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História Papais - IV: Lábios quase virgens e a simplicidade do amor


Escrita por: Kohversation

Notas do Autor


Buenas noites ou dias ou qualquer coisa aí!

Primeiramente feliz dia das mulheres (mesmo que o dia de celebrarmos nossa existência seja todo e qualquer dia do ano), para todas as que, assim como eu, estão aqui para se iludir com ficções boiolas e bobinhas. O mundo é nosso mulherada!!!!

E sobre a fic, sei que prometi att dupla, mas perdi o arquivo do último capítulo :((((( então perdoem essa autora, amo vcs viu só sou idiota!

Boa leitura!

Capítulo 5 - IV: Lábios quase virgens e a simplicidade do amor


 

Um encontro.

 

Era tudo e somente no que Taeyong conseguia pensar, pronunciar — em baixo tom durante o trajeto de volta para casa — e rebobinar, assim como um cassete antigo não capaz de guardar muitas músicas ou informações. Seu âmago só se importava com a simples palavra, não dando espaço à mais nada e nem ninguém no mundo. Entrou na portaria dando pulinhos hall à fora, checou o correio sem verdadeiramente notar alguma das tantas correspondências. Um moonwalk ridículo até o elevador, e um divertimento infantil em relação à musiquinha grudenta ecoando na caixa de metal envolta por vidros. Estava em um bom humor tremendo, que jurou ter visto a felicidade em pessoa sorrindo no espelho do cubículo.

 

Nada o poderia abalar.

 

Mark tinha lhe chamado para sair por conta própria. Saiu perfeitamente e de modo bem claro da boca dele. E, depois de tanto beliscar os braços, Taeyong se deu conta de que era tudo real. Uma adrenalina incomum e há muito não sentida percorria seu corpo, lembrar-se da cara do homem ao fazer o pedido, contribuiu para que seu coração desse rodopios dentro do peito e seu estômago sentisse cócegas, talvez um adolescente em um primeiro encontro não ficasse tão mexido com um simples convite, mas era demais para o seu ego encalhado há uns bons anos. E, não, ele não achava nem um pouco estranho sair com o pai da criança que tomava conta! Os dois eram ótimos, uma família incrível, com seus problemas obviamente, mas com tanto amor, que foi impossível não se sentir apegado em pouco tempo. Deixou toda sua preocupação se esvair, já não lhe interessava mais nada, nem mesmo o fato de ser o primeiro homem na vida de Mark — romanticamente falando — lhe era um medo. Faria questão de ser uma boa primeira experiência, não só para deixá-lo mais tranquilo com a situação, mas também porque sua intenção era realmente fazê-lo sentir-se feliz e amado.

 

Mark podia parecer um cara durão, pronto para enfrentar o mundo e matar qualquer problema no peito, mas quando teve a oportunidade de vê-lo trocando uma fralda ou se desesperando com a dor de dente do filho; toda a fachada se auto-destruiu. Claro, ele ainda se mostrava durão quando algo exigia que fosse, mas no fundo, um homem sensível, desavisado e um tiquinho solitário se escondia, tímido, acanhado, com medo de julgamentos. Porém, dava o máximo de si em prol da família. E mesmo com sua falta de prática aqui e ali, ele conseguia ser um pai e um homem admirável. Taeyong queria aprender tanto com ele, queria muito ouvir o que aquela cabecinha pensava e ecoava, certa parte do seu corpo pedia para o conhecer em todas suas faces e formatos, como admirador e o que o futuro permitisse que fossem dali em diante.

 

Sim, era completamente bobo pelo mais velho.

 

— Ah! — seu suspiro satisfeito ecoou, seu rosto amassado na almofada rosa pink tornou a cena mil vezes mais cafona — Eu acho que nem me lembro de como se sai com alguém.

 

 

Uma onda de nostalgia lhe abraçou ao lembrar-se do último encontro. No qual sua mãe ainda pôde palpitar sobre sua roupa e o gel no seu cabelo — que foi um erro, diga-se de passagem. A mulher não queria que ele fosse, de modo algum. "Não se ignora pressentimento de mãe, Taeyong!", ela o encarava frente ao espelho e dizia com seus braços cruzados e expressão imutável. Agora, cinco anos depois, havia aprendido a sua lição, mesmo que tarde demais… Doyoung não era mesmo um bom rapaz, tampouco merecia seu tempo naquele dia, mas se não tentasse, talvez o arrependimento fosse bem maior. Já o papai desajustado provavelmente iria conquistar a senhora Lee sem esforço: maduro (há quem discorde), esforçado, carismático, educado e tantos outros adjetivos que a agradariam muito. 

 

 

— Espero que goste dele, omma. — pegou o porta-retrato e dedilhou os traços tão doces dela — Ele não tem cabelo colorido, já é um ponto para você, né? — sorriu, gostava de lembrá-la de um jeito feliz e imaginar seus conselhos em horas como aquela — Juro que vou me comportar e cuidar dele. Sinto que ele precisa.


 

[...]

 

O dia pareceu correr bem mais rápido para Mark, justo quando precisava de tempo para se preparar devidamente. Ligou para Jungwoo assim que Taeyong saiu dançando pelo corredor do prédio no dia anterior, ouvindo comemorações exageradas do outro lado da linha, mas por dentro sentiu-se bem ao notar o apoio que recebia do amigo. Pensou em contar a novidade para sua mãe também, mas raciocinou e não quis tornar a situação um grande evento, afinal, nada estava definido. Somente queria conhecer o babá, não propor e colocar um anel no dedo dele, queria dar passos pequenos, um de cada vez.

 

Quando acordou com os resmungos famintos de Changmin, lembrou-se do pequeno detalhe da sua vida: tinha um filho. Não se deu conta de que estaria tecnicamente pegando o babá emprestado, então recorreu ao único nome que lhe veio à mente e coincidentemente único user online naquela manhã de domingo, como um bom desocupado. Com uma mão direcionava a comida até a boca do pequeno e com a outra implorava para que Johnny cuidasse do seu filho, demorando muito para convencê-lo. Mas não para tê-lo em sua porta, contrariado, mas com um sorriso torto no rosto.

 

 

— Bom dia, melhor amigo desse mundo todo! — Lee provocou, abrindo os braços e rodeando o corpo imóvel em sua sala — Já tomou café? Quer um suco? 

 

— Eu vou respeitar aquela criança suja de banana ali, e não te dar um soco. — disse entredentes, acenando para o bebê na bancada da cozinha — Você tá me devendo uma, das grandes. Me ouviu?

 

— Como você é gentil, caramba! Estou tocado pela sensibilidade… — esbarrou propositalmente no ombro alheio correndo de volta até Changmin — Só vai precisar cuidar dele das sete até às dez! Não volto mais tarde que isso, tudo bem?

 

 

Johnny quis rir, mas não podia parecer indelicado. Encontros são imprevisíveis, mas Mark era sua própria mãe, determinando horários que claramente seriam ultrapassados. 

 

 

— Sei… — apenas deixou de lado, cuidar do garotinho não era um castigo tão ruim — Já decidiu o que vai vestir ou precisa de uma ajudinha da John's alta-costura?

 

— Você não entende de moda, fica quieto! — balançou a cabeça em negação — Não confio em quem usa cueca com copos de cerveja estampados.

 

— Isso foi só um deslize! — se defendeu, contraindo os ombros — Aliás, você olhou minha gaveta porquê quis.

 

Querer era um verbo forte. O Mark bêbado não tem capacidade de fazer boas escolhas, nunca.

 

— Tanto faz. — se desfez da memória inconveniente. John não guardava só cuecas e meias naquela gaveta, queria muito ser capaz de voltar no passado e impedir aquela situação desastrosa — Eu já tenho minha roupa separada, Jungwoo me ajudou com isso mais cedo.

 

 

O americano entreabriu a boca, chocado para rebater ou dizer algo. Kim nos últimos tempos estava tomando conta do posto que antes era só seu, nunca admitiria, mas tinha ciúmes dessa intimidade crescente entre o Lee e ele. 

 

 

— Tô começando a me arrepender de ter vindo, você não me valoriza. — choramingou, ouvindo o bebê rir — E ainda ensina esse menino a desdenhar de mim! Oh, céus!

 

— Sem dr hoje, estou de bom humor, ainda. — o canadense aproveitou o momento e a nuca exposta para acertar um tapa com toda a sua força.

 

— Eu te odeio, muito mesmo. — Suh revirou os olhos e cobriu o local em que o tapa foi dado.

 

 

Não conseguiria se zangar de verdade com o melhor amigo, seu sorriso besta e mole quase o fazia esquecer das trezentas e cinquenta ofensas direcionadas a si naquela tarde. Compartilhava da mesma felicidade por dois motivos: 1° - mesmo que indiretamente, foi ele quem apresentou os dois novos pombinhos e 2° - a felicidade de Mark era sua também. Não havia ninguém mais merecedor de amor e coisas boas do que aquele cara. 

 

 

— Olha, tem mamadeira no balcão, papinha e frutas na geladeira, horários aqui, — entregou um papel previamente preparado — e ele talvez suje a fralda pouco antes de eu chegar…

 

— Tá insinuando que eu vou ter… — a careta crescente em seu rosto não escondeu o desgosto que aquele final de frase trazia — Que limpar a bundinha da sua criança?

 

— Quebra esse galho para mim, por favor? — entregou Changmin, juntando as mãos.

 

— Tá! Vai logo, ele deve estar te esperando garanhão! — usou a mão livre para apressar o mais baixo, com um tapinha singelo na bunda.

 

— Você precisa urgentemente parar de usar essas expressões da década de noventa. 

 

 

Girou as chaves nos dedos, antes de se despedir com um beijinho na testa do pequeno e um aceno, mais que suficiente, para Johnny. Deu uma checada no cabelo pela câmera frontal do celular, se surpreendendo com a vizinha ranzinza no elevador, sorrindo. Desde que Jihyun sumiu do mapa, a senhora — que beirava os seus sessenta anos — nunca mais foi a mesma. Sempre julgando seus passos, seu lixo nos dias de coleta, suas roupas… Algo com o qual acabou se acostumando, então vê-la agindo daquele modo caloroso se tornou raridade.

 

 

— Parece mais corado hoje, meu filho. — ela comentou despretensiosamente, atraindo a atenção do moreno que tomou um breve susto — Changmin não está com você… Coisa de adulto, dessa vez?

 

 

Nunca trocou mais de cinco palavras com a mulher e fazê-lo sempre pareceu assustador, mas não naquele momento.

 

 

— É, podemos chamar assim. — riu sem graça — Estou fazendo algo por mim hoje, a senhora deve entender.

 

— Ah, e como entendo… — pareceu se recordar de boas lembranças — Ocasião especial? 

 

— Encontro. — foi objetivo, até porque estava literalmente encurralado. 

 

— Quem te viu, quem te vê. — riu pelo nariz — E ela é bonita? Também tem olhos puxados?

 

 

Em outras situações aquilo soaria um pouco rude, mas não deu importância, sabia que não haviam resquícios de indelicadeza, no mais ela estava curiosa. Era totalmente compreensível. 

 

 

— Ele. — a viu arquear as sobrancelhas, processando a correção — E sim, ele é lindo.

 

 

Sua calma não deixou transparecer o medo ecoando de dentro para fora. Claro, estava no Canadá, lugar em que o ministro se misturou à parada LGBT e a moeda de dez dólares foi modificada em comemoração, no ano anterior; onde as coisas eram bem mais tranquilas se comparadas com o país em que cresceu. O preconceito existia, em níveis menos ameaçadores, mas ainda residia por aí. Apesar de estar ciente de todo esse contexto, fatores como a idade podem sempre fazer com que seja mais difícil gerar certa aceitação, logo, não tinha a mínima ideia do quão chocante seria para a vizinha digerir o fato.

 

Mas para o bem da sua paz de espírito: ela abriu ainda mais o sorriso.

 

— Fico feliz que esteja com alguém que te deixa assim, todo serelepe. 

 

O elevador parou no térreo e Mark acompanhou a senhora até a saída do prédio, não dizendo mais nada, somente a abraçando instintivamente antes de seus caminhos se divergirem. Ouvir da boca dela algo como aquilo aumentou sua confiança, o fez sentir aceito e bem consigo mesmo naquela jornada esquisita de auto-conhecimento. Depois dos vinte e cinco essas coisas se tornam mais difíceis e inconsistentes, tudo é motivo para fortes emoções, sejam elas boas ou não.

Pegou seu carro na garagem, atento ao relógio, pontualidade era sempre importante em sua vida e não seria diferente,  justo naquele dia tão especial. Poucos minutos até estacionar em frente ao prédio de Taeyong e o avisar por mensagem, sem coragem para subir até o apartamento, mesmo que tivesse cartão verde para tal. E em um piscar de olhos, o outro Lee surgiu com os fios tingidos brilhando, nada sutil.

 

 

— Parado! — exclamou dramaticamente, interrompendo até mesmo os pensamentos de Mark — Cadê seus óculos? — cobriu a boca com as mãos, maravilhado com aquela vista.

 

— Alguém me disse para tentar usar lentes, e cá estou eu. — piscou diversas vezes exibindo o mais novo visual, mais limpo e surpreendentemente mais sexy. — Está aprovado? Estou intimidador o bastante, senhor? 

 

 

Taeyong não achou que o chefe fosse o tipo de pessoa que guarda palavras, momentos e sugestões para usá-las em momentos propícios, mas ele não podia negar sua satisfação ao ter seu — íntimo — desejo levado em consideração. Tremeu da cabeça aos pés ao ser confrontado tão descompromissadamente, as coisas felizmente escalaram bem rápido.

 

 

— Aprovado até que está… Mas você continua um bebê leão, me desculpe. — deu duas batidinhas na bochecha do moreno. — E senhor é o vovozinho! Eu sou super jovem e descolado. — sacudiu o cabelo úmido, modelando gratuitamente na calçada só para comprovar sua visão de si mesmo.

 

— E modesto, pelo que vejo!

 

 

Mark constatou. Desacostumado e perdido minimamente no gloss rosa do mais novo e em todo o resto (tinha que passar por cima do seu orgulho e admitir) — deu a volta lentamente na Mercedes, em um ato puro de cavalheirismo, abrindo a porta para a sua companhia. Taeyong sentiu-se basicamente como um príncipe. Não sabia dizer se era o charme de um cara mais maduro, ou se o problema estava nos caras bananas com os quais se envolveu, mas optou por acreditar na primeira hipótese, pelo bem do seu ego. Nunca havia visto um lugar tão lindo como o restaurante em que entraram, o piso de mármore, os acabamentos de cascalho e algumas tochas que — estranhamente — se misturavam bem ao resto. Tudo, exatamente tudo naquele lugar era magnífico, o bastante para que o Lee mais novo se sentisse pequeno, minúsculo, inadequado e fora da sua área de conforto, ao mesmo tempo.

 

 

— Parece que tudo aqui custa um rim… — comentou, rindo enquanto ainda encarava a classe que exalava de cada canto. 

 

— Acha que eu exagerei? — o canadense murchou, instintivamente colocando um biquinho nos lábios. 

 

— Um pouquinho, só um pouco. — sorriu, se sentindo culpado por não conseguir mascarar suas impressões — É que eu não estou acostumado com esse luxo, essa elegância… Mas se você escolheu, está tudo bem!

 

 

Mark pareceu pensar por um breve instante, levantando o olhar antes de pigarrear. Sinceramente, só havia escolhido algo para impressionar, justamente a mesma técnica usada anos mais cedo com sua ex noiva. Talvez, sem perceber, estivesse preso à certas manias e extravagâncias, que nem eram suas no final das contas. Um erro foi pensar que aquilo caberia à Taeyong como coube à Jihyun, mesmo as diferenças entre os dois sendo palpáveis e gritantes. Nunca se considerou bom em certos tipos de coisas, incluindo arquitetar encontros.

 

 

— Se você tiver alguma sugestão de para onde possamos ir, eu estou totalmente de acordo. — sussurrou, ainda assim não queria ser indelicado com os funcionários. — Toda essa gente engomada não combina com nenhum de nós, de verdade.

 

— Não me venha com essa! Você é sempre engomado também, com os óculos e a gravata alinhada. — um suspiro irônico surgiu ao visualizar a imagem mentalmente. — Ser chique, na minha opinião, é um estilo de vida.

 

— O mais falso e instável que existe… — fez uma careta. — Conhece algum lugar menos engomado, senhor "eu sou jovem e descolado"? 

 

— The Carbon Bar. — mexeu as sobrancelhas sugestivamente — Fica bem perto daqui, o que me diz?

 

— Não tenho nada a perder, certo? 

 

Errado.

 

Como citado lá em cima, o Mark sobre o efeito de bebida alcoólica não é um ser humano decente, apto para filtrar palavras e ações. E, bom, ele descobriu naquela noite que os Mojitos daquele pub eram os melhores que já teve o prazer de tomar em sua vida, mas descobriu também que não tinha habilidade e nem neurônios suficientes para acompanhar Taeyong bebendo. Era surreal o domínio que ele possuía, já estava no nono copo de Midori Sour e parecia pronto para encarar mais dez, sem problemas.

 

 

— Você 'tá lindo hoje, Yong. — soltou, deixando o copo de lado, não aguentava mais — Acho que não disse antes, eu tava tímido, eu acho.

 

— Yong? — revidou, agradecendo pela pouca iluminação, só assim suas bochechas coradas não chamariam atenção — Obrigada, Markie. Está lindo também. Bêbado, mas lindo.

 

 

E quando o silêncio ousou tomar conta mais uma vez, o canadense jogou o resto de dignidade para o alto e deitou sua cabeça no ombro do rosado, suspirando em seguida e deixando Taeyong apreensivo. Não imaginou que Mark o tocaria, no carro tentou algum contato e ele se mostrou tão tenso que o sentir acomodado próximo a uma área tão sensível quanto seu pescoço… era um pouco preocupante.

 

 

— É a primeira vez em meses que me sinto vivo e embriagado. Desde que Changmin foi deixado comigo, fiquei totalmente à disposição das necessidade dele. — riu, com certo delay — Me esqueci dessa sensação de sair, me divertir, gostar de alguém… — praticamente segredou a última parte — Se eu estiver sendo muito chato, por favor, cale a minha boca.

 

— Como assim deixado? — Taeyong esboçou confusão, mas não foi notado por Mark. Até sentiu-se lisonjeado pela parte que o tocava, mas sua curiosidade não poderia deixar aquela frase passar batido — O que quer dizer com isso?

 

— Hm. Min logicamente tem uma mãe, e ao contrário do que pensam ou deduzem, eu não sou divorciado. — o mais novo ficou estático, esperando ansiosamente pela continuidade — Não éramos nem casados quando ele nasceu, na verdade. Ela só resolveu ir embora, puff, sumir. Me deixou com um bebê de dois meses e um buraco infernal no peito.

 

 

Taeyong se mexeu, fazendo o homem levantar e então conseguiu olhar em seus olhos. Diferentemente do que pensou que iria encontrar, não havia ódio, só mágoa e tristeza. Lhe doeu ver que o coração de Mark era bom ao ponto de não se sentir irado diante do abandono, se fosse ele em seu lugar, com certeza perderia a cabeça, a razão e o respeito de uma só vez. Doeu mais ainda saber que o moreno guardou os ressentimentos e os transformou em amor, dando todo ele ao pequeno serzinho inocente.

 

 

— Eu… nem sei o que dizer. — ele não parecia esperar que algo fosse dito. 

 

— Eu não quero que tenha pena, fiz o meu papel de pai com orgulho! — bateu no peito, embora seus olhos estivessem cheios — E não sou melhor por isso, há milhares de mães que são abandonadas, até mesmo grávidas, e ninguém as parabeniza por criar seus filhos sozinhas.

 

 

O Lee mais novo deixou as lágrimas rolarem, não tinha forças para segurar mais. Lembrou-se da própria mãe e de todas as humilhações sofridas por ela, pelo simples fato de não ter um homem em seu encalço. Tantas ofensas sem sentido, e mesmo assim ela nunca se deixou abalar, sendo excluída de rodas de conversa ou de ciclos sociais, menosprezada e ainda assim conseguindo com louvor ser a mulher mais forte que já conheceu. Mark não sabia, mas se Taeyong estava cuidando de seu filho, era graças a senhora Lee e seu foco, determinação e principalmente gentileza. 

 

 

— Aquela moça das fotos. É ela, não é? — limpou os olhos, não gostava de borrar o delineador — Eu imaginei mas nunca toquei no assunto…

 

— Jihyun. Kang Jihyun, é o nome dela. — ressaltou, umedecendo os lábios — A mãe que o Changmin não teve, essa mesma.

 

 

Taeyong percebeu que o clima estava sendo poluído pelas más lembranças e sensações ruins, saindo totalmente da proposta de encontro inicial. Queria conhecer seu chefe, não começar uma sessão gratuita de terapia com ele no meio do bar. 

 

 

— Garanto que com o homem forte que ele tem como exemplo, essa falta não vai ser tão dolorida. — findou a conversa, se levantando e estendendo a mão em um claro convite — Que tal dançar comigo e esquecer essa droga toda? Até agora só comemos e enfiamos álcool goela abaixo, podemos fazer melhor.

 

 

Mark não estava tão presente, seria perigoso dançar sem controle nenhum dos pés, mas sabe? Que se dane! Compartilhar suas frustrações amorosas com alguém além de John, liberou um estágio de leveza inebriante. E tantas coisas eram diferentes e intrigantes na companhia de Taeyong, que já não se importava, queria apenas se entregar por umas horas, por uma noite ou por quanto tempo Taeyong quisesse o guiar. Na pista movimentada acharam um lugar grande o bastante para que: 1. Mark pudesse rodopiar em seu próprio eixo; 2. Taeyong conseguisse esbanjar mais um dos talentos que poucos sabiam que ele tinha. Aquele controle excepcional do corpo, a cintura que tinha vida própria e a flexibilidade que hora ou outra atingia o ponto mais alto, enquanto mostrava ao Canadense como inovar — já que o balé improvisado deste provavelmente acabaria em vômito ou com ele desmaiado no chão de led azul.

 

 

— Não existe nada que não possa fazer, sério? Tipo, você dança bem pra caralho! — o moreno rodeou-o pelos ombros magros e suados, recuperando sua capacidade de falar decentemente, sentindo a bebida assentar nas veias — Estou me sentindo um tiozão sem hobbies e sem talento atraído por um carinha que faz artes e não tem medo de errar. 

 

— Foi um pouco específico. Quer uma segunda rodada de terapia, senhor? — ajeitou a postura e encontrou o caminho até a cintura alheia, não parando de se mexer ao som de Shape of You que encaixou perfeitamente com o enredo onde estava.

 

— Uma coisa sobre mim: não sou o melhor com analogias. — assumiu, achando divertido e envolvente tê-lo tão grudado ao seu corpo quase virgem novamente, tamanha era sua empolgação — Mas sou bom em outras coisas, só para constar.

 

— Certo, discrição também não é uma delas… — sorriu o sorriso mais sincero da noite, mexido por dentro e completamente bagunçado por fora — Será que é bom de beijo, como é bom de conversa? 

 

— Estamos abertos a opiniões. Test-drives estão inclusos no pacote "Pai solteirão". — arqueou as sobrancelhas, estava morrendo para saber até onde iriam. Conseguia sentir o coração do rosado descompassado, não muito diferente do seu.

 

 

E Taeyong avançou como ninguém, nem mesmo sua ex-noiva irrelevante havia. Suas mãos firmes tinham posse de cada pedaço de Mark e usavam esse poder com maestria, sem pudor, como o mais velho esperava que fosse. O gloss brilhante? Foi lindamente se perdendo entre as bocas embriagadas, que definitivamente dançavam numa sincronia melhor que os corpos; tinham sede, tinham um belo encaixe, era inegável. O som externo tornou-se apenas um zumbido se comparado com todas as coisas não terminadas e explícitas saídas de um deles — impossível distinguir naquele momento em que pareciam um só. 

Mas como tudo na vida problemática e regrada de Mark, aquilo, aquela troca louca de sentimentos nunca sentidos e palavras não ditas, teve seu fim. Um fim mais calmo, menos doloroso e não eterno (ou esperava que não).

 

 

— Você é o idiota mais gostoso do universo e talvez eu esteja com um pouquinho de inveja... — o mais novo teve que fechar os olhos ao suspirar, apenas para suprimir os 30 planos de fuga obscenos que atravessaram sua mente naquele curto período de tempo — Sobre o test-drive, traga o gerente, o contrato, sei lá! Quero fechar negócio.

 

 

Mark não quis bancar o puritano, ou o tímido, não combinava consigo em nenhuma instância, mas instintivamente encolheu os ombros e gargalhou, sem coragem de se opor. Ah se pudesse ser realmente negociado, adoraria ser levado por um comprador como o babá. Não o deixou sair do abraço apertado, mesmo depois de ter findado o contato e a música já não ser mais a mesma, aliás, tinha a leve impressão de que se desmontaria inteiro caso o fizesse, mais uma vez seu lado adolescente despertando.

 

 

— Sem burocracia, é seu! — respondeu finalmente, logo após Taeyong deixar o assunto de lado, era mais confortável não estar no foco ao dizer coisas (em certo grau) comprometedoras. 

 

 

Talvez fosse colocar a culpa naqueles Mojitos viciantes do início da noite, ou naquela boca mais rosada que a própria Barbie em dia de festa. Mas não se arrependia, de modo algum. Reviver sua adolescência enterrada diante de um relacionamento que o tomou oportunidades, parecia um bom negócio antes de chegar nos trinta. 

 

 

— Markie, — o rosado chamou sua atenção, com uma expressão desanimada — a não ser que tenha trago algum brinquedinho sexual para se torturar… Acho que é o seu celular vibrando no seu bolso.

 

 

O canadense abriu e fechou a boca incontáveis vezes, por fim soltando um arzinho vergonhoso pelas narinas, quente que só, literalmente ardendo. Rapidamente se afastou, processando a informação que importava, checando o celular há muito esquecido e se desesperando em seguida.

 

29 chamadas perdidas (Doutor Johnny inSUHportável)

 

Com as mãos trêmulas e o semblante de quem presenciou o fim do mundo, tentou não deixar muito na cara seu nervosismo — que poderia soar suspeito —, retornando a chamada e acenando descontroladamente para Taeyong o convencendo de que estava tudo bem. E torcia com todo o seu coração (ou pelo menos a parte dele que não saiu pela boca) para que estivesse mesmo. Ou jamais se perdoaria por deixar o filho sozinho por puro capricho.

 

 

— O QUE ACONTECEU? 

 

 

Do outro lado da linha, John teve que afastar o smartphone da orelha. Se arrependeu por meros dois segundos por ter ligado e consequente virado a chavinha "neurótico" na cabeça do melhor amigo. Mas após olhar em volta e sentir câimbra de tanto balançar aquele protótipo de Mark com açúcar no sangue e um gogó dos bons, lembrou-se do porque teve que ligar pedindo por ajuda, assistência, MISERICÓRDIA. 

 

 

— Acho que você conseguiu tirar a água presa no meu alto-falante desde 2017, valeu. — fez esforço para não rir bem na cara daquele pai prestes a morrer de preocupação, achou inapropriado — E seu filho tá bem! Okay? Não morreu, não sumiu, nem decidiu enfiar um garfo na tomada e, me agradeça por essa última, está com a bunda tinindo de tão limpa. 

 

— Então… — sua pressão com certeza havia caído, mas tentou se manter de pé segurando a maçaneta de uma porta qualquer.

 

— Só que ele não para de chorar, me dar uns chutes aleatórios e apontar para uma parede. EU NÃO SEI O QUE ESSE CÓDIGO SIGNIFICA, EU TÔ FICANDO NEURÓTICO! — berrou a última parte, já que Changmin pareceu entender o descaso e resolveu aumentar o tom — Espero que tenha dado tempo de você transar, mas por favor, volta para casa agora.

 

— Johnny! 

 

— O que? Não deu? Vocês são lentos demais… — suspirou.

 

— Eu tô indo. — fingiu não ouvir o amigo e encerrou a chamada antes que ficasse pior.

 

 

Virou-se para onde havia deixado Taeyong à sua espera e não o encontrou, olhou próximo ao bar, aos banheiros, nada. Mas antes que pudessem dar um passo maior, sua mão foi gentilmente coberta por outra, quente e certeira.

 

 

— Desculpa, eu meio que ouvi o final da conversa, então fui juntar minhas coisas. — se enroscou no abraço de Mark como um gatinho — O Min tá bem, né?

 

— Tá, tá sim. — caminhou (agarradinho com o mais novo) para fora do estabelecimento, pois a conta já estava paga e precisava de um pouco de silêncio — Eu que fui um pouco impulsivo deixando logo o Johnny cuidando dele. 

 

— Disse o pai que chorou junto com o filho por uma dor de dente. — se recordou, fazendo o moreno sorrir amarelo — Ele está chorando de novo? 

 

— É, tem algo com paredes e chutes… — encarou seu celular solicitando um carro por aplicativo — Será que é o dentinho dele, de novo?

 

 

Taeyong achava fofo e natural o jeito com que ele e o canadense conseguiam ir de um assunto ao outro de forma simples. Nem pareciam mais aqueles dois homens se pegando no meio de uma boate casual, mas sim um casal (ou algo semelhante) voltando de uma saída para escapar da rotina, falando sobre o filho pequeno e outras amenidades como por exemplo o clima agradável. Podia estar sonhando demais, porém não queria estar em outro lugar senão com ele.

 

 

— Acho que o que ele tem se chama falta do papai. — sussurrou assim que o carro despontou d'outro lado da rua.

 

[...]

 

— John? 

 

 

Mark abriu a porta do seu apartamento, claramente ouvindo gritinhos roucos e inconstantes, mas não vendo o causador deles e nem o babá de mentirinha. Tirou os sapatos e caminhou até a cozinha, encontrando os dois, o bebê sentado sobre o balcão de mármore e Suh o segurando e implorando para cinco divindades diferentes um minuto de trégua.

 

 

— Pode parar de rezar, chegamos. — Taeyong brincou ao chegar por trás e cutucar seu ombro — Passa esse chorão para cá.

 

E assim ele fez, sem hesitar, sem perguntas. Entregou o pequeno, pronto para correr para bem longe dali. Mas o canadense o parou, com um sorrisinho de quem ainda precisava de algum favor custoso.

 

— Pode pegar meu carro para mim? — estreitou os olhos, esperando um não em letras garrafais estampar a testa vermelha do americano — Nesse endereço. — mostrou o lugar pelo celular.

 

— Vocês foram até o outro lado da cidade? Tá de sacanagem?! — encarou a tela, negando — Me paga o vinho mais caro daquela adega chique aqui perto, ou nada feito.

 

— Uma garrafa! — entregou as chaves do carro, sentindo o bolso doer ao lembrar quanto custava o tal vinho — Pode estacionar na vaga de sempre, eu aviso a portaria. Obrigado, mesmo.

 

 

Sorriram antes de John sair pela porta e Mark notar que, enquanto assinava sua falência, Changmin havia parado de fazer birra ou qualquer barulho, estava apenas no colo do babá, o encarando de um jeito engraçado. Se aproximou devagar, recebendo os bracinhos estendidos e pedindo por um aconchego. Mesmo não sendo o melhor momento (pois fedia a suor e álcool e cigarro, não nessa ordem), deu um abraço apertado e um afago gostoso no seu pedacinho.

 

 

— Eu disse, ele só queria o pai. — o rosado ao seu lado afirmou, sorrindo para os dois — Quer tomar um banho? Eu fico com ele.

 

— Sério? Nossa, seria incrível! — ia entregar o menino, mas pensou mais um pouco — Mas eu não quero te alugar.

 

— Você deposita na minha conta semanalmente e — roubou um selinho gelado dele — pode me recompensar depois, uh?

 

 

Mark cedeu. Tomou um banho na velocidade da luz, mas não mal tomado, e se dirigiu até a sala, onde Changmin ainda brincava com o babá, lutando contra o evidente sono. Encarou o relógio na parede e então percebeu, seria indelicado da sua parte deixar Taeyong voltar sozinho, estava tarde e não tinha a menor condição de dirigir até o apartamento dele.

 

 

— Yong, — chamou e o garoto olhou prontamente — você… Pode dormir aqui hoje. 

 

— Ãh? — foi pego de surpresa com a proposta/convite/preocupação/formalidade — Digo, não quero incomodar você! Eu posso, sabe, pedir um Uber. 

 

— Tudo bem, esse foi o cara que te contratou perguntando. — terminou de secar o cabelo e se ajoelhou em frente ao sofá — Por favor, dorme com a gente?

 

— E esse foi quem? — questionou, ansioso para mais uma coisa romântica que tinha certeza estar na ponta da língua de Mark.

 

— O Mark que não quer te deixar ir embora e quer dormir abraçado com você? — sorriu com os olhos, tal como Changmin, pareciam a mesma pessoa certas vezes.

 

Não pôde, não conseguiu e não quis negar aquele pedido manhosinho digno de gente boba. Foi tratado como um hóspede — com benefícios — e em uma única noite ganhou uma toalha, uma escova de dentes e uma blusa com cheirinho de Mark Lee que não pretendia devolver. Já com Changmin adormecido entre os braços do pai, sentou-se no sofá, incerto sobre aquele sleepover repentino. Mark colocou o pequeno em sua cama, como estava habituado e voltou para a sala, observando o outro Lee inquieto.

 

— Por que está deitado no meu sofá?

 

— O que? Ah, me desculpa! Eu pensei… achei que — se embaralhou nas palavras, saltando no mesmo instante — Eu devia ter perguntado…

 

— Calma. Eu não escondo grana debaixo do estofado, nem custou caro. Comprei no IKEA, sendo sincero. — riu do desespero alheio — Sabe, eu tenho uma cama espaçosa no meu quarto e contanto que não se importe de dormir com um inquilino que se mexe muito, tem lugar para você.

 

Taeyong congelou, olhou de soslaio a tal cama e o tal inquilino (chupando o dedinho) nela. Seu coração disparou como se houvesse sido pedido em casamento, se afogando só de pensar na possibilidade de dormir abraçando os dois homenzinhos mais importantes para si nos últimos tempos, não conseguia esconder sua imensa vontade de aceitar.

 

— Eu… posso mesmo? — mordeu os lábios, enrolando os dedos na barra da camisa surrada e cheirosa que vestia.

 

— A pergunta é se você quer. — sorriu, alternando o olhar entre ele e o bebê adormecido.

 

— É claro que eu quero.

 

E o resto da noite foi repleto de cafuné, abraços triplos quentinhos e três pessoas compartilhando todo o carinho do mundo entre elas. Sem ressentimentos ou culpa, era só amor em sua mais pura forma.



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