O Starbucks está silencioso. Um rapaz de cabelo vermelho passa pela porta de vidro e vai direto ao caixa sem ao menos olhar para os lados, o que deixa claro que não é quem estou esperando. Novamente me pergunto se realmente alguém vai aparecer. A mensagem que recebi mais cedo pareceu um tanto misteriosa. Dizia apenas: Vi seu anúncio no quadro de avisos da faculdade. Tenho interesse em dividir o apartamento com você. Podemos conversar a respeito no Starbucks do campus, às 18:00?.
O perfil da pessoa não tinha foto, o que me fez desconfiar; mas como o encontro seria num lugar público, não tive receio de responder que sim. Sem contar que eu já estava sem esperanças. Já fazia duas semanas que tinha colocado o anúncio no quadro e nenhuma interessada apareceu. Não até hoje.
Enfiei os fones no ouvido e me permiti ouvir jealous enquanto esperava. Fechei os olhos e senti a música sem me importar se alguém estaria olhando para mim. Junto da letra a imagem de Sasuke veio a minha cabeça. Mesmo depois de 1 mês sem vê-lo continuo sem entender como as 3 agradáveis noites em que estivemos juntos conseguiram ficar marcadas na minha cabeça, o pior é que nada de tão especial tinha acontecido a ponto de me fazer desejar tê-las novamente. Só o que fiz foi tocar para ele, mas queria fazer isso de novo, queria vê-lo novamente sentado no meu sofá, queria vê-lo analisar os livros da minha prateleira ou os móveis coloridos da minha casa, queria comer pipoca com ele, apenas isso. É errado desejar o mais simples? É errado fantasiar um romance quando na verdade nada mais intenso existe?
I'm jealous of the nights
That I don't spend with you
Movo os lábios cantarolando a música.
- Sakura? – A voz rouca que me chama não é desconhecida.
Abro os olhos e dou de cara com ninguém mais, ninguém menos, que Sasuke Uchiha, o objeto de meus devaneios. Rapidamente arranco os fones e me endireito na cadeira. Prendo a respiração por alguns segundos antes de cumprimentá-lo.
— Oi...
— Oi – reponde.
Ele leva a mão à gravata e afrouxa o nó, depois, com a mesma mão, bagunça o cabelo. Meus olhos só se preocuparam em admirá-lo
– Posso sentar?
Observo os lábios finos se moverem desejando calá-los imediatamente. Meu deus, como senti sua falta
– Sakura? – O meu nome na voz dele soa como música para os meus ouvidos.
– Sakura? – É só na segunda vez que ele me chama, que caio na real.
- Oi
Seus lábios se arqueiam levemente insinuando o típico sorriso.
- Por que está rindo? – Deve ser da sua cara de tonta
- Você já me deu oi duas vezes. E até agora não respondeu se posso sentar.
- Sim... não, quer dizer... sim – Ai estou eu, mais uma vez, gaguejando. Ele me olha sem entender o que afinal eu quero dizer. – Sim, eu adoraria, mas estou esperando uma pessoa. – Infelizmente. Mas ninguém tão importante que eu não possa facilmente dispensar.
- É a mim que você está esperando – senta-se. Os olhos encarando os meus. Maldita mania de me olhar no fundo dos olhos. – Fui eu que mandei a mensagem mais cedo.
Por essa eu não esperava. Por que ele iria querer dividir o apartamento comigo? Ele não precisa disso, é rico e ...
- Você é homem – dou voz aos meus pensamentos. Seu rosto volta a habitual expressão de carranca. Posso jurar que está irritado, se não fosse pelo resquício de apreensão em sua postura. Tento explicar: - Acho que coloquei no anúncio que estou procurando uma mulher para dividir o apartamento.
- Hm. – Olha para baixo e depois para mim, o cenho franzido e os olhos cerrados. – Acho... Acho que não.
Sim. Tenho certeza que sim. Ignoro por alguns minutos a presença dele e reviro minha bolsa procurando pela cópia do anúncio que tinha guardado. Acho o papel dobrado, abro e releio o que está escrito, e sim, eu tinha escrito. Perfil desejado: mulher, estudante da escola de engenharia e arquitetura e que goste de animais.
- Aqui, veja. – Coloco o papel na frente dele e me inclino sobre a mesa para conseguir mostrar. – Está em letras garrafais.
Sasuke fica desconcertado ao ler, tira os olhos do papel e ergue o rosto, o que inevitavelmente deixa nossos narizes extremamente próximos. Rapidamente volto ao meu lugar e ele levanta.
- Tudo bem – Tudo bem? Não, tudo bem não. Sente aí.
- É só isso? – pergunto juntando esforços. Você não vai fugir de novo.
- Eu não correspondo as suas expectativas.
Você corresponde sim, nossa, e como corresponde. Posso mudar rapidamente para: Uchiha que gosta de animais.
- É só que não entendo, por que iria querer morar com outra pessoa? Você tem dinheiro suficiente para pagar o aluguel.
- Na verdade eu não pago o aluguel. O apartamento é meu – diz ao sentar novamente. Deixando-me ainda mais confusa com sua afirmação.
- Então, por que está aqui?
- Eu vi que o anúncio era seu e quis ajudar. Antes que pergunte, se aceitar seria o contrário, eu que dividiria o apartamento com você; não você comigo. – Agora ele parece o Sasuke de sempre, sério e falando sem emoção.
- E o que você tem a ganhar com isso? – ok, estou pronta, vamos tratar de negócios.
- Você pagaria as outras coisas. Algumas contas...
- Acho que você também tem dinheiro para pagar "contas". - Dou ênfase em contas e isso o faz rir. - Então, Sr.Uchiha, o que realmente ganharia com isso?
Ele ri de canto.
- Só o 'eu quis ajudar' não te convenceu? Certo, Srta.Haruno, digamos que eu sempre poderia obrigá-la a tocar para mim e teria livre acesso a sua espetacular biblioteca. Sem contar que eu também estaria atendendo ao desejo da minha mãe de não ser tão solitário. Então, o que me diz? Veja, eu só estou querendo uma amiga para dividir o apartamento, não é como se estivesse lhe pedindo em casamento. Você está rindo?
Sim, eu estou rindo!
- Sempre poderia me obrigar a tocar? Não acho que seria capaz.
- Sim, talvez eu seja. Faz um mês desde a última vez. Na verdade, faz um mês que não a vejo, estive pensando se andou tentando me evitar. – O tom de brincadeira em sua voz não me faz levar suas palavras a sério. Fico esperando dizer que sentiu minha falta, como eu senti a dele, mas isso não acontece.
Explico para ele sobre minhas atividades no escritório e de como está sendo difícil arrumar tempo para estudar e tocar. Ele ouve tudo atentamente, prestando atenção em cada palavra que digo. Lá fora já começa escurecer e chover.
Uma garota de olhos castanhos, seios fartos quase pulando do decote e avental verde amarrado na cintura retira da mesa o que sobrou do meu pedido. Ela se move sem tirar os olhos de cima de Sasuke, mas ele não percebe até ela perguntar com um sorriso fora do comum se deseja alguma coisa. O flerte descarado me deixa desconfortável. Meu celular vibra e deixo de encarar com raiva a atendente atrevida, leio o e-mail que chegou. Rio com a notícia que a aula de hoje foi cancelada devido a uma súbita gripe que atingiu a professora. Levanto os olhos e dou de cara com o Uchiha umedecendo os lábios secos.
Que visão, que bela visão.
- Minha aula foi cancelada. Você me daria uma carona? – peço.
- É claro. - foi o que ele disse, enquanto balançava a cabeça parecendo querer se livrar de um pensamento ruim.
Na saída do café, num gesto impulsivo, Sasuke agarra minha mão e atravessamos o estacionamento correndo para não enfrentar as grossas gotas de chuva que anunciavam um possível temporal. Ligou o ar quente do carro assim que entramos. Não demorou muito e já estávamos fora dos limites do campus.
- Sasuke? - chamo.
- Hm. - Entendo como um sinal de que está me ouvindo.
- Você precisa me devolver o livro que te emprestei.
Os limpadores balançam de um lado paro o outro tirando a água do para-brisa. Sasuke dá o sinal que entrará na próxima rua.
- Lembro-me de ter dito que o livre acesso a sua biblioteca faz parte dos meus ganhos em dividir o apartamento.
- Acho que ainda não aceitei sua proposta – provoco sem me virar para olhá-lo.
O celular dele toca, atrapalhando nossa pequena discussão. Ele aperta o botão no painel que eu já sabia ser para atender ligações.
- Sasuke Uchiha – diz.
- Senhor Uchiha, os organizadores do jantar beneficente perguntaram se o senhor vai acompanhado. – Essa mulher tem um detector de ‘Sakura Haruno no carro do senhor Uchiha’?
- O meu irmão não vai?
Um frio se instala na minha barriga. Eu deveria contar que conheci o irmão dele e que de vez em quando conversamos por mensagens?
- Não. Ele disse que esse era um compromisso seu, senhor.
Sasuke resmunga.
- Retorne em 2 minutos. – Logo a luz no visor apaga e Sasuke olha para mim enquanto espera o sinal abrir. – Você aceitaria ir comigo? – Olho-o confusa.
Ah sim, o tal jantar beneficente.
- Eu? – pergunto surpresa.
- Sim – o sinal fica verde e ele volta a olhar para frente. – Não sei se sozinho conseguirei sobreviver a um jantar de negócios disfarçado de jantar beneficente com velhos empresários insuportáveis, que acham que sou um jovem imprudente e inexperiente demais para presidir uma empresa. Portanto, senhorita, acho que poderia me acompanhar e, pensando bem, também acho que vou acrescentar a sua presença em eventos sociais como um ganho, caso aceite – deu ênfase ao aceite, – Morar comigo.
- Você está falando bastante hoje – observo sem esconder o enorme sorriso no rosto.
- Acho que sim.
O celular toca novamente. Será que ela ficou contando os segundos até se passarem exatos 2 minutos?
- Senhor Uchiha, tem a resposta?
Olha-me, balanço a cabeça afirmativamente. Ele sorri.
- Sim. Vou acompanhado. Sakura Haruno, coloque esse nome entre os convidados. Isso é tudo. – Desliga.
- O jantar vai começar às 21:00. Mas terei de ir antes para resolver alguns assuntos. Você se importa de me encontrar lá?
- Não. Mas saiba que só aceitei porque não tenho nada de mais interessante para fazer e sou inclinada a ajudar jovens imprudentes e inexperientes como o senhor.
Mentira. Mentira. Mentira.
***
Em frente a enorme e imponente porta de madeira Bocote, vi o momento exato em que Sasuke percebendo que eu estava me aproximando, sorriu de forma satisfeita. Caminhou até mim em seu requintado terno de corte italiano e ao diminuir a distância entre nós, inclinou-se num cumprimento que considerei antiquado e ultrapassado, mas ainda assim, encantador.
- Srta. Haruno.
- Sr.Uchiha.
Ele prende meu braço no seu. Ao entrarmos no salão só o que vejo são homens de negócios e mulheres esguias vestidas luxuosamente e respondendo com risinhos educados a tudo que lhes dizem. De qualquer forma, não me sinto deslocada no ambiente, meu vestido de seda que vai até a altura do joelho e ressaltava meus ombros, com suas alças de pedrinhas brilhantes, não fica de fora do que julguei “luxuoso”, não é justo, mas delicadamente sei que marca minhas curvas quando ando.
Um senhor de meia idade indica a mesa onde deveríamos nos sentar. O salão ao todo tem umas 10 mesas, cada uma delas ocupadas por empresários. Sentamos com homens que evidentemente têm negócios com a UHC, sou devidamente apresentada a cada um deles e dois chegam a perguntar se sou namorada do Uchiha, rapidamente respondo que não.
Depois de acomodados, somos servidos com champanhe e pratos quentes e frios: nenhum vegetariano, observo. A noite segue com os homens conversando sobre economia e grandes construções, ouço tudo atentamente, mas em nenhum momento sinto a necessidade de comentar ou incluir algumas observações, pelo menos não até ouvir o Sr. Orochimaru dizer:
- Esse é o lado bom desses jantares beneficentes, doamos algum dinheiro, falamos qualquer coisa aos jornalistas a respeito da necessidade de ajudar ao próximo e de lutarmos pela igualdade, uma tolice é claro, e depois sentamos a mesa e temos direito de discutir sobre os mais variados assuntos com os homens mais brilhantes da cidade.
- Eu não concordo. - Falo num ímpeto de coragem, fazendo com que todos olhem para mim.
- Não concorda com o quê, senhorita? – pergunta ele.
- Não concordo que a luta pela igualdade seja uma tolice.
- Uma pena, mas sinto informá-la que a igualdade entre os povos é uma utopia.
- Mas poderá deixar de ser se formos éticos o suficiente para agirmos de tal modo que nossas atitudes reflitam aquilo que se espera de todas as pessoas.
- A ética vai contra o desejo natural, minha cara, e sou contra esse tipo de repreensão.
- Então acredita que o homem é naturalmente mau?
- Sem dúvida alguma.
- Concordo em partes com o senhor, não acredito veemente que o homem seja naturalmente bom, mas também não acredito que esteja fadado ao mal. Penso que exceto os casos de desvios psiquiátricos, o homem não teria chegado a tal ponto de maldade se não tivesse sido corrompido pela sociedade.
- Ahh – penou. – Suponho que é uma socialista, por isso não vou levar o que diz a sério, os socialistas tendem a ter três quartas partes de comediantes. Mas ouso dizer que se vocês, esquerdistas, chegassem a sua idealizada terra prometida diriam que inventaram a felicidade, no entanto, é claro que não compreende o que digo, senhorita, pois eu não sou a boca para suas orelhas.
Alguns homens sorriem com a última fala de Orochimaru. Sasuke educadamente, por baixo da mesa, coloca a mão em minha perna num ato de apoio.
Sinto-me extremamente ofendida por Orochimaru ter criticado a mim e não a minha opinião em específico. Ele propriamente é do tipo de homem que foge de uma conversa fazendo ofensas pessoais. E está na cara que, pra ele, esse tipo de discussão exige vencedores.
Tomo um gole do champanhe para provar da ironia que é tentar defender a distribuição igualitária de renda enquanto se toma uma bebida cara com homens podres de ricos.
- O senhor costuma usar as palavras de Nietzsche como se fossem suas? – pergunto ao afastar a taça dos lábios e encará-lo.
Já que me fez uma ofensa pessoal, resolvo devolver na mesma moeda. O que acha disso, olhos de cobra?
- Não, senhorita Haruno. Minhas palavras são frutos da experiência e de constantes análises da vida em sociedade.
- Oh! – é mesmo? Lanço um olhar a todos, principalmente ao Uchiha que parece ansioso pelas minhas próximas palavras. – Pois acredito que posso dizer de quais livros exatamente tirou essas palavras. Hum, vejamos... “Os socialistas têm três quartas partes de comediantes" Nietzsche escreveu isso em seu Vontade de Potência. Quanto ao “Nós inventamos a felicidade” e “Eles não me compreendem: eu não sou a boca para estas orelhas" qualquer um que já folheou Assim falou Zaratustra saberá que foi nesse livro que o senhor ganhou experiência e analisou profundamente a vida em sociedade – ironizo.
Os homens voltam a rir, mas dessa vez o objeto de piada é outro.
100 pontos para a doce senhorita aqui. Grita meu inconsciente.
Em nenhum momento elevei o tom, as palavras saíram da minha boca carregadas de sarcasmo, mas não de exaltação, o que me deixa muito satisfeita. Porém, o tal Orochimaru, ressentido, não satisfeito com a ofensa pessoal resolve apelar para a ofensa sexista.
- É por isso que não devemos trazer as mulheres a jantares de negócios, Sr.Uchiha. – diz ele a Sasuke, que prontamente sai dos risos e estampa feições sérias.
- Nesse ponto me sinto feliz em discordar do senhor. Acredito que as mulheres possuem tanto direito quanto nós de participar ativamente dos negócios. E sou da opinião de que o mundo seria um lugar melhor se os homens não tentassem diminuir as mulheres que pronunciam livremente suas opiniões e agem conforme os próprios interesses. – Ele levanta e deposita a mão em meu ombro, no mesmo momento me levanto, sabendo que a discussão acabou. Parece que tudo foi longe demais. – Agora, se me dão licença – pede, e os senhores na mesa com sorrisos abafados nos lábios meneam a cabeça, dando-nos permissão para sair.
Deixo que Sasuke me guie pelo salão. Ele tenta a todo custo não rir, mas quando estamos do lado de fora, não aguenta e ri como nunca o vi fazer antes, como uma criança.
- Não acredito no que acabou de acontecer – tenta vencer os soluços do riso.
- Está arrependido por me trazer?
- Não, você foi sem dúvida o ponto alto da noite – brinca, ao tentar acalmar os ânimos e voltar ao seu estado normal. – Bom... Acho que acabei de perder a obra dos condomínios de luxo que Orochimaru pretende financiar. Mas o que é um contrato perto da cara dele?
Desato a sorrir, fazendo Sasuke perder a postura novamente.
Passada a crise de riso, ele pede para trazerem o carro.
Vez ou outra, enquanto dirige, ri. Já no nosso prédio, subimos no elevador sem falar nada.
- Foi uma noite inesquecível. – diz enquanto tira as chaves do bolso.
- Sim. – Fito o chão, para fugir do meu inconsciente que grita me mandando perguntar a ele o porquê de ter fugido na última vez que nos vimos.
- Sakura? – Chama, fazendo-me erguer a cabeça. – Você quer entrar? – pisco atônita. – Você não comeu muito no jantar, sinto muito pela ausência de pratos vegetarianos, mas eu posso preparar alguma coisa para você ou.. sei lá, pedir por telefone.
- Não, seria muito inconveniente.
- Por favor, permita-me fazer isso por você.
Como eu posso recusar? Como posso dizer não a um homem lindo num terno com gravata borboleta e um perfume que me deixa inebriada. Como?
- Tudo bem.
Entro e ele fecha a porta atrás de mim. Corro os olhos pelo apartamento amplo e impecavelmente organizado. Sasuke indica que eu me sente no sofá preto que entristece ainda mais a sala de paredes claras e quadros impactantes pendurados. Desobedeço, ao invés de me sentar, admiro as imagens perturbadoras nos quadros.
- Foram pintados por esquizofrênicos – explica. – Vou pedir algo para você. Tem preferência pela comida de algum restaurante?
Respondo que não com a cabeça. Ele segue para o quarto, quando volta já está sem o blazer do terno e sem a gravata, as mangas da camisa social branca desajeitadamente dobradas até metade do braço. Liga o aparelho de som e pede para conectar ao meu celular.
- Coloque a música que estava ouvindo na cafeteria. - Demoro um pouco para entender o que ele quer, depois lembro, Labrinth -Jealous.
- Ah não! Você me ouviu cantando?
- Não, mas você parecia gostar do que estava ouvindo. Coloque. Vou pegar alguma coisa para beber
- Ok. – procuro a música na minha playlist e deixo tocar.
Enquanto ele mexe em algumas coisas na cozinha, um caderno de tamanho médio e capa verde sobre a mesinha ao lado do sofá chama minha atenção. Pego e sem fazer barulho, abro. As folhas brancas sem pauta estão cheias de rascunhos do que parecem ser poemas e reflexões.
- Sasuke, você escreve? – pergunto em voz alta para quê, da cozinha, ele possa me ouvir
A resposta não vem. Folheio até a última página, com a curiosidade me matando, leio o que está escrito.
A solidão bateu a minha porta.
Tomamos juntos os últimos goles da bebida mais amarga.
Não foram os teus lábios.
Encho seu copo, como se bem vinda, ela está na minha frente, como você já esteve.
Minhas lembranças estão distorcidas.
No passo suave daquela música, abraçava-te e tinha consciência da causa da minha felicidade.
Os dias estão longos, estou contando os segundos, não são poucos... Já estou sem paciência.
Estamos aqui, tomando uma bebida que não são teus lábios.
Não há nada além, não enxergo.
Todo fogo que ardia em seu coração, você deixou aqui, para que eu queimasse, e agora meu corpo está em chamas.
Por que não bates a minha porta?
Ainda estou vivo, um pouco louco, ainda assim, vivo.
Minha voz já não pode dizer as mesmas coisas de antes. Mas estou pronto.
A bebida acabou e não vejo o meu fim
Estou condenado a esperar.
Quando você voltar, estarei preparado.
Só não vou garantir segurança.
Gostaria de perguntar sobre seus avanços, ou te contar sobre a minha desgraça.
Estou queimando.
Fecho o caderno com força. Olho para frente e imediatamente encontro os olhos negros me encarando. Negros nos verdes, como até deveria estar acostumada, porém ainda não estou; não desvio, mas estremeço. Um nó se forma em minha garganta. A música toca. As palavras que acabei de ler ecoam na minha cabeça.
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