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História Paranoid - A verdade sempre será descoberta.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Enjoyyyyyy 😊💕

Capítulo 23 - A verdade sempre será descoberta.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - A verdade sempre será descoberta.

Só me dei conta de que havíamos chego ao destino quando o carro estacionou em minha frente e, por sorte, consegui igualmente parar antes de causar um estúpido acidente.

— Chegamos. — Bridgit disse no momento em que estacionamos.

O local era meio isolado e a casa dos pais da Melanie era a única ali, porém há alguns quilômetros atrás havia outras residências.

— Graças a Deus. — Jonah resmungou, abrindo rapidamente a porta do carro e saindo.

— Não sinto minha bunda. — A ruiva falou risonha, saindo do carro logo depois.

Saí em seguida, apanhando a bolsa que ficou o tempo todo no banco do passageiro ao meu lado e colocando apenas uma alça em meu ombro. O jardim em frente à casa era extremamente verde e bem cultivado, e o aroma do campo impregnado no ar me fizera suspirar satisfeita.

— Se eu soubesse que viríamos para Seattle, não teria concordado com essa viagem. — Jonah chiou quando encostei ao seu lado.

— Por Deus, Jonah! Pára de reclamar tanto.

— Você é pior que um idoso. — Bridgit disse, passando ao nosso lado, caminhando em direção ao carro que estava estacionado mais a frente.

— Essa garota é muito abusada.

Ri do comentário dele, dando-lhe um tapa no ombro e, quando avistamos os outros caminhando em direção a casa, logo estávamos os seguindo. Apesar de ter dois andares, a casa não era tão grande por dentro, porém era altamente aconchegante. Assim que ultrapassamos o hall de entrada, a ampla sala alcançou minha visão e aquele era o maior cômodo da casa. Os quartos ficavam no andar de cima e as portas dos três eram numa distância considerável, todos eram suítes e possuíam cama de casal. Quando a Melanie avisou que eu e Jonah precisaríamos dormir no mesmo quarto – assim como Bridgit e Aaron e, algo que pouco me agradou, ela e o Justin –, tentei dissimular ao máximo que não havia problema algum e apenas sorri, concordando levemente.

Depois de conhecermos todo o resto da casa, e a Melanie nos dizer incontáveis vezes que era para nos sentirmos completamente à vontade, retornamos para a sala.

— Precisamos ir ao supermercado comprar algumas coisas... — Ela avisou e eu enterrei minhas mãos no bolso da calça, evitando olhar para o Justin que naquele momento estava outra vez parado ao meu lado. — Quem vai querer ir?

— Eu não vou. — Aaron contestou rapidamente e a garota rolou os olhos.

— Só aceito, porque estou muito entediada pra ficar aqui sem fazer nada. — Bridgit replicou, dando de ombros.

— Você vai né, Jus? — A loira questionou e eu franzi as sobrancelhas ao ouvi-la chamando-o daquela maneira, o incômodo pesando em meu estômago e pelo meu olhar periférico pude vê-lo concordando levemente com a cabeça. — Você quer ir Sav?

— Ah, erm... — umedeci meus lábios e olhei para Jonah, que me olhou ao mesmo tempo. — Não, estou precisando de um descanso.

Forcei um sorriso e ela permaneceu me analisando por um tempo, depois anuiu.

— Vou ficar também. — Jonah disse.

— Tudo bem. — Ela proferiu, sorrindo sem mostrar os dentes. — Aaron, você pode pelo menos abrir as janelas da casa?

Ele não respondeu no primeiro momento, permaneceu jogado no sofá zapeando os canais da TV com o controle remoto claramente à procura de algo – mais – interessante.

— Aaron... — Bridgit murmurou e o garoto ergueu uma sobrancelha, arrastando o olhar entediado em direção a irmã posteriormente.

— Eu abro. — Fora tudo o que disse, em seguida voltou a focar-se em sua busca implacável pelos canais de TV. — Vê se não demora, porque estou com fome.

— Pode parando com essa arrogância. — Melanie protestou visivelmente irritada, porém naquele instante ele havia encontrado um jogo de basquete e simplesmente a ignorou.

Suspirei, encolhendo meus ombros ao notar o clima pesado e eu já deveria estar preparada para aquilo, visto que a Bridgit havia me avisado que Aaron era um bocado arrogante e ambos não tinham um relacionamento bom. Ele e Melanie eram o completo oposto e mesmo assim a garota fazia de tudo para tentar ter uma boa relação com o mesmo, porém ele pouco colaborava. Era bem óbvio que o garoto havia ido naquela viagem somente para ficar de olho no que a irmã faria, porque – segundo a Brid – era provável que seus pais tenham pedido para que o mesmo fosse, pois, apesar de ainda não conhecerem o Justin, eles não aprovavam o repentino relacionamento, uma vez que a garota – mesmo com todo aquele tempo – prosseguia fazendo mistério e fugindo das tentativas dos pais para finalmente conhecê-los e, quem sabe, consentirem a oficialização do namoro. Meu estômago revirou com o pensamento.

— Vamos, Mel. — Bridgit chamou-o e logo os três a minha direta estavam se retirando.

— Não sei por que ainda perco meu tempo com esse imbecil. — A loira ralhou ressentida, afastando-se.

Dei uma breve analisada no Justin, que caminhava despreocupadamente em frente às outras duas e respirei profundamente, sentindo um peso enorme sobre meu corpo.

— Você parece cansada. — Jonah comentou, levantando-se e parando em minha frente.

Arrastei meu olhar em sua direção e ele mexeu na ponto dos meus cabelos enquanto seus olhos escaneavam cada centímetro do meu rosto.

— Acho que vou subir um pouco. — Avisei, afastando-me cautelosamente e ele assentiu.

— Vou ficar por aqui mesmo.

Anuí e ele depositou um beijo em minha testa. Sorri sem mostrar os dentes antes de me afastar e caminhar em direção as escadas, subindo-as rapidamente. Adentrei o quarto que havia sido destinado a mim e Jonah, e coloquei nossas mochilas, que antes estavam sobre a cama, encostadas no criado-mudo ao lado. Sentei-me sobre a superfície macia e me livrei dos sapatos, caminhando em direção a janela e passei alguns segundos somente encarando o céu azul. Perdendo-me em meus pensamentos e só então, quando me encontrei sozinha no silêncio daquele quarto, senti o desespero me dominando gradativamente. Minha mente trazendo os fatos à tona, ligando todos os pontos e um pânico desmedido se apoderou de mim, além do mais, eu estava apaixonada. Estava apaixonada por alguém que não me correspondia. Senti minha boca secar e minhas mãos soando, minha cabeça parecia estar girando como se eu estivesse em um carrossel em alta velocidade e as complexas peças daquele eloquente quebra-cabeça finalmente iam se juntando. Fazendo-me entender ao menos uma parte do caos infernal que andava me acontecendo e por mais que eu quisesse poder retornar para minha fase de negação, naquele momento não dava mais. Meu corpo inteiro já tinha consciência do que realmente me acontecia, meu cérebro finalmente havia aderido à informação de que o que eu sentia não era, e nem de longe seria, algo facilmente passageiro. Minha situação era ainda pior do que eu havia imaginado e minha perdição, a cada fração de segundo, mais eminente. Esfreguei as mãos em minha calça, limpando o suor frio que havia se acumulado enquanto sentia meus olhos esquentando e eu não queria chorar. Não queria chorar outra vez por conta daquele sentimento. Mas, estar apaixonada sozinha, me parecia tão assustador que era impossível controlar, era impossível controlar a guerra dolorosa que se iniciava dentro de mim. Já dizia Freud que o novo sempre despertou perplexidade e resistência. Então, de modo óbvio, era por aquela razão que reneguei tanto meus sentimentos, uma vez que – mesmo que em certo momento da minha vida eu tenha ridiculamente acreditado já ter vivenciado aquilo – eu nunca havia me sentido daquela maneira antes e finalmente sentir, de maneira tão subversiva, havia me tirado dos eixos. Havia me feito enganar a mim mesma durante todo aquele tempo. Pois lutar contra os problemas sempre me pareceu mais fácil do que simplesmente assumir, do que simplesmente aceitar. E era extremamente complexo aceitar o fato de que o sentimento que eu supria pelo Justin não era algo somente carnal, do modo como muito tempo me empenhei a crer que fosse. Era muito além daquilo e que, até mesmo, ultrapassava a linha tênue da realidade. Freud igualmente dizia que estar apaixonado é estar mais próximo da insanidade do que da razão e era exatamente daquela maneira que eu me sentia, constantemente. Pois, gostar tanto de alguém e esse alguém não ser seu, dói. Dói como o inferno. Gostar sozinho é miserável. Dolorosamente solitário. E eu sentia medo. Medo de enlouquecer sozinha, pois não há nada mais triste. E por muito tempo acreditei que estar apaixonada, fosse mesmo ter medo. Todo o tempo. Visto que aquele nem sempre era um contrato de afetos e sim, um sentimento violento, que representava perigo. Um perigo que, para algumas pessoas, continuava valendo a pena correr. Mas aparentemente – no princípio de minhas descobertas – aquele não era o meu caso.

Sentei-me na cama novamente e minha cabeça parecia prestes a explodir devido a todos os pensamentos. Esfreguei minhas pálpebras com a finalidade de me livrar das estúpidas lágrimas que se acumulavam em meus olhos, contudo, todas as minhas tentativas, após minha inaceitável desistência a persistir escondendo aqueles sentimentos, eram absurdamente falhas. E eu tinha plena consciência que, dali em diante, precisaria saber – ou fingir perfeitamente bem – suportar, pois não poderia – de maneira alguma – deixar que alguém descobrisse. Principalmente, que ele descobrisse. Porém, sentia, em cada fibra do meu corpo, a necessidade de desabafo. A necessidade de dizer tudo o que, por tanto tempo, ficou reprimido em mim. Cuspir fora todos os pensamentos e sentimentos que pareciam dardos fincados em minha carne, mas que, mesmo sabendo que me machucaria mil vezes mais, eu queria tirá-los. Queria poder ter a chance de me livrar, ao menos um pouco, de toda aquela angústia.

Somente me dei conta do que havia feito quando a voz da Lauren soou do outro lado da linha, completamente animada por estar recebendo uma ligação minha.

Como você está? — Perguntou após os cumprimentos.

— Eu, erm... — pausei, enrolando uma mecha de cabelo em meus dedos. — Eu estou bem.

Ela ficou momentaneamente em silêncio e eu também, levantando-me e passando a caminhar de um lado para o outro.

O que aconteceu, Sav? — Indagou e mesmo sem vê-la eu podia imaginar seu semblante preocupado.

Encolhi meus ombros, repensando se deveria ou não dizer para ela o que andava acontecendo, todavia, ela era minha única saída. Eu definitivamente estava necessitando, mais do que tudo, compartilhar um pouco daquele peso com alguém e, mesmo com as circunstâncias, não existia ninguém melhor do que a Lauren.

— Lauren, eu... — Tentei, entretanto antes que pudesse me refrear estava chorando feito uma tola.

Uma sensação angustiante reprimindo meu peito e eu queria tanto que ela estivesse ali naquele momento, queria tanto receber seu abraço apertado e ouvir seus conselhos coerentes, poder dizer sem parecer tão absurdamente fraca o que andava acontecendo. Pensei em desligar, porém sabia que ela ficaria maluca se eu o fizesse e que preferia esperar eu me controlar e lhe contar o que havia acontecido, pois não seria justo deixá-la perdida em meio a cegas suposições para desvendar as razões por eu estar daquele jeito. Portanto, me mantive em meu choro compulsivo durante um tempo indefinido, até que senti a necessidade aparentemente se dissipar.

 — Savannah, isso está me matando. — Sua voz soou levemente embargada e eu senti meu coração diminuindo, aliás, sabia o quanto ela deveria estar desesperada.

— Me desculpe Lauren. — Pedi, fungando e ela suspirou pesadamente. — Eu não devia ter ligado...

O que aconteceu para você estar assim? — Perguntou desesperadamente, ignorando minha última declaração.

— Estou encrencada. — Disse, simplesmente.

O silencio se instalou novamente.

Pára de rodeios e fala logo o que aconteceu, Savannah. 

Respirei fundo, numa tentativa de coletar o máximo de – pseudo – coragem que estivesse ao meu alcance.

— Estou apaixonada.

A confissão escapou por entre meus lábios mais depressa do que imaginei, em seguida fechei meus olhos, me preparando psicologicamente para o bombardeio de questionamentos que ela iniciaria, no entanto, para minha total surpresa, um silêncio mais longo do que os anteriores se instalou, deixando-me ainda mais apreensiva.

— Lauren, você ainda está aí? — Perguntei, tirando o celular momentaneamente do ouvido e colocando-o novamente ao perceber que a ligação ainda estava ativada.

Sim, erm... — outra pausa. — Você está apaixonada?

— Sim. — Respondi baixinho, me sentindo estúpida por estar realmente assumindo aquilo para alguém que não fosse eu mesma.

Por favor, me diga que é pelo Jonah... 

Comprimi meus lábios, ponderando outra vez a possibilidade de simplesmente desligar, mas agora que eu havia chego até ali não havia como voltar atrás. Ela não desistiria facilmente até descobrir cada detalhe daquela história.

— Não... N-não é pelo Jonah. — Murmurei e ouvi-a dar um longo suspiro.

Não me diga que é pelo...

Interrompi-a antes que a mesma pudesse concluir, aliás, eu sabia bem de quem ela estava falando.

— Sim.

Outro suspiro longo e mais silêncio.

Há quanto tempo?

— Erm, hm... — enrolei-me. — Eu não sei.

Há quanto tempo, Savannah? — Insistiu e eu passei a enrolar a mecha de cabelo com mais brutalidade.

— Tem menos de vinte e quatro horas que admiti para mim mesma, na verdade, faz pouco tempo que eu descobri o que realmente estava sentindo. — Contei e minhas palavras soavam visivelmente nervosas. — Eu estava precisando desabafar com alguém, porque isso estava me matando e eu... Eu...

E lá estava eu, outra vez, chorando. As palavras se perdendo em meio ao choro copioso.

Eu suspeitava.

Não tentei dizer nada, pois suas palavras soaram como se ela estivesse falando consigo mesma.

 — Assim que você voltar dessa viagem, venha direto para minha casa. — Ordenou, dirigindo-se diretamente a mim e eu concordei em meio ao soluço. — Pare de chorar, por favor!

— Eu não consigo... — Arfei. — Dói tanto.

— A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Lembra? — Disse e eu solucei, limpando as lágrimas dos meus olhos com o dorso da mão livre, tentando forçadamente acabar com aquele choro. — Procure algo pra ocupar a sua mente, não perca tempo se remoendo.

— Eu não deveria ter vindo nessa viagem. — Murmurei sofregamente.

 — Não mesmo — repetiu e eu choraminguei ainda mais —, mas agora foi e agora não pode ficar desse jeito.

— Eu queria tanto que você estivesse aqui. — Sussurrei e ela respirou fundo.

Eu também queria estar aí, Sav. — Disse baixinho e eu notei que a mesma estava se esforçando para não chorar junto comigo. — Onde o Jonah está?

— Assistindo TV lá em baixo. — Respondi baixinho, sentindo-me como uma criancinha diante de toda aquela fragilidade.

Por mais difícil que possa parecer, se quiser ignorar isso, tenha certeza que você consegue. — Incentivou-me e eu funguei. — E o Jonah está aí, ele já te ajudou tantas vezes, não foi?

Esquecendo-me de que ela não podia me ver, assenti com a cabeça e franzi minhas sobrancelhas, quase rindo de minha atitude. 

— Você está certa.

Afinal, Jonah verdadeiramente sempre conseguia me ajudar, tinha uma facilidade surpreendentemente de me fazer esquecer tudo e não me surpreendia que a Lauren soubesse daquilo, pois era algo bem nítido.

— Não sei o que seria de mim sem você. — Murmurei, sentindo-me menos desesperada.

Nunca mais me ligue chorando desse jeito, ainda mais quando estiver fora da cidade. — Alertou, rindo nasalmente e acabei repetindo seu gesto.

— Me desculpe, eu só estava precisando conversar.

Eu entendo — suspirou. —, se sente melhor agora?

— Sim. 

Sorri instantaneamente. Mesmo ainda chorando, mesmo que ainda doesse.

Tudo bem. — O silêncio fora brevemente sustentado. — Assim que voltar pra Portland, não se esqueça de vir aqui em casa, combinado?

— Combinado!

Ok... Fica bem, Sav.

— Eu vou ficar. — Rebati. — Amo você.

Também amo você.

Após nos despedirmos, desliguei e coloquei o celular sobre a cama. Ouvi uma conversa alta vindo do andar de baixo, denunciando que os outros haviam voltado do supermercado, e fui até o banheiro. Lavei meu rosto, utilizando maquiagem para disfarçar meus olhos inchados, decidia a descer, pois minha barriga roncava violentamente. Estava precisando urgentemente me alimentar. Penteei meus cabelos com os dedos, caminhando em direção a porta e quando a atravessei, deixei para trás todas as preocupações. Lembrando-me da conversa que havia acabado de ter com a Lauren e eu só precisava aguentar mais um pouco antes de finalmente poder desabafar com a minha melhor amiga, e, talvez, me livrar de um pouco de todo aquele peso. Descobrir uma maneira de ultrapassar aquilo.

Após ajudar a Melanie e a Bridgit – no final acabei fazendo tudo sozinha, visto que ambas eram um desastre na cozinha – a preparar o almoço, enquanto os rapazes ficaram na sala assistindo basquete, obriguei Jonah a preparar a mesa e então finalmente almoçamos. Pouco participei da conversa paralela na mesa e foquei somente em apreciar o brócolis refogado e o filé de frango que havíamos preparado, aliás, Melanie era vegetariana e durante aqueles dias aparentemente entraríamos em seu regime. Algo que Aaron parecia detestar fortemente. Fora o Justin que lavou a louça enquanto o irmã da Melanie as secava e Jonah guardava, com a ajuda da Bridgit. Depois que tudo estava devidamente organizado, a Melanie sugeriu que assistíssemos a um filme e rapidamente os outros concordaram. Tentei fugir dizendo para o Jonah que precisava dormir um pouco, o que não era ao todo mentira, porém ele infernizou-me até que eu cedesse e fosse assistir também. Rolou uma breve discussão sobre o que iríamos assistir e eu obviamente me mantive imparcial, somente observando. No final, o filme escolhido fora O Homem de Aço e por já tê-lo assistido milhares de vezes na casa da Lauren, nem ao menos prestei atenção. Mantendo-me mais focada em um joguinho bastante interessante que tinha no celular de Jonah.

— Vou subir para tomar banho, que tal irmos nos aventurar pelos arredores depois? — Jonah perguntou e eu assenti, ainda focada no joguinho.

Após mais algumas partidas, percebi que estava sozinha na sala e entendida, me levantei e caminhei para fora da residência, encostando-me no parapeito de madeira da varanda. Perdi-me momentaneamente analisando o anoitecer e as estrelas que começavam a pintar cada canto do céu, entretanto meu sossego caracteristicamente durou pouco, na medida em que a realidade me atingia. Passei a mão em meu rosto, respirando intensamente numa tentativa de que aquilo ajudasse a afastar os pensamentos que me reprimiam vagarosamente, porém absolutamente nada que eu fizesse parecia funcionar.

— Parece um local agradável para se morar, não acha? — A voz que eu pouco queria ouvir naquele momento e a última presença que eu queria ter que suportar surgiu atrás de mim.

Respirei intensamente, as sensações se apoderando do meu corpo de maneira ainda mais alucinante. Minhas pernas ficando vergonhosamente trêmulas.

— Sim. — Disse, simplesmente.

— Você parece cansada.

— Estou bem.

— Se quer saber — aproximou-se, encostando ao meu lado. —, sinto falta de conversar com você.

Arrastei meu olhar em sua direção e ele mantinha seus glóbulos cor de mel voltados para as estrelas no céu, analisando-as despreocupadamente enquanto eu me sentia perturbada por sua declaração. Meus olhos enchendo-se de ridículas lágrimas que eu rapidamente segurei e naquele momento eu quis tanto poder jogar toda a verdade na cara dele, quis tanto poder dizer tudo o que sentia, mas eu não podia, porque não saberia lidar com a rejeição. Já estava péssima do jeito que estava e definitivamente não havia necessidade de piorar minha situação.

Desviei o olhar, engolindo fortemente o nó que se alojou em minha garganta.

— E eu não sei o que fiz de errado... — suspirou e por ter que tolerar o mesmo ainda parado ao meu lado, empenhando-se a ficar me dizendo aquelas coisas, só aumentava a vontade de chorar que se tornava cada segundo mais insuportável. — Eu queria tanto poder entender.

Juntei minhas sobrancelhas, sentindo uma tensão absurda me massacrando.

— Na verdade, há tantas coisas que eu queria poder entender. — Disse e eu olhei-o outra vez, percebendo seu olhar distante e seu semblante confuso.

Ele me deixava tão perdida. Todo aquele mistério natural que o mesmo emanava me enlouquecia, me tirava à paz. E ao mesmo tempo em que eu odiasse profundamente admitir, eu também queria tanto que ele pudesse entender. Queria tanto ser corajosa o suficiente pra parar de ficar me escondendo, corajosa o suficiente para abrir todo o jogo e suportar qualquer que fosse a conseqüência. Mas eu era fraca, covarde demais para me permitir ser forte, mesmo que enganosamente.

— Eu sinto muito. — Murmurei impulsivamente e em seguida chutei-me mentalmente por aquela atitude, aliás, minha voz havia saído esganiçada e só então me dei conta de que meus olhos estavam lacrimejados outra vez.

Coloquei as mãos em meu rosto, tapando-o e segurando a vontade perturbadora que sentia de me deixar levar pela necessidade de chorar até que todas as lágrimas que residiam em meu corpo simplesmente evaporassem. Senti mãos frias pausando em meus braços em um momento repentino e meu corpo fora virado, em seguida minhas mãos foram forçadamente abaixadas e uma lágrima solitária escorreu dos meus olhos, sendo prontamente enxugada e eu mantive meu olhar distante, fitando incansavelmente o chão.

— Por que está chorando? — Ele questionou e seu dedo tocou meu queixo, erguendo meu rosto e mesmo assim eu evitei olhá-lo. — Olhe para mim.

Neguei seu pedido com um aceno de cabeça e ele se aproximou mais um passo, ficando perigosamente mais próximo.

— Olhe para mim, Sav. — Pediu em tom baixo e ao ouvir meu apelido sendo, pela primeira vez, proferido por sua voz – cautelosa e rouca –, meus olhos involuntariamente alcançaram seus orbes avelã.

Assim constatei o quão realmente próximo ele estava. Seu rosto tão perto do meu que eu podia perfeitamente sentir sua respiração ricocheteando em minha face e meu coração disparou alucinantemente. Meu estômago rodopiou e minhas pernas pareciam prestes a me trair. Inconsequentemente meus olhos desceram até seus lábios, irresistivelmente vermelhos e tão próximos, tirando-me incontáveis minutos de raciocínio e ao notar a aproximação cada vez mais notável, prendi minha respiração. Outra lágrima desceu tolamente por minha face e meu corpo inteiro se arrepio ao senti-lo acariciando minha bochecha com o polegar, enxugando-a e em seguida soltou sua respiração de uma vez só. Meu cérebro disparava diversos comandos para o meu corpo, contudo, eu não conseguia corresponder a nenhum, pois estava estupidamente petrificada. Minha consciência passou a questionar minha sanidade mental mediante aquela situação e eu me perguntei se aquilo era mesmo real ou se não tratava apenas de mais um de meus mais insanos sonhos. Entretanto, ao sentir seu rosto aproximando-se mais, os pensamentos dispersaram velozmente e, quando seus lábios tocaram sorrateiramente meu nariz, descendo em direção aos meus, as coisas ao redor desapareceram em um passe de mágica e até mesmo meu coração pareceu parar de pulsar por alguns instantes, voltando a bater loucamente no momento em que meu corpo fora empurrado levemente para trás. Afastando-me cruelmente dele.

I don’t know why I keep acting this way and everybody knows it’s strange — uma voz aguda atingiu meus ouvidos, cada vez mais próximo. —, give me something along the way. Something along the way.

Eu teria rido daquele tom desafinado se não estivesse tão nervosa e se minha respiração não estivesse tão descompassada ao ponto de me deixar tonta.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Aaron questionou, juntando as sobrancelhas após tirar os fones que estavam em seu ouvido.

Olhei para o Justin e seus olhos também vieram em direção aos meus, no entanto desejei que ele não o tivesse feito, visto que a expressão de arrependimento que se esboçava em sua feição me atingiu dolorosamente. Ao avistá-lo desviando o olhar, o massacre em meu peito triplicou trazendo consigo a vontade de chorar de um modo milhões de vezes mais intenso.

— Nada. — Respondeu ainda mantendo seu olhar distante de mim e eu engoli em seco, forçando-me a não desabar covardemente.

— A Melanie estava procurando você. — O garoto disse após um tempo em silêncio. — Seu namorado também ‘tá te procurando.

Apontou em minha direção e o doloroso nó em minha garganta se tornou intolerável, tanto que nem ao menos pude me conter antes de caminhar apressadamente para dentro da casa, poupando-me a perder tempo contradizendo o que Aaron havia dito – praticamente correndo –, e subir as escadas no mesmo ritmo. As lágrimas descendo por meu rosto, entretanto minha expressão era de pura ira. Ódio de mim mesma. Ódio daquele sentimento estúpido e da estupidez que eu quase permiti acontecer. Raiva do olhar pesaroso que tive que suportar depois de me iludir achando que algo finalmente aconteceria e deveria mesmo ter esperado pelo pior, aliás, era bem óbvio – devido a suas palavras – que por alguma razão – até então desconhecida – o Justin estava vulnerável. E quem sabe fora até mesmo eu que me aproximei o tempo todo, idealizando que fosse ele que estivesse o fazendo, além do mais, não duvidava de mais nada insensato que viesse de mim, uma vez que eu estava louca. Completamente fora de mim.

Ao atravessar a porta do quarto me deparei com o mesmo vazio, porém logo o barulho do chuveiro chamou minha atenção e eu me joguei na cama, escondendo meu rosto entre os travesseiros. Tentei prender o choro, engolindo a angústia que me trucidava, contudo, algumas lágrimas ainda acabaram escorrendo. A dor insuportável da rejeição me dilacerando e mesmo que eu quisesse poder esquecê-la, pois a cada dia as tentativas de esquecimento pareciam cada vez mais dolorosas, eu não conseguia. Por isso eu não sabia o que fazer e, com toda certeza, não saber o que fazer era o pior dos sofrimentos. Eu só queria parar de sentir tanto.

Justin’s Point of View

Meu Deus, onde eu estava com a cabeça?

Onde eu estava com a porra da minha cabeça, afinal?

Questionava-me aquilo incessantemente, andando de um lado para o outro dentro daquele quarto enquanto minha mente era constantemente atingida pelos sermões da minha consciência que evidenciava o quanto eu havia posto tudo a perder ao tomar aquela atitude impulsiva. Ao colocar tudo em risco simplesmente por não conseguir me controlar, por não aguentar mais ter que ficar tão distante dela. Mas a verdade era que aquelas quatro semanas havia sido um inferno sem poder dirigir nem sequer uma palavra para a mesma, sem poder ouvir sua voz e seus conselhos, sem poder vê-la sorrir com as coisas que eu dizia e, o pior de tudo, suportar o fato da mesma ficar sempre andando pra lá e pra cá com aquele seu amiguinho. Eu sabia que estava sendo estúpido, que não deveria estar pensando daquela maneira – ainda mais quando meu relacionamento com a Mel se tornava cada vez mais sério –, contudo, no momento, eu estava pouco me fodendo para o que minha maldita consciência dizia. Aliás, ultimamente eu andava pouco me fodendo para tudo.

Passar mais tempo com a Melanie fora a maneira que encontrei pra fugir de toda a confusão que me dominava e quando estávamos juntos até funcionava, porém era só ela dar as costas e tudo retornava. Cada vez mais fortemente incontrolável. Ver a maneira como a Savannah parecia me querer distante era excessivamente cruel e, mesmo que parte de mim repudiasse o quanto aquilo me afetava, eu não aguentava toda aquela indiferença. Ainda mais vindo dela. Perdi as contas de quantas vezes fiquei sujeito ao poder das vozes em minha cabeça durante todo aquele tempo, muitas vezes até mesmo quando estava na presença da Melanie, mas por sorte sempre conseguia disfarçar muito bem e fugir antes que piorasse. Perdi as contas de quantas vezes quis conversar com a Savannah a respeito, quis poder ouvir suas típicas maneiras de me incentivar e de certa forma, eu havia me tornado dependente daquilo. Havia me tornado dependente dos seus apoios, porque funcionavam melhor do que qualquer outra coisa.

Suspirei frustrado comigo mesmo, sentindo o peso em minhas costas enquanto uma vontade imensa de procurá-la e tentar me desculpar, tentar explicar o que, na verdade, eu sabia que não tinha explicação alguma, me domava. Lembrar-me de vê-la chorando, do seu semblante tão abatido e seu olhar tristonho... Aquilo doía profundamente. Durante tanto tempo ela esteve sempre tão disposta a me ajudar e quando tive a oportunidade de retribuir, tudo o que fiz fora agir como o babaca que sou, deixando-me levar por uma tentativa vergonhosa de me aproveitar de sua fragilidade e por todo aquele tempo eu havia controlado meus instintos, mas naquele momento, tendo-a tão perto e tão vulnerável, fora impossível me controlar, fora impossível escutar os berros que meu cérebro disparava advertindo que aquilo seria um erro. Um imenso erro. Minha impulsão havia me posto em uma situação ainda pior e eu não sabia como consertar, assim como nem sabia se deveria, ainda mais depois de ter visto-a correndo daquela maneira para longe de mim. Só Deus sabe o que teria acontecido se Aaron não houvesse aparecido e então agora eu estava me crucificando, mais do que já estava, por ter me permitido agir feito um cafajeste da pior espécie. Agradeci aos céus o fato do mesmo aparentemente não ter notado nada de mais, ainda mais com a repentina saída dela, além do mais, devia ter pensado que ela havia ido atrás de Jonah, visto que a mesma afastou-se após ele dizer que o mesmo estava procurando-a. Admito que também pouco me agradava ouvi-los denominando-o como namorado dela, assim como pouco me agradava a forma como eles sempre estavam mantendo contato físico e, por mais que eu não devesse me importar com aquilo, uma vez que não era da minha conta, parte de mim sentia aquela aversão e não conseguia escondê-la.

Eu não deveria ter tentado beijá-la.

Eu não deveria ter ido falar com ela.

Eu não deveria ter tentado beijá-la.

Aquelas frases se repetiam em minha cabeça e eu já não aguentava mais. Não aguentava a pressão, nem a confusão, que aquela situação me atribuía. Até desejava ser capaz de compreender o que andava acontecendo, mas a cada tentativa tudo parecia se misturar mais, ficar cada vez mais fora do meu alcance. Não que eu não estivesse satisfeito com o fato das coisas estarem indo perfeitamente bem entre eu e a Melanie, porém, havia aquele meu lado leviano que se permitia levar facilmente.

— Finalmente te encontrei. — A Melanie disse, despertando-me dos meus devaneios e só então notei que a mesma havia adentrado o quarto.

Quando vi o sorriso estampado em seus lábios, automaticamente o peso da culpa caiu sobre minhas costas e eu não podia aceitar o fato de que quase havia a traído, quase havia feito algo que eu abominava e eu não merecia aquele sorriso, assim como não merecia o beijo que ela me dera posterior a ele.

— O que foi? — Questionou, juntando as sobrancelhas. — Aconteceu alguma coisa?

— Não. — Menti e uma pontada atingiu meu peito.

Estava cansado de estar sempre mentindo para ela.

— Vamos descer, Aaron colocou música pra tocar e nós podemos ficar na varanda vendo as estrelas. — Pediu, depositando outra rápido beijo em minha boca e eu forcei um sorriso, somente assentindo.

Seus dedos se entrelaçaram aos meus e a mesma fora guiando-nos para fora do quarto, caminhando até que estivéssemos descendo as escadas e logo estávamos na varanda. Uma música ambiente tocava do local, mas aparentemente não era nada que eu conhecesse e meus olhos logo percorreram os arredores, à procura dela e ao perceber que a mesma não estava ali, me senti aliviado. No entanto, ao igualmente notar a ausência de Jonah, senti a inquietação me dominando. Suspirei. 

— Cadê a Sav e o Jonah? — Bridgit questionou a duvida que igualmente pairava em minha cabeça, aproximando-se de nós.

— Não sei, devem estar no quarto. — Melanie respondeu, dando de ombros e eu senti um incômodo em meu estômago, assim como senti meu semblante enrijecendo e logo me forcei a voltar ao normal.

Desliguei-me completamente quando ambas começaram a conversar paralelamente, me perdendo no breu dos meus pensamentos. Aaron estava do outro lado, jogado em uma das cadeiras de balanço completamente focado em seu celular e pouco se importando em realmente socializar. Apesar da arrogância contínua, ele até era legal quando queria. Já havíamos conversado algumas vezes e através daquilo cheguei à conclusão de que, na verdade, tudo o que ele gostava era de sempre contrariar a irmã, no entanto se preocupava profundamente com ela. Apesar de ser três anos mais velho que eu, no fundo ele era só um garotinho querendo constantemente chamar atenção.

Afastei-me de onde Melanie e Bridgit estavam conversando animadamente, encostando-me ao parapeito da varanda, permitindo-me vagar pela beleza das estrelas no céu até que movimentos mais a frente chamaram minha atenção e ao longe avistei duas silhuetas caminhando uma ao lado da outra. Vi-a rir enquanto empurrava o rapaz ao seu lado e ele riu junto, fazendo algo que a fez rir ainda mais e sem poder me conter, suspirei. Analisando-a atentamente e ela ficava linda daquela maneira, ficava impiedosamente mais linda sorrindo daquele jeito e por alguns instantes me desliguei de absolutamente tudo. Esquecendo-me das coisas que me incomodavam, perdendo-me na garota que caminhava descontraidamente e, mesmo não gostando da razão por aqueles sorrisos, me sentia satisfeito por poder estar vendo-os. Sorri sozinho ao vê-la fazendo uma careta completamente engraçada para o garoto ao seu lado e, ignorando completamente o incômodo em meu peito, ao longe me diverti como se fosse eu que estivesse ao lado dela.

— Você é insuportável. — Ela disse enquanto ambos subiam as escadas em direção a sacada e quando seus olhos me encontraram encarando-a, o sorriso que estava em seus lábios desapareceu e a mesma desviou o olhar.

Franzi as sobrancelhas, sentindo-me atingindo por sua reação, contudo eu não a culparia se estivesse com raiva após o que eu havia feito. Assim como também não tentaria mais forçar as coisas entre nós, visto que quando eu havia tentado consertar, havia tentando fazê-la voltar a falar comigo, tudo o que fiz fora estragar tudo de uma vez. E, naquele instante, estava definitivamente decidido a não mais colocar tudo a perder, pois uma hora, quem sabe, tudo naturalmente voltasse ao normal.

Jonah, Savannah, Melanie e Bridgit pareciam estar em uma conversa agradável quando olhei para trás e vi todos reunidos, dando risada e permaneci sozinho. Isolando-me de ter que aturar as gracinhas daquele cara, pois eu pouco o suportava para me juntar ao grupinho e ter que fingir me divertir com as imbecilidades que ele dizia. A verdade era que ele nem ao menos deveria estar ali. Respirei profundamente, cansado de ficar em pé e caminhei em direção a poltrona mais próxima, sentando-me e inconsequentemente perdendo-me outra vez em cada movimento que a Savannah fazia enquanto conversava e sorria junto com os outros. Perdendo-me ainda mais nas curvas de seu corpo, analisando-a e percebendo o quanto seu short jeans curto me dava uma boa visão de suas coxas e sua regata justa marcava sua barriga esguia, tornando dolorosamente visível à ondulação de seus seios médios. Seus cabelos estavam presos em um coque alto, no entanto haviam alguns fios soltos, deixando-a inexplicavelmente atraente daquela maneira extremamente simples.

  — Querem beber alguma coisa? — Melanie questionou, me acordando para a realidade e eu praguejei mentalmente ao perceber a gravidade dos pensamentos que estavam me dominando.

— Vou querer uma cerveja. — Repliquei e ela concordou.

— Cerveja também. — Jonah e Aaron disseram ao mesmo tempo.

— Tudo bem. — Ela disse, caminhando para dentro da casa e após dizer algo para o Jonah, a Savannah fez o mesmo percurso enquanto ele permaneceu conversando com a Bridgit.

Levou um considerável tempo para que ambas retornassem e enquanto a Melanie trazia em suas mãos três garrafas de cervejas, a Savannah trazia dois copos de suco e um deles fora entregue para a Brid, que sorriu agradecida, e o outro ficou em sua mão.

— Planeta Terra chamando Justin Bieber. — Melanie disse, chacoalhando a cerveja em minha frente e eu instintivamente balancei minha cabeça. — No que estava pensando?

Sentou-se em meu colo e eu pousei minhas costas no encosto da cadeira, me esforçando para manter o olhar focado somente nela.

— Erm, em nada... Nada importante.

Dei de ombros e ela analisou-me durante um tempo, sorrindo de lado e em seguida me roubando um beijo. Fora difícil me concentrar e acompanhar seu ritmo, por aquela razão acabei encerrando-o antes do esperado e tentei abrir o sorriso satisfeito mais convincente, me livrando da tampa da garrafa de cerveja com a mão e dando a primeira golada. Ficamos conversando durante um tempo indeterminado e contra minha vontade, durante muitas vezes, me peguei olhando para a Savannah e imediatamente desviava o olhar, obrigando-me a focar apenas nas coisas que a Mel dizia e nos beijos inesperados que a mesma, vez ou outra, me dava.

— Será que eu posso roubá-la um pouquinho? — Bridgit indagou, puxando a Melanie pelo braço e eu sorri de lado, assentindo.

Logo ambas não estavam mais em meu campo de visão e eu fixei meu olhar no chão, passando rapidamente a mão por meus fios de cabelo, bagunçando-os e respirando fundo por estar outra vez sozinho, prestes a novamente me tornar vítima dos pensamentos que eu tanto queria afastar. Contudo, quando os acordes de Everybody knows do John Legend soaram pelo local e um gritinho animado surgiu, eu imediatamente soube a quem pertencia, aliás, uma coisa que havia descoberto durante esse tempo em que tive a Savannah morando em minha casa, mesmo sem nos falarmos muito, era que a mesma tinha um amor incondicional por John Legend e suas músicas. Ergui meu olhar em direção a mesma e aquela fora sem dúvida à pior das minhas escolhas naquele momento.

 — Vem dançar comigo. — Ouvi-a dizer euforicamente, puxando Jonah pela camiseta e logo a mesma estava se movimentando no ritmo da música, seus lábios se movendo, acompanhando a música de maneira inaudível.

Senti um calafrio percorrer minha espinha e minha testa ficou involuntariamente enrugada enquanto meus olhos permaneciam cravados na cena em minha frente e eu senti meu corpo ficando inexplicavelmente quente. Meu rosto parecia pegar fogo e minha respiração se tornou descompassada, pois ver a Savannah tão próxima assim daquela cara havia feito com que aquelas mesmas – inadmissíveis – sensações me dominassem fortemente e mesmo não compreendendo completamente as razões por estar tão inquieto, por estar tão... Aborrecido com toda aquela proximidade de ambos, eu as abominava. Eu odiava não saber denominar o que estava sentindo. Tentei desviar meu olhar, mas meus olhos se recusavam a deixar de analisar aquela cena e o sangue parecia lava correndo em minhas veias. Meu punho se fechou automaticamente assim que a avistei fazendo uma carícia descontraída na nuca do rapaz, puxando um pouco o cabelo recém cortado do mesmo e intensificando as movimentos provocantes daquela dança dolorosamente sedutora e eu me sentia extremamente frustrado por não poder tê-la dançando daquela maneira. Comigo.

“Oras, Justin, não seja estúpido! Olhe para o cara com quem ela está dançando, ele é muito melhor do que você.” Uma das vozes sussurrou em minha cabeça e a fúria cresceu dentro de mim, meu descontrole completamente visível e a cena em minha frente só estava colaborando para a raiva me assolar cada vez mais forte. “Você quis tanto a Melanie e agora você a tem, você sabe... A Savannah não é para você! Olhe para ela, ela merece muito mais do que um fracassado como você, Bieber.” Voltou a dizer e eu trinquei meus dentes apertando ainda mais o meu punho.

Minha respiração totalmente desregulada e meus olhos friamente fixos na Savannah, e seus movimentos, e quando um sorriso gigante dominou os lábios dela me senti anestesiado, entretanto, minha admiração durou pouco tempo, já que o que seguira aquele belo sorriso fizera com que um aperto trucidasse meu peito e meu maxilar travasse, enquanto meus estúpidos olhos não conseguiam desviar daquela cena massacrante e injusta. Pude ver perfeitamente a garota dançando ainda mais provocante, dando uma volta e segurando as mãos do rapaz junto com as suas, erguendo ambas acima de suas cabeças e rebolando lentamente, aproximando seu corpo do dele e o sorriso débil que dominou os lábios de Jonah causou um incômodo tortuosamente enorme sobre mim. Quando avistei os pés dela erguendo para que a mesma pudesse alcançar a altura do rosto dele, confesso que não imaginei que ela fosse fazer aquilo, mas no momento em que os lábios dela selaram os dele, meu coração bateu violentamente contra o meu peito, como se fosse rasgar minha caixa torácica a qualquer momento e ao avistar o início de um beijo mais caloroso meus olhos abruptamente desviaram-se, fitando fixamente o chão enquanto minhas mãos e meu corpo inteiro imbecilmente tremiam. Travei o maxilar, engolindo em seco o descontentamento que alojava um terrível nó em minha garganta e antes que pudesse refrear, me levantei e caminhei apressadamente para dentro da casa, batendo a porta com uma força desnecessária, pouco me importando se interromperia ou não o momento íntimo entre a Savannah e aquele playboy intrometido que ela havia tido a audácia de convidar para nos acompanhar em uma viagem que deveria ser apenas entre amigos. Sentia-me enfurecido e para ser honesto, não reconhecia metade dos motivos por toda aquela raiva e tampouco queria reconhecer. Subi as escadas bufando de raiva e quando adentrei o quarto que estava dividindo com a Melanie me deparei com o mesmo vazio e agradeci por não ter que lidar com ela naquele momento. Joguei-me sobre a cama com brutalidade, mantendo meus olhos fixos no teto branco e como se meus olhos fossem refletores, a imagem daquele maldito beijo se passando novamente diante de mim, deixando-me ainda mais frustrado e irritado.

“Fracassado! Fracassado! Você é um fracassado!” A voz cantarolou de forma irritante em minha mente. “Estávamos certas quando dissemos que você nunca iria tê-la, você é só um perdedor, Justin.”

Apertei meu punho e comecei a tentar pensar em coisas positivas, relembrar momentos agradáveis como tio Steve havia me ensinado a fazer quando elas tentavam me controlar, e a falta dos medicamentos já fazia um efeito muito grande sobre mim, me deixando cada vez mais vulnerável.

“Não tente se livrar de nós, a única pessoa que consegue nos tirar da sua cabeça está lá em baixo beijando outro cara, fazendo algo que vocês dois jamais farão.” O escárnio daquela voz me tirava completamente do sério e por mais que eu tentasse ignorar, simplesmente não conseguia, não tinha como.

— Cala a boca! — Protestei, trincando os dentes e fechando meus olhos fortemente.

“Você nunca irá tê-la, porque ela jamais iria querer um doente como você quando tem um cara muito melhor, ao qual nesse momento ela está aos beijos enquanto você está aqui se corroendo de ciúme.”

— EU DISSE PRA CALAR A BOCA, PORRA! — Gritei descontrolado, levando minhas mãos até os cabelos e apertando-os, sentindo-me tonto e cada vez mais sem saída.

As vozes me dominando rapidamente, deixando-me fraco e eu já não era mais capaz de lutar contra a força delas.

“Não seja ainda mais ridículo tendo ciúme de quem não lhe pertence, você poderia ter lutado para tê-la, mas preferiu a Melanie e agora está sentindo o peso do arrependimento.” Acusou-me como sempre e eu me levantei caminhando em passos fortes de um lado para o outro.

— Eu não estou com ciúme e não estou arrependido! Que ideia mais absurda! Não dê ouvidos, simplesmente não as escute! — Repetia para mim mesmo, passando minhas mãos nervosamente pelos meus cabelos e meu rosto, que queimava cada vez mais.

“Você não pode nos enganar, estamos dentro da sua cabeça.” Uma risada malvada ecoou em meus ouvidos. “É uma pena que a Melanie não seja todas as coisas que você tenha imaginado e tudo o que você sempre procurou esteja em outra pessoa que nunca pertencerá a você.”

— Foda-se! É tudo estupidez! — Bradei deixando-me ser dominado pela ira. — Não falem o que vocês não sabem! Me deixem em paz, já falei para me deixarem em paz, porcaria!

“Você é inútil, nos faça um favor e acabe de uma vez com essa sua insignificante vida.”

Apertei meu rosto com as mãos e me assustei completamente quando o barulho da porta sendo aberta fortemente ecoou no ambiente, e, quando meus olhos encontraram a figura de uma Savannah confusa e preocupada, senti um aperto em meu peito e um peso enorme pareceu ir sumindo lentamente das costas. Dando-me tranquilidade para, enfim, respirar novamente e esforcei-me para não deixar as lágrimas escorrerem. Quando menos esperei, senti os delicados braços dela fechando-se em voltado do meu pescoço, aproximando seu corpo quente do meu, em um abraço apertado, e minhas mãos automaticamente foram até sua cintura.

— Vai ficar tudo bem, Justin. Vai ficar tudo bem. — Sussurrou de sua maneira peculiarmente compreensível e, como sempre, acreditei na firmeza de suas palavras, sabendo que naquele momento tudo realmente ficaria bem, até porque sua presença já era o suficiente para as coisas parcialmente melhorarem.

Antes que pudesse controlar, as lágrimas salpicavam meu rosto e abaixei minha cabeça, escondendo-me na curvatura do pescoço dela. Me aproveitando da calmaria que a presença da mesma me infligia e que inexplicavelmente permitia que todas as dores me abandonassem, na mesma medida que as vozes igualmente desapareciam. Sentia-me inebriado enquanto o delicioso aroma de baunilha que exalava de sua pele me intoxicava, deixando-me anestesiado e era como se tudo que eu mais precisasse naquele momento se encontrasse facilmente ao meu alcance. Fazendo-se notável o fato de que a Savannah parecia ser o remédio mais eficaz para a minha loucura, a solução para os meus problemas irresolúveis e toda aquela percepção deixou-me novamente nervoso. Porém, deixei minha mente vagar e passei a usufruir do momento, deixando toda aquela confusão de lado, pois tudo o que eu queria era esquecer toda a aversão que existia sob mim e simplesmente aproveitar o sossego que aquele abraço me abrangia. Quando me senti devidamente mais calmo, afastei-a sorrateiramente pela cintura e ela entendeu meu comando, dando alguns passos para trás e eu mantive minha face abaixada. Funguei algumas vezes engolindo aquele estúpido choro e estava me sentindo um covarde por estar novamente chorando na frente dela, contudo, ela não parecia se importar com aquilo e sua atitude de certa forma me dava a segurança de desabafar. Enxuguei as lágrimas do meu rosto e finalmente tomei coragem para erguer minha cabeça, fixando meu olhar ao da bela garota em minha frente e quase sorri feito um tolo, entretanto o sorriso morreu antes mesmo de aparecer quando, por sobre os ombros da Savannah, avistei a Melanie parada na porta do quarto com uma expressão indecifrável. Seu rosto estava levemente pálido e seus lábios em uma linha reta enquanto seus olhos azuis me olhavam confusos e opacos. Senti todo os músculos do meu corpo travando e um aperto no peito me fez arfar. Com dificuldade respirei fundo desviando o olhar do dela, voltando a olhar para a Savannah que se encontrava a poucos passos de mim, ainda me olhando atentamente e sua expressão era de pura confusão e preocupação, analisei seu semblante e quando meus olhos fitaram seus lábios, que estavam mais avermelhados do que o normal, lembrei-me da cena que havia dado início a todo aquele meu descontrole e uma fúria descomunal me dominou. Senti meu rosto enrijecer e os olhos da garota se estreitaram. Afastei meu olhar na direção da Mel e ao lado dela avistei Bridgit, visivelmente assustada e ao lado da mesma o amiguinho da Savannah, com um semblante de confusão e curiosidade, e inexplicavelmente senti vontade de arrebentar a cara dele.

— Justin, nós definitivamente precisamos conversar. — Escutei a voz trêmula da Melanie murmurar e fitei-a inexpressivo.

Confirmei com um aceno de cabeça após alguns segundos hesitante e no primeiro momento não notei a Savannah se afastando, mas assim que voltei a olhá-la, a mesma já estava caminhando em direção a porta e, quando alcançou à mesma, Jonah passou um dos braços por sobre os ombros dela e a mesma olhou-me por sobre os ombros uma última vez antes de sumir da minha visão, acompanhada por aquele babaca. Engoli o descontentamento e quando todos finalmente saíram, a única que restou no local fora a Melanie. Seus olhos cheios de lágrimas e a decepção que continha nos mesmos, me atingiu profundamente.

— Eu quero saber de tudo. Sem enrolação! — Ela ordenou após fechar a porta, sua voz embargada.

“Você deveria saber que, uma hora ou outra, a verdade sempre será descoberta.” Uma voz claramente proferiu em meu ouvido e eu senti o desespero me dominando. Eu havia, por fim, colocado tudo a perder.


Notas Finais


E aí galerinha q assiste meu canal, tudo bem com vcs? ADASFSA baixou espirito do whindersson. Mas enfim, hoje não vou enrolar nas notas finais. Espero que gostem do cap (cheio de revelações), aliás, eu ja posso meio q sentir o cheiro de javannah e vcs? heheh até a próxima postagem. xoxo'


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