História Outlaws - Hes an Astronaut

Se ouvir minha voz, venha me resgatar. Você está ai fora? Porque você é tudo que tenho! — Simple Plan 

Cassie's POV

Desde que ele surgiu, eu percebi inúmeras coisas diferentes. O que mais me chama atenção é a sua disposição, que basicamente é tranquila e cansada, já seu rosto, com olheiras profundas e escuras sob seus olhos, talvez devido ao seu abuso de drogas. Fora o fato do cabelo bagunçado e de que ele parece não dormir direito há dias. 

Ele é solitário, como um astronauta. Alguém que o mundo já esqueceu. Isso me deixa triste, porque no fundo, eu sinto que ele precisa de alguém. No fundo, é o que eu preciso também. 

Depois que eu o deixei lá, precisei respirar fundo e voltar para casa. Possivelmente meus pais estão ocupados demais transando, então sequer notam minha ausência. Subo as escadas, indo ao meu pequeno refúgio. Ponho os fones e coloco uma música qualquer, que me distraia dos gemidos. 

Por que sempre tão triste? 

Seus olhos refletem essa dor e quase ninguém consegue notar. É tão deprimente saber que alguém está quebrado por dentro, mas ninguém consegue enxergar. Eu entendo como ele se sente, porque é assim que me sinto também. 

Uma garota quebrada por dentro, gritando para ser ouvida, ser entendida. Os gritos de dor, entretanto, parecem estar no mudo. Ninguém ouve. Ninguém vê. Evan não. Ele enxerga a minha dor. Enxerga o meu pedido de ajuda. 

Talvez seja por isso que ele não deixa com que eu me aproxime. Ele não quer quebrar mais do que eu já sou quebrada. Percebi, de relance, que Evan pode ser tanto uma salvação quanto uma destruição. Seria eu a mesma coisa? 

Aquele garoto de olhares e alma triste precisa de alguém ao lado dele. Eu, a garota anoréxica e que ninguém se importa, preciso de um motivo para continuar aqui. Como eu disse para Sid, um tempo atrás. É como se ninguém se importasse. 

[...]

Meses se passaram desde tudo. Evan se isolou um pouco mais, dizendo que seria necessário, então eu não me importei. Porém, eu observei de longe que a decadência dele tem sido mais perceptível. As olheiras não diminuíram, mas o cansaço dele tem aumentado mais. 

Michelle, Chris, Jal, Maxxie, Anwar e Sid tentaram se aproximar, mas como sempre, ele se manteve distante. A única pessoa com quem ele conversa é comigo ou com Cook, quando precisa vender alguma coisa. Eu sei que tem algo a mais, mas ele não gosta de tocar no assunto. 

Em minha distração, percebo pedrinhas serem arremessadas contra minha janela. Levanto, indo em sua direção. Ao olhar para baixo, é Evan. Sorrio largamente. Retiro os fones, largando-os no chão e desço as escadas correndo, indo ao seu encontro. 

— wow... Como me achou?

Meu sorriso se desfaz assim que ele me abraça, trêmulo. Ouço o mesmo soluçar baixo, o que me faz estranhar. Abraço-o forte, como se não quisesse soltá-lo mais.

— Evan... O que aconteceu? — perguntei 

— e-eu estou em pânico — soluçou, me encarando 

— vamos... Pra sua casa. Aqui não é ideal. 

Dou meia volta, puxando ele. Depois de um tempo caminhando, descobri onde o astronauta mora. É um apartamento confortável, até. A bagunça do lugar revela que ele passa mais tempo no quarto do que em qualquer outro cômodo. Ele sentou-se no sofá e eu fui a cozinha para pegar água com açúcar. Notei que ele deixou meu bilhete em sua geladeira. Sorri discretamente. 

— mais calmo? — perguntei, dando-lhe o copo com água 

— o-obrigado. 

Ainda trêmulo, deixou o copo sobre a mesa da sala. Esfregou os olhos com as mangas do moletom e então me encarou. Eu já vi esse efeito antes. Abstinência. 

— eu... Eu preciso de ajuda, Cass. — admitiu 

— você precisa dormir. — digo — um bom descanso, pra começar. 

— eu não consigo dormir... Eu acordo gritando ou tremendo. Meus pesadelos não me deixam ter uma noite tranquila. — confessou, com a voz embargada 

— eu estou aqui. — sorri 

Ele assentiu e se levantou. Fomos para o seu quarto e deitamos. Ele virou de costas, logo entrelaçou nossas mãos e eu o abracei dessa forma. 

— obrigado, Cass. — sussurrou 

Ele fechou os olhos lentamente, pegando no sono. O perfume dele é como uma anestesia. Começo a pegar no sono também, então não demora até minhas pálpebras pesarem e lentamente, se fecharem. 

[...]

Abro meus olhos e pisco algumas vezes. Evan continua dormindo calmamente, o que me deixa aliviada. Solto nossas mãos devagar, para evitar acorda-lo. Levanto da cama e vou para a cozinha, preparar algo. 

Resolvo fazer macarronada, porque é a coisa mais fácil e prática que já aprendi a fazer. Já está de noite e eu chequei minhas ligações. Nada. Como eu disse, é como se ninguém se importasse. 

Fico imaginando como ele consegue viver sozinho dessa forma. Eu, particularmente, vivo "abandonada". Meus pais estão ali, mas parecem ignorar meus problemas. Já ele... Desligo o fogão assim que o macarrão e o molho ficam prontos, então despejo o conteúdo vermelho. Ouço um barulho e já sei que ele também acordou. 

— hey. — digo, chamando sua atenção 

— achei que tivesse ido embora — sussurrou

— eu não poderia te deixar aqui... Não sozinho.  

Ele sorriu, mas como o mesmo olhar diz tudo, é triste. Sento-me ao seu lado e ele deita sua cabeça em meu ombro, encarando a parede. 

— eu fiz algo pra comer. — digo 

— estou sem fome. 

— tem que comer. — digo 

— Cassie... 

— eu não fiz um tratamento contra anorexia nervosa atoa, certo? — protestei, irritada 

Evan me encarou, surpreso. Acho que eu falei demais. Levantei nervosa e fui pra sala. Não demorou muito até ele vir atrás de mim. 

— anorexia nervosa? Por que não me contou?

— você tem seus segredos, eu tenho os meus. 

— é justo. — disse — obrigado... Por tudo. 

— vamos comer? É ruim quando fica frio. 

Ele concordou e nós dois fomos pegar os pratos na cozinha. Depois de nos servimos, fomos para a sala. Ele ligou a televisão e começamos a jantar, em silêncio. 

— astronauta — comento 

— o que? — ele me encarou

— você é um astronauta. — digo calma 

— Cassie... Do que você está falando? — riu, confuso 

— sozinho. Alguém que o mundo esqueceu.

Ele ficou me encarando, sem esboçar reação. Evan deixou o prato sobre a mesinha e respirou fundo, mais como um suspiro. Encarou suas mãos, estralando os dedos. 

— Cassie, você é tudo o que eu tenho. — sua voz tremeu — mas eu não quero arruinar sua vida. 

— eu gostei de você no primeiro momento em que te vi. — suspirei — eu não quero lutar contra isso, é inútil. Wow. Eu sei como dói. 

— eu tentei te afastar de todos os meios que eu conheço — dessa vez ele riu — mas parece não ter adiantado. 

— eu sou persistente. — sorrio 

— você é estranha, Cassie. 

— você é um astronauta, Evan. 

Deixamos a louça na pia e fomos para o quarto dele novamente. A minha disposição para ir pra escola simplesmente morreu, assim como a dele. Então decidimos que iríamos ficar em casa. 

— eu disse a Jal que não iria me envolver. — Evan diz — só que eu fiz o contrário. 

— Jal provavelmente só quis me proteger. — comento — antes de você aparecer, eu fiquei muito mal, porque eu achava que gostava do Sid. Ele era afim da Michelle, namorada do Tony. O que me deixou triste é que ela nunca precisou lutar pelo amor dele. 

— assim como você não vai precisar lutar pelo meu. — sorriu doce

Os olhos intensos de Evan me prendem com facilidade. É como se existisse uma galáxia para ser descoberta atrás da cor escura que existe em sua íris. Ele é um universo reprimido. Atraente. Misterioso. Escondido.

— eu quero decifrar você. — digo 

— um dia eu vou responder todas as suas dúvidas, eu prometo. 

— promete que não vai me deixar. — sussurro

— só se você também prometer. 

Estendi meu dedo mindinho, assim como ele o fez. Entrelaçamos um ao outro, selando a promessa. Sorrio satisfeita, assim como ele. Agora está mais claro do que nunca. Ele me quer, assim como eu o quero.