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História Our Time - Tag! Youre It


Escrita por: paansy

Notas do Autor


SABADOU, OURLANDIA. como estamos nesse sábado de quarentena???? como eu havia dito, não vim terça-feira, mas vim sábado.

OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS E OS FAVE. sou muito mimada, xesus do céu. que família... nossa senhora, que família...

APROVEITEM SEM MODERAÇÃO ALGUMA ESSE CAPÍTULO. ipc: *na última narração contém violência. só avisando, caso alguém quiser pular. :}

Capítulo 46 - Tag! Youre It


Jungkook sempre foi uma pessoa muito diferente das outras, ele fazia questão de ser assim. Quando o conheceu, ficou um pouco retraído, mas como não ficaria? O garoto era ligado no 220V, não gostava de ser contrariado em hipótese alguma e tinha um ciúme maluco de todos seus irmãos e pais.

Principalmente de Yoongi e Jimin. No começo, não podia chegar perto deles sem receber um olhar feio daquele garoto de olhos redondos. Aí corria para as pernas de seu pai Jaebum, fazendo biquinho enquanto o garoto mais velho ria satisfeito. Aprendeu ali que, se quisesse conviver no mesmo ambiente que Kim Jungkook, precisaria ser mais forte. Jogar as mesmas cartas que ele.

Passou a não ligar para seus olhares firmes e nem demonstrar medo quando ele estava por perto. Nunca tocou em si, nunca foi realmente maldoso, não tinha porque ter medo. Seu pai Youngjae, um dia, sentou os dois para conversarem. Não era legal primos se tratarem daquela forma.

Não importa quanto Namjoon chamasse a atenção do filho, ele continuava daquele jeito, Jaebum já havia brigado com o afilhado. Nada adiantava.

Então, o professor metido a doutor em psicopedagogia pela faculdade YouTube, entrou na história. Fez as duas crianças conversarem, se entenderem de uma vez por todas.

Foi só ali que Jungkook descobriu que Yugyeom também gostava de Star Wars, Naruto e amava videogame. Todo o clima ruim sumiu!

Olhou para baixo, Moon estava sentada em seu colo, mexendo em seu celular, trocando mensagem com Seokjin. Acabou rindo. Aquela criança era muito avançada no tempo. Na idade dela, estava arrancando a cabeça dos bonecos pra usar de bolinha de ping-pong.

— Oppa, — Ela chamou do nada. Grunhiu em resposta, lhe dando atenção. — meu pai bem disse que talvez eles voltem daqui três dias. — Virou o rosto, animada, sorridente. O dançarino retribuiu o sorriso. — Eu quero muito ver meu papai, meus oppas.

— Falando assim até parece que ficar na minha casa é ruim. — Resmungou fingindo estar triste e ela riu alto.

Yugyeom oppa era tão engraçado quando fazia cara triste, não combinava, porque todos estavam acostumados com ele sorrindo ou revirando os olhos para os outros.

— Não. — Respondeu de imediato, ainda rindo. — Eu só quero muito ficar com meu papai, oppa. Tô com saudades. — Voltou o olhar para o celular, onde via o montão de desenhos fofos que seu pai estava enviando.

Não estava muito acostumada a ficar longe de Seokjin. Se acostumar com a ausência eventual de Namjoon já foi difícil, mas pelo menos tinha seu outro pai ali, para lhe consolar e também consolava ele. Eram os dois sempre. Estava com muitas saudades de verdade.

Já ia continuar com aquela brincadeira, quando Jungkook apareceu. Elevou o olhar para o menor que vinha olhando para o celular, saindo da varanda, onde tinha se enfiado por algum tempo. Ele tinha dessas. Do nada se afastava, preferia ficar sozinho, respirar sozinho.

Estava aprendendo um pouco mais sobre o lutador naqueles dias.

— Moon-ah, — Chamou sem tirar os olhos do aparelho. — vai buscar suas coisas, o Hobi hyung vem te pegar.

Suspirou. Naqueles últimos dias, a garotinha ia para a casa do irmão, porque Seokjin insistiu que não ficaria alugando mais a vida de Youngjae e Yugyeom. Bem, isso rendeu uma discussão bem idiota entre o professor e o cozinheiro.

Com direito a: "padrinho é segundo pai", "assim você me ofende", "não entendi sua colocação", "Yugyeom não faz absolutamente nada da vida, pode muito bem cuidar dela". Dessa última parte ficou profundamente ofendido. Seu próprio pai, era seu inimigo.

Depois ia para o templo, sim, hipócrita. Tinha muita vontade de ir lá e dizer para os monges, a verdadeira índole de Choi Youngjae, aquele caipira sem vergonha.

Amava demais seu pai cowboy.

Tirou a prima do colo, deixando-a livre para sair. Voltou o olhar para o mais velho. Por que estava com aquela expressão? Estavam se vendo todos os dias desde que pegaram a responsabilidade de cuidar de Moon, podia dizer que... bem, estavam se dando bem, certo? Conversavam muito sobre música, sobre videogames, sobre veículos. Se conheciam um pouco melhor agora.

Jungkook era completamente apaixonado por carros como seu padrinho Seokjin. Em contrapartida, já curtia mais motos e então rendia muito assunto enquanto ajudavam Moon nos trabalhos acumulados da escola. Ignorando Youngjae enquanto ele pedia ajuda nas refeições... – gritava por ajuda, na verdade.

Um dia cada um levou um grito tão alto, que rapidinho o assunto morreu. Foi a única vez que calaram a boca.

Se conheciam um pouco melhor agora.

— O que foi? — Perguntou, curioso. Jungkook jogou o celular em sua direção, pegou-o ainda no ar, dando uma olhada. — Uh, okay. — Grunhiu, não era nada demais. Uma página de serch no Naver, uma explosão de notícias sobre ele. — Tá, você tá pesquisando sobre si mesmo, é um puta narcisi-...

— Leia direito. — Cortou o mais alto, o tom de voz sério.

Rolou os olhos e sentou direito no sofá, pegando o celular com ambas as mãos, passando o polegar na tela, rolando as notícias. Não tinha nada demais. Deu de ombros, olhando para cima, vendo o rosto do de cabelo grande. Balançou os ombros de novo. Tá, e daí? Nada demais.

O lutador bufou. Que idiota. Ele não entendia nada? Puxou o celular da mão dele e mostrou a tela novamente, como se fosse óbvio. E era óbvio.

— Cadê? — Perguntou para o primo que abriu bem os olhos, ainda confuso.

Cadê? Cadê o quê? Jungkook estava maluco? Às vezes desconfiava do funcionamento cerebral dele. Não podia ser 100% regular.

— O quê? — Retrucou ainda sem entender.

— As notícias, porra. — Quase gritou, irritado. Não suportava gente lerda, seu raciocínio era rápido. — Não tem nenhuma notícia sobre eu quase ter matado uma pessoa. — Voltou a passar o dedo na tela, procurando qualquer resquício. — Só tem que eu defendi o Yoongi hyung, dei depoimento na polícia e dei uma coletiva de imprensa assumindo toda a responsabilidade, mas não tem mais nada. — Falava rápido, mudando as páginas, procurando qualquer coisa, qualquer uma.

Ah! Agora entendeu. Assentiu em compreensão, estranhando aquilo. Realmente. Na internet o lutador estava sendo pintado como alguém que atravessava os limites do bom senso da própria profissão, muitos críticos estavam acabando com o que restava de sua reputação.

Pegou o próprio celular e foi na busca, pesquisando sobre o nome do mais velho. Grandes portais de notícia falavam sobre o ocorrido, mas usavam palavras que não colocavam o acastanhado como vilão. Deu uma gargalhada. Aquilo era... era muito bom. Muito bom mesmo.

— Hyung. — Ainda sorria quando olhou para o atleta que tinha uma expressão perdida, os olhos confusos. — Hyung, isso é incrível! — A voz alta, digna de um Choi, se propagou pela casa grande. Levantou do sofá. — Sabe o que isso significa? — O segurou pelos ombros, ganhando a atenção dele. — Sabe?

— Entrevistaram as crianças do projeto que eu criei. — Contou para o maior, engolindo em seco, seu corpo anestesiado. O Choi sorriu ainda mais. — Eles me chamaram de mestre. — Acabou rindo nasal. — Disseram que querem ser como eu.

Aquilo foi o ápice de sua surpresa. Quando ficou afastado das lutas, do esporte, procurou meios de continuar praticando e ainda conseguir transformar aquilo em benefício para alguém. Foi onde seu projeto social nasceu e uma vez na semana ia lá para ver o rendimento das crianças e pré adolescentes. Queria ser... referência.

Sabia que fazia muita merda, que não era uma figura a se admirar inteiramente, mas queria pelo menos... só um pouco... por um momento, mostrar que podia ser legal. Que podia fazer algo certo. Logo depois veio o MMA, seu projeto cresceu, foi para outras cidades, era muito orgulhoso disso! Era seu maior orgulho.

Era o mestre de um bando de criança aspirante a lutador. Elas o admiravam.

— Você é um bom lutador, é óbvio que vai ter fãs, idiota. — O empurrou pelo ombro, brincando.

Ainda lembrava de quando sua carreira olímpica teve declínio. Foi de orgulho do país para "garoto problema", diziam que sua estrela se acendeu muito rápido e por isso se deslumbrou. Nunca quiseram ouvir sua voz e suas opiniões sobre, suas ideias. Ninguém lhe deu um espaço se quer para dizer algo.

Foi rebaixado, posto de lado e esquecido com o tempo. O mundo dos holofotes é assim, não é? Sempre tem alguém melhor que você, sempre tem alguém acima de você. Não foi difícil sumir e também não foi ao todo ruim, foi quando aprendeu mais sobre si, seus objetivos e o que desejava para seu próprio futuro.

Entendeu que não era bem nas olimpíadas que queria estar. Não!

— Você pode continuar de onde parou. — Teve o rosto segurado pelas mãos macias do dançarino. Ele tinha olhos grandes, uma pintinha ali próxima... — Isso não é legal? Você pode voltar a lutar, hyung! — As bochechas vermelhas pela emoção, o cabelo tão preto que no sol parecia azul. Era um tom bonito. Preto era sua cor favorita! — Sua carreira ainda está de pé, ainda é um lutador, você-... — Juntou os lábios. O calou na hora. Aquela voz fina pode ser irritante às vezes e ele falava demais.

Ele tinha lábios bonitos e quando sorria muito grande, parecia um coração. Sempre usava aquela maquiagem preta nos olhos e dava para ver melhor de perto como eram escuros e brilhantes. Sempre muito pálido, o chamava de tofu para implicar, mas gostava quando as bochechas ficavam pintadas de rosa quando ele ria muito ou estava tomado por alguma emoção.

Choi Yugyeom era muito metido e de nariz em pé, parecia um personagem bad boy saído de algum filme americano e isso o irritava. Odiava clichês. Também era mais alto e desajeitado, não tinha muita noção de espaço e sempre batia a cabeça quando ia entrar no carro de Yoongi, porque o teto era baixo. Também era bom no LoL, mas péssimo no Free Fire, isso o irritava, porque não gostava de LoL!

Sua voz era muito fina e doía os ouvidos quando decidia gritar com alguém, mas quando falava baixo, era assustador, porque sempre era uma lição de moral. Conhecia melhor os tons baixos da voz dele, aliás, sempre estavam brigando.

Ele era mais um dos amigos de seus irmãos que estavam interessados em si, mas era o único que lhe irritava ao ponto de querer entender o porquê se irritava tanto.

Aliás, por que estavam com os lábios colados? Afastou devagar, vendo-o de olhos abertos, o rosto vermelho. As mãos grandes não estavam mais em seu rosto. Engoliu em seco. Ops.

Acabou rindo sem graça. Coçou a nuca, um pouco acanhado. Agora essa. Por que estava sem graça, porra? Nem havia sido um beijo. Aquilo nem era beijo! Selinho daqueles dava em seus amigos – quando estava muito bêbado –, por exemplo, de brincadeira. Era brincadeira.

Não era nada, era uma brincadeira.

Chegou abrir a boca para falar algo, mas fechou na hora quando notou que não sabia o que falar. Expirou forte pelas narinas e estalou a língua no céu da boca. Que situação.

Yugyeom estava paralisado. Completamente vermelho. Completamente paralisado.

— O tio Jaebum não vai gostar nada disso! — A voz infantil soou cheia de graça e isso despertou o dançarino.

Seu corpo era meio esquisito, tinha alguns espasmos por reflexos. Isso poderia ser preocupante? Será que devia procurar um médico? Hum. Agia por impulso. Deu um tapa na cara de Jungkook.

Reflexo.

— Omo. — Levou as mãos até a boca, assustado por seu próprio gesto. O que merda tinha feito?

E que merda...? Jungkook apanhou e ficou sem entender o porquê. Massageou a bochecha direita e encarou o mais alto, a expressão irritada misturada com confusão. Por que aquele imbecil tinha dado um tapa em sua cara? Que ideia.

— Qual é o seu maldito problema? — Resmungou irritado, afastando-se. — Porra. — Olhou para a irmã que tinha a mochilinha nas costas, as mãos tampando a risada. — Ya. — Abriu bem os olhos, encarando a garotinha que tentou engolir a risada. — Você não viu nada.

— Eu vi, sim.

— Não viu, não. — Colocou o dedo em riste e ela repetiu o ato. — Não me imita. — Grunhiu irritado e ela moveu os lábios, debochada. — Garota. — Repreendeu e ela lhe deu língua. — Quer levar um puxão de orelha?

— O oppa não pode me bater. — Encaixou os polegares nas alças da mochila, andando pacientemente para pegar seus tênis. — Se não eu conto pro papai e você está ferrado. — Ameaçou como quem não quer nada, assobiando. — Também posso contar pro tio Bummie-...

— Como seu professor eu posso te bater sim, criatura maligna. — Foi até aquela pequena delinquente que o encarou sem medo algum.

Não tinha mesmo respeito dentro daquela casa. Fala sério. Estava sendo chantageado por uma criança de oito anos. Oito! Era o final de sua carreira. Agora você vê, as pessoas de fora dão mais valor do que as de dentro, tsc, a vida é mesmo um pouco injusta com os homens de bom coração.

O Choi ainda estava sem reação, apenas acompanhando os dois irmãos brigando entre si. Olhou para a própria mão um pouco vermelha. Por que bateu no mais velho? Ele... ele o beijou. Fala sério. Um beijinho.

Tá que foi só um encostar de lábios, mas... era um beijo. Era um beijo sim. Ele que o beijou, ele, Kim Jungkook. Não precisou fazer reza e nem acender velas para o Buda. Certo, talvez tenha feito isso uma vez, apenas uma.

Mas como seus avós diziam, é importante lutar pelos seus sonhos. Estava usando todas as armas que tinha, até as espirituais.

— O oppa levou um tapão na cara. — Ela estava gargalhando. Ficou ainda mais sem graça.

Aquilo ficaria para a história.

— Cala a boca e calça logo esse sapato antes que vá sem eles. — Gritou o atleta, irritado, tão sem graça quanto. Seu rosto queimava. Primeira vez que beijou alguém e levou um tapa em seguida.

Ia mesmo ficar para a história.

...

Deslizou os dedos pacientemente pelas mechas já com uma raiz preta muito grande. De que cor ele pintaria agora? Já tinha visto Taehyung ruivo, azulado, castanho, até de cabelo rosa. Embora tenha durado pouco. Ele era uma das poucas pessoas que ficavam bonitas com qualquer coisa.

Qualquer uma. Até de boné aba reta e ninguém fica bonito de boné aba reta. Ele ficava.

Acabou rindo sozinho, descendo o polegar para a bochecha corada, fazendo um breve carinho ali. Apreciava o silêncio, gostava muito da calmaria que ele dava para seu coração, ainda mais se aquele pirralho bonito demais estivesse ali, pertinho. Naturalmente, ele falava muito, muito mesmo. Nunca conseguia prestar atenção direito nos detalhes dele, se ele não calasse a boca.

Então, apreciava muito quando ele dormia e então podia estudar cada pedacinho do rosto de pele morena. O modo como ele dormia sempre tranquilo, sem nem se mover direito, a respiração leve, pouco movia o peito. Parecia a merda de um príncipe.

Em tudo.

Nunca gostou de contos fadas, achava a coisa mais idiota do mundo. Todo mundo tão perfeito. Aquilo era uma mentira deslavada! Ninguém era perfeito. Tinha razão, afinal, ninguém era perfeito, mas o significado de perfeição também não era o que vendiam.

Então podia adaptar, não é? Viu Taehyung crescer. Cada dia um pouco mais. Perdeu sua infância, sua pré-adolescência, não esteve lá, mas era incrível ver, mesmo de longe, como aquele garoto evoluía bem. Era inteligente, muito bem educado. Tinha uma personalidade incrível.

Se apaixonou primeiro por aqueles detalhes. Gostava deles. O modo expressivo que ele usava em tudo na vida. Foi difícil ignorar o amor dele quando sempre estava sendo jogado em cima de si, pelas palavras, olhares, gestos, falas simples. Tudo nele era amor, sentia isso. Era forte. Muito forte.

Voltou para o cabelo macio, penteando suavemente, jogando as mechas para trás. Nunca se esqueceria de tudo o que o namorado fez por ele. Abandonou a parte mais importante da vida, para estar ao seu lado. Quantas noites ele não dormia, mas mesmo assim fingia estar tudo bem? Sempre sorriu, sempre lhe disse que era o melhor, que estava indo bem, que aquilo não era nada, que estava tudo bem, que estavam juntos.

Estavam juntos... ia ficar tudo bem... enquanto estivessem juntos, ia ficar tudo bem.

Ele lutou por sua vida, lutou por seu amor. Foi tão bravo, corajoso. Acreditou pelos dois, quando já havia desistido e jogado tudo para o alto. Segurou sozinho todo aquele peso... com um sorriso no rosto, o amando tanto. Foi tão idiota com ele. Tão imbecil.

Encostou os lábios na testa pequena, beijando ali demoradamente. Se arrependia por não ter voltado antes para ele, por ter corrido, por ter ignorado e pensado que tudo voltaria a ser como era. Sentia muito por ter machucado a pessoa que amava. A pessoa que o amava. Esfregou os lábios ali, inalando o cheiro de casa. O cheiro que lhe trazia paz, conforto. Era seu lar.

— É muito engraçado, não é? — Sussurrou para o adormecido, afastando o rosto, olhando para o menino sereno, ainda um tanto inchado pelo choro de horas atrás. — Amar alguém é uma comédia. — Acabou rindo consigo mesmo, mal piscando, segurando como podia o corpo grande junto do seu naquela cama estreita de hospital. — A gente acha que nosso primeiro amor, é o único, que a gente vai morrer se perder ele. Que não podemos viver sem. — Se ajeitou um pouco melhor, sentindo braço dele em sua cintura, o abraçando com carinho. — Mas então, quando amamos de verdade, vemos que não é nada disso. — Sussurrou lembrando dos primeiros dias que descobriu sobre seu amor.

Amou Jennie por toda sua vida, ou achava que era amor. Não houve ninguém além dela. Quando o relacionamento acabou, achou que morreria, que tudo estava acabado. Ninguém no mundo ia ser como ela, ninguém no mundo ia fazê-lo sentir tudo o que ela fazia. Ninguém no mundo. Não queria ninguém além dela.

Que bobagem... acabou rindo sozinho.

Realmente! Cada pessoa é única em nossa vida, mas amor... amor não era sobre morrer. Era sobre viver. Não era sobre perder, era sobre abrir mão se assim necessário.

— Eu poderia te deixar ir, se assim quisesse. — Voltou a dizer, fazendo carinho no cabelo tingido. — Poderia assistir de longe sua felicidade, se assim quisesse. Mas você não quis, pirralho teimoso. — Deu um peteleco na pontinha do nariz dele. — Quis arrumar problemas comigo, fazer uma bagunça do caralho, mudar tudo de lugar, andar por ruas escuras e desconhecidas, colocar tudo à prova, mas confiando que ficaria tudo bem no final. — Sorriu tranquilo. Ele era tão corajoso. — Mas você também me deixou quando eu pedi. Você não desmoronou, você se fortaleceu e voltou para me buscar. — Deitou de novo sobre o travesseiro, pertinho do rosto lindo do mais novo. — Voltou pra casa.

E era sobre isso o amor, não é? Não traz peso, não traz desconfiança do amanhã. É sobre isso... aprendeu. Demorou, mas aprendeu. Correu dele, mas não deu outra, foi pego. Então, tudo o que pensava conhecer sobre amor antes, foi invalidado. Era muito mais do que apenas aquilo, era muito maior, mais profundo, mais bonito.

Descobriu pouco a pouco e agora vivia a base disso. De amor. Se transformou em outra pessoa por causa dele. Com cores, sabores, texturas e temperaturas diferentes.

— Nada é mais tão escuro. — Sussurrou fechando os olhos, respirando fundo o perfume de Taehyung, o abraçando pelo peitoral. Ficando ali, juntinho. — Por sua causa.

Ouvir que Taehyung estava vasculhando o próprio passado, era um pouco doloroso, mas não ia se meter nisso, não tinha esse direito. Era um desejo dele, então ia respeitar e fazer sua parte. Cuidar dele. Era o que namorados faziam, certo?

Era a hora de cuidar dele, assim como era cuidado.

— Ele é epilético. — A voz rouca e baixinha soou do nada, o assustando. Levantou o rosto e viu o sonolento Taehyung virar a cabeça, o encarando. — É por causa dele. — Sussurrou, abrindo um sorriso pequeno. — Ele me deixou essa lembrança.

Não soube o que dizer. Então já sabiam de onde vinha a doença de Taehyung, era genético. Expirou devagar e devolveu o sorriso, sem mostrar os dentes. Ele assentiu, notando que não tinha muito o que falar ou fazer sobre.

Ajeitou o corpo naquele espacinho curto e puxou o corpo pequeno para deitar de novo, dividindo aquela cama. Não ia dormir ali, ia ficar no sofá, mas como estava muito sensível, o rapper esperou Seokjin e Jimin saírem para chamá-lo, o aninhou ali, junto de seu corpo e a base de carinhos e melodias sussurradas, adormeceu.

— Tenho dois irmãos por parte de pai. — Contou rindo fraquinho, lembrando da foto que tinha visto. Yoongi riu junto. — Acho que se juntassem as irmãs do Jimin hyung, a sua, os meus, faríamos um reality show legal com muita briga e testes de DNA.

Teve que rir. Isso era verdade. Os únicos que não tinham outros irmãos perdidos pelo mundo, eram Jungkook e Hoseok. Isso era engraçado se pensasse por um ângulo. Esquisito também.

— E você quer conhecê-los? — Teve que perguntar, porque... bem...

Mas o azulado negou fraco, não parecia triste e nem tampouco angustiado por isso. Ótimo, Jimin ficaria aliviadíssimo por saber que seu irmãozinho não queria nenhum outro irmão. Ele tinha um ciúme meio assustador.

A família toda era meio esquisita. Com certeza havia algo de errado na mente de cada um.

— Espero que eles sejam felizes e nunca descubram como o pai deles pode ser ruim. Nenhuma criança merece isso. — O rapper assentiu em compreensão. — Nossas realidades são diferentes, mundos diferentes. — Respirou fundo, cansado. — Não vale a pena ir mais fundo nesse assunto, quero cortá-lo por aqui.

— Sem contato com o filho da puta, então?

— Não. — Negou consigo mesmo. — Ele teve dezenove anos pra tentar me achar, se não quis antes, — Riu fraco. — não tem porque querer agora! — Pensou um pouco, o mesmo valia para Jina. Ela sabia que estava com Seokjin. Ela sabia. — Já tenho tudo o que preciso. — Voltou o olhar para o namorado, vendo aqueles traços delicados, os olhos miúdos. — Sou satisfeito e feliz com o que eu tenho. — Sussurrou mais tranquilo.

E de fato, era. Seu choro mais cedo foi quase um vomitar de sentimentos que sempre teve em sua mente. Suas origens, os mil porquês... eram tantas coisas. Não ia dizer que não sofreu por isso, porque não era verdade. Desde muito pequeno esteve naquela realidade. Seus dois pais, seus irmãos. Mas ainda assim, sabia que tinha vindo de algum lugar, que lugar era esse?

Agora sabia. Estava em paz.

Yoongi sabia que tinha sido o gatilho daquilo tudo. O fato de voltar a ter contato com Yoonjin, tinha reacendido aquelas perguntas no mais novo. Sentia-se meio culpado. Puxou a ponta da coberta e cobriu ambos, querendo manter o conforto, mesmo naquele espaço pequeno.

Foi abraçado com mais jeito, o rosto encaixando no pescoço do mais alto. Agora sim estava aquecido de verdade. Fechou os olhos e relaxou, se doando àquele carinho. Estava seguro. As palavras de Jiwon estavam em sua mente ainda.

"Não se esqueça que eu sei que você namora um homem!" Isso era tão criticamente importante assim? Quer dizer... céus. Prendeu os dedos na roupa do namorado e ficou tenso. Era agora que o túnel se estreitava, que tudo ficava mais escorregadio.

Sabia que ia ser pego ali.

— Tae? — Chamou após algum tempo, baixinho. Ouviu um "hum?", então prosseguiu. — Você já imaginou como seria se a gente se assumisse?

E de repente, silêncio. Só o ar condicionado fazia barulho ali. Engoliu em seco, seu coração batendo forte dentro do peito, os dedos firmes na roupa do mais novo que não disse uma palavra. Ficou com medo.

Taehyung encarava a parede, o pensamento longe, a mente criando vários cenários possíveis. "Se assumir". Aquilo era um tanto assustador, não conseguia imaginar direito como as coisas seriam. A carreira de Yoongi, a dele mesmo, sua família... tanta coisa. Expirou devagar, cansado só de pensar naquilo. Não sabia se suportaria algo daquele peso. Agora.

Nem ele, nem Yoongi.

— Não. — Foi honesto. Não pensava naquilo, não queria ficar louco. — Mas eu não vou desistir. — Garantiu, porque sabia que o rapper precisava disso, ele precisava de palavras para se agarrar, para se apoiar.

Queria deixá-lo seguro. Insistiu porque podiam dar certo e não iam funcionar separados. Se amavam, podiam fazer aquilo acontecer. Fizeram. Não era para desistir agora, não é? Já haviam lutado tanto. Tanto. Não iam largar agora.

O moreno riu fraquinho pelas narinas e relaxou.

— Agora entende porque tatuei a raposa com o focinho empinado? — Sussurrou debochado e o azulado riu baixo, rouco. Lhe deu um tapinha nas costas. — Pirralho teimoso.

Continuou rindo. Pela primeira vez, estavam em uma situação não tão ruim e Yoongi sabia exatamente o que fazer.

— Tudo por você! — Taehyung respondeu com certeza.

O amor realmente transforma as pessoas.

...

Respirou fundo. Olhou ao redor, a rua vazia. Fazia muito tempo que não saía em uma batida policial, muito menos em patrulha. Essas tarefas ficavam para seus subordinados.

Seu trabalho era resolver, não ir atrás do problema.

— Eu tô vendo três com ele, RM. — A voz de Jaebum disse ao seu ouvido pelo fone. Ele estava em cima de algum lugar. — Parece que realmente não estava esperando essa visita. — Riu fraquinho, a mão firme na arma, o dedo no gatilho, sua mira bem precisa. — Vamos esperar a Momo-ssi?

— Não. — Respondeu tirando a arma do cós da calça, verificando o cartucho. — Não posso correr riscos de perder o Mingyu agora.

O comandante grunhiu em concordância, procurando o homem que Namjoon havia falado. Bom, não que "cabelo preto com gel e olhos bem puxados, alto" fosse uma boa descrição, mas podia trabalhar com isso. Correu os olhos e também a mira em cada um ali. Eles estavam vendo alguma coisa, apontando algo na mesa.

— Eu pego ele. — Voltou a prestar atenção na ligação de voz com o policial. — Me dê cobertura!

— Não recebo ordens suas, você sabe, não é? — Riu fraco, debochado. Ora essa, para que servia seu cargo se ia ter que acatar aquele policial?

O Kim riu fraco, já começando a andar em direção à casa que foi apontada por Max – ainda estava preso no carro. Ia provar para seu tenente que estava certo, que poderia resolver todo aquele caso. Aliás, o que mais instigava a sua raiva e curiosidade ao mesmo tempo, era o fato de Kim Mingyu, um de seus subordinados, estar naquele esquema.

Coincidentemente, que estava afetando sua família. Era muita obra do destino brincalhão, não é? Apostava que sim!

Subiu o pequeno lance de escadas e bateu na porta. Queria sim encher a cara daquele bandido de porrada, mas ainda era educado.

Bateu de novo, mais forte.

— Sabe o que o Capitão Shin Hoseok disse sobre aquele fax? — Comentou casualmente o Im, vigiando o pequeno grupo que agora se entreolhava confuso. Um deles estava descendo. Ganhou um "hum?", riu sozinho. — Que eu vou ficar preso no quartel por duas semanas, você acredita? — Forçou mais o olhar para enxergar com detalhes a movimentação dentro da casa. — Baseado nisso, eu espero que hoje, na minha última noite de homem livre, você me dê uma despedida digna.

Namjoon riu baixinho, ouvindo o barulho de passos e um homem gritando "o que quer?". O que queria? Muito simples!

— Como quiser. — Sussurrou respirando fundo, se preparando. Seu coração batia tão forte.

Jaebum ia mesmo ser preso por indisciplina e quebra de código militar, sabia disso porque estava ao seu lado quando o telefone tocou. Pessoalmente quis falar com seu ex líder, mas o comandante disse que ia resolver. Pediu apenas mais uma noite livre, explicou a situação.

Bem, a sorte era ter Shin Hoseok como líder. O cara disse apenas um "não meta o exército nisso, faça um trabalho limpo." Iam fazer.

A porta foi aberta por um homem de jaqueta jeans. Não podia perder essa oportunidade. O empurrou pelos ombros para dentro da casa e entrou.

— Polícia. — Ele gritou antes de levar um soco no maxilar. Mais um e um chute na barriga, indo para trás.

Ao grito de aviso, os dois de cima se agitaram. Não podia perdê-los. Um saiu correndo com uma arma, não deu para pegá-lo, porém,

— Ombro. — Cantarolou, mirando no ombro do que havia restado. Atirou. Ouviu Namjoon do outro lado, correndo. Tinha mais lá? Mudou o ângulo da mira para outra janela, tentando achar mais alguém. Achou. — Joelho. — Pegou-o por trás, não dando chance para correr. Onde estava o último? Tinha que ter um último.

Viu Mingyu descer a escada correndo. Desgraçado. Foi atrás, sabendo que se tivesse mais alguém pela casa, Jaebum pegaria ou pelo menos avisaria. Seu sangue estava tão quente que nem sentiu o frio da noite quando saiu para o quintal da casa, atrás do parceiro de profissão.

Dentro da polícia já tinha encontrado muitos subordinados que acabavam se corrompendo com o crime, mas não esperava isso daquele idiota que tanto brigava para ter seu cargo. Ele sabia o que era ser um delegado? Ele tinha uma mínima noção do que era ser um maldito delegado?

O mais novo apontou a arma para trás e disparou para cima do delegado que desviou, indo para atrás de um muro.

Merda. Respirou ofegante e segurou a própria arma, sentindo a mão trêmula. Não queria ter que usá-la.

— Não tô vendo mais ninguém na casa, Namjoon. — A voz séria do soldado soou em seu ouvido. — Você está bem? Onde está?

— Quintal. Saindo pra lateral. — Sussurrou. — Dá pra ver?

— Não muito. — Grunhiu e teve alguns barulhos. Estava mudando a arma de lugar, querendo encontrar um melhor ângulo para a mira. — Não dá pra ver muito bem, Namjoon-ah. É muito estreito o caminho da lateral. — Forçou a visão, vendo muito mal. Era perigoso.

Namjoon estava praticamente sozinho agora.

— Grande Kim Namjoon! — Gritou o policial ofegante, rindo à plenos pulmões. — Corajoso Kim Namjoon. — Continuou, o tom debochado. A raiva pingando da voz. — O tão justo Kim Namjoon, está aqui, — Abriu os braços, mesmo que sem vê-lo. — veio aqui, contrariando as ordens do seu tenente, para me ver. — Riu de novo. Que patético. — Quem vai acreditar na piada que é você?

Não disse nada, permaneceu em silêncio. Não podia ir de peito aberto. Abriu alguns botões da camisa social e respirou devagar, não queria fazer nenhum barulho.

— Parece muito que sua família gosta de correr. — Fez menção a Jungkook, esperando alfinetar o policial que fechou os olhos com força e apertou a mão na arma. — Uma aberração feito vocês não tinham que estar onde estão. — Deu uma gargalhada, dando alguns passos para frente. — São como animais de circo. — Quase silabou. Namjoon tremeu mais ainda, se segurando. Sua família não... — Só servem pra serem apontados e motivo de risada.

Até o Im se calou do outro lado. Se ofendeu por tudo aquilo, sabia que aquelas palavras machucaram seu melhor amigo, por isso apertou mais a mão na arma, a segurando com raiva. Aquilo... aquilo não se dizia para uma pessoa...

— Seus filhos são de outras pessoas. — Continuou, dando mais alguns passos para frente. Não conseguia enxergar muito bem. — Não são seus, são restos de outras pessoas, porque você não é homem o suficiente pra fazer o seu!

Namjoon riu. Mostrou onde estava porque riu. Teve que rir, sua garganta estava coçando. O que aquele filho da puta entendia sobre ser pai? Ser homem? Sobre ser uma pessoa? Ser um policial?

Infelizmente, não tinha palavras para respondê-lo. Não era bem um discurso que queria dar naquele momento.

Saiu de trás da parede e colocou seu rosto no campo aberto. Não tinha medo. Não tinha porque correr. Apontou a arma para ele do mesmo jeito que era apontada para si.

— Deve ser mesmo uma merda ver alguém como eu tendo tudo o que você quer, não é? — Abriu um sorriso, vendo os olhos vermelhos do policial. Olhou para a mão, riu fraco. — Não preciso disso. — Jogou para o lado, se garantindo em si mesmo. — Quer ver por que seu tenente me prefere?

— Você é um puto convencido, Kim Namjoon. — Cuspiu com indiferença, encarando o homem de cabelo castanho.

Quando ele chegou na delegacia com aquele currículo impecável, uma carta de recomendação e agradecimento da secretaria presidencial, todos começaram a bajular aquele homem. Era tão... cheio de si. Ele era tão petulante.

Andava para lá e para cá metido a sabe tudo, a "resolvo tudo". Tão insuportável. Ia ser delegado antes dele chegar. Seu nome estava lá, cotado, já tinha preparado seu discurso, já tinha feito tudo.

E então, Kim Namjoon surgiu. O ex soldado, a merda do ex soldado.

— Você não se garante sem isso na sua mão? — Provocou, sorrindo de lado. — Só é alguém segurando uma arma?

Como podia alguém como ele, que levava a vida que tinha, ser tão seguro de si? Tinha uma profunda repulsa de ter que servir alguém como ele. Como ele não sentia vergonha? A Coreia do Sul estava mesmo cada vez mais perdida.

Largou a arma no chão e foi para cima do menor. Aquilo não ficaria assim. Tentou desferir um soco, mas teve o punho segurado. Grunhiu em raiva.

— Não fala da minha família, Mingyu! — Avisou o encarando nos olhos, ainda segurando com força o punho na palma de sua mão. — Eles não são restos de ninguém. São completos. — Usou a mão direita para desferir um soco no rosto do companheiro de trabalho. — E meus. — Gritou com raiva, usando a mão ocupada para levar o braço do mais novo para trás, o imobilizando.

O colocou contra parede. Havia finalizado já. Sabia que aquele idiota não era muito bom de luta corporal, só se garantia com a boa mira que possuía, mas sempre ficava para si ou para Momo ir na frente. Ele sempre se escondia atrás de algo ou alguém.

Covarde.

— Foder com um homem é tão bom assim? — Provocou rindo contra o concreto, ignorando a dor no braço.

— Experimenta na cadeia.

— Será que seu marido tá disponível? — Virou um pouco o rosto, ainda rindo, querendo ver o rosto de seu superior.

Suas pupilas dilataram. Mencionar Seokjin... não... não... não mesmo. Largou o braço para conseguir virá-lo para si. Aquele filho da puta.

— Tenta se aproximar do meu marido! — Olhou bem no fundo dos olhos do mais novo, não aumentando a voz, não fazendo nenhum alarde. — Tenta. — Instigou em um sussurro rouco. Queria muito vê-lo tentar.

Mesmo se ele, ou qualquer outro, tentasse, não precisaria mover um dedo. Seokjin era muito fiel e leal, sabia disso, confiava plenamente em seu marido. Não precisaria dizer nada, o mais velho sabia o que falar e fazer. Eram casados há anos, já tiveram muitas oportunidades de repensar se queriam mesmo estar juntos.

E em todas essas vezes tiveram as mesmas respostas. Sim e sim.

Mas isso não mudava o fato que algo o possuía quando algum homem tentava lhe tirar do sério usando o nome de seu esposo. Não podia evitar, era seu ponto fraco. O cozinheiro, os filhos. Esse era seu ponto fraco. Não podia evitar. Era humano.

Tirou o policial da parede e voltou a acertar o rosto pálido já um tanto vermelho pelos socos.

Mais um.

Mais um.

Mais um e Mingyu foi ao chão.

Apoiou as mãos e tossiu, cuspindo sangue e alguns dentes que haviam quebrado. Sua boca doía, seu rosto também. Toda vez que tentava revidar, era pego e acertado outro golpe. Lembrava que quando ia para os treinos físicos, o próprio Namjoon gostava de supervisionar, dava dicas e muitas vezes os ensinava técnicas de lutas que aprendia com o próprio filho lutador.

Foi lá que conheceu Jungkook, aliás. A primeira vez que viu Jungkook. O garoto novo demais que ensinou para muitos policiais novatos, como lutar. Ele era petulante, igual o pai. Arrogante. Não mentiu que ambos eram iguais. Eles eram.

— É isso? — Zombou, atrapalhado pela dor, pelo sangue que saía cada vez mais, sujando suas roupas. Olhou meio tonto para o delegado que estava de pé, o encarando sério. — O ex delegado de Seul vai me matar à pancadas? — Arqueou o cenho, cuspindo mais uma vez. — O que dirá a corporação e o tenente?

O acastanhado olhou para as mãos vermelhas, respingadas de sangue. Respirou fundo. Seu corpo parecia mais leve agora. Agachou acima do corpo do mais alto e o segurou pelo queixo, o obrigando a se olharem.

Aquele infeliz... ele era para ser um policial. Ser alguém para alguém. Por que ele estava ali?

— O que eles vão pensar de mim? — Perguntou retórico. — Devia estar preocupado com o que vão pensar de você! — Lembrou aquele fato que tirou o sorriso dos lábios ensanguentados do policial que ainda tinha o queixo segurado com força. — Você é uma vergonha pra sua família e sua corporação. — Continuou no tom baixo, decepcionado. Tudo bem Mingyu o odiar, odiar sua família e sua conduta. Foda-se! Isso não é importante. Mas trair a lei daquele jeito? Se tornando o que juraram combater? — Era esse delegado que você queria ser? É esse tipo de delegado?

— Não se meta. — Puxou o rosto com força, quase batendo a cabeça no chão.

— Isso não é ser policial. — Gritou transtornado, agarrando os dedos na camisa do parceiro, puxando do chão. — Você jurou não ser como eles, você entregou sua vida para combater essa porra toda. — Não conseguia entender. Não entrava em sua cabeça. Mingyu não respondeu. — Por quê? — Insistiu, desferindo mais um soco no rosto machucado do policial que grunhiu, tossindo. — Por que a minha família? Você sabia de tudo isso, eu confiava em você. — Conforme gritava, seu rosto ficava mais vermelho, seu coração batendo pesado no peito. — Você podia me bater, tirar meu cargo, — Foi levantando, trazendo o mais novo consigo, o obrigando a ficar de pé mesmo um tanto tonto. — eu daria ele pra você, eu não me importaria com isso. — Não notou que estava praticamente chorando de raiva, pronto para bater de novo naquele homem já deplorável. — Mas meus filhos? Por que os meus filhos? Por que não eu? — Gritou com ódio, dando mais um soco no mais alto, jogando-o no chão.

Podia aguentar qualquer coisa. Qualquer uma. Se a condição para deixar sua família em paz, fosse o cargo. Então daria. Não se importava com isso! Daria o cargo para Kim Mingyu. Mas sua família? Ela não tinha culpa disso, de nada disso.

O moreno virou de lado, arrastando o corpo para longe enquanto voltava a cuspir sangue. Tentando manter seu orgulho.

— Não se faça de bom moço, Kim Namjoon. — Disse após um tempo, cansado. Todo seu rosto doía. Procurou enxergar o superior naquele escuro. — A maior parte da corporação pensa igual a mim. — Riu fraco, lembrando de quantas pessoas conhecia que trabalhavam para os dois lados. — Não se faça de surpreso. — Jogou o corpo para trás, deitando no concreto frio. Namjoon abaixou, pegou a arma. — Um pensamento como o seu não dá uma casa em Jeju, não ganha mais de um bilhão de wons por ano, não te dá um carro esporte, férias na Europa e não coloca seu filho na faculdade. — Apoiou as mãos no chão, erguendo o corpo, querendo enxergar melhor o delegado que o encarava com seriedade. — Isso não é um dorama, nem todos vivem felizes no final.

Namjoon ouviu muito aquilo. É verdade. A vida não era fácil, não era só para policiais, mas para todos. Viver era muito difícil. Se manter correto, era difícil. Quantas chances teve de ganhar mais se fingisse não ver certas coisas? Quantos contatos perdeu por negar propostas? Era difícil, mas sempre que se encontrava em uma situação complicada, lembrava do juramento que fez.

Lembrava de como seus filhos, seu marido, falavam de si com tanto orgulho. Eles acreditavam em si, em sua conduta. Não podia decepciona-los. Decepcionar a si mesmo.

Isso não valia uma casa em Jeju, um salário alto, um carro esportivo e nem nenhuma dessas merdas.

— O seu final poderia ser feliz se não tivesse mexido com a minha família. — Engatilhou a arma e apontou para o oficial que expirou devagar entre a risada. — Você está preso, Kim Mingyu. — Aquilo... falar aquilo para um de seus companheiros era duro. Mas se manteve firme. — Tem direito a ficar calado e a um advogado, se não tiver um, o estado providenciará um pra você!

A carreia por água à baixo, assim como sua reputação. Kim Mingyu estava totalmente acabado. Continuou apontando a arma para o ex policial, agora detento, o mantendo parado no chão. Precisava esperar Momo chegar, apenas ela poderia encaminhar o homem para a delegacia.

Aliás, queria estar perto do tenente ao vê-lo descobrir sobre a verdadeira índole do "concorrente a delegado" tão melhor que si. Com a conduta mais íntegra.

Um som de tiro.

— Pé. — Cantarolou o Im do nada, assustando o melhor amigo.

— Mas que merda, JB? — Tocou o fone preso na orelha, ouvindo a risadinha do outro lado. Virou a cabeça, olhando por cima do ombro. Havia um cara caído um pouco atrás de si. — Avisa.

— Só faltava isso pra terminar a música. — Explicou. Havia mirado certinho no pé, o cara caiu na hora.

Estava prestando atenção no discurso de Namjoon, vendo pela mira tudo o que ele estava fazendo. Pensou em intervir quando os socos começaram a ser desferidos. Aí pensou em tudo o que o policial precisou ouvir... todas as ofensas, se segurar mediante a situação de Yoongi...

Alguns socos não matariam aquele traidor, então...

O acastanhado expirou forte pela boca, notando que se não fosse pelo mais novo, provavelmente seria acertado na cabeça pelo outro bandido que agora estava no chão, com um dos pés baleados.

Mingyu olhou ao redor, um tanto confuso. Tinha um sniper ali? Desde quando? A polícia de Seul não utilizava sniper.

— Você trouxe um sniper? — Voltou o olhar para o superior que agora dividia a atenção entre o outro cara e si. Riu fraco. — Me sinto importante, delegado.

Namjoon acabou rindo. Não era um "sniper", era só...

— É só o padrinho do Yoongi. — Explicou simples. — O meu irmão.

Isso fez o soldado sorrir, segurando a arma com mais tranquilidade, o coração leve pela primeira vez naqueles dias... também tinha aquele idiota como seu irmão. Já haviam passado de amizade há tempos. Era até meio ofensivo chamá-lo de apenas amigo.

Eram irmãos!

— Essa é a minha família. — Apresentou ao policial jogado no chão que ainda tentava achar o sniper. — A minha gangue.

Pensando por um lado, fazia sentido o ódio em cima de sua família. Não costumavam ser pessoas muito fáceis de lidar. Eram quase como uma alcateia de lobos. Atacavam juntos.

Mexer com um, era mexer com todos


Notas Finais


somos uma alcateia. lembram do jimin de oc cantando wolf? eu escrevi lembrando dessa cena.

mexeu com um, mexeu com todos.

comentem aqui embaixo o que acharam. tivemos muitas coisas bonitinhas nesse capítulo, né? taegi, um tequinho de yugkook, namjão resolvendo uma parte dos problemas................

obrigada quem leu até aqui, até o próximo. UM BEIJO NO CORAÇÃO DE CADA UM. a tag ofc da fic no twitter: #wuahtaegi e é noix. <3


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