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História Our Time - Don't Go


Escrita por: paansy

Notas do Autor


Cheguei, como prometido, terça-feira nosso dia. Como vocês estão? Todos bem? Espero que sim. Amei ver todo mundo comentando no último, fiquei toda bobona, obrigada por estarem dando uma atenção e tanto carinho para OT. Isso é muito importante pra mim. Muito obrigada.

Fiquem em casa, lavem bem as mãos e ouçam as antigas do BTS. Boa leitura. ♥

Capítulo 35 - Don't Go


— Oi, senhora, — Moon bateu a barbie de cabelo negro no chão repetidas vezes, como se a fizesse caminhando para perto da outra, de cabelo loiro. — Você gostaria de tomar uma xícara de chá? — A voz fina se tornou mais fina, doce.

Namjoon franziu o cenho e moveu a boneca que segurava, balançando-a de um lado para o outro, como se negasse aquele convite. O cabelo da boneca se espalhou, estragando o penteado que a garotinha de oito anos tinha feito.

— Não. — Com uma voz esganiçada, ele respondeu. — Eu tenho um show pra fazer hoje, garotinha. — Cruzou as pernas sobre o carpete claro do chão do quarto da filha, nem vendo que ela o encarava com uma expressão irritada. Não era isso que haviam combinado! — Não quer vir dançar comigo? — E, batendo a boneca no chão, a aproximou da barbie morena.

— Pai! — Ela reclamou alto, vendo os olhos surpresos dele. Fez um bico chateado. — Você tem que aceitar a hora do chá.

— Mas a Lola MC não quer. — Respondeu contrariado.

— O nome dela é Senhora Nam Jinsoul. — Corrigiu, mas o policial se recusou a acatar, negando veemente, irritando mais ainda a menininha de cabelo longo e franjinha.

Não era MC nada. De onde seu papai havia tirado aquilo? A senhora Nam era uma modelo lindíssima, miss Coreia, já a sua, senhora Lee, era uma grande atriz. Elas eram amigas. Muito amigas, e tomavam chá juntas toda tarde. Eram duas madames.

Seu pai Seokjin lhe comprou miniaturas de conjunto de hora do chá, tinha que usar, era fofo.

— Ela é uma grande rapper. — Apresentou, o acastanhado, tentando arrumar o cabelo da boneca, mas parecia meio impossível.

— Ela é modelo!

— Quem disse? — Arqueou o cenho para a menor que parecia brava. Ela era igualzinha a Seokjin quando contrariado. — Hum? — Olhou para a tal Lola MC. — Veja, — Balançou a boneca loira. — até a roupa metalizada combina com o conceito.

Um pouco irritada, Moon pegou a boneca das mãos grandes do pai e passou a escovar seu cabelo fino com os dedos curtos, tentando ajeitar. A modelo Nam era mundialmente famosa pelas passarelas, não pelos palcos. Seu pai Namjoon não sabia de nada de Barbies. Sentiu falta de Taehyung, ele que montou a boneca loira, escolheu seu nome e seu trabalho...

Seus pais não sabiam brincar. O mais velho sempre acabava fazendo as bonecas brigarem entre si com puxões de cabelo e palavras como "eu sou mais bonita", já o pai mais novo sempre queria fazer suas bonecas como rappers ou gladiadoras da idade média.

Quando eles iam entender que elas eram senhoras madames?

Enquanto os dois brincavam de bonecas dentro do quarto da menina, Seokjin terminava o jantar. Moon havia pedido kimchi jjigae, então estava preparando, devagar, mas estava. Naquele sábado, havia levado a garotinha em um aniversário da amiga da escola enquanto o marido cumpria meio período na delegacia, e agora, à noite, estavam tendo o tempo em família.

Era um pouco estranho seus outros garotos não estarem presentes, mas ao que parece todos estavam ocupados com algo. Para variar. Jungkook havia saído, Yoongi tinha show, Taehyung saiu com os amigos, Hoseok não respondia o celular e Jimin disse que não estava se sentindo muito legal para sair. O jeito era ficarem apenas os três.

Comeriam kimchi jjigae e depois se enrolariam nas cobertas e veriam algum desenho na TV. Sua filha havia dito que queria ver Aladdin, então veriam Aladdin. Os três, juntinhos.

Ouvia dali Moon reclamando com Namjoon, pedindo para ele brincar direito e parar de descabelar suas bonecas. Riu. Seu marido era tão bruto... quando os meninos eram menores, sempre os enfiava em brincadeiras brutas onde alguém saía com roxo ou chorando.

Ele era uma mente maligna.

Mas quando a garotinha de olhos inchados e franjinha estava envolvida, ele sentava e deixava ela pentear seu cabelo e pintar suas unhas. Também brincava de boneca, mesmo que – nas palavras de Kim Moon: descabelasse todas elas.

A campainha tocou. Quem seria? Não estavam esperando ninguém...

— Amor, tá esperando alguém? — Gritou da cozinha assim que a campainha soou mais uma vez.

— Não!

Franziu as sobrancelhas, confuso. Então...? Será que Jimin havia mudado de ideia? Abaixou o fogo e correu para atender a porta. Tocava alguma música baixa na televisão, algum rap ocidental que Namjoon deixou tocando e foi brincar de boneca com Moon. Nem deu tempo de pausar antes de abrir a porta.
 

Oh.

— Jaebumie. — Abriu um sorriso assim que viu o homem de cabelos negros e olhos pequenos. — Onde está o Jae? — Deu espaço para o soldado entrar.

Fechou a porta e o esperou retirar os sapatos antes de entrarem na sala. Não estava esperando receber o amigo, quer dizer, sempre, antes de qualquer visita, ele avisava. Mas isso nem era estranho, tudo bem aparecer de surpresa.

Mas, sem Youngjae? Isso sim era estranho!

— Youngjae-ah ficou em casa. — Respondeu baixo, sem a típica animação.

Certo...

— Estou fazendo kimchi jjigae. — Avisou animado, porque sabia que ele gostava. — Vem, o Joonie está no quarto com a Moonie. — Continuou tagarelando enquanto andava na frente do menor que mantinha um silêncio atípico.

Certo que, bem, o Choi era a parte falante daquela família, mas Jaebum sempre fazia piadas bobas. Tinham anos de amizade, consideravam-se uma família só, então conhecia bem os trejeitos de cada um. Tanto dele, quanto do acastanhado tagarela que ele sempre carregava a tira colo. Aquilo era esquisito.

— Eu já jantei, hyung, mas obrigado. Eu só vim falar com o Namjoon hyung. — Um pouco cordial, o soldado respondeu educado, parecendo formal demais. Sério demais.

Assentiu, ignorando toda aquela estranheza. Ele podia ter brigado com seu outro amigo, certo? Isso seria plausível. Às vezes eles discutiam por coisas bobas mesmo. Chegou ao quarto com a porta entreaberta, cheia de decalques de borboletas.

— Namjoonie, — Entrou aos poucos no cômodo que era praticamente algum covil de fada ou algo assim. Obra de Taehyung. — o JB está aqui. — Avisou carinhoso assim que recebeu o olhar curioso do marido que vestia shorts e camisa, bem à vontade em casa.

Abriu mais a porta e deixou visível a imagem do militar de olhos sérios. Namjoon o encarou fixamente, vendo imediatamente que havia algum problema. Trabalhou anos ao lado daquele homem, sabia identificar quando algo estava muito errado. Respirou fundo. Ótimo. Mais problemas...

O Im, vendo que o amigo já havia entendido o propósito da visita, lambeu os lábios e desviou o olhar, não querendo ser óbvio para o amigo mais velho e nem assustar a garotinha que os encarava confusa.

Por dentro seu corpo tremia, estava com o coração apertado e não sabia direito o que ia falar. Deixou o marido chorando em casa, preocupado, pedindo por favor que ele mantivesse contato com Yugyeom o tempo que desse. Seu filho também estava naquela bagunça, seu afilhado baleado. O que porra estava havendo?

O Kim mais novo forçou um sorriso para a filha e deixou um carinho em seu cabelo.

— Depois continuamos. — Disse baixinho, vendo os olhos pequenos o encarando com certa carência. Nunca tinham tanto tempo juntos... abaixou e deixou um beijo na testa dela.

Sentia muito por passar pouco tempo em casa e sempre ter que sair. Seus filhos foram criados assim, sua menina estava sendo criada assim... doía. Deixou mais um beijo na testa coberta com a franja negra e se levantou, vendo a segunda coisa que mais doía.

O olhar confuso de Seokjin. Era outra coisa que teve que aprender a conviver, embora doesse mais ainda. Apenas assentiu para ele e deixou um carinho breve na bochecha, corada pelo calor, do cozinheiro, seguindo com o amigo para outro lugar.

Apesar de um pouco receoso, o de cabelo escuro sorriu para a garotinha que estava sentada entre as bonecas.

— Quer me ajudar com o jantar, querida? — Estendeu a mão boa, esperando que ela viesse. — Vou precisar de outra mão. — Torceu o lábio e indicou com a cabeça o braço machucado. — Por favor?

Ela assentiu sem hesitar, pulando do lugar e estendendo a mão para o pai, pegando em seus dedos longos, aceitando ir com ele. Esquecendo por um momento que seu outro papai estava com seu tio Jaebum em algum lugar, falando sobre coisas que eles não podiam ouvir. Sempre podiam ouvir tudo, poxa.

Até no dia que seu tio Bummie contou para seus papais que seu tio Youngjae gostava de apanhar, o que não fazia sentido... não é? Por que adultos eram tão estranhos?

Namjoon levou o melhor amigo para seu quarto, querendo privacidade para seja lá que assunto fossem tratar. Talvez fosse sobre trabalho? O mais novo sempre confiava algumas informações a si.

O Im respirou fundo. Aquilo seria difícil.

— Escuta, — Iniciou assim que viu o acastanhado parar em sua frente. Como diria aquilo? Porra. Engoliu em seco. — eu preciso que mantenha a calma com o que vou te dizer agora. — Pediu sério, ficando na frente da porta. Sabia que Namjoon ia pirar! Viu o modo desconfiado que ele ficou. — Mantenha a cabeça no lugar. — Avisou baixo, erguendo as mãos, tentando limitar o espaço entre ambos, receoso.

Namjoon era tido como um cara pacífico e de fato era, mas isso destoava um pouco em como agia em campo. Eram bons parceiros e isso não era por acaso! Era o cérebro e ele a força bruta. Fazia os cálculos e tinha as estratégias, sim, mas ele quem ia na frente tirando todo mundo do caminho. Lembrava de, na época em que se conheceram, apelidá-lo de "tanque", porque ele limpava a área. Sozinho. Eram bons no que faziam, de fato. Talvez ninguém ali soubesse o verdadeiro gênio justiceiro de Kim Namjoon, mas, tendo trabalhado com ele por anos, conhecia bem.

E isso o deixava com medo. Muito medo! Ele não era mais apenas um soldado ou um policial. Não! Ele era um delegado, comandava uma das delegacias principais do distrito. Tinha uma concorrência alta, bastava um passo errado e tudo ruiria. Sabia que o mais velho se preocupava com isso e era sempre um bom policial.

Mas não era de qualquer ocorrência que iam tratar. Era sobre Kim Yoongi, filho mais velho dele. O protegido do delegado, o melhor amigo.

Ensaiou dar aquela notícia mil vezes, mas, no fim, não tinha outro jeito.

— Im! — A voz grossa soou séria, os olhos fixos no menor que parecia mais pálido que o normal. O que porra ele estava escondendo?

Mediu-o por completo. Por que ele estava armado? Estranhou. Jaebum raramente saía armado, Youngjae não deixava. E mesmo se saísse, escondia no carro ou em algum lugar que o esposo não visse. Mas ali estava a nove milímetros, que ele tinha para uso pessoal, no coldre da cintura. A mesma arma em que ele havia talhado no cano as iniciais do filho – que calhavam de ser as mesmas do seu marido –, como um lembrete de usar apenas quando imprescindivelmente necessário. Pensava em Yugyeom. Pensava em Youngjae.  

Alguma coisa estava muito errada!

— Eu sinto muito. — Foi o que o comandante disse primeiramente, realmente pesaroso. Namjoon o mediu de maneira mais meticulosa. Sentia muito? — Nós vamos resolver isso, então por f-...

— O que foi que aconteceu? — Perguntou mais uma vez, entredentes, perdendo toda a paciência que lhe restava. Odiava rodeios.

Avançou para segurar o homem pela jaqueta de couro que ele usava, mas ele o segurou pelos ombros, impedindo-o de se aproximar demais. O que Jaebum estava querendo? Merda. Custava falar de uma vez? Sua respiração ficou ruidosa, pesada. Tantas coisas se passavam em sua cabeça. Seu corpo estava tão frio, seu estômago embrulhado.

Viu o mais novo engolir em seco antes de falar.

— O Yoongi foi baleado agora pouco enquanto se apresentava em uma casa de show em Gangnam. — A voz rouca do Im penetrou na mente do policial que sentiu sua respiração falhar. Yoongi... tiro...

Jaebum ainda falava, via a boca dele se movendo, encarando-o, mas não conseguia ouvir. As palavras cruciais estavam em sua mente, rondando seu cérebro. Recapitulou tudo o que havia juntado como prova nos dias até ali. A prisão de Kim Hongjoong, San no hospital, o depoimento do Kim, a câmera hackeada no restaurante de Seokjin... tudo estava sendo guardado em sua mente. E agora, a realização do que tanto temia. Colete à prova de balas. Um de seus filhos.

Yoongi. Era Yoongi.

Muitas coisas ainda não faziam sentido em sua cabeça, mas agora estava claro quem eles queriam. Era seu filho mais velho. Passou a mão no cabelo castanho, jogando-o para trás. Olhou ao redor, um tanto perdido, o porta-retrato grande ao lado do quadro onde tinha sua foto de casamento. A família inteira reunida, fazendo caretas para a câmera. Seokjin estava em suas costas, si próprio ria abertamente de alguma coisa que Hoseok havia dito, porque ele também ria, abraçando os ombros de Yoongi que fazia o número dois para a câmera. Os três mais novos estavam sentados na frente dos outros, Taehyung jogado por cima de Jungkook que o abraçava e abraçava Jimin também.

Aquela foto era uma das mais preciosas que tinha. Foi um pouco antes de Hoseok casar.

— Porra. — Murmurou desesperado, dando alguns passos para trás. O que deveria fazer primeiro? O quê...? — Porra. Porra. Porra.

— Hyung! — Bem que o de cabelo negro tentou se aproximar, mas refreou os passos assim que Namjoon deu um soco na porta do guarda-roupa. — Hyung, para. — Puxou-o pelo braço, querendo conter o corpo forte que parecia elétrico demais.

— Calma o caralho. — Gritou parecendo possuído pela raiva, afastando-se do amigo. — Esses desgraçados estão brincando com a minha cara, porque disseram que um dos meus filhos estava em risco. — Desabafou com o Im que o mediu sem entender.

— Como?

— Eles estão jogando comigo! — Assentiu consigo mesmo. É? Eles estavam jogando? Então ia entrar nesse jogo, acabar com ele. — Eles vão ter que falar por bem ou por mal, eu não dou a mínima se alguém vai ter que se foder no processo. — Apontou para o de jaqueta de couro que não entendeu do que Namjoon falava. Aquilo tudo era novo para si.

Mas temeu. Viu o policial abrir o guarda-roupa com raiva, puxando a calça jeans, trocando de roupa na sua frente, com rapidez. Eles... quem eram "eles"? Do que ele estava falando? Mordeu o lábio inferior, pensando rápido. O que estava acontecendo? Seu melhor amigo não havia dito nada, estava no escuro.

Sentiu a porta ser empurrada contra seu corpo e imediatamente saiu do caminho. Seokjin entrou no local, um tanto pálido.

— Que barulho foi esse? — Perguntou nervoso, olhando ao redor, vendo o marido pegando a arma de cima do guarda-roupa, colocando no cós da calça. — Ya, Kim Namjoon. — Chamou, sendo ignorado. Merda. Bateu o pé no chão, impaciente, olhando para o amigo. — O que está acontecendo? Alguém aqui pode me dizer? — Levantou a voz, irritado. Odiava ter suas questões ignoradas. Jaebum olhou para Namjoon e então notou que ele estava receoso de falar. Ótimo. — Okay. Okay! — Riu sem humor, olhando de um para o outro, nervoso, irritado. Iam ficar de segredinho agora? — É mais uma das situações onde vocês arriscam a vida? É isso?

O policial terminou de se equipar, pegando o distintivo e mais uma arma reserva, colocando no coldre que transpassava suas costas. Seokjin nunca viu aquilo. Por que seu marido parecia tão transtornado? Estava nervoso, não queria que ele saísse daquele jeito. Não... ele não podia.

Olhou para uma das portas do guarda-roupa, vendo o riscado na madeira escura. O quê...?

— Alguém, por favor, — Respirou fundo, quase implorando por alguma coisa. — pode me dizer?

— O Yoongi foi baleado, Jin. — Com o tom pesaroso, o mais novo dali falou finalmente, curvando a cabeça em respeito ao cozinheiro.

Imediatamente sussurrou um "quê?", franzindo o cenho confuso. Do que Jaebum estava falando? Riu sem acreditar, colocando a mão sobre os lábios grossos, os olhos grandes se tornando maiores. Yoongi... não. Por quê? Seu garoto. Não... negou veemente e teve o olhar piedoso do amigo. Por que ele estava o encarando daquele jeito? Era brincadeira... não era? Só podia ser piada.

Olhou para o mais alto dali em busca de respostas, mas não conseguiu nem ver o rosto dele.

— Onde ele está? — Perguntou para o militar, aflito. — Por que aconteceu isso? Ele está bem? — Teve seus ombros largos segurados pelo menor, mas se desfez do toque na hora. Não queria ficar calmo, não ia se acalmar. — Onde está o meu filho, Im Jaebum?

— Yugyeom está com ele, o Yoongi está bem. — Disse mais alto, querendo tranquilizar os pais do rapper. — Está lúcido, o tiro pegou na barriga, provavelmente não tem risco de morte, então se acalmem! — Pediu firme, falando mais sério com ambos os adultos que pareciam perdidos.

Entendia que era uma situação difícil e provavelmente faria pior se fosse com seu filho, mas precisavam manter a calma. Além de um caso de saúde, também era um caso policial. Namjoon principalmente precisava manter a calma e o via transtornado. Se ele saísse daquele jeito, não sabia bem o que daria de errado, mas daria algo. Algo muito grande.

O mais velho passou a mão no cabelo longo, as mechas negras passando por entre os dedos. Minha nossa. Não... por que fizeram isso? Olhou para o marido em busca de respostas e o viu já pronto para sair. Sentiu medo. Os olhos dele... nunca viu os olhos do homem que amava daquele jeito. Ele nunca... nunca estivera tão sério daquele jeito.

Atiraram no filho deles...

— Amor, nosso Yoongi. — Começou a chorar, sem saber como reagir. Em sua cabeça só vinha a imagem que seu cérebro projetava do homem no chão, sangrando. Não queria pensar nisso. — Namjoon! — Chamou pelo homem alto que o olhou e pela primeira vez e viu o castanho brilhando, os olhos sérios brilhavam... ele queria chorar. — Por favor, não faça besteira. Por favor, Namjoon, eu tô te pedindo, não faz. — Agarrou-o pela camisa, trazendo para frente, mas ele não se moveu. Fungou, olhando-o de baixo, vendo como ele o encarava sem dizer uma palavra. — Precisamos ver nosso filho, ele precisa da gente, sim? — Segurou-o pelas bochechas, puxando para baixo para que pudesse encostar as testas. Chorou mais forte. — Eu preciso de você aqui, Kim Namjoon! — Falou alto, soluçando, não querendo que ele sumisse de sua frente.

Estava com medo. O mais novo era... impulsivo e extremamente protetor quando se tratava dos filhos, se lembrava de quando ele dizia que não sabia do que seria capaz caso alguém tocasse em um deles. Lembrava de sempre sorrir e dizer que faria o mesmo, mas nunca pensou que esse dia chegaria. O dia em que, realmente, tocariam em seus filhos. Um deles. O mais velho. O braço direito dos pais.

Sentia como se tivessem atirado em seu próprio corpo.

Sabia que, se estava mal, então o acastanhado estava pior. Ele tinha um vínculo emocional do tamanho do mundo com o rapper, não podia... medir o quanto ele devia estar mal. O quanto ele devia estar revoltado e querendo resolver isso. Sabia. Sabia, sim. Mas não podia deixar, não podia deixar o delegado sair assim.

Sentia que perderia o marido. Tinha essa sensação de que o perderia, só não sabia como.

O Im preferiu ficar quieto, respeitando aquele momento, mas concordava com o amigo mais velho.

— Vão para o hospital, eu cuido da parte jurídica. — Garantiu, o de olhos inchados. — Tenho alguns conhecidos na polícia e posso pedir para que abram o inquérito e comecem as investigações. Não precisa se preocupar com isso, Namjoon-ah. — Tentou, mesmo sabendo que seria inútil.

O policial ainda olhava para o esposo, vendo seus olhos úmidos, o modo que o encarava, sem chão. Engoliu em seco, os lábios trêmulos. Queria chorar, mas não ia. Não enquanto tinha trabalho a ser feito. Via o moreno negando veemente, as mãos frias o tocando, segurando seu rosto. Ouvia os sussurros de "por favor" e "não".

Tocou-lhe a cintura, tentando empurrar o corpo dele, mas não conseguiu.

— Não. — Ele disse alto, embolando os dedos na camisa do mais alto. — Você vem comigo, precisamos ver nosso filho. — O delegado abaixou o olhar e tentou o empurrar mais uma vez. — Kim Namjoon, — Gritou choroso. — o que você tá pensando em fazer? Uh? Me fala.

— Você não precisa saber disso. — Murmurou rouco, a voz trêmula por causa do choro preso. Óbvio que não diria para Seokjin.

Mas não precisava dizer em voz alta para ficar implícito. Era muito óbvio. Jaebum sabia disso, por isso se aproximou, querendo ajudar o Kim mais velho a conter o corpo forte do homem de cabelo castanho.

— Mas eu sei. — Falou mais alto, ganhando o olhar do melhor amigo. — E não vou deixar você sujar seu nome com essa porra, então pode abaixando a bola!

— Você não tem que deixar nada, Im Jaebum. — Enfrentou o menor que empinou o nariz e fez uma expressão irônica.

— Eu sou seu superior hierarquicamente e eu posso, sim, te dar voz de prisão caso faça algo fora da conduta militar e você sabe disso. — Ameaçou e ganhou os olhos assustados. O quê? O que ele estava falando?

Por que eles estavam agindo daquele jeito? Merda. Yoongi estava baleado, por que ninguém estava se arrumando para irem ao hospital? Talvez... ele precisasse de sangue, de apoio, de carinho, de alguém. Ele não precisava daqueles dois grandes idiotas querendo fazer justiça com as próprias mãos. Merda. Militares imbecis.

Quer saber? Ia atrás de Yoongi ele mesmo.

— Você vai me prender? — Ergueu a sobrancelha, encarando o Im que bufou e se viu cada vez mais irritado. Levantou os braços, colocando as mãos atrás da cabeça. — Me prende.

— Parem com isso. — Gritou, o mais velho, puxando os braços do marido. — Vocês estão piorando tudo, o Yoongi é a prioridade. — Esfregou o rosto molhado, voltando-se para o marido, medindo-o seriamente. — Você é delegado, mas é pai. Pai, Kim Namjoon. — Seus lábios tremeram, as lágrimas voltaram a rolar. Teve silêncio. — Nosso filho precisa da gente, — Bateu no próprio peito, permitindo-se descontrolar um pouco. — eu e você, os pais dele.

As palavras chorosas do cozinheiro atingiram em cheio o âmago ferido do mais alto que deixou o corpo cair sentado na cama, parecendo,  agora, cair em si. Apoiou os cotovelos nas coxas e abaixou a cabeça, agarrando os dedos no cabelo castanho, respirando acelerado. Ótimo, agora seu corpo estava todo trêmulo. Estava enjoado, queria vomitar. Parecia ter um nó na garganta. Merda.

— Papai? — A voz de Moon soou atrás da porta, um pouco hesitante.

Seu papai a deixou vendo TV na sala, dizendo que já voltava, mas não voltou e agora eles falavam alto... será que precisavam de sua ajuda? Era boa ajudando seus amigos. Um dia, consertou bem a roda do carrinho de Park Mingi. Sim. Sério. Consertou mesmo.

O chef passou a mão no cabelo, parecendo tão desestabilizado quanto. Isso foi a deixa para o soldado do exército entender o que precisava fazer.

— Eu vou ficar com ela. — Avisou saindo do quarto, deixando o casal a sós.

E foi então que Seokjin olhou para o esposo, vendo que ele chorava. Poucas vezes viu-o chorar, era um pouco raro. Considerava-se um grande chorão, mas ele não. Ele conseguia segurar as emoções até o fim. Mas ali estava, chorava feito uma criança. Seu coração quebrou um pouco mais. Por que haviam feito isso? Por quê?

Ficou de pé, em frente ao corpo grande que estava curvado, entregue às lágrimas grossas que rolavam e caíam no chão. Sem dizer nada, segurou-o pela nuca e trouxe para sua barriga, fazendo-o encostar ali, dando apoio e conforto. Foi abraçado imediatamente.

Namjoon o abraçou com tanta força que parecia que ia quebrar seu quadril, mas se manteve firme. Os dedos apertaram em sua camisa, segurando-o como se fosse sua última esperança de conseguir respirar. Sentiu a mão do mais velho em seu cabelo e, embora chorasse alto, ouvia também o choro do menor. Ele chorava junto consigo, compartilhava aquela dor também.

— Eu prometi a ele, — Balbuciou entre as lágrimas. Fazia tantos anos, mas ainda lembrava. Aquela promessa estava fresca em sua mente. — eu prometi que — Soluçou. — ninguém voltaria a machucá-lo, eu disse que estaria , eu disse... — Apertou o rosto na barriga coberta pela camisa branca, lavando com suas lágrimas, sendo acolhido pelo homem que amava. — eu não fiz nada a tempo, eu sou um inútil, isso tudo é culpa minha-...

— Para, amor, não diga isso nunca mai-...

— Falhei como pai, como policial. Eu falhei. — Cortou o moreno, tossindo por conta do choro. Não investigou a tempo, não foi atrás a tempo. Se tivesse descoberto antes, teria salvo seu garoto.

Não sabia o que dizer para o mais novo, não fazia ideia do que ele estava falando sobre "fazer a tempo", mas sabia sobre paternidade e sobre a integridade no trabalho. Ele era o melhor policial que já havia conhecido na vida, o melhor pai que poderia sonhar para seus filhos. Não o deixaria repetir aquilo nunca mais. Nunca! Não eram verdades.

Abraçou-o pela nuca, mostrando que estava ali e ele podia continuar chorando, jogando aquilo para fora. Queria mesmo que o maior chorasse, porque assim ficaria mais leve. Não queria ver o olhar daquele Namjoon com ódio nunca mais. 

— Você não é nenhum herói. — Disse após um tempo, movendo os dedos no cabelo castanho. — É alguém como ele. Um dia você tomou um tiro e ele chorou, agora a situação se inverteu. — Fungou, precisava parar de chorar. Seokjin, respire, sua família precisa de você. Seu homem precisa de você! Forte, homem, forte. — Vocês são pessoas comuns. Então pare de se culpar, por favor.

— Por que não podia ser eu de novo? — Argumentou, afastando o rosto e olhando para cima, soluçando.

Não conseguia nem enxergar direito por causa das lágrimas, seu rosto inteiro vermelho. Aceitaria os tiros de muito bom grado. Tinha tantas cicatrizes, não faria mal mais uma. Fugiu da morte tantas vezes que se acostumou, então por que não podia ser ele? Por que Yoongi? Por que um de seus filhos? Eles não faziam nada para ninguém, sabia a índole de cada um. Por que... simplesmente... não podiam ficar em paz?

Sentiu a mão quente lhe cobrir a bochecha, acariciando de maneira terna. Soluçou mais uma vez e esfregou uma das mãos no rosto, limpando o pouco que dava.

— Provavelmente foi o que ele pensou quando você levou um tiro. — Com um sorriso choroso, o cozinheiro respondeu, tentando limpar as lágrimas que voltavam a descer no rosto bronzeado do outro. — Vocês são a extensão um do outro, com certeza ele falaria o mesmo que você.

— Eu vou atrás de quem fez isso, Jinnie, eu prometo. — Aos poucos, foi largando o corpo largo do marido que assentiu, vendo que agora era seu Namjoon justiceiro, não o Namjoon vingativo. — Eu juro que vou achar quem fez isso com nosso filho. — Levantou da cama, ainda tendo a mão gentil lhe secando as bochechas. — Vou fazer quem for pagar muito caro por isso.

Assentiu, o mais velho, sentindo que poderia relaxar. Seus ombros caíram e acabou voltando a chorar, sendo acolhido nos braços do maior dessa vez. Certo. Iriam revezar naquela questão de fragilidade. Agora precisava de um pouco de conforto. Foi preso nos braços fortes do policial, a mão dele segurando sua nuca e suas costas em um abraço protetor.

— Por favor. — Pediu abafado, a mão boa agarrada no braço dele. — Faça-os pagar.

— Eu vou! — Disse mais sério, a voz ainda embargada pelo choro, mas sem a crise de antes. Sentia-se mais leve.

Mas não com menos raiva. Seja quem for, ia pagar.

Pagar muito caro.

...

— Esse é Yoongi, — O homem legal os apresentou o garoto baixinho que estava na mesa de jantar, escrevendo algo em um caderno velho. — ele é hyung de vocês, então sempre obedeçam a ele. — Pediu seriamente, apesar de ainda ter aquela leveza no tom. Os dois garotinhos assentiram prontamente. — Okay. — Voltou o olhar para o mais velho que estava escrevendo algo no caderno. — Não quer dizer nada para eles, Yoongi? — Perguntou esperançoso.

Jungkook espiava tudo estando agarrado nas pernas do irmão mais velho. O cabelo grande quase escondendo os olhos redondos que mais pareciam duas bolas de gude. Enfiou o polegar na boca e mirou o rosto pálido do garotinho que tinha olhos muito pequenos e parecia muito com os bonequinhos de anime. Ele parecia mesmo.

Bateu na perna de Hoseok, querendo chamar sua atenção.

— Hobi. — A voz fininha soou baixa e rapidamente o de cabelo castanho e olhos também grandes o encarou atencioso. — Ele parece um boneco, né? — Viu o menino mais velho ponderar, apertando os olhos e manear a cabeça. Acabou rindo com o dedo na boca, os dentes de coelho aparecendo.

Namjoon sorriu com aquele comentário e não resistiu à vontade de bagunçar a cabeleira longa do garotinho fofo que sempre tinha aqueles olhos enormes o vigiando a cada passo que dava, parecendo o estudar para imitar. Jungkook era um garoto muito bom.

Os olhares hesitantes – e curioso, do mais novinho dali – recaíram sobre o garoto de olhos pequenos, parecendo etéreo demais.

— Não façam bagunça. — Foi tudo o que ele disse, baixo, antes de voltar a se concentrar no que fazia.

O policial ponderou. É, bem a cara do garoto, aquilo, ele estava começando a falar um pouco mais do que antes. A única vez que ouviu mais de cinco palavras de Yoongi foi na batalha de rimas e, ainda assim, foi xingado por ele. Foi um bom começo. É, no nível Min Yoongi, foi um bom começo.

Hoseok, um pouco sem reação e com medo do olhar sério do outro menino mais velho, comprimiu os lábios fechados e olhou para o policial legal que estava ajudando-os enquanto o serviço social não arrumava uma casa para eles dois.

Já Jungkook, riu. Ele deu uma daquelas risadinhas fracas que o irmão conhecia. Bateu na cabeça dele. Não era hora de rir!

— Que hyung legal. — Foi o que ele disse, ainda com o dedo na boca. Ignorando o tapa na cabeça, saiu de trás do irmão e saiu andando, ou melhor, arrastando de uma perna, para tentar se aproximar mais do garoto novo. — O que você está fazendo, hyung? Eu gosto de desenhar, me dá uma folha?

— Não. — Resmungou olhando para aquela criaturinha minúscula, com o dedo na boca, cabelo longo e andando com alguma dificuldade.

Observou aquilo e levantou o olhar para seu parceiro de casa, o cara que insistia em o chamar de "grande amigo". Esperou-o dizer algo, mas ele não disse. Ao contrário, seu semblante pareceu escurecer um pouco mais enquanto via aquilo, como se sentisse muito. Hoseok bem que tentou segurar o garotinho, mas ele era rápido ainda assim.

E riu mais uma vez. Riu gostosamente. Aquele hyung era legal de verdade.

— Deixa eu mostrar ao hyung que sei fazer um cachorro. — Insistiu, ignorando os olhares duros e também o "não" de antes.

Queria uma folha e um giz de cera, ia mostrar para aquele hyung bonito que também podia desenhar e ser legal como ele. Será que podiam ser amigos? Queria ser amigo dele. Animou-se com isso. Queria muito mesmo ser amigo de Yoongi.

Apoiou suas mãos pequenas na cadeira ao lado dele e tentou pegar impulso com apenas um pé no chão, querendo sentar.

— Jungkook-ah! — Gritou, o menino mais silencioso, tentando conter aquela ferinha intrometida. — Cuidado.

— Ahr. — Ele golfou o ar, vendo que não conseguia sozinho. Fez um biquinho choroso e Yoongi já sentia sua cabeça doer, se ele viesse chorar em seu ouvido... — Hyung. — Disse aquela vozinha fina, então teve que virar a cabeça de novo, vendo aquele ser humano minúsculo com os braços levantados para si. — Me ajuda?

Fala sério... olhou novamente para Namjoon, vendo se aquilo era sério ou uma espécie de brincadeira com sua cara! Mas o que encontrou foi o homem conversando com o outro garotinho. Havia abaixado na altura dele para ouvir algo que ele dizia bem baixinho, parecendo receoso. Parecia com medo. Conhecia gente com medo, sentia o cheiro de longe...

— Hyung! — Novamente foi chamado e teve que piscar os olhos mais uma vez antes de voltar a olhar a criança pequena sorrindo grande e de braços para cima. — Ajuda. — Manhosamente moveu os braços, querendo ser ajudado logo.

Bufou. Agora serviria de babá? É isso? Afastou um pouco a cadeira e virou o corpo, pegando-o por debaixo das axilas e o levando para a cadeira, deixando-o sentado ali. Ele era tão pequeno e magro... Olhou para a perna que ele não mexia tanto assim, mas não conseguiu ver muita coisa porque ele usava meias longas até as canelas. Ele se ajeitou na cadeira e levou as mãos para o tampo de vidro da mesa, batendo ali com seus pequenos dedos de unhas sujas.

Aquelas crianças...? Mais uma vez quis perguntar a Namjoon, mas não o fez. Jungkook riu sozinho e moveu as pernas que ficavam pendidas no ar, parecendo animado. Apenas seus olhos alçavam a borda da mesa, ele era muito pequeno. Yoongi riu nasal. Que criança engraçada.

— Koo Koo. — Ele falou, fazendo um barulho engraçado. — Esse é o meu apelido, hyung, e o seu?

— Silêncio. — Pediu sério, voltando a escrever no caderno, tentando se achar novamente. Era seu diário.

Bem, era uma agenda velha que seu tio jogou fora, mas desde muito tempo servia como seu diário. Relatava ali coisas que queria contar para sua mãe quando ela aparecesse. Não... antes era assim. Agora não.

Escrevia ali coisas que queria dizer em voz alta, mas não tinha a menor motivação para isso. Eram palavras um pouco duras e pertubadoras, por isso não queria que ninguém visse. Não queria que ninguém tocasse.

— Posso desenhar no seu caderno? — O tagarela voltou a falar, agitado, levando as mãos para o objeto pessoal. Seu coração quase parou. — Hobi hyung trouxe bem meus giz de cera...

— Ya... — Esqueceu o nome da criatura irritante que o encarava com aqueles olhos enormes e um biquinho nos lábios.

— Koo Koo. — Mais um barulho engraçado.

— Não se meta nas minhas coisas! — Avisou sério e o garotinho fechou a expressão, parecendo irritado.

Poxa. Era só um cachorrinho. Só queria desenhar um cachorrinho para ele.

A multidão praticamente levava o seu corpo, mas ainda assim forçava-os a dar espaço para que pudesse correr mais rápido, sem perder de vista o homem de cabelo baixo e jaqueta jeans. Foi ele. Viu lá de cima. Tudo pareceu em câmera lenta, até sua voz... Tudo... Viu perfeitamente quando a bala acertou a barriga de seu irmão mais velho. Em um segundo, ele pulava e sorria, cantava cheio de vida e, no outro, estava caído no palco, sangrando.

Não viu mais nada além daquele homem. Não ouviu mais nada. Ficou completamente cego. Não ouviu quando Yugyeom tentou chamá-lo, perguntando aonde ia. Não ouviu nada. Desceu as escadas correndo e saiu atrás daquele covarde.

"Não se meta nas minhas coisas!" Ia se meter, sim. Agora não era mais a agenda velha em questão, era a vida dele. Era a vida de Yoongi. Era o corpo dele. "Me perdoe, Yoongi, mas eu vou me meter!" — Era tudo o que pensava enquanto corria a plenos pulmões, os tênis batendo furiosamente no chão de madeira.

Dessa vez corria, não arrastava mais a perna. Não sorria, ao contrário, seu rosto estava sombrio. Os olhos redondos não brilhavam mais como duas bolas de gude, mas sim como a noite sem estrelas. Jungkook estava fosco, estava fechado.

Não sabia direito o que queria fazer, não sabia o que... estava acontecendo. Mas seu corpo estava se movendo por conta própria. O coração batia tão forte, seu sangue corria furiosamente e nenhuma palavra saiu de sua boca após gritar o nome do irmão. Sua garganta doía pelo esforço, mas suas mãos doíam mais. Estava ansioso para usar os punhos, os pés... qualquer coisa que fizesse os malditos pagarem.

Nunca pensou em sujar suas mãos com sangue. Suas luvas tudo bem, era dentro do octógono, seu trabalho. Mas suas mãos, seus dedos... era um homem violento, assumia isso, agressivo, hiperativo e mais um monte de porra ruim. Sabia que não era bom, sabia que, dentre todos seus irmãos, talvez fosse o pior. Mas nunca pensou em machucar alguém de verdade. Matar... nunca pensou em matar ninguém. Isso lhe parecia irreal demais. Não gostava desses assuntos, até.

Mas ali se questionou: seria mesmo capaz de matar? Sua mente afirmava nervosamente, mandando-o seguir, fazer o imbecil pagar na mesma moeda. Seu nome já estava sujo o suficiente, certo? Sujaria-o mais ainda agora com muito gosto. Por Yoongi! Apenas por ele.

Não tinha medo de se sujar e muito menos de morrer!

Saiu da boate no meio de toda aquela gente e olhou ao redor. Para onde os desgraçados haviam ido? Merda. Andou um pouco mais para frente, encontrando-o descendo as escadas que dariam para a calçada. Não o deixaria fugir. Desceu sob gritos de pessoas lhe pedindo para parar, para esquecer. Esquecer? Isso era algum tipo de piada? Esquecer... não ia esquecer.

Como eles podiam esquecer que Yoongi estava sangrando, baleado, dentro daquela merda de lugar? Eles esqueciam muito rápido pelo visto, né.

Ainda descia as escadas quando um raio roxo passou correndo na calçada e pulou sobre o homem de jaqueta jeans, rolando com ele na calçada. Os outros dois fugiram. Covardes. Terminou de descer as escadas e, antes que o cara conseguisse se levantar de novo, deu-lhe um chute no rosto. Estava com tanta raiva.

— Tira a arma dele, Jiwon hyung. — Pediu sério para o rapper que grunhia de dor nos braços ralados. Rapidamente, pegou o revólver preto e se arrastou para longe. — Levanta! — Ordenou para o homem que riu fraco e tocou o nariz que começou a sangrar pelo chute. — Eu quero você de pé. — Alongou os dedos, estalando-os. — Sem armas, sem nenhuma porra, vem me enfrentar. Me bate.

— Quem porra é você? — Perguntou rouco, virando de barriga para cima e encarando o rosto de quem estava o segurando ali.

Cabelos longos e castanhos e rosto perfeito demais para ser algum tipo de bandido ou sei lá que merda. Parecia um idol, sei lá, algo assim. Ele quem queria o enfrentar corpo a corpo? Teve que rir nasal, levantando aos poucos. Olhou para o homem de cabelo roxo que havia lhe jogado no chão, medindo-o seriamente antes de voltar ao mais alto.

Cuspiu um pouco de sangue no chão e o encarou.

— Magoado por eu ter atrapalhado seu show? — Riu porque aquilo era realmente engraçado. Levou um soco no maxilar e parou de rir na hora. Piscou os olhos um tanto confuso e tonto, voltando a encarar o bonitinho de mão pesada. — Bate mais, príncipe, é só isso que tem? — Zombou mesmo que estivesse um pouco zonzo.

E mais um soco, esse o fez titubear, quase caindo no chão.

— Ele é o meu irmão, filho da puta. — Com receio que ele pudesse pensar em correr, usou o calcanhar na hora de chutar um dos joelhos dele, fazendo-o cair gritando de dor. Aquilo era satisfatório. Sabia onde bater. — MeuIrmão. — Praticamente soletrou, levantando o pé e pisando em cima do joelho que, provavelmente, havia deslocado. Ele gritou mais uma vez, remexendo-se no chão, tentando sair daquela posição. Apertou mais o pé, os olhos fixos na expressão de dor que ele fazia. — E quem caralhos você pensa que é pra tocar nele?

De repente, entre os gritos de dor, ele riu, sádico. Tudo bem, aquele então era o tal irmão lutador que Yoongi tinha? Ah, ele mais parecia um bonequinho da indústria de entretenimento. Mesmo chorando de dor, riu. Riu porque aquela família era mesmo muito arrogante, certo? Se achando intocável...

Bem, não eram tanto assim.

— Que foi, príncipe? — Perguntou ofegante, olhando para o garoto de cabelo longo. — Vai me matar? — Debochou vendo os olhos dele brilhando. Oh. Ia chorar? Tadinho. Ia chorar pelo irmão.

Jiwon se aproximou alguns passos, receoso de que algo muito ruim acontecesse ali, na frente de todos, no meio da rua.

— Jungkook, não deixa ele falar assim com você!

O homem riu mais uma vez.

— É isso, Jungkook. — Praticamente cuspiu o nome do mais novo com ironia, levantando os braços até acima da cabeça, mostrando estar vulnerável. — Me mata. Eu não tenho nada a perder mesmo, me mata. — Sorriu com os dentes sujos de sangue, vendo os olhos dele vidrarem em seu rosto. — Me manda pra ver seu irmãozinho no inferno. — Provocou venenoso, morrendo de rir em seguida.

Afastou o pé e pisou com força no joelho machucado, calando aquelas risadas sujas. Como ele ousava... como...? Yoongi não estava morto. Ele não... como... engoliu seco com dificuldades. Cada segundo que passava, sua mente entrava mais profundamente em um limbo que era difícil de sair. Só conseguia pensar em Yoongi deitado naquele chão... sangrando...

Seus olhos se encheram rapidamente, ardendo de maneira horrível. Queria chorar. Chorar de ódio. Yoongi não podia morrer, ele não podia. Ainda precisava falar tanta coisa para ele, pedir perdão, abraçar o corpo pequeno e o ouvir resmungar que odiava isso. Precisava dizer que sentia muito e que, por favor, ele não podia se afastar e o deixar. Queria pedir, não, implorar para que voltassem a se exercitar juntos, queria pedir para ajudar no comeback, queria zoá-lo por causa do cabelo curto e também beber muito até cair no sono no ombro dele.

Queria pedir carona e depois o carro dele emprestado para se exibir para alguém. Queria chegar de surpresa no apartamento e comer a comida dele só para ouvi-lo o chamar de irritante, mas, ainda assim, dividir tudo o que tinha. Como sempre.

— Jungkook! — Jiwon gritou assim que o mais novo, de maneira rápida e precisa, tirou a arma de suas mãos e apontou para o rosto do atirador.

Queria tanto ouvi-lo resmungar sobre seu tamanho, brincar de lutinha e depois ouvir Namjoon gritar para pararem porque sempre acabava em confusão de verdade. Queria viajar com ele só para fotografar, curtir dias bebendo e fazendo absolutamente nada. Ouvi-lo falar sobre rimas e testar alguma consigo, rir desesperadamente de algum programa inútil de comédia ou de algo na internet, mostrar a ele e ouvir o "Jungkookie é tão idiota, olha do que ele ri... nem tem graça", mas dizia aquilo com uma risadinha frouxa.

Yoongi não podia morrer. Ele não podia. Ele não. Ele não... por favor, ele não! Colocou o dedo no gatilho.

Quando era criança, via-o de longe na casa de Namjoon. O mais velho era sempre tão quieto, fazia tudo com uma grande excelência. Lavava a louça e ficava bem brilhante, também sabia fazer ramyeon. Sempre comia o ramyeon dele quando voltava do colégio. Sem dizer uma palavra, ele adicionava mais pimenta no seu, porque sabia que gostava.

Ele sempre... apimentava sua comida separadamente. Sempre carregava remédios extras e sua bombinha de asma, por precaução. Ele sempre... estava ali. Ele... Yoongi sempre estava ali. Lembrou-se do primeiro sorriso que ganhou dele. Estavam brincando de pique-pega com Namjoon e pique da vez era do garotinho pequeno de cabelo grande e que usava bota ortopédica para corrigir um problema no pé.

Mesmo se arrastando, seu alvo foi o garoto de olhos pequenos e pele muito pálida. Agarrou em suas pernas e gritou um animado: "te peguei, hyung!" Ele havia segurado tão forte, abraçado tão firme as pernas finas do outro garoto. Queria poder o segurar daquela forma, impedir de ir embora... ele não podia o deixar. Ele não podia.

Ainda tinha tanta coisa a dizer. Não sabia o que fazer. Não... sabia. O rosto estava tão quente e úmido. Não queria esconder o choro, mas isso era tão inútil. Chorava e nem estava percebendo.

— Atira, príncipe. — Gritou o homem ensanguentado. — Atira logo de uma vez, não quer fazer isso?

— Você não devia ter se metido com o Yoongi, seu lixo. — O rapper de cabelo roxo disse, dando um chute na barriga do homem que golfou o ar, mas continuou rindo. — Quer mesmo morrer, uh? É isso? — Sorriu para o cara, vendo-o encará-lo longamente, sem nem piscar os olhos. — Ele vai atirar.

— Eu duvido. — Silabou, o bandido, voltando a olhar para o menino jovem demais que tremia enquanto segurava a arma, apontando diretamente para si.

O músico também olhou para o irmão de seu amigo, vendo que ele tremia e parecia consternado de raiva, porque ele respirava forte e chorava sem nem notar. Ficou um pouco angustiado. Jungkook era sempre tão sorridente... aquela visão era um pouco perturbadora.

Ali, segurando aquela semi-automática, Jungkook se lembrou de quando seu pai disse que jamais queria nenhum deles segurando um revólver na vida. Disse que aquilo não era para eles e que, por conta de seu trabalho, ele pegava aquela tarefa para si, então os meninos não precisavam fazer isso.

Era mesmo um garoto desobediente, certo? Destravou a arma.

Ele feriu Yoongi. Ele fez Yoongi sangrar. Ele tocou em seu irmão, sua família.

— Jungkook! — Ouviu aquela voz que estava acostumado a ouvir, mais do que o normal, em seus dias. — Jungkook, abaixa isso. — Yugyeom gritou horrorizado, vendo o de cabelo grande apontando uma arma para o homem todo ferrado no chão. — Pensa nos seus pais, nos seus irmãos, Jungkook! — Gritou mais alto o nome do lutador.

Ignorou todos os curiosos, seu próprio pai pedindo para ficar com Yoongi e foi. Correu, mesmo com as pernas tremendo, correu. Correu gritando o nome do garoto mais velho, esperando que ele ouvisse e parasse. Ele não podia fazer aquilo. Ele não podia matar uma pessoa, não podia sujar as mãos, não podia comprometer a própria carreira.

Ele não podia... fazer aquilo. Nunca.

Sem medo do que podia acontecer, aproximou-se do menor, mas evitou tocá-lo.

— Hyung, não. — Pediu aflito, vendo que ele tremia. Céus. O que faria? — Me escuta, o Yoongi tá bem, ele tá lá dentro, quer te ver.  — Engoliu em seco, analisando toda aquela cena catastrófica. Ficou mais nervoso ainda, tentando parar de chorar. — Ele não se perdoaria se acontecesse algo com você, então, por favor, — Pediu choroso, esfregando as mãos juntas, implorando pela atenção do mais velho. — por favor, não faça isso.

— Ele matou meu irmão... — Sussurrou, o Kim, apertando a mão na arma de fogo, comprimindo os lábios. Queria matar aquele homem. Iria matá-lo.

O Choi negou veemente. Havia deixado Yoongi sob os cuidados do manager e da própria equipe. A ambulância havia chegado, estava nos fundos da boate e levaria Yoongi para o hospital da polícia, como Yugyeom havia orientado ao manager para ser feito. Sabia que eles, por serem filhos de militares, tinham entrada livre naqueles hospitais.

Sem falar que, lá, não corriam riscos de repórteres invadirem, nem curiosos ficarem de plantão esperando alguma notícia.

Antes que pudesse falar algo, sirenes azuis e brancas brilharam, ecoando por toda a rua que estava cheia de gente curiosa com seus celulares apontados. Ninguém havia se prestado a ajudar. Ninguém! Aquele bando de abutre nojento.

Ignorou a polícia saindo das viaturas com armas em punho, apontando para eles, e continuou, precisava salvar Jungkook, salvar sua integridade.

O rapper de cabelo roxo levantou as mãos, mostrando que era inocente, afastando-se da cena. Mas Yugyeom não. Ele estava pouco se fodendo para a polícia e suas armas.

— Pare agora e abaixe a arma! — A polícia avisou. — Mais um passo e vamos atirar.

Yugyeom se desesperou. Não. Ninguém ia atirar, por Buda, aquilo não era a merda de um jogo de videogame, aquelas balas matavam de verdade, por que as pessoas não pensavam antes de seus atos? De falar certas coisas? Como alguém poderia querer tirar outra vida assim, a troco de nada? Não sabia, mas não deixaria o cara de que gostava sujar as mãos e viver com uma culpa para o resto da vida.

Não ia deixar.

— O Yoongi não está morto, presta atenção no que eu tô falando. — Pediu mais cuidadoso, olhando para a mão trêmula que segurava a arma. Respirou fundo. — Abaixa essa arma, vamos lá vê-lo. Eu vou com você. Abaixa isso! — Tocou a mão dele, mas sem mover, tentando ser o mais suave possível. — Ele está vivo. — Disse mais uma vez, querendo que ele o ouvisse. — Ele está vivo e querendo que você fique com ele, então pare com isso e venha comigo.

— Ele está vivo? — E, como um raio de esperança, a mão dele amoleceu e seus olhos viraram para o garoto de bochechas vermelhas e úmidas que assentiu. — Ele quer me ver? — Perguntou desolado, não acreditando muito naquilo. Era bom demais... Yoongi estava vivo mesmo?

O Choi assentiu mais uma vez, forçando um sorriso para o homem lindo que tanto gostava, que estava tentando salvar. Aos poucos foi apertando mais os dedos ao redor da mão dele, sentindo o gelo da morte. Céus. Não desmonta, Yugyeom, você é um Choi. Seja forte. Encare. Continue, eles precisam de você.

Viu que o acastanhado se distraiu com seu sorriso e rapidamente apertou mais a mão dele na sua e abaixou-as, fazendo-o largar a arma na hora. Suspirou em alívio. Conseguiu. Porra! Conseguiu. Sem se importar com mais nada, puxou-o pelos ombros, abraçando-o com força contra seu corpo, agarrando-se à camisa preta que ele usava, sentindo-o afundar o rosto em seu ombro, aumentando mais o choro, apertando suas roupas, parecendo descontar ali seu desespero.

Tudo bem. Ele podia enlouquecer agora, pois o guardaria. Aguentaria aquilo.

Ouviu os policiais se aproximando, dando ordem de prisão para ambos, carregando aquele homem do chão. Sabia que precisava soltar o lutador, mas não queria. Apertou-o ainda mais, chorando junto dele, tentando passar o máximo de conforto possível. Mesmo que fosse inútil.

Aquela noite parecia um pesadelo.

— Eu não posso perder ele. — Murmurou no meio do choro, agarrado na camisa de banda de rock que sabia pertencer ao seu padrinho.

— Ele está vivo, ele te ama. — Respondeu, vendo que os policiais vinham em direção a eles. — Por que estão fazendo isso? — Questionou aos homens fardados que, um pouco rudes, puxaram os braços do homem de cabelo longo, trazendo-os para trás. — Ele é inocente! — Gritou injuriado, ouvindo o barulho das algemas sendo fechadas nos pulsos do mais velho. — Ele não fez nada, o irmão dele acabou de ser baleado nessa porra e vocês estão o prendendo por defendê-lo! — Teve o corpo forte arrancado de si com certa brutalidade. Olhou para os oficiais, tentando reconhecer algum. — É essa merda de trabalho que vocês fazem? O pai dele é delegado dessa merda de cidade.

— O meu irmão... — Jungkook olhou para o mais alto, ignorando o fato de estar sendo tratado como culpado. — fica com o meu irmão. Diz que eu o amo, sim? — Jogou o corpo para frente assim que foi puxado pelas algemas. Forçou um pouco mais, querendo se aproximar do Choi que tampava a boca, tentando conter o choro. — Fica com o meu irmão! — Pediu mais uma vez e o de cabelo preto assentiu. Engoliu em seco, tentando parar de chorar. — Diz que eu sinto muito. — Foi puxado mais uma vez, sendo carregado para o carro de polícia.

Yugyeom não entendeu. Por quê? Ele sentia muito? Por quê? Negou e foi atrás dos policiais, querendo continuar ali, com Jungkook. Por que ele estava indo embora algemado e não em sua moto? Tinha tantos planos, estavam se dando bem. Fantasiou aquele encontro mil vezes e então...

Aquele cara sempre arrogante de nariz empinado, metido a bom em tudo, campeão do UFC, que sempre sorria tão bonito, estava sendo colocado dentro do carro da polícia como um criminoso, algemado, como se tivesse feito algo de errado. Por que estavam fazendo isso com ele? Por quê? Ele era inocente!

Passou a mão no cabelo, desesperado, perdido. Viu-o virar a cabeça e o encarar pela janela da viatura. Quis dizer tantas coisas. Quis... quis falar que ele estava lindo naquela noite e que, todos aqueles dia que o ignorou, queria muito ter falado com ele. Queria dizer que sim, queria que o abraçasse enquanto andavam de moto e que estava fazendo das tripas, coração, para poderem sair. Que burlava qualquer lei familiar só para vê-lo.

Quis dizer tantas coisas...

Mas só soube olhar aquele rosto perfeito, o modo derrotado que ele estava. Ele era um campeão, não podia estar com aquela cara! Quis dizer isso... até deu um passo para falar. Esmurrar o vidro e implorar para ele aguentar. Namjoon ia chegar logo, Jaebum também. Eles fariam algo. Sim. Eles fariam.

Quis, mas não disse. O carro saiu em disparada junto com a outra viatura que levava o verdadeiro culpado, e o que restou ali foram curiosos e um frio aterrorizante, junto com mais alguns policiais para apurar o caso. Por que estava tão frio? Deixou o corpo cair naquela calçada suja, onde presenciou o homem que gostava quase cometer um crime. O que porra aconteceu?

Gritou, agarrando o cabelo entre os dedos e abaixando a cabeça. Como fazia para aquilo parar? Sumir? Voltar para o início? Seus dedos sujos de sangue, seu rosto sujo de lágrimas.

Como fazia para aquele dia nunca ter acontecido?

...

Seus amigos eram incríveis. Fazia muito tempo que não via nenhum deles, porque eram ocupados, então nunca podiam se reunir todos no mesmo lugar. Foi bom passar algum tempo não falando nada em especial, rindo e ouvindo da vida deles.

E, uh, contando pedaços sobre a sua. Era um pouco incômodo não falar abertamente sobre o que estava vivendo e todos os seus planos, como eles estavam falando. Faltava um pouco de assunto de sua parte. Só podia citar arte. Arte, arte e mais arte. O assunto principal, que tinha mais argumentos, era proibido, então se contentou em ouvir mais. Era bom nisso.

Eram mais ou menos quase onze da noite quando chegou ao prédio onde vivia. Pagando o uber e saindo do carro, ajeitou o corta-vento verde que usava por cima da camisa preta e a touca escura que escondia os fios azuis bagunçados. Aquela noite estava fria. Bufou por isso e enfiou as mãos nos bolsos do casaco, tentando se esquentar.

Ainda precisava subir, trocar de roupa e ir à boate encontrar com Yugyeom, porque o idiota dormiria em sua casa, então, para a mentira ser convincente, tinha que ir até lá. Aliás, duvidava muito que ele voltasse consigo.

Conhecia o melhor amigo e mais ainda seu irmão. Os dois eram muito safados, apostava cinco mil won que eles dariam um jeito de sumir pela noite da cidade e só aparecerem amarrotados no domingo de tarde. Isso era a cara deles.

Desavergonhados!

Já estava pronto para abrir a porta para entrar no edifício, quando ouviu:

— Tae. — Virou rapidamente para trás, um pouco confuso, vendo que era Hoseok e ele estava esquisito. Por que as bochechas estavam vermelhas e os olhos inchados? — Preciso que venha comigo. — Pediu baixo, estendendo a mão para si. Estranhou mais ainda.

Apertou o olhar e as chaves nas mãos. Olhou para o carro que não havia percebido um pouco mais à frente, o Jeep cinza. O que seu irmão estava fazendo ali? Desceu o pequeno lance de escadas e foi até ele, ainda o estudando. Oh. Hoseok estava chorando? Por quê?

— Hyung. — A voz soou quase como um sussurro. — Por que está chorando? — Tocou a bochecha do homem mais baixo, tentando secar algumas trilhas de lágrimas. Será que ele havia brigado com sua cunhada? — Vamos subir, vem, te faço um chá e você me conta o que houve. — Forçou um sorriso sem mostrar os dentes, deslizando a mão para o ombro vestido com casaco grosso, batendo ali amigavelmente em forma de consolo.

Mas ele negou, limpando o próprio rosto com as costas das mãos e fungando um pouco. O que estava acontecendo? Não gostava de pressionar ninguém, mas estava ficando aflito. Primeiro que não conseguia lidar com ninguém chorando perto de si, e então, vinha Hoseok, chorar e não o explicar o que estava havendo.

Bem, seu irmão era bem chorão, então tinha que dar o benefício da dúvida, mas ainda assim. Sei lá.

— Onde está seu celular? — Perguntou o dançarino, depois de um tempo, já um tanto recomposto.

— Ah. — Tateou os bolsos da calça jeans, procurando o aparelho. — Ele descarregou no meio do jantar, eu esqueci de colocar pra carregar antes de sair. — Murmurou achando o objeto e verificando, vendo que estava mesmo desligado. Voltou a guarda-lo, vendo que o mais velho assentia compreensivo. — Por quê?

— Nada. — Negou rapidinho, respirando fundo. — Eu tentei te ligar, mas estava dando desligado. — Olhou para o rosto preocupado do garoto que o media com atenção. Como dizer... aquilo...? Sentiu a garganta travar.

Ficou sabendo pela internet, aquela notícia estava se espalhando muito rápido, repercutindo de maneira assustadora. Ficou tão assustado de Taehyung acabar descobrindo daquela maneira que nem pensou muito antes de ir até o apartamento, mas ele não estava, então achou melhor esperar. Seus pais já haviam ligado, pedindo para ele não deixar o mais novo saber de maneira brusca. Jimin havia ligado aos prantos, implorando para que desmentisse aquilo, Jinyoung... Por quê? Queria desmentir, sim, mas não podia. Ao que tudo apontava, era real.

Ryujin havia ido buscar Jimin com o carro dela e de lá iam para o hospital, ele os encontraria lá. Não ia ao hospital diretamente, estava dividido. Jungkook havia sido preso, pelo que as notícias também diziam, e queria ver seu irmão. Precisava muito vê-lo. Então levaria o mais alto para o hospital, buscaria seu pai e iam para a delegacia ver a situação do lutador.

O que era aquela noite e por que estava de pernas para o ar? Pensou que seria mais um sábado pacífico, que poderia dançar com a esposa, beber um pouco e ficar okay. Em paz.

Mas então, Yoongi é baleado, Jungkook preso e ainda tinha a tarefa de contar para Taehyung sobre tudo aquilo.

— O hyung brigou com a Ryu noona? — O azulado perguntou baixo, carinhoso, tentando ser educado ao máximo.

Vai que o mais velho não quisesse falar sobre aquilo? Torceu os lábios, compadecendo-se do rosto choroso do professor de dança. Era tão estranho vê-lo chorar, ele sempre estava alegre, sorrindo. Aquilo não combinava. Ver Hoseok chorar acabava consigo.

Não respondeu que não e nem que sim.

— Vem, preciso te levar a um lugar. — O acastanhado disse segurando o choro, segurando a mão quente do irmão com a sua. Acariciou-a. Estava com medo... — Por favor. — Pediu baixinho ao mais alto que assentiu, mesmo que ainda não entendesse bem o que estava havendo.

Não era coisa boa, de fato, seu coração estava acelerado no peito, seu estômago frio. Não sabia o que esperar, não sabia o que ia ouvir, mas deixou que o menor o guiasse para o carro, para irem até o tal lugar.

— Só não podemos demorar, ok? — Avisou ao outro enquanto passava o cinto no corpo, fechando a porta. — Ainda preciso encontrar o Yoongi no show. — Viu o irmão assentir, de cabeça baixa, ligando o carro.

Assentiu de volta, com medo de perguntar para onde estavam indo, sobre o que era aquilo. Tinha ciência que de maneira alguma podia ter fortes emoções, surpresas, por isso respirou fundo e tentou se manter calmo. Devia isso a si mesmo, disse que ia tentar se cuidar melhor, manter sua mente o mais controlada possível.

Mas, por que algo o dizia que era algo relacionado a seu namorado? Seu coração apertou. Era sobre Yoongi? O carro já andava na avenida que os levava para o centro da cidade, quando, de expressão séria e fechada, virou o rosto para o mais velho. Ele parecia muito abalado.

Sua respiração pareceu trancar dentro do pulmão.

— É sobre o Yoongi, não é? — Perguntou baixo, a voz saindo mais rouca que o normal. O dançarino não o respondeu, mas viu os lábios dele tremerem. Ah... não. Não. Não. Apertou as mãos nas coxas e engoliu em seco. — O que aconteceu com o meu hyung? — Quase sussurrou, sentindo seu corpo todo arrepiar de medo.

O que havia acontecido com ele? Não, não. Não façam isso. Ele só podia estar brincando. Era mesmo sobre Yoongi? Então por que merda ele estava chorando? O que estava acontecendo?

Queria gritar, pedir respostas, mas não conseguiu. Sua voz ficou presa na garganta junto com a respiração.

— Você tem que se manter lúcido, okay? Eu-... eu preciso que você fique lúcido. — Pediu trêmulo ao azulado que o mediu, respirando forte, parecendo cada vez mais transtornado.

— Apenas diga! — Pediu, mesmo sabendo que poderia se arrepender disso.

Só precisava saber de Yoongi. Só isso. O que importava sua lucidez? Só queria saber de Kim Yoongi, porra. Onde ele estava? Como estava?

— O hyung está bem. — Disse por fim, por primeiro, querendo tranquilizar o garoto. Não queria que ele passasse mal ali, por isso preferia contar no hospital, porém... — Mas durante o show dele naquela casa de show, aconteceu um atentado contra ele e, — Tomou um pouco de fôlego, olhando rapidamente para o garoto alto, vendo que ele continuava com aquela expressão atenta, séria. — e ele levou um tiro.

Uma das sensações que pouco experimentou em toda sua vida foi a de estar lá em cima, em um ponto bem alto e, de repente, despencar de maneira forte, livre, rápida, caindo e caindo. Era silencioso, mas também era frio. Seu corpo ficou frio. A expressão suavizou aos poucos e seus olhos se tornaram um tanto vazios. Foi como desligar. Desligou. Seus dedos afrouxaram em suas coxas, seus ombros caíram.

Foi como o último acorde de uma sinfonia dura. Foi como a última nota grave do piano, o último arrastar no violino, foi como... as cortinas de um grande espetáculo. Finalmente fechadas. Pesadas. Escuras. Era o fim?

Tiro. Yoongi levou um tiro. Um atentado. Baleado. Sua mente revirava aquelas informações em looping. Arma, tiro, disparo, gatilho... sangue... muito sangue... sangue do homem que amava. Sangue inocente. Sangue bom, sangue puro, sangue que já havia sido derramado tantas vezes anos atrás, justamente por injustiças.

Bateram em Yoongi justamente onde ele se sentia imbatível. No palco. Por quê?... por quem?

— Não vou mais encontrá-lo no show, não é?

Sua voz havia tido som em sua mente, embora seus lábios mal tivessem se movido de verdade. Não conseguia ouvir Hoseok, não conseguia ver Hoseok. Estava... atrás das cortinas do grande espetáculo.

Fechadas. No escuro. No frio. De novo.


Notas Finais


Eu ia colocar mais coisas nesse capítulo, mas ia ficar muito longo e ele já está longo, então deixa pra terça-feira que vem. Médicos apontam que quem tem Hiperatividade, podem ter tendência a serem ansiosas, irritadiças, agressivas... o Jungkook foi levado ao limite, espero que entendam o comportamento dele E, ainda bem, que o Yugyeom estava lá pra trazê-lo de novo. NJ brincando de boneca com a Moon > all.

Me digam aqui embaixo o que acharam, gosto tanto de ver o ponto de vista de vocês, as teorias, eu morro com todas elas, cês plotam bem. Obrigada pelos favoritos, a tag oficial da fic no twitter, onde postamos teorias, surtos e choro: #wuahtaegi até terça que vem ♥


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