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História Paranoid - Nada como eu tinha imaginado.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Boa leitura e notas finais paranoicas!

Capítulo 19 - Nada como eu tinha imaginado.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Nada como eu tinha imaginado.

Quando estacionei em frente à casa do Justin fiquei dentro do carro por um tempo indeterminado, peguei meu celular que estava no porta-luvas e coloquei-o em meu bolso, porém permaneci admirando as áreas verdes ao redor e o lindo céu estrelado que me infligia uma calmaria branda. Estava me sentindo um bocado cansada e sentia meu corpo pedindo por uma superfície macia e aconchegante que me permitiria finalmente descansar da maneira que eu andava necessitando, contudo eu sabia que quando entrasse por aquela porta e desse de cara com o Justin – o que eu estava rezando para que não acontecesse –, eu não saberia como lidar com a situação e ainda por cima estava morrendo de fome, o que incluía o fato de que eu precisava comer algo antes de dormir e de um jeito ou de outro – querendo ou não – teria que falar com ele. Após minha cessão devota de orações para que eu não agisse peculiarmente estúpida quando passasse por aquela porta, decidi que já era hora de entrar e saí do carro cuidando da segurança do mesmo antes de caminhar apressadamente na direção da casa. Quando alcancei a varanda senti um vento quente bater em meu rosto e involuntariamente olhei para trás sentindo-me estranhamente observada e em seguida balancei minha cabeça negativamente, caçoando de mim mesma por aquela ideia absurda, aliás, ninguém ficaria me observando no meio do nada. Abri a porta e um delicioso cheiro de comida alcançou minhas narinas, embriagando-me e fazendo-me fechar meus olhos, inspirando profundamente em adoração ao cheiro maravilhoso que exalava pela residência. Senti minha boca encher d’água e umedeci meus lábios, caminhando normalmente na direção da cozinha e o cheiro se tornou ainda mais irresistível.

— Oi. – não demorou para que a rouca voz do Justin sussurrasse e eu me virei na direção da lavanderia me deparando com o mesmo cruzando a porta.

— Oi. – sorri de lado e ele repetiu meu gesto.

— Como foi no trabalho? – questionou caminhando até o fogão e eu analisei as panelas ao fogo que sem dúvida eram o pivô do cheiro maravilhoso que alastrava pela casa inteira.

— Foi ótimo e não apareceu ninguém lá para estragar. – brinquei e ele olhou-me momentaneamente por sobre os ombros.

— Isso é bom. – murmurou e em seguida voltou sua atenção para o que estava fazendo.

— Eu peguei minhas coisas com a Lauren, onde posso colocá-las? – indaguei aproximando-me do balcão e no primeiro momento ele permaneceu concentrado remexendo com uma colher de pau dentro de uma das panelas.

— Coloque-as no closet do quarto que você está. – respondeu desligando as bocas do fogão que estavam acesas. Virou-se em minha direção e eu involuntariamente desviei meus olhos fitando o balcão fixamente. – Você quer ajuda?

— Ahn. – pausei umedecendo meus lábios, aliás, havia muitas coisas e negar ajuda seria idiotice. – Sim, se não for incômodo, é claro.

Ele riu anasalado e eu repeti seu gesto inconscientemente.

— Vamos nessa, Savannah. – disse após um tempo me analisando.

Levantei-me depressa, caminhando na direção da sala com ele em meu encalço e seguimos em silêncio até o lado de fora onde se encontrava meu carro. Destravei o mesmo quando nos aproximamos e abri o porta-malas, dando visão às diversas malas e bolsas que haviam ali com meus pertences separados e senti o Justin encostando-se ao meu lado sorrateiramente.

— Isso tudo é seu? – interrogou duvidoso e eu fiquei um pouco envergonhada, aliás, era um verdadeiro exagero a quantidade de coisas que eu tinha.

— Sim. – repliquei após um tempo, abrindo a porta do carro e pegando as bolsas que estavam nos bancos traseiros, colocando-as ao chão e depois travando as portas novamente. 

Ele não disse mais nada e silenciosamente começamos a levar as malas até a varanda e depois às subiríamos até o quarto. Durante aquele período em que ficamos andando de um lado para o outro carregando meu exagero de coisas, eu notei que o Justin parecia irritantemente mais bonito a cada dia e lembrei-me que havia decidido que ajudaria a mim mesma a superar a atração que eu sentia pelo mesmo, contudo parecia se tornar cada vez mais difícil. Ele usava uma calça de moletom preta e estava com uma regata azul um tanto quanto desbotada, seus cabelos peculiarmente desgrenhados e em seus pés um par de chinelos simples. Durante toda aquela analise também observei que o jeito que ele caminhava quando estava usando roupas comuns era completamente diferente da forma que ele se movia quando usava o sobretudo, como se fossem pessoas diferentes e ele adotasse uma dupla personalidade – o que não seria assim tão assustador, já que ele era bipolar. Como se ele se tornasse o Justin – que poucos conheciam, mas que para mim era a sua personalidade mais intrigante e interessante – quando não estava todo coberto escondendo sua identidade do mundo e então se virasse o Creed – que todos temiam, até mesmo eu – quando utilizava aqueles trajes bizarros que cruelmente o escondiam da sociedade. A verdade era que o Justin tinha um poder estranho de me confundir mais do que qualquer outra pessoa já tivera, e o mistério por detrás de cada constatação que eu cegamente tentava constituir sobre ele – e as razões pelo mesmo ser tão enigmático – aumentava de forma massacrante fazendo com que eu me sentisse fracassada e cada vez mais perdida na nebulosidade ao redor dele que eu – estupidamente – tentava afastar, mas que parecia se tornar cada vez mais dominante e às vezes eu tinha a impressão de que a mesma andava impregnando-se ao meu redor também. Eu queria entendê-lo, mas desvendá-lo era como querer tocar em algo que na realidade sequer existia, era como querer entender algo complexamente ininteligível e talvez minhas tentativas acabassem me enlouquecendo, pois as insanidades por trás de tudo poderiam me exercer um impacto extremo e inimaginável, e eu não sabia se estava pronta para começar a cavar tão fundo a procura de algo que com grande probabilidade não me agradaria. Eu ainda queria saber o lado dele da história, ainda queria saber se ele havia mesmo causado a morte dos próprios pais, no entanto eu não sabia se aquelas descobertas me agradariam, não sabia se conseguiria lidar com qualquer que fosse a real história do ex-encapuzado que andava me fazendo sentir coisas mórbidas e um tanto quanto inaceitáveis. Eu queria ajudá-lo, mas não queria lidar com o fato dele ser, realmente, responsável por tudo o que o acusavam e temia aquilo incisivamente. Eu temia o passado do Justin tanto quanto temia o meu próprio passado, porque eu tinha plena consciência de que se ele houvesse mesmo cometido aquele atentado contra os próprios pais, não havia probabilidade alguma de eu ajuda-lo e eu sequer confiaria nele da forma insensata que eu andava confiando. Aquela descoberta poderia destruir todas as idealizações que eu havia estupidamente construído e mesmo boa parte de mim repudiando-a, eu sabia que era necessário desvendá-la independente de qual fosse à consequência que a mesma acarretaria.

Já estávamos subindo as coisas para o quarto e não havíamos trocado nenhuma palavra. O silêncio se instalava, enquanto em minha mente as suposições maquinavam, de forma massacrante, suposições que se tornavam cada vez mais indesejadas e obscuras. O Justin aparentava se sentir à vontade com a quietude e eu estranhamente também estava me sentindo mais confiante daquela maneira – até porque sempre que abria a boca na presença dele, acaba dizendo imbecilidades incabíveis.

— Quer ajuda para arrumar suas coisas? – ele questionou após terminarmos de subir todas as coisas e eu neguei com um aceno de cabeça, aliás, seria abusivo demais. – Tem certeza?

— Não precisa se preocupar, eu arrumo isso rapidinho. – repliquei sorrindo de lado e ele assentiu veemente com a cabeça. – Obrigado por me ajudar a trazer as coisas.

— Disponha. – sorriu de lado e eu repeti seu gesto. – Mas você deve estar com fome, então que tal jantarmos antes de você arrumar suas coisas?

Engoli em seco sentindo-me nervosa com a pergunta dele, imaginando o quão tenso iria ser nós dois sentados na mesma mesa, enquanto jantávamos silenciosamente e eu reconhecia que não aguentaria sustentar aquele silêncio por tanto tempo, até porque ficar calada perto dele imergia-me em devaneios que eu estava tentando evitar, mas que irritantemente não me abandonavam.

— Ahn – titubeei comprimindo meus lábios e balancei minha cabeça vagamente, tirando aquelas ideias estúpidas, aliás, eu estava morando na casa dele e uma hora ou outra teria que aprender a lidar com aquilo. – Claro, eu realmente estou com fome.

— Eu fiz macarrão com frango ao molho branco, espero que você goste. – ele avisou enquanto descíamos as escandas.

— Macarrão é uma das minhas comidas favoritas. – ressaltei animada e ele me analisou momentaneamente, sorri de lado e ele soltou um riso anasalado.

Atravessamos a porta da cozinha e o delicioso cheiro de comida invadiu minhas narinas novamente, senti minha barriga roncando e umedeci meus lábios sentindo minha boca salivar. Silenciosamente ajudei o Justin a arrumar a mesa na sala de jantar e depois levamos o macarrão – que eu havia colocado em uma travessa –, uma garrafa de Coca-Cola, os copos e a salada de brócolis que depositamos em um recipiente. Terminamos de arrumar tudo e depois de lavarmos as mãos nos sentamos à mesa e ele rapidamente começou a se servir. Permaneci hesitante no primeiro momento, analisando-o servindo-se com a comida e em seguida fora minha vez de fazer o mesmo. As primeiras garfadas se seguiram com o característico silêncio que havíamos mantido durante todo aquele tempo e em alguns momentos sentia o olhar do Justin em minha direção, mas quando eu o olhava ele se encontrava concentrado em seu garfo que revirava a comida no prato, seguidamente preenchendo-a com uma boa quantidade do macarrão, degustando-o posteriormente. O macarrão estava delicioso e mais uma vez – após ter provado seus deliciosos cupcakes – observei que ele tinha um talento culinário incrível, e mesmo eu tendo aprendido muitas coisas com a Carmen, acreditava que meus possíveis dotes culinários não eram nada perto dos do Justin. Quanto mais eu comia aquela deliciosa comida, mais me sentia instigada a continuar comendo-a e o silêncio já não me incomodava mais, pois toda minha atenção estava sobre o prato em minha frente cujo tinha uma refeição divina que já começava a saciar a fome que eu estava sentindo.

 — Gostou da comida? – ouvi o Justin questionar assim que terminei de engolir a última garfada e beberiquei o refrigerante antes de pensar em respondê-lo.

— Estava ótima, você cozinha muito bem. – elogiei sorrindo de lado e ele sorriu abertamente, quase suspirei, mas me contive ligeiramente.

— Fico feliz que tenha gostado. – falou ainda sorrindo e eu soltei um riso anasalado.

— Com quem você aprendeu a cozinhar tão bem? – questionei arqueando uma sobrancelha e ele liberou uma breve gargalhada sinfônica, sorri de lado avaliando-o invasivamente.

— Aprendi arriscando, tenho vários livros de receitas e sempre tento uma diferente.

— Uau, bastante esforçado. – brinquei e ele gargalhou novamente, sorri abertamente encontrando-me estupidamente encantada.

— Você sabe cozinhar? – interrogou sorrindo de lado e eu fingi uma expressão de pensativa, tirando-lhe outra gargalhada e estava feliz por estar conseguindo fazê-lo sorrir, e ele se encontrava tão tranquilo.

— Não tanto quanto você, mas dá para relevar. – respinguei zombeteira e ele riu anasalado.

— Seria legal se você cozinhasse qualquer dia. – disse sorrindo de lado e eu sorri abertamente.

— Olha, eu prefiro que você cozinhe. – incisei franzindo a testa e ele liberou uma risada sonora.

— Aposto que você deve ser melhor do que eu, porque eu sou só um cara que segue receitas e toda mulher, querendo ou não, têm um dom culinário incrível.

Não pude evitar uma gargalhada e ele me acompanhou por um tempo, quando a breve crise cessou fitei-o e ele sorriu de lado meneando veemente a cabeça.

— Nem todas Justin, não se iluda sobre isso. – contestei divertida e ele gargalhou.

O silêncio se instalou novamente e nós ficamos nos analisando por um tempo.

— Você deve estar cansada. – disse levantando-se e começando a recolher as coisas da mesa para levar até a cozinha.

— Um pouco. – admiti levantando-me para ajudá-lo.

Levamos tudo para a cozinha e tinha uma pouca quantidade de louça na pia, pensei em ir lavar, mas o Justin se apressou e começou a lavá-la antes que eu pudesse ao menos chegar perto. Olhei o relógio na parede da cozinha e marcava 22h30, já estava me sentindo sonolenta, contudo ainda não queria ir dormir.

— Você tem direito a horário de almoço? – Justin questionou após um tempo e enquanto ele lavava as louças, eu as secava e colocava sobre o balcão.

— Sim. – respondi prontamente.

— E quem fica na biblioteca quando você sai?

— Hoje foi a Nancy, mas amanhã... – travei assim que me recordei e umedeci meus lábios sentindo o estranho desgosto me dominando. – Amanhã a Melanie vai ficar lá.

— A Melanie? – indagou olhando-me surpreso e eu confirmei com a cabeça, sorrindo forçado.

— Você acha que seria uma boa ideia tentar falar com ela amanhã?

Fitei-o pasma e engoli em seco posteriormente. Procurei por um bom argumento e lembrei-me que havia decidido começar a me ajudar a superar aquelas estupidezes que andavam me dominando.

 — Se você estiver preparado, acho que seria uma oportunidade indispensável. – respondi forçando um sorriso de incentivo e por sorte ele não notou o bocado de apreensão que me dominava. – Você já tem alguma ideia de como vai se aproximar dela?

— Andei pensando em algumas coisas e com base nas informações que você me deu criei algumas táticas que talvez funcionem. – replicou sorridente e eu confirmei veemente, fitando-o brevemente observando o quanto ele estava radiante e visivelmente ansioso.

Desviei meu olhar rapidamente, sentindo-me incomodada.

“Não seja idiota, você sabia disso desde o início.” Refleti e respirei intensamente.

— E as aulas de piano? – interroguei quebrando o silêncio.

— Podemos começar amanhã quando você chegar. – rebateu voltando a lavar a louça e eu voltei a secá-las, tentando afastar os pensamentos desnecessários.

— Sobre você ter decido ir falar com a Melanie amanhã, – comecei engolindo o descontentamento. – o que você vai vestir para a ocasião?

— Como você acha que eu deveria ir?

— Se você aparecer lá com o sobretudo, ela provavelmente vai sair correndo.

Vi-o torcendo os lábios e voltei minha atenção para os pratos que eu estava secando.

— Então você acha que eu deveria ir sem o sobretudo? – examinou e eu rapidamente confirmei com a cabeça.

— Eu não sei se estou pronto. – assumiu e eu estreitei minhas sobrancelhas, fitando-o confusa.

— Justin, eles nem vão saber quem você é se for lá sem o sobretudo. – eu disse franzindo a testa e ele fitou meus olhos profundamente.

O mesmo franziu a testa e eu sustentei seu olhar tentando transpassar certa confiança para ele, contudo ele parecia um bocado vacilante e indeciso.

— Então eu devo ir lá sem o sobretudo? – questionou visivelmente nervoso.

— Você não precisa se preocupar com isso, Justin. – assegurei largando o pano de prato e olhando-o atentamente. – Isso vai ser temporário, você só precisa conquistar ela e quando vocês já tiverem certa intimidade, você conta.

— E se quando eu contar ela desistir?

— É por esse motivo que você precisa conquistá-la, Justin. Se você mostrar que você não é nada do que os outros te acusavam de ser, talvez ela não se sinta intimidada quando souber a verdade.

— Será mesmo que isso dará certo? – indagou titubeante e eu franzi meu cenho.

— Você precisa arriscar. – murmurei fitando seus perfeitos glóbulos cor de mel que demonstravam total confusão e após um tempo hesitante ele maneou a cabeça, concordando com o que eu havia dito.

— Parece uma boa ideia. – sussurrou e eu sorri de lado. – Eu espero que dê certo.

— Só depende de você. – rebati e em seguida umedeci meus lábios.

Voltei a secar a louça, enquanto meus pensamentos vagavam distantes. Tentei imaginar meu primeiro encontro com a Melanie, mas acima de tudo tentei imaginar o primeiro encontro deles dois. Boa parte de mim parecia insatisfeita com algo que na verdade eu não reconhecia e, honestamente, eu queria que as coisas dessem certo entre ele e a garota que ele tanto queria, contudo havia uma parte minha que rejeitava aquilo fortemente e outra parte, tampouco, gostava do fato de eu estar tão incomodada. Eu simplesmente não deveria me preocupar e eu havia deliberado que o ajudaria com aquilo, que o ajudaria até que se sentisse seguro – e por mais que eu não houvesse precisado ter feito muito – e eu sabia que aquele momento chegaria, que ele iria finalmente tentar. Entretanto, por que será que eu não estava feliz por ele? Por que será que me parecia tão incomodo e importuno? Eu não conseguia entender o porquê daquilo, não entendia o porquê daqueles sentimentos e sinceramente não queria entendê-los. Não havia razão por eu estar tão estranha nos últimos tempos, não havia razões por eu não estar contente por ele e, de uma vez por todas, eu precisava dar um basta em toda aquela situação ridícula.

Quando o Justin terminou de lavar a louça e eu terminei de secá-las, ele passou a guardá-las e eu fiquei somente observando-o enquanto minha mente ainda vagava longínqua. Assim que tudo na cozinha já se encontrava organizado, o mesmo fez sinal com a cabeça para que eu o seguisse até a lavanderia e, em silêncio, eu me mantive em seu encalço até que ele se sentasse e eu permaneci em pé. Observei-o ligando a TV e zapeando os canais a procura de algo supostamente interessante, parou na ESPN onde estava passando um jogo de basquete pouco interessante e se manteve em silêncio analisando a televisão atentamente.

— Então – quebrei o silêncio e pigarreei chamando a atenção dele que me fitou questionador. – Acho que já vou dormir, porque ainda preciso arrumar minhas coisas e amanhã acordarei cedo.

— Tem certeza que não precisa de ajuda?

— Não, não precisa se preocupar. – ressaltei negando veemente com a cabeça.

— Tudo bem, Savannah. – concordou rapidamente e sorriu de lado, repeti seu gesto.

 Virei-me na direção da escada e antes que subisse o primeiro degrau ouvi o Justin chamando meu nome e me virei erguendo minhas sobrancelhas numa expressão duvidosa.

— Que horas a Melanie vai chegar à biblioteca amanhã? – questionou e eu inconscientemente franzi minha testa.

— Meu horário de almoço é meio-dia, então acho que provavelmente ela chegue meia hora antes ou talvez até mais cedo.

— Onde está o seu celular?

Involuntariamente franzi meu cenho e soltei um riso anasalado, peguei o celular em meu bolso e mostrei-o para ele que se levantou, caminhando em minha direção. Pegou o aparelho da minha mão e mexeu nele por um tempo, logo após o devolveu e mirou meus olhos.

— Anotei o meu número para você me mandar uma mensagem quando ela chegar e para o caso de você precisar em outra ocasião... – hesitou momentaneamente – Não tem problema algum.

— ‘Tá bom. – concordei forçando um sorriso e ele sorriu sem mostrar os dentes, em seguida caminhou até o sofá e sentou-se novamente.

Dei uma analisada no visor do meu celular me deparando com o número dele gravado em minha agenda com o nome: Justin Bieber. Sorri de lado ao observar que naquele momento também havia descoberto seu sobrenome e após um tempo absorta, finalmente comecei a subir as escadas, mantendo minha atenção no visor do celular, abismada com o fato de ter o número do Justin ali. Era irritante – e impressionante – o quão estúpida e infantil eu me sentia diante de toda aquela situação, e por mais que eu quisesse simplesmente – de uma noite para o dia – superar aquilo, era como se a situação estivesse ficando cada vez mais complicado do que eu realmente costumava considerá-la. Quando cheguei até o meu quarto, adentrei-o e tranquei a porta do mesmo – confesso que por insegurança –, caminhando na direção das minhas malas e analisando-as desanimadamente. Peguei os fones de ouvido e coloquei-os, ligando as músicas no aleatório e começando a dar início à organização dos meus pertences naquele closet espelhado imenso. Minhas coisas couberam lá e ainda sobrou um espaço consideravelmente grande, aproveitei para separar a roupa para usar no dia seguinte – deixando-as sobre o divã – e após terminar de arrumar tudo, peguei um pijama e caminhei até o banheiro. Não demorei muito no banho e aproveitei para colocar minhas ideias no lugar, para tentar me entender – uma tentativa falha – e conversei um pouco comigo mesma, pois andava me sentindo tão perdida e não ter a Lauren por perto já estava começando a me enlouquecer. Vesti-me dentro do banheiro e quando saí do mesmo, liguei o aquecedor – até porque a noite estava um tanto quanto fria. – e me deitei. Não sei por quanto tempo exatamente permaneci fitando o teto fixamente e quando o sono finalmente me entorpeceu, a última coisa que me veio na memória fora o sonho da noite anterior.

Justin’s Point of View.

Acordei cedo naquela manhã, porque precisava ir até concessionária do Damon para buscar o carro que era um presente de aniversário de dezoito anos que papai havia programado quando eu ainda só tinha oito anos e que, honestamente, inicialmente eu não estava querendo ficar com o mesmo, mas naquele instante havia voltado atrás em minha decisão e decidi que o certo seria ficar com o automóvel, até porque ele já me pertencia. O Damon – um senhor de 56 anos que era um grande amigo do meu pai e que era um dos poucos que eu conversava civilizadamente – havia deixado o carro guardado em sua concessionária – que após sua aposentadoria, seu filho Brian havia herdado –, enquanto eu decidia o que iria fazer com o mesmo e naquela manhã, com toda a certeza, havia surpreendido-se com a minha ligação avisando que eu aceitaria ficar com o carro. Pedi uma carona ao Nolan e durante o caminho ele ficou me perguntando como estava sendo ter a Savannah morando em minha casa, porém aquilo não era o assunto que eu mais gostava de abordar, além do mais nos últimos tempos andava mais confuso do nunca. Para ser franco, eu estava tentando entender qual era o problema comigo e porque nas últimas 48 horas eu simplesmente não conseguia tirar meus olhos da Savannah e ser dominado por sensações desconexas e confesso que desde o primeiro momento eu soube que não era uma boa ideia levá-la para morar comigo – 1°) porque sou um problemático perigoso. 2°) porque eu sinto uma forte atração por ela. 3°) porque eu sabia que isso ia ser extremamente complicado. –, mas eu não poderia simplesmente deixá-la na rua no momento em que ela mais estava precisando e como uma hora ou outra eu teria que retribuir a ajuda que ela estava me dando, achei aquele momento apropriado para fazer aquilo. No entanto, as coisas pareciam piores a cada segundo em que ela estava diante dos meus olhos, porque eu inexplicavelmente não conseguia mais lutar contra os pensamentos e as sensações que me dominavam quando ela estava por perto e, sequer, havia me esquecido da noite em que eu havia visto-a usando minha camiseta dos Lakers. E aquilo era um problema, um imenso problema. Eu deveria ter tido consciência do tamanho da burrice que era levar uma garota – principalmente uma garota tão bonita como a Savannah – para morar comigo, e não somente por causa da minha falta de confiança em meus instintos masculinos que, estranhamente, nos últimos tempos pareciam incontroláveis, mas sim, por eu ter a total consciência de que não era certo por causa do perigo que eu representaria na vida dela a partir do momento em que ela aceitasse viver sob o mesmo teto que eu. Mas com a Savannah as coisas funcionavam tão diferentes e eu não me recordava de já ter me sentido assim em relação a outra pessoa antes, não me lembrava de já ter sentido a necessidade de ajudar alguém da forma que eu senti quando a vi completamente vulnerável e perdida naquele parque, completamente desprotegida. Eu não sabia explicar o que andava me acontecendo e aquilo de certa forma estava começando a me incomodar profundamente, estava começando a me infligir coisas incompreensíveis e que em certos momentos me pareciam extremamente desnecessárias. Eu me encontrava mais confuso do que nunca e era por aquela razão que precisava acabar de uma vez por todas com aquilo, era por aquela razão que precisava tomar logo uma decisão, antes que eu cometesse alguma loucura e estragasse tudo.

Me sentia ansioso, nervoso e perdido com todas as informações recentes, me sentia inseguro, mas eu sabia que era o certo a se fazer, eu sabia que precisava descobrir de uma vez se daria certo com a Melanie para só então tomar outros tipos de decisões concretas e irreversíveis. Ultimamente eu não andava confiando tanto em mim mesmo e temia por alguma atitude incoerente de não conseguir me segurar, e acabar fazendo alguma tolice. A Savannah era uma das melhores pessoas que eu havia conhecido – além dos Green’s – e eu não tinha o direito de usá-la em momento algum. Entretanto, parecia cada dia mais difícil resistir ao seu charme, aos seus brilhantes olhos castanhos que sempre me fitavam com uma intensidade atormentadora e a sua beleza fascinante. Parecia cada dia mais difícil ignorar suas curvas sedutoras e suas feições delicadas de garota ingênua – talvez nem tão ingênua assim – e tão encantadoramente bela que não havia como não me surpreender com sua beleza excêntrica. Ela tinha um dos sorrisos mais belos que eu já havia visto em toda minha vida, um jeito tão único e enlouquecedor de curvar seus belos lábios avermelhados de forma tentadora e embriagante, e era cada dia mais difícil resistir. As quase imperceptíveis sardas em seu rosto era o que completava sua beleza cativante, somando-se com cada detalhe impecável de um ser divinamente belo, transformando-a em uma das mais belas garotas que eu jamais – em hipótese alguma – poderia imaginar que se aproximaria de mim por vontade própria. Eu me sentia ainda mais atraído e aquilo era um problema, um grande problema, pois eu não sabia o quanto mais poderia me controlar. Lutava fortemente para não ceder aos desejos insanos que andavam me dominando, lutava vigorosamente para não me deixar levar por sua gargalhada melodiosa, seu corpo pecaminosamente escultural e ao aroma de baunilha que exalava de sua pele. A Savannah era maravilhosamente linda – e extraordinária – e eu não tinha o direito de usá-la simplesmente por estar sentindo um desejo inaceitável por ela, eu precisava aprender a aceitar o fato de que seríamos apenas amigos e já que eu tinha plena certeza de que era a Melanie quem eu queria, eu não podia estupidamente usar uma garota para depois descartá-la e ainda mais quando a garota em si era uma das mais gentis e incríveis que eu já havia conhecido. Eu gostava de tê-la por perto, gostava da forma como ela sabia lidar comigo quando eu estava tendo os meus surtos e eu sentia que precisava mantê-la perto até que eu finalmente aprendesse a confiar mais em mim mesmo e me sentisse confiante o suficiente para seguir sozinho. Eu gostava de quando a mesma me elogiava e me incentivada, de quando ela tentava me motivar utilizando uma convicção e uma confiança tão intensa e talvez fosse por aquela razão que eu andava tão confuso em relação a tudo, pois a Savannah além de ser incrivelmente bela era a garota mais formidável e amigável que havia me aceitado pelo o que eu era, mesmo sem nem ao menos me conhecer e que mesmo sabendo sobre todas as coisas cujo eu era acusado, não me recriminava por isso e sim, tentava me ajudar a superar tudo. Eu também não a conhecia muito, mas inexplicavelmente já tinha certa confiança pela mesma, uma confiança – que mesmo ainda sendo mínima – fora o que me fizera convidá-la para morar em minha casa, pois eu queria conhecê-la melhor, queria entender o porquê dela não ter medo de mim, o porquê dela não me rejeitar como todos os outros faziam. A Savannah era um dos maiores enigmas que eu queria desvendar e já que ela estava tão disposta em me ajudar, eu estava disposto a retribuir. 

Adentrei o grande estabelecimento em minha frente após me despedir do Nolan e agradece-lo pela carona, e logo avistei o Sr. O’Donnell detrás do balcão.

— Sr. Bieber. – Damon me saudou assim que entrei em seu campo periférico e eu simplesmente sorri de lado.

Ele me conhecia desde que eu era pequeno, então não havia precisão alguma de me esconder em meu sobretudo quando se tratava de uma visita a casa dele. Aproximei-me e o mesmo parecia estar revirando algumas coisas antigas, dei uma longa analisada no ambiente avaliando os diversos carros – cobertos por panos brancos – que haviam ali.

— Fiquei surpreso quando me ligou avisando que finalmente aceitaria o carro. – ouvi-o dizer após um tempo, fechando a caixa onde antes estava revirando e finalmente olhando-me, sorriu cordialmente e eu forcei um sorriso.

Honestamente, não me agradava nem um pouco falar sobre papai ou mamãe, no entanto era irritante a forma como sempre havia alguma coisa que me fizesse lembrar deles. Tentava manter as lembranças sobre os mesmo o mais longe possível, porque elas faziam com que eu me sentisse culpado e por mais que eu não me lembrasse do dia do acidente, boa parte de mim sentia-se culpada mesmo sem saber os verdadeiros acontecimentos de um dos episódios mais trágico da minha vida. Mamãe e papai eram ótimos apesar de serem bastante ausentes e viverem viajando de um lado para o outro por conta do trabalho. Papai era um grande engenheiro civil – por isso morávamos no Forest Park, pois ele sempre gostou de lugares mais reservados e com o tempo eu comecei a gostar igualmente. – e mamãe era administradora de uma empresa de cosméticos altamente conhecidos, e segundo meu tio Steve, no dia do acidente eles estavam saindo para passarem uma semana em uma cabana de papai que ficava a 40km de onde morávamos. Estavam precisando de um tempo para eles, para curtirem um ao outro e pediram para que o Steve cuidasse de mim até que eles voltassem, e aquilo era tudo o que eu me lembrava daquele dia. Não me recordava de já ter sido tão problemático quando era somente uma criança, porque eu só comecei a notar as diferenças em mim após um tempo, mas precisamente no meu aniversário de quinze anos. Fora a partir desse dia que minha vida mudou completamente e eu sinceramente não gostava de me lembrar daquele dia, não gostava de me lembrar do quão pé-frio e perturbado eu era. Procurava não enxergar tanto as – imensas – dificuldades – e defeitos – da minha vida, até porque as vozes faziam questão de estarem sempre me lembrando de tudo e me culpando arduamente. O mais irritante era que elas vinham nos momentos mais inusitados e inapropriados, e por mais que Steve houvesse feito de tudo para que eu me lembrasse de que elas não eram reais e através disso conseguisse controlá-las e ignorá-las, às vezes eu me deixava ser levado demais e acabava ficando meio fora de controle. No entanto durante os dois ataques que eu tive na presença da Savannah, inexplicavelmente, não havia necessitado tomar os remédios para me controlar, pois o fato dela estar ali me mostrando à realidade e tentando me ajudar, fez com que eu passasse a ignorar e superar aquilo momentaneamente. Sentia-me intrigado com a maneira que aquela garota se esforçava para lidar comigo em qualquer momento e podia perceber em sua atitude – e muitas vezes na tensão que emanava de seu corpo – que haviam momentos que ela nem ao menos sabia o que fazer, mas mesmo assim sempre acabava fazendo alguma coisa por mim e quer saber? Talvez aquela fosse à razão por eu estar tão atraído por ela, até porque ninguém procurava me entender do jeito que ela fazia, ninguém procurava me ajudar e em todos aqueles quesitos a Savannah estava surpreendendo-me de maneiras incríveis. Ela estava constantemente querendo ajudar, querendo me entender e aquilo era surpreendente, era fascinante. Ela era uma das garotas mais surpreendentes que eu já havia conhecido e confesso que se eu não fosse – por tanto tempo – tão interessado na Melanie, ela seria o tipo de garota por quem eu me interessaria facilmente. Sinceramente, ela era o tipo de garota que fazia o tipo de qualquer cara. Linda, charmosa, solidária, compreensiva e por mais que houvesse feito tantas coisas erradas no passado, ela costumava ser tão doce e inocente na maior parte do tempo, que nem ao menos dava para acreditar que ela já havia enfrentado aquele estágio baixo de sua vida. Me surpreendia o fato de eu nunca ter a visto antes, pois confesso que durante bastante tempo precisei de alguém que agisse comigo daquela maneira, confesso que sempre quis ajuda, entretanto nunca acreditei que em algum momento a encontraria. De certa forma, a Savannah estava se demonstrando algo que eu havia esperado por um longo tempo e era por aquela razão que eu não queria fazer nada que a fizesse querer se afastar de mim, porque eu queria mantê-la por perto mais tempo, porque eu não queria perder o que quer que fosse que existisse quando estávamos próximos e eu inexplicavelmente me sentia normal, não me sentia um alienado. Durante muito tempo vivi me culpando e sendo culpado, durante muito tempo eu fugi de qualquer tipo de aproximação e naquele momento, tudo o que eu mais queria era manter qualquer vestígio de coisas boas que ultimamente andavam me cercando.

— O carro está em ótimas condições, Brian cuidou dele durante todo esse tempo. – ouvi a voz do Damon entrando em meus devaneios e retornei para a realidade, observando que estava olhando fixamente para a parede, enquanto minha mente vagava distante.

— Agradeça-o por mim. – pedi sorrindo de lado e ele soltou um riso anasalado, acabei repetindo o gesto.

— Pode deixar e o carro está ali, – apontou para o penúltimo carro do lado esquerdo, começou a caminhar e eu o segui.

— Onde o Brian está? – questionei enquanto nos aproximávamos do carro.

— Na faculdade. – respondeu e eu ergui minhas sobrancelhas numa expressão de surpreso. – Agora que ele terá que cuidar do negócio da família, está estudando administração.

— Isso é ótimo!

— Sim. – rebateu rapidamente e fitou-me brevemente. – E você? O que está fazendo?

— Só cuidando de mim mesmo.

— É bom que seu pai tenha deixado um bom patrimônio para você, Justin. – comentou quando finalmente nos aproximamos do carro e eu confirmei com um breve aceno de cabeça. – Mas em algum momento você pretende fazer algo?

— Estou planejando isso. – repliquei sorrindo de lado e ele concordou veemente com a cabeça.

Não demorou para que ele puxasse o lençol de cima do carro e eu não pude evitar um grande sorriso quando avistei-o. Me arrependi imediatamente por não ter o pego antes, mas eu estava evitando ter tantas coisas que estupidamente me trariam lembranças que eu simplesmente queria afastar, contudo, ver aquele carro maravilhoso diante dos meus olhos fizera com que eu facilmente quisesse entrar no mesmo e mantivesse-o aos meus cuidados, pois eu saberia conservá-lo melhor do que ninguém. Caminhei ao redor do veículo admirando-o de todos os ângulos e o sorriso em meu rosto inexplicavelmente aumentava.

— Maneiro. – fora tudo o que eu consegui dizer após um tempo e ouvi o velho Damon rir da minha reação.

— Jeremy disse que quando você fizesse dezoito anos era para eu lhe dar o meu melhor carro e esse sem dúvida é um dos melhores. – contou a velha história novamente e eu soltei um riso nasalado. – Era um debito, seu pai foi um grande homem, Justin.

— Eu sei. – rebati cabisbaixo e voltei a analisar o carro, mantendo-me distante de distrações. – Eu já posso levá-lo?

— Mas é claro. – pronunciou entregando-me a chave do carro e eu comemorei infantilmente, destravando as portas do mesmo e avaliando o interior, sentindo-me cada vez mais fascinado. – A documentação está no porta-luvas, está tudo certo e você não vai precisar se preocupar com nada.

— Muito obrigado, Sr. O’Donnell. – agradeci sorridente e ele assentiu energético.

Troquei mais algumas palavras com Damon antes de finalmente decidir ir embora – além do mais, já era 11h30 e eu tinha um compromisso a partir das 12h00 – e saí de lá dirigindo meu Cadillac CTS-V, sentindo-me revigorado e animado. Toda aquela inquietação também era devido ao encontro com a Melanie que – provavelmente – aconteceria em poucas horas e eu precisava me preparar para não estragar tudo. Enquanto dirigia, esquematizava algumas táticas para o caso de ela fazer o tipo difícil e por mais que eu não soubesse lidar tanto com as garotas, eu tinha certa experiência – teórica – que simplesmente precisaria colocar em prática.

Não estava tão distante da biblioteca quando recebi uma mensagem e assim que parei no sinal vermelho, peguei meu celular lendo-a e me sentindo ainda mais inquieto.

A Melanie acabou de chegar à biblioteca, esteja aqui assim que eu estiver saindo para o almoço.

Xoxo, Savannah.

Aproveitei para anotar o número da Savannah em meu celular e quando o sinal abriu continuei a partida de forma tranquila, até que eu finalmente chegasse até o meu destino e estacionei em frente à Starbucks, saí do carro e encostei sobre o mesmo sentindo-me menos incomodado pelo o movimento ainda estar tranquilo, mas sabia que não demoraria para que diversas pessoas começassem a aparecer por ali. No entanto, elas não me conheciam, não sabiam quem eu era e eu não precisava me preocupar com aquilo, não precisava estar tão nervoso. Minhas mãos soavam frias e meus olhos permaneciam grudados na porta da biblioteca cujo eu esperava ansiosamente que fosse aberta. Minhas pernas movimentando-se energeticamente e algumas pessoas que passavam por ali – e que estavam na Starbucks – me olhavam intrigadas, com toda certeza o motivo era por nunca terem me visto antes e me senti menos tenso, pois pela primeira vez em minha vida não estava recebendo olhares recriminatórios e sim, curiosos. Quando avistei a porta da biblioteca sendo finalmente  aberta, senti meu corpo travando-se e assim que avistei a linda figura com silhuetas tentadoras e uma beleza perturbadora caminhando descontraidamente para fora, senti todos os meus sentidos sendo lentamente congelados. Senti minha boca secar e involuntariamente coloquei minhas mãos trêmulas dentro do bolso da calça jeans, pois era impressão minha ou a Savannah estava inexplicavelmente mais bonita naquele momento? Senti-me nervoso com a constatação e a admiração que meus olhos tinham sobre a beleza da garota que naquele instante encarava as ruas como se estivesse procurando por algo e quando seus olhos vieram em minha direção – mesmo com toda aquela distância – me senti ainda mais inquieto.

“Você não pode tê-la.” Ouvi uma das vozes sussurrar em meu ouvido e apertei meu punho dentro do bolso da calça.

— Você não pode tê-la. – repeti o que a voz disse em minha mente e umedeci meus lábios desviando meu olhar invasivo da direção dela, fitando a porta da biblioteca atentamente.

Contudo, ficou ainda mais difícil não notar a Savannah quando ela começou a caminhar apressadamente em minha direção, movimentando seu corpo de forma irritantemente sedutora e até quando a mesma jogou o cabelo peculiarmente para o lado, aquilo estranhamente se tornou um afrodisíaco mórbido. Comprimi meus lábios e comecei a discutir mentalmente comigo mesmo, esbravejando-me por ser tão idiota, e por estar mais uma vez sucumbindo aos desejos da carne ao invés de pensar com racionalidade. Quando ela finalmente se aproximou de mim, parou em minha frente e me analisou de cima a baixo completamente surpresa e eu suspirei profundamente, pois admito que gostava da maneira que ela me olhava, gostava da profundidade e do mistério que havia em seu olhar. Avistei um sorriso um tanto quanto sacana no canto de seus lábios e aquilo fez com que todo o autocontrole que eu havia conseguido acumular fosse por água a baixo e eu tive que me esforçar para resgatá-lo, antes que não conseguisse mais disfarçar.

— Ela está lá dentro. – ela disse após um tempo e eu sorri de lado, adorava a voz dela também, o tom doce que a mesma tinha com uma pitada de rouquidão em certos momentos que fazia de seu timbre um dos mais sexys.

“Não seja estúpido.” Pensei chutando-me mentalmente.

— Será que isso vai dar certo? – interroguei titubeante, mas aquilo não era por medo, tinha outra razão por eu estar tão indeciso, mas eu não sabia o que era.

— Você só precisa surpreendê-la, lembra?! – ela disse com obviedade e eu lhe lancei um olhar censurador, tudo o que ela fizera fora dar de ombros.

— Tudo bem, eu vou lá. – falei convicto e ela sorriu de lado, um sorriso que pareceu forçado, no entanto deveria ser somente coisa da minha cabeça.

— Boa sorte. – ela disse aproximando-se e depositando um beijo rápido em minha bochecha, franzi minha testa ao sentir seu lábio quente e macio entrar em contato com a minha pele e os pelos da minha nuca enrijeceram ligeiramente.

“Tudo bem, quando isso acontece não é um bom sinal.” Refleti sentindo-me triplamente nervoso.

Quando ela se afastou, vi que a mesma parecia confusa e talvez ela, simplesmente, houvesse agido por impulso. Forcei um sorriso na expectativa de tranquiliza-la e por sorte funcionou, admirei-a sorrindo timidamente e afastando-se alguns passos.

— Acho que isso vai ajudar. – brinquei e vi um sorriso imenso se alastrar em seus lábios avermelhados, respirei profundamente sentindo-me dolorosamente mais atraído por ela do que nunca.

“Isso é loucura, você não pode tê-la.” Ouvi a voz dizer em minha mente novamente.

“Eu não posso tê-la.” Pensei deixando-me ser levado por aquele pensamento, além do mais, eu não podia mesmo. Pois o que quer que eu sentisse pela Savannah não era o suficiente e eu não queria usá-la, eu jamais iria usá-la e era aquilo que eu deveria me lembrar sempre, era por aquela razão que meu autocontrole precisava ser sempre constantemente conservado.

— Agora vai lá e eu vou estar aqui na Starbucks. – avisou apontando para o estabelecimento.

— ‘Tá bom. – concordei sorrindo de lado e dei uma última analisada nela antes que a mesma começasse a se afastar, caminhando contidamente até a Starbucks e antes de adentrá-la a mesma olhou-me e me lançou um último sorriso.

Observei que ela sequer havia notado que eu estava usando um carro novo e na verdade aquilo pouco importava. Sentia-me ainda mais nervoso e após perceber que ela havia sumido da minha visão, fitei a biblioteca e respirei profundamente antes de começar a caminhar em passo acelerado na direção da mesma. Quando abri a porta ouvi um sininho tocando e analisei o balcão da atendente que se encontrava vazio, logo após passeando com meus olhos pelos arredores. Aproximei-me do balcão e avaliei alguns livros que haviam ali em cima, preparando-me mentalmente e sentindo-me estranhamento menos nervoso naquele momento do que quando eu havia encontrado com a Savannah lá fora.

— Olá. – ouvi uma grave voz feminina soar e ergui minha cabeça rapidamente, finalmente me deparando com aqueles olhos verdes que tanto me atormentaram diante de mim e constatando o quanto ela era ainda mais bonita do que quando eu costumava somente ficar analisando-a de longe.

— Oi. – sussurrei e ela sorriu de lado, um jeito forçado de sorrir.

“Não é como o da Savannah.” Pensei e me censurei logo após notar o quão desnecessário fora aquele pensamento, aliás, eu não tinha o direito de estar comparando-as, até porque a Melanie era a garota que eu queria e pronto.

— O que você está procurando? – questionou aproximando-se ainda mais, indo para trás do balcão e postando-se em minha frente.

Analisei-a invasivamente e ela era extremamente bonita, eu estava nervoso, mas havia algo errado comigo, porque honestamente eu deveria estar muito mais nervoso diante de um dos momentos que eu mais esperei durante três frustrantes anos da minha vida, contudo eu inexplicavelmente não estava. Desviei meu olhar do dela momentaneamente tentando me entender, porém eu simplesmente não conseguia entender a razão por aquilo estar acontecendo. Quando voltei a olhá-la, ela ainda me fitava, no entanto não era o olhar profundo e misterioso que eu costumava receber...

— Estou precisando de algo que me faça descansar a mente um pouco. – comentei compartilhando subliminarmente uma das minhas principais necessidades naquele momento.

— E que tipo de coisa costuma descansar a sua mente? – perguntou sorrindo abertamente e seu sorriso também era lindo, ela era linda, mas havia algo errado comigo. Algo muito errado.

— Eu não sei. – admiti desviando meu olhar momentaneamente. – Talvez você possa me indicar algo legal.

— Você gosta de livros de romance? – interrogou zombeteira e eu sorri de lado, estava agindo tão tranquilo que era irritante.

Ela fez sinal com a cabeça saindo detrás do balcão e caminhando na direção de um dos corredores, segui-a silenciosamente, enquanto a analisava, porém me sentia um tanto quanto distante. Minha mente vagando em estradas proibidas, em uma luxuria pecaminosa causada pela garota de calça com estampa de oncinha e beleza extravagante que, mesmo não estando presente, naquele instante se encontrava inacreditavelmente impregnada em meus pensamentos.

— Honestamente, eu não tenho uma preferência. – falei ainda seguindo-a e parei assim que a mesma parou, começou a revirar uns livros e eu permaneci analisando-a.

— Olha, – disse ainda revirando os livros, até que retirou um de lá e sorriu abertamente. – esse é um dos meus livros favoritos, me faz refletir bastante e talvez faça você refletir também.

Ela estendeu o livro e após um tempo hesitante eu o peguei, analisei a capa que continha o título P.S Eu te Amo e não senti nenhum pouco de interesse em lê-lo.

— Parece interessante. – sorri atravessado e ela assentiu veemente com a cabeça.

— E esse não é único. – rebateu sorridente e eu avaliei-a invasivamente.

— Talvez devêssemos jantar amanhã e conversar mais sobre isso. – sugeri rapidamente e ela me mirou surpresa, vi um sorriso aparecer no canto de seus lábios e acabei sorrindo também.

— Espera, você está me convidando para sair? – examinou indigesta e eu soltei um riso anasalado.

— Se eu estivesse, qual seria sua resposta? – rebati com outra pergunta e ela sorriu desviando seu olhar do meu momentaneamente, em seguida voltou a fitar meus olhos.

— Eu não sei, você precisa perguntar primeiro.

Soltei outro riso anasalado e ela fez o mesmo.

— Você quer jantar comigo amanhã?

— Primeiro me fale o seu nome.

— Justin. – falei sorrindo de lado e ela estendeu sua mão, olhando-me intrigada.

— Melanie. – replicou e eu segurei sua mão, ela balançou-as energeticamente e diferente do que eu havia imaginado, não senti o choque elétrico percorrendo meu corpo como os apaixonados costumavam dizer que acontecia. Sentia-me frustrado.

— Então Melanie, você quer jantar comigo amanhã? – indaguei novamente e ela comprimiu os lábios, sorriu inclinado e depois confirmou com um aceno de cabeça.

— Pode até parecer estranho, mas sim, eu quero. – pronunciou visivelmente animada e eu sorri abertamente, estava satisfeito por ela ter aceitado, mas ainda me sentia estranhamente distante.

— Às 20h00, então? – perguntei com falsa animação e ela sorriu de lado, em seguida confirmou com um aceno enérgico de cabeça. – Preciso do endereço da sua casa para te buscar.

— Que tal se nos encontrássemos aqui? – indagou um tanto quanto desconfiada e involuntariamente franzi minhas sobrancelhas.

— Tudo bem. – concordei após um tempo e observei-a suspirar, minhas sobrancelhas se estreitaram ainda mais.

— Vai levar o livro? – inquiriu desconversando.

— Sim. – ela sorriu torto e eu me mantive avaliando-a sem expressão alguma.

— Compra ou aluguel? – perguntou passando ao meu lado, caminhando pelo corredor e eu fiz o mesmo.

— Vou comprá-lo. – soprei e ela olhou-me momentaneamente.

— Você é novo na cidade, não é? – interrogou e eu sorri nervoso, seria horrível ter que mentir para ela, mas era algo necessário.

“Ela vai dar um pé na sua bunda quando souber da verdade.” Uma das vozes soprou em meu ouvido e eu inconscientemente travei meu maxilar. Ignorei-a, pois Steve sempre me disse que se eu procurasse ignorá-las, elas não me fariam mal algum, além do mais, às vezes não se tratava de nenhum surto psicótico e sim, da minha consciência pessimista que também era um dos meus grandes problemas.

— Quase isso. – respondi forçando um sorriso e ela mirou-me atentamente.

Nos aproximamos do balcão e eu fiquei estático do lado oposto em que ela se encontrava, analisando-a enquanto a mesma se encontrava, provavelmente, registrando minha compra. Não demorou para que ela colocasse o livro em uma sacola e estendeu-o em minha direção, sorriu abertamente e eu me esforcei para sorrir igualmente. Entreguei-lhe o dinheiro e permaneci parado, enquanto ela o guardava, logo após ela olhou-me novamente e sorriu de lado.

— Então é isso. – disse um pouco tímida e eu soltei um riso anasalado.

— Te vejo amanhã às 20h00. – falei sorrindo enviesado e ela desviou seu olhar do meu brevemente.

— Isso é loucura. – sussurrou, mas fora como se estivesse falando mais para si mesma.

— Mal posso esperar. – murmurei e ela voltou a me olhar, bem em meus olhos, mas seu olhar parecia tão vago. – Eu sou um sortudo.

Ela liberou uma breve gargalhada, mas não era suave e musical como a da Savannah, era impossível não notar a grande diferença entre as duas e para ser sincero, nada estava sendo do jeito que eu havia imaginado. 

— Por que está dizendo isso? – questionou envergonhada e eu soltei outro riso anasalado.

— Porque você é linda, Melanie. – pronunciei analisando-a invasivamente.

“É ela quem você quer, dê um basta em toda essa confusão.” Minha consciência falou e eu respirei profundamente, pois ele estava certa. Era ela. Durante três anos fora ela e não havia como mudar de uma hora para outra, não havia como um estúpido desejo acabar com toda a idealização de anos e eu não me permitiria trocar o certo pelo o duvidoso, não me permitiria fazer algo no calor do momento, que depois me acarretaria problemas desnecessários.

— Ahn, obrigado. – ela era extremamente meiga tímida e eu estava me sentindo um idiota por não estar tão animado quanto eu deveria estar. Eu estava feliz, mas ainda havia algo errado.

— Disponha. – sorri de lado e ela sorriu abertamente, fitando o balcão momentaneamente. – Agora eu preciso ir, nos vemos amanhã.

— Até amanhã. – rebateu sorrindo largamente.

Anotei o número do celular dela e ela fez o mesmo com o meu antes que eu realmente fosse embora, acenei antes de atravessar a porta e ela repetiu meu gesto, sorrindo de lado. Quando saí do estabelecimento, respirei profundamente sentindo-me aliviado. Estava começando a me sentir animado e queria compartilhar aquilo com alguém em especial.


Notas Finais


look da Sav: http://www.polyvore.com/look_savannah/set?id=115258382
look do Justin: http://2.bp.blogspot.com/-vWYw4XGR5Zs/USTkQSl9kmI/AAAAAAAABGk/ZqgpY1BPxu0/s1600/justin_bieber_splash_1.jpg

Hey, hey, hey! Eu sei que demorei deeeeeemais dessa vez, mas é que eu estava passando por algumas situações familiares bem complicadas, não estava me sentindo nada bem e consequentemente minha criatividade ficou bastante afetada. Mas enfim, cá estou eu depois de tanto tempo, com esse capítulo e finalmente o Justin encontrou a Melanie, uhul lol jagdjsh então, lembram quando eu disse que através da Melanie, Javannah aconteceria? Sei lá, mas já posso sentir o cheiro do shipper mais cobiçado por vocês paranóicas! haha é isso aí meninas, me desculpe novamente pela demora e eu espero que esse cap recompense, o próximo eu vou tentar não demorar tanto para postar, vou me esforçar ao máximo! Obrigado pelos comentários e pelos favoritos, vocês são incríveis e peço que sejam pacientes, pois estou passando por situações complicadas, mas prometo não abandonar a fic, só quero que procurem entender e tal. Até a próximo postagem girls, amo vocês <3 xoxo'


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