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História Our Time - Film Out


Escrita por: paansy

Notas do Autor


Mamãe chegou, raposinhas lindas. Todo mundo bem? Todo mundo aqui? Certo. Tava com saudades :( MAS VOLTAMOS. JÁ VIRAM O TEASER DE BUTTER? PELO BUDA SAGRADO, GENTE... A PRESSÃO SUBIU.

Obrigada pelo engajamento, por tudinho, vocês são meus tudo. Como eu avisei lá no twitter, esse capítulo é um tiquinhozinho pesado, então leiam com calma, tá?

Vamo lá. Respiração funda.......................... boa leitura.

Capítulo 66 - Film Out


 

Estava acabado, aquele era o ponto final que precisava colocar. Respirou fundo olhando pela janela, a cidade de Amsterdã no meio da madrugada ainda parecia bonita. Diferente de Seul, não havia tantos arranha-céus assim, conseguia ver o mar lá longe. Enfiou as mãos no bolso da calça, relaxando enquanto via de cima tudo o que estava acontecendo lá fora...

Deletou suas redes sociais, achou melhor assim. Se continuasse nelas, ia sofrer e ir atrás de mais sofrimento, então preferiu cortar o mal pela raiz. Seu e-mail já estava cheio de patrocínios quebrados, colaborações canceladas... estava bem fodido, uh? Puxou bastante ar, inflando as bochechas. Era um momento complicado para caralho, mas nada estava indo além do que já imaginava.

Sabia que sua carreira estava fodida, mas tinha orgulho ao dizer que foi o causador disso! Ninguém podia se meter e dizer com outras palavras, se era para deixar tudo claro, então que seja! E também, não foram por motivos quais deveria se envergonhar. No entanto, sua preocupação não era si mesmo. Era aquele garoto idiota que ficava repetindo que o amava de cinco em cinco minutos.

Kim Taehyung sempre foi um dos que nunca aparecia tanto assim na mídia. Ele era reservado demais para isso e também, além de ser muito bonito, não fazia nada que os jornais se interessassem o suficiente para noticiar. Sua carreira artística era realmente um ponto forte, mas não na mídia coreana, eles preferiam focar no Jungkook bonitão, Yoongi, o rapper bad-boy. Hoseok, o cara que produzia as melhores coreografias para a indústria que mais aumentava o PIB do país.

Jimin e Taehyung sempre foram diferentes, preferiam ficar fora dos holofotes e viver uma vida comum. Ou, pelo menos, era assim. O nome do mais novo dos Kim era o segundo tema mais pesquisado no NAVER, suas redes sociais estavam sendo acessadas e reviradas. Suas fotos rolando em fóruns de discussão de fãs, pessoas inteligentes tentando fazer conexões de todos os momentos que o casal esteve junto, mas que ninguém notou.

Se fosse só isso, estava tranquilo. O rapper não ligava muito e sabia que o noivo também não ligaria. Esse assédio passaria em alguns dias, as pessoas se acostumariam e tudo bem! Mas, acima disso, haviam veículos que estavam vinculando todo esse assunto ao nome de seus pais. Até de Jennie, sugerindo que todo o noivado foi de fachada para "esconder" esse suposto escândalo.

Muitos desses veículos de notícias não estavam mais usando seu sobrenome atual, estava sendo creditado como: Min Yoongi. Min. Quando leu isso, seu estômago revirou. Eles tinham mesmo que fazer isso? Usar esse sobrenome? Ele e Taehyung não eram irmãos porque usavam o mesmo sobrenome e seus pais eram casados. Não eram irmãos porque não eram, ponto. Por que as pessoas não podiam entender isso? Não era um Min para poder ficar com o pirralho. Não era Min há mais de vinte anos e não seria agora.

Deixou o ar sair devagar por entre os lábios, sentindo o peito arder por ter prendido por tanto tempo. Virou de frente para a cama, vendo-o de longe, dormindo, ligado a alguns aparelhos, inerte a toda a confusão que estava fazendo.

Sorriu. No meio de tanta guerra... sorriu. Sorriu porque seus motivos eram bons o suficiente e não retrocederia. Não voltaria atrás.

"— Eu estava quase morto quando ele chegou e me salvou. Acho que vocês nunca vão entender o porquê eu não posso deixá-lo ir, não posso mentir que não o amo! Sei que pra muita gente vai parecer totalmente fora do normal e eu concordo com isso! Não é natural o jeito que Kim Taehyung me salva, é totalmente sobrenatural."

Andou em passos leves e lentos até a cama, observando o rosto perfeito que tanto amava. Como alguém podia ser tão bonito assim? Era natural? Era bonito para porra. Tocou o cabelo grande, fazendo carinho breve. Suspirou mais uma vez, exausto. Ia aguentar. Por eles, ia aguentar. Era sua vez de segurar as pontas e... merda. Merda!

Era um maluco, totalmente babaca, mas queria provar que também podia manter aquilo de pé e seu garoto não precisaria se preocupar.

— Está tudo bem agora. — Sussurrou penteando os cachos largos, tirando de cima dos olhos. — Eu sei que vai ser difícil pra caralho e talvez precisemos passar por uma situações de merda, mas — Deu de ombros, sentando na ponta da cama, ficando perto do noivo. — acho que ficamos especialistas nisso, né? — Com a mão livre, segurou a maior que a sua, sentindo o quente dar um choque na sua tão fria. — Mas eu-... — Iniciou um pouco mais sério, desviando o olhar para as mãos unidas, os dedos dele que não se moviam para entrelaçar aos seus. — eu não quero que se preocupe com isso, posso dar um jeito sozinho. — Apertou os dedos pálidos nos morenos, engolindo em seco. — Só fique bem e comigo, já é o suficiente. — Voltou a encarar o adormecido, os lábios se movendo devagarzinho em um sorriso pequeno. — Você é um pirralho, deixe os adultos resolverem o problema agora. Entendeu? — Levou as mãos unidas até os lábios, beijando as costas bem levemente, sentindo a pele quente sob seus lábios. — Está tudo bem porque seu hyung está aqui e você pode descansar enquanto eu nos protejo, não pense muito nessas merdas, Tae-ya, apenas em como podemos ficar mais juntos daqui por diante, sem medo. — Afastou o rosto das mãos unidas, os olhos tomando um brilho só de pensar naquela possibilidade... — Podemos viajar juntos mais vezes. Lembra que você sempre me disse que gostaria de me levar ao Louvre? Hum?

A febre não queria abaixar. O médico frequentemente estava ali para checar a temperatura, mas não saía dos 40°C, 39ºC, mesmo após as medicações aplicadas em intravenosa. Tocou-lhe a testa muito quente, as bochechas vermelhas. Suspirou... o que porra deveria fazer? Taehyung frequentemente estava se batendo, tremendo. Tinha que tirar o cobertor toda hora, porque ele se enrolava feito um pacotinho de natal, resmungando estar com frio. O que porra devia fazer então? Porra. Porra!

Ah. Doutor Cho. Pegou o telefone do noivo, desbloqueando o aparelho com sua própria digital, indo até a agenda. O neurologista dele podia ajudar, certo? Ele conhecia o mais novo desde sempre. É isso. Levantou da cama, colocando para discar. Não demorou nada para o telefone ser atendido.

— Olá, Taehyung! — Atendeu saudoso, como sempre.

— É o Yoongi, oi. — Falou rápido, ansioso, esfregou a mão na bochecha, andando de um lado para o outro. — O Taehyung não está bem, estamos na Holanda e ele tá com febre, não quer abaixar e eu-...

— Calma, senhor Kim. Acalme-se! — Ah, vai tomar no cu! Como ele pedia uma coisa dessas quando aquele pirralho estava com uma febre alta que não queria abaixar por nada? Não tinha sangue frio, caralho. Via seu garoto mal e não podia fazer nada. Nada. — Ele está com alguma gripe ou resfriado?

— Não!

— Qualquer outro mal estar?

— Não! — Prendeu os dedos no cabelo, ainda andando de um lado para o outro, a voz saindo entredentes. — Ele estava ótimo até hoje cedo, mas aconteceu uma merda muito grande e ele ficou mal. Teve uma crise, mas não foi generalizada. Aí de madrugada começou a febre. — Ouviu um grunhido compreensivo do mais velho. — Eu não consigo me comunicar com os médicos daqui, não sei o que fazer, meus pais disseram que é melhor tentar transferir o Taehyung pra Coreia.

A respiração profunda que o doutor deu fez o rapper congelar no lugar. O que aquele gesto significava? Ein? O que essa merda seria? Se aquele médico sabia de algo, era melhor falar logo, porque estava a ponto de pegar Taehyung nos braços e entrar com ele em um banho frio ou... sei lá, procurar outro hospital. Não sei.

— Melhor não, não agora. — Mais uma respiração profunda. — O Taehyung pode estar sofrendo um quadro de febre psicogênica e nesses casos, é perigoso uma translação muito longa. Primeiro precisamos controlar a febre e depois podemos discutir isso.

— Como assim? O que-... o que-... — Voltou a encarar o noivo. O que aquele médico estava falando? O que porra era febre psico-... quê? — O que ele tem? O que é isso?

— Febre emocional, ele já teve outras vezes, o senhor não sabia?

Parou um tempo para pensar nisso. Não sabia, é óbvio que não sabia. Seu coração apertou no peito, o estômago embrulhou. O que isso queria dizer? Taehyung estava mentindo, ele era um mentiroso. Não estava bem, não estava se sentindo bem. Era tudo mentira. Nada daquilo era verdade. Sentiu uma lágrima rápida molhar sua bochecha sem que nem tivesse piscado os olhos já cheios o suficiente. O que... o que acontecia agora, então? Os remédios não fariam efeito? O que porra deveria fazer para tirar isso dele?

"— Estou bem, hyung, não faça essa cara! — Desdenhou rindo baixinho de todo o cuidado que estava recebendo. — Devo estar ficando resfriado por causa da chuva de mais cedo, não pense muito nisso. — Estendeu uma das mãos, querendo aquele resmungão perto. — Hum. — Grunhiu franzindo as sobrancelhas quando ele se fez de difícil e desviou o olhar. — Vem aqui, pare com isso! É apenas algo bobo, eu disse que poderíamos ficar no hotel. Não precisava me trazer pra um hospital."

— Escute o que eu vou dizer atentamente, Kim Yoongi-ssi, — Voltou a si quando ouviu o chamado do neurologista. — o senhor vai precisar contar aos médicos sobre o que aconteceu, porque a medicação está sendo ministrada errada, provavelmente. Antitérmicos e anti-inflamatórios, antibióticos não vão adiantar. — Assentiu, mesmo sendo um gesto inútil. Secou as demais lágrimas que rolaram teimosamente. — Entendeu o que eu disse? Ele precisa ser tratado como um paciente em crise de ansiedade, estresse pós-traumático.

— O que merda tá acontecendo? — Resmungou consigo mesmo, um pouco perdido no próprio eixo. Era sua culpa? Foi por causa do carro, certo? Foi por isso, com certeza foi. Ele... ele ficou mal por sua culpa.

— Senhor Kim, me escute, isso é muito sério, precisa me ouvir.

— Eu vou perdê-lo? — Voltou a encarar o noivo que ressonava, vez ou outra tremendo todo encolhido na cama, recebendo silêncio do outro lado. Ia perder seu noivo? É isso? Facilitem e digam de uma vez.

Por que tanto mistério? Que digam! Taehyung o deixaria? É isso? Essa é a parte que ficaria sozinho de novo e o que achou ser sua realidade, se provaria um sonho? É, realmente, bastardo. Aquele moleque é bom demais para ser seu. É óbvio. É claro! Apertou mais o aparelho na orelha, apertando os dentes com força.

Apenas digam! Já sabia que era sua culpa, mas só... precisava saber se perderia o amor da sua vida. Só... queria saber.

— Pessoas com epilepsia tem mais chances de ter paradas cardíacas, é isso que precisamos evitar a todo custo. — Pontuou seriamente o que já havia discutido com o próprio paciente e seus pais.

A taxa de recuperação por paradas cardíacas entre pessoas epiléticas era de 8%. Foi muito direto quando alertou seu paciente sobre esse perigo, porque era o que mais assustava os neurologistas! Ainda não possuíam formas de impedir ou curar esse problema. Geralmente quando Taehyung tinha febres acima de 38°C, era levado ao hospital para que os médicos pudessem cuidar melhor, evitar problemas futuros.

Mas Yoongi não sabia. Ele não esteve por perto quando isso foi alertado aos doze anos. Ele sabia que Taehyung estava indo à médicos e era sempre tratado com muita atenção, mas nesse mesmo momento, estava do outro lado do mundo, nos Estados Unidos, fazendo turnê. Era muito... estranho pensar que ao mesmo tempo que conhecia seu noivo, haviam muitas coisas que não tinha ciência porque não esteve perto. Nunca esteve.

Lhe assustava muito a condição de saúde do acastanhado, mas não imaginava que podia ser mais profundo do que já era. O coração dele... o coração de Taehyung podia parar de verdade. Ele podia...

— Ele vai me deixar? — Perguntou de novo, quase sem voz, os olhos fixos no rosto ruborizado, adormecido.

De repente, não via mais serenidade naquele momento e queria que o noivo acordasse. Abrisse os olhos, que sorrisse e dissesse que estava tudo bem. Que... que era apenas uma coisa boba e logo estaria em casa. Foi sua culpa, certo? Mais cedo surtou, ele passou muito mal dentro do carro e embora dissesse que estava bem, não estava. Machucou ele. Muito.

Machucou... muito...

— Encontre o médico, falarei com ele, certo? — Por que o doutor não estava respondendo sua pergunta? Então estava certo? — Agora, senhor Kim. Agora! Há quanto tempo vem persistindo a febre?

Assentiu mudo, não conseguindo responder direito, dando alguns passos tontos até a porta. Seu corpo moveu automaticamente pelos corredores vazios, sua mão segurava o aparelho celular no ouvido, mas não ouvia muito bem o que lhe era dito. Estava assustado... poucas coisas o assustavam. Naturalmente, desde pequeno, aprendeu a esconder seus sentimentos e fraquezas.

Medo era uma delas! Quanto mais medo tinha, mais sofreria. Então se fingisse não ter, ele iria embora e todos achariam que estava acima de qualquer provocação barata que poderiam fazer. Mas, não é bem assim... nunca foi...

Tinha medo de ficar sozinho, medo de perder sua família, viver sem música. Medo de animais que voam, qualquer um. Dos que rastejam também! Tinha medo de chuvas muito fortes e ventanias, alerta de guerra... tudo isso fazia seu coração acelerar e o estômago embrulhar, mas nenhum deles doía.

Quer dizer, era incômodo, era ruim e pavoroso, mas não doía. Era  incômodo. Seu pânico social lhe travava, era um fardo que carregava há anos. Mas também não doía, mais lhe causava raiva e ansiedade, por querer ser diferente. Querer ser normal...

Dor. Não era um homem dramático com dores, tinha uma boa tolerância a elas e pouco reclamava quando sentia algo realmente forte. Também relutava a tomar remédios, era o tipo de pessoa que acreditava que tudo passaria com uma boa noite de sono e repouso. Está ótimo. Mas, pela primeira vez, experimentou uma dor diferente.

Essa dor não tinha nome e nem lugar específico, muito menos remédio. Só... doía... parecia mais que haviam pegado todos seus receios, dores, más pensamentos, pavores e temores, misturado e jogado bem na sua cara.

Perder Taehyung. Por que isso não soava bem? Perder... há dois anos estava quase torcendo para que ele se apaixonasse por outro homem, um que pudesse ser mais fácil, melhor. Não era o suficiente! Chorou por isso, porque não queria que ele ficasse preso a si, tendo que viver tão mal, passar por todo um drama que acabaria com os dois antes mesmo de começarem. Era o que pensava, era o que sentia.

Perder Taehyung...

Perder TaehyungPerder para sempre. Ele não iria para a França estudar, à Holanda para trabalhar ou tirar férias nos Estados Unidos com Jimin. Ele iria para algum lugar que não poderia acompanhar e isso... só de imaginar isso...

Apertou a mão livre no casaco, os dedos embolando no moletom grosso. Os pés se arrastavam pelo chão limpo, não sentia nem quando trombava com algumas pessoas. Aquele pirralho... como ele ousa? Como? Lhe dizer que estava tudo bem quando não estava. Ele mentiu. Mentiu.

Seu pirralho, seu noivo... sua raposa... sua raposa de focinho empinado, por que estava de cabeça baixa? Por quê? Ele precisava levantar agora! Por que isso estava acontecendo logo agora, merda? Quem ia responder suas malditas perguntas? Logo agora...

Olhou ao redor quando viu alguns enfermeiros correndo, alguns lhe empurrando para o lado, uma voz repetindo algo embolado no alto-falante. Recuou para perto da parede, um pouco assustado, tentando evitar contato com eles. Odiava hospitais. Ficou acuado, o corpo pequeno um tanto trêmulo enquanto ouvia "Senhor Kim?" no telefone, aquela voz feminina preenchendo o corredor, barulho dos enfermeiros correndo... odiava hospitais. Odiava. Odiava ter que estar ali. Odiava. Focou o olhar no chão branco e respirou fundo, procurando se controlar.

Não se perca. Não... se perca.

CertoYoongi. Pare de ficar viajando e sendo pessimista. Não seja um filho da puta que atrai essas coisas, porra. Foco. Pare de ficar fantasiando merdas, apenas faça o que tem que fazer. Imbecil! Okay... sem drama. Apenas... faça. Ele vai ficar bem, isso não é nada. Ele não vai ter nada, claro que não, é apenas cuidado e... que idiotice. Taehyung era um pirralho idiota, não ia fazer isso. Não ia passar por isso.

Andou um pouco mais rápido até o balcão da recepção daquele andar. Não sabia o nome do médico que estava cuidando do mais novo, só sabia que ele era loiro e tinha olhos azuis. Muito específico, grande coisa. Sua cabeça estava tão lotada de coisas, que nem ao menos gravou o nome do médico. Só... queria resolver logo tudo aquilo e voltar para casa com Taehyung.

— Com licença, — Fungou, engolindo o choro preso na garganta, apoiou os braços na madeira e olhou ambas recepcionistas. — o médico-... — Tentou, mas era péssimo no inglês. Deu de ombros, foda-se. — quarto sete. — Apontou para o final do corredor.

Uma delas abriu bem os olhos e assentiu rápido. Claro.

— O doutor Jasper já está lá! — Avisou devagar, querendo passar tranquilidade para o homem de olhos pequenos. — Não se preocupe, o doutor já está fazendo os procedimentos e logo um cardiologista irá ver o paciente.

— Que procedimentos? — O doutor disse do outro lado da ligação, ouvindo a conversa. Yoongi rapidamente olhou para o corredor e de novo para a mulher. Procedimentos? — Passe o telefone para ela, senhor Kim. — Pediu ansioso e o rapper obedeceu. Por que sentia que ia vomitar? Puta merda.

Viu um outro homem, esse mais velho e de cabelo grisalho, passar correndo com mais dois enfermeiros em seu encalço, percorrendo o mesmo caminho que a outra leva de profissionais. Negou, intrigado. Não... não poderia ser, certo? Foram apenas alguns segundos que saiu de lá.

— Não vire à direita. — Murmurou consigo mesmo, vigiando todo o percurso feito enquanto seu próprio coração afundava no peito.

Aquele andar era exclusivo, um andar de quartos particulares, não haviam tantos assim. Levou a mão até a correntinha presa no pescoço, segurando firme o anel de prata e o crucifixo. Respire, Kim Yoongi. Respire! Está tudo bem. Está... está tudo bem. Apenas confie.

Todos eles viraram à direita. Porta sete. Kim Taehyung.

— Não, não. — Sussurrou incrédulo, dando alguns passos largos, deixando o celular para trás com toda a sua sanidade. — Não, assim não, Taehyung. Não faz assim! — Os passos se tornaram uma corrida esbaforida até chegar na porta aberta.

Não viu o noivo, aquele tanto de gente ao redor, não o deixava ver. Ficou confuso, o que estava acontecendo? Saiu por um minuto. Um. Olhou ao redor, perdido, passando as mãos no cabelo já crescido, bagunçando tudo. Tornando-se uma bagunça ambulante enquanto tentava entender o que merda estava acontecendo.

— Pulso caindo. — Uma das enfermeiras disse com dois dedos no pulso do garoto.

Viu quando retiraram os delicados tubos de oxigênio das narinas e substituíram por um inalador largo e logo um deles estava apertando, aumentando a frequência de oxigênio enquanto o médico avaliava a prancheta com o outro e mais enfermeiros rodeavam Taehyung.

Rasgaram sua camisa com uma tesoura, foi tudo tão rápido que nem pôde dizer que era a favorita dele. Os trapos foram para os lados e logo o peitoral que tanto amava, estava à mostra, mas não para seus beijos, seus carinhos. Não era algo deles, um momento deles como era para ter sido desde o início aquela maldita viagem.

Negou consigo mesmo, se aproximando. Aquilo não podia ser real, era brincadeira. Era... o que deveria fazer? Agarrou o cabelo, seu rosto ficando cada vez mais sem cor enquanto observava o que era feito. Seringas, barulhos de máquinas, falatório em uma língua que não entendia porra nenhuma e seu garoto, seu garoto barulhento, não estava no meio daqueles sons.

Ele não estava fazendo barulho algum. Apertou mais ainda os dedos no cabelo escuro, os olhos fixos no rosto adormecido, os olhos escondidos pelo cabelo ondulado.

— Ya. — Chamou, não entendendo nada do que eles falavam entre si, enchendo seringas, furando-o, conectando-o a fios. — Ya, o que está acontecendo? O que vocês estão fazendo? — Perguntou em coreano, puxando um dos enfermeiros pelo jaleco, querendo ver o moleque. — Ele tá bem, ele disse que estava bem. — Repetiu nem notando que estava gaguejando e quase sem voz. — Ele não precisa disso.

— Preparar duas doses de atropina*. — O mais velho, cardiologista, ordenou, deixando o outro para trás. — Desçam o desfibrilador, paciente com um grande histórico de crises de epilepsia complexa. — Pediu a um dos funcionários que saiu às pressas. — Iniciar RCP*.

— Parem com essa porra. — Exigiu quando viu o mais alto ser tratado como um boneco sem vida. — Ele-... ele precisa de espaço... vocês tão muito em cima, sai, caralho.

Foi empurrado por um homem mais alto e mais forte. Cambaleou, mas voltou. Eles não podiam o separar de seu noivo, ele precisava de si, precisava saber que estava tudo bem, podia acordar. Estava ali. Ficariam juntos, ninguém os separaria mais, não tinha mais nada impedindo. Taehyung... ele precisava saber, precisava ouvir.

Estava fazendo uma guerra do caralho por ele, então, estava tudo bem. Ia proteger a casa, ele, Yeontan... ia fazer tudo direito dessa vez. Não ia fugir. Não ia à lugar algum.

— Senhor, é melhor sair. — Explicou em inglês, mas o menor se debateu, querendo distância. — Vamos fazer tudo o que pudermos, mas por favor...

— Ele precisa acordar, precisa vir me ver! — Olhou diretamente o holandês que assentiu, mesmo sem entender coreano.

— Senhor... — O impediu de passar, abrindo os braços, querendo bloquear a visão do que estava acontecendo atrás de si.

Negou, forçando passagem. Precisava chegar até ele, precisava... ele precisava ouvir sua voz. Já chega de brincadeira, não queria mais aquilo. Já foi o suficiente, certo? Já podia acordar, anda. Não tem mais graça. Foi agarrado pelos ombros, empurrado para trás, mas conseguiu ver... mesmo que em uma brecha... viu...

A máquina que tanto lhe estressava por fazer um barulho repetitivo e enjoado, cheio de pequenas montanhas e grandes montanhas, agora estava linear, seu som também não era mais um apito. Era contínuo.

— Perda total de pulso. — Avisou o médico ao checar, sinalizando para que o enfermeiro continuasse os primeiros socorros enquanto o desfibrilador não chegava.

Seus olhos ficaram focados ali, em como o peito subia e descia com os movimentos repetitivos, o corpo mole ao dispôr dos médicos que lhe enfiavam cada vez mais coisa. Taehyung... Kim Taehyung... seu coração foi diminuindo o batimento cardíaco, sua respiração indo na mesma frequência. Os sons ficaram abafados, seu corpo mole. Não... não.

Ia acordar. Era um pesadelo fodido, sim, era. Quando acordasse teriam acabado de fazer sexo e ele estaria lhe olhando com aquela cara boba, dizendo que precisavam sair e... e contar fofocas de Yugyeom e Jungkook. Riria muito quando contasse esse sonho de merda e diria em sua cara que isso era "impossível". Isso. É isso.

Desacelerou. Seu corpo pareceu ter tomado um choque frio, porque não conseguia se mover. O olhar congelado naquela ação que se tornou embaçada, as vozes se misturando em palavras que não fazia ideia do que significavam, o som daquela máquina. Negou consigo mesmo. Estava em um pesadelo. Estava sonhando.

É... era um sonho... isso não é real. Não é. Certo. Quando acordasse ia estar na cama, deitado com o noivo e receberia beijos e carinhos dele. Conseguiria ver seus olhos, seu sorriso... conseguiria sentir sua respiração quente. Ele ainda estaria ali, lhe dizendo bem baixinho o quanto o amava e por tudo, podia jurar por qualquer coisa, não ia repreender ou resmungar dessa vez.

Não ia fingir que não queria ouvir, que não gostava. Ia dizer... ia dizer que o amava tanto que seu coração ficava a ponto de explodir. Que sem ele, não conseguiria... o beijaria como se fosse a última vez. O guardaria bem escondido em seu abraço. O esconderia do mundo, como sua joia mais preciosa. Sua fortuna inestimável.

Garantiria que ele ficaria vivo. Ele precisava viver.

— Não, — Sussurrou ainda em choque, se afastando do enfermeiro. — você não pode fazer isso! — Se aproximou mais alguns passos, negando. — Eu sou seu hyung, Kim Taehyung, me obedeça. — Sentiu o corpo ser segurado, então parou de andar, não tinha mais força, mas dali conseguia ver tudo. — Acorde, você não tem o direito de fazer isso comigo, com os papais e com todo mundo. Você não pode! — Engoliu em seco, a voz saindo trêmula e baixa, mais para si do que para o garoto inerte. — Eu prometo que vou ser melhor, prometo que eu nunca mais vou dirigir rápido e nem pegar chuva, que vou beber menos, — Iniciou suas resoluções, porque... porque isso poderia alegrar o mais jovem, certo? Ele gostaria de ouvir isso. — xingar menos, — Os lábios tremeram assim como todo seu corpo, a voz se tornando um pouco mais alta. — tomar menos café, te dar uma aliança... — A visão melhorou assim que o quente das lágrimas inundaram suas bochechas. — eu prometo trabalhar menos e te dar mais atenção, prometo que não vou reclamar mais do seu francês, porque eu amo tanto quando você me lê poemas! — Abaixou a cabeça, não queria mais ver aquilo. Isso não podia estar acontecendo, minha nossa. Seu coração... — Prometo que vou ser melhor porque você me faz melhor, hoje era pra ser nosso dia, Tae-ya! — Chamou choroso, o corpo pequeno quase caindo, já não tinha mais forças nas pernas. Não conseguia... — Não me deixa, por favor, não me deixa sozinho. — As palavras não saíram direito devido aos soluços e o choro copioso que lhe roubou o ar.

Estava desesperado, não podia perder o homem de sua vida. Ele... ele não podia. Gritou pelo noivo, de novo e de novo no meio daquelas constantes reanimações. Ele não podia ir embora. Taehyung não podia ir. Não. Não ia deixar. Fechou as mãos em punho e forçou o corpo para frente, tentando se soltar, mas não conseguiu. Ao contrário, foi puxado para trás. Meu deus. Buda. Qualquer um... qualquer coisa...

— Nosso casamento... — Relembrou sendo segurado pelo homem forte, contido, impedido de cair. — você não pode me deixar sozinho, eu ainda quero casar com você. Preciso me casar com você. Ser o seu marido... eu quero muito...

— Pulso voltou instável, fraco. — Uma das enfermeiras disse ao médico que assentiu.

— Não me deixa. — Negou veemente, não querendo pensar naquela hipótese. Não podia pensar. — Você não pode me salvar e depois me deixar, isso não é justo, eu tô aqui por você. Eu preciso de você! — Não conseguia mais sentir seu rosto, não sentia mais nada além de dor. Tudo doía. Tudo parecia estar se desintegrando. Como se fosse lançado em um buraco negro. Cada vez mais sendo sugado por uma força estranha. — Mãe! — Gritou entre os soluços. Sua mãe... sua mãe não podia levar Taehyung com ela. Ela não podia! — Me devolve, não faz isso comigo, eu só quero ele, por favor. Por favor, mãe.

Quando era criança, ouvia muito na casa dos Min essa lenda, que quando um ente querido morria, logo após um tempo, ele voltava para buscar alguém para lhe fazer companhia e geralmente essa pessoa era muito boa e querida. Não precisou pensar nisso, porque todos que amava, estavam vivos, estavam consigo e jamais precisou dar adeus assim tão cedo. Não fazia sentido... não como agora. Mas isso não é justo. Ela não podia fazer isso.

Nunca foi muito ligado a coisas materiais, talvez seja por conta de sua criação simples, dos valores que aprendeu com Namjoon e Seokjin. Sempre foi mais ligado a emoções e momentos, por isso valorizava cada segundo, porque era apegado a memórias. Então não se importou quando perdeu os patrocínios e contratos.

Estava tudo bem. Conseguia viver sem isso! Podia viver sem isso, não era o fim do mundo. Não ali. Mas se tornava quando perdia a única pessoa que conseguia mantê-lo bem. Apenas Taehyung o conseguia trazer para a centralidade, a consciência. Era por ele que estava lutando tão forte. Sentindo-se imbatível, imortal e tão bom em tudo...

Era como um rio calmo em um solo seco. Uma sementinha teimosa que cresce em lugares improváveis. Esse era aquele pintor! Pessoalmente não era nada, não tinha nada a oferecer, mas ainda assim, ele desejou a si. Escolheu o seu solo para fazer morada. Lhe entregou tudo o que tinha, então. O deixou fazer raízes firmes, brigou com todas as estações para que não o machucassem. Não admitia que ele murchasse agora.

Não podia. Não ia deixar.

— Era pra ser eu. — Balbuciou consigo mesmo, não ouvindo mais nada, assim como não estava vendo. — Eu. Apenas eu. Não ele... por favor, devolvam ele pra mim. — Agarrou a própria correntinha, arrebentando com um puxão. Separou os pingentes, pegou o anel e colocou no próprio dedo esquerdo, beijando ali com certo desespero, devoção. — Devolvam o meu pirralho, por favor. Eu faço qualquer coisa, prometoEu juro. — Deixou os lábios encostados naquela aliancinha fina de prata, molhando com saliva, lágrimas.

Apertava o cordão arrebentado na mão, os olhos bem fechados. Estava pedindo por favor, implorando por misericórdia, não sabia à quem. Quem poderia lhe ouvir? Só pedia. Desesperado como nunca, não enxergando ninguém além do homem que amava ali naquela cama rodeado de gente.

Por favorPor favor. Pedia incansavelmente, ainda amparado pelo homem que lhe olhava piedosamente, sem poder fazer nada além do óbvio. Não lhe deixar cair e tentar tirá-lo dali para que não precisasse sofrer mais.

— Voltou. — O médico disse atento a máquina, a pulsação subindo gradativamente com certa aceleração por conta dos remédios. — Parem, se afastem. — Pediu a todos, então checou o pulso, a respiração. — Encaminhem o paciente agora para a UTI. — Ordenou para os enfermeiros que assentiram e começaram a preparar as coisas. — Anotem o tempo de ausência, um minuto e meio, vou subir para esperá-lo. — Olhou para o neurologista. — Quero um eletrocardiograma.

— Vou pedir junto do eletroencefalograma. — O mais velho assentiu antes de sair do quarto.

Taehyung desde muito jovem nunca teve medo do pós-morte. Tudo parecia muito calmo em sua mente, era como um profundo respirar antes de adormecer. Como uma ópera forte que sempre tem um toque de violino em seu clímax. Uma brisa fria após um dia calorento... era o que pensava.

Quando ganhou um pouco mais de idade e pôde ter certa noção de sua condição, sua saúde, foi lhe contado sobre riscos. Corria vários. Era como viver sempre a espera de um dia onde poderia não acordar, uma ansiedade estranha... dava vontade de rir de nervoso, sabe? Porque desde então colocou na cabeça que precisa fazer todos os dias, valerem à pena.

Se fosse para amar, amaria muito. Se fosse para se doar, se jogaria de cabeça. Mergulharia fundo, porque podia não voltar mais. Ia fazer valer à pena. Quando se apaixonou por Yoongi, pensou muito nisso. Talvez tenha sido daí que arrumou tanta força para lutar, insistir, engolir seu orgulho, seus medos e dores. Foi difícil, aquele homem era difícil, viu?! Muito! Nunca conheceu pessoa tão impossível como Kim Yoongi.

Mas também, nunca amou tanto uma pessoa como amava Kim Yoongi.

Tinha um propósito na vida de seu noivo e acreditava ter cumprido com excelência. O salvou, o trouxe novamente para a vida, o fez ver as coisas com outra perspectiva, saborear o doce do amor e sentir na pele o quanto viver pode ser quente, excitante e muito bom. Era isso. Sabia que aquele baixinho resmungão precisava disso, de alguém que se jogasse com ele naquele vulcão em erupção, que o abraçasse enquanto tudo ao redor se desfizesse em chamas. Ele precisava de um lugar seguro para respirar e voltar a si. Foi essa pessoa, quis ser essa pessoa.

Amor à primeira vista não soava muito real em sua mente, entendia que amar era um processo e havia várias etapas. Aprendeu a amar o mais velho porque se conheceram de novo, finalmente, como devia ter sido. Às vezes pensava... em um universo utópico, como se conheceriam caso não fossem da mesma família? Eram de mundos tão diferentes, pessoas totalmente opostas. Isso lhe fazia rir e sentir cócegas na barriga.

Se imaginava em uma exposição e aquele cara todo de preto, cheio de marra, se desfazendo de todos os quadros, sem nenhum olhar crítico ou artístico para isso. Tentaria lhe explicar, mas ele com a aquela cara rabugenta, o faria rir e ficar vidrado em como os traços compostos naquela faceta boba, eram delicados e suaves. Quase como uma escultura em mármore, tão pálido quanto. Provavelmente Yoongi ficaria bravo por suas risadas e falaria: "qual é o seu problema?", então ficaria mais encantado ainda, porque alguém daquele tamanho estaria lhe afrontando, não lhe bajulando ou encantado com seu rosto e seus talentos.

E, assim, se apaixonaria pela primeira vez, gostaria de saber mais sobre aquele hyung bravo com rosto bonito. O seguiria por aí... se apaixonaria pela segunda vez quando descobrisse as ideologias que ele carregava, os ideais. Yoongi era apaixonante quando resolvia colocar para fora tudo o que pensava sobre as pessoas, o mundo. Tão sincero e direto. Seria chamado de pirralho besta, pirralho...

Pirralho...

Entre fantasias e universos aleatórios, estava naquele onde havia conseguido o homem mais difícil, bonito e talentoso do mundo. O chamava de noivo e tinha aquela certeza no coração, que ele jamais seria o mesmo depois de sua passagem em sua vida. Mesmo se fosse embora, ele ainda seria extraordinário e muito bom no que fosse. Porque ele era Kim Yoongi e Kim Yoongi pode tudo o que quiser.

Kim Yoongi era o cara!

Mas... por que seu corpo estava pesado e não conseguia nem abrir os olhos direito? Estava zonzo e o coração acelerado, parecia um louco batendo no peito. Tentou achar algum foco, mas estava tudo nublado. Onde estava Yoongi? Ele estava vendo tudo? Céus! Se estivesse passando mal, então esperava que tivessem tirado seu noivo do quarto pelo menos.

Havia um zumbido ruim em sua mente, tudo estava confuso, muitas vozes e ecos, algumas partes estavam formigando. Queria ir pra casa... queria seus pais... tentou abrir a boca para falar, mas não conseguia, tinha algo em seu rosto. Estava lento, quase que em câmera lenta.

— Senhor Kim? — Ouviu lá longe, revirou os olhos tentando achar o foco do som, mas logo uma luz forte encheu sua visão, retesou. — Consegue me ouvir? — O inglês atrapalhado? Conseguia.

Balançou minimamente a cabeça, piscando os olhos devagar, ainda parecendo estar saindo de um efeito de anestesia. Seu corpo estava forte, mas seu cérebro não conseguia acompanhar tudo aquilo, parecia pausado. Respirou fundo e olhou ao redor, vendo muitos enfermeiros.

Passou mal? Sério? Logo ali? Ah, não... descansou a cabeça no travesseiro. Não podia esperar para chegar na Coreia? Tinha que passar mal logo durante a viagem? Que vergonha. Deve ter deixado Yoongi preocupado. O deixou sozinho no meio daquela situação ruim que estavam vivendo. Sentiu-se culpado e um tanto covarde...

E falando nisso... virou um pouco a cabeça para o lado, conseguindo enxergar por entre os enfermeiros. Era quase um borrão, mas ainda saberia que era ele, mesmo em mil anos. Pequeno e vestido de preto, tão pálido quanto o mármore.

Era seu noivo rabugento. Seu coração tinha motivo para estar tão agitado assim, agora entendia. Aquele homem bonito estava logo ali pertinho, como não poderia ficar acelerado? Os lábios se curvaram em um mínimo sorriso, quase nada. Era noivo de um cara tão bonito.

Piscou os olhos com mais força, achando mais foco. Por que seu hyung estava tão deplorável? Olhou para o próprio corpo, achando as marcas vermelhas no peitoral sem camisa, os inúmeros fios ligados a si. Oh... não só "passou mal"? O que aconteceu? O que...

Foi só quando parou de repetir tanto "por favor" para o nada, quase perdendo o próprio fôlego, que notou que o barulho havia voltado e as grandes montanhas, assim como as pequenas, estavam aparecendo na máquina. Taehyung... Kim Taehyung...

Olhou na direção do acastanhado e ganhou aqueles olhinhos quase fechados lhe encarando cheios, brilhando um susto nítido. Confusão, agonia. Yoongi negou consigo mesmo, sendo solto pelo enfermeiro. Ele tinha acordado, certo? Ele acordou... ele acordou não ia mais dormir, nunca. Não ia deixar. Não. Nunca. Se arrastou até a cama, agarrando nos suportes levantados, analisando com detalhes o rosto ruborizado, o suporte de oxigênio saindo para dar lugar aos tubinhos novamente.

— Você-... — Com a mão livre, trêmula, tocou o rosto bronzeado, vendo algumas lágrimas finas escorrendo para as laterais, sumindo no travesseiro. — você... nunca mais faça isso, eu te imploro, — Pediu choroso, sem conseguir esconder o desespero. — eu te imploro por tudo, não faz isso.

— Me perdoa. — Sussurrou ainda assustado, chorando pelo desespero do rapper que negou parecendo fora de si. — hyung! — Levantou uma mão, tocando a que estava em seu rosto. — Hyung, estou aqui.

— Não estava... — Continuou negando, sentindo os dedos quentes nos seus, aqueles olhos abertos. Ele estava respirando, não é? Ele estava. Taehyung estava falando consigo, respirando, acordado. Não era uma alucinação. Não era. Não é, Yoongi.

Taehyung estava vivo. Isso não era sua cabeça maluca criando ilusões, certo? Por favor, não ia aguentar. Não ia. Por favor... não façam isso. Levou a mão disponível para o rosto, esfregando os olhos com força, dando tapas na bochecha molhada. Precisava acordar se não fosse verdade.

— Foi só um susto. — Garantiu baixinho, fungando, sem saber ao certo como consolar o músico. — Não precisa ficar assim, eu estou aqui, não vou à lugar nenhum, eu te prometo. — Beijou os dedos pálidos, preocupado com o modo que o menor agia tão agoniado. Estendeu o braço livre para tentar fazê-lo parar de bater no próprio rosto. — Me escuta, hyung! Hyung!

— Não prometa! — Puxou a mão, se afastando como se aquele tivesse causado choque. — Eu te vi morrer na minha frente, Taehyung. — Acusou entre o choro copioso, o corpo todo tremia e jurava que ia vomitar ou desmaiar. O que porra tinha acabado de acontecer? — Vi você me deixar sozinho, não vir quando chamei, implorei pra que ficasse! — O acastanhado negou junto, sentindo o peito arder pelas emoções e tudo aquilo que ouvia. — Eu senti como se estivessem me matando junto. — Socou o próprio peito, irritado por toda aquela situação, pela dor, pelo desespero. — Tem noção que eu não conseguiria viver sem você? .

— Amor...

— Eu posso lidar com um tiro, com meu chefe filho da puta, com a Coreia toda contra a gente, — Agarrou os próprios cabelos, encarando o mais novo que chorava um pouco mais agora, triste, assustado, sendo preparado pelos enfermeiros. — mas só se você tiver comigo. — Apontou para si próprio. — Sem você, como eu vou lidar com isso? Como eu posso viver se só com você eu me sinto vivo? Você não pode morrer e me deixar, ir embora sem nem ao menos-...

— Amor. — Chamou baixinho, sensível, enxugando os olhos, tentando não parecer tão vulnerável, olhando ao redor. — Eu tô com medo, — Assumiu, calando o rapper que voltou a se aproximar, segurando o rosto de traços marcantes, vendo-o chorar. Vivo. Ele estava vivo. — quero ir pra casa. Me tira daqui, eu quero meus pais, quero ir embora. — Fechou os olhos com força, chorando mais ainda. — Eu não quero morrer.

Mesmo ainda movido pela adrenalina de toda aquela situação, o abraçou como pôde, guardando com força o corpo grande. Tudo bem. Ele estava vivo, ele estava ali... não ia deixar aquilo se repetir. Não ia! Nunca mais. Assentiu, fazendo carinho no cabelo cheio, engolindo seu próprio desespero para tentar fazer o mais novo ficar calmo.

Taehyung, pela primeira vez, sentiu medo de morrer e deixar tudo aquilo para trás. Não queria. Agarrou o braço do moreno, fincando os dedos na pele pálida, tentando tirar dali um pouco de conforto. Ganhou um beijo no cabelo, braços firmes lhe guardando com proteção. Olhou desconfiado para uma enfermeira que já estava pronta para mover sua cama para fora dali. Agarrou mais ainda o músico.

Negou. Não queria. Não queria ficar sozinho.

— Senhor Kim, precisamos ir. — O neurologista se prontificou após um tempo, satisfeito por ver o paciente responsivo após a ressuscitação. Ele estava bem demais para um paciente epilético voltando de uma parada cardíaca. Era motivo de celebração, não de choro. — Temos exames a fazer, ainda precisamos estabilizar o senhor e evitar futuros problemas. Estamos com seu médico no telefone.

Negou veemente, agarrado no mais velho. Não queria sair dali. Não queria largar Yoongi. Não. O apertou mais, afundou as unhas na pele clara, parecendo entrar em pânico só de pensar em sair. Queria seus pais. Agora. Não sairia dali sem seus pais, sem Yoongi. Não. Não queria passar mal, não queria ficar mais naquele hospital.

Vendo o estado de estresse do paciente, o holandês suspirou calmo e sinalizou para que os enfermeiros esperassem.

— Levará apenas algum tempo e logo vocês poderão se ver novamente. — Garantiu, ganhando a atenção parcial do garoto. Sorriu gentil. — Queremos cuidar de você, senhor Kim.

— Não me deixem morrer... — Pediu ao homem loiro que assentiu pesaroso. Não podia morrer. Os lábios tremeram. — por favor...

— Não vamos!

E foi naquela garantia que o artista plástico se agarrou. Tão firme quanto agarrava no rapper que, em segundo algum, o soltou.

Taehyung estava vivo. Isso era tudo que lhe importava. Taehyung estava vivo!

...

Olhar para Moon era como se lembrar que ainda precisava continuar com a cabeça no lugar. Nunca foi uma pessoa de ficar correndo das brigas e situações difíceis, ao contrário, ia para cima com tudo o que tinha, independente se ia perder ou não. Quando criança, teve que lidar com seus fardos sozinho.

Sua mãe não estava preocupada, seu pai não estava em casa e seu irmão mais velho tinha seus próprios problemas para lidar. Crises na puberdade, crises existenciais e de identidade, perguntas sem resposta... passou por tudo isso sozinho. Olhava para o espelho, tentava se encontrar, mas não sabia exatamente o que devia ver. Precisou achar suas respostas sozinho.

Foi difícil, caiu muitas vezes e achou que não ia sobreviver, mas mesmo assim tentou, se manteve firme e se conheceu de verdade. Era um homem forte que não conhecia a própria dimensão de força que havia dentro de si. Mas isso não o isentava de perder a fé e a cabeça alguns momentos, principalmente quando mexiam com seu ponto fraco.

Todos temos um. O de Kim Seokjin sempre foi muito óbvio: a família. Seus filhos. Esse era seu calcanhar de Aquiles!

Mas, também era seu ponto forte! Era neles que encontrava sobriedade e clareza. Por eles, respirava fundo e tentava de novo, mais uma vez e mais uma. Qualquer dor se tornava suportável por seus filhos, se pudesse sentir por eles, passar as dificuldades por eles. Daria seu corpo de bom grado, porque... era o pai daquelas crianças e morreria por elas.

Viveria por elas.

— Lembra que você me contou, — Colocou a franja da filha atrás da orelha, encarando os olhos brilhantes. — que estava com saudades dos bichinhos da fazenda do tio Choi? — Manteve o tom neutro, embora o som abafado de agitação lá fora, fizesse sua calma ser falsa. Ela assentiu. — Então, eu vou te fazer um pedido e você não pode negar, certo? — A segurou pelos ombros estreitos, um pouco mais sério. Moon sentiu isso, não respondeu, apenas... se acuou um pouco. — Ya, você, Kim Moon-ah, — Sorriu sem mostrar os dentes, observando bem aquele rosto delicado que tanto amava... ela estava crescendo tão rápido... — já não é mais um bebê e eu não posso te esconder as coisas.

Tudo tinha seu tempo certo e Seokjin sabia disso, criou quatro filhos – Yoongi nunca precisou de sua criação, na verdade, ele quem ajudava a criar os irmãos – do mesmo modo. Nunca escondeu nada deles, mas também sabia que tudo tinha seu tempo certo. Queria que eles sempre entendessem que precisavam levar as coisas com seriedade e fazer, cada um, a sua parte. Nem sempre poderiam estar todos juntos em situações difíceis, mas se todos trabalhassem em equipe, logo poderiam estar reunidos novamente.

A profissão de Namjoon fez o mais velho entender desde sempre certas circunstâncias. Por noites, era só o cozinheiro e as crianças em casa, então todos precisavam cuidar uns dos outros. Do mais novo ao mais velho, todos deviam se cuidar. Seokjin precisava cuidar de todos os filhos, mas as crianças também precisavam cuidar do pai.

E assim, o sistema de trabalho em equipe ficou tão forte e se tornou lema dentro daquela casa. Todos eram úteis e necessários, não importa a idade e colocação naquela família. Todos precisavam contribuir para o trabalho em equipe, porque sem um deles, nada daria certo. Uma máquina precisa funcionar com todas as suas partes juntas, se tirar um parafuso, ela entra em pane. Não importa se o motor é bom, não vai funcionar.

O delegado usou esse exemplo exato para explicar aos filhos pela primeira vez, o porquê deles precisarem cuidar do pai deles enquanto estivesse fora. Desde então, Jungkook se tornou quase um segundo Namjoon, perseguindo Seokjin até no banheiro, exigindo saber quem estava tocando a campainha, quem ligava, porque depois ia passar tudo para seu papai como seu bom dever de casa.

Com Moon não seria diferente. Ela precisava entender que, bem, a família deles era um pouco diferente, passariam por situações diferentes e delicadas. Vez ou outra precisariam se separar, mas que em breve todos ficariam juntos novamente, porque eram uma família, uma unidade.

— Eu preciso ir até seu irmão. — Falou de uma vez e a garotinha ficou em silêncio. — O Taetae ficou doente e está muito longe daqui, então preciso ir até ele.

— O Yoongi-ssi não está com ele? — Assentiu, porque ela era muito inteligente. — E mesmo assim ele focou doente? Mas o oppa disse que cuidaria dele e então-...

— Ficou. — Riu baixinho, um pouco sentido por pensar nisso. — O Yoongi não pode evitar que o Tae fique doente, Moon! — Encontrou confusão nos olhos pequenos. Suspirou cansado. — Ele realmente não pode, mesmo que queira isso! — Acariciou o cabelo escuro, lembrando do que estava acontecendo. Da grande bola de neve que estava se tornando aquele assunto.

Não podia evitar ficar desesperado e ir até Amsterdã no primeiro voo disponível. Inicialmente, não ia, seu marido lhe convenceu que era melhor ficarem todos ali, trazer o casal para a Coreia e então resolverem o assunto. Todos estavam de acordo, claro, isso parecia muito sensato.

Pareceu até as coisas realmente ganharem um teor muito mais grave do que esperava que tomassem. E, por deus, não deixaria seu filho ficar internado no meio de um país desconhecido. Não ia! Simplesmente não ia!

— Escuta, — Retomou o assunto, arrumando a jaqueta jeans que a filha vestia por cima da camisa azul. — o Yugyeomie virá te buscar e vocês vão para Mokpo ficar com a família Choi. — Avisou sério, porque aquela decisão foi pensada entre ele e o marido. Era a melhor a ser tomada. — Eu vou mandar um e-mail para sua escola e resolver tudo para que não se prejudique, então apenas fique tranquila e brinque muito com os animais, estude com o tio Youngjae. A Moonie vai com você também.

— Você vai me deixar brincar com a minha porquinha, pai? — Afastou a franja de cima dos olhos e ele assentiu. — Eu vou, então, tá bom? — Segurou-o pelas bochechas, ganhando total atenção. — Não fica triste, não, o meu irmão é muito forte e ele não fica doente por muito tempo, só um pouquinho. — O chef assentiu, pressionando os lábios fechados, sentindo os olhos arderem. — E quando você chegar pertinho dele, coloca isso aqui, calma! — Pediu antes de soltar o pai e sair correndo pelo quarto até chegar em sua penteadeira.

Abriu o porta-joias em forma de joaninha, todo de porcelana, procurando seu primeiro presentinho. Lembrava bem dele, não o usava muito com medo de perder, era meio estabanada e sempre perdia tudo, mas aquele presente não podia. Era especial. Igual as meias verdes que ganhou da tia do orfanato. Não se pode perder essas coisas especiais, elas são... especiais. Né? Então.

Enfiou os dedinhos, as unhas descascando os esmaltes coloridos que havia pintado com seu papai Namjoon, pescando um broche. Sabia que era ele, porque era o único prata no meio de tanta coisa dourada. Puxou com calma, tirando devagar para não estragar. O broche em forma de lua nova vinha na palma das mãos da garotinha que trazia com muito cuidado e estendeu para o pai. Seokjin encarou aquilo surpreso e um tanto confuso. O que...?

Moon deu um sorriso largo, mas vendo o olhar confuso, resolveu explicar com certa obviedade, ainda estendendo ambas as mãos respeitosamente.

— Papai me deu esse brochinho no nosso primeiro dia juntos, pai. — Relembrou e o moreno assentiu. É verdade! Namjoon mandou fazer, na verdade. Era uma peça única! — Ele disse que eu posso ser muitas luas diferentes, mas que naquele dia, eu era a lua nova. — Pegou o broche médio com os dedinhos magros, mostrando a prata toda trabalhada e cravejada com pedrinhas brancas que brilhavam e cintilavam ao movimento. — Porque isso significa que eu seria uma nova pessoa e o passado era velho demais, eu precisava viver coisas novas.

A explicação infantil lhe fez rir, mas assentir, porque viu isso acontecer. Assim como todos seus outros filhos tinham uma pulseira especial, cada um com seu nome, Moon tinha um broche repleto de simbolismo. Era realmente importante e o assustava um pouco em como ela guardou aquelas palavras, mesmo sendo uma criança!

Estendeu novamente o cordão e dessa vez o pai aceitou, segurando com carinho.

— E você é? — Rendeu o assunto, porque... era quase mágico, irreal, o modo como Moon parecia cada vez mais crescida.

Ela assentiu firme.

— Hum. — Concordou sem hesitar. — Por isso leve pro meu oppa, assim ele vai ter um bom recomeço sem coisas ruins, sem ficar doente.

Seu irmão sempre foi muito doentinho e vez ou outra, tinha que cuidar dele. Uhum. Dava remédio, fazia carinho, dormia com ele e sempre estava lá se ele quisesse beber água. Se sentisse fome, só alcançava o cereal, mas ele não gostava muito, então tinha que chamar seu pai Seokjin, mas só isso! Conseguia cuidar muito bem de seu oppa sozinha.

Se ele estivesse ali, teria feito isso. Ia colocar o broche debaixo do travesseiro dele e ficaria fazendo carinho no cabelo. Logo ele dormiria e acordaria bom de novo.

— Obrigado, filha. — Olhou para seu papai e ficou triste de repente. Por que ele estava chorando? Oh... não precisava chorar.

O abraçou na hora, dando fracos tapinhas nas costas. "Pronto, pronto, passou...", repetiu o que ele sempre lhe dizia quando chorava. Também estava com saudades do seu irmão, mas não podia ficar chorando por isso, já era uma moça crescida. Bem, seu papai não pensava assim, né? Já que estava chorando.

Deu mais tapinhas nas costas largas, sendo abraçada com força.

— Está tudo bem, papai, eu vou trazer muito leite das vaquinhas e muitas flores pra gente plantar no nosso canteiro!

— Me desculpe. — Quase implorou, agarrado na filha, sentindo o cheirinho do perfume infantil, os tapinhas amigáveis. — Me desculpe, Moon-ah.

Há um tempo as coisas estavam se tornando muito difíceis e, lhe partia o coração toda vez que precisava mandar sua filha para longe por conta de problemas familiares. Ela era uma criança, apesar de agir com muita maturidade às vezes. Precisava dele, de Namjoon. Ela precisava muito.

E não poder oferecer isso... era um pai inútil? Estava falhando? Céus! Já não sabia mais o que fazer.

— Tá pedindo desculpas por ter colocado minha porquinha pra fora? — Cruzou os braços e ouviu o pai rir. Humpf. Sabia que ele ia se arrepender de ter jogado sua filha ao relento.

Por mais que seu irmão Jungkook dissesse que estava cuidado, duvidava muito. Ele era um esquecido e vivia saindo por aí, como sua porquinha teria atenção desse jeito? Ele nem tinha quintal, então... então como Moon ia correr? Brincar? Rolar por aí?

Seokjin riu entre as poucas lágrimas, se forçando a engolir o choro. Certo, não era momento para isso!

— Não, sua garota travessa! — Apertou-lhe a bochecha grande e corada. — Vá arrumar suas coisas, seu primo já vem te buscar.

Yoongi havia ligado há pouco menos de uma hora avisando que Taehyung iria para o centro intensivo, o que era para ser "uma noite em observação", se tornou internação e cuidados excessivos. O rapper estava chorando muito no telefone, perguntando aos pais o que deveria fazer agora. Estava completamente perdido.

Primeiro sua live de quase uma hora falando sobre todas as suas coisas mais pessoais e íntimas. Expondo para o mundo pela primeira vez, toda sua bagagem histórica. Como um castelo de cartas sendo chutado pela base. Estava despencando, cada segundo um pouco mais.

O cozinheiro disse imediatamente que iria para a Holanda. Ouvir que Taehyung precisou ser colocado em UTI era um pouco... chocante. Mesmo com todas as crises epiléticas que ele havia dado durante toda a vida, nenhuma chegou ao ponto de precisar ser internado em uma UTI.

Todos queriam ir, porque todos estavam ali, juntos, vendo aquele drama ser desenrolado. O ponto crucial que tanto evitaram, chegar. Jungkook havia ligado e disse que estava indo imediatamente para a casa dos pais e que, tinha falado com Yoongi pelo telefone. Estava muito agitado, dizendo que ia para a Holanda ainda naquela noite, que ia "foder com a vida" do chefe do irmão. Palavras do próprio lutador.

— Escutem bem, — Foi o delegado que chamou alto, quebrando o falatório no meio da sala de estar. — ninguém além de mim e Seokjin, vai sair do país. — Imperou sério, olhando cada um presente. Jimin estava chorando, escondendo o rosto, mexendo no celular, vendo tudo o que estava saindo na mídia. — Jaebum e Youngjae vão levar a Moon para Mokpo e — Olhou diretamente para Hoseok que estava pálido, sem muita reação, enquanto abraçava a esposa de lado. — eu peço pra vocês também irem. — Viu o filho desviar o olhar para Ryujin, a abraçando com mais força. — Eu não quero ninguém desprotegido, então...

— Pai, mas-...

— Jimin! — Pediu em um suspiro, vendo o homem soluçar, desesperado. — Jungkook tá vindo pra cá e eu gostaria muito que você ficasse com ele. — Viu o menor negar na hora. Sabia que haveria relutância porque ele também queria ir ver o irmão, estava desesperado e não parava de chorar desde que a notícia saiu. Mas, suspirou. — Eu não posso cuidar de todo mundo ao mesmo tempo, então, por favor, — Pediu, mais baixo, sem perder a seriedade. — me ajudem.

Yoongi havia enlouquecido, era isso que achava, porque fazer uma merda de live naquele momento, não ajudou em absolutamente nada! Agora a família estava exposta a riscos sérios, a mídia só estava esperando um motivo para julgá-los publicamente. Sabia disso, porque via de perto, trabalhava naquela margem.

E agora, seu filho mais velho, escancarou tudo. Naqueles minutos que assistiu, ouviu ele falar da adoção, da mãe biológica e sua recente morte, sobre a depressão... ouviu... merda... ouviu o mais novo chorar, mesmo aparentemente engolindo isso, explicando o motivo de muitas vezes questionar sobre o valor da própria vida e como Taehyung o lembrava diariamente o porquê deveria continuar vivo.

Se falasse que estava acostumado, seria mentira. Ainda era estranho, muito estranho, mas ver o rapper falando aquilo, a voz rouca embargada pelo choro, dizendo claramente: "por favor, apenas entendam que estamos bem assim, apenas me deixem amar ele, porque é tudo o que eu posso fazer hoje. Sei que vão me odiar e não vão me aceitar, me entender, mas pelo menos me deixem viver. Eu quero viver com ele, porque ele me mostrou que vale à pena continuar vivo.

Eu quero continuar vivo!"

Essas foram as palavras finais do músico antes de agradecer quem esteve presente, pedir perdão pela hora e dizer um "adeus", que marcava o fim de sua carreira, o fim de Agust D, o glorioso rapper que revolucionou a indústria mesmo tão jovem. Chorou! Chorou mesmo, não ia negar, quando ouviu o filho mencionar que ali estava decretando um ponto final em suas tarefas comerciais.

"Eu sinto muito. Se eu tiver ainda algum fã depois disso, eu sinto muito. Hoje é o dia que eu me despeço e agradeço por cada segundo doado a mim. Sou muito grato, vocês me trouxeram até aqui, só vocês podem me tirar daqui. Por enquanto, eu digo adeus, essa é a parada final do Agust D. O último ato."

Não conseguia acompanhar o que estavam dizendo, não... sabia bem se queria isso. O assustava um pouco. Sua família sempre foi pública e tomavam muito cuidado com as coisas que faziam e falavam para não dar motivo para as pessoas ruins virem para julgar.

Mas agora era um prato cheio. Yoongi e Taehyung estavam em evidência. Seus filhos.

— Não saia de perto do seu irmão, Jimin! — Ordenou mais sério para o mais novo da sala que voltou a chorar, escondendo o rosto e saindo dali à passos duros, batendo a porta de casa. Respirou fundo e massageou as têmporas.

Ryujin tocou o ombro do marido e indicou o caminho que o cunhado havia feito. Sabia da ligação emocional entre Jimin e Taehyung e, de uma certa forma, entendia o mais velho, por isso sentia tanto. Se fosse sua irmã que estivesse naquela situação, também estaria pirando. Hoseok apenas encarou a esposa e não respondeu, ele não estava falando nada, só... fazendo. Mudo, saiu atrás do menor, sem saber direito o que podia falar ou fazer para minimizar as coisas.

Infelizmente agora não podia cuidar de tudo e fingir um sorriso. Não conseguia...

Todos estavam assustados, era inevitável, tudo estava acontecendo muito rapidamente. A exposição da mídia, exposição do Yoongi, a internação de Taehyung. Não sabia mais o que podia dar errado, sinceramente.

— O Tae... — Negou veemente quando Ryujin começou naquele tom temeroso, abraçando o próprio corpo protetoramente.

— Ele está estável. — Garantiu, porque ligou novamente para seu primogênito, teve mais algumas notícias. — A UTI é por precaução. Já está acordado. Jin falou com o doutor Cho faz uns minutos, ele explicou mais ou menos, sei lá, eu não sei nem o que pensar. — Pegou o celular que vibrava sem parar no bolso da calça, estava meio perdido. Não sabia se respondia a família preocupada nas redes sociais, se acudia sua família ali, se comprava logo as passagens de avião... Porra. — Não corre perigos de acordo com os exames. Foi realmente um acaso muito infeliz.

— Sogro, — Olhou o sogro, ainda confusa com as notícias. — o Yoongi-ssi fez o certo. — Recebeu o olhar do mais velho, aquele gesto mais sério e intimidante. Ficou um tanto sem jeito. — O amor nos faz apostar tudo, não é? Inclusive nossa própria vida. — Abriu um sorriso curto, vendo-o desviar os olhos, pensativo. — O Taetae está sob estresse profundo, o Yoongi-ssi está assustado, obrigado por permanecer firme por todos nós. O senhor e Seokjin-ssi são os melhores pais e seres humanos que eu já conheci, não importa o que digam. — Se aproximou em alguns passos curtos, tocando o ombro do delegado que voltou a lhe encarar, agora sem aquele ar intimidante. — Não se sinta mal pelo que pode ouvir daqui em diante, eles não sabem nada.

Encarou profundamente os olhos grandes da nora que abriu um pouco mais o sorriso suave, o rosto delicado um pouco inchado pelo choro. Estavam todos muito ruins, péssimos, mas... ficava reflexivo quando coisas ruins aconteciam na família e se apoiavam daquela maneira. Seguravam um nos outros com tanta confiança. Ryujin estava na família há três anos, mas não conseguia lembrar dos dias sem aquela mulher de cabelo curto, voz alta e tanta atitude e iniciativa. Hoseok não podia ter escolhido esposa melhor. Ela brilhava junto dele.

Assentiu dando um sorriso curto. Às vezes se esquecia do que lá atrás, quando ainda estavam no início da família, disse para si mesmo. Que só se importaria com quem amava e lhe amava, a opinião deles importava porque eles que conheciam seus passos e índole. O que uma pessoa que não o conhece, poderia falar? O Namjoon jovem era confiante nisso. Andava de cabeça erguida e não estava nem aí para nenhuma crítica. Dono de si e o maior protetor da própria família e sua liberdade de expressão. E agora estava preocupado com o que tabloides sensacionalistas iam dizer sobre si? Ah, vão se foder, sinceramente.

Primeiro sua família, segundo sua família, terceiro sua família. Foda-se o mundo lá fora.

Seus filhos precisavam de si. Agora. Mais do que nunca. Seu marido estava pronto já, ele sempre esteve, sabia disso, mas pessoalmente ainda não conseguia chegar naquele nível. O invejava, sinceramente. Olhava Seokjin com tanta admiração...

— Se nosso bebê for menino, — Iniciou após um tempo, um pouco mais alegre para desanuviar aquela tensão. Namjoon continuou em silêncio, mas seus olhos desceram para a barriga escondida naquele enorme moletom cinza. — queremos que tenha o seu nome e seja forte como o senhor.

Oh. Riu nasal, um pouco sem jeito. A mulher com o rosto sem maquiagem, o cabelo curto preso em um rabo de cavalo mal preso, sorria um pouco mais bonito agora. Ryujin e Moon embelezavam aquela família, era muito grato por ter aquelas duas lindas mulheres em sua vida.

— Não mereço essa honra. — Negou veemente, olhando por cima do ombro, onde a porta cheia de borboletinhas, estava entreaberta. — O verdadeiro líder e homem forte dessa casa, é o meu marido. — Voltou para a nora que assentiu devagar. — E o nome dele é muito mais bonito que o meu.

A Kim assentiu, porque também era uma opção muito boa e tinha o mesmo peso de importância, seu marido ia concordar de todo o modo. Queria homenagear os pais com seu primogênito e a mulher também queria dar essa honra aos sogros que sempre lhe amaram, trataram como uma filha. Desde o primeiro momento, primeiro dia que pisou naquela casa. Seus cunhados se tornaram irmãos... Taehyung era o irmãozinho que jamais teve e por isso seu coração estava tão triste, tão pesado, porque aquilo tudo não podia acontecer. Ele precisava manter o coração batendo para conhecer o sobrinho... ele precisava estar ali, porque eram uma unidade e todos precisavam estar presentes.

Seu sorriso morreu aos poucos, o olhar caindo para a barriga ainda tão pequena escondida naquele moletom grande do marido. Tocou gentilmente ali.

— Traz o Taehyungie pra casa, certo? — Pediu baixinho para o sogro, apertando os dedos no fofo do casaco. — O Jinnie precisa conhecer o tio... — Levantou o olhar e o policial assentiu sem nem pensar duas vezes, sorrindo um pouco ao ouvir aquele nome. Seu marido ia ficar surpreso... 

Iria até à Holanda, pegaria seus filhos e os traria para casa em segurança, os protegeria contra tudo e todos. Não importa contra quem, contra o quê. Tomou um susto quando o celular vibrou de novo em sua mão, mostrando uma nova mensagem.

• Produtor do Yoongi (celular pessoal): Senhor Kim, podemos nos encontrar? Preciso lhe entregar algo e é urgente.


Notas Finais


*remédios usados para fazer o coração sofrer um choque de adrenalina. RCP é a reanimação, aquela famosa dos primeiros socorros. O maior perigo do paciente epilético, é de fato a parada cardíaca, porque leva ao mal súbito, que é a morte inesperada, do nada (Cameron Boyce, é um exemplo desse fatídico problema).

Me perdoem por isso, prometo que daqui pra frente não terá mais dorzinha no coração. Prometo. Eu pensei muito se eu realmente ia escrever essa cena (que eu já tenho plotada desde oc, mas não quis usar lá por achar pesado e eu realmente não tenho estrutura pra isso), mas no fim eu escolhi colocar, porque infelizmente é o que acontece, é a realidade de muitas pessoas e eu sempre quis deixar OT o mais próximo da realidade. Chorei fazendo, chorei editando, chorei corrigindo. Mas no fim ficou tudo certo. Importante é sempre se consultar com o médico, fazer exames e se cuidar muitão. Sei que alguns leitores meus sofrem de epilepsia e pra vocês eu desejo todo o amor do mundo, toda a saúde. Se cuidem, se não eu vou puxar a orelha de vocês, entenderam? Eu vou aparecer aí e bater na testa de cada um. Quero todo mundo bem e saudável.

Viram que tem um bebêzinho mesmo à caminho? Hoseok vai ser papai. O sol sempre chega após a tempestade. Obrigada bebê Hoseokinho. :(

Nos vemos no próximo!!!!!!!! Besinho. Tag da fanfic pra gente chorar junto e xingar o Bolsonaro #wuahtaegi. Vou tentar não demorar o próximo, garanto que vai ser bom, sem mais choro. Fim do dramalhão. ><

Besinho.


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