Se tem uma palavra que pode definir um morador de Paraisópolis essa seria guerreiro de fé. Eu sei disso, eu vejo isso, eu vivo isso.
Prazer, Caio Oliveira a.k.a o Rei de Paraisópolis, 19 anos de luta e foco.
Tu deve tá se perguntando como alguém tão jovem pode receber um título como esse...bem, essa é história pra outra hora. O foco agora é o dia de hoje porque passado é passado.
-Eu não quero saber de você colocando essas suas calcinhas imundas no meu quintal!
-IMUNDAS? VOCÊ QUER QUE EU TE DÊ UNS TAPAS?
-VEM SUA VAGABUNDA, VEM!
Qual é a rotina maravilhosa que o manda chuva de Paraisópolis leva? Bem, basicamente eu resolvo os problemas aqui da comunidade, e haja problema! O de hoje, é mais uma briga de vizinhos, ou melhor, de vizinhas: Dona Márcia e Dona Wanda, as barraqueiras de Paraisópolis.
-Parô, parô, parô! - como sempre, sou eu quem tem que botar um ponto final na briga das tiazinhas - Não quero saber de ninguém saindo no pau aqui. Dona Márcia, será que a senhora poderia nos fazer o favor de arrumar um outro lugar para pendurar suas roupas?
-OLHA AQUI, EU TÔ COLOCANDO UMA PEDRA NESSE ASSUNTO POR CONSIDERAÇÃO AO AMIGÃO AQUI- Dona Márcia joga as palavras em sua vizinha- SE FOSSE POR VOCÊ EU ENFIAVA ELAS NUM CANTO QUE VOCÊ NEM VAI QUERER QUE EU DIGA!
-COMO VOCÊ SE ATREVE? SUA BRUACA! - Dona Wanda grita em revolta.
No meio da confusão meu celular toca. O uso pra manter contato com meus parceiros daqui.
-Ô JP...ajuda aqui, mano. - peço ajuda ao meu parceiro, que tenta apartar a briga enquanto atendo ao chamado.
É o Muralha quem chama, ele é responsável pelo bloqueio na entrada da comunidade.
-Fala aê, qual é a bronca da vez? - atendo o celular.
-Ei - Muralha começa a falar-, tem um carinha aqui querendo falar contigo.
-Que carinha? Já o viu antes?
-Não, eu não o conheço o cara, mas ele insiste em te ver.
-Que droga...tá, tô indo ai. –desligo o celular.
-Ai, irmão. -JP me chama em meio ao fogo cruzado das duas velhas que cuspiam palavrões uma contra a outra- Parece que as tia tão bem ranzinzas.
-Eu não quero ter que voltar aqui, entenderam? - digo para as barraqueiras- JP você vem comigo.
Subimos em nossas motos, colocamos os capacetes e partimos em direção a entrada onde fica o bloqueio. No meio do caminho outra moto se junta a nós, é o Wesley.
Chegando lá me deparo com o tal problema e também com o tal ''carinha'' que Muralha falava. Desço da moto e vou até lá. Ele está bem vestido com uma roupa que deve ser de alguma marquinha dessas bem caras. Com certeza ele não é daqui, eu não o conheço.
-Posso saber o motivo do manezão aqui me chamar? - pergunto irritado sem tirar o capacete.
-Eu quero entrar na comunidade. - o carinha diz. Realmente eu nunca o vi antes.
-O motivo? - pergunto.
-Eu quero conhecer, seu idiota. - ele parece estar impaciente.
-Cuidado com a boca.- JP entra em defesa.
-Cale-se, macaco treinado. - o estressadinho retruca.
-Iiiiiiih! - todos os rapazes zoam.
-QUIETOS, PORRA! - me irrito com a baderna e com o garoto. Minha vontade é de socar a cara dele.
-Com licença, mas quem é você pra dá ordens na comunidade? – ele pergunta –Pra início de conversa, ela nem deveria ter alguém mandando nela.
-Eu? Quem sou eu? - dou risada- EU SOU O REI DE PARAISÓPOLIS!
-Rei de Paraisópolis? - ele pergunta em tom debochado.
-Tu é surdo, parça?
-Me desculpe, eu não falo sua língua. Pode liberar minha passagem, parça?
-Quem é você?
-O meu nome é Alexandre Grochevits. –sobrenome de gente riquinha –Você deve conhecer o meu pai já que é o manda chuva por aqui. Ele vai começar a trabalhar no posto de saúde da comunidade. O tal projeto do governo.
O carinha tem razão, há sim um projeto aqui na comunidade...uns engravatados falaram que seria bom para todos.
-Pera ai. - tiro o capacete e o garoto começa a me encarar. Viadinho de merda.
--Seu pai é um desses engravatados que vieram trabalhar no postinho? - Wesley pergunta.
-Sim, ele é.- o carinha responde mantendo os olhos em mim
-Aí, cara. – volto a falar - Eu vou liberar a tua passagem aqui na comunidade por respeito ao trabalho que teu coroa vai fazer aqui, só cuidado com esse nariz empinado. – sem querer mais conversa, me viro e peço para JP e Wesley me seguirem.
Antes dou sinal para que Muralha libere a entrada do rapaz e logo então volto ao fluxo.
Enquanto piloto em direção a meu sobrado -que gosto de chamar de meu QG- fico me perguntando quem era aquele cara e qual o interesse dele em conhecer Paraisópolis, pois, que eu saiba, nenhum riquinho quer andar por aqui. A não ser os gringos que querem tirar as fotografia das coisa por aqui.
Chegando ao QG estacionamos as motos, subo as escadas, tiro o capacete e o jogo em um sofá, em outro, sento e levo as mãos à cabeça. Sinto o suor em minha testa.
-Que cara estranho...riquinho metido à besta. - Wesley começa a falar com raiva do tal Grochevits.
-Sim, mó babacão. - respondo olhando para o teto.
-Quer que a gente faça alguma coisa com ele? - JP pergunta –Um susto talvez.
-Não...só deem uma vigiada nele. Um cara com aqueles bagulho de marca dando sopa em Paraisópolis pode dá confusão.
-Pode deixar. - dizendo isso eles saem em busca do playboy e me deixam sozinho.
Me ajeito no sofá e fico encarando a parede quando ouço o barulho de algo sendo derrubado lá embaixo. Vou até a janela ver o que tá acontecendo.
-Que porcaria você fez ai? - vejo o motivo do barulho e me irrito.
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