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História Paraíso Sombrio - A canção que liberta


Escrita por: biasensei

Notas do Autor


Yo, minna! Tudo bem com vocês?

Olha, primeiro, eu preciso dizer que o mais divertido dos comentários no capítulo passado foi ver o galerê-san todo arrependido aqui, pedindo desculpas por ter xingado o Naruto e a Yugito.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Eu andei conversando com o Narutim, e ele ainda tá meio bolado, hein? Mas, como o loiro ama vocês, ele disse que perdoava todo mundo. Sintam-se felizes. xD

O capítulo de hoje foi muito difícil de ser escrito. Está enorme, e a leitura pode ficar enfadonha, porém, ele é extremamente importante e necessário. É a partir de hoje que todas as pontas da história começam a ser reatadas, que tudo começa a ser esclarecido.
PS está entrando, oficialmente, na reta final.

Este é o capítulo em que todos ficarão sabendo qual o mistério que une os destinos de Naruto e Hinata. Dessa forma, grande parte das tretas desenvolvidas até aqui finalmente ganharão sentido. Espero, de coração, que todos gostem.

A trilha sonora de hoje é uma música da banda Of Monsters And Men, e se chama Yellow Light. O link estará nas notas finais, como sempre.

Boa leitura, e nos vemos por lá!

Capítulo 38 - A canção que liberta


 

 

 

Luz.

A primeira sensação de Hinata ao despertar daquele sonho estranho era a de estar sendo inundada pela luz, que parecia vir de todos os lados. Uma luz que era acolhedora, como a de um dia que nasce após uma noite densa e escura. Sim, ela estava acordando. Tudo não passara de um pesadelo, afinal.

Porém, ela também sentia como se estivesse despertando de um sonho para outro, sendo que agora, parecia estar em cima de uma nuvem. Uma confortável nuvem branca, que a envolvia em consonância com a luz da manhã. Os lábios da morena se curvaram em um pequeno sorriso. Ela não queria ter que abrir os olhos, daquele jeito, tudo estava bem. Hinata estava sonhando com uma manhã cheia de luz, que a acolhia enquanto ela se emaranhava na nuvem na qual estava deitada. Aquilo era bom, reconfortador. Muito diferente do pesadelo que estava tendo, alguns instantes atrás. Ela escolheria o sonho – era muito melhor sonhar do que acordar para a dura realidade que ela sabia estar a espreita.

Mas ela teria que abrir os olhos, um dia.

Lentamente, as pálpebras foram se erguendo, revelando que seu sonho estava bem próximo da realidade. Havia muita luz naquele quarto, uma luz que vinha das grandes janelas, cujas laterais eram ladeadas por cortinas brancas, que se agitavam com o vento. A luz pálida daquela manhã atravessava o quarto e reverberava nas paredes brancas, dando ao local uma característica etérea; Hinata mal podia dizer que já não estava mais sonhando. Foi quando ela se deu conta de que a nuvem branca na qual estava deitada era, na verdade, a cama grande e confortável que estava sob seu corpo. Os lençóis eram macios, e enroscavam-se em sua pele como uma carícia. Era difícil se desfazer do torpor do sono quando estava deitada em tão confortável situação. Que preguiça de acordar, de levantar, de lembrar...

-Bom dia. – a voz fininha soou pelo quarto.

-AAHHH! – Hinata gritou, erguendo-se repentinamente e dando de cara com a moça que a encarava com uma expressão esperançosa e ao mesmo tempo, sapeca.

-Desculpe! Não quis assustar você. – a menina sorriu, gentil.

-Q-QUEM É VOCÊ?! – Hinata gaguejou, assustada. Já não ligava mais para a luz da manhã, para a cama confortável, para o sono. Perplexa, ela repentinamente se deu conta de que não se lembrava de ter sido levada até aquele quarto, ou de ter sido colocada naquela cama. E, obviamente, ela também não se lembrava de já ter visto antes o rosto que agora estava diante de si, embora ele lhe fosse estranhamente familiar.

Os cabelos negros, lisos e compridos, os olhos brilhantes como pérolas, a pele pálida. Hinata piscou, boquiaberta e paralisada, em choque. Parecia estar olhando para um espelho que refletia a si mesma, só que alguns anos mais jovem. A menina que estava a sua frente era quase uma cópia fiel do que um dia fora Hinata.

A garota sorriu, vendo Hinata ofegar.

-Está tudo bem, Hinata... Fique calma. – a estranha pediu, sem parar de sorrir.

-Levando em consideração o que tem sido os últimos dias de minha vida, me acalmar vai ser um pouco difícil. – Hinata ironizou, sem conseguir conter o tremor que abalava sua voz. Sentia sua pulsação acelerada, martelando fortemente em seus ouvidos – Onde estou? Quem é você?

-Não há motivos para nervosismo. – a menina respondeu, desviando-se das perguntas de Hinata - Você está em casa, agora. Está com a família.

-Não estou, não. – Hinata rebateu, estreitando os olhos – Quem é você? – insistiu.

A desconhecida suspirou.

-Sou sua irmãzinha... Me chamo Hyuuga Hanabi. Muito prazer! – disse a menina, sorrindo abertamente e estendendo a mão para a mais velha.

Hinata olhou para a mão de Hanabi e depois para o rosto sorridente da garota. Piscou, apática. Sim, era verdade, ela aos poucos se lembrava. Tenten havia falado algo sobre uma irmã, na noite passada. As lembranças voltavam aos poucos, tornando a preencher seu coração com as mágoas que o sono parecia ter levado embora. Mas não era verdade; elas continuavam lá, intactas, fazendo as palavras de Naruto ecoarem por sua mente, misturadas às vozes de Sasuke e de Tenten.

Ela continuou encarando a menina de forma inexpressiva. Será que todos os Hyuugas tinham a mania irritante de aparecerem vindos não se sabe de onde, sorrirem e cumprimentarem as pessoas como se fosse algo absolutamente normal que Hinata descobrisse, aos dezessete anos, que tinha um primo, uma irmã e, sim, a maior novidade de todas, um pai? E por falar em pai, onde estava aquele homem desgraçado?

Hanabi recolheu a mão, um pouco envergonhada, percebendo que Hinata não estava tão feliz em vê-la. Sem deixar de sorrir ela fitou a expressão antipática da irmã mais velha, parecendo estar se divertindo com tudo aquilo.

-Entendo que deve estar sendo difícil para você assimilar tudo isso... Mas entenda, eu sempre esperei por esse dia, o dia em que você voltaria para casa, o dia em que eu conheceria minha irmã mais velha e ficaríamos juntas... – a menina falou, mas logo foi interrompida.

-Não estou voltando para casa. – Hinata rebateu, estreitando os olhos perolados. Aquela pentelha estava começando a lhe irritar – Me desculpe, mas esta não foi, nem nunca será, a minha casa. Minha família de verdade são as pessoas que nunca me abandonaram ou me enganaram. – falou, vendo Hanabi se encolher com a acusação.

-Desde que papai me contou sobre você, eu sonhei com o dia em que poderia encontra-la, abraça-la. Sonhei com você todas as noites e todos os dias, sonhei que você voltaria para nós, e que poderia me ensinar a ser como você... Papai sempre falou que você era uma pessoa forte, e eu sei que você é. Eu posso ver. Nosso pai estava certo, você é...

-Seu pai. – Hinata corrigiu – E por falar nisso, onde ele está? Acredito que temos contas a acertar.

A menina piscou, atordoada. Hinata se mantinha fria, distante, respirava pesadamente e parecia muito brava. De todas as maneiras como Hanabi imaginara aquele encontro, em nenhuma delas Hinata falava com tanta dureza ou a fitava com tamanha aspereza. A menina se encolheu um pouco, sentindo-se magoada. Entendia que as coisas haviam tomado um rumo difícil na vida de Hinata, mas esperava que ela compreendesse que também não havia sido fácil para ela crescer sem conhecer a irmã, e que ela havia tido muitas esperanças com aquele encontro. Sonhara que poderiam recuperar o tempo perdido, que poderiam aprender a controlarem seus poderes juntas, e que poderiam ser novamente uma família feliz. Que poderia ver seu pai sorrindo sinceramente, contente em poder ter as duas filhas por perto, e que a paz voltaria a reinar no coração bondoso de Neji. Que todos poderiam se reunir e seguir com suas vidas, dessa vez mais fortes, porque os Hyuugas são sempre mais fortes quando estão unidos. Assim seu pai lhe dissera, e assim Hanabi aprendera.

Mas Hinata não teve ninguém para lhe ensinar aquilo enquanto crescia. Ela não conhecera seu pai, e se não fosse por Jiraya, ela nunca saberia como é ser abraçada e cuidada por um. Se não fosse por Gaara, Ino, Sasuke, Kiba, Sakura, Sai e Deidara, ela não saberia como é ter irmãos ou primos, como Hanabi sabia, porque sempre tivera Neji ao seu lado. Se não fosse por Naruto, Hinata não teria conhecido o amor e a felicidade. Hanabi e Hinata haviam tido vidas essencialmente diferentes e possuiam marcas distintas no coração. E ambas sabiam que havia certas coisas na vida que não se pode recuperar. O tempo, neste caso, é uma delas.

 

Hanabi se levantou, estendendo a mão para Hinata, a fim de ajuda-la a levantar e levá-la até seu pai, mas a mais velha se levantou sozinha e passou por ela sem sequer olha-la, caminhando em direção à porta. Hanabi estava decepcionada, muito decepcionada. Sabia que tudo o que estava acontecendo podia ser meio louco, mas desde pequena, ela sonhara com aquele encontro – ao contrário de Hinata, que sequer sabia da existência de sua irmã mais nova até então. Mas a raiva da mais velha desfazia todas as esperanças que Hanabi havia construído por todos aqueles anos. Era compreensível, mas ainda assim, machucava bastante.

A mais nova abriu a porta, dando passagem para que Hinata saísse do quarto. Em silêncio Hanabi conduziu Hinata pela grande escadaria em espiral que as levava para o andar de baixo. A menina fingiu não notar o olhar surpreso da mais velha ao perceber a elegância e grandiosidade daquele lugar. O sorriso de Hanabi desaparecera completamente; não havia mais tanto motivo para ficar feliz. Hinata estava de volta, mas só de corpo presente. A mente e o coração da Hyuuga mais velha haviam ficado em outro lugar.

 

Hinata, por sua vez, admirava, boquiaberta, o cenário ao seu redor. O branco parecia ser a cor predominante nas paredes daquela casa, contrastando com a decoração que trazia peças em tons de cinza fosco, marfim e preto. Havia peças de arte espalhadas pela grande sala que as duas agora atravessavam, e grandes janelas que mostravam um imenso jardim, do qual Hinata logo desviou o olhar. As flores haviam se tornado uma lembrança amarga, e ela não queria se deter àquilo. Não naquele momento.

Em silêncio, Hinata acompanhou Hanabi até o que parecia ser a sala de jantar. A mais velha quase bufou de deboche com o que via: a mesa exageradamente grande, repleta de comida servida em pratos que pareciam ser peças de uma porcelana cara e elegante, o cheiro inebriante da comida fazendo o estômago de Hinata revirar de forma desagradável, as janelas que traziam a luz do dia para dentro daquele lugar, as pessoas que se mantinham de pé perto da parede em uma posição formal, duas de cada lado da grande mesa, vestidos como se fossem empregados, as expressões sérias e atentas de quem esperava por uma ordem a qualquer minuto.

Nas cadeiras que ladeavam a grande mesa, estavam sentados Neji e Tenten, que encaravam Hinata com uma expressão receosa e ao mesmo tempo, esperançosa. Na ponta da mesa, sentado no que parecia ser o lugar principal, estava um homem de cabelos compridos, lisos e negros, que tinha olhos perolados e a pele pálida, o rosto marcado pelas rugas que evidenciavam os muitos anos que carregava.

A morena estancou na porta, vendo os olhos do homem desconhecido a fitarem com atenção.

Hanabi, por sua vez, sentou-se ao lado de Neji, vendo Tenten dispensar os empregados com um simples aceno de cabeça. Em silêncio, eles se afastaram da sala de jantar, deixando Hinata sozinha com Neji, Tenten, Hanabi e aquele homem.

Aquele homem...

Ele então se levantou, os lábios se curvando em um discreto sorriso de satisfação. Estendeu a mão para a morena, exibindo uma expressão esperançosa e aliviada.

-Olá... filha. – ele murmurou.

Sem sair do lugar, vendo o homem lhe sorrir do outro lado da mesa, Hinata cerrou os punhos, sentindo uma onda de raiva tomar-lhe como uma corrente elétrica.

Ela estava certa, antes. Os Hyuugas eram, com certeza, criaturas irritantes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-SEU IDIOTA! – Ino berrou.

O grito furioso da loira fez com que todos os presentes na sala pulassem de susto, menos Naruto. Ele parecia devastado de uma maneira nunca vista antes: os olhos marcados por olheiras e tingidos por um azul escuro e morto que denotava exaustão e apatia, um forte cheiro de álcool emanando de seu corpo, os ombros arriados em sinal de desânimo. Naruto mal parecia estar ciente do que acontecia ao seu redor, portanto, os gritos de Ino não o assustavam.

Depois da noite que tivera, ele achava que não havia nada mais assustador em sua vida que ainda pudesse lhe atingir como a dor que experimentara no decorrer daquela madrugada.

-Ele apenas fez isso para proteger a Hyuuga. – Yugito tentou interceder pelo Uzumaki.

-VOCÊ CHEGOU AQUI UM DIA DESSES, É MELHOR FICAR NA SUA! – Ino gritou para a Nii, vendo-a arregalar os olhos de medo – E VOCÊ! – apontou para Naruto novamente – VOCÊ PERDEU O JUIZO?! A HINATA DEVE ESTAR DEVASTADA, DEVE ESTAR SE SENTINDO HORRIVEL! VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE DIZER AQUELAS COISAS HORRIVEIS A ELA, SEU LOIRO BASTARDO!

Naruto olhou tediosamente para Gaara em busca de apoio, mas o ruivo limitou-se a dar de ombros, como se desse razão a Ino. Para falar a verdade, Gaara parecia estar tão aborrecido quanto a Yamanaka, mas deveria ter deixado a tarefa de gritar e esmurrar Naruto com ela, já que ele se mantinha quieto desde que chegara até a casa do loiro.

-Se eu não a tirasse daqui, eles atacariam a minha casa e a levariam embora. Eu não iria poder fazer nada. – Naruto respondeu, apático, a voz soando arrastada.

-VOCÊ PODERIA LUTAR! – Ino berrou em resposta.

-Não, eu não poderia. – Naruto falou, dessa vez mais sério – Eles me neutralizariam, assim como neutralizaram Yugito quando ela chegou aqui, três dias atrás.

-SEJA MAIS CLARO ANTES QUE EU PERCA A PACIÊNCIA DE VEZ E ARRANQUE SUA CABEÇA, NARUTO!

-Yugito perdeu a Nibi. – o loiro esclareceu, para em seguida pegar os braços da Nii e erguer as mangas compridas da blusa que ela usava, deixando a mostra várias marcas do que parecia ter sido uma cruel tortura.

Gaara se levantou do sofá subitamente, arregalando os olhos.

-O quê?! – o ruivo grunhiu.

-Eles... Eles me torturaram e levaram Matatabi de mim. – Yugito explicou, tentando não se fixar muito no fato de que havia perdido seu Bijuu – Não me lembro direito do que aconteceu... Lembro apenas que havia muita dor... Lembro de gritar. – ela contou, se esforçando para não ser tomada pelo terror daquelas memórias – Lembro que, depois que eles terminaram, acharam que eu estava morta, e por isso me deixaram para trás. Eu não tinha mais serventia, e meu corpo deveria servir de aviso a Naruto.

-Isso não é possível... – Gaara murmurou, incrédulo e visivelmente assustado – Como eles fizeram isso?!

-Eu não lembro, já disse. – Yugito respondeu – Não lembro e não quero lembrar. – falou, temerosa. Para a loira, a ficha parecia ainda não ter caído totalmente. Parecia que, a qualquer momento, Matatabi interromperia o silêncio em sua mente para rugir, exigir disciplina, interceder em sua ajuda. Mas a cada hora que se passava, a cada minuto, a cada segundo em que o rosnado do Bijuu não se fazia soar em sua mente, Yugito sentia o desespero irromper pelas brechas de sua consciência. Já havia perdido seu mestre. Sem Matatabi, o que lhe restava?

Gaara continuava de olhos arregalados, confuso e, pela primeira vez em sua vida, ele sentia medo. Ouviu Shukaku bufar em sua mente, mau humorado e ranzinza, como sempre. Mas era seu Bijuu mau humorado e ranzinza. E Gaara não estava disposto a perde-lo.

Ino, por sua vez, estreitou os olhos para Yugito, mas a Nii não percebia a fúria com a qual era fitada. “Grande ajuda, a sua.”, Ino ironizava mentalmente, referindo-se à Yugito. Obviamente a Yamanaka se compadecia pela situação da Nii, mas ao pensar em Hinata, ela sentia-se ressentida. Sabia que este não era um sentimento correto, tendo em vista que Yugito apenas havia sido uma boa amiga em um momento de desespero para Naruto, porém, Ino nutria uma antipatia por aquela mulher desde que a vira chegar, no dia do enterro de Asuma. Ela sabia que grande parte daquele sentimento se devia ao fato de que não conseguia parar de pensar em como Hinata estava se sentindo, e por isso tentaria esquecer a raiva infundada que sentia por Yugito. Não era culpa dela. Ino sabia disso.

-Explique o que aconteceu. – a Yamanaka sibilou para Naruto - Agora.

O loiro suspirou fracamente, tentando manter-se consciente. Tinha que esvaziar sua mente, e tentar se concentrar no momento presente, ou não conseguiria continuar com aquilo. Mal conseguia enxergar um palmo diante de si; a exaustão e a dor que o atingiam pesavam em seu corpo, fazendo sua sanidade vacilar entre as frestas do desespero.

O momento presente. Tinha que se concentrar no momento presente.

 

Quando saiu do cemitério, era bem verdade que Naruto queria um tempo sozinho, mas ele também estava agindo por debaixo dos panos. A morte de seu mestre lhe dera a certeza de que, não importava o preço a ser pago, ele encontraria o maldito ruivo de piercings e daria a ele uma morte lenta e dolorosa, a qual Naruto já havia planejado, doentia e desesperadamente, em sua mente deturpada pela dor da perda. Havia sido pura coincidência que Shino fosse tão eficiente a ponto de enviar as informações que Naruto havia pedido sobre o padrasto de Hinata um dia depois de o loiro ter pedido que ele investigasse em segredo o que havia realmente acontecido no passado dela. Quando Shino entrou em contato por telefone, a fim de informar que havia um pacote com tudo o que havia descoberto sendo enviado para a casa de Naruto, o loiro já nem se lembrava do que aquilo se tratava. A morte de Jiraya havia apagado todas as outras preocupações de sua mente, e ele quase – quase - se esquecera das coisas que Hinata havia lhe dito sobre o passado. Ao se atentar à importância daquilo, Naruto apressou-se em voltar para casa, apenas para se deparar com a imagem de Yugito a beira da morte em sua sala. Não gostava nem de pensar no que poderia ter acontecido com ela se tivesse demorado um pouco mais a voltar...

O pacote que Shino havia lhe enviado estava aberto quando Naruto o pegou da caixa de correio, o que significava que, quem quer que tivesse estado ali, sabia do que aquilo se tratava. Mas não era hora de se atentar àquilo. Depois de tratar dos ferimentos de Yugito, Naruto debruçou-se sobre o material que Shino lhe enviara, na esperança de descobrir algo que lhe fosse útil.

Orochimaru era o nome do padrasto de Hinata. Nos relatórios, Shino dizia que não havia sido tão difícil encontrar vestígios e informações sobre ele. O homem era um psiquiatra renomado e que atendia à várias clínicas de saúde mental, incluindo aquela em que Hinata ficara confinada por vários anos. No pacote que Shino enviara havia ainda fotos de Orochimaru. Ao vê-las, Naruto sentiu-se imediatamente incomodado pela sensação de já ter visto aquele homem antes. Em todas as fotografias, recortes de jornais, revistas que estampavam seu rosto, Orochimaru sorria de forma irônica e segura, os olhos brilhando de petulância e convencimento. Olhos cruéis, sanguinários, ambiciosos, olhos de...

E foi quando Naruto lembrou.

Olhos traiçoeiros, prestes a dar o bote no momento mais oportuno. Olhos de serpente.

 

 

 

 

 

 

Memórias de um passado não tão distante

 

 

Dentro da mente de Hinata, Naruto mal podia acreditar no que estava vendo. Amordaçada e amarrada em uma maca, a morena esperava pela tortura que não tardaria a vir.

Um dos médicos ligou o aparelho, e o loiro viu a garota fechar os olhos, os dentes se cravando na mordaça. Ela se debatia convulsivamente, os gritos soando abafados. Um dos médicos apenas observava e anotava. Ainda sem conseguir reagir à nada, Naruto observou os médicos com um pouco mais de atenção. Todos usavam máscaras, e apenas os olhos se destacavam em seus rostos. Um deles tinha olhos negros e usava um par de óculos redondos, outro tinha olhos dourados, apresentando ainda um certo tom esverdeado. Pareciam os olhos de uma serpente.

-O método de tortura mostrou-se eficaz na cobaia número 21. - falou o dos olhos de cobra. E logo se virou para o que usava óculos. – Aumente a carga.

 

***

 

 

 

 

 

De alguma maneira, Orochimaru conseguira acompanhar os tratamentos de Hinata, não apenas por ser padrasto dela, mas também por ser um dos psiquiatras responsáveis pelos pacientes acometidos por algum transtorno mental no hospital onde a morena fora confinada. Ele havia sido afastado do cargo depois que descobriram que o Doutor Orochimaru fazia experiências inexplicáveis com alguns de seus pacientes. Uma de suas cobaias, inclusive, era Hinata. Na época, Orochimaru parecia investigar algo que conseguiu manter em segredo até mesmo quando foi descoberto e exonerado permanentemente do hospital.

Aquele, porém, não era o único incidente no qual Orochimaru estava envolvido. Surpreendentemente, Shino enviara também registros de que aquele homem havia sido membro da ORDEM, discípulo de Sarutobi e companheiro de Jiraya e Tsunade. Pelo que se sabia, Orochimaru era um homem ambicioso demais, sedento por poder, que desafiava a tudo e a todos para conseguir o que queria, se utilizando sempre de vias desonestas para alcançar seus objetivos. Tinha envolvimento com casos de abuso de poder e desenvolvia amplos estudos acerca dos jinchuurikis que já haviam passado por esta Terra. Por algum motivo que Shino não conseguiu identificar, Orochimaru foi banido da ORDEM e seus poderes, selados para sempre.

Pelo menos, era o que os registros secretos da ORDEM diziam.

Pensando bem, Hinata nunca falava sobre a mãe ou sobre o padrasto – exceto pelo dia no jardim, quando ela contou parte do que havia acontecido, e desde esse dia Naruto soube que aquela história estava mal contada. E pelo material que Shino recolhera, estava mesmo. Os recortes de jornais estampavam a noticia de um triste acidente de carro em que o veículo simplesmente explodira. Havia peculiaridades demais naquele acidente. Primeiro, os restos do carro foram encontrados no caminho para o hospital. Segundo, mesmo com a explosão, houve um sobrevivente. Milagrosamente, os tabloides diziam que Hinata saíra viva da tragédia, contando apenas com alguns arranhões e a lembrança de um episódio que ela jamais conseguiria apagar de sua memória.

O corpo da mulher encontrada em meio aos destroços foi reconhecido como a mãe de Hinata, mas o homem que dirigia fora carbonizado de tal modo que era impossível verificar sua identidade. Pelos relatos da criança sobrevivente, estavam no carro sua mãe e seu padrasto, que dirigia o veículo.

Shino enviara ainda algumas curiosidades sobre a mãe de Hinata. A mulher havia sido casada com Hyuuga Hiashi, um membro da ORDEM, mas disso, todos já sabiam. Repentinamente os dois se separaram, o que foi um choque para muitos, já que ambos pareciam ter um casamento feliz. A mãe de Hinata se manteve afastada de Hiashi, e não demorou muito para que casasse novamente, dessa vez com Orochimaru, com quem conviveu até os últimos dias de sua vida. Porém, este último não era um casamento feliz, e isso não era segredo para ninguém.

Hiashi também se casou novamente, dessa vez com uma mulher do clã Mitsashi, que era responsável por protege-lo. Com ela teve uma filha, que passou a criar sozinho depois que a nova esposa faleceu. Hiashi nunca se pronunciou a respeito da guarda da filha mais velha, e pelo que parecia, nunca se interessara em procura-la. Tampouco demonstrou interesse em encontra-la quando Jiraya, com aquele jeito durão e generoso, o ligara informando que seu discípulo havia encontrado a menina Hyuuga. Indiferente, Hiashi apenas pediu que cuidassem de sua filha, pois ainda não era hora de ela saber a verdade. Manteve-se em Tóquio até recentemente, cuidando dos negócios e ajudando a controlar a ORDEM.

Obviamente, todos sabiam que ele estava na cidade, agora, e aquela era uma noticia que não agradava a ninguém. A família de Naruto não simpatizava com os Hyuugas, e aquilo não era de hoje. Nem mesmo Jiraya gostava muito deles. Os Hyuugas sempre foram criaturas arrogantes e que se julgavam superiores a qualquer pessoa – pelo menos, era assim como eles eram vistos. Sempre foram muito poderosos e não nutriam muita simpatia por Naruto, logo, os amigos do loiro passaram a não gostar muito deles também. Quando viveram na ORDEM, mal conseguiam acreditar em toda a babação que as pessoas dedicavam a Neji. E por falar no moreno, Neji fora uma criança insuportável de se conviver. Naruto ainda se lembrava claramente de vê-lo sendo tratado como príncipe, enquanto ele, Gaara e os outros eram vistos como perigo, por serem jinchuurikis ou por terem poderes “esquisitos”. Ou por terem sido crianças de rua. Ou por terem sido abandonados. Ou por representarem uma ameaça incapaz de ser controlada.

 

 

Quando terminou de contar tudo e de mostrar o que Shino lhe enviara, Naruto se afastou um pouco da sala, caminhando, em silêncio, até a estante de bebidas. Encheu um copo, sem sequer se lembrar de pôr gelo. Yugito, Gaara e Ino permaneciam calados, absorvendo tudo o que acabaram de ouvir. Ino e Gaara pareciam preocupados, muito preocupados. Não só com o que haviam descoberto, mas com a expressão que Naruto lhes exibia. O loiro não parecia estar nada bem. A impressão que tinham, pela maneira arrastada como ele falava, pelos olhos emoldurados pelas olheiras, pela maneira cansada como ele caminhava, era de que Naruto desabaria no chão daquela sala, a qualquer minuto.

-Me deixem sozinha com Naruto. – Ino pediu, séria. Vendo que os outros não se moviam, ela os fitou com fúria – Saiam! – ordenou.

Yugito retirou-se rapidamente da sala, indo para seu quarto. Ino lhe dava um pouco de medo.

Gaara, por sua vez, dirigiu-se calmamente para a varanda, levando consigo os papéis que Shino fornecera a Naruto. Precisava dar uma olhada naquilo direito.

 

 

Finalmente ficando sozinha com Naruto, Ino se aproximou do loiro, apoiando-se no balcão, fitando-o seriamente.

-O que houve com você? – ela perguntou, preocupada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hinata fitou com fúria a mão estendida em sua direção. Aquele era um péssimo hábito dos Hyuugas. Ela acabaria arrancando a mão de alguém, se continuassem a cumprimenta-la como se ela fosse uma idiota que não sabia o que estava acontecendo ali. Tudo bem, ela não sabia o que estava acontecendo ali, mas não era idiota. Não sairia dando gritinhos de alegria por estar naquele lugar afetado, sendo encarada por um bando de estranhos que a cumprimentavam como se ela fosse uma velha conhecida.

-Com quem pensa que está falando?! – a morena sibilou, os olhos fixos na figura do patriarca, vendo o sorriso desaparecer do rosto dele.

-Com você, Hin... – o homem tentou responder, mas Hinata não deixou.

-Comigo?! Não, não pode ser comigo. – ela ironizou, percebendo que Tenten e Neji a fitavam com atenção. Apenas Hanabi não a olhava. Parecendo magoada, a menina serviu-se do café da manhã, sem querer dar atenção à discussão que se desenrolava naquele momento – Não pode estar falando comigo, me chamando de filha, como se essa fosse a coisa mais natural do mundo.

-Eu sou... – o homem novamente tentou se pronunciar, mas logo foi interrompido por Hinata.

-Eu sei quem você é. – ela sibilou, estreitando os olhos – Você é Hyuuga Hiashi. O homem que abandonou a mim e a minha mãe, e que nunca se interessou em me procurar. O homem que era importante demais para querer conviver com uma aberração como eu. O homem que desapareceu no mundo, e que deveria ter ficado no inferno onde esteve por todos esses anos.

-Eu sou seu pai, Hinata. – Hiashi argumentou, sentindo as palavras da morena atingi-lo como chicotadas.

-Você não é meu pai! – ela rebateu, alterando-se – Como se atreve?! Não ouse dizer isso pra mim! – alarmou, nervosa – Apenas concordei em vir até aqui porque precisava olhar pra você e te fazer uma pergunta. Depois disso, seguiremos caminhos separados. Como estava sendo, desde sempre.

Neji observava a tudo boquiaberto, vendo seu imponente tio sendo calado pelas palavras duras da filha. Estava prestes a intervir quando sentiu Tenten chutá-lo por debaixo da mesa.

-Fique quieto ai ou eu arranco a sua língua. – Tenten sussurrou, vendo Neji estreitar os olhos para ela.

-Não interessa se Hinata é filha dele, ela não pode simplesmente... – o moreno tentou argumentar, mas Tenten não deixou que ele continuasse.

-Se intrometa nisso e quem vai arrancar a sua língua será a Hinata. Ela foi abandonada, enganada, torturada, resgatada, abandonada novamente. Na posição em que estamos, temos que ficar quietos, você entendeu? – ela sibilou para Neji.

O Hyuuga compreendeu e se calou.

Hiashi voltou a se sentar, sentindo a culpa sobre seus ombros pesando como nunca. Não adiantaria tentar argumentar com Hinata. Ela tinha razão em estar transtornada com toda aquela situação.

-O que você deseja saber? – ele perguntou.

A morena então sentiu seu coração vacilar e apertar. Ela prometera a si mesma que não choraria, que seria forte. Mas olhar nos olhos daquele homem não estava sendo fácil, nada fácil. Lembrar de tudo o que vivera até ali fazia com que a fúria turvasse seu raciocínio e liberasse suas emoções.

-Por quê? – ela perguntou, num fio de voz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Naruto suspirou, infeliz. Tomou um gole da bebida antes de responder, porque não queria ter que pensar muito naquilo. Não queria se ater ao fato de que estava sendo difícil, mais difícil do que ele havia imaginado, mais difícil do que qualquer coisa que já tivesse feito em sua vida. Não queria ter que pensar que não tardaria a ficar sozinho novamente naquela casa, e que provavelmente cederia ao impulso masoquista de voltar ao quarto de Hinata. Não queria ter que pensar no quanto sua escolha o estava matando, devagar e dolorosamente. Não queria ter que pensar que se a tivesse deixado ficar, talvez a perdesse para os homens que haviam cercado sua casa. Mas deixando-a ir, a havia perdido do mesmo jeito...

-Não vou conseguir fazer isso. – ele murmurou, baixando a cabeça, tentando não desabar. Tudo parecia confuso e irreal ao seu redor, como se estivesse preso em um pesadelo e estivesse consciente disso, mas, mesmo tentando acordar de todas as maneiras, Naruto não despertava.

E a dor não cessava.

-Você precisa ser forte, agora. – Ino falou, mas seus olhos diziam o contrário. Naruto não aguentaria aquilo, e ela tinha medo de que ele acabasse fazendo alguma loucura.

Ela ouviu o loiro soltar um riso irônico, e franziu o cenho, vendo-o sentar no sofá e depositar o copo na mesinha de centro. Naruto passou as mãos pelo rosto, querendo, a todo custo despertar. Mas o pesadelo apenas continuava tomando forma dentro de seu peito, prestes a consumi-lo por completo.

-Hinata é inteligente, não vai demorar a perceber porque você fez aquilo... Não se martirize desse jeito. – a loira pediu, aflita.

-Você não está entendendo. – Naruto resmungou, mantendo a cabeça baixa – Não importa se ela vai entender o que houve, o importante é que ela esteja segura.

-Então do que você... – Ino começou, mas viu Naruto erguer o rosto, irritado.

-Isso é difícil, droga! – ele explodiu – Isso é difícil demais, e eu preciso me convencer de que não posso simplesmente trazer ela de volta a força e faze-la ficar, porque isso seria egoísta, mas adivinha só, Ino?! – o loiro gritou, transtornado – Eu sou egoísta! Eu a quero de volta, preciso dela aqui, porque eu estou apaixonado pela droga dessa garota, e ela está me matando! Hinata me deixou doente, você não vê?! Não percebe que eu vou partir em dois se ela não estiver aqui?!

-Naruto, eu... – a Yamanaka novamente tentou ajudar, mas ele parecia atormentado demais para ouvi-la.

-Mas graças a mim, ela vai estar com a nova família, feliz, vai esquecer de que um dia eu estive na vida dela, porque depois de tudo o que eu disse, ela não vai querer me ver nunca mais! E nunca mais eu vou vê-la ruborizar enquanto olha pra mim, até mesmo quando ela está sozinha e eu sei que ela está vermelha daquele jeito porque está pensando em mim... Nunca mais vou ver ela sorrir, o sorriso que eu ajudei a despertar! Nunca mais vou vê-la sendo irritantemente teimosa, nunca mais ela vai fazer tudo ficar bem na minha vida, de uma maneira ou de outra, nunca mais!

Ino apenas ouvia o desabafo do amigo em silêncio, sentindo os olhos marejarem. Naruto não merecia aquilo... Não mesmo.

O loiro suspirou, tentando se acalmar, mas era impossível. O desespero começava a se fazer cada vez mais presente, dominando-o por completo.

-Com ela eu aprendi a ter mais esperança, a confiar mais em mim mesmo, na minha força, na força de minha família. E agora ela se foi, e eu não sei mais como fazer isso... – ele murmurou, baixando a cabeça novamente - Hinata me deu forças para prosseguir tendo-a ao meu lado, mas não me ensinou como eu poderia fazer isso sozinho.

Vendo todo aquele sofrimento, Ino se aproximou, envolvendo Naruto em um apertado abraço. Em silêncio, ela sentiu o loiro desabar em seus braços, rendendo-se ao cansaço que provavelmente o deixara acordado por toda a noite anterior.

-“Nunca mais” é tempo demais, não é, Naruto... – ela murmurou, enquanto acariciava os cabelos do loiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hiashi sentiu sua garganta fechar com a pergunta de Hinata. Ele suspirou, vendo-a de pé a sua frente, os punhos cerrados ao lado do corpo, encarando-o com fúria e mágoa, muita mágoa. Não imaginou que quando finalmente estivesse cara a cara com ela, Hinata estaria tão decidida, tão forte, tão grande, tão bonita. Mas ali estava ela, após todos esses anos, bem diante de si, exigindo que ele lhe dissesse o motivo de tudo aquilo.

Reunindo toda a sua coragem, Hiashi abriu a boca, prestes a falar, quando ouviram uma voz masculina soar agoniada, vindo de onde deveria ser a entrada da casa.

-O senhor não pode simplesmente entrar aqui sem permissão! – o mordomo gritava, tentando a todo custo impedir a pessoa que tentava entrar na mansão.

-O que está acontecendo? – Neji murmurou, levantando-se, prestes a ir até a saída.

Foi quando todos viram o corpo do mordomo voar na direção da sala.

Tenten se ergueu rapidamente, posicionando-se para o ataque, pois podia ouvir os passos pesados que se aproximavam da sala de jantar. Quem quer que estivesse ali havia conseguido passar pela segurança do portão e chegar até a entrada da casa, agredindo o mordomo para entrar na mansão. A moça se preparou para o perigo que se arrastava na direção de onde estavam.

-Permissão?  - Sasuke bufou, revirando os olhos, presunçoso - Não me faça rir. – murmurou para o corpo do mordomo caído.

O empregado apressou-se em levantar-se e sair dali antes que fosse agredido novamente.

-E ai, Hyuugas? Posso participar dessa festinha animada? – Sasuke perguntou, cruzando os braços, encostando-se na porta da sala de jantar e exibindo à Hinata o sorriso torto que ela odiava.

Mas, naquele momento, a morena ficou aliviada por Sasuke ser incrivelmente estúpido a ponto de não deixa-la sozinha com aquela família, ou ela acabaria fazendo uma besteira. Aliviada, Hinata o fitou, estreitando os olhos.

-Que é? – ele piscou, inocentemente – Não é só você que tá curiosa. Eu também quero saber que porra tá acontecendo.

A morena revirou os olhos, vendo Sasuke segurar no ar a adaga que Tenten lançara na direção dele.

-Não deu certo da outra vez e não vai dar certo agora, garota. – ele falou para a Mitsashi, tediosamente – Você é burra ou o quê? Não ataque o inimigo com o mesmo golpe duas vezes.

-Então você admite que é inimigo, Uchiha? Finalmente deixou a máscara cair? – Tenten perguntou, visivelmente incomodada com a presença de Sasuke ali.

-De vocês? Talvez. Da Hinata... ainda estou pensando sobre isso. – ele respondeu, sorrindo, fazendo com que Tenten o fitasse de forma ainda mais irritada.

-Chega disso. – Neji interferiu, estressando-se – Se Hinata permitir a presença de Uchiha Sasuke nesta casa, nada poderemos fazer a respeito. A decisão é sua, Hinata. – disse, fitando a prima seriamente.

Todos os olhares se voltaram para a morena, inclusive o de Hiashi, esperando por uma decisão.

-Ele fica. – Hinata afirmou, convicta.

Sasuke sorriu para Tenten, vendo-a bufar de ódio.

-Peço, então, que todos se sentem. – Hiashi falou, chamando a atenção dos presentes - Há muito para ser esclarecido, e minha fil... – se interrompeu, percebendo o olhar estreito que a morena lançava em sua direção – Hinata tem muitas dúvidas que precisa sanar. Creio que eu possa lhe contar uma história, sim?

Todos voltaram a se sentar, incluindo Sasuke e Hinata. A morena assentiu, vendo Hiashi suspirar. Os olhos do homem ganharam um tom embaçado enquanto ele se perdia em lembranças. Era difícil, muito difícil rememorar tudo aquilo.

 

-Há muitos anos, - Hiashi começou, enfim - quando nosso clã ainda estabelecia-se em Tóquio, em meio ao círculo de conhecidos da ORDEM, nasceu um garoto que possuía um Dom especial. Quando Minato e Kushina resolveram ter essa criança, eles já sabiam que ele possuiria um Bijuu, que é a ligação mística entre o poder consciente e o poder inconsciente de um jinchuuriki.

Hinata piscou, confusa. Quem eram Minato e Kushina? Hiashi era membro da ORDEM? O que os jinchuurikis tinham a ver com tudo aquilo?

Pelo visto, a história de sua vida traria mais informações do que ela havia imaginado.

-Ninguém sabe, ao certo, o motivo que leva um Bijuu a escolher seu hospedeiro, - o homem prosseguiu - mas a história conta que assim tem sido: diz a profecia que os nove Bijuus renascem na mente e na alma daqueles que serão merecedores de controlar o seu poder e farão uma grande diferença neste mundo, para melhor ou para pior. Porém, carregar um Bijuu é um fardo, uma maldição. Os jinchuurikis acabavam se tornando pessoas atormentadas, que se deixavam levar pelo poder e pela influencia do Bijuu, e se tornavam perigos incapazes de serem derrotados.

Todos escutavam atentamente o relato de Hiashi, mas os olhos mais ansiosos ali eram os de Sasuke e Hinata. O Hyuuga mais velho estava extremamente incomodado com a presença do Uchiha, porém, se Hinata o queria ali, não havia nada que pudesse fazer a respeito. Deixar que terceiros soubessem da história de seu clã e de tudo o que acontecera no passado não era algo que lhe deixasse muito feliz, porém, Hiashi também achava que já havia carregado aquele segredo por tempo demais. Estava na hora de deixar a roda da história de suas vidas voltar a girar.

-Esse menino de quem lhe falei não carregava um Bijuu qualquer: ele trazia dentro de si a raposa de nove caudas, o demônio que, em tempos remotos, na consciência de outros Jinchuurikis, havia ajudado a destruir reinos inteiros, a derrubar imperadores, a massacrar exércitos. Kyuubi era um monstro cruel, incapaz de evolução. Esse Bijuu não possuía uma mente sã, ou um coração. Ele representava perigo, um perigo maior do que podíamos controlar. E um perigo dessa magnitude precisa ser destruído antes que se torne uma ameaça real.

Hinata arfou, franzindo o cenho, sentindo o coração apertar de forma insistente. Kyuubi? Hiashi estava falando de Naruto, ou seria um jinchuuriki que carregou aquele Bijuu antes de ele renascer dentro do Uzumaki? Não, Hiashi não podia estar se referindo a Naruto. Não tinha como o loiro estar envolvido na história de sua vida.

-Minato e Kushina, porém, não estavam dispostos a entregarem a criança para que pudéssemos selar o Bijuu, porque isso provocaria a morte do menino. Eu fui um dos que votou a favor de que isso acontecesse, pois na época, não entendia como Minato e Kushina poderiam amar uma coisa como aquela. Eu só não imaginava que, pouco tempo depois, aprenderia a reconhecer os sentimentos deles, porque iria passar por uma situação semelhante.

Todos permaneciam em silêncio, atentos, e Hiashi se remexeu na cadeira, sentindo-se desconfortável com a plateia. O ódio com o qual Sasuke o fitava era quase palpável de tão forte que se manifestava na expressão do Uchiha.

-Foi convocada uma grande reunião com todos os membros da ORDEM, incluindo Minato e Kushina, que na época, lutavam desesperadamente junto aos seus mestres para salvarem a vida do menino jinchuuriki. Decidimos, então, por um acordo que beneficiaria a todos. Foi determinado que, para que a existência de algo tão medonho fosse novamente permitida, era necessário que houvesse um poder equivalente ao da Kyuubi, algo que pudesse extingui-la no momento em que fosse necessário. Foi quando nasceu você, Hinata.

A morena piscou, atônita. Estava mais confusa do que antes.

-Como representantes do clã Hyuuga e defensores da ordem, sua mãe e eu nos voluntariamos para tentar fazer aquilo dar certo. Apenas um Hyuuga poderia ser capaz de deter um monstro que se manifesta substancialmente em forma de chakra, um Bijuu, pois apenas nós podemos manipular as vias de energia da maneira como quisermos. Então, quando sua mãe engravidou, ela passou meses e meses sendo submetida a sessões de intervenção de todos os membros da ORDEM. No chakra de sua mãe eram depositadas as forças necessárias para que ela desse a luz à criança que carregaria dentro de si o Dom de deter o jinchuuriki da Kyuubi. A gravidez de sua mãe representava, para todos, não só o nascimento de um herdeiro do clã Hyuuga, mas também a esperança de que não precisaríamos experimentar uma nova onda de terror e destruição, como o que aconteceu no passado.

De repente, Hinata sentia que talvez não quisesse saber o resto da história. Aquilo era loucura. Não era possível. Os Hyuugas eram pirados. Nada daquilo fazia sentido.

Não, ela não queria mais ouvir.

Porém, o choque impedia que ela se movesse, piscasse, respirasse. Paralisada, ela apenas permaneceu encarando Hiashi, que a encarava de volta, a expressão perdida em lembranças.

-Mas, quando você enfim nasceu, acabamos descobrindo que seu poder também era grande demais. Em vez de selar apenas o poder do Bijuu de nove caudas, você se revelou ser capaz de selar qualquer poder, de qualquer tipo. Para sempre. E acabamos descobrindo isso da pior maneira possível.

Todos então ouviram o pesado suspiro de Neji.

-Certa noite, - Hiashi prosseguiu - quando meu irmão lhe tirou do berço, querendo conhece-la, com um simples toque, você queimou todas as vias de chakra dentro dele, selando para sempre o poder que ele tanto lutou para despertar. Por esse motivo, o poder de Neji se manifesta de maneira defeituosa, pois o poder do clã Hyuuga é transmitido através da linhagem de sangue. O ciclo de poder de Neji foi quebrado quando você interferiu na circulação de chakra do pai dele.

Perplexa, Hinata olhou para Neji. O rapaz a encarou, mantendo a expressão serena.

-Está tudo bem. Ainda sou bem forte. – ele afirmou, sorrindo, gentilmente – Mas você podia ter me cumprimentado direito, ontem a noite, no carro. Afinal, meu poder é falho por sua causa.– brincou.

Involuntariamente, Hinata sorriu. Talvez nem todos os Hyuugas fossem babacas, como ela estava pensando até então.

-Com exceção desse acontecimento, nunca tivemos nenhum problema com o seu poder. – Hiashi esclareceu - O filho de Kushina e Minato crescia forte, enquanto você, apenas uma recém-nascida, mantinha acesa a esperança de que, se por acaso o garoto Uzumaki saísse do controle, você poderia intervir e restaurar a paz.

-Garoto Uzumaki?! – Hinata alarmou, vendo suas suspeitas serem confirmadas.

Sasuke respirou pesadamente, tentando manter a calma. Não podia ser responsável pela morte de um bando de Hyuugas, mas não demoraria muito até que perdesse a paciência de vez com aquela gente.

-Sim. Você nasceu para destruir o poder de Naruto. – Hiashi falou, e todos perceberam o quanto o homem se sentia desconfortável ao pronunciar o nome do loiro, como se ele fosse algum tipo de aberração – Ou, como descobrimos mais tarde, para faze-lo ficar ainda mais forte e fora de controle.

-Explique isso direito. – Hinata exigiu, impaciente – Como assim eu nasci para destruir o poder do Naruto? Você disse que meu poder era grande demais e que eu podia selar qualquer poder.

-E você pode. Mas entenda, o poder que você carrega é mais poderoso do que imaginávamos, pois você é a herdeira do clã. Você é a última linhagem. Em você está acumulado o poder de gerações inteiras de Hyuugas. – Hiashi esclareceu - Por esse motivo, não demorou até uma grande tragédia acontecer. Havia um homem na ORDEM interessado em poder. Não só no poder dos Bijuus, mas em todos os Dons que se manifestassem no plano visível. Este homem era Orochimaru.

Hinata se encolheu, sentindo um arrepio lhe percorrer a espinha. Ah, não. Não, não e não. Aquele homem, não.

-Porém, um poder como o seu, capaz de manipular todos os outros, era mais atraente do que os nove Bijuus reunidos. Não tardou até que Orochimaru tentasse se apossar do seu Dom. Para isso, ele se utilizou dos métodos mais sujos, como era bem o estilo dele. Quando Sarutobi se revoltou contra as atitudes de Orochimaru, foi morto. E quando todos da ORDEM se propuseram a defender você, Orochimaru recorreu ao único poder que poderia ser capaz de se igualar ao seu. Ele quis se apossar da Kyuubi.

-O quê?! – Hinata grunhiu, apavorada.

-Entenda que um confronto entre você e Naruto poderia ser mortal para ambos. Você apenas pode selar o poder de um Bijuu se conseguir se conectar ao coração do jinchuuriki. Não é como selar qualquer outro tipo de poder, coisa que você poderia fazer com facilidade. Especialmente em se tratando de Kyuubi, seu Dom precisaria ser desenvolvido, treinado. Havia, ainda, um longo caminho a ser percorrido para que tamanho poder pudesse ser controlado. Mas quando Orochimaru tentou se apossar do poder de Naruto, Kushina e Minato não permitiram. Morreram para proteger o filho. Depois do ocorrido, a criança portadora da Kyuubi sumiu no mundo, sem deixar qualquer vestígio, e isso nos levou a crer que Orochimaru havia conseguido seu objetivo, matado Naruto e se apossado de Kyuubi. Apavorados, percebemos que não demoraria até que ele viesse atrás de você.

Hinata passou as mãos pelo rosto, angustiada. Como pôde viver tudo aquilo enquanto era somente uma recém-nascida? Bebês não deveriam ter que passar por aquelas coisas terríveis. Pelo menos bebês normais, não.

Mas Hinata não havia sido uma bebê normal.

-Sua mãe eu selamos sua mente, para assegurar que os segredos do clã estariam seguros. Desesperada, ela levou você para longe, decisão que eu apoiei, temendo que Orochimaru lhe encontrasse e se apropriasse de seu poder - Hiashi retomou sua história – Enquanto você esteve longe do clã, delegamos à Neji a responsabilidade de manter o Dom da família vivo, e deixamos no chakra dele rastros do seu poder, como uma forma de conectá-los. Assim, quando seu Dom despertasse, o chakra de Neji enfraqueceria, como uma maneira de avisar que algo havia acontecido com você. Mas todas essas precauções não impediram que Orochimaru encontrasse vocês. Ele forçou sua mãe a casar-se com ele, a fim de manter as aparências, e disse que se ela não fizesse tudo o que ele mandasse, você seria morta. Temendo por sua segurança, sua mãe concordou com tudo, contanto que ele mantivesse a promessa de deixar você viva. Ingenuamente, ela concordou. Mas você sabe bem o que aconteceu depois disso.

-E por que você não veio nos buscar?! – Hinata gritou, levantando-se da cadeira, revoltada – Por que não fez nada para impedir aquele homem?! Por que não veio antes que eu me descontrolasse de medo e de raiva e sem querer, explodisse aquele maldito carro?! Por que você não veio antes de eu acabar matando a minha mãe?! – ela gritou, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto.

Hiashi novamente suspirou. Já havia feito aquelas perguntas a si mesmo inúmeras vezes, e mesmo que soubesse a resposta, ainda era duro aceitar o rumo que as coisas haviam tomado.

-Porque Orochimaru mataria você caso nos movêssemos. Ele a tinha como refém. Era por você que lutávamos. Sacrificaríamos qualquer coisa, até mesmo nossas vidas, para manter você segura e com vida.

-E você acha que o que eu tive pode ser chamado de “vida”?! Isso não justifica nada! Não muda nada! – Hinata rebateu, furiosa.

-Eu sei disso. – Hiashi falou, tentando manter a expressão serena – Todos nós sabemos. Não estou tentando justificar o que aconteceu. Você perguntou o por quê, e esses são os meus motivos, Hinata. Não digo que são os motivos certos, ou os motivos errados. Digo apenas que são os motivos pelos quais lutei e nos quais acreditei. Não posso decidir se eles serão o suficiente para aplacar a sua dor... Mas quando se decidir a respeito disso, eu estarei aqui, esperando por você. Para ouvir um “olá” ou um “adeus”, não importa. Continuarei aqui, esperando. Talvez um dia, você possa me perdoar.

Hinata se aproximou de Hiashi, parando diante dele, aproximando seu rosto da face madura do patriarca. As lágrimas ainda desciam pelo rosto da morena, fartas, doloridas.

-Você... Não... Merece... Perdão! – ela decretou, dando às costas à Hiashi e dirigindo-se para fora da casa.

 

 

Sasuke olhou para Hiashi, e depois para Neji, Tenten e Hanabi. Suspirou pesadamente. Tudo começava a se encaixar perfeitamente, e graças à Hinata, estava mais perto de seu objetivo. Mas havia algo que ele precisava dizer.

-Sabe, velho. – o Uchiha murmurou, os olhos negros fixos em Hiashi – Acredito que todas as pessoas mereçam uma outra oportunidade de fazer as coisas darem certo. Eu mesmo espero poder ter essa segunda chance, um dia. Mas você... – sibilou, estreitando o olhar para o homem – Você é um bastardo filho de uma puta. E eu só não acabo com a sua raça agora porque Hinata é uma garota incrivelmente idiota e vai acabar perdoando você, porque ela ainda acredita que as pessoas podem mudar e que há um pouco de bondade em cada um de nós para ser salvo. Mas eu não acredito nisso.

Hiashi permaneceu em silêncio, ouvindo as palavras duras que o Uchiha cuspia em sua direção.

-Hinata é uma mala irritante, mas é minha responsabilidade agora. – Sasuke falou, vendo que Hiashi não parecia surpreso. Tenten deveria ter contado que agora, ele era mestre de Hinata – Então, se eu souber que você a fez chorar novamente... Ou se eu pelo menos sonhar que você veio até aqui por causa do Naruto... - rosnou, as palavras soando inundadas de ódio – Eu vou caçar você e faze-lo conhecer o verdadeiro inferno nesta terra.

O homem limitou-se a assentir, vendo Sasuke dar às costas e dirigir-se à saída.

-Vocês são uns idiotas. – Hanabi resmungou, antes de levantar e correr em direção à porta também.

-Pra onde você vai? – Neji perguntou à menina.

-Vou atrás da minha irmã antes que ela vá embora de novo! – Hanabi gritou, já correndo em direção ao jardim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Eu estou procurando um lugar para começar

Mas tudo parece tão diferente agora.”

Yellow Light, Of Monsters And Men

 

 

 

 

Hinata caminhava pelo imenso jardim de forma desnorteada. Aquele maldito lugar era grande demais, e ela já não sabia mais para onde estava indo. Via as flores virando borrão enquanto andava apressadamente por entre as plantas e amaldiçoava a si mesma por ter ido até ali. Além de enfrentar a dor de ver sua vida desmoronar, ainda tinha que lidar com a lembrança de Naruto martelando em sua mente.

As lágrimas que caiam embaçavam sua visão, e vez por outra ela tropeçava em uma pedra, mas estava dormente demais para praguejar sobre aquilo. Ela apenas soluçava, embrenhando-se no jardim, e quando enfim cansou, ela se atirou de encontro à grama. Lembrava-se de sua mãe, dos horrores que viveu ao lado do padrasto. Sim, ela mentira para Naruto. Ela se lembrava de tudo, de cada visita dele ao seu quarto, mas na época, estava mesmo muito dopada para reagir ou sequer se importar. Era como uma boneca de pano, manipulada pelas mãos daquele homem nojento. Por muitas vezes fora torturada, percebendo Orochimaru mexer em sua mente, perturbando seu juízo, confundindo-lhe os sentidos. Lembrava-se do desespero de sua mãe, no dia em que Orochimaru decidiu leva-la de volta à clinica psiquiátrica. Hinata sabia que não aguentaria mais aquilo. No caminho até o hospital, tudo o que ela imaginava era uma forma de morrer. Estava tão fora de si pelo pavor que não conseguiu controlar seu poder, e quando acordou, estava deitada perto dos destroços do carro que havia, misteriosamente, explodido. Sua mãe, infelizmente, faleceu. E o peso daquela morte a atormentava todas as noites desde aquele dia, enquanto Hinata sonhava com a canção pela qual era embalada quando era pequena. Depois que Naruto aparecera em sua vida, a morena havia parado de ter aqueles sonhos, mas depois que seu Dom foi despertado, eles voltaram a aparecer, como um sinal latente de que algo importante estava prestes a acontecer. E por falar em Naruto...

Sim, Hinata se atentara às palavras de Hiashi. Ela havia nascido para destruir ou fortalecer o poder de Kyuubi. Hinata era a perdição ou a salvação de Naruto. Pensando daquela maneira, tudo fazia sentido. A insistência de Jiraya em obrigar Naruto a resgatá-la. A generosidade com a qual o mestre à recebera – porque Jiraya era um homem bom, como nenhuma outra pessoa que Hinata conhecia. Ele acreditava que ela não era uma bomba relógio, uma aberração, uma arma mortal. Jiraya fez com que Hinata reconhecesse a si mesma como humana, como capaz de ser feliz novamente. O sennin acreditara em seu poder, em sua força de vontade, lhe dera um lar, uma família, um pai. Lhe dera tudo o que sua família de sangue nunca fora capaz de oferecer: amor. Alegria de estar viva. Esperança.

Jiraya sabia de tudo, o tempo todo. Hinata agora sorriu fracamente em meio aos soluços, as lágrimas rolando ainda mais fartas ao se lembrar do sennin. Ele a pedira que cuidasse de Naruto, não porque fosse responsabilidade dela, mas porque ele sabia que somente Hinata era capaz de protege-lo, de fortalece-lo, de completa-lo. De faze-lo feliz.

O sennin não se importava muito com profecias, ou com aulas de história. Ele não se interessava muito pela possibilidade de que Naruto e Hinata poderiam ser armas mortais. Tudo o que Jiraya queria era ver sua família feliz. Ele não tinha interesse em poder, em ser forte ou fraco, em controlar ou não o Dom. Tudo o que Jiraya queria era que seu menino encontrasse a felicidade. Que sua família encontrasse a felicidade. Não apenas porque o mestre amava aquelas pessoas mais do que tudo, mas porque eles, mais do que qualquer pessoa, mereciam ser felizes.

Compreendendo tudo aquilo, Hinata chorou. Aos poucos, suas lágrimas de desespero se transformavam no pranto que lavava sua alma e renovava suas esperanças. Ela chorava de emoção, de amor. Chorava de gratidão à Jiraya por tê-la livrado do sofrimento, por tê-la acolhido de forma tão generosa, por ter enxergado o que havia de humano nela quando todos só conseguiam ver a aberração. Chorava de felicidade por ter conseguido passar dias maravilhosos ao lado de Naruto e dos outros, por ter descoberto a si mesma como alguém mais forte do que jamais ousou pensar que seria. Chorou porque as lágrimas também libertam, e porque, pela primeira vez em muito tempo, Hinata se sentia livre. Verdadeiramente livre.

Chorou porque Jiraya se fora, mas deixara para trás uma garota que, aos poucos, reaprendia a viver. Chorou porque o sennin fora mais pai do que Hiashi jamais seria, pelo simples fato de ter acreditado na força dela e ter lhe oferecido amor e apoio incondicionais, sem nunca, jamais considerar a possibilidade de deixa-la sozinha novamente. Chorou porque havia conhecido o amor e foi obrigada a se separar dele porque tudo era complicado demais. Chorou porque seu peito ardia em saudade de Naruto, e porque ficar longe dele era difícil. Muito difícil.

Sozinha, Hinata chorou. As lágrimas lavavam toda a tristeza, renovando suas certezas e trazendo consigo uma nova força.

 

 

-Hinata... – a voz fininha soou em meio às folhas.

A morena ergueu o olhar e viu a figura da irmã mais nova se aproximar. Hanabi deveria ter quinze ou dezesseis anos, talvez até estivesse prestes a completar dezessete. O que ela deveria conhecer da vida? Hinata tinha certeza de que a menina não deveria ter experimentado muitos horrores enquanto vivia em uma casa confortável, rodeada pela proteção da familia. Mas compreendeu também que aquilo não era culpa dela.

-Você vai embora de novo? – Hanabi perguntou, sentando-se ao lado de Hinata, fitando-a com preocupação.

A mais velha fungou, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. Estava mais calma. De certa forma, lembrar de Jiraya lhe dava segurança, como se, de algum lugar, o sennin vigiasse seus passos e lhe amparasse os tropeços.

-O que? – Hinata perguntou, um pouco confusa.

-Por favor, por favor, não vá embora... – Hanabi sussurrou apressadamente, com medo de assustar a mais velha. Em seguida, desatou a falar – Sei que tudo isso é complicado, mas você acabou de voltar e eu queria tanto, tanto conhecer você e saber como é ter uma irmã mais velha... Não ligue para o papai, ele é meio bobo, mas é legal, mas você vai gostar do Neji, ele é tipo um irmãozão, ele e a Tenten vivem se engalfinhando, mas ela também é legal e está sempre protegendo a gente, apesar de ser meio mandonas as vezes, e se você ficar, vamos te mostrar que podemos ter uma família, vamos recuperar o tempo perdido, nós vamos...

-Menina! – Hinata interrompeu, agarrando a garota pelos ombros – Como é o seu nome mesmo?

-Ha-Hanabi!

-Respire, Hanabi. – a mais velha instruiu, sorrindo, vendo a garota suspirar – Me desculpe por antes, no quarto. Sei que não é culpa sua... Você apenas foi envolvida em uma situação complicada demais para que eu saiba a forma certa de lidar com isso.

A menina piscou, sem saber o que dizer.

-Não sei se posso ser uma irmã tão legal quanto seu primo Neji parecer ser. – Hinata falou, ainda sorrindo.

-Nosso primo. – Hanabi corrigiu.

-É, vai levar um tempinho pra eu me acostumar com isso. – Hinata fez uma careta. Fitou os olhos grandes e esperançosos de Hanabi e suspirou, se rendendo – Mas posso tentar.

Hanabi então pulou de contentamento, envolvendo Hinata em um apertado abraço.

-Obrigada! Você vai ver, vai ser super legal! Vamos cobrir você de amor! – a garota bradou.

-Ha... Hanabi... não consigo... respirar... Amor demais, amor demais! – Hinata alarmou, pedindo socorro do abraço sufocante da menina.

A mais nova se afastou, rindo, sem jeito.

-Onde está o meu amigo? – Hinata perguntou, atentando-se à ausência de Sasuke.

-O Uchiha? Ele foi embora, mas eu acho que ele volta. – Hanabi respondeu, temerosa – Mas não vamos falar disso... Vamos falar de coisas boas! Vai ser bom dividir as lembranças do clã com você!

-Le-lembranças do clã? – Hinata gaguejou, zonza. Hanabi parecia ser uma pestinha que não sossegava um minuto sequer. Não poderia jamais apresenta-la à Deidara, ou poderia acabar provocando uma catástrofe.

-Sim!  - a mais nova respondeu, levantando e vendo Hinata levantar também – Vou te mostrar as fotografias, os livros, as canções, tudo!

Hinata estancou, encarando Hanabi com incredulidade.

-Canções? – perguntou, estreitando os olhos.

-É! – Hanabi prosseguiu, distraída, contente pelo fato de que sua irmã mais velha ficaria com ela – Sua mãe era uma Hyuuga, ela deveria cantar alguma dessas canções pra você... São os mantras do nosso clã. As vezes eles servem como selo, sabe? Pra ajudar a controlar nosso poder, etc... você já controla seu poder, Hinata?

-Que canções são essas, Hanabi? – a mais velha perguntou, sem responder ao questionamento da irmã.

Vendo que Hinata voltava a ficar nervosa, Hanabi parou de sorrir.

-Bem... Eu ainda me lembro de algumas... Ah, tinha uma que o papai cantava todas as noites para mim, antes de dormir. Era mais ou menos... Sim, eu lembro, era mais ou menos assim: Lugar ensolarado, luz do amanhã, o amor irá brilhar pra você... Lugar ensolarado, a luz do amanhã vai despertar seu...

Nesse momento, Hinata sentiu as lembranças invadirem-na como uma bola de canhão, fazendo suas pernas fraquejarem. A canção se misturava à todas as descobertas feitas naquele dia, mexendo com sua cabeça, deixando-a tonta.

-Byakugan! – Hinata alarmou, sentindo o selo em sua mente se desfazer ao lembrar-se da palavra que completava a canção.

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Oi!
E aí? Gostaram?

Link da música:
http://www.youtube.com/watch?v=p6vAn25I4h4

Sei que foi muita informação pra um capítulo só, porém... Aí está. Claro que ainda faltam muitas peças desse quebra-cabeça, mas grande parte dos mistérios foi esclarecida. Tem muita água pra rolar embaixo dessa ponte ainda, então, nos resta aguardar o desfecho de tudo.

Espero que tenham gostado, então não esqueçam de comentar e dizer o que acharam... Lembrem, é o comentário de vocês que me incentiva a continuar escrevendo! Então não esqueçam de dar uma passadinha por aqui... a autora-san agradece, e muito! xD

Bom... é isso. Até a próximo ;)

Bjks!


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