Hoje é quinta feira, noite da pizza na casa dos Granger. Rony está aqui, porque era namorado de Lilá e apaixonado por pizza. Claro que não era porque nós nunca conseguíamos esconder comida dele, mesmo quando papai deixava claro que ele não era convidado. Não, não era sério, papai simplesmente ama Rony (provavelmente mais do que ama o resto de nós). Mas eu não tiro a razão dele, é inevitável gostar do Weasley.
- Alguém vai querer o último pedaço de quatro queijos?.- eu interrompo a discussão de Rony e Oliver sobre combinações de sabores aleatórios possíveis na pizza. Sim, nossa família sempre tem conversas normais e enriquecedoras desse tipo.
- Pizza de cachorro quente é uma opção totalmente aceitável.- Rony estava meio deitado no sofá, com a cabeça encostada no ombro de Lilá e as pernas pra fora. O espaço é bem pequeno, mas acho que preferem a presença um do outro do que o conforto. Eles são fofos juntos.- E fala sério, deve ser uma delícia.
- Essa combinação é nojenta. É praticamente um combo ataque cardíaco.- Oliver faz cara de nojo enquanto come um pedaço da sua pizza vegetariana no chão da sala. Ele é meu irmão mais novo, mas seu cardápio não condiz com alguém de onze anos. Ao invés de salgadinhos, bolacha recheada e refrigerante, ele prefere legumes, verduras e suco verde. Em compensação, eu como tudo o que ele não gosta (e em dobro).- Mas eu acho que brócolis com escarola é uma boa.
Foi a vez de Rony fazer cara de nojo. Ele até come legumes, mas na frequência normal de um adolescente (quando sua mãe o obriga), então não entende a obsessão de Oliver por comida saudável. Pra falar a verdade, acho que ninguém entende, mas todos nós o apoiamos na difícil tarefa de ser o pré-adolescente mais saudável da Geórgia.
- Parabéns pelo garoto supersaudável, Sr.Weasley.- O tom era de deboche, mas Rony estava só brincando. Ele nunca zoava Oliver de verdade, acho que até admirava meu irmão.
- Acredite, eu não tive nada a ver com isso.- Meu pai deu uma risada breve, não como as gargalhadas que ele dava normalmente. Acho que tinha se lembrado de que os hábitos saudáveis de Olly eram coisa da minha mãe, e lembranças da mamãe sempre deixavam meu pai meio quieto e pensativo.- E garoto, não me chame de Sr.Weasley, parece nome de velho.
- Pai, a quem o senhor quer enganar? Seus dias de garotão já passaram.- Ninguém conseguiu segurar a risada (nem meu pai). Lilá sempre implica com a idade do papai, mesmo que ele não seja realmente velho. Acho que ela só faz isso porque ele finge que se importa.
- Ok mocinha, já está tarde pra você estar acordada.- ele jogou o pano por cima do ombro e colocou as mãos na cintura, numa pose bem engraçada.- Aliás, pra todos vocês, vão pra cama. Menos você, Rony, você tem uma casa, mesmo que às vezes não se lembre disso.- Não era mentira, ele passava mais tempo na nossa casa do que na dele.
- Você vai nos mandar pra cama mais cedo porque não aceita que está velho?.- Olly se virou pra encarar nosso pai com indignação, mas seus olhos já estavam se fechando, deixando claro que ele estava com sono.- Ainda são dez e quarenta.
- Hora do bebê ir dormir.- Ele odeia que o chamem de bebê, mas não pode fazer nada além de me olhar com raiva e fazer bico.-O neném ficou bravo, é melhor colocarmos ele pra dormir, o que acha?.- Eu coloco Lilá na conversa pra irritar Olly, mas ela já está se levantando.
- Boa sorte com ele, é todo seu.- Ela dá risada e pega a mão do namorado pra se despedirem lá fora. Rony dá tchau pra todos nós (até pra Oliver, mas ele ignora) e fecha a porta de entrada.
- Não demorem mais que cinco minutos.- Eu ouço meu pai gritar, enquanto já estou subindo as escadas pra dormir. É, eu amo as quintas de pizza, estar com minha família - e Rony - sempre me deixa mais feliz. E é nessas horas que eu fico triste quase que imediatamente, pois me lembro que a viajem de Lilá é daqui a quatro dias.
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Na manhã seguinte, a torradeira não funciona, então eu tenho que torrar meu pão na frigideira. O que, segundo Olly, eu não deveria estar fazendo porque a frigideira serve apenas pra fritar. Dã. É claro que eu ignoro e coloco mais um pão de propósito.
- Deboche à vontade, use óleo o quanto quiser.- Oliver pega seu leite de soja e se senta perto de mim, acho que pra analisar melhor meu crime à saúde.- No seu enterro, vou dizer que eu avisei.- Sua expressão crítica me faz pensar se ele só está brincando ou se há algum fundo de verdade. Não sei se quero descobrir.
- Você vai estar se derretendo em lágrimas antes de pensar em algo malvado pra dizer sobre mim.- Parte de mim quer acreditar que ele vai derramar ao menos um lágrima quando eu morrer, mas acho que não é muito provável.
- Pode se enganar o quanto quiser, Minnie.- A expressão de deboche enquanto bebe o leite me faz questionar que tipo de criança nós estamos criando nessa casa. Eu não tenho muito tempo pra pensar, pois papai e Lilá descem para o café e entram em outros assuntos.
- Acho que vou fazer lasanha para o almoço. Rony gosta de brócolis?.- Olly sempre almoça na escola, e as sextas eu almoço no Subway, então ficam só papai e Lilá, e eles sempre convidam Rony. Como eu disse, não dá pra esconder comida dele nem se quiséssemos, então é melhor convidar.
- Ele não vem hoje, mas eu gosto.- Lilá está concentrada com o celular, provavelmente resolvendo algum assunto da viajem, pois está um pouco tensa. Só então me lembro que geralmente, ela é a primeira a acordar e tomar café, então estranho que eu e Olly estávamos aqui antes dela. - Pode ser de brócolis com queijo?.- Meu pai acena com a cabeça em concordância, enquanto procura alguma coisa na geladeira.
- Guardem um pouco pra mim na geladeira, ok?.- Lasanha de queijo com brócolis é minha favorita, mas não é o bastante pra me fazer faltar às sextas de Subway, então me contento em esquentar depois no microondas.- 'Tô indo. Olly, não esquece que é seu dia de lavar a louça, na última sexta eu cheguei e estava tudo sujo.
- Eu não me lembro, então acho que isso não aconteceu.- Ele continua bebendo leite com cara de "Não tenho nada a ver com isso. Cretino.- Pai, se está procurando o iogurte de morango, eu comi.- Eu não continuo na cozinha pra ver uma nova discussão se desenrolar.
Eu pego minha mochila, calço as botas e vou pra casa de Rony. Desde que ele comprou o carro, nunca se importou de levar Lilá e eu, porque nosso pai sai de casa muito tarde e minha irmã não gosta muito de dirigir. Agora que ela se formou, eu vou com ele pra poupar gasolina, e porque eu tenho preguiça de dirigir. Eu espero por uns cinco minutos, até Rony aparecer com cara de sono.
- Oi. Você tá acabado.- Coloco a mochila no banco de trás e me sento no banco do passageiro. Dou uma olhada rápida no espelho, só pra garantir que não estou no mesmo estado que ele.- Dormiu mal?.
- É bom ver você também.- Ele tenta ser engraçado, mas acho que não está no clima. Eu estranho, pois Rony nunca está de mal humor.- E não, não dormi bem.- Ele liga o rádio e nós não conversamos no caminho. Duplamente estranho. Quando ele estaciona na escola, me sinto na obrigação de tentar arrumá-lo.
- Espera aí.- Eu tento ajeitar seu cabelo e roupas enquanto ele reclama.- Você não vai entrar assim, vão te dar dinheiro achando que é um sem-teto.- Eu estou exagerando, mas ele está péssimo, apesar de ainda estar meio bonitinho.
- E por quê você quer impedir as pessoas de me dar dinheiro?.- Ele tenta afastar minhas mãos pra conseguir andar até a escola.- Me odeia tanto assim, Granger?.
- Estou tentando te deixar apresentável, mas se insiste tanto, pode ir desse jeito.- Rony reclamou, mas ficou quieto e me deixou arrumá-lo.- Mas me diz aí, seu mau humor é pra combinar com a Lilá ou é só coincidência?.- Eu me arrependi de ter perguntado, pois ele ficou tenso e desviou os olhos de mim.
- Ela não te contou, então?.- Seu tom era um pouco amargo, bem diferente do tom divertido que costumava usar. Eu entendia o que estava acontecendo entre ele e minha irmã, mas esperava que fosse só tensão pela mudança dela.- Nós terminamos.
Eu esperei que fosse pegadinha. Talvez Lilá saísse de trás de algum carro e gritasse "Aha, peguei você", mas é claro que isso não aconteceu. Aí eu fiquei brava por ela, porque é claro que eu sabia que era ela quem tinha terminado. E eu fiquei com raiva, porque eles eram o casal perfeito, faziam tanto sentido juntos que era bizarro imaginar um sem o outro.
Eu não sabia o que dizer, então preferi ficar quieta. Eu via o quanto Rony amava muito minha irmã, então sabia que ele estava sofrendo. Sem outra alternativa, eu deixo ele ir pra aula e fico um pouco mais no estacionamento, pensando sozinha como uma idiota.
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Depois da aula, eu cancelo a sexta de Subway e vou direto pra casa. Luna e Giny vão entender. Quando chego em casa, papai e Lilá já almoçaram. É claro que eles se lembram de guardar lasanha pra mim na geladeira. Não está fria, então eu não preciso colocar no microondas.
Quando acabo de comer, me seguro pra não subir as escadas correndo, não quero denunciar que já estou aqui. A porta do quarto de Lilá está aberta, e ela está encaixotando as coisas pra viajem.
- Oi.- Ela se vira pra mim com calma, sem se assustar. Caramba, ela nunca se assusta. Sua expressão está calma, mas ela não tem o costumeiro sorriso no rosto.- Por quê fez aquilo?.- Eu não consigo segurar as palavras. Ela demora alguns segundos pra entender do que eu estou falando. Quando entende, dá um sorriso amarelo e se senta na cama.
- Vem, senta aqui.- Ela bate no colchão, sinalizando pra eu me sentar também. Sua expressão é calma, como uma mãe se vai explicar uma coisa complicada pra uma criança pequena.- Rony e eu... como eu digo isso? Não ia dar certo. Não com um em cada canto do mundo.- Eu quero dizer pra ela que está errada, daria certo sim, mas tenho a impressão de que ela sempre sabe mais.
- Mas você nem deu uma chance, como pode ter certeza?.- Eu pareço uma criança birrenta, mas não sei o que dizer. Ela se deita com as pernas no travesseiro e eu a imito.
- Eu só... sei.- Eu sei que ela não vai me explicar. Ainda quero acreditar que ela vai voltar atrás, mas não é o tipo de coisa que Lilá faria. Seus olhos começam a lacrimejar, mas não sei se ela vai mesmo chorar.- Eu sei o que é melhor pra nós,acredite, Minnie.
- Você ao menos pensou em Rony?.- É claro que ela fez isso. Provavelmente pensou em todos que ia afetar com o término, deve ter demorado pra tomar a decisão.
- Ele vai superar. Nós dois vamos.- Seus olhos marejados não me deixam muito certa disso.
- Por quê tá fazendo isso com ele? Rony te ama tanto.- Eu não tenho mais argumentos, só quero continuar falando. Não quero machucá-la, mas acho que acabei fazendo isso.
- Eu sei. Também o amo.- As lágrimas descem pelos cantos do rosto dela, manchando sua maquiagem. Ela tenta desajeitadamete secar os olhos, mas só consegue espalhar fios cacheados pelo esto. Ela me abraça e eu deixo que me faça de travesseiro. Lilá nunca foi de chorar, então não importa se minha blusa branca vai ficar manchada de rímel, isso é mais importante do que roupas, porque eu acho que o coração da minha irmã está quebrado.
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