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História Paixão Imprevista - Exatamente como você é


Escrita por: MistyMayDawn

Notas do Autor


Olá meus amores!
O que é isso?? Uma miragem? Um sonho?
NADA DISSO! Voltei com mais um capitulo para felicidade da nação!

Tudo bem com vocês? Estão se cuidando? Usando mascara, álcool em gel e ficando em casa? Todo cuidado é pouco gente, tomem cuidado <3

Demorei, mas como já virou até minha frase oficial: Eu demoro, mas sempre volto kkkk
Boa leitura.

Capítulo 19 - Exatamente como você é


Fanfic / Fanfiction Paixão Imprevista - Exatamente como você é

Acordou cedinho, em pleno sábado, nunca pensou que faria tal coisa, mas ele estava ansioso demais por esse ser o dia tão esperado. Zenitsu, praticamente saltitando alegremente, levantou da cama, colocou comida para Chuntaro e foi para o banheiro fazer sua higiene matinal. Após cantar no chuveiro e se vestir, rapidamente desceu para a cozinha tomar café da manhã com seu irmão postiço e o querido avô. O loiro nunca entendeu que espécie de doença fazia as pessoas acordarem cedo no final de semana, tudo bem quanto ao seu avô, ele era idoso e pessoas velhas tinham essa mania estranha mesmo, mas Kaigaku deveria ter problemas sérios.

Tudo bem que o irmão já era problemático por si só, pois apenas ao olhar os amigos estranhos que ele tinha, já era possível de fazer essa afirmação. Eles eram muito mal encarados, delinquentes para ser mais exato. Agora, acordar cedo já era demais! Zenitsu sempre teve o seguinte pensamento: Nunca confie em pessoas que acordam cedo porque querem. Algo de errado elas tem.

— Ainda bem que você parou de cantar, meus ouvidos estavam sangrando. — Kaigaku disse, sendo o irmão amável e gentil como sempre foi. — Tu acordou cedo, milagre, só pode ter caído da cama.

— Espero que você não tenha feito as panquecas, da última vez você queimou tudo. — O loiro retrucou sentando ao lado dos dois. — Prefiro ficar com fome do que comer aquilo de novo.

— Bom dia, meu neto. — O avô desejou com um sorriso feliz no rosto, mas o coitado foi ignorado.

— Pelo menos eu sei passar manteiga no pão! — O outro Agatsuma se gabou como se poucos conseguissem essa façanha. — Você mete a faca de tudo quanto é jeito, fica tudo bagunçado. Tem que ficar liso!

— E daí? Você vive espremendo a pasta de dente de qualquer jeito. Fica um nojo. — Zenitsu pegou o pão, cortou e passou a faca na mangueira fazendo questão de bagunçar bem para irritar Kaigaku.

Os irmãos se encararam mortalmente.

— Já chega! É de manhã cedo e vocês já estão brigando. — Na mesma hora, os dois se calaram. O senhor terminou de beber o café e deu um sorriso gentil. — Estou indo agora para o dojô. Quando eu voltar, espero que esteja tudo em ordem. — Os netos assentiram e comeram o café-da-manhã em volta de muitas discussões idiotas.

Dentre todas as coisas que eles gostavam e desgostavam, a única coisa que tinham a mesma opinião era: se odiavam muito. O sentimento deveras mimado e infantil de Kaigaku de ter seu avô só para si o impediu de gostar de Zenitsu assim que ele pôs os pés naquela casa, quando foi adotado aos sete anos, ainda mais percebendo que o avô gostava mais do loiro do que do próprio neto.

O moreno era carente de afeto maternal, mesmo que escondesse isso por detrás de atitudes rebeldes e rudes, pois sua mãe engravidou muito nova e, assim que o teve, entregou para o seu avô viúvo, enquanto o pai de Kaigaku nunca deu as caras. Ele só queria que tudo fosse dele, atenção e carinho, e até hoje é assim, por isso, nunca se dará bem com Zenitsu.

— Então, não se esqueça que as nove horas é para você vazar daqui. — O loiro começou o assunto, enquanto lavava as louças usando um avental cor de rosa e luvas amarelas.

— Não lembro desse acordo. — Respondeu sentado à mesa enquanto jogava no celular despreocupadamente.

— Não se faça de sonso, Nezuko-chan virá aqui hoje. — Ele disse com olhos apaixonados que o moreno não percebeu, por Zenitsu estar de costas.

Kaigaku começou a rir, enquanto o irmão fez com uma cara de tacho em resposta.

— Zenitsu trazendo uma garota para cá? — O tom debochado na voz irritou Zenitsu. — Só pode ser mentira.

— Foda-se, eu fiz seu dever de casa. Acordo é acordo.

— Tá, seu arrombadinho, eu vou. — Disse ainda se divertindo com a situação e se levantando da mesa. — Mas só porque eu sei que não vai acontecer nada entre vocês.

Ele saiu tranquilamente da cozinha. Zenitsu cerrou os dentes, irritado. Kaigaku falava coisas crueis e certeiras, que atacavam no ponto fraco do loiro com brutalidade, como corte de faca.

— Esse idiota, ele pensa que eu não tenho capacidade… — Murmurou para si mesmo, mas percebeu que ele próprio acreditava nisso.

O Agatsuma estava angustiado, nunca pensou que estaria em uma espécie de encontro — principalmente a sós, com a garota que gostava há tanto tempo e que pensou que era inalcançável. Nervosismo e ansiedade era muito pouco para expressar seus sentimentos. Era impossível não se preocupar, pois não sabia o que fazer quando ela estivesse em sua frente, tão linda e doce como sempre foi, apenas esperava não agir como um idiota, senão sua chance estava arruinada.

Algum tempo se passou, Zenitsu decidiu esperar Nezuko sentado no sofá, assistindo a um programa aleatório na TV. Vez ou outra ele checava o relógio de pulso, estava passando um pouco da hora e em sua cabecinha paranóica, o loiro começou a pensar que talvez ela tivesse esquecido, que não fosse importante e que havia dito só para não ser mal-educada, mas nunca teve a real intenção de vir.

A mente dele estava um caos.

— Nada ainda? — Kaigaku zombou, descendo as escadas com um sorriso zombeteiro. — Eu sabia que ela não viria.

Zenitsu o fitou irritado, mas com um quê de tristeza no fundo dos olhos dourados..

— Cala a boca, você já deveria ter ido embora.

O moreno apenas riu em resposta e foi em direção a porta para ir embora e deixar Zenitsu sozinho com o seu fracasso amoroso. Quando, ao tocar na maçaneta, ouviu o som da campainha tocando. Se o loiro fosse um cachorro, nesse momento, suas orelhas iriam se empinar e a cauda balançar de felicidade. Contudo, a pior pessoa para receber a Kamado era o seu irmão postiço, mas não ficou preocupado, o que ele poderia fazer mesmo, além de estragar sua vida social?

— Olha só, milagres acontecem. — O moreno zombou com um sorriso de lado, mas o loiro estava longe demais para ouvir algo, então abriu a porta.

Ali, ajeitando o cabelo timidamente, Nezuko estava parada trajando um vestido vermelho bem acentuado, bolsa de lado, gloss rosa nos lábios e negros cabelos ondulados caindo nos ombros, enquanto boa parte dos fios estavam presos em uma presilha em forma de laço rosa atrás da cabeça.

Kaigaku sorriu ladino com a visão dela, logo se lembrou da garota que presenciou a discussão deles na entrada do colégio semanas atrás. Agora, ele tinha que admitir, estava ainda mais linda do que naquele dia, que apenas a ignorou olhando-a desgostoso e com desdém. Era aquela garota que estava interessada no loiro? O Agatsuma não deixou de se perguntar o que ela viu aquele medroso sem atitude e experiência com garotas.

— B-bom dia, Kaigaku-san, Zenitsu-kun está? — Perguntou envergonhada, pois sentiu que o outro a olhou de uma forma estranha.

— Não, ele não está. — Respondeu com sarcasmo. Nezuko fez um expressão de decepção e tristeza. — Tô brincando, ele tá bem ali. Pode entrar.

— Obrigada. — Ela respondeu e entrou na casa, mas antes de passar por Kaigaku, ele a segurou fortemente pelo antebraço.

Em um movimento rápido e preciso, tocou o queixo dela, puxou para mais perto e sussurrou no ouvido.

— Devo dizer que você é muito para aquele fracassado, quando perceber isso, estarei aqui. — Disse maliciosamente, ela só conseguiu vê-lo piscando um dos olhos e se separando subitamente, saindo porta a fora.

Nezuko ficou atônita e estática sem qualquer reação, apenas sentiu seus joelhos tremerem um pouco e o aperto no antebraço, como se os dedos ainda estivessem pressionando ali. Desnorteada, fechou a porta ainda pensando no que tinha acontecido, e deu alguns passos para frente. A Kamado sabia que o irmão de Zenitsu não era flor que se cheire, mas nunca imaginou que ele chegaria a fazer algo do tipo.

— Nezuko-chan! Bom dia! — Zenitsu vinha em sua direção, com um sorriso bobo e com o desejo de abraçá-la bem apertado. — Você tava demorando, o idiota fez alguma coisa?

— O-oi Zenitsu-kun, não… aconteceu nada. — Ela disse recobrando a consciência, e sorriu meiga. — Bom dia!

— Chuntaro está no meu quarto, vamos lá? — Propôs com rubor em suas bochechas. Será se ela pensaria que ele era um pervertido? O pássaro gostava mesmo de dormir na janela do quarto dele.

— Seu quarto? — Ela alisou acanhadamente uma mecha do cabelo. — Vamos, eu trouxe comida para ele. Eu não sabia muito bem o que um passarinho come, mas comprei alpiste e sementes de girassol. — Disse tirando o pacotinho da bolsa. — Será que ele gosta?

— Ele vai adorar! — Respondeu animado. — Chuntaro adora esses grãos. Vamos?

Alegre, Nezuko assentiu, cordialmente, com um sorriso, e o seguiu pela casa, subindo a escada de madeira até o quarto do garoto. Zenitsu podia até ouvir as batidas do próprio coração, engoliu em seco e suas mãos tremiam levemente, contudo, o loiro não era o único em tensão, pois a Kamado estava no mesmo estado. A garota mal conseguiu dormir à noite pensando e fantasiando sobre o que aconteceria, e agora que sabia que entraria no quarto dele, estava a beira de um surto. Conhecer o quarto de alguém demonstrava muita intimidade.

Eles adentraram o cômodo do Agatsuma, Nezuko observou tudo atentamente e com curiosidade. As paredes eram de cor creme e cheia de pôsteres coloridos de animes e mangás que ele costumava ler, ela esboçou um pequeno sorriso ao lembrar-se dos vários botons que tinha na mochila dele, e reconhecer alguns dos personagens.

— Aqui está ele, me diz se Chuntaro não é maravilhoso? — Disse divertido, chamando a atenção da garota distraída para a casinha modesta de madeira entalhada do passarinho, pendurada no teto, em frente a janela.

Os olhos róseos brilharam. A moça se aproximou rapidamente da casinha.

— Que lindo! Ele cresceu tão rápido! — Disse empolgada, enquanto Chuntaro estava na entrada da casinha com a pose imponente de um lorde. — Que casinha linda!

— GOSTOU?! — Zenitsu coçou a nuca, envergonhado, ao perceber que se exaltou. — Eu que fiz. — Nezuko achou a atitude tão fofa e admirável. Essa era uma das várias qualidade que ela amava em Zenitsu: ele era muito atencioso e amável. — Achei melhor fazer algo caseiro, do que comprar já pronto.

— Ficou uma gracinha. — Fez um carinho no cabelo loiro dele e observou Chuntaro arrepiando suas penas, depois as penteando. — Aqui, semestres de girassol. — Estendeu a mão aberta com os grãos, o pássaro pulou para a palma estendida e, aos poucos, comeu as pequenas sementes.

— Você quer algo para comer? — Zenitsu perguntou, não queria que ficasse silêncio entre eles. — Temos sorvete.

— Seria muito, obrigada Zenitsu-kun. — Nezuko fitou o rosto dele, mas desviou quando viu algo adiante que lhe chamou atenção, um pouco escondido na estante de mangás.

O loiro seguiu o olhar da garota até seu violão preto, dentro de uma capa de proteção de plástico.

— Você toca? Por que nunca contou? — Disse e foi até o instrumento, tirando-o da estante. Estava empoeirado, o que resultou em alguns espirros.

— Desculpa, faz tempo que não toco. — Respondeu e pegou o vilão das mãos dela. — Eu foco sim, não que seja lá essas coisas. Estou meio enferrujado. — Abriu o zíper e tirou de dentro o instrumento, que brilhou.

— Que nada, Zenitsu-kun, você deve ser muito bom. — Falou confiante. — Você… pode tocar pra mim?

— Claro… — Falou tímido, não esperava que teria que tocar algo, senão tinha se aquecido na noite anterior; ou talvez pela semana inteira. — Eu só preciso afinar. Quer alguma música em especial?

Os dois caminharam até a cama e sentaram lá.

— Bem… — Pensou por um momento. — Que tal você me surpreender?

O Agatsuma demorou para afinar, nesse meio tempo Nezuko ficou prestando atenção em tudo, como uma criança curiosa, e Chuntaro fazia gracinhas enquanto estava nos dedos dela e comia algumas poucas sementes. Já Zenitsu, ficou pensando sobre qual música tocar para ela.

— Pronto. — Ele falou. Ajustou o violão no colo e pegou uma palheta na gaveta da cômoda. — Agora… já decidi qual será a música.

— Tudo bem, estou ansiosa. — Deu palminhas animadas e o passarinho ficou atento no ombro dela.

O loiro respirou fundo e, com dedos trêmulos, tocou o primeiro acorde. Nezuko observou os dedos se movimento nas notas e nas cordas, formando uma melodia que ela reconhecia muito bem. Aquela música era "Just The Way You Are", uma música romântica para um momento romântico. A Kamado sentou borboletas no estômago a cada sensação de frio só pelo pensamento de: talvez ele esteja cantando o que sente… ou talvez ela só esteja imaginando coisas.

Até o momento, nenhuma letra pronunciada, apenas a melodia vinda das cordas de nylon do violão.  Nezuko começou a cantarolar a letra baixinho, com vontade de vocalizar bem alto, mas sabia que cantava muito mal, só torturaria o ouvido de ambos. Ela desejava que Zenitsu olhasse para ela, mas o garoto estava de cabeça baixa, olhando para as cordas, invés de olhar para ela. O Agatsuma só não queria que ela visse que seu rosto estava rubro.

O refrão estava próximo, a moça estava achando tudo tão agradável que não queria que acabasse, sentia vontade de cantar, não tinha certeza se aguentaria passar pelo ponto alto da música sem cantar nenhuma frase. E, assim chegou, ela abriu a boca para pronunciar "Quando vejo o seu rosto…", nem que fosse baixinho. Contudo, foi surpreendida quando Zenitsu a olhou com um olhar confiante que ela jamais havia visto no rosto dele.

"Quando vejo o seu rosto, eu não mudaria nada nele". — A Kamado quase deu um pulo ao ouvir a voz dele cantando. — "Porque você é maravilhosa do jeito que você é. E, quando você sorri, o mundo todo para e admira por um tempo. Porque você é maravilhosa, garota, do jeito que você é" — Ele cantava bem, Nezuko estava tomada de emoção, o olhando fixamente com lágrimas nos cantinhos dos olhos. Queria dizer para Zenitsu, que tudo descrito naquela música linda, sentia igualmente por ele.

O Agatsuma terminou a canção depois do refrão e estranhou a garota o olhando daquele jeito, tão intenso. Coçou a cabeça desajeitadamente e sentiu seu rosto ficar quente, no calor do momento, não sentiu constrangimento, mas, agora, com Nezuko o fitando dessa forma sem dizer nenhuma palavra, chegou a pensar que o que fez foi muito idiota.

— Nezuko-chan, tá tudo bem? — Perguntou preocupado e desviou o olhar para o chão. — Você gostou?

— Ah, Zenitsu-kun… você não faz ideia do quanto adorei. — Ele ergueu o olhar incrédulo e muito feliz.

Nezuko sorria lindamente, com as bochechas coradas. Ela era tão perfeita! Zenitsu queria ter coragem de tomar alguma atitude, tomar aqueles lábios brilhante de gloss rosa de morango, mas ele não tinha, então a única coisa que fez foi sorrir.

— V-você q-quer outra ou tomar o sorvete? — Se atrapalhou um pouco na pergunta.

— O sorvete, depois você canta mais pra mim.

Zenitsu assentiu, então voltou sua atenção para o violão, pegando a capa e guardando o instrumento musical nela.

— Tudo pronto, vamos…

O Agatsuma sentiu a pequena e delicada mão tocar em sua bochecha e virar em direção da garota, ele, sem entender nada, se deixou ser conduzido. Nezuko o fez olhar para ela, rosto no rosto, ela estava com um olhar diferente que Zenitsu nunca havia visto.

— O que foi, Nezuko-chan? Mudou de ideia? — Riu de nervoso. Se tivesse um pouquinho a mais de coragem, talvez…

Se tudo dependesse de Zenitsu, andaria a passos de tartaruga. Por isso, ele não acreditou, não, aquilo só podia ser obra de um sonho muito surreal. Nezuko, isenta de qualquer timidez, beijou-o tão delicadamente que, se não estivesse surtando neste momento, Zenitsu poderia descrever que era o toque mais desejado da vida dele. Um selinho único e inesquecível.

Nezuko se separou e levantou-se bem rápido.

— Então, vamos. — Ela colocou Chuntaro na casinha novamente e se despediu. Quando ela virou, Zenitsu estava ali, de frente para ela.

Nezuko havia tomado atitude que ele queria ter tomado! Zenitsu não disse nada, o que teria para dizer a uma altura dessas?

Se abaixou um pouco para beijar os lábios dela, rodeando seus braços pela cintura fina e ela levou seus braços para o ombro. Enquanto Chuntaro piava reclamando que estava de vela, mas sequer recebeu alguma atenção. O beijo, dessa vez, não foi apenas um simples e inocente selinho. Era algo a mais, uma malícia velada mesclada com uma pureza encantadora.

[...]

Mexeu a panela com uma colher, pegou uma pequena qualidade de alimento, assombrou e provou. Finalmente o almoço estava pronto, agora só faltava acordar sua mãe dorminhoca. Já era rotineiro para ele fazer a comida da casa, já que seu irmão Sanemi era péssimo em cozinhar, e poucas vezes o mais velho trazia alguma comida de fora. Genya tirou o avental e o pendurou ao lado da geladeira, foi até o quarto dela, passando pelo irmão que parecia muito concentrado fitando o notebook no colo, e bateu na porta do quarto, mas, como já era esperado, nenhuma resposta.

Genya entrou mesmo assim, o cômodo estava escuro e com cheiro de mofo, sua mãe estava enrolada nas cobertas, só conseguia visualizar alguns poucos fios negros escapando do edredom. O Shinazugawa foi até a janela e abriu as cortinas, deixando a luz iluminar diretamente a cama e o cheiro incômodo se esvair aos poucos.

— Bom dia, mãe! — Ele disse empolgado e puxou as cobertas da mulher, que murmurou alguma coisa incompreensível e tentou puxar de volta. — Anda, mãe, o almoço está pronto.

— Não quero comer, não estou com fome. — Ela pareceu desistir de lutar contra o filho, como se fosse uma adolescente sendo obrigada a acordar e ir para a escola. — Eu só quero ficar aqui e nunca mais sair…

Genya sentou na cama e a olhou com compreensão e ternura.

— Se quiser eu trago a comida pra você comer aqui. — A senhora fitou o filho, que sorriu meigamente. — Mas você precisa comer, para sua saúde.

A senhora suspirou pesadamente e sentou-se direito na cama, com um olhar cansado e cheio de olheiras profundas.

— Tudo bem, pode trazer.

— Falando em saúde, não se esqueça de tomar os remédios. — Genya disse, tirou da gaveta do criado-mudo alguns comprimidos e colocou água no copo da jarra que ficava ali.

— Não vou esquecer. — Respondeu pegando o remédio e o copo. — Eles só me deixam muito exausta, e eu não gosto disso.

— Mas é para você melhorar. Logo estará boa!

A mulher não parecia muito confiante, pelo contrário, estava muito desanimada. A senhora Shinazugawa não tinha vontade de fazer nada, além de ficar enfurnada no quarto em solidão. Quem a visse em seu estado atual, não acreditaria que era a mesma mulher alegre e energética de alguns anos atrás.

Genya queria dizer mais palavras boas, queria tanto que a mãe melhorasse da doença, mas não conseguia ficar tanto tempo ao seu lado, pois era muito doloroso vê-la naquele estado. Porém, sempre estaria ali caso ela precisasse. Ele sentia tanto ódio do próprio pai por ter feito o que fez, tanto mal a ela e aos filhos. Felizmente estava bem longe e não poderia mais bater nela, como já presenciou tantas vezes quando criança.

O Shinazugawa foi até a cozinha colocar o almoço da mãe, mas durante o caminho percebeu o celular vibrando no bolso. Pegou o aparelho e fitou a tela com o nome de Hashibira. Não conseguiu evitar sorrir bobo apenas por se lembrar de seu quase-alguma-coisa. Inosuke estava ligando, ele não tinha paciência para mensagens de texto, preferia ligar, da forma antiga.

Oi, Hashibira. — Atendeu sussurrando um pouco.

Oi, Genyrou.

Por que me ligou? — Perguntou mais para provocá-lo, mas adorou essa atitude vinda dele.

Porque eu quis, posso não? — Genya sorriu ao pensar que Inosuke continuava sendo aquele docinho de limão como sempre.

Hm, então acho que vou desligar…

Espera! — Interrompeu de imediato, o que fez Genya sorrir satisfeito. — Eu queria dizer que… gostei do que aconteceu.

O que? — Se tivesse sobrancelhas, estariam arqueadas agora.

Não se faça de idiota! Você sabe muito bem... — Shinazugawa gargalhou, o que irritou o Hashibira. — PARA DE RIR, MALDITO! — O mais velho precisou distanciar um pouco o aparelho do ouvido, para não ficar surdo.

Tá, se acalma aí, seu surtado. É claro que eu gostei também, idiota, é óbvio. — Esperou a resposta do mais novo, mas só veio silêncio. — Hashibira? — Acontece que Inosuke estava muito apreensivo do outro lado da linha.

Você quer sair para fazer alguma coisa? — Perguntou baixinho.

O que?

Ouviu Inosuke bufar de irritação.

Qualquer coisa depois da escola, idiota.

Tudo bem, claro que sim.

Ótimo! — Hashibira desligou na cara dele mesmo.

Com um sorriso bobo nos lábios, Genya guardou o celular novamente no bolso. Porém, o sorriso sumiu rapidamente ao ouvir o pigarro de alguém logo atrás, virou-se e viu Sanemi encostado na parede relaxadamente, de braços cruzados e uma carranca nada amigável.

— Essa… — Fez um muxoxo e encarou desgostoso e com desprezo. —  Na nossa casa, você… deveria ter vergonha.

Genya não respondeu nada, não queria começar uma discussão com seu irmão e correr o risco de ficar para fora de casa novamente.

— Nosso pai nunca aprovaria essa aberração. — Disse por fim, e deu meia volta indo embora.

— Caguei para o nosso pai. — Sussurrou para si mesmo, em uma mistura de melancolia e alívio. — Ele está preso, não pode me fazer nenhum mal.

[...]

Depois de ficar o final de semana se martirizando, claro, com uma pausa para ficar feliz pela irmã e pelo amigo, Tanjirou já havia decidido o que fazer: Falaria pessoalmente com Tomioka, seja lá que lugar fosse, iria falar e se desculpar apropriadamente. Não aguentava mais ficar brigado com o professor, era insuportável ficar distante dele, sem poder conversar, ter sua companhia e suas carícias.

Tanjirou comeu sem vontade nenhuma o almoço junto com o grupo animado de amigos. Enquanto mastigava pela trigésima vez o mesmo pedaço de carne, viu Inosuke conversando com Genya, em um canto mais afastado. Arqueou a sobrancelha com ás de desconfiança. Então era sobre Shinazugawa o garoto que o amigo mencionou outro dia? Te não tivesse tão desanimado, perguntaria a respeito.

Ao vê-los ali, surgiu uma vontade de observar seus amigos apenas para constatar algo que não havia notado: Ele estava de vela para um monte de casais. Makomo namorava Daki, as garotas sorriam e se olhavam apaixonadas, vendo-as Tanjirou não consegui não pensar em como uma garota meiga ficou com uma garota com um olhar tão intimidador e, aparentemente, fútil. Notou também que Muichirou conversava animadamente com Senjurou, que pouco a pouco usava mais utensílios considerados femininos, como presilhas no cabelo e maquiagem, por mais que não fosse muito chamativa. Chamava muita atenção “um garoto” usar esse tipo de coisa, contudo, eles não se importavam com os olhares julgadores.

Do outro lado da mesa estavam Kanao e Aoi, que, por mais que sabia que não eram um casal, algo dizia que o clima entre as duas amigas estava diferente. Não era ruim, apenas diferente. Talvez fosse o jeito como Kanzaki olhava a Kocho, com tanta ternura e gratidão e como a outra retribuía, ou como, aos poucos, as mãos delas iam se tocando timidamente.

E, claro, havia também a novidade do dia, o mais novo casal: Nezuko e Zenitsu. Tanjirou precisou ouvir sua irmã surtando durante todo o final de semana, sem falar nos sorrisinhos bobos olhando para a tela do celular. Agora não seria diferente, pois depois que o loiro deu um pedaço de seu bolo para a garota, ela prontamente pegou outra colher e deu o seu pedaço na boquinha dele.

Talvez fosse inveja, mas Tanjirou estava sentindo que todos aqueles casais eram insuportáveis. Era isso o tão chamado carma? Ele já tinha aprendido, o universo poderia parar de torturá-lo?

Terminou o almoço e saiu do ninho do amor, também conhecido como mesa do refeitório. Ninguém ao menos tinha comprado alguma comida pra ele, então não valia a pena ficar de vela. Tanjirou ganharia bem mais indo atrás de Tomioka para se desculpar.

Andou pela escola atrás do professor, o encontrou junto com sua amiga Shinobu e… Rengoku. Tanjirou torceu os lábios em desgosto e ciúmes. Desde quando os dois professores se tornaram tão próximos? Que Kyojuro e Senjurou o perdoasse, mas só queria que o loiro sumisse.

No fim, as aulas acabaram e o Kamado não encontrou uma oportunidade de conversar com Giyuu. A sensação de impotência doía muito. Sua postura triste e cabisbaixa contrastava com a das duas garotas que conversavam ao seu lado. Makomo e Nezuko falavam tão alto e tão animadas que atraía atenção de várias pessoas que passavam pela calçada. Sua irmã contava, nos mínimos detalhes, como foi o encontro com Zenitsu no sábado, como Chuntaro era lindo, como o loiro tocava bem e como ficou tão apaixonada por ele cantar uma música tão romântica, que a garota nunca pensou que aconteceria isso com ela algum dia.

Em meio a esse cenário e com o olhar opaco para o nada, uma ideia passou pela cabeça de Tanjirou, então seus olhos adquiriram cor imediatamente. É como dizem: Mente vazia é oficina do diabo.

Já que, por mais que tentasse, não conseguia conversar com Tomioka na escola, por que não ir até a casa dele? Por sorte sabia onde era, e não seria tão estranho aparecer por lá com uniforme colegial e mochila nas costas, talvez até pensassem que o professor estivesse fazendo alguma monitoria particular para um aluno precisando melhorar seu desempenho acadêmico.

Tanjirou inventava desculpas para se mesmo, o convencendo que era perfeitamente plausível aparecer, no final da tarde, na casa de um professor que morava sozinho. Só ia pedir desculpas, talvez nem entrasse. O que teria a perder? Se sua irmã soubesse o que ele queria fazer, diria que era ideia de Jerico e não deixaria, pois já estaria passando dos limites.

Porém, ele não precisava contar exatamente.

— Nezuko. — Chamou por sua caçula que, após descrever para Makomo como sentiu vontade de desmaiar quando beijou Zenitsu, olhou para o irmão.

— O que foi, nii-san?

Conseguiu a atenção dela e da pequena Urokodaki, então deveria tomar cuidado com suas palavras.

— Eu sou um idiota, esqueci meu caderno na sala, vou voltar para buscar. — Mentiu, seu rosto tremendo um pouco.

— Podemos volta… — Nezuko iria propor, mas assim que o irmão lançou aquele olhar, percebeu que tinha algo à mais. — Tudo bem, só não demora, toma cuidado.

— Tem certeza? — Perguntou Makomo.

— Tudo bem, não se preocupem comigo. — Tranquilizou.

Tanjirou se separou das duas meninas e mudou de caminho assim que elas não estavam mais olhando. Nezuko ficou preocupada, contudo confiava muito no irmão e sabia como era muito responsável. Mal sabia a garota, que ele queria ir para a casa do professor, do nada.

Teve que andar muito até chegar à casa de Giyuu, sorriu ao ver a mesma casinha charmosa, o mesmo jardim modesto e o mesmo tapete de Garfield mal-humorado. Parou em frente a porta e suspirou para se acalmar. Agora que estava ali, sua coragem sumiu repentinamente. Balançou a cabeça e deu tapinhas no rosto para afastar o medo e o receio.

Tocou a campainha.

Demorou para que alguém atendesse, então tornou a tocar. Pensou que talvez ele não tivesse chegado da escola, e já estava pronto para dar meia volta e ir para casa, quando a porta abriu e Tanjirou virou surpreso procurando pelas lindas orbes azuis e cabelos negros rebeldes.

Mas não foi isso que ele viu, não era Tomioka que havia atendido. Na verdade, ele estava logo atrás com uma expressão surpresa, igualmente como Rengoku, que ainda estava segurando a maçaneta.

— Kamado-san. — Disse o loiro, após se recuperar da surpresa. — O que está fazendo aqui?


Notas Finais


Sim! Confesso que sou um pouco malvada e acabei assim mesmo, que nem final de novela, só pra deixar vocês curiosos kkkkk

A música da parte Zennezu é Just The Way You Are do Bruno Mars. Se alguém mandar essa música pra mim, eu até caso muaahua

Brincadeiras à parte, fico muito feliz com os comentários e os favoritos. Vocês são demais! Me enchem de determinação.

Aliás, se vocês gostam do casal InoZen e de comédia sem noção, eu estou fazendo uma short junto com a @Cyndy_Bolachita (também tem participação de GiyuTan <3): https://www.spiritfanfiction.com/historia/como-lidar-com-inosuke-hashibira-19018322

Até o próximo <3


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