História Palhaço - Não somos indestrutíveis - parte I

- Precisava jogar a tampa da caixa de pizza no meu rosto? – Hoseok disse a minha frente.

- Eu precisava reagir de algum modo, tava na minha frente – eu disse após ler aprovado no documento do teste de Jung Kook.

- Acho que você se empolgou mais que ele – Taehyung disse e deu uma mordida no pedaço de pizza na sua mão.

- As gravações vão começar na semana posterior a próxima – Jung Kook disse com uma expressão muito alegre – mas vamos gravar as chamadas para os comerciais essa semana e aproveitar pra conhecer o elenco.

- Parabéns – Hoseok disse levantando os braços de uma forma dançante, mas seu rosto estava apático.

- Parabéns, já vai levar a gente nas festas do estúdio, não é? – Taehyung disse.

- Parabéns!! – levantei e o abracei e depois voltei ao lugar.

- Acho que estamos amadurecendo, cada um com um compromisso, eu fiquei sabendo que Taehyung conseguiu um emprego também.

- É só um estágio mesmo, foi por causa do projeto do final de ano que apresentei, mas você falou uma verdade.

Passamos a noite toda conversando e rindo de costume enquanto Hoseok estava no meu colo falando besteira recebendo massagem no couro cabeludo. Ele e Taehyung só foram embora quando perceberam que o horário do vigia estava chegando, acho que o nosso dormitório era o único de luz acesa naquela noite, mas a bagunça valeu a pena, me fez de distração para não criar paranoias em que Jung Kook ficaria famoso e iria embora como Cindy, ou que eu ia passar muito dos limites e agir como um vlogueiro filmando tudo só porque estava com alguém famoso, nunca sei o que minha mente que é claramente uma caixa de Pandora, está preparada para fazer.

Fomos para Busan no dia seguinte já que era sábado, avisar aos pais deles, mas eu fui falar com os meus também, e eles quase me esmagaram quando descobriram do estágio. Os pais do mais novo fizeram almoço para gente e comemos todos os quatro tranquilos no inicio da tarde, assim como todos cochilaram também.

- Tô parecendo uma mistura de David Bowie com Lady Gaga no clipe Applause – eu disse após ver como meu rosto estava pela câmera frontal do meu celular.

- Andou escutando Lady Gaga, que milagre – Jung Kook disse passando tinta no rosto dele também, nós estávamos na câmara secreta dele, a velha sala hipster, pintando o rosto sem motivo, pelo menos pra mim.

- Foi para um trabalho estranho do começo do semestre. Parece até atividade de colegial.

- Você ta a cara do surrealismo.

- Surreal é você querer pintar o rosto.

- Por que se apegar a passatempos conhecidos se a gente pode descobrir novos?

- O próximo passatempo vai ser você limpar seu banheiro depois de nós lavarmos o rosto.

- Nem sempre funciona né? – ele riu.

Eu me levantei de uma das grandes almofadas em formam de poltronas onde estávamos sentados e de relance vi algumas pinturas não molduradas na estante dele e fui até lá pega-las. As primeiras eram até recentes e eu conhecia, apareceu uma da cidade de Seul e depois de repente me aparece uma pintura de mim , ao mesmo tempo que eu usava uma camisa de veludo prateada, também com meu cabelo atualmente cor de mel, eu estava maquiado suavemente com algo referente a um palhaço, mas ao invés de estar engraçado, estava lindo e até um pouco questionador.

- Daqui a pouco nós temos que ir – a voz de Jung Kook soou atrás de mim – arrume sua... que? Você achou? Gostou?

- Sim... só não entendi um pouco.

- Eu fiz isso no primeiro semestre, mas achei muito bobo da minha parte te mostrar. Foi exatamente essa imagem que você passou do jeito que você é.

- Finalmente entramos em consenso que eu sou um palhaço.

- Talvez pela sua visão, mas talvez seja essa persona que você tem seja algo positivo basta apenas acreditar.

- Estou tentando conseguir enxergar isso. Por enquanto fico aqui estudando, me divertindo, estando ao seu lado, não sei nem como seria se você não aparecesse.

- Olha você fazendo aquilo de novo.

- Não, eu sei que não devo centralizar a coisa toda, mas é bom ter você participando desse processo.

- Vai querer a pintura?

- Agora não, fique com você e me emoldure!!! – ele se espantou com o grito e riu.

- Vamos lavar o rosto e voltar para Seul antes que eu durma aqui.

[...]

Era uma mesa enorme cor de mel a minha frente, uma estante com jornais acumulados do meu lado, do meu outro lado Hoseok estava sentado na outra cadeira e a nossa frente na cadeira maior da sala estava nosso mentor explicando um evento que acontecia numa cidade no interior, mas na maioria do tempo eu só ficava pensando em não tossir, me coçar ou espirrar.

- Vou dar a chance aos senhores de serem assistentes dos nossos jornalistas por lá, os dois vem mostrando bom trabalho e achei interessante para universitários participarem disso – voltei da minha viagem em outro planeta e prestei atenção assim que ele disse isso.

- Quanto tempo? – Hoseok perguntou.

- Uma semana, transporte é pela preferência de vocês.

- Muito obrigado – eu disse, a única coisa que conseguiu sair da minha boca.

Ficamos um pouco mais na sala dele acertando algumas coisas e assim que fechamos a porta de lá começamos a pular e comemorar silenciosamente. Eu nem tinha entendido direito o que aconteceu, mas sabia que era bom, e liguei para minha mãe novamente para contá-la, depois continuamos trabalhando até a hora de sair. Era sexta, festa da comemoração da estreia do dorama que Jung Kook ia atuar, e eu consegui um bico com um colega meu para trabalhar na imprensa entrevistando os atores, quando sai do estágio fui direto para o dormitório para tomar banho e vestir uma roupa formal.

Quando cheguei lá já estava razoavelmente cheio, alguns atores tinham passado, e todos estavam a espera do casal protagonista, e é claro que o rapaz era nada mais nada menos que Jung Kook, tinha até algumas famosas elogiando ele quando as entrevistei, até colunistas de revista jovem e de estilo de vida, apenas com o estrondo das chamadas que eles disponibilizaram anteriormente.

O mais novo não me viu desde manhã bem cedo quando ele teve que ir gravar mais alguma coisa e ficaria por lá mesmo até o final da festa. E quando ele chegou foi bem notado porque toda a imprensa foi em direção dele, eu corri muito para poder ser um dos primeiros e conseguir falar. E lá estava ele, tão bonito, sorrindo, abraçado com a atriz que fazia par com ele, era inevitável que ele olhasse na minha direção, num tipo de conversa telepática onde riamos disso tudo, até que um repórter chegou perto e começou as perguntas.

- Boa noite Jeon Jung Kook, como você já sabe, você é a expectativa desse dorama, como é conseguir estar no seu lugar?

- Boa noite a todos – eu aposto que ele esqueceu o nome do repórter – Bem, isso foi meu grande objetivo quando quis seguir essa carreira e ver como o esforço valeu a pena é maravilhoso. Mas essa coisa de ser expectativa do dorama é uma ideia de alguma forma egoísta, porque nosso elenco se completa, todos merecem aplausos – todo mundo aplaudiu, inclusive eu.

- Como vocês veem esse rapaz é ótimo – o repórter falou virado para câmera e depois voltou para Jung Kook – como é pra você fazer um dorama de investigação e comédia romântica? Ainda sendo o protagonista.

- Estou apostando muito no nosso roteirista e sei que não é uma história simples, na verdade estou me desafiando a fazer o melhor.

- Como nós já sabemos, vocês são um casal na série – quando ele tinha começado a entrevista a atriz se afastou pra atender outro repórter, e agora voltou – e ficam tão bonitos juntos – cruel verdade – será que podemos, como dizem atualmente, shippar?

- Er...- eu vi como o mais novo se desconcentrou com a pergunta e olhou pra mim rapidamente – Bem, digamos que podem, mas não somos um casal real e eu já gosto de alguém – ele sorriu, eu também.

- Esse garoto aqui é ótimo, muito legal e bonito, claro. É só algo do dorama mesmo, mas podemos construir uma boa amizade com isso, e acredite, ele realmente gosta dessa pessoa, todos os dias de gravação das chamadas, na hora do almoço, ele atendia a ligação dessa pessoa e parecia bastante feliz – a atriz disse, o que falar sobre ela, que mal conheço e já adorei.

- Que pena pessoal, mas essa pessoa deve ser bem sortuda, ela veio hoje?

- Veio, aqui – apontou para o coração, enquanto eu estava a metros de distância bebendo água.

O repórter finalizou a entrevista e eu já comecei a minha, foram momentos tensos e engraçados porque nos tratamos como ex-colegas de colegial, e ele ficou fazendo gracinha com minhas perguntas, enquanto a atriz foi muito gentil.

Depois passou o primeiro episódio no telão do evento e sentamos para assistir, eu nas cadeiras reservadas da imprensa e ele lá nas primeiras filas, logo após teve o discurso do diretor e o brinde, foi quando Jung Kook e a atriz ficaram conversando comigo e o cara da câmera. Tudo ali em volta me fazia querer dá um ataque, mas correu tudo bem. Era estranho ver que alguém tão próximo a você estava envolvido e que pareciam a partir daquele momento viver mundos diferentes.

Voltei para o dormitório primeiro que ele e cochilei um pouco até que chegasse, e quando isso aconteceu, rimos de nervoso e nos abraçamos.

- Parabéns seu idiota, eu fiquei tão tenso naquele lugar, achei que ia sentir ciúmes, mas até que a moça é legal – eu disse.

- E você estava ótimo todo caracterizado, que orgulho.

- Preciso te contar algo, esperei terminar essa bagunça de estreia, foi convidado a trabalhar numa cidade do interior – assim que eu falei ele desfez o sorriso.

- Parabéns, você merece, mas logo agora?

- Uma semana só.

- Logo agora? Queria tanto sua companhia nesse inicio de gravações.

- Eu vou estar aqui – apontei para o coração dele.

- Tudo bem, e Hoseok?

- Também vai, se ele já fala muito, agora não para mais, ele está mais animado do que eu.

- E vocês vão quando?

- Segunda.

- E voltam quando?

- De sábado para domingo.

Ele me abraçou bem forte, foi meio estranho, nunca tinha visto seu lado dramático assim.

- Eu sinto que não posso, não quero te soltar, isso me abalou, desculpa.

- Tudo bem, eu entendo – foi os cinco minutos mais emotivos que passei em silêncio na minha vida, então resolvi mudar de assunto – O primeiro episódio foi ótimo, achei que você ia passar no inicio, fiquei na expectativa para aparecer ne cena final.

- Tinha que mostrar o prologo, eu fiz cara de sério? – ele se soltou de mim.

- Sim, não pareceu forçado, não se preocupe.

- Eu sou o investigador, tenho que estar impecável, ou não...

- Vamos dormir que eu quase nem parei no lugar hoje – voltei a deitar e leguei no sono na hora.

No sábado eu fui resolver essas coisas de faltar uma semana de aula com a universidade e arrumar minhas coisas, lavar tudo de última hora para pegar no outro dia, lavar do verbo levar na lavanderia. Jung Kook foi gravar, e quando voltei parei para conversar com Taehyung, ele parecia não ligar para a noticia da viagem, ou fingia isso. Mal tinha se passado um mês e eu já estava com saudade de trabalhar com ele, suas loucuras, seus momentos estranhamente sérios demais. Acho que ele era o único que não recebia minha carga emocional, mas que parecia saber de tudo e agia como se nada tivesse acontecido.

Domingo foi um dia melancólico e relativamente bom, passei o dia todo assistindo filme com Jung Kook, e ficava impressionado como eu já sabia metade das falas de cada um, afinal eu morava com uma pessoa que amava e estava começando a trabalhar com isso.

No começo da noite quando fomos os quatro a um restaurante, sentados em volta da mesa, com Jung Kook teclando algo no celular, Taehyung olhando de um lado para o outro – provavelmente com fome – e Hoseok falando do meu lado como íamos sair de manhã, eu parei para perceber o que tinha acontecido entre esses dias, todos finalmente evoluindo, uma viagem, Jung Kook e Taehyung agindo como se a viagem durasse metade de um ano, pareciam não ter um bom pressentimento e ao mesmo tempo não queriam transparecer isso para não desmotivar nós dois.

A noite terminou com todo mundo cantando músicas do celular de Hoseok, num corredor do dormitório, algumas delas eram internacionais, então a situação foi bem constrangedora e engraçada, Taehyung amava dublar alguns cantores que chegavam a notas altas, talvez ele não tivesse noção que todos, exceto a gente, estavam tentando dormir. Jung Kook nem parecia o novo astro das telas coreanas com a roupa surrada do dia todo, suja de pizza, sentado no chão cantando Daddy de Psy. Hoseok estava no normal dele, tirando foto de tudo, já eu estava apreciando esse momento enquanto tentava rir e cantar ao mesmo tempo.

Segunda de manhã depois de um abraço em conjunto em público lá na republica, eu e Hoseok nos despedimos dos outros e entramos num carro que ele alugou para esses dias, a viagem foi tranquila, principalmente pelo fato que eu dormi o caminho todo e deixei meu amigo falando sozinho.

Vou privar vocês de saber de alguns dias fazendo coisas sobre tv, filmando um evento, escrevendo coisas, chamadas de vídeos com todo o pessoal, amigos, família, tirando fotos conceituais, fotos engraçadas, de maioria da cara de Hoseok e vídeos dele com a animação inexplicável de manhã cedo depois de acordar e tomar banho, o melhor foi um em que ele dançava, depois me filmava com cara de sono após me acordar pulando na minha perna e de repente o serviço de quarto do hotel chega, foi engraçado porque ele fez tudo isso gritando.

Na volta era sábado de noite, tinha chovido um pouco, mas nada que atrapalhasse, eu estava cansado, porque tinha sido o ultimo dia do evento, mas Hoseok insistiu em voltar logo, já que já estava sentindo falta do colchão da do dormitório, ao qual eu não gostava, resolvi voltar.

- Você acha que o chefe vai gostar do que a gente fez? – Hoseok perguntou depois de passar em alta velocidade na estrada escura com o farol aceso só iluminando o nosso caminho.

- Sim, se fosse para ele odiar, melhor nem ir – eu respondi no banco de trás enquanto ele dirigia.

- Eu sinceramente achei que tudo isso foi ótimo, não sei o que fez Taehyung e Jung Kook pensar algo ruim.

- Eu também, ainda bem que eles não tiveram razão. E olha, até que eu gostei da sua tagarelice esses dias.

Cantamos vitória cedo demais, assim que acabei de falar veio uma luz na nossa frente, em questão de segundos. Um carro passou do nosso lado também

Eu senti o mundo me empurrar para trás, com todas as forças enquanto também sentia o carro girar, mas não escutava nada, nem Hoseok.

Quando senti parar no chão com a visão falha vi o outro carro perto da gente, quase no mesmo estado, depois apaguei.

Antes o mundo era colorido e aberto, de repente ele se tornou branco, verde, cinza e vermelho de gelatina, antes a cronologia fazia sentido, de repente já não seio que falar depois da virgula.