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História Outro Mundo - Verdades Ocultas - Part II


Escrita por: KateMoura

Notas do Autor


Revisado em: 16/04/2016 às 02:18

Capítulo 3 - Verdades Ocultas - Part II


    Minha casa tinha ao todo 4 seguranças e eles se espalhavam em pontos estratégicos para caso alguém invadisse. Eles não precisavam se preocupar comigo ou com o meu pai, pois ele tinha Pavel e eu o Dave. A obrigação deles era garantir que ninguém sem autorização entrasse, mas não era a obrigação deles impedir de sair. Seria fácil, claro que seria, eu tinha pontos estratégicos de fuga que nunca utilizei.

    Depois de ouvir Dave bater na porta até cansar, e meu pai dizer que eu precisava de alguns minutos sozinha, eu pulei a janela e caí no chão tendo a certeza que torci de leve o meu pé. Claro que a queda não me mataria, mas poderia me deixar quebrada.

    Eu passei ao lado de uma planta alta, e naquele momento eu agradeci por morar em uma casa gigantesca com um quintal maior ainda pois não tinha nenhum segurança perto.

  Observe ao redor, Rose. Não deixe o seu oponente perceber que você está exatamente onde você está. 

    As palavras da minha mãe durante o treino que nós tínhamos estava ecoando na minha cabeça.

Ela e David eram faixa preta em jiu jitsu e não sei mais quantas artes marciais que existem por aí, e sim, eles me botavam para treinar em uma academia que tinha aqui perto. Bem, pelo menos algum desses ensinamento estavam servindo agora. 

    Olhando em volta e tomando cuidado para ninguém me ver, eu fui me arrastando pelas paredes até o caminho mais escuro do quintal, ou não tão escuro. Minha visão era incrivelmente boa comparada a dos meus amigos. Eu fui por trás de algumas plantas que eu pedi pro jardineiro colocar ali justamente para esse propósito, e sai correndo em direção à um portão velho que tinha no fundo da casa, já que seria impossível eu pular o muro pois essa merda parecia mais uma fortaleza.

Depois de abrir o enorme cadeado, o ferrolho parecia um pouco enterrado. Com alguns chutes, que eu tive a certeza que atraiu a atenção de alguns seguranças, eu consegui abri-lo e sai correndo por uma rua pouco movimentada. Eu apenas andei alguns quarteirões e saí em uma rua principal. 

    "Posso passar a noite aí? Tive uma briga horrível com a minha mãe e o velhote não está em casa. :( " 

    Eu mandei uma mensagem para Ashton pedindo refúgio. Lógico que eu não iria fugir, tudo bem, eu tinha acabado de fazer isso, mas eu não ia fugir de verdade. Eu só estava assustada, confusa e me sentindo traída, e no fundo achando que tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto, sei bem que ninguém ali gostava de brincadeiras. 

  "Sem problemas, anjo. Pode vir. :) " 

    Ashton respondeu quando eu estava pegando um táxi. Minhas brigas com a minha mãe nunca foram tão sérias a ponto de eu sair de casa, e também Dave nunca deixou quando eu quis fazer isso, então essa foi a desculpa mais convincente que eu achei, pois Ashton sabia das brigas com a minha mãe e com certeza levaria super a sério, principalmente agora que eu não tinha Dave para me consolar porque eu também estava irritada com ele.

Como eles puderam fazer isso comigo? Esconder a verdade de mim mesmo que, sei lá, eu seja um ser repugnante das trevas. Eu sou? Eu grunhi com esse pensamento e afundei minha cabeça no banco do passageiro.  

    Vinte minutos depois, eu cheguei na casa do meu amigo e paguei o motorista, que me olhava preocupado já que eu estava deixando umas lágrimas escaparem. Dei poucos passos e entrei no prédio onde Ashton morava, avisei pro porteiro que eu estava aqui e ele me mandou subir. Eu entrei no elevador e me encarei no espelho. 

   Rose, nenhum de nós nesta sala é humano. Nem você. 

    Olhando agora no espelho do elevador eu parecia bem humana, mas olhando mais a fundo, realmente eu não parecia uma pessoa normal. Eu nunca adoeci. Repito: nunca! E meus sentidos eram melhores que dos meus amigos. Ainda me lembro de Cassie me perguntar como eu conseguia enxergar tão bem no escuro, ou de como eu conseguia ouvir a voz do Sr Corner, nosso professor de álgebra, quando ele ainda estava na metade do corredor. Eu também era capaz de sentir o cheiro de cigarro da Sra Foster, que ela tentava disfarçar com um perfume channel forte até demais para mim. E isso explicava também o porquê de quando eu perguntava pra Cassie se ela achava forte o perfume da nossa professora ela dizia que não, e que nunca identificou nenhum cheiro de cigarro nela. Todos os meus sentidos eram superiores.

Diabos! Tava na minha cara o tempo todo e eu tola nunca percebi. 

  Seu pai é um Moroi e nós somos Dhampirs...

    Dhampir. Era isso que eu era? Esse era o nome que davam para... Não sei, filhotes de vampiros? Isso fica cada vez mais confuso. 

    Eu cheguei na porta do apartamento de Ashton e toquei a campainha. Ele imediatamente abriu e me abraçou, e naquele momento eu também o abracei e chorei. Chorei por terem me contado a maldita verdade, chorei porque eu passei a vida toda acreditando que eu era uma coisa mas na verdade era outra. Coisa. Era assim que eu me sentia: Uma coisa. Chorei porque eu sentia como se tudo até agora fosse uma mentira. 

 -Hey, calma. - Ashton murmurava enquanto passava a mão no meu cabelo - O que aconteceu? 

    Por mais que eu confiasse no meu melhor amigo, eu não podia contar a verdade para ele, mesmo que depois de Dave ele fosse a pessoa mais confiável do mundo para mim, eu ainda assim não podia. 

  -Eu briguei com a minha mãe, como sempre. - Eu murmurei e sequei algumas lágrimas - Ela chegou de viagem mais cedo e ficou agindo como se estivesse me fazendo um favor da sua presença. 

    Ele deu um sorriso acolhedor e me abraçou novamente. 

  -Senta aí no sofá que eu vou buscar um copo de água para você. - Ashton tinha um tom de voz doce, que realmente me confortava - Cadê aquele seu segurança?

  -Eles não sabem que eu saí de casa. - Eu dei um meio sorriso. 

    Ashton apenas sorriu e balançou a cabeça antes de ir na cozinha. Ashton tinha 17 anos e morava sozinho em um condomínio de classe média alta. Seu pai era dono de uma empresa francesa e sua mãe, bem, essa não era nada, talvez a esposa perfeita do dono da empresa francesa.

A gente meio que se deu bem por sermos dois jovens quase abandonados pelos pais. Eu tecnicamente não era, apenas sofria com a ausência da minha mãe, mas ele é praticamente abandonado. Seu pai apenas depositava dinheiro na sua conta e falava com ele uma vez por mês para saber como andam suas notas e seu comportamento, já sua mãe o visita uma vez a cada três meses apenas para frequentar a alta sociedade da Califórnia. Eu já a vi em alguns jantares, e ele a acompanhava, realmente eles eram bem distantes. 

    Meus pensamentos foram interrompidos com o meu celular tocando. Eu olhei para a tela e vi o nome da minha mãe. Bem, me descobriram. Amanhã de manhã eu voltava para casa, mas por enquanto eu não queria falar com eles. Eu recusei a ligação e abri o Google e rapidamente eu digitei "Moroi e Dhampir" e cliquei na primeira página que apareceu.

   "Mitologia Romena e balcânica" 

    Quando eu ia começar a ler, Ashton aparece na sala e eu rapidamente bloqueio meu celular.

  -Me descobriram. - Eu disse sorrindo para Ashton que trazia meu copo d'água.

  -Alguma chance de eles virem até aqui? - Ele perguntou despreocupado. 

  -Nenhuma - Eu dei um gole na minha água e continuei - Todas as vezes que eu vim aqui foi quando a gente matou aula, lembra? Eles não sabem onde você mora. 

  -Oh verdade. - Ele disse encarando a TV gigantesca que estava passando algum filme preto e branco. 

  -Eu não acredito que você gosta dessa coisa de filme antigo. - Eu resmunguei e apoiei minha cabeça no seu ombro. 

  -É a minha paixão. Você sabe. - Ele sorriu, mas depois seu sorriso desapareceu em questão de segundos - Pena que eu vou ter que substituir meu pai na empresa. 

    Eu fiquei calada e o encarei. Nessas horas eu não sabia o que falar. Ashton era apaixonado por cinema e queria cursar o mesmo na universidade de Las Vegas, mas seu pai decidiu que ele ia cursar administração em Harvard. Ele dizia que pelo menos eu estaria ao lado dele, já que eu pretendia cursar direito por lá também.

Para isso nós mantínhamos notas impecáveis e participávamos de alguns clubes da escola, e que contando com a posição das nossas famílias na alta sociedade, nos deu certa popularidade. E aí que nos aproximamos mais ainda, nós procurávamos apenas uma amizade verdadeira, que era uma coisa que não tínhamos. As pessoas se aproximavam somente por interesse, nos tratando como objetos cobiçados. Nojento. Juntamos mais algumas pessoas que realmente queriam a nossa amizade, como Cassie e mais três amigos, e formamos a nossa própria panelinha. 

  -Eu nunca estive nessa parte da cidade. - Eu sorri para ele para ver se esse clima de auto piedade passava - O que acha de sairmos? Só temos mais uma semana de férias.

  -Verdade. - Ele disse pensativo - Você realmente não conhece essa parte da cidade. Essa sua proteção excessiva me assusta as vezes.

  -Eu sei. - Eu revirei os olhos - Eu acho um saco. Vamos. Me mostre lugares legais e o McDonald's mais próximo.

  -Eu vou ligar para os outros. - Ele riu e pegou a chave do seu carro que estava na mesa de centro.

    Rapidamente o clima bom apareceu no lugar da tristeza e fomos em direção a porta rindo como se nada tivesse acontecido. Quando ele abriu a porta e me deu passagem, eu me deparei com Dave pronto para apertar a campainha, e ao lado dele tinha o cara alto e gato. 

  -Droga... - Eu murmurei enquanto me preparava para fechar a porta na cara dos dois. 

  -Nem pense nisso, Rosemarie. - Dave disse sério e me chamando pelo meu nome completo enquanto se posicionava contra a porta. Tô lascada - Você matou todos nós de susto!

  -Como você me achou? - Eu disse séria também. 

  -Isso não importa. Vamos. - Ele pegou no meu braço e me puxou, mas não de forma agressiva, ele jamais faria isso. 

  -Eu não vou! - Eu me exaltei um pouco e me desvencilhei dele. 

  -Deixem ela em paz! - Ashton gritou e se colocou ao meu lado. 

    Dave bufou e o cara alto deu um passo na frente de Ashton. Meu amigo poderia ser alto, 1,75 talvez, mas o outro cara era mais alto uns 20cm mesmo assim, e o seu sobretudo o fazia parecer mais alto ainda. Sua face era tranquila mas a sua postura era ameaçadora, tanto que fez eu e Ashton recuarmos um pouco. 

  -Você está assustando ele, ajuda terceirizada! - Eu rosnei para o cara alto, e me entregando a derrota eu continuei - Merda! Ok, eu vou voltar para casa, mas parem com esse show ridículo na frente do apartamento do Ash senão alguém vai chamar a segurança. - Me virando para o meu amigo eu me despedi - Amanhã nos falamos. Obrigada. - Eu o abracei e dei um beijo na sua bochecha e fui embora. 

    Chegamos no elevador e eu entrei com a cabeça erguida sem falar ou encarar ninguém, e eles fizeram o mesmo mas não durou por muito tempo. 

  -Você tem noção do quanto nos matou de susto? - Dave tinha um tom de voz alterado - Você tem noção do que a noite esconde, principalmente nessa parte da cidade? - Eu o olhei nos olhos e vi que ele realmente estava preocupado - Não, você não tem! Nunca mais na sua vida faça isso, Rosemarie. Nunca mais. Você me ouviu bem? 

    Eu revirei os olhos e o ignorei. Diabos! Eu descubro que meu pai é um vampiro e eu sou uma filhote de vampiro e ele é quem fica com raiva? Tudo bem que o que eu fiz não foi certo mas quem devia estar alterada aqui era eu. Nós descemos e saímos pela entrada principal, passamos pelo porteiro e ele me olhou como se pedisse desculpas. 

  -Obrigado. - O cara alto, e com um sotaque que eu não conseguir identificar, disse para o porteiro e depois lhe entregou duas notas de cem. 

  -Mas o que... - Eu gritei mas fui interrompida.

  -Rose! - Dave gritou mais alto ainda mas depois suavizou sua voz - Pare de agir como uma garota mimada porque você não é! Você não sabe as consequências horríveis que poderiam ter ocorrido por causa da sua fuga!

    Garota mimada? Tudo bem que fugir não foi a decisão mais inteligente, mas levando em consideração as circunstâncias foi a mais sensata. Eu reprimi uma vontade de chorar e continuei seguindo em frente. 

  -Como você me achou? - Eu repeti a mesma pergunta de poucos minutos atrás. 

  -O gps do seu celular. - Dave disse mais calmo. 

    Droga. Como eu fui tão burra a ponto de não desligar o GPS do meu celular? Eu sabia que Dave tinha um app que me rastreava.

    Quando nós chegamos do lado de fora do prédio, tanto Dave quanto o outro cara pararam de repente. Eu olhei ao redor e não vi nenhum dos carros do meu pai.

  -Vamos, Belikov. - Dave disse um pouco receoso - Ela está com a gente agora, o carro não está tão distante assim e eles não costumam ficar nessa área nobre da região.

    Então o cara alto e gato tinha um nome: Belikov. Isso era o que? Russo ou Ucraniano? Para mim era a mesma coisa. 

  -Acho que não podemos arriscar mesmo assim - Ele disse com seu sotaque e imediatamente eu o identifiquei como russo, ou ucraniano, eu não tinha certeza - Eu vou buscar o carro e você fica com ela. 

    Dave assentiu e entregou a chave do carro para ele. Do que eles estavam falando? 

  -Do que vocês estão falando? - Eu disse encarando Dave e depois o tal Belikov. 

  -Se você tivesse ficado e ouvido o resto das nossas explicações você saberia do que estamos falando. - Dave disse seco. Claramente ele estava irritado comigo.

    Ótimo! pois eu também estava irritada com ele.

  -Então não fale! Eu ia descobrir sozinha de qualquer jeito na internet mesmo - Eu falei usando um tom convencido - Aliás, era isso que eu tava fazendo antes de vocês chegarem e me arrastarem. 

    Dave apenas balançou a cabeça exasperado e o tal Belikov apenas respirou fundo e andou reto até virar a primeira esquina. Depois de alguns poucos minutos, onde eu ignorei Dave e ele me ignorou, nós estávamos dentro do carro. Belikov dirigia e Dave ia no banco da frente e eu no de trás. 

    Eu desbloqueei meu celular e abri a página do site que eu estava pesquisando e comecei a ler. 

 "Há uma antiga raça de vampiros chamada Moroi. Eles são seres místicos que dominam os quatro elementos e dependem de sangue para sobreviver. E há também os Dhampirs, que são seres híbridos...

    Híbridos? Quer dizer que eu sou estéril? Que merda! 

   ... Eles são resultados do envolvimento de um humano com um vampiro. Dhampirs possuem habilidades únicas de identificar vampiros e matá-los (...)" 

     Naquele momento eu só conseguia pensar uma coisa: Puta merda! Eu sou resultado de uma mistura doentia entre humanos e vampiros, sou estéril e naturalmente eu tenho que matar o meu pai. Que maravilha! 

    Eu passei tanto tempo absorta nos meus pensamentos que nem percebi quando cruzamos os portões da minha casa. Belikov parou o carro e nós descemos, de longe eu já podia ver a figura da minha mãe vindo na nossa direção. Eu já estava me preparando para um sermão daqueles, mas quando ela chegou perto de mim ela simplesmente me abraçou. Eu fiquei chocada. Janine Mazur me abraçando? Isso não acontecia com frequência. 

 -Obrigado por trazerem ela de volta. - Minha mãe falou para Dave e Belikov.

  -Sem problemas, guardiã Hathaway  - O tal Belikov falou e simplesmente nos deixou sozinhas, já que Dave acompanhou ele. 

 -Por que aquele esquisitão te chamou de Guardiã Hathaway? E por que ele usou seu sobrenome de solteira? 

  -Rose, venha - Minha mãe sorriu - Vamos terminar de te explicar tudo. 

  -Mas dessa vez não fuja, garota. Você nos deixou loucos. - A voz do meu pai surgiu por trás de mim e eu dei um pulo de susto. 

    Eu medi as minhas opções e a melhor era sentar e ouvir o que eles tinha para me dizer. Entramos dentro da casa e dessa vez todos estavam reunidos na sala. Dave, Pavel e Belikov estavam no canto, com suas posturas rígidas, se assemelhando a soldados. Eu tive vontade de rir com aquilo, e realmente eu iria rir se não tivesse achando aquilo horrivelmente estranho. 

  -Dessa vez nos escute, Rose. - Meu pai falou - Se você estiver muito atordoada, fale que nós te daremos um tempo, mas não fuja - Ele parou de falar e soltou um sorriso presunçoso, deixando em evidência suas presas - Até porque todos os guardiões nessa casa estão em alerta agora, você não passaria nem pela porta. 

     Aquelas presas eram realmente assustadoras, não eram uma visão agradável. Sem perceber eu me encolhi no sofá e apenas percebi porque eu vi tristeza e constrangimento passar pela face do meu pai.

  -Kiz, ainda sou eu, o seu pai que você ama. Eu não vou te machucar. 

    Ele passou mais um tempo me encarando e eu soltei a minha respiração que eu nem sabia que prendia. 

  -Abe, você sabe que nem nós somos acostumados com as presas, quanto mais ela. Não force também. - Minha mãe se pronunciou e se sentou ao meu lado. 

  -Tudo bem - Abe voltou ao seu modo normal e continuou - Você é minha filha e da sua mãe, essa mulher maravilhosa sentada ao seu lado - Ele olhou para minha mãe com os olhos brilhando e ela soltou o que devia ser a sombra de um sorriso - Eu sou um Moroi, um vampiro completo, e a sua mãe uma Dhampir, uma meia vampira e meia humana, assim como você e aqueles três homens ali. - Ele apontou na direção de Dave mas eu não me virei - Vocês, Dhampirs, surgiram das relações com Morois e humanos, mas com o passar dos séculos essa prática não é mais bem vista. 

   Ótimo, então eu sou uma coisa pior do que uma mistura de humano e vampiro, então espera, isso ainda fazia de mim uma garota estéril? 

  -Vocês herdaram o melhor das duas raças, os sentidos apurados dos vampiros, a capacidade de nunca adoecer e as características físicas dos humanos. Vocês podem andar no sol, ao contrário de nós que não podemos pois incomoda e nos deixa fracos. Nós temos magia, dominamos os quatro elementos e nos especializamos em um, vocês não. 

    Abe fez menção de continuar a falar, mas minha mãe o interrompeu e disse que essa parte ela explicava. 

  -Nós, Dhampirs, temos um lema: Eles vêm primeiro. - Ela apontou para o meu pai - Nós dedicamos nossas vidas para proteger os Morois de uma outra raça de vampiros: Os Strigois. Eles são... - Minha mãe pareceu procurar as palavras que me dessem um entendimento mais fácil - Os vampiros do mal. Eles já foram Morois, Dhampirs ou humanos, mas que foram transformados a força ou por vontade própria, já que quando se é um deles você é imortal. Eles têm os sentidos bem melhores que os nossos e são dez vezes mais rápidos, mas não resistem a luz do sol e a magia, e eles só pensam em uma coisa: Sangue, especialmente o sangue Moroi. Eles matam tudo que vêem pela frente e são impiedosos, e é o nosso dever proteger os Morois. É um emprego como qualquer outro onde você trabalha, recebe folgas e um salário. Pavel é o guardião do seu pai e o Dave era o seu. 

   Como assim era? E pelo que eu entendi quem tinha guardiões eram os Morois e não Dhampirs. Eu resolvi ficar calada e ouvir as explicações. 

  -Nós resolvemos esconder você do mundo Moroi e te criar no mundo humano por várias razões. - Ela olhou para o meu pai e ele deu um aceno para ela continuar - Eu era uma Guardiã com uma carreira em ascensão. Meu protegido era uma pessoa muito importante e não seria muito honroso da minha parte eu abandonar minha profissão para te criar. 

    Eu me senti ofendida nessa parte porque como sempre ela dava mais importância ao trabalho dela do que para mim. 

  -E eu não podia te assumir porque isso colocaria em risco a sua segurança. - Meu pai se pronunciou - Sua mãe queria te mandar para uma academia, é... Um colégio interno do nosso mundo, mas isso não seria justo com você, privar você de ter uma família. Nós não poderíamos ser uma família no mundo Moroi, mas poderíamos ser uma família no mundo humano, então decidimos te criar como um ser humano comum, para você ter liberdade de ser o que quiser ser e as consequências da vida da sua mãe e da minha não recair sobre você. 

    Acho que disso eu não poderia reclamar, mesmo eu sendo praticamente criada pela governanta da casa, ainda assim eu amava meus pais e reconhecia que eles fizeram de tudo por mim. Tudo bem que a ausência da minha mãe complicava um pouco as coisas, mas mesmo assim nós tínhamos um relacionamento de mãe e filha. Quando ela chegava de viagem nós treinávamos todos os dias, cozinhávamos juntas várias besteiras, mesmo não dando muito certo, íamos ao cinema, ao salão, e claro, brigávamos muito. Já meu pai sempre esteve presente, claro que a sua ausência mínima não me afetou, e isso facilitou as coisas para nós. De qualquer jeito, nós éramos uma família. 

    A sala toda estava em silêncio, então percebi que eles estavam esperando eu dizer alguma coisa. 

  -É... - Eu fiz uma pausa vasculhando alguma coisa para dizer - E por que vocês resolveram me contar isso agora? Dhampirs podem ter guardiões? - Eu disse isso apontando para mim e balançando minha cabeça na direção de Dave. 

    Guardiões eram sempre assim? Tão quietos? Eu tinha até esquecido que eles estavam ali. 

  -Não, Dhampirs não podem ter guardiões porque vocês têm que ter um protegido, não ser a pessoa que precisa de proteção. - Meu pai explicou - Mas você é um caso especial. Você seria uma Dhampir sendo criada no mundo humano, e no mundo humano há Strigois, você precisava de um guardião. Tanaka não se formou na escola dele, ou seja, ele não tem a obrigação de ter um protegido Moroi. Ele não tem a marca da promessa que todo dhampir recebe quando se forma. Ele é livre e pode fazer o que quiser - Meu pai coçou a sua barbicha e tentou me explicar de um modo mais simples - Ele é um autônomo e trabalha por conta própria.

    Nesse momento eu sorri e fiquei com vontade de virar para Dave. Ele estava comigo há dez anos me protegendo e não porque era sua obrigação, mas porque ele queria estar ali. 

  -E por que vocês disseram que ela era o meu Guardião? Tipo, no passado? 

  -Porque você não vai mais precisar dele. - Minha mãe respirou fundo e continuou - Você será mandada para uma escola Moroi chamada St Vladimir. Lá você continuará com seus estudos normais e receberá um treinamento que todo Dhampir recebe enquanto estuda.

  -Kiz, sua segurança está em risco. - Meu pai disse cauteloso - A sua e de uma Princesa Moroi. No mundo humano eu realmente sou um empresário com negócios legais, mas no mundo Moroi eu sou um homem perigoso, e infelizmente, um velho inimigo descobriu que você existe e que tem um laço com uma Princesa Moroi. 

  -Ok, hora da pausa. - Eu disse completamente chocada. 

    Acho que essa parte eu entendia. Há três anos eu comecei a ter visões de uma vida que não era minha, era como se eu visse as coisas dos olhos de outras pessoas, e em uma dessas visões eu vi uma garota loira de olhos cor de jade se encarando no espelho. Eu podia sentir as emoções dela, o que era estranho.

Eu contei para os meus pais e eles me levaram em um psiquiatra e ele me passou algumas pílulas. Elas funcionaram durante uns seis meses, e depois tudo parou, raramente eu a via ou sentia suas emoções, e quando isso acontecia eu estava dormindo. Eu passei um bom tempo achando que era louca e tomando remédio de tarja preta. Que ódio. 

  -O laço entre vocês duas agora está fraco porque vocês estão distantes, mas as pílulas serviram para adiantar esse enfraquecimento. - Minha mãe me explicou, como se estivesse lendo a minha mente. 

  -Guardião Belikov, sinta-se à vontade. - Meu pai disse. 

  -Meu nome é Dimitri Belikov. - Ele se apresentou. Bem, eu gostei do nome dele - Eu sou o Guardião da Princesa Vasilisa Dragomir. Há um mês ela vem recebendo cartas de ameaça dizendo que por consequência do laço existente entre vocês, ela iria morrer junto com você. Eu estou aqui para te levar à Academia St Vladimir, onde você ficará segura com a princesa até que toda essa situação esteja resolvida. 

    Eu fiquei um pouco confusa mas apenas assenti. Muita informação em um dia só. 

  -Eu resolvi toda a papelada e você já está matriculada na escola como uma Dhampir comum. - Minha mãe se pronunciou - Lá você será Srta Hathaway, filha da Guardiã Hathaway. Você não sabe nada sobre o seu pai Moroi. Para a sua própria segurança você nunca pode dizer que é uma Mazur. Seja lá quem for essa pessoa, ela sabe da sua existência, mas não sabe quem você é, ainda. Dentro da academia é um lugar bem protegido e você e a princesa estarão salvas. O Guardiã Belikov será seu mentor, ele irá te treinar. Mantenha suas notas altas como você sempre manteve. - Minha mãe me passou todas as instruções e eu, por incrível que pareça, apenas assenti mais uma vez.

  -Como nós sabemos que é uma mudança muito radical para você, Dave irá te acompanhar por duas semanas na academia. Você pode se despedir dos seus amigos amanhã, convidando-os para passar o dia aqui e fazerem o que quiser. Só não façam uma festa maluca digna de filme americano. Você partirá depois de amanhã. Alguma dúvida? - Meu pai perguntou depois de finalizar todas as revelações. 

  -Não. - Eu disse baixo e completamente confusa. Claro que eu tinha dúvidas - Mãe, a senhora pode ir no meu quarto comigo. Eu... É... Hum... Preciso da sua ajuda com a escolha de roupas. 

    Eu olhei em volta e vi que não seria nada confortável falar sobre a minha esterilidade com um monte de homens no meio escutando tudo.

  -Claro. - Ela sorriu - Vamos. 

  -Eu também vou. - Meu pai disse sorrindo, mas dessa vez sem mostrar as presas - Acho que você irá precisar de ajuda com as malas. 

  -Abe, não. - Minha mãe disse - Se precisarmos nós te chamamos. 

    Acho que minha mãe percebeu que eu queria conversar algo mais íntimo e freou meu pai. Ele apenas assentiu e nós subimos para o meu quarto. Eu entrei e tranquei a porta, depois de sentar na cama eu ainda continuei calada por um tempo martelando essa ideia na Minha cabeça. Eu definitivamente não ficava feliz com a ideia de ser estéril, com certeza isso seria péssimo daqui uns 10 anos. 

  -Então... - Eu comecei um pouco constrangida - Eu sou estéril? 

  -Não - Minha mãe fez uma careta - Você pode se reproduzir. Eu tive você. Dhampirs não reproduzem entre si, mas com Morois eles podem ter filhos. 

    Depois ela me explicou toda a posição da mulher Dhampir na sociedade Moroi. Eu podia ter filhos, mas não seria bem vista porque eu tinha que ser uma Guardiã. Eu achei um pouco machista, mas ela disse que a regra se aplicava aos homens também. Lógico que eu não seria uma Guardiã, apenas ficaria lá até toda essa situação com esse cara que quer me matar for resolvida. Mas ela me deixou alerta para certas coisas que eu não poderia fazer, como ser uma meretriz de sangue

    Depois de alguns minutos de conversa ela se foi e eu mandei uma mensagem convidando alguns amigos para passarem o dia aqui, depois eu fui tomar banho e tentar dormir, mas era praticamente impossível com a bomba de informações que soltaram. 

    



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