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História Para sempre minha Julieta - Jaehyun - NCT - Um


Escrita por: sushimeow

Notas do Autor


•Algumas coisas foram modificadas e não condizem com o real cenário utilizado ou tempo. Se passa na idade moderna, mas nem tudo pode estar coerente com o período.

• Haverá erros ortográficos, e volta e meia farei algumas alterações

•Capa feita por: @Isachim 💛

Espero que gostem!

Capítulo 1 - Um


Fanfic / Fanfiction Para sempre minha Julieta - Jaehyun - NCT - Um

I

Madeline, quem é aquela dama adorável?

Esta foi, a primeira frase que Jaehyun disse ao ver Julieta pela primeira vez. Naquele momento, nem transitava pela sua cabeça a ideia dela se tornar seu bem mais valioso, mas por outro lado, Madeline tinha distinguido naquele curto momento um possível futuro onde envolvia aquela moça sendo cobiçada pelo príncipe. Pois ela conhecia Jaehyun desde de um bebê, e tinha exata certeza que os olhos do deprimido herdeiro nunca brilharam tão majestosamente como naquele momento, ao observar a moça mais a frente. 

A ambição de Jaehyun por Julieta era em grande parte um mistério, porém, haviam alguns motivos explicáveis para toda aquela intensa atração. E tudo começava a partir de seu nascimento.


...


No reino de Corsaire, preza-se fielmente uma superstição criada pelo fundador daquelas terras, antes conhecida como um império. A lua crescente era considerada a lua da família real, servindo como sorte em diversas ocasiões. Quando Tanco chegou naquele lugar com sua tripulação, era o período de lua crescente, assim como coincidentemente muitas outras de suas conquistas aconteceram neste tempo da lua — até mesmo seu nascimento. Todos os filhos que tinham o sangue real deviam nascer durante aquela época, criando-se então uma pessoa com a sorte, virtude e coragem do antigo imperador. Entretanto, Jaehyun nasceu antecipadamente, bem na lua minguante, o que irritou o seu pai, que na época era o rei. Antes de Jaehyun havia Joana, a filha mais velha, que por ser uma menina, o pai não a queria no poder, esperando que o próximo filho fosse o homem quem ocuparia o trono. Seguia seriamente a superstição, e não aceitou quando percebeu que as dores antecipadas de sua esposa não podiam ser mais controladas.

Antes mesmo de vir ao mundo, Jaehyun já tinha o rótulo de herdeiro mal sucedido.

Para cuidar dele, não houve muitas preocupações em relação ao ensino de um futuro bom governador, e consequentemente, os outros aspectos foram aplicados de maneira desleixada. Ninguém dava muita importância para ele, e tornou-se um nobre esquecido. Madeline, a única que lhe dava atenção, era a governanta no segundo andar do castelo, onde reside boa parte dos nobres presentes na corte e principalmente os herdeiros do rei. Ela perdeu relativamente o seu cargo para cuidar do príncipe Jaehyun. Não queriam que a mulher deixasse de exercer seu trabalho que realizava tão bem, não dando assim a completa obrigação de cuidar do jovem príncipe. Ela era a única companhia dele, e certificava-se em ensiná-lo tudo pelo qual sua irmã mais velha tinha direito. Embora Madeline estivesse se esforçando, o pequeno príncipe continuava solitário, sem a atenção do pai, da mãe que vivia sempre calada sob as ordens do marido, ou de uma ama de verdade. 

Com sua irmã não podia nem chegar perto. Não era permitido que os dois tivessem qualquer relação íntima além do vínculo de irmãos de sangue. Ela era protegida demasiadamente, muito diferente dele. Pequena e de cabelos castanhos cor de mel, em um estado nebuloso e triste. Por onde andava havia sua ama ao lado, as duas damas de companhia, criados em volta e soldados do castelo em cada ponto do jardim por onde ela passava. Era de fato tratada como uma jóia rara, e ele, sendo também um certo tipo de jóia, contrastava em ser esquecido e não apreciado.

Certa vez, com seus quatro anos, Jaehyun pretendeu brincar com os filhos de barões que treinavam esgrima no castelo. Mas quando chegou ao salão de treino todos os meninos fingiram que ele não estava ali, e perante sua insistência, concordaram em sair do local até que o herdeiro deixasse o recinto. Tinham sido advertidos de antemão para não dar ouvidos a ele ou sequer contrariá-lo. Acreditavam que Jaehyun, com apenas quatro anos, não fosse alguém de confiança; com má índole, e carregasse azar. Eram ordens supremas do rei que o deixassem-o tecnicamente isolado, notando seu comportamento à medida que crescia, para poder avaliar se de fato a superstição estava correta. Porém, para Madeline, ou até para qualquer outro que observasse aquela situação ajuizadamente, não importava se houvesse uma superstição de fundo, sendo criado daquela forma não havia outra opção além de um futuro menino revoltado.

Jaehyun estava constantemente andando pelo palácio tentando fazer alguém lhe notar, enrolando-se nas enormes cortinas vermelhas esperando que as pessoas lhe tirassem dali. Com seu plano em fracasso, ia procurar outro modo, até chegar no jardim, e como em todas as tardes encontrar Joana junto a sua ama sentadas dentro de um gazebo feito de ferro, em formatos delicados e românticos, pintado em tinta branca. Ele esgueirava-se de mansinho entrando nos imensos véus que compunham o gazebo, esperando que sua irmã lhe notasse, e ela furtivamente, fugisse da tediosa leitura para ir até onde ele estava. Ficavam se cutucando abafando os risos enquanto faziam cócegas um no outro, até a mulher perceber ele ali e tirá-la aterrorizada com a desobediência de uma das ordens do rei. Aquele era o meio de comunicação que tinha com sua irmã, e vez ou outra voltava sorrateiro andando de mansinho para vê-la novamente.

Fora este momento ele passava seu dia solitário, subindo e descendo escadas, contando as armaduras e depois os lenços que continha no braço esquerdo delas, olhando várias vezes as pinturas nas diversas salas, pátios e aposentos do segundo andar do castelo. Quanto mais o tempo passava, mais ele ficava deprimido, sem entender o motivo de ninguém falar consigo. Até num certo dia, com seus seis anos, enquanto Madeline auxiliava seu camareiro, Jaehyun perguntou um pouco cabisbaixo e curioso:

— Madeline, o que tem de errado comigo?

— Do que está falando? — disse ela, agachando-se em sua frente, esparramando sua saia rodada pelos lados 

— Ninguém gosta de mim, o que eu fiz de errado?

— Não há nada de errado consigo vossa alteza, não preocupe vossa mente com pensamentos tolos.

Jaehyun cansado de ouvir a mesma frase que não soava como resposta, e sim como uma vaga frase sem solução para sua pergunta, não conseguiu aguentar a falta de solução, e começou a chorar gradativamente até se tornar em berros. Madeline o pegou no colo atônita, balançando-o de um lado a outro na tentativa de cessar aquele escândalo. Sabia que o rei não ouviria, mas temia qualquer que fosse o desespero vindo de Jaehyun, evitando que a maldita superstição não o afetasse.



Alguns dias depois daquela pergunta, Jaehyun numa certa tarde acompanhou os criados, que traziam do térreo bandejas cheias de deliciosos aperitivos para uma reunião específica com o duque, meio-irmão da rainha. A enorme mesa estava enfeitada com vasos ornamentais de delicadas pinturas, flores brancas e róseas por todo o canto, e os talheres e utensílios de ouro brilhando pelo polimento perfeito. Jaehyun sentou numa das cadeiras tentando alcançar um dos bolinhos que pertenciam a uma bandeja no centro, mas não conseguiu. Pediu ajuda mas ninguém, como sempre, lhe deu importância. Estava com muita vontade de comer pelo menos um, e sem sua devida atenção, em protesto teve uma genuína idéia.

Saiu da cadeira indo se pendurar na sacada que dava vista ao imenso labirinto do castelo, pretendendo fingir que ia se jogar caso ninguém lhe obedecesse. Quando os criados viram o pequeno príncipe ponderando, ficaram aterrorizados e correram para pegá-lo. Falavam como súplicas para tirá-lo dali ou senão uma imensa desgraça iria acontecer. Muitos olhos estavam direcionados a ele, como uma platéia que assiste atentamente o momento definitivo de uma peça.

Jaehyun tinha finalmente ganhado atenção.

A partir dali, ele sabia exatamente o que fazer, deixando de uma vez por todas o menininho educado que era para se tornar malcriado. Toda vez que caminhava para fora do palácio, voltava com os sapatos sujos pisando no chão de mármore do saguão sem se importar nem um pouco. Às vezes ia de propósito sujar seus calçados tão caros em esterco para andar esfregando por todas as colunas, e vir uma criada de balde e esponja limpar — que caso ele estivesse por perto, ainda chutava o balde. Cortava as flores do jardim que o jardineiro tinha acabado de podar, pisando pelas pequenas e mais delicadas para que morressem de uma vez. 

Quando um criado não lhe dava ouvidos, cutucava e passava na frente para ele tropeçar, e se continuasse a ignora-lo, Jaehyun usava de sua autoridade como príncipe e o ameaçava de tortura ou desemprego. Os pobres criados viviam em constante medo por não terem uma alternativa, e apavorados quando o avistavam. Os vasos caros e finos de decoração eram estilhaçados, e o que houvesse por perto quando tinha seus ataques de birra viravam milhões de pedaços.

Por sorte Madeline não sofria tanto com esta nova personalidade terrível que o príncipe adquirira. Era uma das únicas que se livrava, e também a única que conseguia controlar tecnicamente aqueles ataques no segundo andar, sem que chegasse nas acomodações do rei ou de qualquer ministro. A maneira mais eficiente que ela usava para acalmá-lo era levando-o à força até uma balança debaixo de um pé de nozes, onde sentava-se com ele e lia uma história até que pegasse no sono ou se acalma-se entretido no enredo. Madeline tinha mais de trinta e cinco anos, e para levar o príncipe até lá era um trabalho duro. Tinha que lidar com os pontapés, os pequenos braços fortes e as mordidas de dentes de leite. Outra coisa que o acalmava, ou pelo menos o desviava das malcriações, era brincar com a irmã no véu do gazebo. 



Em certa vez Jaehyun não tivera sido incluído para uma visita ao reino vizinho chamado Husfold, e foi tirar satisfações com o pai. Na época, tinha nove anos e a mãe estava grávida. Os dois monarcas achavam-se na sala do trono do último andar, ouvindo de um mensageiro uma notícia sobre camponeses reunindo-se secretamente para uma rebelião contra os preços dos impostos. Jaehyun sem a mínima educação colocou-se na frente do imponente trono que o pai de aparência severa estava sentado, bradando autoritário como se fosse um carrasco tirano esculachando seus seguidores incompetentes. Nem a mãe nem o mensageiro entendiam tão repentina ação, observando o rei levantar lentamente ao perceber a tamanha afronta e coragem daquele "patife".

De súbito, as costas da mão esquerda do rei, cheia de anéis, desferiu uma bofetada na bochecha do filho, tão forte que o fez cair ecoando aquele som por todo o salão. 

Aquele tapa, o seu primeiro na vida, foi como um levante. De uma forma como se a vida inteira de Jaehyun passasse brevemente naquele momento, e sentisse um vazio enorme dentro de si; o vazio que tentou preencher sendo desobediente.

Depois daquele, o rei continuou lhe dando mais tapas enquanto ladrava a sua revolta de ter tido um filho que não prestasse serviço em nada naquela corte, sem deixar de mencionar a incompetência da esposa em ter um filho indecente como aquele. Jaehyun sentiu muita vergonha depois do choque e chorou levando mais tapas ainda.

Após este incidente, o rei achou melhor reeducá-lo ele mesmo, para que aquela situação não vinhesse piorar. Sendo assim, nas poucas horas vagas, começou a levá-lo em bosquetes para caçar, ensinando com seu temperamento bruto e impaciente a maneira correta de usar a arma, que a seu modo parecia mais arriscado e sob uma pressão absurda. Jaehyun nunca tivera experimentado na vida tais provações, e passar por aquilo era um verdadeiro teste de resistência. O pai fazia-o participar de perigosos confrontos com espadas, dando o gostinho do que era arregaçar as mangas de verdade, tratando-o como um súdito, que se sonhasse em molhar a face com lágrimas, estaria a provar de situação pior. A autoridade severa do pai fez Jaehyun perder a empolgação em chamar atenção, transformando-o em uma pessoa com sentimentos reprimidos e angustiosos.Tinha se tornado mais calado, de modo que quando estourava as coisas eram piores. Agora, além de ignorar ou temer, os criados corriam de seu encontro receando que estivesse irritado. 

Jaehyun arrependeu-se amargamente por contrariar o pai, e infelizmente, naqueles anos, passou por situações que nunca sairiam de sua memória… assombrando-lhe pelo resto da vida.



Quando o filho mais novo da família tinha completado seus cinco anos, a rainha foi encontrada morta no leito de seus aposentos. O clima de luto tornou-se naquele tempo uma tenebrosa áurea que rodeou o castelo. Todos que residiam no palácio — até mesmo a criadagem — passaram a usar preto durante um ano. Joana adquiriu as cores góticas permanentemente ao seu vestuário em homenagem à mãe, e Jaehyun, parecia tão absorto e pálido durante esses dias, como uma densa neblina que não se vê do outro lado, do mesmo modo que não se sabia qual seria sua reação para nada em nenhum momento. Era um perigoso desconhecido.

No jantar de um certo dia, quando Jaehyun decidiu comparecer à mesa — coisa que o pai não exigia — viu Joana sentada no lugar que era de sua mãe, dando sinal de desrespeito, visto que não tinha completado nem seis meses da morte. Ao longo da refeição, o rei comentou na mesa sobre o lugar de Joana na corte, que seria ela quem ocuparia o trono. Jaehyun ficou confuso e irritado, comentando sobre a valiosa doutrina que Tanco impôs sob aquele reino, e uma das regras fundamentais era que os homens tinham total privilégio à coroa. Achou ele, que mesmo tendo a irmã mais velha, seria o destinado ao trono, visto que ninguém, nem mesmo Madeline, comentava consigo abertamente sobre a superstição da lua e suas consequências.

— Por Joana no poder? — comentou Jaehyun irritado — Por um acaso está querendo violar as ordens de nosso imperador Tanco?

— Esta decisão já foi abertamente comentada com os ministros irmão, não contrarie nosso pai. — Joana respondeu sem tirar os olhos de seu prato.

— Isto é um absurdo! Não posso aceitar que ela fique com o que está legalmente destinado a mim.

— E por que eu faria uma tolice dessa? — o rei disse com sua voz forte, languidamente.

— Só pode ser uma brincadeira de muito mal gosto — ele riu, tentando se acalmar. — Pai, não pode colocar uma mulher no comando deste estado, pense na horrenda decisão que estará tomando.

Joana enfureceu-se com o comentário, mas não querendo decair a postura, apenas o deixou falando sozinho como o pai praticamente fez desde o momento em que ele abriu a boca. Depois disso, a voz do príncipe se alterou e a raiva de tudo que passou pelo pai começou a aparecer nos seus insultos, até que Joana não aguentou e mandou que Jaehyun se calasse. Ele a respondeu a altura e avançou em sua direção. Confiante de que o irmão não ousaria tocar um dedo sem si, Joana não se moveu e ouviu de face dura e queixo erguido o que o ele dizia em tom amedrontador. Não se tratava de palavras destinadas especialmente a ela, mal fazia sentido serem direcionadas a irmã, mas sim para toda a dor acumulada de sua vida que queria de algum jeito jogar para fora. Quando ele percebeu que ela não mostrava nenhum medo sobre si, ele chegou ao seu máximo, fazendo uma coisa que mudaria gravemente seus destinos. 

Jaehyun pegou a primeira coisa que viu na mesa e atiçou no rosto da irmã. Uma taça de vidro foi estilhaçada no rosto de Joana. O arrependimento veio de imediato. Sua vítima não devia ser ela. Se alguém tivesse que sofrer, que fosse seu pai. Ficou perplexo vendo sangue pingar no vestido verde musgo, enquanto as damas de companhia se desesperaravam com a dor e agonia da princesa. 

De repente, muito desespero e correria tomaram conta daquele enorme salão. O rei, que já estava debilitado com sua idade avançada, moveu-se com dificuldades até Jaehyun, com as mãos prontas para enforcá-lo. O rei não gostava de Joana, mas ela era a única que o obedecia da maneira que pretendia, e a única que não o traíra ou dava indícios. Juntou seu ódio que tinha pelo filho e pôs as mãos na garganta dele com muita força. Jaehyun não pareceu resistir, somente permitiu levar-se como punição — ou um bom motivo para deixar finalmente aquela vida imprestável.

O conselheiro que também estava na mesa foi quem separou o rei e o afastou com a ajuda de outros criados. Quando Joana saiu chorando em desespero com todos que lhe ajudavam, e o monarca foi retirado com sua voz de raiva ecoando bem longe dali, Jaehyun permaneceu deitado no chão, olhando o alto teto com uma pintura enorme de um céu repleto de criaturas divinas. 

"Do que valia tudo aquilo?" "Qual sentido de estar sendo levado como um estorvo pro resto da vida?" Afinal, será que minha vida mesmo com quatorze anos ainda pode ser mudada?"

Jaehyun pensava seriamente em se levantar, desembainhar a primeira espada que visse na frente e cortar sem hesito sua garganta. 

Por sua pura sorte, Madeline que sempre esteve ao seu lado, tirou-lhe imediatamente dali, e de qualquer avanço naqueles temíveis pensamentos catastróficos.

Com o passar daquele episódio, Jaehyun não mais falava, nem mesmo saia de seu quarto, ou sequer comia. Madeline fazia todos os esforços para tentar tirá-lo daquela espécie de coma de melancolia. Desde que esteve com o pai a situação já era ruim, agora, tinha piorado muito mais. Morria de medo que o príncipe caísse numa profunda depressão.

Sobre Joana, Jaehyun tentou pedir desculpas, ordenando que levassem a ela um convite sobre um encontro breve somente para esclarecer as desculpas. Mas em resposta, ela mandou ele ir para o inferno. Quando foi um dia até os véus do gazebo, Joana não se virava e nem mesmo dava indício. Acabou por fim que uma das damas de companhia o viu e mandou os guardas tirá-lo dali, e sem relutância ele saiu.

Tinha perdido de uma vez a única ligação com a irmã; a única comunicação que os faziam de certa forma amigos.

Meses se passaram, e Madeline com sua esperança prestes a morrer, teve uma ideia como a luz no fim do túnel. Sentou na cama do príncipe, e pegando em sua mão pediu com toda calma que ele a acompanhasse numa leitura debaixo do pé de nozes. Jaehyun, que parecia um doente de olhar vago, aceitou depois de muita relutância. Madeline o vestiu com os trajes adequados e segurando na mão dele desceram até o jardim. Na luz do sol, ele tinha a pele tão pálida que parecia um pouco cinzenta, com olheiras fundas e cabelos castanhos desgrenhados. Esperava por ele aperitivos, comidas saudáveis e um livro de gênero diferente. 

Quando Jaehyun era mais novo, Madeline contava histórias sobre guerreiros e suas odisseias triunfantes, cheias de mistérios e perigos emocionantes. Porém, daquela vez o conto era sobre um conde que se apaixonou perdidamente pela pintura de uma cortesã vivida a dois séculos atrás do seu. No início ele não parecia muito interessado, mas depois começou a se atrair silenciosamente, de modo que quando Madeline quis parar para tomar um chá ele exigiu a continuação.

— Seu chá pode esperar, me fale o que aconteceu depois que o levaram para as masmorras.

— Oras, quer dizer que está prestando atenção? Está bem, beba um pouco de chá comigo e lhe contarei se o soltaram ou não.

Madeline pôs chá em duas xícaras que estavam na mesa ao lado e deu um a ele. Jaehyun ingeriu logo o primeiro gole, e esperou impaciente ela terminar o seu para poderem continuar.

A história era simples e não muito longa, com um final bem óbvio e sem rodeios. Tinha prendido o príncipe na verdade por dois motivos principais: a moça da pintura, e a insistência descontrolada do protagonista. Ele tinha um sincero amor pelo pouco que conhecia a respeito de uma pessoa morta à anos, e prendia-se fielmente a sua opinião de não ser um louco que ama o que não mais existe. Sua motivação existencial era além de defender uma opinião, mas também amar singelamente o que não podia tocar, somente sentir.

Parecia naquele momento um aspecto genuinamente novo e diferente na cabeça do príncipe.

No dia seguinte Madeline não precisou fazer muito esforço para levá-lo. Depois, ele mesmo já estava pronto antes que o chamassem. Aos poucos começou a se encantar pelas histórias de cavaleiros salvando donzelas, e todas que envolviam uma dama de coração puro e verdadeiro, enxergando ali, um tipo de novo horizonte que nascia devagarinho em seu coração. Madeline sentiu-se imensamente feliz com o progresso. Ele não mais ficava na cama, alimentava-se muito bem e voltava a praticar seus esportes favoritos. Tudo isso por causa das histórias lidas debaixo do pé de nozes.



O tempo tinha se passado. Quando Jaehyun estava com dezenove anos, no segundo mês do outono, o rei estave gravemente enfermo, com delírios e febres altíssimas. Não resistiu até o fim do mês e acabou falecendo. Bem em seguida, Joana com seus vinte quatro anos, tomou posse do trono e diferente de como foi com sua mãe, só esperou um mês para cessar o clima de luto. Não queria passar mais um minuto sequer naquele castelo infestado de antigos súditos e vassalos "fiéis" ao seu pai. Começou imediatamente no primeiro mês da primavera uma limpa no castelo e na corte. 

Houve audiência para vários postos como empregados, além da seleção de antemão que Joana fizera para as pessoas que estariam sob algum tipo de poder. Madeline permaneceu sem precisar de uma análise, e esteve em pesado compromisso quando a audiência das damas palacianas começou. 

No primeiro dia havia muitas carruagens na parte de dentro e do lado de fora das muralhas. As candidatas seriam mulheres que tinham alguma ligação com a nobreza, ou sendo filhas de senhores ricos com relativa fortuna. Pela manhã, Jaehyun devidamente vestido procurou Madeline por toda parte nos imensos salões do segundo andar, que naquele dia estava com bastante movimento. Quando a encontrou, mesmo percebendo o quão ocupada ela estava, não hesitou em pôr um livro nas mãos dela.

— A espero no mesmo lugar. — disse com seu tom de sempre: neutro, com um toque de arrogância.

— Alteza, estou muito ocupada no momento, podemos adiar para outr-

— Não foi um pedido. — e saiu.

Madeline não tinha escolha, e mesmo que tivesse não iria conseguir resistir. Pediu que uma aprendiz sua tomasse conta, e foi até onde ele estava, sentado com a cabeça ponderando um pouco pro lado, mostrando sua falta de paciência. Ajeitou-se imediatamente quando ela chegou, começando então a sessão de leitura.

No mesmo momento, as candidatas com seus vestidos de saias rodadas e coloridas subiam os degraus do imenso castelo, entusiasmadas demais com a oportunidade. Havia tantas delas que algumas tiveram que entrar pelas escadas laterais. Quando Jaehyun viu algumas a poucos metros de distância, perdeu seu foco como ouvinte e começou a reparar nas jovens e bonitas mulheres, que pareciam flores diversas do mesmo jardim. A brisa daquela manhã passou sacudindo os vestidos e trazendo até Jaehyun o cheiro adocicado delas. No castelo não havia muitas mulheres jovens ou tão bonitas a ponto de lhe interessar. Na sua vida nunca houve de fato um enorme interesse por nenhuma mulher em específico, e vendo agora, tantas moças joviais reunidas no mesmo lugar, despertou em si o que tinha adormecido por conta da vida turbulenta: atração física.

Correu o olhar por várias, que hora ou outra enquanto subiam as escadas viravam-se para admirar as fontes em meio ao jardim de Gardênias bem à frente. Com seu afinco, acabou observando alguém em meio delas que se destacou como uma rosa vermelha em meio às brancas. 

Sob a luz da manhã, da brisa aconchegante e dos risos femininos de alegria, Jaehyun viu pela primeira vez Julieta, trajando um vestido cor de esmeralda que realçava seus cabelos castanhos beirando ao loiro, que num penteado suave e simples, davam uma forma genuína ao seu exótico rosto. 

Ela era sem dúvidas a mais bela entre as tantas mulheres que lotavam o saguão principal. Era com certeza, somente à primeira vista, a donzela de coração puro e verdadeiro que rondava seus pensamentos.



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