— Isso é realmente necessário? — Olhou para o melhor amigo que andava pacientemente pela loja, estudando cada peça ali. — Ele te deu um buquê e você vai retribuir com diamantes? É isso? — Em sua cabeça aquilo não fazia sentido. Quero dizer... para quê?
Era um homem muito econômico, deveria ressaltar isso. Quando criança, teve o suficiente para viver tranquilamente, sua mãe nunca lhe deixou faltar nada. Mesmo que tivesse que trabalhar em dois empregos. Honrava muito o dinheiro que vinha em suas mãos.
Casou com uma mulher incrível que igualmente pensava no futuro. Estavam guardando dinheiro para terem um filho e todo o resto, estava investido. Tinham a empresa de roupas, trabalhava muito bem como artista plástico e ela como consultora de moda. Estavam muito, muito bem!
Ia em tantas palestras de economia e bem que tentou levar Yoongi em uma dessas, mas ele se recusou e logo depois trocou o Audi Q3, por uma Mercedes-AMG. Aquilo foi para lhe afrontar, com certeza. Aquele baixinho metido à besta...
E como se já não tivesse brigado o suficiente com ele sobre aquele gasto excessivo em coisas que poderiam e deveriam, ser evitadas para casos emergenciais futuros... ali estavam.
Em uma joalheria de diamantes. A mais famosa do país, a mais cara. Só de pisar ali, sua carteira já apertava no bolso.
— Relaxe. — Pediu o músico, parando em um local específico, vendo brincos. Não eram sua prioridade, mas... — Só te trouxe pra ser o tradutor. — Murmurou mais concentrado no brilho daquelas pedras tão cristalinas.
Jinyoung respirou fundo e desistiu. Era inútil de qualquer jeito. Se aquele idiota queria comprar diamantes para o namorado mimado, ele compraria. Com consentimento ou sem. Aquele casal... sinceramente...
Enfiou as mãos nos bolsos da calça de algodão e foi seguindo o menor, vendo-o realmente empenhado em procurar algo.
— Vai dar uma aliança pra ele? — Questionou curioso, porque sabia do trauma do melhor amigo.
As bochechas do mais velho ficaram vermelhas e rapidamente negou. Aliança? Pff. Não era necessário usarem uma. Já estavam juntos o suficiente, aquela merda era uma cordialidade e definitivamente não queria ela. Já tinha uma tatuagem para ele, um anel era... era o menor dos seus problemas.
Quer dizer, o maior? Jesus. Não sabia mais o que estava pensando, estava nervoso. Focou nos pontinhos brilhantes.
— Só quero um presente legal pra hoje à noite. — Chegou em algo, definitivamente "algo". Era bonito. — Sabe, pra dar sorte e essas porras. — Olhou ao redor, procurando algum consultor, algum qualquer um que entendesse de pedras e fosse receber sua grana.
Assim poderia voltar logo para o hotel e começar seu dia. Taehyung ficou lá, sonolento, quando teve que sair avisando que iria dar uma volta com o Park. O pirralho estava tão sonolento, que apenas disse para terem cuidado, porque as ruas de Seul estavam perigosas ultimamente.
Teve que rir. Riu antes de dar um beijo demorado – e não correspondido – nos lábios do moleque delirante, antes de dizer que estavam muito longe de casa.
E, bem, Taehyung sorriu. Sorriu todo preguiçoso antes de sussurrar um "que bom". Era bom mesmo. Por isso lhe deu mais um beijo e esse foi correspondido e quase desistiu de sair.
Mas alguém precisava comprar o presente. Leu em algum lugar remoto do Google que aquele país era bom em duas coisas. Na verdade, três. Diamantes, cerveja e maconha. Como o item três não fazia seu estilo – e definitivamente não iria nunca fazer o de seu namorado, ia ficar nos ítens um e dois.
Cerveja mais tarde, diamantes agora.
— O que planeja fazer enquanto estivermos fora? — O evento era fechado apenas para convidados credenciados e Yoongi não era um deles.
Mas tudo bem, o rapper estava pouco se fodendo para isso. Odiava arte de qualquer maneira, era tedioso e nunca entendia exatamente o que queriam dizer em um borrão de tinta com respingos que mais pareciam cuspes, e um título em russo.
Até Yeontan podia fazer melhor. Com certeza poderia!
— Eu tenho tudo planejado. — Virou para o mais novo e infelizmente, diabolicamente, mais alto. — Vou na fábrica da Heineken, beber cerveja grátis, ligar pro Jimin e fazer inveja nele. — Maneou a cabeça, contando seus objetivos para aquela noite de liberdade na Holanda. — Talvez tirar uma foto e mandar pro meu médico também, mandando ele se foder.
— Yoongi! — Repreendeu e ganhou uma risadinha sacana. Fala sério, que crianção.
— Essa parte é brincadeira. — Piscou um dos olhos e abriu um sorriso gengival, ganhando uma expressão de incredulidade do outro. — Vamos comprar logo isso e comer alguma coisa, eu tô morrendo de fome. — Grunhiu mal humorado antes de sair atrás de algum consultor. — Com licença, — Chamou com seu inglês precário, uma das vendedoras que rapidamente o encarou sorridente. Sorridente demais para seu gosto, pessoas sorridentes eram assustadoras. Apontou para um balcão-vitrine específico. — Ajuda... ham... como é a palavra? — Sussurrou em coreano sua última sentença, estalando o dedo, tentando lembrar.
Talvez se não tivesse ignorado as aulas idiotas de seu pai, dizendo que não precisava falar inglês, uma vez que seu agente fazia tudo por ele. Os staffs arrumavam tudo. Não ia se dar ao luxo. Não precisava.
Com dezenove anos não considerou a ideia de se aposentar aos trinta e viajar sem nenhum agente em seu pé. Ótimo. Era um turista fodido, solitário e burro.
É... deu mole.
— "Me ajude na compra". — Sussurrou o artista plástico, ao ouvido do músico, lhe dando um tapinha amigável no ombro.
— É. Me ajude na compra. — Retornou para a vendedora que assentiu, entendendo que eles não eram dali.
— Claro, venham comigo. — Pediu educadamente, mostrando o caminho até onde o cliente havia apontado, a área de brincos.
— Não te trouxe pra fazer sombra, não. — Virou para o de camisa social que lhe encarou incrédulo, falando entredentes, como se alguém ali pudesse entender. — Bota essa língua internacional pra funcionar. — Passou por ele dando um pequeno esbarrão ombro à ombro.
— Que foi? A língua tecnológica do grande Agust D só funciona na Ásia? — Debochou andando na cola do amigo que lhe encarou por cima do ombro, apertando os olhos, bravo.
Oh, que medo. Kim Yoongi não sabe falar inglês. Que calamidade!
— Vou te mostrar a língua tecnológica funcionando, seu pouca bosta!
— Eu sou hétero e casado, mas valeu o flerte. — Sorriu falso. — Não gosto de gente baixinha, me dá agonia ficar olhando pra baixo toda hora.
— Ora seu-...
— Senhores. — Imediatamente ambos olharam para frente, vendo a mulher ruiva com enormes olhos verdes, ainda sorrindo, não entendendo nem uma palavra pronunciada naquele idioma embolado que eles falavam em sussurros. — Essa coleção é especial, se chama Solitaire. Com diamantes extraídos e lapidados na Antuérpia, a cidade dos diamantes,-...
— O que ela está dizendo? — Sussurrou para o maior, quase sem mover os músculos do rosto, dando uma leve cotovelada em sua barriga.
Foi um erro levar aquele engomadinho pau no cu. Sinceramente. Na próxima, ele contratava um tradutor, porque seu melhor amigo não servia para nada além de dar sermões de economia e fazer um discurso coach quando estava para baixo, querendo apenas falar meio quilo de merdas para esvaziar seu coração.
Palestrinha do caralho. Ele ia ver só... ia ver. Ia tomar de volta todos os presentes que deu no casamento dele com Jisoo. Tinha certeza que ele tinha metade dos eletrodomésticos que deu de presente, após ser convidado para ser padrinho.
— Alguma merda desinteressante sobre de onde as pedras caras foram cavadas, você não quer realmente saber disso. — Respondeu de volta, no mesmo tom.
— Possui cinquenta pontos de diamante especialmente únicos em seu formato de lapidação, todo revestido em ouro branco-...
— Taehyung gosta de toda essa merda inútil, eu vou querer saber. — Sussurrou de volta, não entendendo um "a" pronunciado no inglês perfeito da vendedora sorridente.
— Fala sério. — Estalou a língua no céu da boca, rindo nasal. — Você nem sabe pronunciar Antuérpia, seu língua presa irritante.
— Vou prender ela ao redor do seu pescoço e te matar asfixiado, Park Jinyoung!
— E custa quatorze mil, oitocentos e noventa euros.
Até a briga infantil entre os dois homens coreanos, ficou em silêncio após o preço ser dito. Nenhuma das peças ficava exposta com sua etiqueta de valor, apenas depois da apresentação, era dito seu exato valor de mercado. Yoongi estava acostumado com isso, então não estranhou. O valor também não era exatamente importante, mas...
O de roupa social abriu os olhos assustado. Por que era tão caro? Eram só... só pedrinhas. Podia fazer um igual com pedras de gelo.
— Chegou a hora de você pagar, sugar daddy. — Sussurrou para o melhor amigo que o encarou por cima do ombro. — Mais de um milhão de wons.
— Tá interessado em comprar um prédio de vinte andares em Gangnam? — Abriu um sorriso. Bom, pelo andar das coisas... namorando um homem caro como Kim Taehyung... — Ou vou ter que penhorar meus rins?
— Pff. — Negou. — Ninguém vai querer comprar seus rins podres, você bebe como um veterano da guerra do Vietnã.
Ponderou. Isso era uma verdade. De todo o modo, ainda tinha dinheiro no banco, então ia gastar como bem entendesse. Seokjin lhe dizia que precisava de uma aula de educação financeira, mas não repetiu isso depois que investiu no restaurante dele, uh? Grande mercenário.
Estava rodeado de cobras. Sorte deles que gostava de cobras. Um dia, quem sabe, ia montar um viveiro... Taehyung não gostava muito da ideia, mas... por ele podia ter um pet e Yoongi não?
Direitos iguais.
— E então? — A holandesa voltou a perguntar, vendo ambos conversarem em outro idioma. — Desejam ver algum outro?
— Não, esse está ótimo. — Respondeu o mais alto, impedindo o Kim de gastar mais dinheiro em pedrinhas de gelo. — Apenas vamos procurar algo mais barato... — Sussurrou, colocando ambas mãos nos ombros estreitos do homem de cabelo curto. — Seu namorado adora miçangas.
— Fala sério, olha esse cara. — Resmungou. Por algum acaso, ele estava dando ideia de comprar algo hipponga para o mais novo? Abriu a carteira e tirou o cartão de lá, estendendo para a vendedora. — Presente. — Falou embolado, apontando o par de brincos que foi apresentado.
Gostava de presentear seu namorado, aquilo ali não era nada. Não poderia ir com ele naquele evento, mas pelo menos ia deixar um pouco de conforto, uma prova que estaria pensando nele, que estava tudo bem e daria tudo certo. Mesmo que ele não fosse exibir nada daquela vez, era um momento extremamente importante.
Um artista precisa de conexões e, nada melhor do que conexões com artistas renomados dentro de um dos museus mais importantes do mundo. O de Van Gogh, a paixão daquele pirralho. Sabia o quanto ele admirava aquele cara, então... era uma noite importante. Muito importante.
E como um bom namorado, estava ali para apoia-lo. Incondicionalmente.
— E é isso. — Suspirou o mais novo, deixando os ombros caírem. Aquele hyung não tinha mesmo jeito. — Agust D acaba de ficar quatorze mil, oitocentos e noventa euros mais pobre.
— E muito mais apaixonado, obrigado. — Fez o sinal de paz com a mão direita, fingindo um sorriso antes de sair atrás da mulher. Precisava assinar o recibo.
Jinyoung negou. Aquele cara era realmente um coração mole quando se tratava de amor.
— O Taehyung quer, — Levantou uma mão, exemplificando seu aluno. — o Yoongi hyung compra. — Levantou a outra mão, encaixando uma na outra. Negando consigo mesmo.
Não se surpreenderia se qualquer dia Kim Taehyung aparecesse cantando aquele hit pop. Aqueles burgueses metidos...
Quando deu por si, estava procurando algo para comprar para sua linda senhora que o esperava em casa. Por que foi falar mal de Kim Yoongi? Também era um grande idiota quando se tratava de amor.
Com certeza voltaria falido para a Coreia. Ele e Yoongi teriam que fazer show de stand-up no centro de Itaewon para ganhar trocados. Já podia visualizar isso... seu futuro... um comediante por puro desespero e desgosto!
— Com licença, — Chamou outra vendedora, sorrindo educado assim que teve a atenção. — posso ver alguns colares?
Era um economista hipócrita quando tinha amor no meio.
O amor... ele nos leva a falência.
...
— Isso custou dois euros e você tá jogando pra bicho comer? — Taehyung era realmente normal? Apostava que não. Não! Definitivamente, não.
O garoto virou o rosto, apertando os olhos pelo cabelo vindo junto com o vento forte, bagunçando e atrapalhando a visão. O que Yoongi estava falando? Eram cisnes. Uma família.
Uma família de cisnes com fome. Quando você vê uma família com fome, você a alimenta.
— Eles estão com fome. — Respondeu simplesmente, voltando a atenção para os bichinhos que se amontoavam à beira do canal.
Despedaçou um pouco mais do pão de seu hambúrguer e jogou os farelos para que eles pudessem comer. Sorriu ao ver o filhotinho pegar um pedaço, deixado por um dos cisnes maiores que deveriam ser seus pais. Tão fofo.
Yoongi revirou os olhos e negou, ainda sem entender porque aquela criança era tão... céus. Sentou ao lado dele com aquilo empanado que tinha comprado para si mesmo, dando uma mordida. Tinha deixado para comer com o namorado, porque iam passear um pouco e se comesse com Jinyoung, não poderia aceitar todas as comidas esquisitas que o maior estava afim de provar.
Quando falaram sobre "almoçar fora", já imaginava um restaurante, com muita sorte, que servisse comida asiática. Qualquer uma. Mas não! Claro que não. Namorava um turista curioso.
Anotou no bloco de notas sobre nunca viajar para países exóticos com o pintor. Tsc. Não! Nunca mais. Ele era literalmente do conceito de aproveitar tudo, sem restrição.
Deixou subentendido que gostaria de visitar o distrito da luz vermelha. Até sua operação doeu quando ouviu aquilo. Podia facilmente ter uma síncope e voltar para o hospital.
Depois ele riu bem largo e disse: brincadeira.
Tinha certeza que era Yugyeom quem estava por trás de tudo aquilo. Certeza!
Mastigou enquanto respirava fundo e totalmente desinteressado nos bichos flutuantes.
— Isso não é legal? — Perguntou entusiasmado, o mais novo, olhando para o lado. — É como comprar um refrigerante. Basta colocar uma moedinha e já temos um lanche. — Balançou o seu, já todo despedaçado, quase só restando carne e salada. Mas isso não importava! — Sem filas e atendentes de cara feia.
— Você nem tá comendo o seu. — Debochou de boca cheia e teve aquele gigante infantil jogando o corpo para si, ainda com aquele sorrisinho preguiçoso. — Quê? — Murmurou, estranhando aquela aproximação toda. — O que você quer?
Piscou excessivamente os olhos e suspirou longamente, parecendo estar vivendo um sonho. Alimentando cisnes ao lado de seu namorado, em um lugar que poderiam ficar pertinho... fala sério...
— Obrigado pela refeição. — Ganhou um assentir ao que ele voltava a mastigar. — O seu é bom? — Indicou a comida estrangeira que Yoongi tinha comprado. Ele resmungou positivamente, então abriu a boca.
— É apimentado, você não gosta. — Negou veemente e o mais novo franziu as sobrancelhas, contrariado, fechando a boca. — Tem um de frango lá, quer que eu compre? — Taehyung negou, amassando a bochecha no ombro do namorado, mas ainda o encarando. — Você não comeu nada, vamos passar em algum lugar.
— Eu posso comer o resto. — Sinalizou o hambúrguer. — Só posso dar os pães para eles. — Voltou a olhar a família de cisnes que lhe encaravam, esperando o resto. — Acha que eles gostariam de viver em Seul?
— Os bichos planadores?
— É. — Se aconchegou mais ao lado do menor, ouvindo-o suspirar, o corpo um tanto tenso.
Ele ainda estava em modo defesa... não tinha se acostumado que ali podiam ficar à vontade. Aliás, sua roupa foi toda escolhida nessa intenção! Usava boné preto para esconder um pouco o rosto e teve que pedir muito para que ele não usasse máscara.
Estavam bem. Estava tudo bem. Podiam... ser eles mesmos.
— Não... — Refletiu consigo mesmo sobre isso. Alguém em sã consciência gostaria de trocar aquela paz por uma cidade agitada? — Se eu fosse um deles, não iria. Aqui já teria tudo, não é? Idiotas pra me dar comida de graça.
— Ya? — Por algum acaso, foi chamado de idiota? É isso?
— Bastante espaço pra sair boiando. — Olhou o garoto deitado em seu ombro e segurou o sorriso ao ver sua cara insatisfeita com a resposta. — Pra que sair daqui? Seul já é cheio demais.
Teve que concordar. Às vezes pensava seriamente se gostaria de continuar vivendo em Seul com todo aquele agito. Talvez fosse bom ir para um lugar mais calmo, vazio, onde poderiam viver confortavelmente. Teria um ateliê no quintal de casa, um jardim de inverno e com muita sorte, uma estufa de flores. Isso seria incrível.
Yoongi poderia ter um estúdio no último andar da casa, teriam um espação para criar muitos cachorros e teriam móveis rústicos. Isso soava bem, não é? Talvez uma criança... gostava dessa ideia...
Quem sabe duas...
Quando deu por si, tinha se ajeitado e deitado sobre as coxas do mais velho, perdendo seu olhar no céu azul com algumas nuvens brancas. Pareciam algodão doce.
Virou o olhar para cima, sorrindo leve... tranquilo... como nunca percebeu que aquele velho rabugento ficava lindo enquanto apenas... estava quieto? Observando as coisas ao redor, não parecendo nada impressionado.
Deixou a comida de lado e usou ambos os braços, jogando-os para trás, enlaçando a cintura vestida com uma camisa branca, ganhando a atenção dos olhos pequenos.
— Obrigado por ter vindo. — Murmurou rouco, sobrepondo o som dos cisnes, das pessoas ao redor, do vento... Yoongi sorriu pequeno e assentiu. — Hoje é um dia muito importante e eu-... — Ficou um pouco mais tenso ao lembrar seu real propósito ali. Nem conseguiu dormir direito. — eu realmente precisava de você aqui.
— Hum. — Concordou, porque sabia bem disso. Taehyung era tão inseguro quanto si mesmo, o conhecia bem. Levou a mão livre até o cabelo bagunçado pelo vento, tentando arrumar. — Você vai se sair muito bem, acredito no seu potencial. — Moveu delicadamente o polegar em uma das sobrancelhas em um carinho. — Só seja você e vai dar tudo certo. — Garantiu em um sussurro, como se fosse um segredo.
Às vezes parava para pensar nisso. Em como Taehyung era novo e tão cheio de pressão em cima, tão... lotado de merdas na mente. Estava tentando não exigir tanto dele, porque admitia que por vezes esquecia que ele ainda era apenas um garoto jovem, pouco tempo se passou desde que ele era um adolescente.
Com aquela altura, voz e trejeitos, podia facilmente confundir qualquer um com sua idade, mas só de olhar aqueles olhos grandes... o jeito expressivo que o encarava naquele momento. Que o encarou naquela noite do primeiro beijo, no dia que se declarou, quando foi embora...
Aquele olhar... conhecia bem ele. Kim Taehyung era apenas uma criança insegura por dentro, com medo de dar um passo em falso e estragar tudo. Que engrossava a voz para que ninguém se importasse consigo, mas que por dentro tremia, chorava e pedia desesperadamente por qualquer ajuda. Que ainda não sabia andar sozinho sem ter alguém segurando sua mão.
Estava ali por ele, mas não para servir de zona de conforto, mas sim de empurrão. Para mostrar que ele poderia caminhar sozinho, dar passos largos e, tudo bem se errar, podia recomeçar. E no fim disso tudo, ele teria sempre para onde voltar.
Uma casa. Um lar. Uma pessoa. Um lugar só dele, onde podia gritar, chorar, sorrir, ser criança, frágil, inseguro, inexperiente. Era esse lugar. Era essa casa. Esse lar. Essa pessoa.
E guardava os segredos dele, como um bom diário. Um bom namorado. Um bom cúmplice.
— Você vai ficar bem, Kim Taehyung-ssi. — Continuou no mesmo tom, pouco piscando enquanto encarava aqueles grandes olhos, de cabeça para baixo por conta da posição. — Tem ido bem até agora, como eu já esperava que seria. — Desceu os carinhos para a lateral do rosto perfeito, sentindo a pele macia sob seus dedos. — Confie em você. — Tocou a testa dele, rindo baixinho vendo-o franzir ali. — Eu confio.
— Confia? — Murmurou ainda frágil, concentrado nos olhos fixos do menor que assentiu.
Confiava completamente, cegamente, naquele homem. Ainda era um pouco estranho pensar que confiava tanto em uma pessoa depois de tudo o que passou, do que prometeu para si mesmo – de nunca mais acreditar em nenhum ser-humano. Mas, então, ali estava.
Parou o polegar nos lábios bem moldados, acariciando ali. Ganhou um beijo lento. De repente, não existia mais aquele olhar inseguro que tanto o remetia coisas ruins. Agora eram apenas... boas sensações.
Boas sensações e coração acelerado. Sua garganta ficou seca. Por que ele ficava tão lindo a cada dia que se passava? E... cara. Ele ainda vestia aquelas roupas beges sem graça, que sempre brincava parecerem de filho de pastor ou algum moleque virgem de uma escola católica.
Mas... havia algo. Era como no dia que comeu kimchi pela primeira vez. Visualmente não era bom, mas o gosto... amava o sabor. Era daquilo que estava falando. O sabor. Como no dia que descobriu o basquete com Namjoon. Não entendia nada, mas algo entre as cestas e o barulho do placar, fazia seu estômago gelar.
Mas diferente de todas essas vezes, era que depois da primeira vez, tudo se normalizava. Virava parte de si, como um banco de dados, seu cérebro se acostumava e tudo bem. Só que... não quando era Kim Taehyung.
O beijo ainda era louco, cheio de vontade, saudade. Quando sentia seu cheiro ainda ficava como um idiota suspirando, guardando aquele aroma dentro dos pulmões. O sexo ainda era cheio de detalhes e ainda tremia e perdia a força das pernas quando sentia o toque macio dos dedos dele em cada centímetro de sua pele.
Fazendo arte. Arrancando a força aquele branco sem graça, dando vida ao pálido. Ardendo como fogo contra si, o encarando como se fosse a última coisa que ele poderia enxergar antes de enlouquecer. Ou, a única coisa que o mantivesse são.
Sanidade... ainda tinha alguma? Ainda podia se considerar são? Tinha esse direito? Mesmo agora quando estava abaixando o rosto, segurando o queixo do namorado para que ele não se movesse. Talvez se ele o fizesse, recuperaria sua lucidez.
Não queria estar lúcido mais. Preferia a loucura de amar Kim Taehyung, de pertencer a Kim Taehyung.
Ali só quis ser normal, um cara comum, não queria ser ele mesmo por alguns segundos. Só alguns. Esqueceu que era Kim Yoongi, esqueceu seu trabalho, seu passado, seu futuro e seu presente. Apenas esqueceu. Apagou de sua mente e juntou os lábios aos dele. Leve. Delicadamente.
Agora era o cara de preto beijando o cara de roupa bege. O cara que mais parecia um nada com aquelas roupas, beijando o que parecia um príncipe na orla de um dos canais mais famosos do mundo, na frente de uma família de cisnes.
Taehyung sentiu o corpo inteiro relaxar com aquele toque invertido. Era engraçado, até. Por isso acabou sorrindo contra os lábios pequenininhos e na hora que ia levar uma das mãos para a nuca, o impedindo de levantar, o rapper pareceu voltar a si e se afastou.
Vagarosamente reabriu os olhos e o encarou, o vermelho tomando conta das bochechas, das orelhas. Viu de perto o mais velho olhando ao redor, encabulado, procurando alguém que pudesse estar ofendido com aquele gesto tão singelo.
— Estamos na Holanda, hyung. — Levantou e sentou-se novamente. Yoongi não podia ficar abaixando por causa do machucado. — Ninguém vai aparecer gritando que vamos pro inferno. — Brincou sarcástico, cruzando as pernas, ficando de frente para o músico que fechou a cara.
Seu sangue fervia só de pensar nessa merda. Por que pessoas tinham que ser tão babacas? Nem ao menos pediu opinião a alguma delas. Foda-se a porra do inferno. Eles queriam um? Ia fazer um para cada um.
Porra. Homofóbicos de merda.
— Eu pouco me fodo pra esses imbecis. — Rolou os olhos. Nunca deu a mínima para eles e seus achismos.
Isso soou como um convite para o de cabelo enrolado que abriu um sorriso e ergueu as sobrancelhas, curioso. Então seu namorado era tão desconstruído nesse nível? Ele não ligava? Nem um pouquinho? Bem...
— Então me beija. — Sugeriu, apoiando as mãos nas coxas e jogando o corpo para frente, se oferecendo. Ele recuou. — Oh. — Tombou um pouco o rosto para o lado, analisando bem a timidez brilhando nos olhos pequenos. — Você liga pra eles? — Indicou os turistas ao redor.
Ninguém estava nem aí para eles, essa era a verdade. Todos preocupados com suas próprias vidas, tirando fotos, rindo, andado de lá para cá. Não importava se eram dois homens ali, quem eram... ninguém se importava.
Mas ainda era estranho. Beijar Taehyung era bom em qualquer momento, mas em público, ham... desviou o olhar para qualquer outro ponto que não fosse aqueles olhos que mais pareciam de desenho. Tão grandes e brilhantes.
Ora... coçou a garganta, fingindo não ligar nem um pouco para aquilo. Não precisava beijá-lo ali, na frente de todos, para provar algo. Não mesmo. Isso era bobo. Suspirou, vendo pássaros voando, sentindo aquela brisa fresca.
Ganhou um beijinho no queixo. Rápido. Tão leve que só soube que era realmente um selar, porque ouviu o estalar e a risadinha daquele pirralho.
— Ya. — Abriu bem os olhos, incrédulo, encarando o moreno de sorriso largo e aquela expressão de criança louca. Ele era maluco... — Fedelho. — Ganhou um selar nos lábios. Imediatamente ficou quieto, mas esse também foi rápido. Franziu as sobrancelhas. O que ele estava pretendendo? — O que porras você tá-... — Mais um. — fa-... — Mais um. — zend-... — Mais dois. Seguidos. —...o?
— Beijando meu namorado. — Respondeu óbvio, sem mudar aquela posição e muito menos sem afastar o corpo.
— Que namorado? — Murmurou, franzindo o nariz e virando a cara.
O mais alto riu, jogando-se para seus braços. Fala sério. Que garoto sem noção. Segurou, óbvio, não tinha outra opção, tentando não cair para trás ou para dentro do canal. Ia se afogar e levar os cisnes consigo. Não sabia nadar, merda.
— Você! — Grunhiu cheio de manha, se agarrando ao corpo pequeno, quase esfregando o rosto na camisa cheirosa do mais velho que o segurava firme, abraçando-o. — Meu namorado, Kim Yoongi-ssi. — Olhou para cima, bem pertinho daqueles lábios pequenos que tanto amava. — O hyung mais rabugento do mundo.
— O mais legal! — Corrigiu na hora, ouvindo um grunhido em negação.
— Você tá bem longe de ser legal, hyung. — Estalou a língua no céu da boca, negando. Yoongi? Legal? Isso não combinava.
Ah... é? Aquele artistazinha fajuto. Ia quebrar todos os pincéis dele. Trocar as tintas por água suja. Como podia dizer em sua cara que não era legal? Tinha fãs pelo mundo todo, eles o amavam. O achavam o cara mais legal.
Kim Taehyung! Pirralho...
— Pode até ser um pouquinho — E lá vinha ele com mais palavras ofensivas a sua moral e história. Sempre foi um cara legal, então o calou. Mordeu seu lábio inferior e puxou para a própria boca. Chega de falar merdas. — simpático. — Teve que rir com o jeito que ele tentava falar, mesmo com a boca sendo mordida. O segurou pelo pescoço e teve os ombros envolvidos. — Mas legal... — Era legal sim! Que chatice. Que moleque chato.
O calou de vez, largando o lábio inferior para pressionar os seus aos dele. Diferente de todas as outras vezes, não se afastou rápido e muito menos estava de olhos abertos para saber se alguém estava vigiando ou se importando. Não queria saber. Não importava.
Teve o boné tirado pelo namorado assim que os lábios se entreabriram, as línguas se juntaram em um toque lento. Suspirou em satisfação com aquele toque macio, o jeito que ele movia o rosto. Lento... com jeito...
Era um pouco diferente do comum. Sempre se beijavam em casa, então tinha silêncio. Mas ali, não. Conseguia ouvir vozes aleatórias ao redor, pássaros cantando, o som do vento, da água e também havia o sol fraquinho iluminando tudo.
Não era mais abajures ou lustres. Ambientes totalmente fechados e escondidos. Era um dos pontos mais comuns de um lugar, céu aberto, de um começo de tarde qualquer... merda. Aquilo era muito legal.
Acabou sorrindo enquanto virava o rosto, dando uma pequena pausa no beijo, roçando a ponta dos narizes, ganhando outro sorriso de volta, um selar demorado. Sério mesmo que estava beijando Kim Taehyung no meio de algum lugar?
Oh, merda. Merda. Isso era... caralho. Voltou a beijá-lo com mais vontade, realizando finalmente o que tanto sonharam durante um longo tempo.
Ser normal. Apenas... normal.
— Hum. — O mais novo foi o primeiro a apartar o beijo, lambendo os lábios e rindo fraquinho. — Você tinha razão, — Afastou um pouco o rosto e apontou para o que ele comia. — é apimentado. — Fez careta, porque agora sua língua queimava um pouco.
— Vamos arranjar algo de verdade pra comer. — Olhou para o que estava comendo e negou. Perdeu à vontade. — Algo coreano, de preferência. — Taehyung riu enquanto levantava, embrulhando o que tinha restado de seu lanche.
Ou, a comida dos cisnes. Levantou e olhou para a água, eles tinham se afastado. Que pena. Estava planejando pegar um e sair correndo, criar na piscina do prédio, quem sabe? Yoongi era quem mais pagava caro naquele lugar, então podiam criar um cisne se quisessem, certo?
Ou podiam se mudar de vez para uma casa. Sair da conversa e tomar essa atitude logo.
— Amor, que tal a gente ver umas casas quando voltarmos? — Estendeu a mão para o menor levantar.
— Pensei que quisesse passar mais tempo no apartamento. — Agarrou-lhe a mão e levantou, limpando a grama nas roupas com a única mão livre.
Consentiu. Isso era verdade. Depois que ganhou seu ateliê de presente, realmente falou com o namorado que poderiam ficar mais um tempo, mas conforme o tempo ia passando, mais queria privacidade e mais espaço. Principalmente pelo fato que gostaria de redecorar tudo.
O apartamento de Yoongi era escuro, com móveis escuros. Por que não tentar um conceito aberto e bem clean? Estava pesquisando muito sobre decoração nos últimos dias.
— Eu quero. — Suspirou, pegando o resto de comida da mão do namorado, juntando com o seu e jogando fora em uma lixeira orgânica. — Mas eu queria mudar tudo de lugar, redecorar tudo, adotar mais cachorrinhos e ter um jardim.
— Vamos dar uma segurada agora. — Olhou o mais alto que assentiu, colocando a alça da bolsa no ombro. — Preciso resolver algumas coisas, não dá pra pensar muito bem nisso. — Sentiu a mão ser segurada, os dedos entrelaçados. — Mas se quiser redecorar o apartamento...
— Não, eu vou esperar. — Levou as mãos juntas até os lábios, deixando um beijo na do menor. — Antes de vir pra Holanda, paguei as contas, porque sabia que você ia esquecer, inclusive. — Olhou de relance para o rapper que só lembrou naquele momento. Começou a rir e parou no caminho, recolocando o boné na cabeça dele. — Tenho alguns trabalhos pra fazer, também, então quando voltarmos, vou abrir uma poupança no banco e também uma conta pra emergências. — Beijou o rosto do mais velho e viu ele assentir.
Realmente era péssimo em controle de contas. Horrível. Quando morava sozinho, deixava suas contas nas mãos de Max, ele resolvia tudo. Quando morou com Jinyoung, ele quem controlava as finanças. Agora namorava e era Taehyung que fazia o controle de tudo aquilo.
— Pra casa? — Perguntou para ele, interessado no assunto. Não era má ideia, aliás.
— Sim. Pra nossa casa. — Voltou a andar, trazendo o namorado consigo, alegre de poderem finalmente conversar sobre aquilo. — E o emergencial, é pelo depósito que você fez no prédio, dos meus investimentos... precisamos ter algum socorro antes de apelar pros papais. — Yoongi riu gostosamente e acabou rindo junto. — Imagina? Ter que pedir ajuda deles pra isso?
— O Namjoon ia me xingar pra caralho. — Coçou a nuca, sem graça só de pensar nisso.
Sabia que o pai era meio desajeitado quando se tratava de dinheiro, mas sabia controlar bem. Não foi muito a favor quando lhe disse sobre largar a carreira e começar do zero em outro lugar, em outras coisas. Para ele, ia falir. Okay. Tinha esse perigo, mas...
— Mas o papai — E Yoongi sabia que o mais alto estava falando de Seokjin. — ia ajudar. — Lembrou esse importante fato, porque sabia bem que o cozinheiro ia ser muito solicito. Ia ajudar em tudo o que pudesse.
— É, claro. — Atravessaram a rua, indo para o próximo local de visitação. Olhou para o lado, vendo o bonde vindo, então deu uma pequena corrida, carregando o maior consigo, sem largar sua mão. — Depois de falar mil vezes sobre o valor do dinheiro, de chorar por causa de desgosto falando que não nos criou assim. Gritar como somos irresponsáveis.
— E nos colocar pra trabalhar no restaurante. — Completou, ouvindo o músico rir. Eles conheciam bem os pais que tinham.
Para tentar colocar Hoseok nos eixos e tirar seu vício em apostas e jogos de azar, que ele jurava por tudo, que ainda ia ganhar e fazia todos os irmãos investirem em si; os pais colocaram ele para trabalhar no restaurante.
Não deu muito certo, ele ainda tinha um sonho de ganhar na loteria e comprar uma ilha para chamar de Hopeland. Se Michael Jackson tinha Neverland, ele poderia ter Hopeland. – palavras dele mesmo, sem tirar, nem pôr!
— Exatamente. — Trocou de lado com ele, ficando na direção da rua e o colocando para a calçada. Voltou a segurar sua mão, entrelaçando os dedos. — Quer dizer, eu. — Riu debochado. — Porque você não cozinha porra nenhuma.
— Eu cozinho sim. — Ficou injuriado. Como assim? Naqueles dias onde ele ficou ocupado, quem estava cozinhando? Ora... — Você comeu minha comida essa semana-...
— Situações desesperadas, medidas desesperadas. — Parou de andar do lado dele, para andar de costas, deixando o namorado guiar seu caminho. Abriu um sorriso maior. — Não posso comer fast-food em tempo de recuperação, infelizmente.
— Por que você é tão cruel? — Choramingou, vendo-o debochar de sua cara, imitando sua expressão desolada.
— Porque eu te amo.
— Isso não faz sentido. — Pegou a outra mão daquele baixinho marrento, tentando puxa-lo.
Por que ele estava andando de costas? E se caísse? Céus. Pelo jeito que estava rindo, se divertindo com sua cara, não estava nem aí para uma possível queda. Fala sério. Era mesmo um hyung? Por que estava agindo como Moon ou qualquer dongsaeng?
Viu uma mulher vindo totalmente distraída, mexendo no celular e com fones de ouvido. Yoongi ia bater nela. Deveria deixar, assim ele teria aquele sorrisinho sumindo.
Tão debochado...
Puxou-o para si com certa força, prendendo os corpos juntos. E agora? Cadê o sorrisinho? Hum? O envolveu pela cintura, se certificando que não ia fugir. Aquele gato arisco... se desse mole, fugia pulando pelos telhados.
— Ya. — Ainda com a sombra de um sorriso, o rapper disse, tentando se soltar, mas estava preso. — O que está fazendo? — Olhou discretamente ao redor, ali era uma área mais cheia do que as outras. Engoliu em seco, abaixando sutilmente a cabeça. — As pessoas estão olhando...
— É porque você é bonito. — Murmurou rouco, o abraçando com mais jeitinho, respirando calmo.
— É porque você é estupidamente alto e tá usando uma calça de vovô. — Retribuiu o abraço, ficando confortável ali. Fechou os olhos, ouvindo aquela risada rouca...
Yoongi... desaforado.
— É porque a gente se ama. — Beijou-lhe a cabeça por cima do boné, andando meio desajeitado para fora do fluxo de pessoas, ainda guardando o namorado consigo. — E porque fazemos um casal lindo.
Ele grunhiu em concordância. Tinha que concordar. Eram realmente lindos. Mas... afastou o rosto e encarou o moreno, vendo aquele rosto perfeito, aquele sorriso moldado nos lábios. Fala sério. O segurou pelas bochechas, acariciando ali com os polegares.
É... com certeza estavam olhando porque Kim Taehyung era a coisa mais linda que todas aquelas pessoas vão poder ver em suas vidas.
— É porque somos um casal do caralho. — Respondeu e ganhou uma risada. Teve que rir junto. — E ninguém aqui pode ter um namorado tão fodidamente lindo que nem eu. — Suspirou, encantado com os detalhes daquele moleque que pela primeira vez, ficou sem jeito. Desviando o olhar. — Sou o filho da puta mais feliz e sortudo dessa merda.
— Não sabe falar sem xingamentos? — Sussurrou sem graça, sem saber o que dizer, voltando a atenção para o rapper que ergueu uma sobrancelha e riu sacana, adorando aquela reação tímida.
Ainda tinha alguns bons xingamentos, ele não queria ouvir? Mas era o primeiro a pedir por eles quando estavam em cima de uma cama fodendo. Sinceramente... pirralho sensível e confuso.
— Não quando eu estou ansioso. — Deu de ombros. Não sabia controlar a língua, já tentou.
Taehyung estranhou. Ansioso? O mediu seriamente. O que estava acontecendo.
— O que foi? — Perguntou solicito, atento no rosto do menor que riu nasal, bem fraquinho.
E aquele cara ainda se dizia um grande romântico, uh? Bem... estava aprendendo algumas boas coisas por aí. Firmou mais os dedos no rosto bronzeado e puxou delicadamente para baixo.
— Ansioso pra beijar você de novo, pirralho. — Sussurrou direto, embora ainda estivesse nervoso, ansioso, por estarem em público. Seu rosto estava pegando fogo.
Isso era... estranho. Não sabia ainda se era bom ou não, mas... sei lá. Mexia com sua cabeça, seu coração. Estava suando, merda. Que ele não percebesse isso, mas suas mãos estavam começando a suar de nervoso.
De repente voltou para quinta série, tendo seu primeiro amor. Que desespero.
Nem foi respondido. Não precisava de uma resposta. Os lábios se chocaram de novo e acabou rindo, porque foi levantado do chão, tendo que segurá-lo com força pelos ombros. Por que aquela criança era assim? Não passaram de selares entre risadas.
Tudo bem. Ainda tinham boas horas para conhecer os pontos turísticos ou se beijar em cada canto daquela cidade.
Tanto faz. Contanto que fizessem isso juntos.
...
Respirou fundo, encarando o próprio reflexo no espelho. Fazia muito tempo que não ficava nervoso daquela maneira. Já teve sua própria exposição, teve contato com muitas pessoas importantes e que admirava. Era alguém levado a sério no meio artístico, mesmo sendo tão novo.
Mas agora... era só... um visitante. Estava lá para acompanhar, aprender mais e, mesmo assim, suas mãos tremiam. E se passasse mal? Se tivesse alguma espécie de apagão?
Viu sua expressão empalidecer. E se... apoiou as mãos na pia branca, segurando-se ali. E se passasse mal de verdade?
— É um belo blazer. — Virou a cabeça rapidamente, vendo Yoongi se aproximando segurando a roupa azul marinho. — Você vai ficar deslumbrante com ele! — Abriu um sorriso pequeno. Seu namorado estava mesmo sendo gentil? O rapper se aproximou mais, os olhos apertados, acompanhando o sorriso relaxado. — Que tal um jantar depois da exposição? — Ganhou mais alguns passos até o mais alto, vendo-o sério, o maxilar travado. Estava nervoso! Ele assentiu, então sorriu um pouco maior. — Posso? — Indicou a roupa que carregava.
Tiveram uma tarde muito boa. Foram até onde sua condição limitada deixava, mas quando ficou cansado, foi carregado nas costas. Teve que aceitar aquele pirralho lhe carregando, todo animado, pelas calçadas. Pelo menos tirou boas fotos.
Tomaram sorvete, conversaram bastante. Mais fotos. Muitas delas! Se antes tinham poucas, quase nada, agora tinham milhares delas. Caretas diferentes, sorrisos, poses engraçadas, abraços, com filtro bonitinho, sem filtro. De detalhes... tinham muitas dessas.
As mãos entrelaçadas, a diferença de tamanho entre elas, os lábios colados entre sorrisos, mas sem mostrar o rosto todo... as pernas do garoto sobre as suas. Aquele pirralho folgado... mas... elas eram boas. Muito boas.
Teve que postar uma. Na hora do almoço, foram em um lugar pequeno e acabaram comendo algo comum. Taehyung aceitou sua pequena intolerância a conhecer novas culturas culinárias! Pediram macarrão, frango... ele não deixou que tomasse cerveja e, só de vingança, não deixou que ele tomasse vinho.
Beberam água. Com uma cara nada agradável, concordou. Se fosse para beber água durante o almoço, não sairia do hotel. Porra! Mas, aceitou. Por sua liberdade, aceitou, concordou. Não discutiu porque estava fome. Porque se não... ele ia ver só. Taehyung era engraçado, achava mesmo que mandava em algo. Uh, sim. Com certeza.
A foto era basicamente aquilo. Suas comidas simples, o copo de água. Não tinha nada demais! Escreveu na legenda: "Água ao invés de cerveja. Devo me preocupar?" O que o amor faz com as pessoas? Hum? Chamava de lavagem cerebral.
Taehyung ficou sorridente o dia todo, mas conforme o tempo ia passando, o horário se aproximando, ele ia ficando mais sério. Tenso. Bem que tentou fazê-lo rir com suas inúmeras piadas sem graça – porque seu senso de humor era muito ruim e ele sabia, mas sempre sorria. Se divertia com as tentativas, mas não dessa vez. O mais novo estava realmente nervoso.
Ele assentiu, aceitando. Ergueu um braço coberto com a manga da camisa branca de seda. O pano liso escorregando por dentro do veludo macio. Estava quase pronto. O cabelo tinha gel e não parecia bagunçado como sempre. Arrumou de maneira formal, expondo o rosto. Parecia um pouco mais velho agora.
Virou de frente para o músico, deixando-o ajustar o laço que tinha na gola da camisa. Sorriu leve, ouvindo o resmungar baixinho sobre o decote, expondo um pouco do colo.
— Por que não pode usar camisa de algodão e gravata borboleta como todos os outros? — Ergueu o olhar para o rosto maquiado, aqueles traços bem firmes. Por que ele parecia mais bonito? Franziu o cenho, contrariado.
Será que eles não o deixariam ir mesmo? Era Agust D, podia fazer uma rima lá dentro. Combinar arte com rima era sua especialidade. Fazia sempre para fazer aquele garoto rir...
Vendo o modo que era encarado, o mais alto relaxou os ombros e tocou as bochechas pálidas do namorado. Ele também estava lindo, embora mais simples e pronto para invadir a fábrica da Heineken. Moveu os polegares ali e sorriu um pouco maior quando recebeu o olhar quase carente, entregue.
Ele sempre ficava calmo quando recebia carinho no rosto.
— Porque eu sou eu! — Aproximou os rostos e deixou um selar demorado. Os dedos menores o seguraram pelo blazer, puxando mais para baixo. — E você gosta de mim assim!
— Tem que ser tão bonito? — Abriu os olhos, vendo-o tão de perto. Ganhou mais um selar e grunhiu.
Aquele fedelho queria calar seus protestos, mas não iria. O afastou com gentileza e observou toda aquela roupa, nenhum detalhe fora do lugar. Já tinha passado perfume, maquiagem, arrumado o cabelo. Kim Taehyung estava... sinceramente... wuah. Passou as mãos pelos ombros vestidos com o veludo escuro, como se pudesse arrumar mais.
Seu garoto estava crescendo. Andando sozinho. Estava orgulhoso! Apertou mais o laço, verificou os botões da camisa. É! Ele estava pronto.
— Quero que saiba que estou muito orgulhoso. — Deu leves tapinhas no peitoral do namorado, olhando para cima, vendo aqueles olhos esfumados em preto. — Você está se saindo muito bem, apenas continue o bom trabalho! — Deu um passo à frente, quase colando os peitorais. Subiu as mãos para o pescoço, suspirando ao sentir o perfume, a textura quente. — Sou muito feliz por ter um namorado tão talentoso, virtuoso e inteligente, porque pode parecer que não, mas — Continuou falando em um tom quase soprado, quase nem piscando enquanto o olhava de perto, arrastando os dedos até a nuca, sentindo a correntinha fina, seu fecho. — quando estamos juntos, aprendo muitas coisas e definitivamente não sou o mesmo de antes e isso me deixa feliz. — Seu coração acelerou quando viu aquele sorriso pequeno moldar nos lábios vermelhos do maior. Abriu o pequeno fecho. — Você me mostrou que não importa a idade, sempre podemos voltar ao início e começar de novo. Não tem como sabermos tudo no mundo, porque há tantas coisas novas para aprender, todos os dias. — Pegou a correntinha com o delicado "v" e deixou sobre a pia. Levou as mãos para o próprio pescoço, desatando o fecho da corrente de ouro que carregava desde que Yoona a colocou ali. Abriu o fecho e retirou. — A vida pode ser boa, viver pode ser bom se temos alguém que amamos do lado. — Levou o cordão ao pescoço do namorado, vendo o olhar confuso, perdido em olhar para si ou para baixo, vendo o crucifixo tocando seu peito. Era um presente de Yoona... era tudo o que Yoongi tinha... — E termos alguém ao nosso lado significa dividir o limite da vida. Esquecer do nosso prazo de validade e depositar todo esse pouco tempo, nas memórias que queremos construir juntos! — Fechou o cordão e levou a mão até o bolso traseiro. Merda... merda! Suas mãos estavam tremendo. — E eu não sei, não faço a menor ideia de quanto tempo me resta, mas eu sei, — Engoliu em seco, um pouco nervoso. Tirou de lá uma caixa retangular, trazendo para frente. — eu tenho toda certeza, que quero depositar no que podemos construir juntos. — Olhou para baixo, abrindo a caixa.
Taehyung seguiu o olhar e, se antes seu coração estava em estado de adrenalina constante, agora aquele sentimento estava subindo, envolvendo todos seus órgãos, vindo para cima, tomando o peito, ele ardia. Subia pela garganta, criando um nó. Estava engasgado com suas próprias palavras.
Eram lindos brincos. Diamantes. Brilhavam como pedras de gelo, refletiam como espelhos. Voltou a olhar o rapper, ganhando aqueles olhos pequenos cheios de insegurança e medo. Como ele podia fazer isso com seu coração? Por que ele era tão... daquele jeito? Agora queria chorar.
— Um urso de inverno pode te dar pedrinhas de gelo, não pode? — Brincou, tentando aliviar a tensão, rindo nervoso. — Como um pedido de casamento.
— O quê? — De repente, até seu cérebro parou. O corpo teve aquela descarga elétrica que, até teve que apoiar o quadril na pia.
Casamento? Casamento...? O qu... não! Era sério? Isso... não. Olhou novamente para os diamantes e abriu bem os olhos. Yoongi estava falando sério? É... sério? Olhou novamente o músico que respirava um pouco rápido demais e tinha o rosto tão vermelho. Mas que...?
Abriu a boca tentando falar, mas a voz não conseguia passar por aquele nó na garganta. Casamento? Noivo? Casar... casar com ele? Tipo... casar?
— Seu marido? — Teve que perguntar, a voz rouca saindo embargada. Segurou-o pelos ombros estreitos. Yoongi desviou o olhar e tentou se soltar. — Yoongi-ya. — Usou uma mão para segurar o rosto delicado, puxando para que pudessem se encarar. — Você quer que eu seja seu marido? É isso? Quer casar comigo?
— Eu acho que vou vomitar. — Grunhiu um tanto tonto. O que estava pensando... Jesus! Ia desmaiar.
Taehyung ficou nervoso. Pegou a caixa e deixou próximo onde estava sua correntinha usual. Segurou o namorado pela cintura e o sentou sobre a privada fechada. Ajoelhou entre suas pernas, vendo-o ainda respirar forte, apertando os joelhos com as mãos.
— Por que essas coisas acontecem com a gente? — Perguntou rindo, os olhos empoçados e o coração batendo acelerado. O rapper o encarou, o suor frio cobrindo seu rosto. Acabou rindo junto, mesmo fraco, sem força nas pernas e em todo o corpo. — Não podemos ficar noivos de maneira comum, hum? — Fez carinho no cabelo já grande, afagando os fios lisos. Riu um pouco mais, fungando, era um verdadeiro chorão. — Acho que posso ter uma crise...
— Não brinca com isso!
— Eu tô falando sério. — Avisou, querendo distrair o mais velho que ainda tentava controlar a crise de ansiedade. — Que casal no mundo tem crise de epilepsia e ansiedade no momento do pedido de casamento? — Yoongi empurrou a mão que o afagava e resmungou, constrangido.
Em seus planos, aquilo não existia. Ensaiou mentalmente as palavras perfeitas durante a tarde toda, ficou esperando o momento exato, para na hora... fala sério. Não podia atacar a ansiedade depois? Porra!
Caralho. Ansiedade filha da puta. Cadê seu psiquiatra aquele... olha, sinceramente. Queria tomar um sossega leão e dormir trinta dias direto. Hibernar. Que vergonha.
— Cala a boca, ainda quero vomitar. — Cobriu os olhos com a mão, sentindo seu estômago esmurrar sua cara com toda aquela vergonha.
— Eu achei original e você foi bem romântico na sua declaração, amor. — Beijou-lhe a coxa por cima da calça, apoiando-se ali com os braços. — É o nosso jeitinho diferente de viver as coisas do cotidiano, eu gosto. — Abriu um sorriso grande, ganhando mais um xingo murmurado entre grunhidos de dor. — Está tudo bem, já passou... respire fundo. Apenas respire.
Quando disse que podia ter uma crise, não mentiu. Estava em profundo estresse e ansiedade, realmente estava com medo de passar mal em algum momento, mas não ia assustar o namorado. Nem muito menos ficar pensando muito nisso. Tinham tantas coisas boas acontecendo...
No meio de toda aquela bagunça que eram, tinham coisas tão bonitas acontecendo. Era como a chegada da primavera após o inverno. E, sinceramente? Estava tão aliviado por terem sobrevivido ao inverno e dias nublados.
Agora os lírios estavam se mostrando, os ursos estavam acordando da hibernação... o céu azul estava aparecendo de novo. O sol, estava feliz em ver a luz do sol de novo.
Sobreviveram. Agora estavam prontos para começar a viver.
Meu deus! Precisava contar para Yugyeom. Estava noivo.
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