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História Outro tom de azul - Rancho Troll Bridge


Escrita por: littlelindy

Notas do Autor


Olá, lovebugs!
Eu espero que gostem do capítulo de hoje, tem muita Emma Swan pra vocês que estavam esperando hahahaha boa leitura <3

Capítulo 5 - Rancho Troll Bridge


Fanfic / Fanfiction Outro tom de azul - Rancho Troll Bridge

“Why do I find it hard to write the next line? Oh, I want the truth to be said.” (m. True – Spandau Ballet.)

 

Killian estava começando a duvidar de sua sanidade.

Como poderia ter aceito o convite de uma estranha no meio da estrada?

Ele deveria admitir, porém, que Emma não lhe transmitia qualquer desconfiança ou causava arrepios em sua espinha. A jovem Nolan era extremamente bonita e tinha algo em seus olhos esverdeados que o prendiam e deixavam fora de órbita, mas Jones optou por ignorar tais pensamentos. Era um sentimento comum ao ver uma mulher tão bela depois de tanto tempo sozinho, não é?

(Ainda assim, Nova York estava cheio delas. Não era uma boa desculpa...)

E o homem não sabia se tentava refletir sobre as impressões causadas pela loira ou se amaldiçoava a rádio novamente. Ainda em Toledo, no estado de Indiana, Killian começou a desconfiar que os responsáveis pelas playlists de música lhe odiavam ou, talvez, conheciam sua história com Milah e queriam puni-lo por fugir da cidade.

Eram as únicas opções.

Jones tentava suportar as canções melosas de amor, traição e abandono, mas quando as caixas de som lhe agraciaram com os versos “You can't go on, thinking nothing's wrong, who's gonna drive you home tonight?”¹, ele não suportou e as desligou definitivamente.

— Recados da vida em forma de música... – suspirou – Ótimo, por acaso estamos em 2007 usando o MSN agora? – o moreno murmurou enquanto seguia o fusca de Emma pela estrada.

— O carro amarelo! – a voz de Daniel ecoou pelo veículo de repente, assustando Killian que, por um milissegundo, quase freou de maneira desnecessária e perigosa.

— Acordou é, dorminhoco? – Killian comentou divertido para tentar disfarçar o espanto. – Gostou do carro amarelo da frente?

— Uhum.

— E se eu te contar que nós estamos o seguindo e que ele vai nos levar para uma fazenda?

— Uma fazenda? – o menino indagou animado.

— Isso mesmo. Eles, provavelmente, tem muito espaço para você jogar bola e talvez alguns cavalos. Podemos nos divertir hoje, que tal?

— É a nossa casa nova?

Killian suspirou novamente, porém, de maneira mais pesada.

— Ainda não, meu filho... Nós só vamos passar o restante do dia e dormir lá para descansar. Amanhã voltamos para a estrada.

O pequeno Jones chegou a choramingar um pouco, reclamando que não queria mais ficar ali sentado e que estava cansado, mas o pai preferiu não prolongar muito aquela conversa.

E, mais uma vez, ele sabia que aquela viagem seria exaustiva e que o filho reclamaria algumas boas vezes nos quatro dias programados.

Mas quando seu bebê começou a falar tanto?

Danny crescera rápido demais. O menino estava sempre correndo, pulando e tentando chutar algum brinquedo por aí, fazendo inúmeras perguntas durante o dia e tagarelando a outra parte. Ele era bastante agitado, porém, Killian tinha sorte em ter um garoto tão curioso, mas bem educado ao mesmo tempo.

Era o que Ariel constantemente descrevia como “um doce”. E ele concordava.

Não muito tempo depois, os dois carros passavam por cercas brancas tradicionais, atravessando alguns pastos e campos esverdeados. Jones pode observar o gado ao fundo, além de maquinários para colheita, dando uma prévia do ambiente que visitaria em breve. Mais para frente, o carro de Emma fez uma curva à esquerda, atravessando os portões que traziam o nome do rancho na placa superior: Troll Bridge.

Ele tinha que perguntar as razões daquela escolha.

Os poucos metros percorridos pelos veículos desde a entrada, os levava para uma casa colonial enorme e bem centralizada. A porta da frente parecia-lhe ser de uso pessoal, enquanto a da varanda lateral era reservada para os visitantes, a julgar pelo pequeno estacionamento ao lado e alguns artesanatos perto dos umbrais.

Era tudo tão bonito!

Os jardins que cercavam a casa, e se alongavam pelo restante da propriedade atrás, eram extremamente bem cuidados. Jones viu algumas orquídeas, lírios, rosas, margaridas e outras espécies que ele desconhecia. Mas quem ele queria enganar? Sabia apenas o básico sobre o assunto e apenas admirava a coloração, jamais saberia qualquer espécie além das clássicas.

Quando Emma saiu de seu carro, ele logo a acompanhou e retirou o filho com cuidado do booster.

— Chegamos, campeão. – o moreno falou ao deixa-lo no chão, vendo-o esticar o corpo inteiro para adequar-se à terra firme novamente.

— Oh, vejo que alguém mais acordou! – a loira comentou sorrindo e se abaixando para cumprimentar o garoto. – Qual seu nome?

Ela já sabia, é claro, mas Killian apreciava a forma como a mulher não ignorou a criança e ainda queria que ele fosse o responsável pelas apresentações. Contudo, como sempre fazia nos primeiros instantes com pessoas estranhas, Daniel estava morrendo de vergonha e escondendo-se atrás das pernas do pai.

— Deixe de ser bobo e apresente-se. Como foi que o papai te ensinou? – Killian indagou com uma sobrancelha arqueada, o que pareceu convencer o garoto a sair de seu esconderijo secreto.

— Meu nome é Daniel. – disse baixinho. – Mas o papai me chama de Danny.

— E o meu nome é Emma, é um prazer conhece-lo. – respondeu sem retirar o belo sorriso de seus lábios. – Eu posso te chamar de Danny também?

Ele apenas assentiu, levando a mão à boca e aproximando-se novamente do moreno, fazendo-a rir.

— É uma bela fazenda! – Jones comentou mais sério.

— Era dos meus avós. – falou brevemente, antes de apontar para a porta com os artesanatos. – Aqui é somente a entrada, mamãe usa de recepção para os turistas fazerem o check in e tudo mais. Ela deixa alguns moradores da cidade colocarem suas artes ali para vender também, então acaba funcionando como uma mini lojinha. – explicou rapidamente, mudando o foco para o caminho à esquerda – Lá ficam as cabines dos hóspedes, para dar privacidade, já que eu e meus pais moramos nesse casarão aqui. E, claro, logo ali embaixo onde passamos, fica o celeiro. Não acho que os clientes gostariam de dormir com o barulho dos animais. – finalizou com uma careta.

— Woah! Vocês tem tudo aqui, é realmente incrível. – Killian elogiou, dando uma volta para observar o local. – Então toda aquela cerca branca que passamos pertence a vocês também?

— Sim, aquilo tudo até os limites da reserva florestal ao norte. Mas nós acabamos a usando para fazer as trilhas com os turistas. E, para o próximo verão, vamos inaugurar uma tirolesa no lago também.

— Tem patinho? – Danny perguntou animado assim que ouviu a palavra “lago”, arrancando uma nova risada da loira.

— Um monte! Se tivermos sorte, podemos ver algum ainda hoje, o que você acha?

— Podemos ir, papai? – questionou com os olhos brilhando.

— Claro, filho.

E então Killian sorriu novamente.

Em menos de uma hora que o conhecera, aquela não era a primeira vez que Emma se perdia na forma como o rosto de Jones se modificava ao sorrir de tal maneira, e era uma pena que ele não fazia muito disso. Melhor dizendo, mais de noventa por cento das vezes que o vira assim fora na presença do filho, ou quando o assunto era a criança, ela gostaria de vê-lo se divertir mais. Entretanto, sabia que não aconteceria, pois ele iria embora em breve.

A loira apenas desejava que ele encontrasse paz para seja lá qual fosse a tormenta de seu coração. Ela tinha certeza que tinha uma.

E ninguém lhe diria o contrário.

Em poucos segundos, o trio foi surpreendido pelos latidos fortes e o barulho de patas amassando a grama por onde passava, à medida que ia se aproximando. O animal foi direto para o colo da mulher, quase a derrubando, abanando o rabo e tentando lambê-la a todo custo para demonstrar sua felicidade.

— Oh, Thor! Já sentiu minha falta, amigão? – ela disse, acariciando as orelhas do labrador. – Não seja mal educado, dê olá para nossos visitantes!

E Daniel correu para seu esconderijo secreto novamente.

— Não se preocupe, ele não morde. É só grandão e desengonçado. – explicou para a criança. E, fazendo o cachorro sentar e aquietar-se por um instante, estendeu a mão para que o pequeno Jones a acompanhasse. – Venha fazer carinho.

— Pode ir filho, olha como ele está quietinho. Se Emma disse, não tem problema. – Jones assegurou.

Quando o menino se aproximou, ainda hesitante, o labrador começou a alegrar-se novamente, o que assustou Daniel um pouco. Mas ele não correu. Com a ajuda de Nolan, a mãozinha de Jones logo tocou a cabeça do animal, acariciando-a de leve e agradando o bichano, que fechava os olhos com as carícias.

— Viu só? Ele gosta de você! – contente, a mulher pontuou. – Daniel, esse é o meu cachorro, Thor. Você pode brincar com ele, se quiser.

E não precisou de muita argumentação para que Danny já colocasse seus braços ao redor do animal, abraçando-o como uma pelúcia. Emma sabia que não haveria problema algum, Thor nunca foi um cão agressivo, a ameaça vinha apenas de sua aparência e tamanho, mas Killian não sabia disso.

— Está tudo bem, ele é inofensivo de verdade. – ela garantiu ao ver o homem observar a brincadeira do filho com o rosto franzido em preocupação.

Jones apenas assentiu.

Ele queria comentar sobre a escolha do nome, mas estava um tanto quanto tenso em deixar seu menino brincando sozinho, com um cachorro enorme, em um lugar que sequer conheciam.

— Venha, vamos ver qual cabine posso pegar para vocês dois e então ajeitar algo para comer. – Emma chamou ao ver que não receberia nenhuma réplica verbal.

— Ok. – replicou rapidamente antes de virar-se para a criança. – Filho, Emma e eu vamos entrar ali para olhar nosso quarto, tá certo?

— E Thor, tome cuidado com Danny! – a outra advertiu, recebendo um latido de resposta.

— Qualquer coisa é só me chamar. – o músico complementou.

— Tá! – Daniel disse em meio à gargalhada que soltava ao tentar montar em Thor. E o animal, claro, recuava e o fazia cair.

A dupla, então, caminhou os poucos metros restantes em silêncio.

Nolan nunca teve ânsia alguma de manter diálogos longos com os clientes da fazenda, mas com Jones parecia diferente. Contudo, não iria obriga-lo a falar quando, visivelmente, sua mente estava em outro lugar.

— Emma Swan Nolan! – a voz da senhora aproximou, alta e estridente, assim que ouviu passos adentrarem a recepção. – Eu já falei um milhão de vezes que eu não quero que você saia para ver Elsa, eu preciso de você aqui, mocinha. Clientes não vão aparecer no meio da estrada com—

E então a dona do sermão parou.

A mulher aparentava ter mais de quarenta anos, mas era certamente muito bonita para a idade, com poucas rugas e cabelo preto de tom vibrante. Seus olhos eram bem verdes, assim como os de Emma, e não era surreal que ele já associasse o parentesco das duas.

— Oh! – ela exclamou, limpando as mãos no pano de prato do ombro e vindo cumprimenta-lo. – Muito prazer, rapaz. Sou Mary Margaret, mas você pode chamar somente de Mary. – apresentou-se, entretanto, não esperou por uma réplica e logo disparou para a loira. – Filha, eu não sabia que estava namorando. Muito menos que o traria para casa!

As bochechas de Nolan ficaram extremamente vermelhas, fazendo-a descer o olhar para o chão na tentativa de esconder o embaraço. E, por falar na mulher ao seu lado, Killian não pode deixar de notar seu nome completo: Emma Swan Nolan.

Algumas horas por ali e ele já estava fascinado com os nomes. Droga de alma artística!

Ele deveria admitir, aquele “Swan” dava um charme ainda maior a ela. Jones não sabia qual motivação os pais tiveram para nomeá-la como referência a um “cisne”, mas acertaram em cheio se estivessem pensando em toda graciosidade, delicadeza e exuberância.

— Mãe! – ela repreendeu após alguns constrangedores segundos.

— Sou Killian Jones, senhora. E aquele é meu filho, Daniel. – o moreno apresentou, apontando para o jardim onde o garoto brincava com Thor. E, obviamente, notando a falta de jeito da loira.

— Oh, meu Deus! Ele é uma gracinha! – a senhora comentou, juntando as mãos na frente do corpo ao encarar as duas sombras correndo lá fora.

— Obrigado. – Jones agradeceu sem jeito, como sempre ficava quando alguém elogiava seu menino. – Mas sinto informar que não sou acompanhante de sua filha.

— Como não? – questionou confusa.

— É um cliente, mãe. – a loira replicou entredentes. – E ah, por favor, diga a ela onde você estava parado, Killian.

E ele teve que rir ao lembrar-se do sermão anterior de Mary.

— Hm, estávamos no meio da estrada.

Com a réplica, Emma lançou um olhar travesso para a senhora como quem dissesse “eu venci”, antes de andar em direção ao balcão e mudar de assunto.

— Killian e Danny vão ficar uma noite aqui, amanhã retomam a viagem.

— Ah, que pena que teremos somente uma noite! – lamentou-se. – Se não for uma pergunta indiscreta, para onde vão?

— Mamãe, pare com isso, pelo amor de Deus! – Swan repreendeu, interrompendo a conversa e impedindo que o canadense respondesse. – Venha, Killian, vou te mostrar a cabine.

— Sim senhora. – ele brincou. – Obrigado por nos receber, Mary. Sua fazenda é muito bonita.

— E tem patinho! – Danny pontuou ofegante, entrando correndo no local, acompanhado de seu novo amigo.

— Um montão deles! Emma pode te levar para vê-los depois, se seu pai deixar, é claro. – a morena comentou, encarando o homem para buscar autorização.

— Eu já ofereci, mãe.

— E por mim está tudo certo, se não for um problema para Swan...

Os olhos verdes da loira se arregalaram ao ouvir seu nome do meio ser mencionado, mas não comentou nada. A verdade é que ninguém a chamava desse jeito há um bom tempo, e soou bem na voz grave de Killian.

Ela gostou.

— Problema algum, assim que vocês se instalarem, posso leva-los até o lago.

— E depois venham para o jantar! – Mary complementou, pegando os outros adultos de surpresa.

— Ah, imagina, não queremos nos intrometer assim. Podemos aprontar alguma coisa na cabine mesmo.

— Deixe disso, sentem-se conosco essa noite. David, meu marido, irá amar ter uma companhia masculina para variar um pouco.

E isso Emma não poderia negar, seu pai realmente apreciaria uma boa conversa.

[...]

Nolan acreditou que a ida ao lago seria o momento ideal para conhecer um pouco mais de Jones. Talvez até mesmo descobrir por qual razão ele migrava tanto, e com tanta facilidade, entre a alegria e a seriedade. Ela não estava acostumada com essa instabilidade de humor, as pessoas de Storybrooke não eram assim, e, além disso, sempre foi uma pessoa curiosa.

Ela queria saber mais.

Contudo, o moreno permaneceu em silêncio a maior parte do tempo, exceto pelos momentos em que o próprio Daniel o obrigava a responder suas perguntas infantis. Ela não forçou, mas ficou incomodada com a situação...

Onde estava o cara engraçado que conversara à beira da estrada?

— Desculpa te fazer vir aqui. – Emma disse assim que se sentaram num tronco caído às margens do lago, observando a criança tentar conversar com os patos.

— Por que está se desculpando?

— Vocês estão muito cansados, é visível. Deveriam estar descansando.

Ele deu de ombros.

— Daniel está radiante e não me deixaria dormir se não visse esses patos. – replicou com um sorriso fraco. – Obrigado por alegrá-lo.

— Não foi nada.

— Posso te fazer uma pergunta? – ele indagou de repente, logo quando a outra imaginou que se calaria e mais mudez viria.

— Claro.

— Você prefere o Nolan ou o Swan?

Ela queria rir, mas optou por não forçar aquela interação a um ponto que não tinha certeza que seria bem aceito. De todas as hipóteses de questionamento que poderia imaginar, aquele não era um deles.

Killian Jones era uma incógnita.

— Gosto dos dois. – disse sinceramente. – Na maioria dos casos as pessoas me chamam pelo primeiro nome mesmo. Os que usam o Nolan, geralmente, são os clientes ou pessoas relacionadas aos negócios.

— Ninguém nunca te chamou de “Swan”?

— Só a minha avó Ruth. – respondeu com um sorriso nostálgico. – Ela morreu há dois anos.

— Eu sinto muito.

Ela deu de ombros, pegando uma pedrinha do chão e girando-a entre seus dedos.

— Sei que ela está em um lugar bem melhor. – assegurou. – De qualquer forma, o Swan tem um significado mais emocional para mim.

Killian assentiu, balançando a cabeça por alguns segundos como se pensasse em algum retorno.

— Eu gostei dele. Posso te chamar assim?

A mulher apenas sorriu e aquilo foi o suficiente para que ele acreditasse em uma confirmação e o silêncio retornasse.

Ela não sabia quanto tempo havia passado desde que ouviu a voz do moreno pela última vez, mas não iria ficar ali esperando. A loira se levantou rapidamente e saiu na direção do garotinho, o ajudando a se aproximar dos animais e até mesmo brincar na água rasa.

Killian não disse uma única palavra, ficando somente observando a brincadeira do filho para ver se ele não iria se machucar. A verdade era que ele não sabia mais como ser sociável e, por esse motivo, preferia manter distância.

Desde Milah, ele não falou com muitas pessoas novas. Todo estranho que o músico dirigiu à palavra foram aqueles que o contratavam para algum show, pediam por suas composições ou atendentes de alguma loja que frequentasse. Usualmente, guardava seus diálogos para a família, que agora incluía seu velho amigo Robin, ou Ariel e Eric.

Nada além disso.

E ele estava certo de que tinha sido um tremendo idiota ao falar com Emma mais cedo na estrada. Quanto mais ele pensava sobre o assunto, mais envergonhava-se do momento.

Em primeiro lugar, no ranking das queixas, culpava-se pela breve atração que sentiu pela mulher, gaguejando de maneira vergonhosa e perdendo a fala. Depois, o que foram aquelas piadas? O que ele estava pensando?

Não, Killian, você não é engraçado. Pare com isso.

Jones se sentia um imbecil por sequer ter se interessado por Nolan. Ele prestou atenção em cada detalhe de sua face ou informação que lhe dera a respeito de si mesma. Nas poucas horas que se conheciam, refletira mais sobre a mulher que qualquer outro problema que estava tentando fugir. Era absurdo

De onde vinha aquele sobrenome tão diferente? Qual sua idade e função naquela fazenda? Quem era Elsa?

E, como se já não fosse suficiente, culpava-se por ter tais pensamentos. Era como se ele estivesse traindo a mãe de Daniel. Sim, ela havia feito isso antes e sequer tinham algum contato àquela altura, mas ele era um estúpido.

Parte da culpa que sentia vinha do medo da repressão. Foi por render-se à própria felicidade que Milah se tornou uma nova pessoa, e se ele tivesse o mesmo fim que ela? O que seria de Daniel?

Felicidade passou a ser sinônimo de abandono e sacrifício para Killian, então ele a recusava. Era simples.

[...]

Emma e Mary Margaret não mentiram ao falar do alívio que o dono das terras sentiria com um outro homem no jantar. Três, se contassem com Daniel.

David Nolan era um homem de meia idade, mas repleto de saúde, especialmente a julgar pelo físico mais forte e até musculoso. Anos trabalhando no campo, Killian pensava.

O senhor tinha uma casca que muitos poderiam descrever como dura, sendo firme e até sério demais, mas a verdade era que o fazendeiro possuía um coração enorme. E o fato de Jones saber disso, com apenas quinze minutos de conversa, já era prova o suficiente.

— Eu esqueci de perguntar hoje mais cedo, mas vocês gostam de massas? – Mary indagou ao terminar de colocar os pratos na mesa.

Killian sentava ao lado de Daniel, com Emma e Mary em paralelo, respectivamente, e David na beirada da mesa, próximo à esposa.

— São nossos pratos favoritos.

— Então chegaram num ótimo dia. A lasanha de minha mulher é a melhor de todo país, disso eu tenho certeza!

— Você sequer provou a lasanha de outra pessoa, papai. – Emma provocou.

— Não preciso, já tenho certeza. – o senhor respondeu de maneira firme, recebendo um selinho da morena assim que ela retornou com a travessa de comida.

Emma fingiu emitir um som enojado, mas o brilho em seu olhar denunciava o quanto ela admirava a relação dos pais. A sua família.

O casal apenas riu da filha, mas não comentou nada, provavelmente pelo costume de vê-la fazer tal brincadeira.

E, de repente, Killian sentiu falta de casa. Aquela do Canadá, com seu pai sentado na varanda e Cora ao seu lado, o abraçando para verem juntos o pôr do sol. Com Liam o importunando sobre qualquer coisa e as irmãs Mills discutindo sobre alguma série de televisão.

— Woah, o cheiro e o visual estão incríveis. – Jones elogiou.

— O que você acha de atacarmos essa comida toda agora, Daniel? – levantando-se da cadeira, Emma disse para a criança animadamente.

— Sim! – ele comemorou, arrancando sorrisos dos adultos na mesa.

— Me dá seu prato então, por favor. – a loira pediu e o menino logo estendeu o objeto para ela. – Killian, quanto ele está acostumado a comer?

— Só um pouco, ele vai mais com o olho que com a própria barriga. – Jones replicou bagunçando os cabelos do filho.

— Mentira, é muito!

O moreno não retrucou, apenas balançou a cabeça para que ela ignorasse. E, ainda em silêncio, os dois manejaram se comunicar para ver o quanto o pequeno Danny poderia receber. E, claro, arrancou o melhor dos sorrisos da loira ao dizer seu alto e não tão claro “obrigado”.

Os cinco comeram tentando manter a conversa em temas mais leves e engraçados, a julgar que eram todos recém conhecidos. E, embora Mary tenha questionado sobre os motivos de sair de Nova York, não houve nenhuma outra tentativa que trouxesse incômodo aos Jones.

Killian, ainda, contou brevemente sobre sua viagem e até chegou a citar o destino final, próximo a Sunburst, ao norte. Ele se sentiu bem vindo naquele lugar e não percebeu quando começou a contar algumas informações extra sobre sua vida. Algo que não acontecia há um bom tempo.

— Então você tem um irmão de sangue e duas meio-irmãs?

— Isso!

— Emma é filha única. – a senhora apontou o que ele já esperava. – Mas nossa casa está sempre cheia, nós amamos receber as pessoas.

“É, eu percebi”, ele pensou instintivamente.

— E você não faz ideia do quão aliviado estou por ter um outro homem nessa mesa. Já faz tanto tempo! – David brincou. – Às vezes é um perigo estar no meio das duas.

— Ah, querido, você diz como se nós te torturássemos!

— Outro dia as duas ficaram o jantar inteiro falando de tons de vestido para a festa de um dos nossos clientes. – o senhor contou. – Você sabia que existe um tom de azul chamado “prussiano”?

Ele assentiu envergonhado.

— Hm, acredito que terei que decepcioná-lo nessa. É um tipo de azul mais suave que o marinho, digamos assim. – o moreno replicou, afinal, os ensinamentos de sua avó Dara estariam sempre em suas mais preciosas lembranças.

Ele sabia muitos tons de azul.

David emitiu um grunhido de reprovação, seguido da gargalhada das duas mulheres do cômodo. E, claro, a do pequeno Daniel que não fazia a mínima ideia de qual era a piada, mas queria imitar os adultos.

— Você é algum estilista ou coisa assim? – ele indagou ainda melindrado com o conhecimento do rapaz, sentindo-se sozinho na mesa novamente.

— Não, senhor. Digo, David. – ele corrigiu imediatamente, lembrando-se do pedido do homem, nos cumprimentos, quando solicitou que fosse chamado pelo primeiro nome. – Azul é minha cor preferida, graças a minha avó, que repetia histórias que envolviam inúmeros tons e fazia questão de descrever cada um deles. Digamos que eu saiba um número razoável de nomenclaturas.

— Oh, achei que você era como Emma. – Mary comentou com um sorriso. – Quando ela era pequena, gostava de ir às casas de tinta com o pai só para roubar os folhetos de cores e ficar lendo como se fosse um dicionário.

— Eu não roubava nada. – a loira corrigiu revirando os olhos, mas logo acenou com o olhar em direção a Danny. – Eu pedia para levar para casa. Roubar é feio, certo Daniel?

A criança assentiu.

— Papai disse que sim. – respondeu orgulhoso ao olhar para o sorriso satisfeito de Jones.

— Que tal esquentarmos as coisas então? – David disse esfregando as mãos animado.

— Como assim, querido? – sua esposa indagou.

— Proponho um jogo entre Emma e Killian, o perdedor lava a louça. – o mais velho comentou.

— Tinha que ser um jogo... – a loira murmurou descontente.

— Vocês terão que nomear tons de azul de maneira alternada, quem demorar mais de trinta segundos perde.

— Ah não, nem vem! – a mais jovem negou rapidamente. – Não faça apostas em meu nome. E me desculpa, Killian, meu pai tem mania de envolver jogos nas reuniões.

— O que é, Swan, com medo de não aguentar o desafio? – ele provocou.

E lá estava mais uma mudança de humor...

— É você quem não aguentaria, Jones.

— Ótimo, estamos de acordo então! – Mary Margaret firmou. – Quem vai iniciar?

— Emma! – Daniel gritou ao apontar para a mulher.

— Seu traidor!

O garoto apenas riu do pai.

— Ok, vamos lá. – ela começou. – Turquesa.

— Marinho.

— Já que estamos nos óbvios, fico com o Prussiano. – Emma replicou, apoiando os cotovelos na mesa e encaram o homem a sua frente.

— Celeste. – Killian retornou ao imitar a postura da fazendeira.

— Royal.

— Safira.

— Klein.

— Woah. – ele elogiou, movendo-se um pouco para trás ao perceber que estava próximo demais da face da loira. E, céus, os pais dela estavam logo ali! – Cobalto. Que tal esse?

— Impressionante! Indigo.

— Eles não vão parar nunca mais? – David indagou num sussurro para a esposa, que rapidamente o repreendeu, pois estava contando os segundos para cada uma das respostas.

— Bebê. – deu de ombros ao optar pelo simples.

— Argh! Eu ia falar esse, era o único fácil sobrando! Hm...

— Dez segundos, Emma. – Mary anunciou. – Agora são cinco!

— Hm... – a loira emitiu de maneira nervosa antes de responder com quase um grito. – Anil!

O sorriso de Swan era de vitória após ter passado pelo sufoco, mas Killian ainda tinha uns dois ou três nomes na memória. Ele sabia que iria vencer.

— Excelente escolha, Emma. – comentou devagar.

— Vinte segundos, Killian. – a senhora ainda contava.

— Preparada para lavar a louça? – ele provocou mais uma vez.

— Não tente fingir de confiante, você não sabe mais nenhum!

— Dez segundos.

— Anda, papai! – Daniel entrou no meio, torcendo pelo moreno.

— Cinco, quatro, três—

— Tiffany. – Jones disse nos segundos finais apenas para irritar sua adversária. – Vamos lá, Emma, sua vez.

E ela, obviamente, não conseguiu mais nenhum.

— Você tinha outro em mente, não tinha?

— O último. – o moreno confessou, cruzando os braços. – Oxford.

— Isso existe? – o senhor Nolan questionou espantado. – Achei que era uma universidade...

Ele riu brevemente.

— É bem parecido com o azul prussiano. – explicou.

— Sério que você conseguiria distinguir todos esses tons se eu os colocasse na sua frente agora?

— De forma alguma! – Killian retrucou divertido. – Só sei os nomes e os tons clássicos que eles se parecem, essas descrições eram coisas da minha avó, eu só gravei mesmo.

Eles continuaram conversando, basicamente sobre a infância da loira e a fazenda Troll Bridge – que ele ainda não tinha tomado coragem para saber as motivações para o nome. O de Thor, por outro lado, foi exatamente o esperado: Emma Swan era fã de quadrinhos e nomeou o cão com seu Vingador preferido.

Meia hora depois, os Nolan se retiraram para dormir, afinal, não eram tão jovens que pudessem adentrar toda noite em claro. E, com Daniel já apagado no sofá da casa, Jones sabia que estava na hora de se retirar também, entretanto, ao ver a loira levar os últimos talheres para a pia, teve que se aproximar.

Ele não disse nada, apenas pegou o pano de prato e começou a enxugar alguns copos que Swan havia ensaboado.

— Killian, eu perdi a aposta, você não tem que vir me ajudar! – a loira o repreendeu.

— Você não pensou mesmo que eu aceitaria vocês nos receberem dessa forma tão acolhedora e ainda deixaria de ajudar com a sujeira, não é?

— Certo, Oh-Senhor-de-Todos-os-Valores, mas nós colocamos isso em jogo naquele desafio. Eu perdi, eu lavo. – replicou de maneira firme.

— Mas você está lavando. – o moreno apontou para a bucha cheia de detergente na mão direita da mulher. – Eu só estou secando.

E então a piscadela cúmplice.

Deus, aquele homem precisava ser tão lindo?!

Acalme-se, Emma. Pare de pensar nisso ou encarar, ele vai embora amanhã.

Ela apenas sorriu, rendendo-se a oferta do ajudante. E o trabalho foi concluído com muito mais rapidez, é claro, mas ela deveria admitir que estava triste em vê-los sair pela porta de casa. Amanhã seria a última vez que os veria e não estava preparada para despedidas.

Emma sempre se deu muito bem com outras pessoas, afinal, ser sociável era uma de suas características mais marcantes, mas eram raros os momentos em que se afeiçoava tão rapidamente.

E, dessa vez, por um homem extremamente lindo e uma criança encantadora.

[...]

Killian teve uma noite maravilhosa na aconchegante cabine que Emma o designou, e o mesmo poderia se dizer do filho, que se recusava a todo custo sair da cama. Mas eles precisavam ir logo se quisessem evitar muitas mudanças climáticas na estrada.

Ele ficara encantado com toda organização e cuidado de toda fazenda, agradecendo, ainda, o fato de incluírem o café da manhã para todos os hóspedes. Mary Margaret estava ciente de que tal item era um luxo, mas gostava tanto de cozinhar e receber visitas que simplesmente amava oferecer um banquete matinal para os clientes. Segundo ela, era bom ver a mesa de madeira dos fundos repleta de pessoas, dando-a oportunidade de conhecer cada um deles mais de perto.

Os Nolan tinham um coração gigante e ele seria eternamente grato por toda hospitalidade.

Andando pelo caminho de pedrinhas de mãos dadas com o sonolento Danny, pelo que ele julgou ser a última vez, Killian se aproximava do local do café na esperança de poder ver a família novamente. E agradecê-los mais uma vez por tudo.

Contudo, todo discurso que tentava bolar em sua mente fora interrompido pelo grito de duas mulheres.

E ele não precisou buscar pela fonte, pois logo Mary e Emma saíam da casa correndo e completamente encharcadas. Thor estava bem ali, latindo para as duas como se estivesse resolvendo algum problema.

— O que está acontecendo aqui? – Jones perguntou preocupado. – Vocês estão bem?

— É um monstro, tia Mary? – Daniel também queria saber.

— Só se o monstro for a bunda enorme da minha mãe! – Emma replicou rindo.

— Emma! – a outra repreendeu, mas não conteve a própria gargalhada. – Killian, querido, David está lá embaixo no celeiro, será que você consegue dar uma olhada na pia? Está jorrando água para todo lado!

— Claro, sem problema algum. – prontificou-se. – Danny, fique perto de Emma, tá bom?

O garoto assentiu e logo as mãos de Swan envolveram os ombros pequenos do garoto, como se quisesse mostra-lo que não precisava se preocupar em deixa-lo para trás.

E isso era algo que a loira estava se torturando para descobrir o quanto antes: qual era a razão de Jones sempre se preocupar em tirar os olhos do filho? Ela poderia compreender a preocupação de pai em querer protege-lo, mas a tensão em Killian era mais intensa que o normal, ela acreditava.

O moreno não demorou muito para entrar na cozinha dos Nolan e encontrar o cano da pia jorrando água, como Mary havia descrito. E bastou um olhar rápido pelo local para descobrir onde era o registro, porém, isso não o impediu de levar um belo de um jato d’água no peito.

E ele não julgaria as duas mulheres por saírem dali gritando, pois era como pular em um lago de gelo.

Com o fim de toda aquela cachoeira, Jones pode ver que o cano estava fora do eixo, como se tivesse sido puxado para a esquerda com força. E, para piorar, a rosca de acoplamento estava completamente torta.

— Tinha uma guerra aqui?

— Não. – Emma respondeu tentando reprimir a risada. – Minha mãe estava fazendo a cumbuca de geleia para vocês levarem e eu pedi para que fizesse o dobro, para durar a viagem inteira. Só que ela precisava de outro pote e simplesmente subiu na pia para pegar outro no armário de cima.

— Num resumo, eu cai e acabei... quebrando... tudo. – Mary comentou envergonhada.

— Você pisou na torneira? – ele indagou assustado. – Poderia ter se machucado!

— Eu falei isso para ela! E disse que pegaria o pote também, mas ela não pode esperar um segundo sequer.

— Você estava enfiada no celular com Ruby! – a senhora acusou.

— Ruby está nos fazendo um favor, mãe. Eu precisava responde-la. – a loira se defendeu, mas logo voltou sua atenção ao moreno.

E quando parou para observá-lo novamente, não pode evitar em prender seu olhar no tronco molhado. Bom, talvez ela tenha demorado tempo demais ali e o sorriso discreto de Killian denunciava que ele tinha percebido.

Droga.

— Hm, tem como arrumar?

— O cano não quebrou, o que é ótimo, então é só volta-lo para a parede e fixar de novo. – começou. – Mas a rosca já era, vocês tem alguma caixa de ferramentas por aqui? Talvez eu consiga desentortá-la.

Naquele momento, Emma deu graças aos céus pelos pais serem mais organizados que ela, pois sempre deixavam caixas de ferramentas e de primeiros socorros por toda fazenda – o que facilitaria o trabalho de Jones. E, para sorte da dupla, o moreno conseguiu consertar minimamente a tal rosca, reconectando a torneira.

O serviço não era dos melhores, como ele alertou, a água ainda escorria pelo anel, mas não esguichava ou era em grandes quantidades.

— Uma nova rosca ali e tudo volta ao normal. Acho que agora pela manhã vocês podem usar sem problemas, mas tentem ajeitá-la o quanto antes para não ficar desperdiçando tanta água. – ele finalizou.

Assim que as recomendações de Killian ecoaram pelo cômodo, ouviram os passos de David se aproximar, pisando no chão encharcado.

— O que houve aqui? Uma guerra? – Nolan questionou e, dessa vez, Emma não conteve a gargalhada.

— Ele perguntou a mesma coisa. – a loira disse, apontando para Jones. – Mas foi só mamãe sendo impaciente e, sem querer, quebrando a rosca de...

— Acoplamento. – o moreno a ajudou.

— Isso. Obrigada. – disse rapidamente. – Killian já consertou, mas acredito que precisaremos de outra, não está cem por cento.

— Eu não posso virar as costas por uma hora que vocês estão destruindo a casa. – David comentou, balançando a cabeça, mas todos ali sabiam que ele não estava repreendendo ninguém.

Até mesmo os Jones.

— Obrigado por organizar a zona de ataque, Killian. – o homem agradeceu.

— Não foi nada!

— E as duas vão trocar de roupa, se continuarem com as blusas molhadas vão pegar um resfriado, eu vou limpando o chão enquanto isso.

— Sim senhor! – Swan brincou batendo continência e fazendo Danny rir.

Logo pai e filho estavam sentados na mesa de madeira do lado de fora, aproveitando do café da manhã e preparando para a partida. Mary havia contato que gostava de entregar aos clientes algumas de suas geleias e doces para que pudessem divulgar o nome do rancho, mas não pode deixar de notar o pedido de Emma para que dobrasse a amostra. Ela estava preocupada com o bem estar deles na viagem. E ele não sabia reagir a isso.

A última vez que alguém, que não fosse da família, havia se mostrado aflita com os Jones, fora Ariel Barnes... Entretanto, não gostava de se lembrar daquele dia.

Quando terminaram de se alimentar, Killian pegou na mãozinha do filho e seguiu em direção à cozinha, onde encontrou as duas mulheres ainda tentando enxugar a água dos móveis e chão.

— Podemos entrar? – perguntou ao bater na porta aberta.

— Claro que sim! – a senhora replicou contente. – Ainda estamos tentando organizar tudo. Obrigada pela ajuda novamente.

— Não foi nada. Hm, e nós queríamos agradecer pelo café, estava muito gostoso não é, Daniel?

— Sim! Obrigado, tia Mary. – o menino falou de maneira firme, como se tivesse ensaiado toda manhã.

E nenhuma das Nolan duvidava que o moreno havia o obrigado a fazer tal agradecimento.

— Ficamos contentes que tenham gostado.

— E, por falar em comida, os potes de geleia de vocês estão prontos. – Emma comentou ao apontar para as cumbucas em cima da ilha da cozinha. – Espero que dê para o restante da viagem.

— Não precisavam se preocupar. – Killian replicou sem jeito, coçando o local de costume atrás da orelha. – Aliás, gostaria de falar com David e acertar nossa estadia. Sabe onde ele está?

— Mas já? – a loira indagou, falhando miseravelmente em esconder sua tristeza. – Digo, hm...

— Hoje ele está na recepção. – Mary interrompeu as tentativas da filha. – Se quiser deixar Danny com a gente...

Ele assentiu.

— Você quer ficar para se despedir delas, filho?

— Eu não quero ir embora! – Danny resmungou.

— Daniel, nós já conversamos sobre isso. – o músico disse em tom mais forte. – Fique aqui e vou falar com David. Volto logo.

Ele agradeceu pela oferta de cuidar do menino e logo mudou de curso para encontrar Nolan, mas não lhe passou despercebido o suspiro triste das duas assim que ele virou as costas.

Não conseguia compreender as razões pelas quais ele também estava chateado com sua partida, mas parar em Storybrooke nunca foi um plano. Ele sequer viu a cidadezinha no mapa!

O Rancho Troll Bridge não era uma parada para os Jones e ele sequer teria condições financeiras para bancar sequer o final de semana ali.

Assim que entrou na recepção, não viu nada além dos artesanatos e bugigangas nas prateleiras, entretanto, um barulho aos fundos avisava que o local não estava completamente abandonado.

— David? – ele chamou.

— Ah, Killian! É você! – o senhor retornou ao aparecer na pequena porta atrás do balcão.

— Desculpa incomodar, mas vim aqui para acertar a estadia dessa noite. Eu e Danny temos que ir logo. – ele anunciou e, novamente, recebeu um olhar de pesar como réplica.

— Claro... – o homem pigarreou. – Venha aqui no escritório, por favor, só estou guardando alguns papéis e logo posso te atender. Não fique aí esperando sozinho.

O canadense, então, seguiu o fazendeiro até o outro cômodo, mas não disse nada. Jones sabia que, mesmo com um contato mais breve, até mesmo o senhor Nolan sentiria aquela separação.

E ele só não entendia como aquilo tudo estava acontecendo. Ou por qual razão seu peito apertava sempre que falava em ir embora.

A dupla não falou absolutamente nada por mais um tempo, esperando para que David finalizasse a tarefa anterior e, finalmente, pudesse dar atenção ao músico que esperava pacientemente. Enquanto isso, ele aproveitou para observar o local, demorando-se um pouco mais a encarar as fotos no mural.

Os Nolan eram uma família extremamente unida e era bonito de se ver. Contudo, deveria admitir que Emma era quem o intrigava mais, tinha algo naquele olhar esverdeado e sorriso largo que o deixava curioso. Sentia-se como uma criança, na verdade, diante de um mistério a ser desvendado.

— Killian, posso perguntar uma coisa um tanto indiscreta? – o homem disse, rompendo sem aviso o silêncio do cômodo e o assustando, quase fazendo-o derrubar um dos porta-retratos.

— Eu acho que sim. – respondeu, colocando o objeto de volta na prateleira e levando as mãos aos bolsos da calça preta.

— Quais são seus planos para Sunburst, afinal? Você mencionou ontem que iria tentar algo...

— Bom, tecnicamente, eu ainda não tenho nenhuma oportunidade. – disse brevemente. – Tentarei contato com um amigo antigo de meu pai à procura de emprego na nova fazenda dele.

David assentiu e permaneceu em silêncio balançando a cabeça devagar, como se estivesse assimilando o que Jones havia dito. Considerando coisas até, se fosse tentar adivinhar...

— O que mais você sabe fazer além de consertar pias, rapaz?

— Desculpe, não entendi. – Jones retornou confuso. – Como assim?

— Quero saber se sabe fazer algo a mais numa fazenda, se tem outras qualidades e experiência. – o tom do senhor era mais sério e seu semblante tornara-se mais reflexivo, deixando o lado brincalhão de lado.

Killian ainda não compreendia, mas confessava que passou por sua cabeça ter David o ajudando com algum de seus amigos fazendeiros. Talvez ele quisesse saber suas atividades para poder dizer aos contatos.

E isso seria ótimo!

— Eu faço de tudo um pouco, na verdade. Sou de Prince George, no Canadá, nasci e cresci num rancho como esse e ajudava meus pais em tudo que podia.

— Eles tinham animais?

— Não muitos, somente galinhas e alguns cavalos, além do pequeno gado. Como ficávamos próximos a um rio, meu pai preferia focar as atividades em pesca e até canoagem. – o moreno explicou.

— Tem algum conhecimento técnico?

— Fiz alguns meses de um curso de hidráulica, então acredito que sei o básico, mas marcenaria seria o meu forte, se tivesse que escolher.

— E o que estava fazendo em Nova York? – o senhor prosseguiu com o interrogatório.

Jones respirou de maneira pesada, encarando a janela do escritório e vendo o filho passar correndo com Emma e Mary Margaret. Seguidos de Thor, é claro.

— Eu ia dizer que estava cometendo alguns erros, mas tive Daniel... Então acho que estava apenas seguindo um outro sonho, mas não deu certo. – respondeu com sinceridade.

— Killian, serei bem honesto com você agora. – David começou. – Não estou tão jovem assim, tenho cinquenta e dois anos e muito tempo de trabalho nesse lugar. Minha esposa não está tão diferente de mim. Nós estamos pensando em aposentar já faz um tempo, mas não queríamos deixar tudo nas mãos de Emma, seria injusto.

— Compreendo. Ela também trabalha no campo?

— Sim, mas não é seu maior talento. Emma é ótima com os clientes e trilhas, mas é excepcional com a administração. E não digo isso apenas pela graduação que foi buscar na Califórnia. – o senhor comentou com um típico sorriso orgulhoso de pai. – A questão é que precisamos de uma outra pessoa.

— E o senhor acha que—

— É claro que não pensei em nada disso ontem, mas vi o quão eficiente você foi hoje com a cozinha e fiquei curioso em saber se havia sido por mera sorte ou por experiência mesmo. – ele explicou, dando de ombros. – Acho que tive a minha resposta. E estava refletindo aqui sobre uma nova tentativa. Por esse motivo eu queria saber da sua oferta de emprego em Sunburst, para poder fazer uma contraproposta, mas já que você está saindo daqui incerto, deixo agora o convite. Se você aceitar trabalhar nessa fazenda, daremos um jeito de adaptar sua vida e a de Danny rapidamente.

— David, eu fico lisonjeado com a proposta, mas não acho que sou o melhor candidato para substituir você ou sua esposa em nenhuma das atividades. É muita responsabilidade para um estranho qualquer... – Jones começou, mas logo seu olhar encontrou a janela novamente e a cena se repetiu.

Danny estava correndo de mãos dadas com Emma, aparentemente tentando se aproximar de alguns patos que haviam aparecido por ali. Ele pode ver, ainda, quando a mulher se abaixou e imitou o barulho do animal com o movimento das mãos – bom, era o que ele imaginava ter acontecido, pelo menos... Seu filho sequer tirara o sorriso do rosto desde que chegaram na tarde passada.

Seu coração apertou de novo.

— Eu entendo, sua posição. – Nolan lamentou com um suspiro. – Contudo, saiba que não vejo empecilho algum diante do que você argumentou, não costumo me enganar com as pessoas. Sei que é um bom homem e teria um futuro incrível aqui no rancho conosco, mas desejo toda sorte com os negócios em Sunburst! – finalizou com um sorriso sincero.

E Daniel abraçou Thor, deixando-o ainda pior ao ver o carinho que o filho tinha com o animal.

— Hm, David... – Killian chamou, ignorando tudo o que o senhor havia dito anteriormente.

— Sim?

— Será que podemos esquecer tudo o que eu disse antes? – o moreno indagou, retirando seu olhar da janela e encarando o fazendeiro. – Eu aceito o emprego.


Notas Finais


¹ “You can't go on, thinking nothing's wrong, who's gonna drive you home tonight?” na tradução literal é: “você não pode pensar que não há nada de errado, quem vai te levar para casa essa noite?”. É uma canção da banda The Cars, e está disponível na playlist da fanfic no Spotify (encontre pelo usuário “lindyowens10”).


E então, o que acharam? Espero que tenham gostado e, se quiserem, será incrível saber a opinião de vocês, críticas e sugestões. Obrigada por darem um voto de confiança para OTDA, significa muito!

Vejo vocês na próxima segunda?


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