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História Outlaw - Interativa - Preocupações, perigos e espionagens mal sucedidas


Escrita por: froschner

Notas do Autor


OOOOOOI, GENTE
enfim, tô de volta. é isto
espero que o capítulo compense a demora
amo vocês

Capítulo 5 - Preocupações, perigos e espionagens mal sucedidas


Não devemos avisar as pessoas do perigo que correm, salvo depois de ele ter passado.
Voltaire.


Outlaw - Capítulo Quatro: "Tem algo errado com o professor de história."

[ . . . ]

Eram nove horas da noite quando Phoebe chegou em casa. Ela morava num sobrado bonito de dois andares e telhado triangular, que ficava num condomínio aberto no subúrbio. Tinha uma caixa de correio fincada no gramado do quintal e um caminho de pedras lapidadas orientando terceiros até a porta da frente. A varanda ostentava uma cadeira de balanço feita de madeira, um labrador adormecido e um capacho de fibras grossas para recepcionar os convidados.

Antes de abrir a porta e entrar, olhou por cima dos ombros. Havia um carro preto estacionado em frente a fachada da casa, para o qual acenou com um sorriso nos lábios. Richard, seu motorista particular, ocupava o assento atrás do volante, todo sisudo. No banco traseiro, estavam Sam, Nathaniel e Kyle.

Nenhum dos quatro havia se machucado seriamente, mas tiveram de ficar até tarde da noite esperando a recuperação de Kyle, que teve de passar longas horas em observação na ala psiquiátrica. Nem mesmo Samuel quis lhe contar o porquê, e ela não se encontrava em posição de exigir explicações que não eram da sua conta.

Todavia, Sam havia feito questão de dizer que estava tudo bem se quisesse se juntar ao trio. Phoebe não fazia ideia de como se sentir quanto a isso.

Ela fez um aceno breve e entrou.

Por dentro, a casa era quente e climatizada. Não havia nem mesmo um grão de poeira nas prateleiras da estante e o chão era incrivelmente limpo. Phoebe deslizou a alça da mochila pelos braços e a largou no sofá da sala. Ela despiu os sapatos e caminhou de meias sobre o assoalho, pensando no pai e em como não queria encontrá-lo tão cedo.

Dean Oswald não a tinha visitado no hospital. O diretor da Lincoln estava muito ocupado lidando com exaustivas conferências de imprensa, insistentes repórteres e irritantes estudantes de publicidade e jornalismo. Mas, ainda assim, ela deveria ser mais importante. O luto por Rosalind deveria ser mais importante. Os alunos deveriam ser mais importantes.

Entrementes, Phoebe não conseguia deixar de pensar em Rose. Na cabeça boiando na água clara, entre as raias coloridas da piscina olímpica, e nos tufos de cachos negros e nas partes do couro cabeludo onde cabelo faltava. Enquanto subia as escadas para o segundo nível da casa, pensou rosto que já fora tão bonito.

Demorou para se acostumar com a falta da irmã mais velha. Às vezes, quando a saudade acometia como um soco na boca do estômago, mandava mensagens para o antigo número de Rose. Fingia que ela estava viajando de novo para o leste do país. Que estava construindo casas para a população e fazendo trabalho comunitário.

Ela era tão maravilhosa; abnegada, gentil e solicita — tudo o que Phoebe almejava ser, mas estava longe de conseguir.

As pessoas pareciam gostar muito menos de Phoebe desde que Rosalind desapareceu.

Não, repreendeu-se mentalmente. Ela não desapareceu. Está morta.

Pensar em Rose como um cadáver parecia estupidamente irreal. Seu rosto, com a pele pútrida, olhos deglutinados por vermes e lábios arroxeados não eram condizentes com aquela realidade, com aquele universo. Era mais como um filme de terror, fantasioso e mitológico. O universo precisava de Rosalind, da sua gentileza, do seu sorriso e dela por inteiro. Phoebe precisava.

Ela ouviu um barulho vindo do escritório do pai quando passava pelo corredor. Tinha o próprio quarto em mente, já calculando a forma e a velocidade que o corpo afundaria no colchão (e, minha Nossa, como ela queria aquele colchão), mas foi impossível resistir ao impulso de abrir a porta e espiar por entre uma pequena fresta.

Contou três garrafas de bebida na mesa de mogno. A papelada se acumulava em morros sobre ela, mas também espalhada de forma descuidada pelo chão. O pai estava na grande cadeira atrás dela, com o rosto oculto por um copo americano servido com gelo e gim.

O Sr. Oswald estava tão alto que demorou para perceber sua presença dentro da sala. Ele pigarreou:

— Oh, sim… Phoebe, venha cá, querida.

Ela caminhou sobre o carpete com hesitação, deixando a porta aberta. Morando só ela, o pai e Max, o golden retriever, naquela casa, a privacidade geralmente se fazia quase desnecessária.

Dean Oswald costumava beber em momentos de crise. Beber muito. Como quando a mãe de Phoebe morreu e a irmã mais velha foi sequestrada.

— Você é tão linda… — Ele comentou com pesar. — E se parece tanto com ela.

Confusa, a jovem balançou a cabeça.

— Com a mamãe?

— Com Rosalind.

Phoebe aquiesceu.

Retirando uma pilha de papéis de uma das poltronas para poder se sentar, ela o observou encher o próprio copo e engolir tudo em apenas um gole.

— O que é tudo isso? — Perguntou, indicando a gama de papéis que não estavam por ali pela manhã.

O pai arregalou os olhos por um segundo, parecendo se situar no contexto. Volveu a atenção para aquela bagunça, sulcos surgindo entre as sobrancelhas.

— Burocracia, querida — respondeu, simplesmente, voltando a afundar-se na balbúrdia da própria cabeça. Ele não precisou citar o tiroteio para que ela entendesse que estavam falando sobre ele.

Phobe estava pronta para se levantar e ir para o quarto quando o suspiro entrecortado do pai a impediu. Atentou-se à figura do mais velho, piscando diversas vezes ao perceber que ele estava, sim, chorando.

— Pai?

— Sinto muito que tenham que pagar pelos meus erros, querida.

— O quê?

— ...Mas não posso voltar atrás. Me desculpe, Pheebs, sei que está sofrendo. Acredite em mim, eu fiz o certo. Preciso salvar o que resta dessa família.

Ele se levantou da cadeira, cambaleando até a porta aberta. A garota fez o mesmo e o seguiu pelo corredor até seu quarto.

— O que o senhor está dizendo?

— Eles estão vindo, Phoebe — o Sr. Oswald despiu o blazer e chutou os sapatos para longe. Seu corpo caiu sobre a cama, e ele enrolou os braços em torno do travesseiro de penas — Mas não se preocupe, eu farei o que estiver ao meu alcance para protegê-la.

— O que o senhor está dizendo?

Ela sentiu um prelúdio para o perigo como jamais sentira na vida: uma sensação amarga devorando-lhe desde a boca do estômago à garganta. A tensão a congelou até os ossos, e nenhum som saiu por sua boca quando fez menção de dizer algo.

— Pai — parecendo pisar em ovos, Phoebe se sentou na borda da cama. — O  que quer dizer com isso? Quem são “eles”?

Pousou a mão magra sobre um dos seus braços e tentou chacoalhá-lo, sem resposta. O Sr. Oswald já dormia pesadamente.


(...)


Octavia se lembrava de pouquíssimos detalhes antes do momento em que um projétil de metal devorou suas entranhas.

Ela se lembrava do rosto lívido e dos cabelos louros de Lilith, claros como amarelo diluído em água; aquarela. O sorriso da melhor amiga era tão bonito. Estavam fazendo planos para as férias. Talvez pudessem juntar algumas malas e fugir por um mês inteiro. Será que a loira gostaria da Califórnia? Já estava cansada da paisagem de pedra e concreto de Detroit.

Quando a primeira bala estourou a vidraça das portas, empurrar Lilith para o chão foi sua primeira reação. A agilidade da jovem de baixa estatura fazia jus ao título de capitã do time de basquete, bem como a lealdade para com seus amigos garantia que Lilith não errara a escolher LeFreve como sua confidente.

Se abaixar foi a segunda reação. Octavia era rápida, mas incapaz de competir com uma ponto trinta e oito. Ela só percebeu que estava sangrando quando os tiros cessaram.

Lilith gritou de horror, engatinhando sobre os estilhaços para alcançá-la. Se lembra do rosto lívido e dos cabelos dourados sobre si. Em seguida, tudo ficou escuro.

— Pressão arterial e oximetria baixando.

— Doutora, o coração dela está parando!

— Tragam o desfibrilador! Carregar em duzentos joules, rápido!

Que merda.

Onde ela estava?


(...)


Lilith passou quase dez minutos inconsciente depois de receberem a notícia de que Octavia tivera uma parada. 

Enfermeiros a colocaram, inconsiente, num leito para que descansasse. Assim que acordou, no entanto, voltou a quase arrancar os próprios cabelos. Ainda só não o tinha feito ainda porque Claire insistia em segurá-la pelos pulsos enquanto Louis tentava entrar em contato com os pais da garota — uma missão quase impossível.

Audric, que estava por ali bisbilhotando, preferiu não interferir, temendo piorar a situação. Gostava muito de Octavia apesar de não serem propriamente amigos e era fraco demais para aguentar a possibilidade que ela poderia estar morrendo, bem como Vênus. Vomitou numa lata de lixo e foi levado para casa por Hardin.

Pouco tempo depois, Nicolas apareceu. Louis largou sua tarefa para abraçá-lo e chorar, alegando ter estado preocupadíssimo, pensado que o pior acontecera com o irmão.

Meio encabulado, Nick contou que havia sido trazido por uma ambulância, mas seu estado de choque era tão grande que não conseguia parar de gritar. Gritar muito. Ininterruptamente.

Deram-lhe um sedativo e ele, fraquinho do jeito que era, dormiu por horas à fio. A explicação fora tão ridícula que Louis se sentiu no dever de lhe dar um forte soco no braço.

— Qual o seu problema!? — Nicolas gritou.

— Qual o meu problema!? Eu não acredito que estava preocupado com a possibilidade de você estar morto quando estava dormindo. Cara, eu vou te socar tanto. Juro.

— Mas eu tomei um sedativo, não é culpa minha!

— Você acha que isso é desculpa, porra?

Entrementes, Claire servia para Lilith mais um copo de água gelada — talvez o décimo segundo —, ainda tentando acalmar a pobre garota. Ela tinha o rosto inchado feito um balão de tanto chorar, e o coração todo apertadinho.

— Lily, ela vai ficar bem — tentava tranquilizá-la, afagando seu braço sutilmente. — Pode ser que a cirurgia demore, é melhor ir para casa descansar.

— Não posso! Os pais dela ainda não chegaram. Nunca me perdoaria se algo acontecesse estando ninguém aqui por ela. Ela é minha melhor amiga.

Claire sorriu, triste.

— Você está aqui, eu estou aqui — até mesmo o Louis está aqui. Ela não está sozinha, Lilith, existe uma equipe que está fazendo de tudo para salvar sua vida nesse exato momento. Imagine só quão furiosa Octavia ficaria se acordasse e descobrisse que você não descansou nem um pouquinho durante esse tempo.

A loira aquiesceu, embora as lágrimas continuassem a escorrer por seu rosto. Claire entregou-lhe um lenço de papel e sorriu, reconfortante.

Ao saírem da sala de repouso, descobriram que o Sr. e a Sra. LeFreve estavam no hospital há uns bons minutos. Lilith encontrou os próprios pais a caminho da saída e ouviu a informação da boca dos próprios, que procuravam-na por todo canto daquele lugar.

A mãe de Lilith se certificou de fazer ela mesma uma checagem do estado da filha, embora soubesse bulhufas sobre medicina. Regou-a com abraços apertados e beijos em seguida, demorando para perceber a companhia de Claire.

— Oh — a senhora soltou o abraço, deixando Lilith respirar. — Tudo bom, querida?

— Mãe, essa é a Claire.

— Olá — disse Claire.

— Ah! Que lindo nome! Muito prazer, querida. Você se machucou? Onde estão seus pais?

Ela pareceu achar graça da preocupação da mulher.

— Não, eu estou bem. Minha mãe está trabalhando e meu irmão virá me buscar em breve.

— Bom, nesse caso — o pai de Lilith se pronunciou. Ele pousou a mão sobre os ombros da mulher e da filha. — Vamos indo então?

A senhora concordou. Lily pareceu relutante por um momento, mas olhar para Claire fez com que se lembrasse de suas palavras.

Afinal, era verdade; a cirurgia iria demorar. E quando Octavia acordasse, Lilith estaria lá para vê-la.

— Bom, até mais tarde — ela disse.

Claire acenou, sorrindo.

— Até.


(...)


A escola voltou a funcionar normalmente um dia após o atentado, o que todos os alunos concordavam ser um absurdo.

O blog de Molly ofereceu uma cobertura completa sobre o caso, mas ninguém pareceu dar muita bola. Isso, claro, até as matérias da loira e os tweets de sua conta do twitter  (arroba mollyaboveus) serem repostados por uma garota do time de torcida e todo crédito ser atribuído à ela.

Uma investigação por parte da polícia foi feita dentro do colégio. Grande parte das testemunhas foram interrogadas, mas nada de relevante tinha sido descoberto.

Ninguém parecia querer saber de que forma ela conseguira aquelas informações, mas não se falava sobre outra coisa.

— Algum de vocês pode me dizer em quais áreas do Japão o Plano Colombo foi aplicado?

Quase todo mundo olhou ao mesmo tempo para uma menina de pele escura e bonita com dreads enfeitando toda a cabeça.

— O que foi? Não quero responder, não vou com a cara dele — disse Billie, resmungando.

Aspen franziu o cenho.

— Certo...

O silêncio deixou bem claro que nenhum outro aluno dignava-se a responder. Plantando as mãos na cintura, Aspen crispou a boca numa linha retilínea.

Com o olhar do professor aparentemente pairando sobre sua cadeira, Hardin pensou que a pergunta fosse ser dirigida a si. Tratou de desfazer a feição azeda de desconfiança por apenas um instante, voltando a ser só o Hardin Han do terceiro ano.

Ele não conseguia parar de pensar no hospital, no celular descartável e no telefonema que interceptara. Por que a sensação de que o professor de história tinha algo a ver com o tiroteio lhe perseguia? E, pior: por que o destino resolvera ser filha da puta logo após sua chegada? Era, no mínimo, merecida aquela cota de suspeita.

E ele realmente estava com um péssimo pressentimento sobre isso.

Hardin observou — como todos, na verdade — o inflar do peito de Aspen quando este suspirou, decepcionado com o baixo desempenho da classe. A professora Candice estava lecionando história para macacos?

— Audric? — O Sr. Curlligan limpou a garganta alto.

O loiro, que estava no décimo terceiro sono na carteira na frente de Hardin, ergueu a cabeça num rompante.

— Florestas e desertos! — Gritou, com as mãos agarrando as bordas da mesa.

Todos riram, enquanto o professor de história erguia as sobrancelhas em sinal de clara surpresa e ceticismo.

— Caralho — disse Billie Jean, cujo corpo vibrava de tanto rir como se estivesse sofrendo um choque anafilático. — O Japão é tão foda que até os esquilos são super desenvolvidos.

O volume da comoção aumentou. De repente, todos estavam rindo às custas de Audric, que sentiu um rubor subir para suas bochechas. Todos, claro, com exceção de Hardin, pois (1) ele não gostava que rissem do melhor amigo, mesmo que às vezes fosse compreensível e (2) estava muito distraído pensando sobre o telefone descartável.

— Ei, existem desertos no Japão? — Audry indagou baixinho para ele, ainda com o rosto coradinho.

Hardin deu de ombros, mais distraído que o habitual, o que deixou-o encucado.

Quando o sinal bateu, Audric esperou. Ele geralmente era um dos primeiros a abandonar a sala de aula porque, pelo amor, Deus o livre de continuar lá dentro até quando não era obrigado a fazê-lo.

Audry esperou Han juntar os materiais dentro da mochila e passar por si, puxando-o pelo pulso. Hardin soltou uma onomatopeia, sobressaltado, mas não havia ninguém para ouvi-lo.

— Até quando você vai esconder de mim o que está acontecendo? — Indagou, soando levemente chateado. Os dois não costumavam guardar segredos um do outro.

Hardin engoliu o seco da garganta.

— Até ter certeza sobre o que estou lidando.

— Você está gostando de alguém? — Quis saber com certa afobação, ato que fez outrem revirar os olhos. — Você sabe que pode me contar qualquer coisa.

— Não é nada disso, Audric — ele cruzou os braços em frente ao peito. — E não quero te envolver nesse tipo de assunto que, para falar a verdade, ainda não tenho certeza do que se trata. Prefiro absorver esse problema apenas para mim por enquanto. Não quero que se machuque.

Uma expressão séria subitamente encobriu o rosto de Audric.

— Hardin, você está metido com drogas?

— O quê!? Claro que não. Não tem nenhum problema com traficante ou máfia nessa história, que, aliás, não é sobre mim.

— Mas por que não pode me contar? Eu estou ficando preocupado com você…

Hardin sentiu as mãos suarem. Detestava omitir fatos de Audry, mas naquela situação era algo terminantemente necessário. E não importava se ele tentasse suborná-lo com FIFA 2018, comidinhas e mimos — o que era bem a cara daquela trapaceirozinho, embora o FIFA 2018 fosse terrível —, tinha de ficar calado.

— Sinceramente, Audric… Prefiro que fique preocupado comigo do que eu tenha que me preocupar com você. Enfim, vamos para o refeitório? Estou com tanta fome que poderia arrancar sua cabeça à dentadas.

O outro, que embora  ainda estivesse muito curioso e intrigado, não deixou a oportunidade passar:

— Depende de qual está falando…

— Pelo amor de Deus! — Exclamou, horrizado, como teria feito Vênus se ela não estivesse ainda repousando em casa. — Por que eu ainda ando com você?

— Porque você me ama incondicionalmente.

Audric deu um sorrisinho de lado, passando o braço direito por cima dos ombros do melhor amigo, que somente riu enquanto olhava para os próprios pés, parecendo decidir se o amigo merecia um soco nos dentes ou clemência.

— Vai sonhando, vai.


(...)


Ei, Billie — Kyungmi sussurrou para a garota, mordendo a ponta da caneta em desespero. — Quanto deu na sua questão oito?

Estavam na prova de cálculo. Naquele dia, as duas últimas aulas antes do almoço eram de álgebra. Como se já não fosse cruel suficiente mandá-los de volta para a escola um dia após a ocorrência estressante (e traumatizante também), ainda tinham de fazer um exame que valia boa parte da nota final? Revoltante.

A professora corrigia as provas da sala ao lado com caneta vermelha, parecendo diabolicamente feliz em dar notas abaixo da média para pobres estudantes do ensino médio. Isso geralmente significava que não estavam prestando atenção nos alunos que prestavam o exame.

A maioria dos alunos da fileira sob a janela apoiava a cabeça na mesa, e Kyungmi desconfiava que a maior parte estivesse dormindo. Os mais ao fundo usavam seus celulares para descobrir a função afim das questões da prova.

Billie virou-se para a colega, os dreads do cabelo balançando e a pele marrom sendo iluminada pelas luzes que entravam pela janela.

— Oitenta e cinco — informou em tom de segredo. Fez uma bola com o chiclete que triturava entre os dentes antes de voltar a preencher a folha com a tinta azul da caneta.

Kyungmi suspirou, frustrada.

— Meu resultado não foi esse… Droga.

— E qual foi o seu resultado?

— Trezentos e trinta  — sussurrou, com o bico nos lábios gradativamente aumentando de tamanho. — Já sei! Vou marcar a alternativa mais próxima — e foi assinalar a quarta alternativa, o número noventa e sete.

Billie espiou a prova da colega por cima do ombro. Pensou em dizer algo, mas preferiu não se intrometer. Terminou a prova e entregou para a professora, que estava de bom humor suficiente para liberá-la antes do sinal para o intervalo tocar.

Jogou a mochila sobre os ombros e se dirigiu para os fundos, planejando fumar um cigarro enquanto o pátio estava praticamente vazio. Adentrou o refeitório e puxou conversa com as merendeiras, levando até um puxão de orelha por sentar-se em cima de uma das mesas.

— A senhorita não deveria estar na sala de aula, Billie? — perguntou a que tinha cabelos ruivos sob a touca de renda.

— Deve estar matando aula de novo. Essa menina não toma jeito — resmugou outra, mexendo concentradamente uma panela com carne e cenoura. — Que desperdício...

— Que nada, acabei a prova de álgebra e a professora me liberou da sala. Acho que estava de bom humor, sei lá — deu de ombros, desinteressada. — Enfim, vou indo. Capricha na comida aí, tia.

As mulheres se despediram dela com um "até logo".

Billie Jean saiu pela porta dos fundos. Deu alguns passos e respirou fundo antes de tirar um maço de cigarros de dentro do bojo do sutiã. Colocou um câncer entre os dentes e procurou o isqueiro nos bolsos da calça.

Nada. Será que o havia esquecido em casa?

Apoiou-se no chão usando o joelho como apoio e abriu a mochila, mas não encontrou em nenhum dos bolsos. Será que as tias deixariam-na pegar um fósforo emprestado? Será que elas tinham um fósforo?

— Que porra você tá fazendo?

Billie fechou a mão em torno da alça da mochila, pronta pra correr. Por um segundo, pensou que alguém estivesse falando consigo, mas não havia mais ninguém ali.

Ouviu um estrondo na lateral do refeitório, onde ficava o bicicletário; o volume de uma voz se sobressaindo ao da outra. Com o coração batendo rápido, tirou o cigarro da boca e o enfiou dentro da roupa. Lhe ocorreu dar a volta e entrar novamente para dentro do refeitório, mas a familiaridade das vozes a instigou a prosseguir.

— Me responde! Que porra você pensa que tá fazendo?

Escorou-se no muro de tijolos como um inseto e aproximou sorrateiramente para esconder-se atrás de algumas bicicletas. Espiando, viu o que menos menos esperava ver.

Aspen Curlligan, o professor de história, desferindo um soco no rosto de Dean Oswald.

Dean Oswald. O fodendo diretor da escola.

Billie teve que tampar a própria boca para conter uma exclamação de surpresa.

— Que droga, Aspen — o homem praguejou, recuando para apoiar-se na parede. Um filete de sangue começou a escorrer de um corte fino em sua sobrancelha.

O professor pareceu atordoado, como se tivesse percebido que havia perdido a cabeça.

— Eu...

— Aspen — o ex-militar se recompôs, limpando o sangue com as costas das mãos. — Sinto muito, mas não posso mais fazer isso.

Um instante foi o suficiente para fazer o remorso desaparecer. O Sr. Curlligan avançou contra ele, ergueendo-o pelo colarinho da camisa de botões. Ele empurrou o Sr. Oswald contra a parede, segurando com força o tecido fino.

— Eu não vou permitir que faça uma besteira — arfou. — Estamos falando de caos mundial, Dean. Você não vai foder a nossa missão, entendeu? Fizemos um juramento.

Billie apurou os ouvidos. Mas sobre o que eles estavam discutindo?

O asiático soltou-o, se afastando.

— Eu não vou continuar com isso. Não posso — o Sr. Oswald continuava irredutível. — Eu já perdi muitas coisas por causa da lealdade que jurei.

Aspen riu com gosto.

— E apenas você perdeu?

Dean ficou em silêncio. A garota inclinou-se para tentar ouvir melhor, pensando que talvez eles estivessem sussurrando entre si.

— Eu não... — um barulho alto cortou sua fala.

Billie desequilibrou-se e caiu sobre uma bicicleta, que caiu sobre outra e derrubou o restante como um dominó.

— O que foi isso?

Ela não ficou para ser abordada pelos dois; se levantou o mais rápido possível e correu sem olhar para trás.


Notas Finais


perdão qualquer erro aí
a


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