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História Our Time - We are bulletproof


Escrita por: paansy

Notas do Autor


CALMA. Chegamos. Mais uma terça-feira, FERIADO NA OURLÂNDIA E NO BRASIL, BRASILEIROS. Como vocês estão? Eu tô bem. Aliás, tão se alimentando? Lavando as mãos? Bebendo bastante água? Quero ninguém doente aqui não, ein.

O FLUXO DE COMENTÁRIOS TÁ PERFEITO, VOCÊS ESTÃO SE PROVANDO SEREM A FAMÍLIA MAIS FAROFEIRA DESSE MUNDO DE FANFIC. Somos a família mais farofeira, maravilhosa, linda e unida do mundo. Só tenho a agradecer. Muito obrigada! De coração, mil milhões de obrigada. Continuem, tão me fazendo taaão feliz

Capítulo 37 - We are bulletproof


Lembrava daquela casa... as escadas de cimento, a porta vermelha e as grades nas janelas. Lembrava da grama da frente sempre aparada de forma displicente, o barulho de cachorro latindo na vizinhança, o trânsito na avenida principal logo ali perto.

Daegu... olhou para cima, o céu nublado. Gostava de dias nublados.

— Não tem ninguém em casa. — Uma voz infantil soou em algum lado. Quem era? Franziu o cenho e olhou ao redor. Que parada estranha...

Há um minuto atrás estava ouvindo os médicos falando entre si, então... tudo preto e agora Daegu? Uma criança? Sinceramente. Estava drogado ou alguma porra assim? Coçou a cabeça. Olhou para si mesmo, o moletom laranja não estava sujo de sangue. Estava chapado? Sonhando? Morto? Não... não ia morrer, corta essa opção.

Com certeza chapado. Absoluta!

— Quem é você? — A voz soou de novo, mas dessa vez conseguiu ver um garoto pequeno, franzino, sentado na calçada, o encarando com os olhos pequenos, curiosos.

Ficou um pouco chocado. Era ele? Olhou bem, analisou. Aquele garoto... era ele... tinha certeza. O cabelo preto cortado de maneira feia demais, porque lembrava de odiar aquele corte que seu avô fazia, o corpo magro, as roupas grandes demais – que eram as velhas de seu primo. As roupas na casa dos Min eram quase como amuletos de gerações. Passavam de um para o outro, independente de seu gênero, tamanho, altura, porte físico. Vestia o que dava. Uh. Lembrava daquela camisa vermelha. Riu fraco.

Tinha o quê? Sete, oito? Era um pirralho. Ainda era encarado com confusão pelo garotinho de olhos pequenos. Respirou tranquilo.

— Me chamo Agust. — Disse como quem não quer nada e viu seu eu-criança processando a informação, silabando o nome consigo mesmo. — E você deve ser o Yoongi, né?

Como aquele adulto vestido bem demais sabia seu nome? Estranhou. Apertou as mãos nos joelhos magros e continuou o observando. Wuah. Ele usava tantas jóias, um casaco de marca... nossa, nossa! Aqueles eram all star novinhos? Abriu bem os olhos. Que cara... legal. O olhou novamente, vendo o rosto de traços delicados, calmo demais. O lembrava alguém...

Oh, sim. Ele parecia um pouco com sua irmã.

— O hyung não é daqui... — Assimilou devagar, pelo sotaque limpo na voz grossa do homem alto que riu fraquinho, sem fazer alarde.

Era mais quase um suspiro com um curvar sutil de lábios. Yoongi achou engraçado seu mini-eu falar aquilo, porque estava analisando a mesma coisa, como sua voz tinha sotaque quando criança. Lambeu os lábios e suspirou, sentando-se ao lado do garoto que ficou em posição de lótus e continuou encarando o estranho.

Ainda estava apaixonado pelos brincos, as correntes... ah. Ah! Ele tinha tatuagem. Olha, o braço dele. Wuah! Que hyung legal. Bateu no ombro dele, puxando sua atenção.

— Hum? — O maior virou-se, vendo a cara curiosa da criança tão nova.

— Você tem uma tatuagem? — Apontou para a manga do casaco, que estava levantada, expondo a raposa pintada ali.

O rapper olhou para o próprio braço, vendo o animal de focinho empinado, a cor laranja explodindo no branco de sua pele. Fez um bico pensativo. Como Taehyung estava? Será que ele já sabia? Seu coração apertou. Sua família devia estar tão preocupada. Não estava ligando muito para o buraco em sua barriga, mas sim para seus pais, seus irmãos, o pirralho... seus amigos...

No meio do show. Jungkook estava vendo. Merda! Sua mente deu um estalo. Jungkook... Jungkook estava lá.

— Ya, hyung. — Outro cutucão em seu ombro e foi obrigado a olhar nos olhos pequenos. — Você gosta de raposas? — Perguntou ingênuo, sorrindo um pouco tímido por saber estar sendo inconveniente.

Sua avó dizia que era muito curioso e isso era ruim, irritava as pessoas, então tentava falar menos, tentava ficar mais longe, mas aquele cara ali parecia legal demais. Em seu bairro, ninguém tinha dinheiro o suficiente para comprar roupas como aquelas, não eram tão bonitos como ele. Sinceramente, ele era muito bonito. Parecia aqueles caras da TV. Muito legal mesmo.

E ainda sabia o seu nome! Ninguém acreditaria nisso se contasse.

— Gosto. — Respondeu baixo, ainda um pouco fora de si. Queria saber de Jungkook. Yugyeom disse que ele tinha ido atrás dos caras...

— Elas são bonitas, né?

Assentiu e abaixou a cabeça, olhando para os próprios tênis, um pouco reflexivo. Odiava chamar a atenção, odiava ser o centro dela, mas só de pensar no caos que estaria sua vida... não parecia tão atrativo. É muito real quando dizem que tudo pode mudar em um segundo. Isso nunca foi tão verdade.

Em um momento, estava cantando, fazendo o que sabia fazer de melhor, tinha planos de encontrar o namorado lá e depois irem para casa... iam ficar juntos... mal podia esperar para deitar na própria cama, se enrolar no corpo moreno e cheiroso, sentir os beijos dele, ouvir seus assuntos intermináveis sobre artes ou fofoca sobre algum amigo. Não respondia nada, só grunhia, mas ouvia tudo com atenção, o tom de voz dele era seu beat favorito no mundo. Seu flow...

Tinha esperanças de ver Jungkook depois do show, pelo menos trocar algumas palavras, talvez tomar uma cerveja. Não sei. Costumavam fazer isso. Queria ter pelo menos visto ele, tido a certeza que ele foi ali para vê-lo. Não pôde ver seu irmão, não pôde nem terminar seu show.

Expirou devagar pela boca, cansado, um pouco frustrado. Ver uma coisa dessas acontecendo com outros artistas, nunca o fez sentir que poderia ser o próximo. Entendia que naquele universo artístico muita gente queria sua cabeça, mas nunca pensou que esse dia chegaria. Chegou. Era uma porra, doía o inferno.

Só não queria que Jungkook visse aquilo. Preferia que aquilo tivesse acontecido longe do garoto, longe de todos que amava, inclusive seus fãs. Eles não mereciam ver aquilo!

Ouviu um barulho engraçado e olhou para o garotinho que tinha as mãos sobre a barriga e os olhos assustados, as bochechas coradas enquanto o encarava. Estava com fome, a barriga roncava.

— Desculpe. — Pediu baixinho, sem jeito e o músico lembrou. Costumava sentir muita fome naqueles dias.

Olhou para si mesmo, sabendo que não era magro, suas bochechas eram grandes, tinha até uma barriguinha que detestava, mas Taehyung amava morder. Seokjin o entupia de comida, aprendeu a amar cozinhar com ele! Namjoon e seus irmãos sempre estavam combinando de saírem pra comer fora. Comia tanta besteira, todos os dias. Comia muito.

Mas naquela época... Voltou a olhar para seu reflexo mirim e forçou um sorriso pequeno. Bagunçou o cabelo mal cortado e riu fraco.

— Está tudo bem, Yoongi, você já já vai encher sua cara de comida. — Disse risonho, lembrando das refeições que seu padrasto fazia, sempre muito exagerado. — Vai comer tanto que vai dar até tristeza. — Porque sim, se comia muito, batia tristeza.

Tristeza e sono.

Mas isso não fez sentido na cabeça do baixinho. Como alguém podia ficar triste comendo muito? Não conseguia imaginar. Se tivesse muita comida, então ficaria bem feliz. Dividiria tudo com Yoonjin e apostava que ela ficaria tão feliz quanto.

— O hyung vai me levar pra comer? — Perguntou animado. Ele disse que era "já já", então ele iria pagar uma refeição?

Yoongi riu nasal e arqueou o cenho, encarando o menino confuso. Não se lembrava de ser tão magro assim. Ou, talvez, tenha se acostumado com suas bochechas grandes, desde que foi parar na companhia do policial. Olhando agora, seu passado era um pouco mais triste do que lembrava.

Mas seu mini-eu não parecia tão triste. Ele parecia uma criança boa!

— Não, o Jin vai. — Disse rindo, lembrando do homem cozinheiro. Ganhou um olhar confuso. — Ele com certeza vai te encher de comida, até você ficar a ponto de explodir. — O garoto abriu um sorriso grande, mostrando os dentes pequenos. — E aí, o Jimin vai te fazer beber com ele, muito. Até quase cair. — O mini-Yoongi franziu as sobrancelhas.

Espera...

— Eu não posso beber, hyung!

Yoongi riu, um pouco mais alto que antes. É verdade. Esqueceu desse detalhe.

— Bem, você vai beber suco com Taehyung, então. Suco de morango! Ele ama. — Apoiou  os braços sobre os joelhos flexionados, vendo os olhos brilhosos da criança. — E então, o Jungkook vai encher seu saco para jogarem algo, Hoseok vai entrar na onda e você vai acabar com uma dor de cabeça do caralho, querendo ir embora, mas o Namjoon não vai deixar, — Começou a falar rapidamente, um pouco imerso naquele caos que era sua própria família. — aí o Jin vai ficar te abraçando, e isso é desconfortável, eu sei que você odeia. — Coçou a nuca. Olhando assim, teve a certeza, vivia em um hospício! — Aí vai acabar dormindo no chão da sala, todo torto, tendo que servir de travesseiro para o Jungkook, o Taehyung, ouvindo Hoseok roncar e ainda tendo que levantar no meio da madrugada pra limpar vomito do Jimin. — Terminou o monólogo, pegando um ar. Ufa.

Aquilo era cansativo. Muito. Mas, falar daquilo, estando claramente em um delírio por estar chapado de muita anestesia para os médicos fazerem algo em seu corpo, vendo seu eu criança – nunca falaria sobre isso, porque era... estranho –, bateu uma saudade. Riu sozinho. É... era bagunçado, meio louco, nada confortável, mas era bom.

Era muito bom.

Viu uma mão pequena ser estendida para si e não entendeu. Olhou aquilo, os dedos finos, as unhas muito curtas. Lembrava de roer todas elas por nervoso. Piscou os olhos, ainda um pouco confuso, olhando para a criança que estava animada.

— O quê? — Perguntou baixo, ainda não entendendo o porquê de ele estar com a mão estendida.

Ele revirou os olhos. O que aquele hyung tinha de bonito e legal, ele tinha de lerdo. Ora essa. Como assim. Estalou a língua no céu da boca e bufou.

— Vamos. — Disse óbvio. — Vamos .

Ah, então era isso. Agora o músico entendeu. Seu eu-mirim estava querendo ir para aquela situação que havia retratado. Sorriu empático. Claro que ele queria ir... parecia mais divertido do que ficar naquela casa pequena, cheia demais, onde apanhava por nada, não comia e não podia fazer absolutamente nada.

— Parece divertido, podemos ir agora?

Continuou encarando aqueles olhos pequenos, o nariz parecendo um botão, assim como seu padrasto falava. Então era assim que era... assim que se parecia. Nessa época não entendia como o mundo funcionava, não sabia muito sobre a vida. Aceitava o que lhe davam, achava que estava tudo bem. Era como era, as coisas estavam daquele jeito, porque eram para ser. Mas... por que só para si era tão ruim daquela maneira? Então, antes de conhecer o mundo, conheceu a injustiça. Entendeu o que era ser injustiçado.

Então, é obvio que qualquer lugar pareceria melhor do que aquela casa. Por isso achava que indo morar na rua ia viver melhor. Ia se dar melhor! Tão ingênuo. Era tão fodidamente ingênuo.

— Vai demorar um pouco, pivete. — Disse após alguns segundos de reflexão. — Ainda não conhece o policial fodão que vai batalhar rimas contigo na praça do centro de Daegu, não é? — Jogou o corpo para o lado, batendo de leve no mais franzino que não entendeu.

Policial? Que policial? Coçou a cabeça e fez um bico confuso. Que policial? Não conhecia nenhum. Aliás, não deveria se aproximar deles. Seu tio dizia que não podia, porque eles queriam pegar ele... então tinha que avisá-lo com um assobio, sempre que o carro da polícia estava por ali.

Então... do que aquele hyung estava falando?

Aliás, como ele sabia que gostava de batalhas de rima?

— Como o hyung sabe que gosto de rap?

Yoongi riu. Idiota! Pirralho idiota, tsc.

— Porque eu sou você, cabeça oca. — Falou óbvio e o menino fez uma expressão mais confusa ainda. Quê? — Uns bons anos mais velho e mais gordo, mas sou você. — Riu fraquinho de como era encarado. Parecia alguém de outro planeta. — Gosta do RUN DMC, né? — Fez uma careta para o moreno de olhos pequenos que assentiu. — Bom, — Suspirou, esticando as pernas. — eu sei, eles são uma das nossas maiores inspirações.

— Como sabe? — Sussurrou desconfiado.

— Porque eu sou você e tenho uma camisa do RUN DMC, embora Taehyung use mais do que eu. — Pensou alto. O garoto adorava a camisa e vivia colocando para dormir, mesmo sem fazer ideia do grupo que estampava a logo da camisa branca.

O garotinho ainda confuso, estranhou. Taehyung? Quem era Taehyung? O nome era bonito, mas não conhecia ninguém com esse nome.

— Quem é Taehyung?

— Minha raposa. — Aquilo assustou a criança que tombou a cabeça para o lado. Uma raposa?

Ele colocava roupa em uma raposa? Era... normal alguém criar uma raposa? Balançou a cabeça, confuso.

— O hyung veste uma raposa com roupa de humanos?

— Não, idiota. — Riu um pouco mais, mostrando os seus dentes, iguais aos do menininho que observou aquilo. Eram... os mesmos... — Taehyung é nosso namorado. Uma pessoa. — Explicou, ganhando uma careta de nojo vinda do mini-eu. Riu um pouco mais. Já esperava isso... quando era criança, era completamente averso a coisas relacionadas a romance. — Faz essa cara agora, mas só eu sei o quanto você vai amar esse homem. — Implicou com ele que negou veemente, ainda com o nariz franzido, com nojo. Amor, não, eca! — Eu tô sentindo uma puta saudade desse fedelho, sabia? — Refletiu, rindo sozinho.

Olhou para o céu nublado, respirou fundo. Dizem que só estando em pontos cruciais para analisar o quanto nossa vida é preciosa... é, talvez seja isso. Ali, conversando consigo mesmo, notou quanto era privilegiado. Tinha uma família que o amava, pessoas que lhe apoiavam, um namorado que sempre estava ali, segurando sua mão. Tinha um trabalho que amava, fazia o que queria e gostava, ganhou muitos amigos, visitou lugares lindos, se apresentou para muitas pessoas, ouviu seu nome na TV, na rádio, na internet... gente que gostava de si, queria ser igual, que apreciava até cada mínimo passo que dava. Tinha um carro legal, uma casa grande, roupas de marca, muita comida... tinha tudo. Tudo! Absolutamente tudo. Tudo que quis um dia, tinha.

Olhar para seu eu criança, era muito diferente de se olhar no espelho. Aqueles olhos curiosos... o sorriso mais frouxo, o modo um pouco enérgico de agir... Yoongi foi uma criança legal. Apesar das roupas esquisitas, do cabelo ridículo, era um bom menino. Sentiu muito por ele. Muito mesmo. Ele era... legal... ele tinha boas intenções, um bom coração. Era... legal, de verdade.

— Escuta, — Engoliu em seco, voltando a sorrir um pouco mais carinhoso para a criança que o encarou prontamente. — eu sei que você diz que detesta abraços, mas que gosta quando insistem ou te dão abraços do nada. — Revelou o que aprendeu sobre si mesmo, mas só depois de estar com Namjoon, com Hoseok, Jungkook... aquele menino ainda não entendia. Por isso negou e até se afastou um pouco. — Eu posso te dar um abraço? — Ofereceu um pouco sem jeito, sabendo que ele ia negar. Ele, era seu eu, sabia que ia negar! Sempre negava.

Por isso não esperou ele responder, o puxou pela cabeça e trouxe para seu peito, o abraçando apertado. Ouviu ele resmungar, dizer que odiava aquilo e que estava se sufocando. Teve que rir. Seu discurso não mudou nem um ponto! O apertou mais. Ele era um bom menino, não era nada do que diziam naquela casa. Ele nunca foi. Precisava dizer isso.

Yoongi precisava ouvir! Ele precisava de alguém para dizer, para desmentir.

— Você é legal, Yoongi. — Murmurou para que só eles ouvissem aquilo, embora a rua estivesse vazia. — Você é legal, pode não ser inteligente, mas vai ganhar a atenção da Coreia. Você vai ser um rapper foda, vai ganhar prêmios, dentro e fora da Coreia, vai ter um estádio gritando o seu nome! — Confidenciou suas memórias, sabendo que era aquele o futuro que aguardava o pequeno menino franzino. — Vão te dar presentes caros, vão te bajular, querer chamar sua atenção. Restaurantes caros, viagens internacionais, muitos amigos... você vai ganhar muitas roupas novas, esqueça essas velharias sujas, você vai ter tudo sob medida. De marca. Você vai comer do melhor, vestir o melhor. — Engoliu em seco, apertando aquela criança, dando o abraço que sempre quis ganhar. — Esqueça esses filhos da puta loucos, você vai se mudar pra Seul. Vai ser adotado por um policial foda, vai ter muitos irmãos e um padrasto bonito. Vai ganhar tios, avós legais, uma casa bonita, festas animadas, karaokê, um namorado que te ama... — Não notou que chorava e dizia aquilo entredentes, quase, tendo o menininho quieto, apenas o ouvindo. — Você vai ganhar o mundo, vai ter o mundo em suas mãos, não vai morrer aqui. Não vai... ficar aqui. — Encostou os lábios no cabelo escuro e muito curto do menino, beijando ali. — Você não é um monstro, você não merece nada do que eles dizem, fazem. Você merece amor, você é... bom. Você é legal, você é muito legal. Você-... — Não conseguiu terminar, fechou os olhos e se deixou levar.

Ainda apertando seu mini-eu, se deixou chorar, se compadecendo de si mesmo e vendo o quanto sua vida valeu à pena. Ganhou em dobro tudo o que perdeu, tudo o que tiraram de si. Se um dia não teve nada, agora tinha tudo. Não tinha mais o que pedir, porque tinha tudo. Tudo o que sonhou!

Ele era seu próprio sonho. Yoongi vivia o seu sonho! O sonho infantil daquela criança com a camisa dos outros, morrendo de fome, que gostava de sentar na calçada e ver as luzes, ver as pessoas indo e vindo... que gostava de imaginar um mundo diferente, onde ele era famoso, onde ele... era feliz.

Realizou. Era tudo o que sonhou. Fez acontecer. Estava orgulhoso de si mesmo, conseguiu! Ufa. Conseguiu. Trabalhou duro, junto de sua família, chegou lá. Foi arrastado quando não conseguiu andar, arrastou quando precisou, mas todos chegaram lá. Estava lá. No topo.

E não importa quem tentasse lhe derrubar, poderia levar tiros, socos, chutes, ofensas, mas nunca sairia do topo. Lutou muito para chegar lá.

— Você vai ser o melhor. — Garantiu para ele, sentindo os braços finos lhe rodeando com certa timidez. — Você vai ser grande. Você não vai morrer aqui, sim, igual a eles. Não vai, eu não vou deixar.

Garantiu. Não ia deixar Yoongi pequeno sem a vingança do destino, ele ia calar a boca de todo mundo que disse que para sempre seria aquilo ali. Que morreria ali, naquela casa, com aquelas pessoas, sobrevivendo da maneira precária. Não ia. Não. Ia. Não ia deixar.

E não deixou.

...

Os flashes eram horríveis. Eles piscavam e piscavam, de maneira incessante, seu rosto mantinha-se abaixado, tendo seu corpo preso no de Hoseok, sendo guiado por ele.

De novo... como sempre.

Sua mente estava uma bagunça de vozes, perguntas que não paravam nem por um segundo, o barulho das fotos sendo tiradas. Seu pai pedindo para que não ficassem no caminho, indo na frente, afastando todos. Ele disse que o protegeria, disse que ficaria tudo bem. Confiava nele. Confiava sua vida nele...

Engoliu em seco. Estava envergonhado, não queria falar nada, olhar para ninguém. Seu sangue, frio agora, o fazia agir mais consciente. Poderia estar morto, fez o que não devia ter feito, quase matou um homem, foi contra todas as regras de sua profissão... será que nunca faria nada certo, para variar?

Estava acabado, sua carreira estava acabada...

O cabelo castanho caía à frente dos olhos, fazendo uma cortina para impedir as fotos diretas, olhando apenas para o chão. Era daquele jeito humilhante que deveria andar? Era essas fotos que eles queriam? Então tudo bem. Iria andar assim. Ia satisfazer a vontade daqueles imbecis.

Melhor sua cabeça baixa por humilhação, do que o sangue de Yoongi naquele chão. Parecia uma troca justa!

Chegaram no carro do pai e ele o colocou dentro primeiro, depois Hoseok entrou e fechou a porta. Então pôde respirar. Lambeu os lábios secos e respirou fundo. Certo... estavam fora daquilo. O braço do professor de dança passou por seus ombros, o puxando para seu peito. Hoseok viu que mesmo dentro do carro, muitos jornalistas continuavam forçando contato, então...

Se ajeitou no banco, bloqueando a visão de alguns, escondendo o irmão mais novo em seu peito e o abraçando forte, apoiando a testa naquele cabelo bagunçado, respirando fundo o cheiro dele. Por um momento... pensou de perdê-lo. Ele estava vivo, seguro. Em seus braços. Podia respirar... Jungkook estava bem. Yoongi estava bem. Todos iam ficar bem.

Namjoon, após servir de guarda-costas dos próprios filhos, ignorou os jornalistas, sem dizer uma palavra, sem abaixar a cabeça, entrou no carro e trancou as portas. Aquelas merdas enchiam o seu saco. Ligou o carro e foi saindo, tendo o bom senso da imprensa, deixando-o ir embora com o carro, levando o alvo de todas as fofocas nacionais à partir daquele momento. Idiotas!

Olhou pelo retrovisor, vendo o lutador guardado nos braços de seu outro filho. Seu coração ficou dividido: muito enraivecido e muito aliviado.

— Está tudo bem, hyung. — Foi o mais novo quem disse, suas mãos sem algemas, tocando nas do irmão, sentindo a pele fria pelo nervoso. — Fique calmo, estou bem. — Pediu carinhoso, vendo que Hoseok ainda estava um pouco chocado. Se afastou devagar e olhou para ele, o rosto inchado, os olhos úmidos. Tão bobo. — Uh. — Empinou o nariz, mesmo visivelmente forçando seu humor. — Acha mesmo que um cara armado ia acabar com a grande máquina mortífera que eu sou?

O menor fungou e odiou aquela piada. Como Jungkook podia fazer uma piada daquelas? Não... tinha graça. Esfregou as mãos no rosto e sentiu a mão dele bagunçando seu cabelo. Deu um tapa na mão tatuada. Aliás, odiava aquelas tatuagens. Eram horríveis.

Ele era horrível. Ridículo.

— Eu não tô brincando. — Disse fanhoso, engolindo o choro. — Isso não é brincadeira, para de levar tudo na sacanagem, porque isso é muito sério. — Chamou a atenção do de cabelo grande que assentiu e ficou quieto, deixando as mãos sobre o colo. — Não importa se você sabe bater em alguém, o cemitério está cheio de bons lutadores como você. Uma bala sempre para até os mais forte dos homens! — Namjoon continuou quieto, dirigindo, ouvindo o sermão do filho. Sentia seu corpo tremer por dentro, sua garganta seca. Era melhor ficar quieto. — Você acha que ajudaria o Yoongi estando morto?

— Eu não ia morrer... — Sussurrou, olhando para os dedos, os embolando nervosamente.

— Quem disse? — Arqueou o cenho. — Como pode ter tanta certeza que sempre vai ganhar tudo? Como pode saber que alguém não vai te apunhalar quando menos esperar? Como você pode confiar tanto em si mesmo? — Gritou irritado, não entendendo o porquê Jungkook era tão... tão...

Namjoon... Ele era tão Namjoon.

Por isso o delegado o olhou pelo retrovisor, entendendo aquelas palavras, mesmo que doesse um pouco. Mingyu estava certo, afinal. Jungkook era parecido consigo. Reconhecia alguém seguro de si quando via e, bem, tinha um bem em sua casa. Suas discussões, brigas, desavenças e trocas de opiniões, eram muito fortes. Eram iguais. Muito iguais.

Mas quase morreu por achar que poderia sustentar o mundo nos braços. Quase perdeu tudo o que mais amava por achar que deveria ser o herói de tudo e todos, quase perdeu... tudo. Inclusive a vida. Teve o corpo furado, aberto, mexido, enfaixado, dependente...

— Sempre que eu coloco vocês como objetivo de ficar vivo, — Explicou o lutador, olhando para o irmão choroso. — eu fico. — Respondeu com sinceridade, vendo os lábios trêmulos. Se Hoseok não parasse de chorar, ia bater nele. Odiava quando ele chorava!

— Às vezes isso não é o suficiente. — Respondeu o delegado, sem olhar para o filho, vendo as luzes dos carros...

Quando quase morreu, tinha em mente tudo o que precisava fazer, o porquê de precisar voltar para casa. Naquela época estava tão ansioso para resolver tudo e voltar, mas mesmo assim conseguiram o parar. Jungkook ia aprender isso. Se não com aquilo... então... esperava que não precisasse chegar naquele nível que acabou chegando.

Respirou fundo, ouvindo o silêncio no carro. O dançarino desviou o olhar para a janela, entendendo do que o pai falava. O de cabelo grande assentiu fraco, abaixando a cabeça em respeito. Receberia aquele sermão, sabia que estava errado, se arriscando daquela maneira, mas...

E se o cara fugisse? Ele atirou em Yoongi. Do nada. Por nada. Isso não podia ficar daquele jeito. Não tinha medo de tomar um tiro no processo, mas não disse isso. Respeitou o pai.

— Você foi imprudente, colocou sua vida em risco, quase cometeu um crime, — Foi pontuando o que o mais novo já sabia, tendo o assentir deste. — mas estou aliviado de ter você na família. De ser seu pai, de ter você com seus irmãos... — Quê? Do que... Namjoon estava falando? Rapidamente levantou o rosto, os olhos redondos bem abertos, mas ele ainda dirigia, não lhe encarando. — Com você aqui, sei que ficaremos bem. É o meu reforço. — Olhou pelo retrovisor, vendo o rosto estarrecido do lutador. — Você é um gigante, Jungkook, mas até gigantes caem, então seja prudente e não perca sua integridade. — Ralhou vendo o garoto assentir ainda meio aéreo. — Permaneça vivo. Precisamos de você. Todos nós!

Assentiu mais uma vez, sentindo seu peito doer, o corpo formigar um pouco. Poderia estar morto naquele momento, mas não estava. Estava vivo. Com sua família. Puxou o ar devagar, vendo que ainda podia respirar... viver era bom. Queria continuar vivo. Engoliu em seco.

Seus lábios tremeram um pouco. Yoongi estava no hospital, mas o cara estava na cadeia. O segurou lá. Não era tão ruim, afinal. Não era um inútil, não era um nada, não era... ruim... havia perguntado para Seokjin se ainda eram uma família depois de tudo aquilo...

Eram. Eram sim. Ainda arriscava sua vida por todos eles, para mantê-los a salvo. Eram uma família.

— Vou continuar mantendo nossa família como objetivo. — Respondeu depois de alguns segundos em silêncio, a voz um pouco embargada. Piscou rapidamente os olhos, afastando a vontade de chorar. — Somos à prova de balas. — Sorriu de lado quando viu o olhar pelo retrovisor. Viu o pai sorrir junto...

É... fazia sentido, certo? Sempre saíam vivos de qualquer ataque. Juntos. Mais fortes.

Eram à prova de balas.

...

Deu um gole na garrafa de água, mas logo deixou para lá. Não queria água, não queria nada. Lambeu os lábios e respirou por eles, porque seu nariz estava entupido de tanto que chorou. Provavelmente estava deplorável... mas quem se importava, certo? Não precisava ficar bonito.

Seu namorado não estava ali para elogiar, para apreciar... não queria a atenção de mais ninguém. Só Yoongi. Só o olhar dele!

Jimin tomou um gole de café e não soube o que dizer. Tinham ido ali para conversar um pouco, sair daquela tensão da sala de espera. Youngjae tinha chegado, estava lá com seu pai, Ryujin, Yugyeom disse que primeiro ia em casa e depois viria também. Jaebum estava com ele. Ficaria com Taehyung. Queria ficar com ele.

Ele estava tão mal, nunca viu seu irmão daquele jeito. Nunca ficou sem saber o que dizer para consolá-lo. Isso era estranho. Era estranho estarem tão distantes. Por isso estava ali, não sairia do lado dele. Não queria deixá-lo.

— Ele vai ficar bem. — Foi o que disse, baixo, olhando atentamente para o azulado que encarava a mesa. — Mas você também precisa se manter bem... — Suspirou, preocupado com a saúde do mais novo. — se quer chorar, então chore. Não prende, okay? — Pediu carinhoso, torcendo os lábios, um pouco incerto de como estavam as coisas dentro do garoto.

Ele costumava ser alguém muito claro, muito expressivo, mas depois de todo aquele problema, ele havia se tornado alguém na defensiva. Consigo. Isso machucava um pouco. Era o irmão dele, queria cuidá-lo. Não era perfeito, fez muitas coisas erradas, sabia disso, mas o amava tanto. Tanto, tanto.

— Já sentiu como se — Engoliu em seco, o de jaqueta verde, o tom baixo, rouco. — seu coração estivesse batendo na garganta? — Elevou os olhos inchados para o baixinho engolido pelo moletom preto. Ele assentiu. — Eu sinto o meu a ponto de parar a qualquer momento. — Disse sincero, aparentemente calmo, apesar de claramente transtornado. — Se o dele parar...

— Não diga besteiras! — O repreendeu. De que Yoongi eles estavam falando? O rapper forte e abusado ou de algum fracote? Fala sério.

— Vocês não tem ideia do quanto eu amo o Yoongi. — Riu consigo mesmo, piscando os olhos demoradamente, vendo os olhos doces do menor. — Ele é o homem da minha vida, Jiminie. — Deixou as mãos frias sobre as coxas. Queria chorar, mas não ia. — Ele é o meu primeiro e único amor. — O mais velho abaixou a cabeça sem jeito, ainda era estranho ouvir aquilo. — Eu simplesmente amo tudo nele, tudo.

— Você não entende...

— Eu entendo. — Cortou o menor. — É difícil pra vocês, é estranho, não é? — Engoliu em seco, vendo que ele nem conseguia o encarar nos olhos. — Não pedimos que nos aceitem, nós só queremos viver sem precisar mentir ou esconder nada. — Apoiou os braços na mesa de metal, ganhando a atenção parcial do professor de educação física. — Aquele homem que quase tiraram a vida, é tudo pra mim. — Disse sério, sem hesitar. — E eu não vou desistir dele por nada, agora mais do que nunca.

Jimin não disse nada, apenas ficou encarando seu pequeno Taehyung, o garoto que era bem mais alto, mais forte, mais inteligente, mais bonito... seu grande bebê dinossauro, seu ursinho de pelúcia. O menino ciumento, sorridente... olhou nos olhos dele, vermelhos de tanto chorar, vendo aquela criança tímida que pouco falava, mas sempre adorou estar em seus braços. Era o mesmo... ele havia crescido tanto...

— Se ele não está bem, — Reiniciou o de touca, a voz vacilando um pouco por conta do choro preso. — eu não estou. Nunca vou estar. — Foi sucinto, direto. Nunca seria completo se não o tivesse.

Nunca foi completo até o dia em que foi aceito, em que finalmente puderam ficar juntos sem nenhuma barreira, sem problema algum. Se viu inteiro quando se beijaram, se abraçaram, ficaram juntos, quando transaram... quando estavam perto... quando via-o sorrir. Aí estava sua plenitude. Apenas ali!

E, bem, Jimin o entendia... infelizmente... por isso abaixou a cabeça e assentiu. Sem dizer uma palavra.

Ficaram naquele silêncio por algum tempo. Ainda era muito estranho pensar em seu irmãozinho namorando Yoongi, neles como um casal. No dia em família, tudo pareceu como sempre. Se esqueceu do que houve, até. Nada parecia diferente. Mas não eram a mesma coisa. Tudo havia mudado, não? Respirou devagar.

Tinham ido para a cafeteria do hospital justamente para terem privacidade para conversar. Mas não sabia que ia ser tão intenso daquela maneira. Levantou o olhar devagar e viu os enormes olhos maquiados, a maneira triste que se encontrava...

Nunca viu Taehyung tão feliz quanto via quando Yoongi estava perto.

— Ele é muito bom, não é? — Perguntou baixo para o artista plástico que não entendeu. Riu fraco. — Meu hyung é um ótimo homem, entendo porque meu irmãozinho se apaixonou. — Brincou um pouco mais humorado, forçando um sorrisinho pequeno.

O azulado piscou rapidamente, um pouco confuso. Como? Então Jimin... estava okay com aquilo? Seu coração acelerou, o estômago revirou. Seu irmão estava bem com tudo aquilo, então? Podiam voltar a se aproximar, ficarem de bem? Espera... estava confuso.

Teve as mãos grandes seguradas pelas menorzinhas e olhou para aquele gesto. Ele apertou os dedos curtos nos seus. Quis chorar...

— É estranho. — Admitiu o de cabelo preto, assentindo consigo mesmo. — Não sei como vão ser as coisas, como me comportar com vocês agora, espero que tenha paciência e empatia por mim. — Pediu humildemente, esperando que Taehyung o entendesse e não levasse a mal. Era um passo muito grande e tinha as pernas curtas.

O azulado riu nasal e apertou de volta os dedos do irmão, sentindo os olhos marejarem. Estava sendo aceito? Era isso? Estava... sendo abraçado e aceito? Os olhos pequenos do mais velho ainda estavam presos nas mãos unidas, juntos, ali, no meio de todo aquele caos. Estava feliz. Céus. Estava feliz de verdade...

Ouviu Jimin fungar.

— Eu estou feliz, até. — Disse após fungar, rindo consigo mesmo. Olhou para cima e encarou o maior. — Sempre tive medo de quem você se apaixonaria, se a pessoa iria ser boa o suficiente, porque você é muito bom. — Engoliu o choro, vendo a expressão atenta, séria. Aquele garoto era mesmo mais novo? — Acho que fez uma boa escolha. — Esfregou o polegar sobre os dedos longos. — O Yoongi hyung é um homem muito bom... eu não sinto medo agora. — O azulado riu fraco e abaixou a cabeça, um pouco sem graça. Não estava acostumado a aqueles assuntos com a família. — Você é adulto, muito inteligente e sabe o que faz. Tem um coração limpo, lindo, é muito bom. — Continuou com seu discurso, tentando não se emocionar demais. Sentia seu coração acelerado. Taehyung estava ali, consigo, de novo. — Apesar de ser tudo uma loucura, fico orgulhoso que pensou em você. No que você quer, o que te faz bem...

E foi aí que o azulado não aguentou. Pensou que não choraria, não queria chorar, mas ouvir aquilo da boca de Jimin, o homem que era seu conforto, seu norte, era... era diferente. Era como ser reconhecido após um árduo trabalho. Ninguém havia mencionado isso, mas ele sim. Ele o conhecia, sabia como sua mente funcionava e o quanto preferia se anular para deixar as outras pessoas felizes.

E então, estava sendo reconhecido e deixando seu hyung orgulhoso. Por isso voltou a chorar, estava emotivo. Triste. Mas ele estava ali... as mãos pequenas que sempre lhe seguraram com tanto amor e carinho, que nunca o deixou cair, que sempre estava ali. Foi seu abraço quente em noites frias, a pessoa que dormia no chão, segurando sua mão quando era apenas um bebê chorão, assustado com pesadelos com monstros feios e grandes...

Por entre as grades do berço, ele enfiava a mão e o segurava. Tinha foto. Queria lembrar, reviver aqueles dias, ter alguma forma de voltar no tempo e aproveitar melhor aquilo, mas não... eram fotos. Histórias. Memórias.

Mas Jimin, o mesmo garotinho que dormia no chão segurando sua mão por entre as grades do berço, era o mesmo homem que estava segurando sua mão, em uma cafeteria de hospital, dizendo que estava orgulhoso por ter vencido os monstros feios. Era mais forte que os pesadelos, era maior que eles.

Levou uma mão para o rosto e escondeu os olhos, não querendo ser visto chorando como um idiota. Não parou de receber carinhos, ele continuou ali, segurando sua mão.

— Foi tão difícil... — Murmurou entre o choro, balbuciando de maneira arrastada, tossindo com o próprio choro engasgado. — é tão difícil... — Ouviu um "eu sei", mas sabia que ele não fazia ideia. Ninguém além de Yoongi. Queria tanto Yoongi. Tanto. Por que fizeram isso? — mas ele esteve comigo, ele-... — Seu choro estava ficando mais alto, preocupando o professor que levantou de onde estava e foi de encontro ao irmão.

Odiava quando ele chorava, ainda mais porque ele não podia. O abraçou, trazendo o rosto molhado para sua barriga, o prendendo ali. Não ia sair, não ia deixa-lo. Eram os dois contra o mundo, desde sempre. Para sempre. Fez carinho na nuca dele, passeando os dedos demoradamente na pele quente. Seu irmãozinho era um garoto incrível!

Vê-lo sofrer daquela forma o deixava mais ciente do que estava acontecendo. A intensidade, a profundidade daquilo tudo. Sentia na pele o pavor de Taehyung, o desespero de ter a mínima possibilidade de perder alguém que ama. Estava sentindo. Doía...

— E estamos com vocês agora. — Garantiu baixinho, ignorando os olhares piedosos de algumas pessoas que estavam por ali. — Eu estou aqui, você não está sozinho. — Sussurrou para o garoto que ainda estava chorando tanto. — Segure a minha mão. — Ofereceu sua mão direita. — Não precisa ficar com medo, eu estou aqui. — Teve sua mão segurada com força, apertada entre os dedos com anéis finos. — Não chore, o Jiminie está aqui, Taetae. — Pediu carinhoso, usando a mão livre para dar leves tapinhas nas costas do irmão mais jovem. — Meninos bonitos não choram...

Costumava dizer isso quando eram crianças e ele chorava muito. Precisavam fazer algo para ele não o fazer, então... mas isso logo perdeu o valor com o tempo. Taehyung continuou lindo e choroso, agora consciente do porquê não poderia se descontrolar. Mas como ter consciência ali? Não conseguia. O amor de sua vida... seu Yoongi...

Apertou o rosto na barriga do irmão, segurando firme nos dedos curtos. Não podia perder o namorado, não podia. Não podia perder Jimin de novo. Parecia que nunca podia ter tudo o que queria. Não queria perder ninguém, não queria ter que escolher ninguém. Se escolhia e escolhia a família inteira.

Não queria mais perder ninguém, será que é pedir muito?

— Eu sinto sua falta. — Murmurou entre o choro para o irmão, o agarrando com a mão livre, prendendo os dedos no moletom que sabia ser de Jungkook.

O de cabelo escuro sorriu fraco e desistiu de conter as próprias emoções, não tinha um dia que não sentisse falta de seu garoto bonito, seu bebêzão de cabelo azul. Seu irmãozinho. Abaixou a cabeça e assentiu. Também sentia falta dele, de Yoongi, de todos juntos. Tanta falta.

— Eu também, maninho. — Disse baixo, esfregando-lhe as costas como um consolo, ouvindo o choro menos forte. — Eu te amo do jeito que você é. — Sentiu a necessidade de dizer, porque Taehyung precisava saber que era aceito e amado.

Apesar de tudo, de todos, o amava por inteiro, sem tirar e nem pôr. Talvez aquela realidade estivesse muito confusa ainda, as coisas confusas, mas sabia que o amava, amava seu hyung, amava sua família. Viu no dia em que estavam todos juntos, que as coisas não mudavam tanto assim. Continuavam sendo os Kim, como sempre foram.

Taehyung e Yoongi namorarem não mudava tanta coisa assim na família, ainda eram os mesmos e se amavam como sempre. Isso que importava no fim das contas. Era o que gostava de pensar, era o que mantinha em mente.

Eram uma família. Apesar de tudo, contudo, eram uma família.

...

Não sabia se era mais perturbador conversar sobre o ocorrido ou ter Yugyeom em silêncio por todo o caminho, após dizer tudo o que viu e sabia.

Inclusive suas mentiras... ele mentiu.

Entraram em casa. Preferiu levar o filho para tomar um banho antes, trocar as roupas ensanguentadas... não era bom ficar revivendo aquilo.

— Me dê as camisas, vou colocar pra lavar agora. — Pediu ao deixar os pertences no sofá.

O garoto alto imediatamente tirou as camisas, ficando com o dorso nu com algumas tatuagens, amostra. Estendeu para o pai que pegou e comprimiu os lábios fechados, ainda encarando o mais novo que o olhou pela última vez antes de virar as costas, para ir ao quarto.

Suspirou, cansado, um pouco decepcionado.

— Yugyeom. — Chamou baixo, mas o tom sério alarmou o mais jovem que entendeu que ouviria um pouco.

Olhou as mãos sujas e virou devagar, mantendo a cabeça baixa em respeito ao pai, sabendo que ele tinha aqueles olhos severos em si. Ao contrário de Youngjae, que sempre falava gritando e era dramático, Jaebum nada dizia. Ele era só de olhar.

O que era pior. Muito pior. Sentia-se intimidado.

— Por que mentiu? — Era só isso que queria saber. Odiava que mentissem para si.

Era alguém muito honesto e esperava que as pessoas fossem, no mínimo, verdadeiras consigo. Dava abertura para isso. Bom ou ruim, ouvia. Youngjae sabia disso, Yugyeom sabia disso. Eram sua família. Eram eles que tinham sua vida, toda ela, nas mãos. Então por quê?

O mais alto levantou um pouco o rosto para olhar o rosto muito perfeito do pai, os olhos pequenos focados em si, o rosto inexpressivo. Como sempre. Não respondeu, por respeito.

O respeitava muito, mesmo que agora ele duvidasse disso, provavelmente.

— O Taehyung não estava lá, você foi com o Jungkook. — Recitou o que o mais novo mesmo havia dito sobre aquela noite. Ele assentiu. — Qual parte do que você disse pra mim, era verdade? Além do show.

O ar parecia preso em sua garganta, mas mesmo assim tentou falar, mantendo o tom baixo para que o Im não achasse que estava o afrontando ou desrespeitando. Sabia que estava errado, não tinha direito de se defender, em todo o caso.

— Eu ia dormir no Yoongi hyung depois, isso não era mentira. — Explicou devagar, ainda de cabeça baixa. — O Tae ia pra lá depois que saísse do jantar com os amigos dele, isso-...

— E por que não disse que ia com o Jungkook?

— O senhor não ia deixar, pai. — O tom óbvio fez o militar o medir por completo, o estudando. — Tudo que envolve eu e o Jungkook hyung, o senhor dá um jeito de afastar. Não adianta falar que não é assim, porque é. — Levantou o rosto para encarar o menor, mas ainda mantendo o tom baixo, o respeito. — Mesmo sendo padrinho dele, o senhor faz tudo isso...

Riu fraco. Yugyeom era muito ingênuo. Sinceramente. Ele era igualzinho Youngjae e isso o deixava com medo, em modo alerta a todo momento, não queria deixar ninguém se aproveitar deles, os fazer de bobos. Ninguém faria isso. Nunca.

Nem pessoas da sua própria família!

— Eu o conheço. — Foi direto, ganhando o olhar confuso do filho. — Você também o conhece. Não deveria estar questionando isso!

— Era isso que o seu pai falava do meu pai também, para afastar vocês? — Perguntou um pouco mais sério e o mais velho apertou o olhar, chegando a rir irônico. Quando se deu conta do que havia falado, mordeu o lábio inferior e levantou as mãos. — Desculpe. — Pediu imediatamente.

Jaebum não disse nada de ímpeto. O que seu filho sabia sobre aquilo afinal? Hoje seu pai gostava de Youngjae, viviam todos de maneira pacífica. Ouvir falar das histórias, não era conhecê-las por completo. Como ele podia citar Youngjae naquilo? Eram histórias completamente diferentes.

Mas, relevou. Não ia se ofender com aquilo.

— Seu avô detestava o seu pai pelo simples fato de ele ser homem. — Pontuou o óbvio, vendo o garoto assentir. Já sabia daquilo. — E eu insisti no seu pai, porque eu o amo. — Se aproximou alguns passos do filho que voltou a abaixar a cabeça. — Eu insisti e virei as costas para tudo e todos, porque a gente se ama.

— Como eu posso saber que sinto qualquer coisa pelo Jungkook se o senhor me impede de respirar no mesmo ambiente que ele? — Voltou a falar, um pouco mais magoado. — Eu nem posso ser amigo dele direito, porque o senhor não deixa. — O Im ficou quieto. Nisso ele tinha razão, mas é que... — O Jungkook pode ser um filho da puta idiota, é ele é. — Assentiu consigo mesmo, admitindo aquilo. — Ele é inconsequente, mimado, se acha o centro do universo, é ridiculamente arrogante e cheio de si, mas — Respirou fundo, pegando o fôlego que havia perdido falando aquilo rápido. — ele é leal, é protetor, é engraçado e muito bom, também. Ele coloca a família acima de tudo e todos, é companheiro, é verdadeiro e isso pode soar muitas vezes, desconfortável para as pessoas. — E isso era verdade. Jungkook era tão verdadeiro que às vezes machucava algumas pessoas. — Ele é determinado, é destemido... — Continuou, vendo os olhos sérios e pequenos de seu pai mais velho. — o senhor não pode medi-lo só negativamente por minha causa, antes de mim, ele já era seu afilhado. Você o conhece, não precisa de mim pra dizer tudo isso, mas é teimoso demais pra admitir que está errado. — Engoliu em seco, sentindo aquela pontadinha de coragem ir se desfazendo conforme continuou recebendo o rosto inexpressivo do comandante. — Eu não sou meu pai Youngjae para te fazer abaixar a cabeça e admitir seus erros, tudo bem, mas pelo menos pensa no que eu tô falando.

O homem de olhos inchados nada disse, só ficou olhando para o garoto alto com tatuagens pelo dorso. Ele tinha razão, mas não diria, não conseguia dizer. Yugyeom sabia disso, então forçou um sorriso sem muito humor e bateu de leve no ombro do pai, mostrando que não estava chateado e nem nada. O entendia, mas isso não quer dizer que concordava.

Aprendeu algo com a última discussão de ambos. Não falaria mais nada de cabeça quente, não seria um pirralho inconsequente. Mostraria que era um adulto e poderia resolver seus próprios problemas.

— Me perdoe por ter mentido. — Pediu sinceramente, o encarando nos olhos. — Eu realmente sinto muito por ter mentido, eu não queria ter feito isso e não farei de novo. Espero que acredite em mim. — Forçou outro sorriso, embora Jaebum não falasse nada. — Da próxima vez que eu sair com o Jungkook hyung, vou ser sincero.

— Choi Yugyeom! — Aquilo era um aviso. A linha do limite... ele estava chegando lá.

Agora ele riu, mesmo que fraco, sem tanto humor assim. As coisas estavam tão ruins, tão... pelo Buda, as coisas estavam horríveis. Não tinha energia para brigar, para nada. O que menos queria era ter desavenças com seu pai. Aliás, não queria aquilo, jamais.

Nunca mais queria sentir o que sentiu naqueles dias que ele esteve longe.

— Eu sou Choi. — Lembrou ao pai. — Ele é Kim. — Piscou maroto e Jaebum bufou, tirando a mão dele de seu ombro. — Acha mesmo que isso vai dar errado?

— Certo não vai dar!

O abraçou, apertando o corpo menor contra o seu. Respirou tranquilo. Quando o abraçava, voltava aos dias em que ele e Youngjae o visitava no orfanato, quando seus olhos grandes via aquele homem cheio de pose e cara fechada ao lado do homem de sorriso gentil que sempre lhe trazia coisas gostosas para comer, lhe deu roupas bonitas, um tênis novinho da Nike... nunca teve um tênis novinho.

Lembrava de quando ele ajoelhou a sua frente e beijou sua testa, dizendo que ele não estava sozinho e que em breve, iria embora com eles. Lembrava de ele perguntar se gostaria de ter dois pais, se não se incomodava...

— Vamos ser nós três pra sempre? — Repetiu a mesma frase que disse quando o Im esteve ajoelhado em sua frente.

Os braços fortes do militar rodearam as costas largas do filho e lhe deu um tapa amigável na pele pálida.

— Seremos uma família pra sempre! — Foi o que o moreno mais baixo disse, quase em um sussurro, repetindo suas próprias palavras daquele dia.

Registrou o filho apenas no sobrenome de Youngjae, porque ser um Choi significava ter sorte. Sorte de ser uma pessoa boa, grande, feliz. Sorte de ter uma família imensa, caipira e muito amável. Ele era um Choi, desde a primeira vez. Aliás,

Jaebum também era tido como um Choi. Fazia anos que não era Im. Era Choi, pelos Choi, porque eles o aceitaram, o abraçaram, o guardaram e o ensinaram sobre o amor, o carinho, lealdade, sobre família. Queria ser um Choi.

Um Choi e um Kim... é... duas famílias de gênio muito forte... será?

Apertou Yugyeom em seu abraço. Não. Ele ainda era apenas um garotinho de olhos grandes. Seu garotinho.

...

"O médico do Yoongi apareceu!" Foi o que Youngjae disse, buscando os afilhados na cafeteria.

Taehyung, já sem chorar e até depois de muito esforço do irmão em comer algo, levantou e saiu correndo. Seu coração batendo na garganta, sua mente em branco. Yoongi... tinham informações de Yoongi. Não via ninguém em sua frente enquanto corria a plenos pulmões, tirando todo mundo de seu caminho.

Era Yoongi... seu Yoongi... só conseguia repetir para si mesmo "seu pirralho está aqui", como se ele pudesse ouvir, como se pudessem se comunicar de alguma forma. Quem dera...

Jimin foi atrás do irmão, entrando naquela corrida desesperada. Precisava saber de seu irmão, precisava de boas notícias. Precisava tanto. Assim que chegaram na recepção, estavam todos ali, o médico falava diretamente com Seokjin, que havia dado Moon para a nora que permanecia sentada, mas ouvia atentamente o que o médico falava. Todos ouviam com atenção.

O que... por que estavam todos tão atentos?

Ao mesmo tempo, a porta de vidro abriu e um Jungkook esbaforido entrou correndo, o cabelo castanho jogado no rosto, Hoseok e Namjoon correndo atrás de si. Finalmente estavam todos juntos. Seokjin continuou focado no médico, assentindo para as informações, pouco se tocando que tinham chegado mais de sua família.

— Ele se encontra estável, sem risco algum de morte ou algo mais grave. — Anunciou o homem de óculos e cabelos ralos, sorriu gentil para o moreno que suspirou parecendo ter um peso tirado de seus ombros. — Só precisa ficar em observação, vamos monitorar a hemorragia, o funcionamento dos órgãos, pra ver se tudo está na perfeita ordem e não foi afetado. — O cozinheiro assentiu sem saber o que dizer. — A operação foi um sucesso, o projétil não perfurou nenhum órgão, o que foi muito bom. Ele é um cara de sorte. — O médico sorriu alegre ao ouvir a comoção de alivio daquele grande grupo que havia o cercado.

Jungkook passou por todos e encarou o médico.

— Posso vê-lo? — Perguntou ansioso, aflito, assustando o pai por ouvir sua voz.

Seu garoto... Jungkook estava ali. Céus. Ia desmaiar de alívio. Era muita boa notícia. Massageou as têmporas e respirou fundo. Certo. Estava ficando tudo bem. Seus garotos estavam bem. Abraçou de lado seu lutador, seu jedi justiceiro, o apertando com certa possessividade, mesmo que ele continuasse focado no médico que negou.

— Visitas apenas à partir de amanhã, ele está sedado e ainda está na UTI. — Disse gentil e o garoto alto negou, um pouco aflito. — Ele está bem, está acompanhado por ótimos médicos e enfermeiros, podem ficar tranquilos. — Pediu àquela família que parecia desolada. Era bom dar notícias boas para aquela gente de olhos tristes. Era uma das melhores partes de seu trabalho. — Respondeu bem a operação e está fora de risco.

— Então por que está na UTI? — O pintor questionou tão aflito quanto o outro de cabelo grande.

Não entendia aquela porcaria de medicina e hospitais, só sabia que odiava aquelas siglas, pareciam graves demais e isso lhe pinicava o corpo. Yoongi não era para estar lá, aquilo não era lugar para ele. Não... ele não podia estar em um lugar daqueles, impossibilitado de resmungar, xingar ou de daquelas aqueles sorrisinhos. Não podiam apagá-lo... não. Não podiam...

Sentiu Jimin abraçá-lo por trás, o segurando no lugar, assim como Youngjae colocar o braço em sua frente, o impedindo de avançar no médico.

— Tivemos que abri-lo para tirar a bala. — Explicou pacientemente para os dois que pareciam mais afetados. — Ele teve hemorragia interna, corre perigo de infecções, precisamos observar como ele reage a cirurgia, não se preocupem, é apenas procedimento padrão para que ele fique bem e seguro. — Olhou para Namjoon que o encarava de longe e sorriu tranquilo para seu colega de profissão. — Pode me acompanhar na minha sala, Delegado Kim?

— Claro. — Assentiu prontamente, mas antes foi até o marido, lhe beijando a cabeça. — Volto já. — Disse para o menor que assentiu e sorriu um pouco mais alegre.

Seus filhos estavam bem, isso era tudo que importava. Viu o médico sair após uma reverência respeitosa, sendo acompanhado de seu esposo. Olhou para o lado, vendo seu garoto brigão, o idiota que tinha senso de justiça grande demais.

— Você quer me matar? — Perguntou para ele que imediatamente virou o rosto para encará-lo, vendo os olhos grandes começando a ficar úmidos. — Quer? — Deixou um tapa no bíceps forte. — Se alguma coisa acontecer com um de vocês, eu morro, não tô brincando. — Avisou, olhando para cada um ali.

Hoseok, Taehyung, Jimin, Moon. Se alguma coisa acontecesse com eles, ia perder seu rumo. Eles eram sua vida! Tocar neles, era como esmagar seu coração até que não restasse nada. Nada! Era assim que sentia-se sem seus filhos, seu marido, sua família: nada.

O acastanhado assentiu e segurou-o pelas bochechas, dando-lhe um beijo na testa.

— Ninguém pode matar um jedi, pai. — Sussurrou para o mais velho que lhe deu outro tapa no braço. — Perdão pelo susto. — E outro beijo na testa coberta com a franja escura.

Hoseok, exausto, jogou-se ao lado da esposa naquelas cadeiras desconfortáveis e deixou a cabeça pender para trás, encarando o teto branco. Que noite do caralho. Sentia-se em um filme de drama desses, bem ruins. Passou a mão no cabelo, jogando para trás, sentindo a mão da esposa em sua coxa, o confortando, ainda segurando a garotinha adormecida em seu colo.

O segundo mais velho dali saiu de frente do afilhado e sorriu para eles, fazendo um gesto de "fighting". Ia dar tudo certo. Disse que ia dar. Antes de sair de casa, fez suas preces, acendeu incenso em pedido pela vida de Yoongi e estava torcendo para que tudo saísse bem. Okay, Buda não ia muito com a sua cara, mas... era seu afilhado. Era por ele, não por si.

O garoto de cabelo azul piscou os olhos, parecendo acordar de um choque, um pesadelo. Olhou ao redor, um pouco confuso. Então estava tudo bem? Yoongi estava bem? Foi então que seus olhos bateram em Jungkook e seu coração parou. Foi como se mutassem o universo inteiro. Só conseguia ouvir a voz dele, a risada em sua mente... ele era seu irmão corajoso, seu lutador bravo. Seu protetor.

Jimin havia dito que ele foi atrás do atirador, sozinho, sem pensar. Ele tentou vingar Yoongi. Ele... se importava. Ele não os odiava. Lembrou do rapper dizendo coisas boas sobre o lutador, sobre como o conhecia e como o gênio dele era "fácil" de prever. Seu coração parou, porque sentiu, naquele momento, que o amava tanto. Ele era seu irmãozão. Ele era... Jungkook.

O excêntrico e único Jungkook. Amava ele assim. De graça, por nada, por ele ser apenas ele. Seu irmão.

Deu um passo à frente e o baixinho que tinha os braços ao redor de seu corpo, estranhou, mas não impediu. Deixou que o maior fizesse seu curso. O homem de cabelo longo olhou para o lado, um pouco confuso e viu o azulado, o rosto inchado, aqueles olhos grandes... ele havia chorado. Odiava quando ele chorava. Lembrava das crianças maldosas implicando com ele, só por ter um problema.

Aos poucos, seus braços também foram abandonando o corpo do pai que olhou aquilo e não soube o que esperar. De repente, o mais novo deu mais alguns passos e se jogou nos braços do irmão mais velho, o apertando em um abraço, parecendo querer fundir naquele toque.

Jungkook o guardou consigo, o segurando pela nuca e pelas costas, parecendo querer prendê-lo ali, como se temesse que ele sumisse. Não podia sumir. Ele não podia ir embora. Era seu irmão. Sua família.

— Obrigado. — Disse o menor, agarrado ao corpo forte do mais velho. — Muito obrigado.

Jungkook riu fraco, fechando os olhos e inalando o cheiro do garoto. Era o mesmo de seu hyung... ele cheirava a Yoongi... lhe deu sensação de paz. Foi como estar com seu irmão mais velho ao mesmo tempo. Por isso o apertou mais.

— Eu faria o mesmo por você. — Sussurrou para que apenas ele ouvisse, engolindo em seco a raiva que tinha. Bater naquele idiota não foi o suficiente. — Vocês são a minha família e ninguém vai tocar em vocês, eu não vou deixar. — Prometeu para o irmão mais novo que pareceu amolecer em seus braços, finalmente relaxando, sentindo seu cheiro. — Me perdoe por tudo, espero que ainda-...

— Eu te amo! — Disse rapidamente, o cortando, emotivo. — Eu te amo muito, hyung. Muito. Muito. — Apertou os dedos no casaco do irmão, se agarrando nele como se fosse seu último suspiro.

O atleta sorriu sem mostrar os dentes grandes, apoiando o rosto na cabeça do menor, roçando a ponta do nariz na touca preta que ele usava para esconder os fios azulados.

— Eu te amo. — E amava mesmo. Apesar de toda a merda, ele amava seus irmãos. Todos eles.

Triste foi perceber isso estando no fio da navalha, vendo tanta coisa acontecer com eles. Chegou ao extremo, ultrapassou os limites, mas ainda assim era amado, abraçado e querido. Sentiu amor quando foi abraçado pelo irmão, sentiu mais amor ainda quando Seokjin abraçou os dois filhos, emocionado por aquilo estar acontecendo. Seus garotinhos... merda, lá ia chorar de novo.

Jimin escondeu as lágrimas com um sorriso grande, limpando o rosto rapidamente, não querendo ser um chorão, mas aquela cena era linda. Eles estavam mesmo se abraçando? Taehyung e Jungkook? Quando se viu, estava mais chorando do que rindo, então Youngjae o abraçou, rindo daquela cena.

— Tadinho do meu filho. — Disse rindo, chamando-o como chamava seus afilhados quando estava com excesso de carinho. — Fizeram meu neném chorar, que maldade. — Bateu de leve nas costas dele, ouvindo-o rir daquele tom debochado.

O dançarino, ainda sentado, olhava aquela cena, orgulhoso. Imaginou por um momento seu hyung vendo aquilo, como ia ficar feliz. Sabia que aqueles dois idiotas eram os amores da vida dele, jamais ia conseguir escolher um lado, então vê-los juntos, era incrível. Ele ia voltar radiante.

Radiante no modo Yoongi de ser. Era peculiar. Sem muita brincadeira para o lado dele, porque com certeza ia acordar de mau humor, irritado e reclamando do drama familiar. Podia apostar.

E no meio de toda aquela ação familiar, Hyowon se sentiu um tanto deslocado, mas feliz o suficiente, aliviado, por seu amigo estar bem. Ótimo. Sorriu sozinho. Precisava avisar ao pessoal, principalmente ao assessor de Yoongi. Max tinha que dar uma nota oficial sobre o estado de saúde do rapper ou então iam continuar boatos e fake news.

Já tinha visto bastante: "está morto" para seu gosto. Por isso pegou o celular, mas antes que pudesse ligar para o canadense, seu celular começou a tocar. Atendeu.

— Sim?

— Hyung, eu preciso te contar o que eu vi, não sei pra quem eu corro, não sei o que eu faço. — A voz chorosa soou do outro lado da ligação. O quê? Ficou confuso. Levantou e saiu do hospital. — Eu vi tudo, hyung, eu vi. Eu vi...

— Calma. Respire, homem. — Pediu impaciente. Já tinha drama demais para uma noite. — O que você viu?

— Quem deu a arma para o homem foi o Jiwon hyung, eu vi.

Seu coração parou. Jiwon... arma...

O que Hanse estava falando?


Notas Finais


CHEGAMOS AO FINAL. Quem aí tava certo? Jiwon, Hanse... quem apostou neles? Pois é. Muitas informações nesse capítulo.

Abraço taekook, hanse é o homem do beco, jiwon?????, lembranças do yoongi chapado de anestesia........

Nesse eu quero fazer uma pergunta. Por favor, respondam com muita sinceridade, ok? Vamos lá.

Me digam aqui, nesse parágrafo, o que gostariam de dizer para seu "eu" da infância?

Eu começo: me desculpe.

Ficamos novamente nos trends do twitter semana passada, será que conseguimos pela terceira semana?????? Podem me responder o que perguntei pela tag também: #wuahtaegi


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