1. Spirit Fanfics >
  2. Paranoid >
  3. Eu deveria estar feliz, mas não estava.

História Paranoid - Eu deveria estar feliz, mas não estava.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Boa leitura! ;)

Capítulo 18 - Eu deveria estar feliz, mas não estava.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Eu deveria estar feliz, mas não estava.

Estava sentada com os braços sobre a bancada da cozinha enquanto devorava alguns waffles e tomava café em uma grande xícara para ver se ajudava a me manter acordada. Me encontrava completamente alheia e em alguns momentos, me pegava simplesmente lembrando-me do sonho e a frustração estupidamente aumentava. Respirei profundamente e dei uma grande golada em meu café, estranhamente recordando-me que o Justin ainda estava na lavanderia – o que me parecia completamente estranho, já que fazia uns quinze minutos que ele havia entrado lá. Olhei para trás observando a porta de mateira escura, que ficava estranhamente camuflada, não tão distante da porta de vidro que levava para o quintal dos fundos e cogitei a ideia de checar se estava tudo bem. A casa estava em silêncio absoluto e aquilo só ajudava para que eu me encontrasse cada vez mais perdida em abstrações, virei meu rosto para frente e comi o último pedaço que restava do meu waffles, tomando o restando do café e me levantando para lavar o que eu havia sujado. Lavei rapidamente e sequei as mãos em um pano de prato que estava em cima da bancada, olhei para a porta novamente e analisei o relógio em meu pulso, observando que já era 7h25. Estava colocando o relógio para despertar às 8h00 quando ouvi o barulho da porta sendo aberta e um Justin um tanto quanto perturbado saiu, seus cabelos desgrenhados e sua respiração desregulada. Ele fechou a porta com brutalidade e ficou encostado as costas sobre a mesma demonstrando um extremo desespero. Estreitei minhas sobrancelhas e pensei em dizer alguma coisa, entretanto me sentia travada.

— São apenas coisas da minha cabeça, não são reais... Não são coisas reais! – ele sussurrava desesperado e eu senti uma repressão trucidando meu peito.

Engoli em seco observando que talvez fosse outro ataque esquizofrênico e permaneci hesitante daquela vez, aliás, estava completamente absorta naquela manhã e não tinha ideia de como poderia ajudá-lo. Daquela vez um certo medo me dominou e vê-lo diante de mais um de seus surtos fez com que eu repensasse o quão insano era eu ter aceitado morar em sua casa, correndo o risco dele perder o controle durante um daqueles surtos e só Deus tinha consciência do que poderia me acontecer. Balancei minha cabeça negativamente e voltei a focar no Justin que ainda permanecia em sua posição, parecia não ter notado minha presença e seu olhar estava completamente distante, enquanto sussurros ininteligíveis ultrapassavam seus lábios aumentando cada vez mais o pânico que começava a contaminar as reações do meu corpo. Mantinha-se encostado sobre a porta como se estivesse tentando impedir que algo ou alguém saísse e aquilo era completamente assustador e bizarro, e o desespero que ele demonstrava era o que tornava tudo ainda mais enlouquecedor e amedrontador.

— Justin? – chamei-o após um tempo e ele olhou-me, seu olhar assustado e o aperto em meu peito se intensificou. – O que está acontecendo?

Dei alguns passos na direção dele e o mesmo ainda mantinha seus olhos cravados em mim, contudo parecia estar em outra dimensão. Fui me aproximando cada vez mais, até que finalmente estivesse de frente para ele e vi-o respirando profundamente, finalmente notando a minha presença.

— Savannah, tem uma coisa lá dentro, é uma coisa... Uma coisa... – ele tentava dizer, mas o desespero não o permitia.

— Deixe-me ver. – pedi cautelosamente e ele soltou a respiração pesadamente, seu cenho franzido e sua expressão de pura dor e desespero.

— São só coisas da minha cabeça. – voltou a sussurrar aquela espécie de mantra e inconscientemente franzi minha testa, tentando entender cegamente o que estava acontecendo.

Após um tempo hesitante me aproximei o suficiente e toquei seu ombro tentando chamar a atenção dele, no entanto o mesmo se encontrava ainda mais relutante e dominado pela, seja qual fosse, alucinação que estivesse lhe atormentando. Afastei-o cautelosamente da porta e ele deu alguns passos rápidos postando-se um pouco atrás de mim, olhei-o momentaneamente e o mesmo analisava a porta visivelmente assustado. Desviei meu olhar voltando a fitar a porta e respirei fundo erguendo a mão até a maçaneta, comprimindo meus lábios involuntariamente sentindo um certo peso em meu estômago.

— Não, Savannah! – ele praticamente gritou desesperado e eu engoli a seco. – Não, não, não. - sussurrava e eu girei a maçaneta decidida a fazê-lo enxergar que não havia nada ali e que ele precisava controlar aquelas coisas que queriam entrar em sua mente, para de certa forma, o destruir. – Ele vai me pegar... Ele vai me pegar, não abre essa porta

Sentia o nervosismo me dominando e mandando-o para o inferno abri a porta rapidamente e me deparei com uma pequena lavanderia – extremamente organizada como todo o resto da casa – vazia. Apenas o barulho da máquina de lavar e diante daquela percepção meus olhos foram estreitando-se instantaneamente.

— Olhe Justin, não tem nada aqui. – falei virando-me na direção dele e me deparei com o mesmo de olhos fechados, analisei-o com pesar e umedeci meus lábios antes me aproximar, deixando a porta aberta, ficando a dois passos de distância dele. – Está tudo bem Justin, não tem nada lá. Olhe!

Vi-o abrir os olhos após um tempo hesitante e – como da outra vez. – suas pupilas estavam dilatadas, sua respiração acelerada e sua expressão ainda continha pânico. Ele olhou-me intensamente e eu sustentei o olhar tentando mostrar para ele que tudo estava bem e, quando seus olhos fitaram sobre o meu ombro, respirei profundamente ao vê-lo suavizando seu semblante. Seus olhos se estreitando minimamente e continuei analisando-o enquanto o mesmo fitava a lavanderia intrigado, dando-se conta de que realmente não havia nada ali. Senti-me tranquila por ter conseguido ajudá-lo e sorri – disfarçadamente – satisfeita.

— Eu disse que não havia nada lá. – soprei e ele olhou-me brevemente.

— Mas eu tenho certeza que tinha alguma coisa lá dentro, Savannah. – resmungou contundente, ligeiramente arqueando as sobrancelhas. – Era uma coisa enorme que eu nem sei o que era, mas apareceu ao meu lado e que queria me atacar. – explicou deixando-me confusa e eu respirei densamente sentindo um peso estranho em meu peito. – E as vozes, elas estavam embaralhadas, falando ao mesmo tempo e... – eu tentava fitá-lo da maneira mais compreensiva possível, deixando-o à vontade para desabafar, contudo ele parecia enxergar a descrença que eu dificilmente estava tentando esconder. – Eu sou maluco.

— Não, Justin. – intervim ríspida e ele suspirou frustrado. – Você não é maluco! – me aproximei um passo e ele respirou pesadamente, olhando profundamente em meus olhos. – Você só está se deixando levar demais.

— Eu não tenho controle contra isso, Savannah.

Suspirei e ele desviou o olhar, fitando algum ponto invisível no chão.

— Mas você deveria acreditar mais em si mesmo, ter consciência de que são apenas coisas da sua cabeça, porque realmente são! – expliquei da melhor maneira possível, controlando o tom da minha voz e rezando mentalmente para que ele conseguisse me entender, além do mais, eu nunca havia lidado com aquele tipo de situação e sinceramente estava dando o melhor de mim para continuar ajudando. – Porque se você puder crer nisso, quando algo assim acontecer não vai sentir tanto medo e vai ser forte o suficiente para acreditar que essas coisas não existem, que elas não vão te fazer mal algum e que você consegue ser muito mais forte do que elas.

— Eu não tenho forças para isso. – replicou descrente erguendo seus olhos na direção dos meus e a dor exposta neles era dilaceradora, a tormenta era imensa.

Questionei-me como ele conseguia viver com tanto peso e nebulosidade dentro de si mesmo, até porque deveria ser dolorosamente difícil e tudo o que eu queria era ajudá-lo, no entanto não sabia o que mais poderia fazer.

— Porque você não acredita, Justin. – contestei rapidamente, sentindo-me surpresa por estar conseguindo argumentar firmemente. – Você não acredita em si mesmo e nem em sua força e enquanto não adquirir essa confiança, vai ser sempre escravo de sua doença.

Ele torceu os lábios e eu vi seus perfeitos glóbulos cor de mel sorrateiramente ficando úmidos e respirei pesadamente, desviando meu olhar momentaneamente.

— E como eu posso fazer isso? – interrogou desviando os olhos quando eu olhei-o e umedeceu os lábios, engolindo seco para segurar o choro.

— Autoconfiança seria um bom começo. – respondi e ele olhou-me. – E você não deveria ser tão pessimista também, um pingo de confiança não faz mal a ninguém, Justin. – completei e ele sorriu de lado, estreitei minhas sobrancelhas. – Está rindo do que? – perguntei fingindo estar afetada e ele sorriu abertamente.

Acabei sorrindo de lado, enquanto contemplava seu sorriso perfeito.

— Só estou tentando entender por que você ainda não saiu correndo de um maluco como eu. – contou divertido e eu acabei sorrindo também.

— Ahn, avisa para sua esquizofrenia que ela vai precisar fazer muito mais para que eu saía correndo e evite você pelo resto da minha vida. – rebati divertida e ele deu uma gargalhada sincera.

Tive uma estranha impressão de ouvir sinos tocando ao longe e balancei minha cabeça vagamente, sentindo-me envergonhada de minha gargalhada grotesca sendo comparada com a gargalhada deliciosa do Justin. Sorri de lado e ele repetiu meu gesto.

— Você é incrível, Savannah. – soprou e eu senti minhas bochechas esquentando-se, ele soltou um riso nasalado que me fez corar ainda mais.

— Não tanto quanto você. – devolvi o elogio dando-lhe uma piscadela e ele deu outra gargalhada, percebi que ele estava se sentindo bem melhor, como se nada houvesse acontecido há algum tempo atrás e perguntei-me se aquilo era resultado da bipolaridade. 

“O Justin realmente é um cara bastante problemático.” Refleti preocupada.

Ficamos nos analisando momentaneamente.

— Você já tomou café da manhã? – perguntou gesticulando com as mãos e eu confirmei com um aceno de cabeça. – Que horas você entra no trabalho?

— Às nove. 

— Meu carro ficou lá perto da biblioteca, então pode me dar uma carona?

— Claro.

Sorriu de lado e eu repeti seu gesto. O silêncio se instalou novamente e ele voltou a me analisar, de uma hora para outra sorriu abertamente e eu forcei um sorriso estranhando tudo aquilo. Despertamos do transe com meu relógio apitando, desliguei-o rapidamente e vi o Justin se afastar disfarçadamente.

— Oito horas. – murmurei mais para mim mesma.

— Vou tomar um banho rápido, que horas você vai sair? – questionou caminhando até a geladeira, abrindo-a e pegando uma latinha de refrigerante.

— Podemos sair às oito e meia, não fica tão longe daqui até a biblioteca, não é? – rebati com outra pergunta e ele negou, abriu a latinha e deu algumas goladas no refrigerante.

— No máximo uns dez minutos.

— Ok. – fora tudo o que eu disse e ele olhou-me confuso.

— Onde arrumou as roupas? – apontou para mim e eu analisei-me brevemente.

— Tinha uma mochila esquecida no porta-malas do meu carro, com sorte achei-as lá. – respondi sorrindo de lado e ele ergueu as sobrancelhas demonstrando entendimento.

— Eu não vou demorar. – replicou deixando o refrigerante sobre a bancada e saiu rapidamente da cozinha.

Ouvi seus passos subindo a escada rapidamente e me sentei novamente, analisando minhas mãos sobre a bancada, enquanto brincava com minhas unhas. Massageei minhas têmporas e respirei profundamente sentindo-me extremamente exausta e ansiosa com a nova chance de emprego que eu não poderia perder ou então estaria numa fria ainda maior. Me lembrei do surto do Justin e me senti extremamente confuso, relembrando o desespero dele e a convicção em suas afirmações de que havia algo dentro da lavanderia que de certa forma queria atacá-lo. Olhei para trás e a porta ainda estava aberta, estreitei minhas sobrancelhas e inconscientemente me levantei caminhando ligeiramente, adentrando o local e analisando-o completamente. Me aproximei da máquina que fervorosamente lavava as roupas e fitei os quatro cantos daquele lugar, procurando por algo que pudesse tê-lo feito pensar que havia alguma coisa estranha ali que pudesse machucá-lo e quanto mais procurava por algo que no fundo eu sabia que não existia, eu me sentia mais e mais frustrada e amedrontada. Em alguns momentos o Justin simplesmente parecia um cara normal como qualquer outro e de uma hora para outra ele mudava completamente, se transformava em outra pessoa e deveria ter medo disso mais do que eu normalmente costumava ter. Haviam coisas obscuramente misteriosas por trás dele e era enlouquecedor tentar entendê-lo, no entanto para ajuda-lo eu precisava ao menos conseguir entender algo, ao menos encontrar alguma coisa que conseguisse fazê-lo acreditar mais em si mesmo e menos em suas doenças, mas em alguns momentos eu estranhamente me esquecia de quem ele era e das coisas que as pessoas diziam sobre ele. Em alguns momentos eu estranhamente o enxergava como uma pessoa normal e eu não deveria ficar tão desatenta assim, deveria ficar alerta, entretanto aquela mórbida confiança que eu tinha no mesmo fazia com que eu não me sentisse preocupada com o fato de que ele poderia me fazer algum mal, porque honestamente, se ele fosse tão perigoso assim e estivesse a fim de me fazer algo ele provavelmente já o teria feito, certo? Todavia, mesmo com o fato de ele não ter feito nada – ainda –, eu não deveria confiar tanto, porque diante do surto esquizofrênico e do distúrbio de personalidade ele não era mais o Justin cujo eu havia suprido certa confiança, uma vez que o mesmo se tornava outra pessoa, e era aquele Justin que eu deveria temer arduamente, contudo eu doentiamente não o temia. Sentia-me cada vez mais confusa, mais perdida e esgotada. Não conseguia parar de pensar na possibilidade de papai tentar me prejudicar novamente, no sonho... E tudo aquilo estava começando a me enlouquecer. Sinceramente, tudo que eu precisava era de um pouco de paz, de um pouco de sossego e quanto mais ansiava por redenção, parecia que tudo se tornava cada vez pior.

— Demorei? – ouvi a voz do Justin soar na cozinha e me virei velozmente sentindo meu coração descompassar e respirei profundamente recuperando-me do susto.

Não demorou para que ele estivesse diante da porta da lavanderia e eu franzi minha testa sentindo-me ainda distante.

— O que está fazendo aí? – questionou indigesto e eu franzi meu cenho.

— Nada. – respondi após um tempo calada e ele arqueou as sobrancelhas, deu de ombros em seguida.

Analisei-o e ele estava com seu típico sobretudo preto, torci meus lábios me lembrando que era daquela maneira que ele andava por aí escondendo sua identidade e fugindo do mundo, pensei em questioná-lo o porque de o mesmo andar daquela maneira, contudo não queria parecer extremamente invasiva e talvez aquele tipo de questionamento o irritasse. Seus cabelos dourados estavam tipicamente desgrenhados e supus que ele não o arrumasse, porque iria colocar o capuz, então qualquer esforço seria inútil.

— Vamos? – ele questionou após um tempo e eu percebi que estava, mais uma vez, devorando-o com os olhos diante do mesmo. Chutei-me mentalmente e olhei o relógio em meu pulso, observando que já era 8h15.

— Ahn, claro. – soprei e ele saiu da minha visão, provavelmente indo até a sala e antes de segui-lo, respirei profundamente.

“Não seja idiota! Não seja idiota! Não seja idiota!” Repetia mentalmente enquanto caminhava na direção do carro e adentrei o mesmo sem hesitação, esperando o Justin que estava cuidando da segurança de sua casa.

Entediada, abri o porta-luvas do carro e encontrei meu celular franzindo a testa, visivelmente confusa por não me lembrar de ter o colocado ali. Peguei-o e o mesmo estava desligado, pensei que estivesse descarregado, contudo não estava e a bateria estava parcialmente carregada. Depois de ligado não demorou para que o mesmo começasse a apitar irritantemente e eram mensagens de chamadas perdidas da Lauren, haviam umas vinte chamadas e acabei sorrindo com escárnio do desespero da mesma. Torci meus lábios lembrando-me do acontecido na noite anterior e senti um aperto em meu peito, já estava sentindo saudade de Lauren e só ela conseguiria me ajudar com toda aquela exaustão e confusão, entretanto papai havia frustrado nossas vidas e seria difícil ter que me acostumar com novas mudanças. Olhei na direção da casa e nada do Justin saindo, disquei o número de Lauren e ela não atendeu o celular, caiu na caixa postal e eu decidi deixar uma mensagem.

— Oi Laurie, só liguei para avisar que está tudo bem e – comecei enquanto fitava fixamente o volante do carro. – o Nolan deu o recado que você pediu, então provavelmente vamos nos ver mais tarde. – sorri debilmente, confesso que eu não era muito boa gravando mensagens de voz. – Eu sinto muito pelo o que aconteceu e espero que esteja tudo bem com você, estou sentindo muito a sua falta e nunca se esqueça de que eu te amo muito, logo vamos superar isso e nada do que o Mason faça irá me afastar de você. Eu sempre estarei aqui por você e você sempre será meu porto-seguro. Eu amo você, te vejo mais tarde.

Desliguei e respirei profundamente fitando vagamente a tela do celular.

— Mensagem para o seu namorado? – ouvi a voz do Justin soar no carro e olhei para o lado me deparando com ele parado na janela, oposta do lado onde eu estava, olhando-me intrigado.

— Droga. – sussurrei respirando intensamente após o susto e franzi minha testa estranhando a pergunta dele, por sorte ele não ouviu. – O que faz você pensar que era para um namorado?

Arqueei uma sobrancelha e ele sorriu de lado, abriu a porta do carro e sentou-se no banco do passageiro.

— Cheguei na parte da declaração e... – vi suas sobrancelhas estreitando-se. – Suas palavras foram bem profundas. – concluiu e eu não pude conter uma gargalhada, ele olhou-me ainda mais confuso.

— A mensagem era para a Lauren. – falei após minha crise de riso cessar. – Ela é minha melhor amiga, só estava querendo confortá-la já que ela perdeu a casa por causa do meu pai idiota e ele fez isso, porque estava tentando afastá-la de mim.

— Seu pai não gosta dela? – interrogou surpreso e eu neguei com a cabeça.

— Mas o sentimento é mútuo. – respondi divertida e ele sorriu de lado.

— Isso é louco.

— Pior do que você possa imaginar. – soprei ligando o motor do carro e dando partida ligeiramente.

O silêncio passou a predominar momentaneamente.

— Está ansiosa? – ouvi-o questionar após um tempo e olhei-o de soslaio.

— Hein? – ele sorriu anasalado ao ver que eu não havia entendido o sentido de sua pergunta.

— Está ansiosa para o primeiro dia de trabalho? – reformulou a pergunta e eu sorri de lado, balançando a cabeça vagamente por conta de minha estupidez.

— Sim, aliás, eu estava rezando mentalmente há pouco tempo para que não dê nada errado. – brinquei e ouvi liberar uma rápida risada audível.

 — E por que daria errado? Você não tem experiência com livros? – interrogou olhando-me diretamente e eu fitei-o momentaneamente, em seguida voltei a focar na estrada.

— Tenho uma grande noção de livros e já frequentei tanto aquela biblioteca que sei todo o esquema para trabalhar lá. – contei com um falso egocentrismo e ele soltou outro riso anasalado.

— Então qual é o problema? – perguntou interessado e eu apertei meus dedos contra o volante, não queria ficar pensando no pior, contudo não havia como descartar o fato de que tudo desse errado novamente.

— Eu sou uma pessoa muito azarada e já tive uma oportunidade de emprego antes dessa, mas deu tudo errado de primeira e eu não quero que dê errado dessa vez, porque dessa vez estou precisando mais do que da outra vez.

— Deu errado de primeira? – parecia abismado e eu assenti positivamente, enquanto pensava na melhor maneira de desconversar.

— Houve uns problemas e umas chantagens, nada muito novo em minha vida e então tudo foi por água abaixo. – respondi melancólica e senti-o olhando-me, ignorei a necessidade de olhá-lo também me focando na direção.

— Seu pai? – indagou após um tempo pensativo.

— Por incrível que pareça não, mas foi outra cruz que eu carrego. – respondi e em seguida sorri miserável, rezei mentalmente para que ele não me perguntasse quem era e graças aos céus ele não o fez e calou-se momentaneamente.

— Sabe, acho que já estou pronto para falar com a Melanie. – ele desconversou após um tempo e senti minhas sobrancelhas juntando-se instantaneamente.

“Melanie.” Minha mente processou e eu lembrei-me das descobertas que havia feito e que ainda não havia dito para o Justin. Espanquei-me mentalmente, entretendo não fora culpa minha – ou fora? – ter me esquecido daquele fato, já que eu havia passado por toda aquela turbulência e inocentemente havia me esquecido de compartilhar o que a Nancy havia me contado sobre a garota.

— Eu não posso ficar esperando muito e isso é idiota, eu preciso fazer alguma coisa logo e se for esperar me sentir pronto, é provável que eu nunca o faça. – a voz dele voltou a ecoar e eu senti uma sensação estranha me dominando, ignorei-a fortemente.

— Eu descobri algumas coisas sobre ela. – comentei quando finalmente consegui abrir minha boca para falar, haviam certos bloqueios contendo-me e aquilo era completamente estúpido, e aquela não era hora daquelas reações imbecis começarem a me atormentarem.

— Sério? – ele praticamente gritou e eu sorri inquieta, meus dedos apertaram-se ainda mais contra o volante, enquanto eu lutava para me manter focada na estrada.

— Sim, me desculpe não ter comentado antes, mas é que não foram dias fáceis e eu acabei me esquecendo. – repliquei firmemente e senti-o olhando-me de soslaio.

— Tudo bem, Savannah. – disse após um tempo quieto e eu inexplicavelmente adorava quando ele pronunciava meu nome, balancei a cabeça discretamente. – Sei que foram dias difíceis, mas e então... O que você descobriu?

— Ela é sobrinha do dono da Library of Grayson. – contei e senti-o olhando-me impaciente. – É estudante de literatura, gosta de música clássica e adora romance. – acrescentei forçando minha memória para lembrar-me das coisas que Nancy havia me dito. – Ela é politicamente correta – mas não é virgem e estupidamente se crucifica por isso completei mentalmente e me segurei para não pronunciar aquele pensamento. –, é o orgulho da família, do tipo que não gosta de decepcionar ninguém e eu espero que você saiba tocar piano. – finalizei forçando um sorriso de lado e olhei-o me arrependendo posteriormente ao vê-lo sorrindo debilmente, desviei meu olhar rapidamente.

“Hora de deixar de ser imbecil.” Refleti com falsa convicção e mantive meu olhar distante, enquanto ele ainda permanecia quieto meditando todas as informações e provavelmente se sentindo feliz por saber todas aquelas coisas sobre a garota de ouro dele. Deveria estar me sentindo satisfeita por estar conseguindo ajudá-lo, por ter conseguido as informações e por ter passado-as para ele. Eu deveria estar me sentindo feliz por ele, mas eu não estava. Eu inexplicavelmente, ridiculamente e desnecessariamente não estava. 

— Por que eu deveria saber tocar piano? – soprou após um tempo e senti-o olhando-me, mantive meus olhos na estrada.

— Porque ela gosta de caras que tocam piano. – respondi banalmente e olhei-o de soslaio, percebendo-o um pouco nervoso. – Você não sabe tocar piano, não é?

— Tive a chance de aprender, mas não quis. – respingou abatido e eu estreitei minhas sobrancelhas.

— Por quê?

Olhei-o brevemente e ele abaixou seu olhar, respirou profundamente e eu acabei repetindo seu gesto.

— Minha mãe tocava piano muito bem. – disse após um tempo e virou-se de frente fitando a estrada. – Isso me faz lembrá-la e eu não gosto disso.

— Não gosta de se lembrar da sua mãe? – interroguei confusa e ele estreitou as sobrancelhas.

— Também não gosto de falar sobre ela. – rebateu ríspido e eu engoli em seco, calando-me.

— Então nada de piano? – perguntei cautelosamente e ele respirou profundamente.

— Como vou aprender a tocar aquilo? – indagou com um engraçado e ao mesmo tempo encantador semblante de confusão, sorri anasalado.

— Primeiramente você precisa ter um. – falei com obviedade e ele sorriu com certo escárnio.

— Eu estranhamente tenho.

— Eu fiz umas aulas, nada muito surpreende... – dei de ombros e ouvi-o sorrir anasalado. – Mas dá para impressionar um pouco.

— Conselheira amorosa e professora de piano. – ele disse divertido e eu olhei-o brevemente. – Se não der certo como bibliotecária, você pode tentar um desses.

Não pude conter uma gargalhada e ele sorriu discretamente, a tensão que antes me rondava sumindo e eu reconhecia o quão estúpido era andar me sentindo daquela maneira, até porque atração não me dava o direito de posse e desde o primeiro momento eu sabia que o Justin estava completamente a fim da Melanie, então precisava simplesmente aceitar e conviver com aquilo. Sabia que o desejo que eu andava sentindo pelo mesmo passaria em breve, aliás, não era nada demais, era tudo por causa da beleza surpreendente dele, e aquela era a razão pela atração forte que eu andava sentindo, mas eu logo superaria.

O resto da partida fora silenciosa, assim que chegamos ao destino estacionei em frente à biblioteca deixando a marcha do carro em ponto morto e o silêncio permaneceu por um tempo. Avistei o carro dele ainda estacionado em frente à Starbucks e olhei-o brevemente, ele ainda parecia distraído. Olhei para o relógio e faltavam poucos minutos para às nove, suspirei aliviada, pois sequer havia prestado atenção na hora e com sorte havia chegado adiantada.

— Chegamos. – avisei e ele ergueu a cabeça fitando aos arredores, me contive para não sorrir e ele olhou-me momentaneamente.

— Boa sorte com o trabalho, espero que dê certo. – disse sorrindo de lado e eu sorri abertamente.

— Obrigado. – agradeci ainda sorrindo e ele analisou meu sorriso momentaneamente, fechei-o e desviei meu olhar fitando a biblioteca que ainda se encontrava fechada.

— Obrigado pela carona e até mais tarde. – ele disse abrindo a porta e eu voltei a olhá-lo notando que o mesmo já havia colocado o capuz, observando-o saindo do carro.

— Até mais tarde. – murmurei, enquanto ele batia a porta com a força necessária e o mesmo me lançou um último olhar antes de começar a se afastar.

Fiquei distraída dentro do carro por um tempo indeterminado e acordei dos meus devaneios com outro carro estacionando ao meu lado, analisei-o e logo vi a Nancy saindo de dentro do mesmo e me apressei saindo também. Liguei o alarme travando as portas e esperei-a enquanto a mesma revirava sua bolsa e ainda não havia notado minha presença, quando finalmente encontrou as chaves – que eu suponho que fosse às chaves da biblioteca – ergueu a cabeça olhando diretamente para mim e sorriu simpática.

— Bom dia, Sav. – saudou-me aproximando-se e depositou um rápido beijo em minha bochecha.

— Bom dia. – rebati sorrindo de lado e ela parecia um bocado animada, me senti um pouco nervosa e respirei fundo repetindo mentalmente que tudo daria certo.

Caminhamos silenciosamente em direção à lanchonete e eu umedeci meus lábios rodando a chave do carro em meu dedo tentando me acalmar de alguma maneira. Involuntariamente olhei para o estacionamento da Starbucks e me deparei com a caminhonete do Justin ainda estacionada lá, estreitei minhas sobrancelhas e pude vê-lo dentro da mesma, sem o capuz e olhando na direção em que nos encontrávamos.

— Está animada? – ouvi a Nancy questionar tirando-me dos meus enleios e olhei-a brevemente.

— Bastante. – admiti e ela soltou um riso anasalado.

— Vai dar tudo certo, Sav. Relaxa.

Assenti positivamente, enquanto ela abria a porta da biblioteca e olhei novamente na direção do estacionamento à procura do carro do Justin e ele não estava mais lá. Comprimi meus lábios completamente confusa e balancei a cabeça vagamente. Virei meu rosto para frente e me deparei com a porta da biblioteca aberta, a Nancy já havia entrado e eu rapidamente fiz o mesmo.

— Você sabe como funciona certo? – indagou e eu assenti veemente com a cabeça.

Tudo o que precisava fazer era me manter atenta e em alguns casos os clientes vinham com a intenção de comprar um certo livro, contudo a maioria não sabia bem o que queria e eu precisaria dar algumas dicas e ajudá-los a encontrar algo que os interessassem caso se encontrassem perdidos. Teria que dá-los a devida assistência e cuidar cautelosamente da biblioteca, até porque haviam diversos livros ali, alguns poderiam até mesmo serem considerados relíquias – uma pitada de exagero – e correr o risco de serem roubados me custaria caro. Poucos alugavam os livros – eu era uma das poucas que faziam isso –, pois a maioria comprava-os para poupar o tempo e também para poder lê-lo mais vezes. Eu não os comprava, porque adorava ler tudo o que era livro e frequentar a biblioteca me fazia um bem enorme, sem contar que alugar de certa forma saía mais em conta. Então preferia sempre pegar um livro diferente, depois levá-lo e pegar outro, porque nesses passeios conseguia colocar minhas ideias no lugar e como não tinha muitos lugares para ir e os poucos que haviam, eu aproveitava arduamente e comprar um livro todo semana não era algo que estava ao meu alcance, até porque às vezes eu pegava livros que acabava não gostando e se comprasse estaria simplesmente jogando meu dinheiro fora. Nancy me explicou tudo o que na verdade eu já sabia, contudo era bom ela reforçar, aliás, mesmo parecendo fácil eu sabia que não seria tão simples assim, visto que mais uma vez teria que aturar as pessoas daquela cidade olhando-me enviesado e daquela vez não havia como fugir de atendê-los, até porque eu era a única que trabalharia ali. Após mais um pouco de conversa paralela, avistamos uma garotinha de uns doze anos adentrando a biblioteca e ela sussurrou um tímido “Oi” antes de sair aventurando-se pelos corredores e então Nancy voltou a me contar como andava a situação de seu pai que se encontrava bastante doente. Não cheguei a ver o Sr. Grayson muitas vezes, mas as poucas vezes que o vi e conversei com o mesmo já havia notado que se tratava de um senhor extremamente adorável e benévolo. Nancy tinha a simpatia dele e era por aquela razão que a mesma era um das poucas pessoas na cidade com que eu tanto conversava e, por mais que fosse mais velha, ela simplesmente conseguia me entender e muitas vezes já havia me dado conselhos valiosos – na época em que eu ainda namorava o Andrew.

Não demorou para que a garotinha viesse com um livro em mãos e um sorriso enorme em seus lábios.

— Oi Mia, o que você escolheu hoje? – Nancy questionou sorridente e a garota sorriu abertamente.

— A garota que roubava livros. – respondeu mostrando-nos o livro e eu sorri de lado analisando-a, ela era extremamente fofa e inocente, fazia com que eu me lembrasse de quando tinha sua idade e um amor irremediável por livros.

 — É um ótimo livre. – eu disse ainda sorrindo e ela olhou-me brevemente.

— Uma amiga da escola me indicou, estou ansiosa para lê-lo. – a garotinha, Mia, disse de modo tímido.

— É uma boa escolha. – Nancy replicou e a garota apertou os livros em suas mãos. – Mia, – voltou a dizer após um tempo e olhou-me momentaneamente. – essa é a Savannah. – apontou para mim e a garotinha abriu um sorriso encantador. – Ela vai ficar no lugar da Rachel.

— Oi Mia, é um prazer conhecê-la. – estendi minha mão educadamente e ela se aproximei depositando um beijo em minha bochecha. Sorri surpresa.

— Você parece legal, a Rachel era legal. – falou euforicamente e eu não conseguia parar de sorrir.

— A Savannah é bem legal, acho que vocês vão se dar bem. – Nancy comentou animadamente. – Sav, a Mia é uma das clientes mais fieis e ela aluga os livros como você.

 — Você também aluga os livros? – Mia questionou sorridente e eu concordei com um aceno de cabeça. – Achei que eu fosse à única que ainda fazia isso.

— Eu estava começando a achar o mesmo. – brinquei e ela deu uma gargalhada agradável.

— Você já leu A culpa é das estrelas? – interrogou e eu fiz que não com a cabeça. – Ah, meu Deus! Você precisa ler!

— Primeira indicação sua, lerei em breve.

— Você vai gostar! – proferiu convicta e eu soltei um riso anasalado. – É engraçado, interessante e extremamente emocionante.

— Já se deram bem. – Nancy sussurrou sorrindo e a Mia assentiu veemente, liberei uma breve gargalhada.

Ficamos conversando aleatoriamente durante um tempo e na maioria das vezes a Mia me perguntava como era ter dezoito anos e não estar mais morando na casa dos meus pais. Tentei passar a melhor imagem possível – mesmo minha vida sendo uma catástrofe – e quando ela perguntou com quem eu estava morando, não contei que era com o Justin, omiti a história dizendo que ainda morava com a minha melhor amiga, além do mais, não seria nada agradável contar que estava morando com um cara pouco conhecido – até mesmo por mim. Aquilo de certa forma não seria uma boa influência e o pouco que ela pudesse saber sobre mim e minha vida estúpida seria o melhor para ela. Após um tempo ela disse que precisava ir embora e eu registrei o aluguel do livro rapidamente, recebendo um sorriso satisfeito de Nancy ao ver que eu realmente levava jeito. Nancy passou boa parte da manhã comigo e quando deu 12h00, ela disse que eu podia procurar algum lugar para comer – eu teria duas horas de almoço e avisei -a que precisaria pegar dinheiro para comer alguma coisa e que depois ela simplesmente descontava do meu salário – e eu decidi ir para a Starbucks já que não estava a fim de ter que dirigir até a lanchonete do James, pois eu teria que ir lá depois do expediente e como eu só tinha uma hora de almoço, sabia que se fosse lá a Lauren começaria a falar pelos cotovelos e eu acabaria perdendo a noção da hora. Procurei pelo o livro A culpa é das estrelas que a Mia havia me indicado e me despedi de Nancy saindo da biblioteca e caminhando rapidamente na direção da Starbucks ao lado.

Adentrei o local e sentei-me à mesa mais reservada e coloquei meu relógio para despertar às 13h50, fui atendida por uma garçonete extremamente simpática e fiz o pedido antes de finalmente abrir o livro, começando a lê-lo atentamente. Com o decorrer das páginas que eu lia abismadamente, percebi que Mia estava completamente certa, pois aquele livro era realmente interessante, emocionante e um bocado engraçado, e eu me sentia cada vez mais instigada a continuar lendo-o. Tudo o que se tratava de pacientes com câncer acabava me envolvendo e não era à toa que Um amor para recordar era o meu filme – e também livro – favorito, e de certa forma descobrir que a Hazel tinha câncer fez com que eu estranhamente me lembrasse da Jamie, por mais que ambas fossem completamente diferentes. Quando meus donuts de chocolate, meus muffins recheados de morango e o choco chip frappuccino à base de café chegaram, eu os devorei enquanto ainda me mantinha focada no livro que me submergia cada vez mais, sentindo-me cada vez mais distante.

O pouco que havia conseguido entender com as páginas que havia lido e sobre o que se ocorreria no livro, o mesmo realmente tinha um enredo extremamente interessante e o tal de John Green tinha uma maneira única, juvenil, divertida e interessante de descrever a história. Encontrava-me fortemente fascinada e sequer prestava atenção ao que estava acontecendo ao meu redor, pois tinha minha atenção completamente voltada para o livro e nem ao menos percebi quando a garçonete havia recolhido as coisas que estavam sobre a mesa. Mas voltando ao livro, que estava sendo o primeiro há muito tempo que eu estava conseguindo facilmente ler, ao que tudo indicava Hazel Grace era uma garota que não queria ser definida pela sua doença. Ela não ficava remoendo o fato de estar doente e também não mergulha em autopiedade. Era forte, sarcástica, passional, carismática, com um humor peculiar, tratava a doença com despretensão e era muito realista. Hazel sabia que estava doente e que iria morrer mais cedo do que as outras pessoas, até porque segundo ela não existia realmente esperanças, somente a certeza de que 1º) Ela iria morrer logo e 2º) Ela deixaria pessoas tristes quando isso acontecesse. No entanto, por trás das tiradas sarcásticas era possível perceber tristeza e angústia em certos momentos. Que apesar de saber e aceitar o fato de estar doente, e não ter a certeza de quanto tempo ainda lhe restava de vida, Hazel não fazia o estilo garota-deprimida e era incrível a determinação que a mesma adotava, porém a mesma também continha seu lado frágil. Já o Augustus Waters era apaixonante, adorável e extremamente carismático. Seu maior medo era o esquecimento, dele e do que ele representou enquanto permaneceu vivo. Ele queria passar pela vida com algum significado, ele desejava deixar uma marca para que então as pessoas se lembrassem dele. Tinha medo de ser apenas mais uma vítima esquecida na guerra contra a doença. Augustus e a Hazel se conheceram num grupo de suporte a crianças com câncer em que ele frequentou a pedido de seu amigo Isaac, que teve um câncer ocular, e ela atrai a atenção dele imediatamente. Eles rapidamente se tornam amigos e quando estão juntos têm ótimos diálogos, reflexões interessantes – algumas vezes sobre a vida, a morte e o esquecimento – e conversas que evidenciavam a grande afinidade e intimidade que eles passariam a ter. E enquanto lia sem parar as páginas do livro, me encontrava cada vez mais interessada em continuar lendo, sentindo-me em outra dimensão e entrando completamente na história, e já tinha grande afinidade por Hazel e Augustus mesmo sem – ainda – saber qual seria o final da história de ambos.

Despertei de minhas abstrações e de minha leitura árdua com o barulho do meu relógio apitando histericamente e ergui minha cabeça completamente assustada, fitando todos os lados daquele lugar, percebendo que estava parcialmente movimentado e algumas pessoas me olhavam confusas por eu ainda não ter desligado o alarme que ecoava irritantemente no ambiente. Desliguei-o rapidamente e respirei fundo observando que já era hora de retornar ao trabalho, fechei o livro e chamei a garçonete, pedi para que a mesma fechasse a conta e fiquei aguardando-a.

Quando cheguei até a biblioteca Nancy estava pelos corredores dando uma checada nos livros e eu fiquei encostado ao balcão esperando-a, até que ela finalmente apareceu e me sorriu peculiarmente simpática. Avistei algumas pessoas adentrando a biblioteca e indo se aventurarem pelos corredores, Nancy puxou um assunto aleatório comigo e ficamos conversando animadamente, até que um garoto de aparentemente uns quinze anos veio até nós para executar a compra de um livro sobre um jogo de vídeo game estúpido.

 

— Eu preciso ir embora agora. – Nancy disse após um tempo e eu confirmei com um aceno de cabeça, olhei para o relógio e já era 15h00, sorri ao observar que em duas horas o expediente acabava e o dia havia sido bastante divertido. – Vou passar a noite no hospital com o meu pai.

— Tudo bem, diga a ele que desejei melhoras. – falei sorrindo sem mostrar os dentes e ela assentiu veemente com a cabeça.

— Amanhã a Melanie vai vir ficar na biblioteca em seu horário de almoço. – avisou-me e minhas sobrancelhas se estreitaram automaticamente. – Você finalmente vai conhecê-la e eu acho que vocês se darão bem.

“Eu duvido.” Ouvi minha consciência dizer e engoli em seco, estreitando minhas sobrancelhas novamente.

— Ah. – fora tudo o que eu disse e quando Nancy me olhou forcei um sorriso, por sorte a mesma não percebeu. – Eu espero que o fato dela ser politicamente correta não a impeça de ir com a minha cara. – brinquei tentando descontrair e Nancy soltou uma breve gargalhada.

— Ela é bastante amigável. – disse enquanto ajeitava a alça da bolsa em seu ombro, apenas sorri de lado.

“Fala sério!” Pensei.

Nancy se despediu de mim da mesma forma que havia me cumprimentado naquela manhã – com um beijo na bochecha – e depois que a mesma fora embora, a quantidade de clientes que atendi ajudou para que o resto do expediente passasse rapidamente, e quando finalmente me vi livre sorri abertamente notando que havia me dado bem e que até o momento nada havia dado errado. Sem papai tentando me derrubar, sem Andrew estragando meu primeiro dia de emprego e após terminar de cuidar de toda a segurança do meu mais novo e adorado local de trabalho, trancando-o com todo amor e carinho, senti-me ainda mais tranquila ao saber que pelo menos daquela vez havia conseguido terminar algo sem que aparecesse alguma coisa ruim para destruir tudo. Sorria debilmente enquanto caminhava na direção do meu carro – carregando em mãos o já tão precioso livro que eu estava decidida a ler inteiramente – e adentrei o mesmo, dando partida sem hesitação. Liguei o rádio colocando para tocar um CD de diversas músicas que Lauren havia feito para mim e cantarolava as que eu mais gostava, mantendo-me focada na estrada que me levaria até a lanchonete de James e assim que estacionei em frente à mesma, vi Lauren atravessar pela porta velozmente caminhando em direção ao meu carro. Mal saí e os braços de minha melhor amiga já estavam me esmagando em um abraço caloroso que apenas fez com que o sorriso satisfeito aumentasse em meus lábios, aliás, estava me sentindo extremamente bem.

— Sua maluca! Como você some e não me dá notícias? – questionou largando-me e colocando a mão na cintura, numa falsa postura de revolta.

— Sem drama, Lauren. – revirei os olhos e a mesma fez cara de afetada. – Como pode ver eu estou bem, está tudo inteiro e eu mandei bem no primeiro dia de trabalho na biblioteca.  

— Uhul. – disse dando palminhas e puxou-me para outro abraço apertado. – E onde você está? O Nolan não me disse, só disse que você estava bem e que eu não precisava me preocupar.

— Ah, ele... Ele não disse onde eu estou? – indaguei confusa e um pouco nervosa, ela fez sinal negativo com a cabeça e eu imaginei os sermões que ela me daria quando soubesse que eu estava na casa do Justin. Lauren surtaria!

“Que se dane.” Ponderei, além do mais, eu não tinha escolha. Teria que contar uma hora ou outra e seria melhor contar logo, ou então depois a reação dela seria mil vezes pior.

— Estou na casa do Justin. – respondi, ligeiramente.

A primeira reação dela fora me olhar como se eu tivesse três cabeças flamejantes. A segunda fora seus olhos se arqueando lentamente e seu semblante tomando uma expressão confusa e aborrecida que fora se tornando em irritada em uma fração surpreendente de segundos. Umedeci meus lábios e me preparei mentalmente para ouvir seus argumentos moralistas, suas ofensas e vê-la batendo o pé pedindo-me para sair da casa dele naquele exato momento. Contudo, antes que a mesma pudesse começar a surtar, avistei James se aproximando e o mesmo sorriu amigavelmente, tomando-me em um abraço apertado posteriormente.

— E aí, Sav. – falou sorridente. – Como foi o primeiro dia de emprego? O Andrew não apareceu por lá, certo?

Não pude conter uma risada sonora e ele me acompanhou, no entanto parei assim que me deparei com a figura esbravecida de Lauren parada atrás de Jimmy, fitando-me fulminantemente e se seus olhos fossem armas, sem dúvida, eu já estaria morta.

— Foi tranquilo e não, graças a Deus o Andrew não apareceu por lá.

— Que bom que deu tudo certo, a Nancy estava super animada e eu sabia que você acabaria se dando melhor lá.

— Obrigado, Jimmy. – agradeci sorrindo abertamente e ele balançou a cabeça negativamente.

— Sem essa, Savannah! Você sabe que não tem problema algum, até porque você também já me ajudou bastante e não quero que fique agradecendo, porque estamos quites agora.

— Tudo bem. – concordei erguendo minhas mãos em posição de rendida, ele sorriu abertamente.

— Vamos entrar para conversar, está frio aqui fora. – James replicou divertido esfregando os próprios braços e eu sorri de lado, olhei para Lauren e ela lançou-me um último olhar antes de se virar e marchar a passos rudes para dentro da lanchonete, deixando-me para trás na companhia do Jimmy que por sorte parecia não ter notado a revolta dela.

Nos sentamos em uma mesa distante e a lanchonete estava pouco movimentada naquele período, ficamos conversando paralelamente e a Lauren ficava olhando-me friamente em alguns momentos. Tentei ignorá-la ao máximo, contudo em alguns momentos ela simplesmente ultrapassava os limites jogando algumas indiretas ridículas sobre irracionalismo, falta de coerência e de burrice excessiva, o que era algo completamente infantil e ridículo, visto que eu não era mais uma criança e podia fazer da minha vida o que quisesse – isso incluía escolher com quem eu iria morar. Quase tive um ataque do coração quando o Jimmy precisou sair para resolver alguma coisa, deixando-me a sós com a Lauren malignamente infantil que voltou a me fuzilar com os olhos, como se estivesse esperando que de uma hora para outra eu começasse a dar explicações, entretanto daquela vez me mantive calada.

— Você sinceramente extrapolou todos os limites, Savannah. – chiou após observar que eu realmente não diria nada e eu olhei-a indiferente.

— Lauren, não venha dar uma de mãe para cima de mim, porque nem uma mãe de verdade eu tive. – rebati ácida e ela estreitou as sobrancelhas. – Eu sei que você vai falar que é loucura, imbecilidade e hipocrisia e quer saber? Eu concordo com você! Mas sabe o que eu não poderia fazer? Eu não poderia ter ido para a casa do Nolan e ter que ver meu pai fazendo com os Green’s o mesmo que ele fizera com você, então antes de você começar a me criticar, acho bom começar a me perguntar os meus motivos primeiro!

Vi seu semblante mudando lentamente, sua fúria se transformando em arrependimento e preocupação, contudo permaneci hesitante olhando-a sem poupar a revolta que aquelas atitudes dela me infligia. Em certos momentos ela poderia simplesmente deixar de ser compulsivamente controladora e começar a se lembrar de que eu não era mais uma criancinha inocente e que já tinha idade e responsabilidade o suficiente para tomar minhas decisões, e começar a arcar com as consequências delas.

— O que te faz pensar que ele não fará a mesma coisa com o Justin? – ela questionou menos rude e eu ergui uma sobrancelha, respirei fundo observando que ainda adotava minha expressão furiosa.

— Porque o Justin me disse com total convicção que papai não pode fazer nada contra ele. – contei suavizando ainda mais meu semblante e ela arqueou as sobrancelhas.

— E como ele tem tanta certeza disso?

— Eu não sei, mas ele parecia bem seguro disso.

— Isso continua não me parecendo uma boa ideia. – resmungou desviando seu olhar, adotando um semblante infantilmente emburrado.

— Lauren, vai ficar tudo bem, é temporário. – articulei na tentativa de acalmá-la, seus olhos me fitaram aflitos e eu sorri de lado, tentando confortá-la.

— Deixe meu número na discagem rápida e nunca tire o celular de perto de você, porque se algo ficar fora de controle, por favor, me ligue imediatamente.

— Lauren...

— Savannah eu conheço as histórias sobre o Justin e eu não sei se são verdadeiras ou não, porém eu não discordo do fato de que ele é um perigo de uma maneira ou outra. Então todo o cuidado é pouco e quero que me prometa que se em algum momento você não se sentir segura, vai cair fora, me prometa isso agora!

— Tudo bem, Lauren. – soprei revirando os olhos. – Agora fica tranquila que nada de ruim vai me acontecer.

— Assim eu espero. – sussurrou franzindo a testa e semicerrando as sobrancelhas numa expressão de crua apreensão.

James retornou a mesa e nós desconversamos engatando em outra conversa sobre o término do contrato de venda que o Jimmy estava fazendo com o Sr. Owen e que – finalmente – estava prestes a sair em poucos dias. Quando me dei conta da hora já passava das oito da noite e eu decidi que iria embora, aliás, estava começando a me sentir cansada por conta da noite mal dormida e precisava dormir mais cedo para repor minhas energias para o segundo dia de trabalho. Lauren e James me ajudaram a colocar minhas coisas dentro do porta-malas e eram tantas que algumas ocuparam os bancos de trás do carro. Depois de terminar de arrumar tudo, me despedi depositando um beijo na bochecha de cada um e entrei em meu carro acenando antes de iniciar a partida. Liguei o som novamente e dirigi tranquilamente, preparando-me para ter chegar até a casa do Justin e vê-lo novamente, lembrando-me do sonho e rezando mentalmente para que naquela noite eu conseguisse dormir tranquilamente. Eu precisava encontrar alguma maneira de deixar aquelas idiotices de lado e parar de me sentir tão incomodada quando ouvia o nome da Melanie, até porque era extremamente infantil e eu não deveria me sentir daquela maneira, aquilo simplesmente precisava acabar, e da mesma forma que eu estava ajudando o Justin, eu precisaria começar a me ajudar também.  


Notas Finais


Hey, girls. Cá estou eu com mais um cap de Paranoid e esse eu fiz bem grandinho para recompensar os atrasos nas postagens! Espero que entendam (vida corrida jovens, sei que podem me entender) e que não me batam por andar tão perdida alsjalk olhem, não consegui responder todos os comentários do cap 16, porque o lixo da minha internet estava bugando e não estava dando para responder :'( então, de coração, me desculpem as que eu não respondi. Quero agradecer pelos comentários do cap 17 (responderei-os) e por todo incentivo, leio cada um deles e eu amo todos, são incríveis! E muuuuuuuuuuuito obrigado pelos favoritos! Oh Deus! Na última vez que entrei aqui tinha 435 e agora já tem 442 :') Como eu já disse e repito: é uma honra imensa e eu fico imensamente feliz por ter vocês, vocês são leitoras incríveis e eu só tenho que agradecer minhas paranoicas divas <3 enfim, é isso aí, espero que gostem desse cap e próximo cap tem emoções... Se preparem! Beijão paranoicas, cuidado com a curiosidade e até a próxima postagem ;) ily girls. xoxo ;*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...