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História Outra vez, uma última vez. - Parte VI


Escrita por: Noire

Notas do Autor


Olá!

Mil perdões pelo sumiço.
Eu tive alguns problemas e ai não deu para atualizar. Sorry! Depois de quase três meses de hiatos, finalmente consegui um tempo para desenrolar essa fanfic. Agradeço a todos que favoritaram e comentaram nesse período em que estive afastada. Isso me alegra muito. Muito, mesmo! <3


Boa leitura!

Capítulo 6 - Parte VI


Fanfic / Fanfiction Outra vez, uma última vez. - Parte VI

                                                                                                        Capitulo VI

Agora ela se foi e estou aqui sentado e bêbado e meus olhos parecem molhados de lágrimas. Está tudo muito silencioso e sinto como se um arpão estivesse atravessado no meio das minhas tripas. - Bukowski

Acordar em uma cama vazia e fria após juras de amor é dos piores momentos​ que uma pessoa poderia ter. É algo irreal, vazio. É como acordar de um sonho efêmero e perceber que sua alma foi extraviada e no lugar dela um buraco negro estivesse emergindo, alastrando-se, consumindo todas as possíveis emoções humanas.

É estranho.

Em seu peito Kanon podia sentir o buraco negro se formando, ao fixar o olhar no leito vazio com os lençóis frios. Ao lado da cama o relógio indicava as horas; dez para sete. Kanon precisava chegar à empresa às oito horas. Um lamento​ necessário rompeu em sua garganta. Era frustrante saber que ele não teria tempo para sequer chafurdar  em sua própria miséria.

Resignado e com uma baita dor no estômago, Kanon saiu da cama para encarar apenas o som do silêncio. A casa parecia inóspita, desolada, sem sons ou sinais de que havia mais alguém ali. Parado no meio do quarto, olhando fixamente para a porta, Kanon aguardou ansiosamente​ o momento em que Radamanthys iria entrar pela porta com uma xícara de café quente em mãos. Ou, então, sairia do banheiro​ com uma toalha na cintura, após um banho quente, e andaria em direção a ele para tomar-lhe os lábios, em um beijo de bom dia, e depois ambos iriam cair na cama e fazer um amor matinal bem gostoso​.

No entanto, nada daquilo aconteceu. Essas imagens eram apenas frutos de sua própria imaginação e de momentos  que já não teria mais com o passar dos próximos dias.

Fechando os olhos Kanon grunhiu em chateação. Radamanthys não era o seu primeiro relacionamento. E não era o seu primeiro término também. Desde de que se entendia por relacionamentos, Kanon já havia passado por inúmeras situações parecidas. Vivendo naquele loop de novos começos e términos, até que se ache a pessoa certa. A metade dá laranja, como se diz no ditado popular. Mas dessa​ vez algo não estava certo.

E se Radamanthys fosse a sua metade dá laranja?

Raiva borbulhava​ em seu âmago.

Transar com Radamanthys uma última vez pareceu ser tão bom na noite anterior e agora, que Kanon pensava a respeito, a ideia parecia tão errada. Algo não estava certo, tinha alguma coisa fora do lugar. Faltava alguma coisa e Kanon podia sentir. Só não sabia o quê exatamente era essa falta desenfreada, mas sabia que com o tempo ele iria aprender a lidar com o quer que fosse essa coisa faltosa.

Kanon precisava apenas de tempo. Pois é isso que as pessoas fazem quando alguém vai embora. Tempo. Tempo para continuar a vida, continuar vivendo e tempo para aprender a esquecer de Radamanthys.  Tempo para se reorganizar, colocar sua confusão emocional de volta nos eixos. Tudo era uma questão de tempo. Tempo para que Radamanthys percebesse que havia feito besteira, mas é como diz o ditado: tudo que é bom dura pouco.

Entrando no banheiro Kanon começou a se preparar para tomar banho. Ligou a água e a deixou escorrer, esperando que ficasse quente. No espelho o seu reflexo parecia ser de outra pessoa. O restolho da barba grossa em seu rosto era um indício de que precisava se barbear. Os olhos inchados e vermelhos contavam a verdade, sobre o que andará fazendo nas últimas três horas, desde que havia despertado. O cabelo loiro desgrenhado, de um jeito jamais visto antes, era um dos sinais de sua desperta confusão emocional. Kanon estava cansado, sem ânimo para sequer tomar um banho, e a ideia de ir trabalhar parecia tão torturante.

Mas a vida anda, ela não vai parar só porque seu namorado te plantou um pé na bunda.

Pegando a escova e o creme dental Kanon começou a sua higiene matinal. O gosto de flúor em sua boca fez seu estômago embrulhar,  causando-lhe um enjôo.  Lavando o rosto Kanon passou a mão em seu maxilar, avaliando se iria ou não se barbear. Sem paciência acabou por desistir da ideia e entrou debaixo do chuveiro, descansando a cabeça no azulejo frio, fechando os olhos e ouvindo apenas o barulhinho de água a cair no chão descendo pelo ralo.

Outra vez o silêncio ensurdecedor  o envolvendo. Outrora Kanon adorou o silêncio de sua casa. Afinal, havia vivido por anos em uma casa cheia de gente, junto aos seus quatro irmãos barulhentos, foi o catalisador desse gosto. Agora,  depois de anos, tendo uma boa companhia igual a Radamanthys o silêncio parecia ser uma grande tortura.

Terminou o banho de forma letárgica, saindo do box com o corpo ainda molhado e rumando ao closet retirando uma cueca e vestindo-a para em seguida pegar uma calça social preta, camisa, gravata e começando a se preparar para o trabalho. O relógio indicava que já estava ficando atrasado. Seu estômago roncou. Até o momento nem sequer tinha cogitado pensar em fazer o café pois Radamanthys sempre acordava duas horas mais cedo e preparava o café da manhã para ambos. Hoje não seria o caso, e seu estômago teria que se contentar com um café de alguma conveniência. Andando pela casa e catando suas coisas Kanon deparou-se com a chave em cima da mesa.

Mal estar assolou o corpo e seu coração tornou-se a ficar em frangalhos… Seu peito doía de um jeito angustiante.

Ficou parado por alguns instantes encarando aquele singular objeto que mostrava que, os acontecimentos​ dos últimos dias não era uma coisa da sua cabeça. Ele e Radamanthys haviam de fato rompido, outra vez. E a diferença, entre dessa vez e as outras vezes, é que agora não haveria retorno. Um bolo formou-se na garganta e Kanon rumou em passos duros para a porta. O amor que teve por Radamanthys era real. Não era uma simples paixão passageira. Kanon amava muito Radamanthys.

Mas que amor é esse que desiste tão rápido? Que amor único,  em tons vulcânicos, é esse que esfria no primeiro encontro com uma parede glacial? Que tipo de amor é esse, onde só restam as memórias formidáveis e distantes, de um relacionamento valoroso, que aos poucos vai tornando-se um sonho efêmero.

Os lençóis outrora quentes agora iam ficando frios. Suas manhãs calorosas​, mesmo nos dias frios, agora estava estranha e com um sentimento vago. Será que ia ser assim até o fim dos tempos?  

Kanon não queria esse sentimento esquisito que lhe corroía o âmago.

Em todas as vezes em que havia terminado um relacionamento com alguém o que sentia era um alívio constante. Uma sensação de liberdade. Entretanto, agora, seu corpo parecia estar atado a zilhões de correntes presas ao chão. Cada passo era uma tortura. Kanon não conseguia sequer respirar sem sentir uma  dor profunda, como se um arpão estivesse encravado no peito.

_ Porra! - Bradou entrando no carro.

Essa miséria pífia precisava acabar, Kanon não ia durar muito se continuasse a ter essa melancolia como parceira pelos próximos dias.

Ligando o carro e engatando a ré, Kanon começou a manobrar o veículo para fora da garagem. Precisava tirar Radamanthys de sua mente até que não restassem nem um resquício de afeição ao homem que o havia trocado por um filho. E por pensar no filho de Radamanthys fez com que o estômago de Kanon se contorcer em borbulhas de raiva e depois um mal estar vago, em remorso. A culpa o corroía aos poucos.

_ Meu Deus! Como posso ter esses pensamentos grotescos para com uma criança! - Balbuciou torcendo o nariz, censurando-se.

A culpa não era do bebê. A criança não tinha pedido para não nascer. E tão pouco era da Pandora ou de Radamanthys. Ninguém tinha culpa naquela situação delicada. O único culpado era Kanon, por ser um completo babaca cheio de ciúme e pensamentos errados. Um verdadeiro doido enciumado.

_ “Que tipo de adulto tem ciúmes de uma criança?” - pensava enquanto dirigia, mordiscando o canto dos lábios.  - “Você é um homem tão besta, Kanon!”

Enquanto ia dirigindo pelas ruas já movimentadas da cidade, Kanon chafurdou-se ainda mais em sentimentos estranhos. Ideias erradas vagueando por sua cabeça. Dirigia no automático, sem prestar muita atenção ao seu redor. No rádio uma música brega falando sobre um amor não correspondido tocava, embalando ainda mais a angústia que Kanon sentia.

Ao adentrar no estacionamento da empresa a primeira coisa que Kanon fez foi vasculhar a picape de Radamanthys, não a encontrando. E quando percebeu que dia era, sua respiração saiu de seus pulmões em alívio. Radamanthys  não estaria no prédio sede naquele dia, mas sim na área da mineradora. Kanon não ia conseguir trabalhar, ao imaginar que Radamanthys poderia estar a poucos metros de distância onde apenas alguns blocos de concreto separava-os.

Desligado o carro, saindo e trancando-o, Kanon andou em direção a portaria do prédio.

_ Bom dia. - Cumprimentou o porteiro, com um sorriso nos lábios.

_ “Bom dia, onde? Meu dia começou péssimo.” - Resmungou em pensamentos, dando um breve acenar ao homem que chamava o elevador. - Obrigado, Simon.

_ Disponha, Senhor.

_ Hoje será um dia daqueles… - Balbuciou baixo encostando-se contra o metal frio do elevador e fechando os olhos. Quando as portas abriram Kanon abriu os olhos desencostando-se da parede fria e ajeitando o casaco quando vozes o despertou de seus pensamentos.

Durante o curto percurso no elevador, o corpo de Kanon entrava em colapsos nervosos ao cogitar encontrar-se com Radamanthys. E por mais que soubesse que Radamanthys não estava no prédio, seu coração batia aos pulos em seu peito. Kanon não tinha ideia de como iria agir diante de Radamanthys.

O elevador antes cheio estava começando a ficar vazio enquanto Kanon divagava sobre a noite anterior. Os beijos cálidos que Radamanthys lhe dava. As carícias suaves junto a intimidade que trocavam. Kanon iria surtar se topasse com Radamanthys em algum momento do dia. Kanon não estava preparado para bancar o indiferente diante de Radamanthys. Futuramente sim, no momento não. A ferida da rejeição ainda estava aberta e sangrando, Kanon ia precisar de um bom tempo sozinho para ficar melhor. E só de lembrar que Radamanthys havia saído na surdina,  o peito de Kanon doía ainda mais. Não que outrora Kanon não tivesse feito isso com outros encontros. Mas as vezes que havia feito eram com pessoas insignificantes e sem rostos, onde o que importava era o alívio momentâneo e puramente carnal da libido. Radamanthys não era um caso de uma noite só.

Kanon não sabia o quê era pior: acordar pela manhã nos braços de Radamanthys ou acordar sem ele.

O apito do elevador soou indicando que Kanon já estava em seu destino final. Respirando fundo saiu do veículo adentrando no andar de seu escritório, onde sua prestativa secreta já o aguardava organizando a mesa.

_ Bom dia, senhor.

_ Bom dia. - Comprimentou entrando no local e retirando o grosso e pesado casaco. - Moira providencie um café para mim e depois me dê o itinerário do dia. Quero adiantar os assuntos da próxima semana.

_ Sim, senhor.

                                                                                        •~•~••~•~••~••~•~••~•~••~

 

O dia havia começado cinzento e frio, com a temperatura alternando entre frio glacial e frio zero absoluto. Os invernos em Lavrion eram rigorosos​ e com muita neve. Quando Kanon saiu da empresa ao fim do dia seu carro encontrava atolado em neve embora a pista do estacionamento estivesse limpa.

_ Droga!

Quando finalmente conseguiu fazer o carro ligar Kanon saiu dirigindo pela pista escorregadia e escura. O dia tinha passado lento e cheio de nostalgia. No fim, se atolar em trabalho não havia sido o suficiente para fazer Kanon esquecer de seus pensamentos melancólicos. Sem a mínima ideia do que fazer, pois não queria voltar para sua solitária e vazia casa, Kanon ia dirigindo sem rumo pela cidade até que parou em um barzinho qualquer, de um bairro qualquer.

O bar tinha uma decoração robusta com uma iluminação à meia luz e adereços em madeira. A música do ambiente era suave, uma melodia cheia de nostalgia. O lugar era agradável, com uma clientela eclética, sentados nas vastas mesas de madeira. Preferindo ficar sozinho do que sentar-se em meio as pessoas Kanon seguiu em direção ao balcão no fundo do estabelecimento. Uma parede enorme em vidro e espelho mostravam a vasta coleção de bebidas alcoólicas. Sentando-se na cadeira,  colocando o braço no balcão enquanto apoiava a mão no queixo, Kanon olhava as variadas bebidas diante de si.

_ Quero um whisky. - Balbuciou encarando a garrafa de Jack no alto da prateleira. - Mas estou de carro...

Desviou os olhos para a outra garrafa e depois para uma outra logo abaixo. Muitas bebidas, tantas opções.

_ “Talvez um Ouzo para aquecer a noite…?” - Indagou-se em pensamento, fazendo uma carranca ao lembrar se de sua última ressaca.  - Não posso ficar de ressaca, tenho que trabalhar amanhã… - Resmungou esfregando os olhos em frustração.

_ Se o senhor me permite, posso indicar excelentes coquetéis sem álcool. - Disse a voz em um timbre rouco, quase melodioso.

Os olhos de Kanon deixaram as prateleiras transparentes para encarar o homem de semblante sério vestido em um impecável uniforme de barman.

_ Não, não quero nada doce. Me traz algum drink forte com refrigerante, não tô afim de ficar bêbado.

_ Não é recomendável misturar refrigerantes e destilados. O índice de embriagar-se mais rápido é alto. Agora se realmente desejar posso preparar um coquetel de Rum e Guaraná.

_ Me traz um Gin com Tônico. - Resmungou, balançando a mão no ar em rendição.

_ Sim, senhor. Algo mais?

_ Só isso por enquanto.

Tamborilando os dedos no balcão Kanon começou a olhar ao redor quando seus olhos caíram em um casal, em um canto mais escuro do bar. Os dois homens estavam próximos​ um do outro, um deles com a mão envolta da cintura do outro homem. Um suspiro sôfrego saiu por entre seus lábios ao recordar-se das palavras de Radamanthys na última noite.

“Eu amo você. Eu amo suas perfeições e imperfeições. Você é gentil,  inteligente, sexy, interessante, talentoso,  bonito. Sarcástico, às vezes, cabeça dura e muito teimoso! As coisas que eu odeio em você, me fazem te amar ainda mais.”

_ “Meu Deus, como sou um idiota! Se Radamanthys realmente me amasse, eu não estaria aqui, em barzinho qualquer. ” - Bile subiu por sua garganta e seus olhos estavam ameaçando ficar marejados. Fungando Kanon tratou de desviar o olhar do doce casal.

_ Coração partido?

_ O quê? - A voz do barman despertou Kanon de seus devaneios melancólicos.

_ As pessoas não vêm até aqui em uma terça feira para embebedar-se e quando vem é para algum tipo de comemoração. Mas existem aqueles, que independente do dia da  semana, precisam fugir de alguma coisa ou no caso esquecer. - Disse o homem, colocando a bebida no balcão na frente de Kanon.

_ Você sempre tem o costume de lidar com bêbados de coração partido?

_ Em um mês? - Indagou retoricamente, arqueando  as  pestanas.  - Ao menos uma vez por semana, aparece um pobre coitado por aqui totalmente aos frangalhos. Mulheres podem vir a serem cruéis quando querem.

_ Os homens também…- Murmurou baixinho engolindo o restante da bebida em um único gole. - Me traz outro, mais forte dessa vez.

_ Algo mais? - Perguntou o homem prestativo.

_ Não. - Balançou a cabeça. Seu corpo estava em uma maresia de emoções.

E pelo resto da noite Kanon permaneceu no bar até quando o gerente e o seu prestativo barman o informou que já estavam prestes a fechar o local, e nisso já passava das duas da manhã. Kanon havia ficado por sete horas em um bar, até a alta madrugada. E um pensamento engraçado lhe ocorreu, ao lembrar que não ficava fora até a alta madrugada já há um bom tempo. A última vez em que havia saído e perambulando pela cidade até de madrugada foi quando havia terminado com Radamanthys na primeira vez.

Radamanthys era o motivo de Kanon ficar literalmente no fundo do poço. Era incrível a maneira como o cara conseguia colocar Kanon nos trilhos para depois deixá-lo a Deus dará. É muita filhadaputagem…

Mas, infelizmente, relacionamentos são assim: cheio de altos e baixos.

_ Bem, ao menos irei para casa sóbrio e completamente angustiado. Maravilhosa vida a minha. - Disse com escárnio, saindo do estabelecimento resmungando e praguejando lamúrias na rua deserta e coberta de neve.

E durante o restante do mês Kanon continuou a se sentir pior que merda. Sempre ao acordar e sempre ao dormir. A falta que tinha de Radamanthys era sentida sempre que Kanon estava em casa. Outras vezes​ acontecia no decorrer do dia, quando sua mente começava a lhe pregar peças. Mas na sexta feira quando Kanon decidiu pôr a cara do lado de fora, na empresa, a primeira coisa que deu foi de cara com Radamanthys no elevador.

Por um mês Kanon ficou fugindo de Radamanthys igual ao capeta foge da cruz, para então deparar-se com o homem responsável por todas as suas noites frias e solitárias. Um brilho nos olhos de Radamanthys não passou despercebido por Kanon quando encaram-se  E quando Kanon fez menção de abrir a boca para chamar Radamanthys, o homem à sua frente deu um passo para trás desviando os olhares e murmurando um: pegarei o próximo.

Aquilo foi a gota para Kanon e então as coisas ficaram mais claras: ele não tinha visto Radamanthys nos últimos dias. Em nenhum momento, até quando Kanon pensou que o encontro ia ser inevitável Radamanthys estava por perto. Kanon não podia acreditar que Radamanthys estava realmente o evitando. Depois da primeira semana, em que tinham rompido, Kanon pensou que poderia aos poucos ter ao menos a companhia de Radamanthys na área da empresa. Talvez, quem sabe, reconquistar o homem que amava e sentia falta.

Abaixando os olhos Kanon forçou-se a não demonstrar nenhuma emoção. Radamanthys tinha cogitado fingir uma separação, e agora, que pensava seriamente sobre o assunto, Kanon arrependia-se amargamente por não ter defendido a relação que tinham. Por ter agido com raiva cega e ciúme doentio Kanon havia perdido uma oportunidade de ainda ter Radamanthys.

Se tivesse escutado Radamanthys nada disso estaria acontecendo. Kanon estava com raiva, muita raiva. Raiva de si mesmo por ser um babaca cheio de teimosia.

Naquela mesma noite, em que havia topado com Radamanthys no elevador da empresa, Kanon decidiu afogar de uma vez por todas as suas mágoas reprimidas por um mês. O inverno estava quase no fim, mas a neve não dava trégua. Entrando no estabelecimento, balançando os ombros e retirando a fina camada de neve de suas roupas, Kanon foi andando até o balcão, onde seu prestativo barman estava o aguardando como vinha fazendo nas últimas noites durante o mês.

No início Kanon bebia apenas Gin com Tônico mas depois de enjoar dá bebida, e por insistência de seu barman, passou a experimentar alguns drinks sem álcool e coquetéis acompanhado com porções de petiscos. No entanto, hoje ia ser diferente.

_ Olá. - O homem atrás do balcão o saudou, sempre prestativo e receptivo.

_ Me dê Ouzo. - Pediu rapidamente, ignorando completamente a cortesia do barman atrás do balcão.

_ Pensei que estivesse em abnegação de bebida alcoólica? - Disse o homem, com um riso fácil nos lábios.

_ Mudança de planos​. Hoje eu realmente preciso de uma coisa forte.

_ OK! Um momento.

Quando a bebida foi posta na sua frente Kanon a bebeu como se sua vida dependesse do líquido viscoso. E quando a bebida chegou ao fim Kanon  estremeceu ao sentir o destilado envolver-lhe o corpo.

_ Traga-me outro… - Balbuciou, erguendo o copo para o homem uniformizado.

_ Sim.

Pelo resto da noite Kanon permaneceu bebendo, alternando entre​ Ouzo e Tsipouro. O restante da noite passou como um borrão e a última coisa que Kanon viu foi o olhar de preocupação no semblante de seu prestativo barman.

                                                                                          •~•~••~•~••~••~•~••~•~••~

A cabeça de Kanon doía como se alguém tivesse lhe fazendo uma trepanação. Zonzo e com dores abdominais infernais Kanon pulou da cama e antes que pudesse chegar, ou no caso achar o banheiro, acabou por vomitar no chão do quarto.

_ Porra, cara!  Eu não acredito que você vomitou no chão do meu quarto! - A voz embargada de sono bradou contrariado.

Respirando em golfadas de ar Kanon ajoelhou no chão do quarto, apoiado a cabeca na mão. O local guravat e a cabeça de Kanon no momento parecia pesar uma tonelada. O farfalhar de roupas e resmungos chamou sua atenção e embora tonto Kanon pôde analisar o ambiente a sua volta. Definitivamente não era o seu qusuje certamente não era o de Radamanthys. E tão pouco o cara com a rechonchuda e morena bunda de fora e completamente nu, a poucos metros de distância de Kanon, não era Radamanthys.

Então, quem diabos era aquele homem? E porque diabos estava pelado e naquele quarto?

_ Primeiro você fica bêbado, depois me faz transar contigo e agora vomita no meu chão? Sério?

_ “Merda! Merda! Merda tripla! Porra. O que diabos eu fiz ontem a noite?”

Vestindo uma cueca o homem saiu para fora do quarto. Kanon permaneceu imóvel, sem saber se fugia ou ficava onde estava. Olhando para si notou sua nudez. Sair na surdina estava fora de cogitação. O jeito era encarar o sujeito, que já  estava entrando novamente no aposento.

_ Aqui, me deixa limpar essa bagunça.

_ Desculpe. - Sussurrou rouco, sua garganta ardendo, envergonhado. O homem à sua frente parecia ser familiar, mas Kanon não conseguia lembrar-se de onde conhecida o sujeito. E com a cabeça girando, doendo de ressaca, só piorava ainda mais a situação.

_ Está tudo bem. Já limpei muito vomito no bar, só não esperava​ ter que fazer isso em meu próprio quarto.

_ Espera, você disse bar? - Kanon balbuciou, fechando os olhos e franzindo o cenho. Organizando as ideias.

_ Sim, é onde trabalho.

_ Merda! - Praguejou quando abriu os olhos, notando a tontura ir embora, normalizando sua visão.

_ Concordo! - Exclamou o homem erguendo-se do chão, com o pano cheio de vômito e saindo do quarto, deixando Kanon sozinho com suas lamúrias.

Olhando para o estado em que se encontrava Kanon passou os olhos em volta, procurando suas coisas, quando avistou sua cueca jogada em uma lamparina presa ao teto. Ficou parado alguns instantes perplexo, tentando entender como tinha conseguido fazer essa proeza.

_ “Como ela foi parar ali?” - Pensou franzindo o cenho.

As pessoas fazem coisas estranhas quando estão bêbadas.

Subindo na cama e esticando os braços, quase tocando o tecido macio, Kanon estremeceu quando seu adorável caso de uma noite de embriaguez adentrou no quarto.

_ Eu trouxe um comprimido para náusea e… O quê porra você está fazendo? - O homem exclamou, de olhos arregalados, surpresa genuína estampada em sua face.

Assustado Kanon retrocedeu, e por pouco não caiu de bunda no chão, levando ambas as mãos ao pênis escondendo-o.

_ Pegando..Hãm... minha cueca…? - Murmurou, a face de suas bochechas corando em um tom rosa salmão. Desviou os olhos do cara, envergonhado com tal situação. Kanon franziu o cenho ao notar o quão idiota aparentava ser. Parecia um adolescente pego no ato ao bater uma punheta.

_ Quer ajuda? - Ofereceu o homem, com um sorrisinho de puro deboche na curvatura de seus lábios.

_ Agradeço, mas não. Obrigado. - Murmurou sem jeito ao notar como o homem  olhava seu corpo desnudo. -  Você importa-se de virar e esperar que eu ponha a minha cueca​?

_ Meu amigo, eu já vi e senti tudo isso aí ontem a noite. - Disse o moreno cheio de deboche, com um sorriso matreiro, passando os olhos entre o pacote firme que Kanon tinha entre as pernas e a face corada. Seus olhos castanhos claros brilhando em pura libido.

Kanon conhecia aquele olhar cheio de luxúria.

Consternado, Kanon desistiu e virou-se de costas para o homem, dando um pulo na cama, pegou sua cueca e a vestiu quando escutou uma louvação atrás de si.

_ OK! Isso aí eu não vi ontem a noite. - Disse o moreno, rindo em puro tom de gozação. - É uma bela vista.

_ Minha bunda não está disponível para negócios​. - Resmungou, franzindo o cenho em uma careta.

_ Bem, quem sabe na próxima… - O homem riu, balançando as sobrancelhas em genuína expectativa.

Sem saber o que responder Kanon preferiu ficar calado, completamente encabulado. Sua cabeça estava uma bagunça e por mais que tentasse Kanon não conseguia lembrar-se de nada.

_ Você poderia me falar como...Eu.. nós transamos?

_ Sim.

_ Como?

_  Quer mesmo que eu explique?

_ Não. E me desculpe por qualquer incômodo causado.

_ O único incômodo, momentâneo, que eu tive foi o seu pau na minha bunda ontem a noite.

_ “Ah, droga!”

_ Relaxa, foi apenas sexo! Eu quis. Se eu não quisesse, você não teria só uma dor de cabeça pós coito e sim uma baita concussão.

_ OK! - Murmurou Kanon sem graça e sem saber o fazer. -  Posso usar o seu banheiro?

_Claro. - Disse dando de ombros e apontando para uma porta atrás de si. - Fique a vontade.

_ Obrigado. - Murmurou descendo da cama e indo em direção ao banheiro.

_ Então, quem é Radamanthys? - O homem perguntou, encostando-se​ no limiar da porta com um semblante indecifrável.

Ao ouvir o nome de Radamanthys o sangue quente no corpo de Kanon virou gelo. Um frio passou por toda a sua espinha, fazendo-o sentir um breve calafrio. Algo no tom de voz do homem não parecia certo.

_ O quê? - Balbuciou, o rosto branco igual a marfim.

_ Radamanthys foi o nome que você sussurrou quando gozou.

_ Eu… - Alívio apossou-se do corpo de Kanon. Então, um calor começou a alastrar por todo seu corpo até alojar-se por completo em suas faces. Sua consciência pesou ao raciocinar as palavras ditas pelo homem. Encabulado Kanon ficou sem voz e sem graça, ao notar o jeito que o sujeito o olhava. Frustração aqueceu seu peito. - Desculpe-me. Realmente não me lembro de ter dito… na verdade,eu nem sequer me lembro de como cheguei até aqui. Perdoe-me, isso foi muito indicado de minha pcoisa em

_ Sem problemas. Só tivemos um sexo casual. - Disse o moreno, um pouco sem graça, dando de ombros.

Em todo o tempo que Kanon havia feito sexo com outros amantes, nunca, em toda sua vida havia trocados nomes. Essa situação era muito infausta para ambos.

_ “Cacete!” - Bradou em pensamentos. - Se te deixa feliz, o nosso sexo foi bom. Muito bom. - Disse solene, em tom ameno, dando um sorriso amarelo​.

_ Você nem sequer se lembra.

_ O fato de ter dito o nome dele, ao invés do seu, indica isso. Trocar os nomes às vezes é uma boa coisa. Se o sexo não fosse bom, eu teria me virado para o canto e dormido após o orgasmo. - Disse por fim. - “Que caralhos de desculpa mais lavada é essa? Putaqueparil!”

_ Estranho. - Disse, sem demonstrar nenhuma emoção. - Irei aceitar como um elogio.

_ É um elogio.

_ Lisonjeiro de sua parte me dizer isso. Obrigado.

_ Disponha.

_ E a propósito o meu nome é Ikki.

_ Prazer, Kanon.

_ Eu sei. Eu li na sua carteira de habilitação.

_ Como eu cheguei até aqui? - Perguntou, consternado.

_ Piedade. Ou você dormia na rua, com um inverno rigoroso lá fora ou você vinha para cá. Minha consciência ia pesar muito se ficasse lá fora e morresse.

_ Um táxi resolveria o problema.

_ Você não acordou quando o taxista chegou e muito menos informou o seu endereço.

_ Desculpe, devo ter dado trabalho​.

_ É, você deu trabalho, mas compensou com uma boa transa. - Ikki disse soltando uma gargalhada engraçada, saindo do batente da porta e deixando Kanon sozinho com seus pensamentos.

_ Merda! - Praguejou contrariado.

Ultimamente sua vida estava de cabeça para baixo. Primeiro leva um baita fora, ficando dias a míngua, beirando entre tristeza e solidão… Agora, aos seus trinta e quatros anos, fica de porre, fode um cara qualquer e nem sequer se lembra.

_ “Será que usamos camisinha? E se não usamos?” - Pensou Kanon olhando em volta do quarto a procura de Ikki, com a intenção de perguntar se a o menos tinham feito sexo seguro. -  Mas que porra! - Esbravejou baixinho socando a pia. Precisava sair daquela situação maluca e ir direto para sua casa.

Revoltado a primeira coisa que Kanon iria fazer é um exame clínico, e assim não haveria a necessidade de fazer aquela pergunta tão indelicada. Porque, querendo ou não, a culpa por ter transado não era só do Ikki, também era de Kanon que havia atacado o pobre homem.

Desde o término de sua relação com Radamanthys,  Kanon vinha acumulado muita culpa. Culpa por ser um péssimo namorado. Um péssimo irmão. Um péssimo companheiro. Um péssimo homem e agora um péssimo sofredor, após término de relacionamento.  Havia muita culpa acumulada.

Quando Kanon saiu do banheiro a primeira coisa em que fez foi procurar suas roupas e vesti-las quando deu de cara com Ikki no corredor com um xícara em mãos.

_ Quer tomar café?

Kanon deu uma olhada no líquido escuro e com um cheiro delicioso, porém, com o seu estômago  sensível revirando, provocando-lhe ânsia, preferiu recusar.

_ Eu passo. - Negou com educação, sua voz saindo um pouco falha e temerosa. - Eu estou indo embora.

_ Está tudo bem sair dirigindo?

_Agradeço a preocupação, mas realmente tenho que ir.

_ OK! Seu carro está estacionado em frente ao prédio. Sem arranhões ou batidas, só para constar.

_ Em momento algum pensei no estado do meu carro.

_ Mas deveria. É um ótimo e caríssimo carro. - Ikki balbuciou bebendo o café. - E também é óbvio o seu nervosismo. - Riu fazendo um barulho engraçado com a garganta. - Essa situação estranha está deixando você muito desconfortável.

_ Garoto esperto!

_ Não sou garoto. - Rebateu, franzindo o nariz.

_ Prazer em conhecê-lo, foi ótimo o nosso… Enfim, obrigado!

_ Disponha! - Rebateu indo em direção​ a porta e abrindo-a para que Kanon saísse.

Quando a porta do apartamento de Ikki fechou-se, Kanon desceu as escadarias do prédio em velocidade recorde chegando no térreo e saindo pela portaria. A lufada de ar gélido bateu de encontro a seu rosto, fazendo-o estremecer. Quando avistou seu carro, estacionado do outro lado da rua, Kanon se perguntou como Ikki conseguiu carregar um  grande homem bêbado.

Depois de entrar no carro perguntas infinitas ficaram pairando sua cabeça. Ligando o ar quente, Kanon resmungou na tentativa de lembrar-se do dia anterior, mas as memórias vinham borradas e vagas.

Outra vez tinha feito a mesma burrice que o havia levado a separar de Radamanthys. Só que dessa vez quem havia ficado bêbado e transado logo na primeira noite com um completo desconhecido tinha sido Kanon.

_ O Radamanthys irá me matar… - Resmungou batendo a fronte de encontro ao volante.

Se antes Kanon pensava em conquistar Radamanthys deoois essa infausta situação, de pura bebedeira, as chances de conseguir alguma coisa eram nulas. Kanon sabia que eles estavam separados, porém um aperto forte afligia seu peito só de imaginar a reação que Radamanthys poderia vir a fazer ao saber dessa nova estripulia em que acabara de se meter em pouco mais de um mês de rompimento.

_ Merda! - Praguejou ligando o carro e acelerando-o. - Eu juro por Deus que nunca mais coloco uma gota de álcool na boca!

Na manhã fria de inverno Kanon saiu por entre as estreitas ruas daquele estranho bairro, acelerando seu carro e fazendo inúmeras promessas a si mesmo. E uma dessas promessas era jamais voltar a encontrar o sensual samaritano com quem havia passado a noite.

Ikki era só mais um item de sua longa lista de erros. Um erro sem lembranças, mas um erro.  Um erro que Kanon iria trancar a sete chaves.

_ Eu realmente ​preciso tomar meu jeito… - Resmungou Kanon, irritado consigo mesmo.

~Continua…

 


Notas Finais


Eu adorei muito escrever esse capítulo. Tipo eu sou péssima com comédias. HAHAHA E eu adoro dar boas gargalhadas. Aí sempre que dá, eu tento algo e saiu isso aí.

Originalmente esse casal, Ikki e Kanon, não estava nos planos. Mas eu vi um comentário da Amelinda e decidi estender a fic ... ;D

Obrigada pela atenção e carinho, minha gente! Beijos e até a próxima atualização que, para alegria de vocês, vai ser em breve.


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