A última coisa da qual me lembro foi de adormecer no calor de seus braços, em frente à televisão. Foi tudo tão fácil e leve que era como se estivéssemos juntos há anos. Mas não sabia ao certo se estávamos juntos. Ainda de olhos fechados, estiquei a mão, tateando a cama e procurando por sua presença. Minha mão passeava pelos lençóis e, conforme meu braço foi se estendendo sem encontrá-lo, meus olhos se abriram. No primeiro momento, jurei que o óbvio era que ele tivesse ido para casa, e um sentimento estranho me alcançou. Era como se eu estivesse triste por não acordar ao seu lado. De qualquer forma, ele era uma boa pessoa e sabia que, depois de tantas confissões, não tínhamos segredo entre nós.
Calcei as pantufas e fui ao banheiro realizar minha higiene matinal, minha cabeça ainda preguiçosa e confusa. Mas eu estava errada. Seu celular estava em cima da minha mesa de cabeceira. Peguei o aparelho bloqueado, tentando inutilmente saber a senha e esperando por uma chamada ou mensagem, mas nada chegou. A foto de fundo dele brilhou por trás do horário, 10:13AM, com os símbolos de sua tatuagem. Estava confusa, sonolenta, ainda processando os momentos bons que tivemos juntos.
Talvez ele esteja na cozinha.
Desci a escada em pulinhos e me deparei com minha mãe, em frente a geladeira.
- Bom dia, querida. - Ela falou, se virando para me olhar em seguida, com um sorriso no rosto.
Não poderia perguntar se ela viu Tobias, ela me mataria se desconfiasse que dormimos juntos sem ela ao menos conhecê-lo.
- Bom dia! - Disse, atropelando um pouco as palavras. - Então... está tudo bem?
- Sim, acordei mais cedo para cuidar de alguns protocolos. Está com pressa?
- Não. Acho que só dormi mal. - Sorri de lado e peguei um copo d'água, tentando pensar. Talvez ela tenha aparecido e ele tenha saído sem que ela visse.
Voltei para o quarto, me vestindo, e ouvi toques rápidos vindos do celular dele. Corri, lendo as notificações. Mensagem de um número anônimo.
"Tenho pouco tempo, se desfaça desse celular, quebre ele, jogue no mar, só faça isso, rápido."
Por que enviariam uma mensagem assim para Tobias?
Franzi o cenho e botei o celular no bolso traseiro da calça, chamando Chris pelo meu próprio celular.
- Oi, Tris! Você não respondeu minhas mensagens ontem.
- Oi, eu sei, me desculpa por isso, fiquei ocupada.
- Você vai na festa, não vai? Quer saber, nos encontramos na escola! Te vejo em dez minutos!
Ela desligou o telefone e organizei minhas coisas, indo para a escola e tentando organizar meus pensamentos. Primeiro, teria que explicar tudo o que aconteceu entre nós para Christina.
- VOCÊS O QUÊ? - A reação sutil e indiferente dela em frente à história que eu tinha contado não me impressionou.
- Chris! Fala baixo! - Fechei meu armário, procurando por Uriah, Al ou Will no corredor. A quem eu estou querendo enganar? Queria ver ele.
- Aposto que Uriah consegue desbloquear o celular para você.
- Não quero desbloquear o celular! São as coisas dele. Só quero encontrá-lo e devolver isso logo.
- Tudo bem. - Ela olhou para o próprio celular e sorriu. - Vou encontrar com Will na biblioteca.
- Tá bem, te encontro depois, tenho que pegar as fichas do Sr. Melle.
Ela acenou e saiu quase correndo, empolgada.
Peguei as fichas na diretoria e, enquanto cruzava o estacionamento para chegar ao prédio B, um carro alto e preto se aproximou. O estacionamento estava vazio e alguém deve ter chego muito atrasado.
As portas do carro se abriram antes que ele estacionasse de fato, e duas figuras vestidas de preto e mascaradas de aproximaram. Meu corpo gelou, sequer me permitindo correr para longe, e me puxaram para dentro. A mão em minha boca me impedia de gritar e algo foi posto sobre meu rosto, dificultando minha visão. Minha boca foi tapada por outro material e o interior do carro que já acelerava estava em completo silêncio, me permitindo ouvir as respirações de, acredito eu, três pessoas.
Minha cabeça doía, e meu corpo começou a amolecer. Pensei sobre a mensagem enviada para Tobias e pequenas ligações começaram a se formar em minha mente confusa. Talvez tivesse sido para mim. Estava com medo e, ao passo em que tudo parecia rápido demais para que eu sequer me movesse, tudo se passava em câmera lenta em FlashBack. As figuras mascarradas e encapuzadas tiveram o cuidado de ocultar qualquer marca que as identificasse. Tentei lembrar da placa do carro mas sequer a tinha percebido anteriormente. Em pouco tempo, tudo ficou escuro.
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