar certo e deu. Olha a gente aqui. Our Castle se tornou tão grande, sinônimo da palavra "fluffy" e isso me faz feliz. Eu nunca escrevi fluffy na minha vida e aliás, eu sou a maior problematizadora de plots desse site, mas acho que posso fazer isso mais vezes, né? Quem sabe.

Um textinho breve para não deixar esse momento em branco, mas NÃO SE ESQUEÇAM QUE AINDA TERÁ OS EXTRAS. Tem uns 6 extras pra vocês + a fic (side history) 2Jae em produção. Acharam que eu ia livrar vocês de mim tão fácil? Nem tão rápido assim, mozões. Nos vemos no próximo SIM e espero que continuem comigo e com essa família, pra vê-los uns aninhos depois. Cês tão prontos? Eu não tô muito não, blé. Qualquer coisa, grita lá no twitter: @sarcasmoflet que aqui integramos todos. Beijão, meus lindxs, é nois. ♥

AH, falta quase 500 favoritos pra 3.000 favoritos, VAMOS PANFLETAR PRA CHEGAR LÁ???? Acredito em vocês. Comentem aqui embaixo, é nosso último dia com essas crianças não me deixem sofrer sozinha, ok? Ok!


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