Ninguém escutou o disparo. Ao menos foi essa a conclusão de ambos ao andaram por galerias e túneis naturais, por bons cinco minutos e nada os impedir ou surgir. Antes de seguirem naquela direção, Ben fez uma boa troca do machado gamorreano com o blaster de um dos criminosos.
A peculiaridade naquele ponto ficava por conta das paredes e tetos, onde brotavam pequenas e infindáveis estalagmites com pontas avermelhadas e com curiosa luminosidade. Não havia emissão de calor acompanhando a luz, parecendo tratar-se de algum minério típico da camada geológica.
― Onde acha que essa caverna vai nos levar?
― Não faço ideia, mas é péssimo estar certo sobre ela existir. Está notando como aqui embaixo o ar ficou mais saturado e mais quente? Parece que estamos dentro de um forno, sabe…
― Eu não sei a velocidade daquele elevador, só sei que descemos bastante do nível que estávamos ― Rey avaliou. Falava em voz baixa com ele, sempre cautelosos ao que poderia surgir na próxima curva. ― O que será que ele fazia aqui?
A caverna se estreitou adiante e cada um teve de passar por vez. Como o caminho fez um moderado aclive neste ponto, Ben não pôde evitar a visão dos quadris da garota gingando pelo estreito espaço. De jeito nenhum que Grakkus, o Hutt, e um Hutt, conseguiria passar por ali se estivesse com Maliakos nesse momento. Um pensamento aleatório e estúpido para disfarçar a si mesmo como o convívio com a agente policial de Jakku estava, pouco a pouco, esgarçando sua racionalidade numa missão de vida ou morte.
― Ele quem? ― A indagou, quando superaram a parte dificultosa da trilha e voltaram a seguir lado a lado.
― Hum, Vader.
― Pela energia impregnada aqui, pode ser tudo. Um laboratório Sith, alguma impressão forte daquilo que eles chamavam de lado sombrio, ou só uma localização sinistra para colocar medo nos adversários.
― Eu nunca soube muito sobre esses tempos… O Império, os Sith, os Jedi e tudo o mais. Também nunca soube grande coisa sobre Vader e a tal da Força. Muitos nem acreditam nela no meu planeta.
― Você acredita? ― O rapaz a olhou de esguelha.
― Na Força? Bom, se eu não acreditasse essa seria a hora ideal para isso. O que estamos sentido desde que chegamos em Mustafar é o que?
Ben, claro, conhecia aquela curiosa energia que dominava o universo, com alguma didática. Seu tio era o Jedi responsável por resgatar o conceito dela na galáxia e o rapaz conviveu com o termo e as manifestações da Força durante toda a sua criação. Além de Luke, a mãe, Leia, sentia os ecos dela em si, ocasionalmente. Por sorte, ou não, ele nunca fora tocado por aquele dom familiar diretamente. Mas sim, a Força era esmagadora naquela região de Mustafar.
― Seja lá o que for e eu acredito em você, não é nada de bom. Darth Vader não era um sujeito dos mais bem-intencionados. ― Lhe respondeu, esguio, pois sabia que conhecimento demais sobre o tema levantava desconfianças.
Muita gente encarava o assunto como superstição, outros o ignoravam sumariamente, uma parte ainda, como Rey, tinha curiosidade e um conhecimento popular sobre… e havia pessoas como ele, raras e específicas, que vivenciaram o tema de alguma forma.
― Eu ouvi um ex-stormtrooper contando uma vez, quando eu ainda era menina… Vader erguia a mão, fechava os punhos diante de suas vítimas e as enforcava. Nunca precisava tocá-las para isso. Achei assombroso o relato e nunca mais esqueci.
― Ah sim, as pessoas tinham medo dele, inclusive os imperiais. Nem os seus poupava ― o Investigador argumentou tirando o suor da testa. A temperatura estava subindo nos túneis.
― Parece que ele usava a roupa e a máscara porque elas funcionavam como um suporte de vida. Ouviu algo do tipo?
― Sim. Sua saúde não pode mais ser a mesma depois que traiu os Jedi no fim das Guerras Clônicas.
― Estranho…. Poderia ser algo a ver com a Força…?
― Eu sinceramente não sei, mas, de algum modo, ele tinha problemas severos de respiração ― disse com franqueza. Ben nunca estudou sobre a era da Velha República e a sua queda. Novamente, tudo que sabia eram de vagos rumores em conversas familiares.
― Olha…. É impressão minha ou está fazendo ainda mais calor? ― Ela parou um pouco e arregaçou as mangas da roupa.
Com o colo e a nuca apanhados de suor, soltou o rabo de cavalo e prendeu as madeixas em um coque alto. Se o homem não estivesse ali, poderia facilmente ficar só de calcinha e sutiã, embora tivesse a impressão que nem isso aplacaria o angustiante desconforto térmico. Nem naquela bola desértica conhecida como o seu lar experimentara temperaturas tão severas.
― Ah, achei que era só eu ― o investigador retirou a jaqueta e a colocou em meio algumas pedras. Adorava aquela roupa e esperava ter a chance de voltar para buscá-la.
― Estamos chegando perto de algo…. Repare na claridade vindo adiante ― Rey apontou por cima dos ombros dele, captando um brilho alaranjado bem sutil.
Eles voltaram a andar, mais ansiosos pelo que viria. A cada metro ultrapassado, a claridade se acentuava e, junto, o calor. Foi penoso e precisaram ignorar o tempo todo o quanto estavam suando debaixo das robustas roupas, para alcançar o objetivo final.
Se ajudaram em novos trechos complicados de atravessar, pelas rochas de pontinhos vermelhos, e, mais silenciosos e concentrados, agora viam como o terreno claramente descia abaixo dos pés.
Os túneis foram alargando, o ar se tornando menos preso, ajudando no exercício que faziam ali para chegar a algum lugar. Com isto, a alta temperatura tornou-se mais tolerável, era como se a pele também pudesse realizar alguma troca gasosa, muito embora eles respirassem apenas pelos pulmões.
As estalagmites começaram a sumir e o minérios irradiantes perderam a bela luminescência para outra luz, muito mais poderosa.
A recompensa, por fim, veio.
Após alguns minutos, que mais pareceram décadas escalando uma montanha íngreme debaixo de sol escaldante, a caverna se abriu em um novo ambiente para os seus olhos, e a verdade, para as suas mentes.
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