História Pacto de Gangues - Corrida

Quando chegamos em cada meu pai afrouxou o nó da gravata e foi tirando os sapatos, em seguida se virando para mim e me olhando com cara de tédio.

Tinha sido estranho vê-lo me defender daquela maneira depois que o TK me atacou, mas o caminho de volta pra casa foi silencioso. Ele não disse nenhuma palavra e depois, deixando a bagunça ali mesmo para os empregados, caminhou até as escadas. Me vi forçado a segui-lo.

— Espera, papai! – chamei, fazendo ele parar no pé da escada.

— O que foi, Júnior?

— Eu quero saber. E agora? O que vai acontecer?

— O mesmo que antes. Você se casa com um dos Killians.

Ele tentou seguir caminho, mas o segurei pelo braço.

— Por favor, espera – falei, sem soltá-lo. – Não quero me casar com o Jessie!

Ele olhou para a minha mão e seu olhou mostrou raiva. Recebi um tapa, minha cabeça girou e quase caí da escada. Virei o rosto para que ele não me estapeasse de novo e o soltei.

— Você não está mais na casa do seu irmão! – gritou, e ajeitou a gola da blusa. – Já matei gente por muito menos que isso, então fique esperto. Isso é o mínimo que espero de você daqui pra frente.

Acordei no dia seguinte com as cortinas sendo abertas de uma vez só e a luz atingindo minhas retinas. Quase dei um pulo com aquilo.

— BOOOOM DIAAAAA.

A voz incrivelmente animada de Jessie veio e ele puxou minhas cobertas de uma vez, cantarolando e com os olhos brilhando de animação.

Olhei para ele de soslaio saindo um pouco de dentro das cobertas e me surpreendi ao vê-lo sem terno e a gravata. Jessie usava uma camisa verde sem manga que deixava seus braços musculosos à mostra, uma bermuda preta para corrida, e tênis com meias brancas.

Ele começou a se alongar ali mesmo.

— Nada de preguiça, Júnior. Bora, bora, bora! Acabei de malhar e vim te acordar para a gente correr um pouquinho.

— São sete da manhã! – reclamei, grunhindo.

— É o melhor horário para correr. Os seguranças já estão prontos desde às 5h. Só estamos te esperando.

Concordei em levantar e fui para o banheiro. Jessie saiu do quarto quando me arrumei encontrei ele na cozinha batendo algo no liquidificador.

— Oi, Júnior. Tô preparando uma vitamina de café da manhã, vai querer?

Cheguei perto do líquido esquisito e senti um cheiro horrível.

— Ah, não, obrigado, vou comer um biscoito.

— Você que sabe. Não tem ideia do que está perdendo.

Ele pegou o copo do liquidificador e levou à boca de uma vez só. Me surpreendi como ele bebia como se fosse a coisa mais gostosa do mundo.

— Delícia! – falou, satisfeito. – E não estou falando só da vitamina.

Fiquei vermelho com seu comentário e abaixei a cabeça. Quando me virei Jessie me observou com mais atenção e percebeu a marca vermelha no meu rosto.

— N-não, foi nada – menti, sem jeito.

— Como nada? Tem até o contorno dos dedos na sua cara! Foi de ontem, o TK fez isso, não foi?

— Não! Não foi o TK… Foi… o meu pai.

A expressão dele mudou um pouco, Jessie sorriu de lado, parecendo sem jeito.

— É melhor tomar cuidado com o que fala com ele, então. Não posso ir contra a educação que o seu pai te dá.

— Educação? – rio, sarcástico. – Isso que ele fez não é educar!

— Fala baixo. Tenha respeito pelo seu pai. Se ele bateu foi porque você mereceu.

— Como é que é???

— Você me ouviu. As coisas por aqui são diferentes. Tudo gira em torno do respeito, quem tá por cima é quem manda. Isso aqui é uma gangue, não pode se esquecer ou vai acabar acordando com a boca cheia de formiga.

Ele sorriu quando disse aquilo, depois deu um tapinha no meu ombro e se afastou cantarolando. Aquilo que ele disse me assustou bastante.

TK sempre falava de família, nunca falava muito a palavra gangue. Mas Jessie tinha razão, eu não podia me esquecer disso. Aquele lugar poderia me matar.