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História Paranoid - Você é o meu remédio.


Escrita por: sympathize

Capítulo 30 - Você é o meu remédio.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Você é o meu remédio.

Por alguma razão inexplicável, naquela manhã de quinta-feira eu havia acordado com saudade da minha infância e, o mais surpreendente, saudade dos meus pais. Recordando-me de quando íamos para o típico almoço de família, que acontecia todos os domingos, na casa da tia Helena, irmã mais velha de mamãe, e o quanto eu adorava ir até lá. O real motivo de todo o entusiasmo, no entanto, era porque encontraria minha adorada prima, Cassandra, e então poderia passar às tardes vendo-a praticando flauta. E eu achava imensamente incrível a maneira como ela era capaz de coordenar a própria respiração – ela tocava por horas e raramente perdia o fôlego. 

Mamãe sempre falava que aquilo era um dom. Muitas vezes eu até mesmo ficava chateada por, aparentemente, não ter nenhum. E então ela acariciava meus cabelos e dizia: ‘Fique calma querida, você só tem cinco anos, alguns levam mais tempo que outros’.  

Àquela declaração dela nunca havia me convencido completamente, porque, seguindo os relatos do tio Samuel, com quatro anos a Cass já soprava incansavelmente uma flauta. E eu, um ano mais velha do que ela quando começara, ainda não conseguia fazer nada surpreendente. Ainda assim, me orgulhava, e muito, por Cassandra ter um dom daquele – eu costumava dizer que era o único dom da nossa família. Por isso gostava de ir até a casa de tia Helena e encontrá-la, passar a maior parte do tempo com ela.  

Cassandra era a única prima que eu tinha. Tia Hel não havia tido filhos, apenas o tio Sam. Portanto, éramos muito próximas, apesar da diferença de idades – Cass tinha doze anos – e ainda que pouco nos víssemos.

Foi graças a ela que descobri minha paixão por música e, dois anos depois, meu dom no piano. E aqueles foram tempos bons, na verdade, maravilhosos.  

Não tardou para que uma lembrança fosse dando espaço para diversas outras. Golpeando-me por memórias incríveis de um tempo que havia passado depressa e havia ficado completamente para trás. 

Cass já era uma mulher formada agora, havia terminado os estudos e entrado na faculdade sequencialmente, dando ao tio Sam um tremendo orgulho. E então deixou de ser a surpreendente sopradora de flautas e se tornou Psicóloga – papai havia a influenciado, já que para ela, ele era uma espécie de herói.   

Bem, quando éramos crianças, ele parecia ser um herói para mim também.  

Em consequência, Cassandra se tornou o exemplo a se seguir que meus pais jogavam em minha cara sempre que brigávamos e isso acabou nos afastando. Até porque ela não compactuava com minhas teimosias e eu não compactuava com suas intromissões. Foi então que as brigas tornaram-se irrefreáveis e uma barreira fora crescendo entre cada um de nós.  

Tia Helena, no começo, era mais ao meu favor e por este motivo mamãe e ela, que sempre foram bastante unidas, deixaram de se falar; isso até ela descobrir as coisas que eu andava fazendo e que ela tanto repugnava, pois o ex-marido dela era usuário de droga e ela havia sofrido nas mãos dele, até finalmente conseguir a separação.  

Tio Sam nunca fora tão presente, mas era o único que ainda nos visitava, pelo menos uma vez no ano, e Cassandra ia junto – para encher minha cabeça com conselhos que nos faziam brigar no final. Já não me dava tanta euforia, como me senti durante diversos domingos de minha infância, saber que estaríamos juntas. E, na maioria das vezes, eu nem mesmo queria vê-la. Samuel não dizia nada, na verdade, eu e ele nunca fomos de trocar muitas palavras, portanto, apenas paramos de nos falar completamente depois de toda aquela drástica mudança.   

No final, eu havia afastado todos eles. Havia afastado tia Hel e o tio Sam. Havia afastado Cassandra e meus pais. Havia os afastado de mim e uns dos outros. E eu tentava viver como se não houvesse problema naquilo e como se a culpa fosse somente das circunstâncias, como se todas aquelas decisões ruins tivessem acontecido porque simplesmente tinham que acontecer.  

No entanto, aquele era um pensamento errado. E lá no fundo eu sabia, e até mesmo reconhecia, que boa da parte da culpa era completamente minha. 

 O que talvez fosse o motivo por eu estar ali, pensando neles, e sentindo aquele misto de nostalgia e culpabilidade.  

Porque pela primeira vez eu estava sã o suficiente para fazer aquilo, pela primeira vez não era uma granada preenchida por ódio e ressentimentos. Pela primeira vez, em muito tempo, eu não estava abarrotada pelo característico amontoado de sentimentos autodestrutivos e, desde que Justin havia entrado em minha vida, muita coisa dentro de mim havia se modificado.  

Uma mudança que me fazia enxergar com clareza que em toda aquela história eu não era tão vítima assim, mas sim que havia sido a vilã também. E o pior de tudo, havia sido minha própria vilã. E muito embora eu ainda não houvesse perdoado meus pais, eu já não os odiava tanto. Pois o Justin estava certo. Se eu tive que enfrentar tudo aquilo para encontrá-lo, era uma imensa incógnita se havia sido algo digno de ser considerado odioso ou um privilégio.

O fim da tempestade, finalmente havia me trazido a tão esperada bonança. E, no final, tudo aquilo igualmente havia me exercido aprendizados e se era na dor que aprendíamos a lidar com a vida, eu havia aprendido. E ainda possuía muito que aprender.  

A vida é como uma estrada cheia de buracos e cabe a você tentar pulá-los – até aprender – ou não. Infelizmente, por extrema estupidez e masoquismo; por conta de todas as minhas tentativas de atacar outras pessoas, quando, na verdade, estava atacando a mim mesma; eu havia caído em grande parte deles. No entanto, apesar de tudo – tombando e me reerguendo –, finalmente me tornei alguém capaz de enxergar além do que se permitia ver. Alguém capaz de chegar além do que se julgava merecedora de alcançar.  Por essa razão, não havia como carregar ódio de todas as coisas que me acontecessem, e de todas as pessoas que as faziam acontecer comigo, pois, no final das contas, aquilo – qualquer tipo de dor ou sofrimento – apenas me traria mais resistência e preparação.  

— Olá — despertei com uma voz próxima e sacudi a cabeça maquinalmente, afastando os devaneios.  

Estava debruçada no balcão, os olhos fitando um ponto invisível enquanto minha mente vagava distante.  

— Olá, me desculpe — murmurei sem jeito, adotando uma posição ereta.  

O rapaz em minha frente sorriu largo e automaticamente retribui. Não reparei mais do que o necessário nele, mas não pude deixar de perceber como o mesmo era bonito, e tinha um sorriso bonito – uma pintinha espessa no canto do lado esquerdo do lábio superior – e um perfume irresistivelmente cheiroso.   

— Vou levar todos estes — ele disse, dispondo uma pilha de livros sobre a bancada entre nós e mais uma vez balancei a cabeça maquinalmente.  

— Compra ou aluguel? — questionei e ele inclinou-se um pouco para que pudesse me ver por detrás dos livros.  

— Posso alugar? — indagou surpreso.  

— Sim, senhor — respondi e ele riu enviesado, algo em sua expressão me dizendo que havia achado graça de minha formalidade, visto que era nítido que o mesmo ainda não passara dos vinte anos.  

— Essa é a única biblioteca na cidade que ainda faz isso — ele prosseguiu um pouco distraído. — Não estou reclamando — contestou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa —, na verdade, isso é bem legal. Erm, irei alugar.  

— Tudo bem — respondi, simplesmente.  

Fiz todo o procedimento que precisava ser feito e ficamos em silêncio, em alguns momentos eu o sentia me olhando, e continuava focada no que fazia. Ele não sabia o tempo exato em que ficaria com os livros, então acertaria o pagamento quando viesse os devolver – me deu sua palavra de que não os roubaria, o que me tirou uma breve risada.  

— Quer que eu os coloque em uma sacola ou uma caixa?   

— Não, está tudo bem, posso levá-los na mão.  

— Obrigado e volte sempre.  

O fitei após todo aquele longo tempo sem olhá-lo e sorri, ele esboçou um sorriso bem grande.  

— Até mais, moça — piscou em minha direção e minhas sobrancelhas se estreitaram sutilmente, abafei a risada e ele logo começou a caminhar na direção da saída, o acompanhei com o olhar até que a atravessasse.   

Meu relógio bipou tempo depois, assustando-me.  

— Hora do almoço — falei comigo mesma, acariciando minha barriga.  

Organizei o balcão e estava prestes a deixar o local quando o sininho tocou outra vez, parei o que estava fazendo e levantei o olhar na direção da porta, para dizer para quem quer que fosse que eu estava me retirando para o almoço, mas calei-me assim que meus olhos encontraram aqueles imensos olhos verdes, encarando-me.  

— Oi, Sav — Melanie me cumprimentou, um bocado desconcertada e eu soltei o ar de uma só vez. O nervosismo me dominando.  

— Oi — sussurrei, parando de vez o que estava fazendo e consertando minha postura.  

Ela se aproximou em silêncio, olhou ao redor por um tempo.  

— Sei que é seu horário de almoço e vim cobrir sua saída — explicou-se. — Mas, será que poderíamos conversar um pouco?  

As suposições que rondaram minha cabeça não foram nem um pouco boas, mas eu tentei afastá-las. Assim como também afastei a culpa infundada que se alojava dentro, pois eu não havia feito nada de errado. Não era culpada por ter me interessado pelo cara que acreditava ser apaixonado por ela, e por estar com ele após descobrir que ele se interessava por mim também.   

No final das contas, tudo precisava ser mesmo resolvido. Então, eu conversaria com a Melanie e se fosse preciso que o Justin também o fizesse, eu não me importaria. Desde que tudo fosse explicado e que qualquer ressentimento fosse deixado para trás. E, tendo-a ali diante de mim, não parecia haver qualquer indício de raiva ou mágoa nas feições dela, e aquilo somente incitou-me a aceitar sua proposta.  

— Ahn — assenti freneticamente —, claro.  

Ela balançou a cabeça algumas vezes e depois caminhou na direção da porta da biblioteca, virou a plaquinha para fechado e a trancou, em seguida retornou em minha direção.   

— Bem — parou em minha frente, o balcão nos separando —, esses últimas dias foram muito difíceis pra mim.  

Ela parou subitamente e eu engoli em seco, houve um silêncio e eu decidi quebrá-lo.  

— Melanie — comecei, sem saber exatamente como prosseguir. Comprimi meus lábios, expirando profundamente —, eu sinto muito.  

— Não, não se desculpe, porque você não me fez nada — ela rebateu, surpreendendo-me e eu não pude esconder aquilo. — Na minha vida, sou eu que me cobro muito e não os meus pais. Eu que sempre quero me esforçar além do que provavelmente me acho capaz de fazer, e ainda que todos tenham suas opiniões de como devo seguir, sou eu que faço a maior parte das escolhas. Nancy, Bridgit e Aaron decidiram se juntar para procurar um namorado para mim, porque eu só me preocupo com estudos e futuro, eu não sei aproveitar o agora e não sei curtir o momento. Como a Brid costuma dizer, não sei curtir a vida.  

Abafou a risada e eu me mantive imparcial, não sabia como devia reagir e permaneci em silêncio, dando a liberdade de ela falar o quanto quisesse.  

— Quando o Justin — ela hesitou um pouco para falar o nome dele e eu me movi inquieta — apareceu, eu aceitei a proposta dele de cara pra fugir da possibilidade de realmente encontrar o que o trio de cupidos realmente procuravam. Eu só queria uma desculpa para fugir das cobranças deles, mas — expirou, sorrindo minimamente — eu jamais poderia imaginar que encontraria sozinha um cara tão legal como ele. Até porque nunca havia me permitido e nunca havia curtido o momento ou pensado só no agora como eu costumava pensar sempre que o tinha por perto. Claro que quando ele ia embora eu voltava a ser a Melanie cafona de sempre, mas pelo menos eu havia encontrado um refúgio — encolheu os ombros, entortando os lábios. — Não chegou a ser paixão e nem nada do gênero, o tempo todo foi só comodidade mesmo.  

Conforme as palavras iam escapando os lábios dela, e eu via a sinceridade estampada em seu semblante, eu sentia o peso da culpa abandonando-me lentamente. Justin havia estado com ela por um desejo de ser aceito e ela por comodidade, ambos haviam se enganado em relação um ao outro, portanto, a culpa pelo fim de tudo era das circunstâncias e da realidade. 

— Eu não acreditava nas histórias do tal Creed, achava que fosse só lenda da cidade para nos manter afastados do Forest Park, para que a natureza de lá fosse preservada. E quando eu descobri — ela calou-se, suas feições ficando momentaneamente distorcidas. — Foi demais para mim, você consegue entender?  

Eu apenas assenti, firmemente. Porque podia mesmo imaginar o quanto havia sido complicado para ela e o quanto havia a deixado surpresa e em seguida assustada. Aliás, eu havia experimentado aquele tipo de sensação quando o encontrei pela primeira vez, sem saber, e depois Lauren esclareceu as coisas. Contudo, eu havia levado menos tempo para ultrapassar aqueles sentimentos e enxergar outras probabilidades, pensar na possível inocência do Justin e decidir que queria saber o lado dele da história.  

A Melanie, no entanto, diferente de mim, não era uma curiosa impulsiva e inconsequente. Ela era uma pessoa centrada e que não gostava de riscos, não gostava de fugir do próprio padrão. Ela era muito pés-no-chão para que soubesse lidar com uma situação tão excêntrica como aquela. 

— Eu sei as coisas que você deve ter pensado e sinto muito se você sente enganada de alguma maneira — as palavras escaparam espontaneamente por minha boca, extremamente sinceras. — Eu conhecia o Justin desde o início e o ajudei a se aproximar de você, porque ele me disse que era interessado há três anos. Viu você saindo daqui um dia qualquer e depois disso se tornou um admirador, mas ele nunca teria se aproximado se não fosse por minha causa. Eu o incentivei o tempo todo, porque — parei por um tempo, umedecendo os lábios, sentindo meu rosto esquentando por conta das lembranças me golpeando. Coisas que eu queria esquecer, mas que precisam ser esclarecidas — ele é um cara bom. E eu não posso afirmar para você se ele fez ou não aquelas coisas, assim como não podemos julgá-lo sem saber, mas ele merece oportunidades e tudo o de melhor que puderem oferecê-lo.  

Quando fiz uma pausa, ela permaneceu calada, dando-me liberdade para continuar: 

— Quando a Lauren perdeu a casa e eu fiquei sem abrigo, ele me acolheu sem nem nos conhecermos direito. Em nenhum momento me senti em perigo perto dele, muito pelo contrário, até porque ele nunca me deu motivo para temê-lo. E eu não sei explicar o porquê, mas confio nele. Confio mais nele do que já confiei em qualquer outra pessoa dessa cidade e as coisas que falam sobre ele são absurdas.  

— Não tem como você olhá-lo, estar com ele e acreditar em qualquer uma daquelas coisas — ela murmurou, sorrindo sutilmente. — E os últimos dias foram difíceis pra mim, porque eu não posso acreditar em como reagi quando soube de toda a verdade — completou, após suspirar. — Na verdade, sempre achei o Justin certinho demais, mais politicamente correto que eu — forçou o riso e eu a imitei, contendo-me tempo depois. — E eu ficava pensando “Deve haver algo de errado nele, ninguém é tão perfeito assim”. E então, eu descobri. E foi aterrorizante, depois se tornou revoltante. Eu estava planejando o levar para conhecer minha família, eu falava sobre ele para os meus pais e depois de descobrir aquilo não pude evitar em pensar o quanto eles ficariam decepcionados comigo. O problema não era quem ele era ou a omissão do fato e sim as coisas que eu ficava pensando. E aquilo não teria me afetado tanto se não tivesse acontecido comigo, como por exemplo, se houvesse acontecido com a Bridgit. Eu provavelmente a teria censurado por ter sido tão maldosa, assim como ela fez comigo depois que eu me acalmei e lhe expliquei toda a situação.   

Melanie expirou e eu imitei seu gesto, encolhendo os ombros e enfiando as mãos nos bolsos traseiros de minha calça.  

— A Brid só faltou arrancar a minha cabeça. Ela ficou surpresa também, mas ao contrário de mim, não se deixou levar só pelas histórias contadas, ela fora ressaltando todas as coisas incríveis que tinha enxergado no Justin. E então me senti dolorosamente injusta, porque durante o tempo em que ficamos juntos, ele também nunca me deu motivo algum para ter medo e quando eu descobri, agi mais por impulsividade, movida pelo mesmo preconceito que domina metade dessa cidade — ela inclinou os lábios, a expressão de insatisfação exposta em seu rosto. — E se minha amiga destrambelhada podia ser tão humana, por que eu não podia? Afinal, eu jamais poderia imaginar que o personagem que assombra milhares de pessoas, fosse só um cara aparentemente comum — suspirou, fitando o chão por um tempo e retornou seu olhar em minha direção antes de prosseguir: — Eu aceito quem ele realmente é agora e consigo entender o receio dele em ter me contado a verdade. Eu gostaria de dizer essas coisas para ele, gostaria de dizer que não o odeio e não o culpo por precisar se esconder, mas não me acho digna de procurá-lo. 

— Ele não tem raiva de você, até mesmo entende — contei e o olhar dela me deixou consternada. — E em minha opinião seria legal se vocês conversassem, só para esclarecerem as coisas como você está fazendo comigo.  

Ela sacudiu a cabeça por um tempo, pensativa. 

— Você poderia avisar que quero conversar com ele, não é mesmo? Talvez hoje, terei o dia livre.  

— Bem, eu não poderia lhe dar certeza, porque não o vi hoje.  

Assim como no dia anterior, quando acordei naquela manhã, não encontrei o Justin. E a ausência do carro estacionado na frente da casa denunciava que ele nem mesmo estava em casa, e daquela vez ele nem mesmo havia me deixado um bilhete. No entanto, nenhuma insegurança venceu a confiança que havia brotado e se enraizado dentro de mim.   

— Não tem problema — Melanie reconquistou minha atenção. — Tente falar com ele amanhã, só me avise com antecedência.  

Assenti e ficamos em silêncio por um tempo. Àquela altura eu nem mesmo queria sair para almoçar, pois havia perdido o apetite; também nem estava com cabeça para dirigir e meu plano anterior era ir até a lanchonete do James.  

— Já tomei quase todo o seu tempo, você pode ir agora se quiser.  

— Agora sou eu que não sinto mais necessidade — contei, abafando a risada e ela riu também.  

— Vou ficar o dia inteiro aqui e há libero uma hora antes, então.  

Rimos ao mesmo tempo e em seguida, eu apenas anuí.  

Ficamos conversando e então ela subitamente me disse que estava prestes a se mudar para a Inglaterra, a família do pai dela morava lá e eles já planejavam se mudar, mas então a doença do Sr. Grayson fora descoberta e a mãe dela desistiu. Eles ainda não tinham uma data certa para viajar, mas já estavam cuidando dos preparativos e enquanto me contava ela parecia extremamente animada, e acabou igualmente se refletindo em mim, pois achava a Inglaterra um lugar incrível e que eu precisava conhecer antes de meu envelhecimento. 

— Não contei para os meus pais sobre o acontecido entre Justin e eu, nem para Nancy e muito menos para o meu irmão, apenas Bridgit e eu sabemos, eu só disse para eles que não havia dado certo e que a culpa era toda minha. Por isso minha mãe só achou que seria uma ideia ainda melhor nos mudarmos. Vou ter que desistir da faculdade que estou e recomeçar tudo novamente, mas estou tão contente pela melhora do tio Grayson e ainda mais contente agora por estarmos esclarecendo as coisas, que nem mesmo me importo. 

Ela praticamente atropelava as próprias palavras e eu não pude conter o riso. O tempo fora passando depressa, era impressionante como sempre passava de pressa quando ela estava por perto, como sempre, tagarelando. E em nenhum momento senti as ridículas sensações e pensamentos que antes tinha em relação a ela, aquele ciúme idiota e infantil, e estávamos tendo um momento bom juntas.  

O ponteiro do relógio girando ligeiramente. E conforme o tempo ia passando, só me fazia enxergar mais nitidamente o quanto às coisas finalmente estavam se ajeitando, o quanto estavam, enfim, completamente nos trilhos.   

A ardente excitação de ir logo para casa e encontrar o Justin – para compartilhar toda aquela paz com ele, contar que a Melanie não o odiava como ele provavelmente pensava e lhe tirar o peso das costas, assim como o peso havia sido arrancado da minha –, tornando-se cada segundo mais incontrolável. E eu só queria me jogar nos braços dele, me perder no calor de seu abraço e beijos. Livres para fazermos qualquer escolha e deixarmos todo o resto para trás. 

As conversas ao longo do dia foram fluindo até que voltamos a falar sobre o Justin novamente, e ela tocou no assunto sobre Seattle.  

— Eu já estava decidida a voltar para casa no dia seguinte e quando todos acordaram e viram que você e o Justin não estava mais lá, Jonah quase destruiu a casa dos meus pais inteira. Eu não fiquei brava, eu só conseguia pensar na noite anterior e no quanto eu não queria ver a cara do Justin, então meio que não me importei por ele ter ido embora, mas fiquei surpresa por você ter ido junto.  

— Foi um final de semana muito ruim — foi à única coisa que eu disse por que não queria ficar tocando muito no assunto e não queria dar detalhes para ela, pois por mais que ela demonstrasse naturalidade e despreocupação, eu não me sentia confortável.   

— Realmente — concordou, prendendo a risada.   

Ficamos em silêncio mais tempo. Até que chegou um grupo de garotas e adentraram a biblioteca cochichando e rindo, nos cumprimentaram e depois se esgueiraram no corredor de Romances.  

— Você está dispensada — Melanie disse, após fitar o relógio, e eu sorri em agradecimento. Peguei a chave do carro que estava na parte de baixo interna da prateleira. — Savannah? 

Inclinei na direção dela e ergui as sobrancelhas, inquiridora.  

— Já ouviu dizer que quem está de fora enxerga melhor? — questionou, inesperadamente e eu a encarei, o silêncio se estendeu por um tempo. — Eu não sei o que você e o Justin andaram tentando fazer, perdidos, fugindo um do outro, incapazes de perceber o óbvio bem diante de vocês... 

Ela riu, completamente espontânea e sossegada, e eu estreitei minhas sobrancelhas em confusão. Ela riu outra vez.  

— No começo isso me intrigava, mas nunca chegou a realmente me incomodar, eu só ficava me questionando. Quando o Justin vinha aqui, eu via a maneira como ele olhava para você e como você mudava o comportamento na presença dele — senti minhas mãos gelando com o comentário e me encolhi um pouco, ela soltou a risada como ar pelo nariz. — Ele se dizia apaixonado por mim, mas sempre foi pra você que ele olhava diferente. Sempre era em você que ele se perdia.   

— Melanie — tentei a interromper, mas ela continuou:  

— O que eu e o Justin tivemos foi bom e agradável, mas não é por mim que ele está apaixonado. Vocês se olham da mesma maneira — ela sorriu, com autenticidade, e eu não pude conter o sorriso que perturbou meus lábios. — Eu não posso dar a ele o que você está disposta a dar e igual você mesma disse, se ele fez ou não o que dizem que fez, nada disso muda o fato de que existe uma extrema bondade dentro dele e eu também acredito que ele mereça o melhor, e o melhor para ele talvez seja você.  

 “Savannah, você é a melhor parte de mim”, me lembrei das palavras do Justin e senti meu peito aquecendo. Encarei a Melanie e ela sorriu sincera em minha direção.  

— A maneira como você me falou dele hoje, só me fez ter certeza — relatou e ruborizei, rimos ao mesmo tempo. — Você não deve se sentir culpada ou pensar que me deve alguma fidelidade, assim como vocês não precisam se preocupar com nada além do que realmente querem, porque paixão ou amor, nenhum desses sentimentos deve esperar. E muitas vezes a vida é curta para esperar o tempo certo e, na verdade, não existe o tempo certo. O tempo certo é o agora, é quando seu coração decide que é e você só tem que se entregar.   

Pela expressão no rosto dela, não era como se ela esperasse que eu lhe dissesse alguma coisa, até porque eu nem mesmo sabia o que poderia ser dito. Apenas aceitei as palavras dela e as guardei dentro de mim, palavras que me confortaram.   

— Foi bom conversar com você, Grayson — bati continência na direção dela e ela sorriu, e eu abafei a risada.  

— Digo o mesmo — rebateu, imitando o meu gesto.  

Sorrimos uma para a outra, pisquei na direção dela e depois me afastei, caminhando na direção da saída. Do lado de fora, fui recebida por uma rajada de vento e fechei os olhos, respirando fundo. Tudo em mim estava calmo como nunca esteve, meus pensamentos, meu corpo e meus sentimentos. Apenas a satisfação e anseio de ir para casa, de estar com o Justin.  

Dirigi tranquilamente, ouvindo a rádio e tamborilando no volante, cantando partes da música que eu sabia e embolando tudo nas partes que não sabia. Sorrindo comigo mesma, o vidro da janela um pouco aberto, o vento bagunçando meu cabelo que chicoteava em meu rosto. Há tempos eu não me sentia daquela maneira e era como se estivesse voltado quatorze anos atrás, quando eu estava sentada no banco do passageiro do carro dos meus pais, contente por estar indo para a casa de tia Helena. E mesmo que eles houvessem deixado de ser parte da minha nova vida – e no fundo eu esperava que não fosse para sempre –, o sentimento que me apoderava naquele momento era o mesmo. A urgência em ver o Justin como eu sempre ficava quando sabia que poderia ver Cassandra tocando flauta. Tentando não pensar no único medo que eu sentia, o extremo e apavorante temor de que, assim como todos os outros, um dia ele também acabasse indo embora. O temor de que um dia eu também acabasse o afastando.  

Quando me aproximei da trilha, meus olhos estreitaram-se levemente. O carro de Nolan vinha um pouco mais à frente e ele o estacionou ao lado do meu, abaixamos o vidro de nossas janelas, que ficavam uma de frente para a outra, e ele sorriu em minha direção.  

— Está indo embora por que estou chegando? — questionei, com escárnio e ele riu. Em seguida maneou com a cabeça.  

— Eu só vim entregar umas compras, o J.Drew passou na mercearia mais cedo — ri baixinho, Nolan nunca perderia a mania de chamar o Justin daquela maneira —, deixou uma lista com o meu avô e pediu para que eu entregasse aqui por volta do horário que você iria chegar do trabalho. Vim com antecedência porque ainda terei que fazer outra entrega.  

Franzi o cenho outra vez, confusa, e Nolan chamou minha atenção com um assobio e depois jogou uma chave dentro do carro, era a chave do Justin.  

— Ele não está em casa?   

Nolan negou e eu inclinei meus lábios, parte da minha animação indo embora, mas aquilo não modificaria o fato de que eu pularia nos braços dele há qualquer momento em que ele retornasse.   

— Você sabe onde ele está?  

— Não, eu não o vi, ele só falou com meu avô mesmo.  

Assenti mais vezes do que o necessário e ficamos em silêncio por um tempo.  

— Bem, eu gostaria de conversar mais, mas preciso ir, Sav — Nolan avisou e eu apenas assenti. — Até sábado. 

Ele sorriu uma última vez em minha direção antes de seguir em frente e eu fiquei parada um tempo antes de fazer o mesmo.  

Ao adentrar a casa, facilmente constatei que o Justin não havia retornado lá em nenhum momento desde que saí. Não tinha comida e, por não ter almoçado, eu estava cheia de fome, portanto, antes de guardar as compras – que Nolan havia deixado na sala – nos armários, fiz um macarrão instantâneo somente para enganar o estômago. Depois me ocupei em encontrar os lugares devidos para os utensílios, o que me custou bastante tempo por conta da quantidade; o Justin fazia compras muito excessivas, julguei que talvez fosse para ir com menos frequência na cidade.   

Em seguida fui até a lavanderia e estendi no quintal dos fundos as roupas que estavam na máquina.   

Eu estava irrequieta, então – depois de tentar ligar dez vezes para o Justin e as dez vezes ter caído na caixa postal – simplesmente acabei decidindo limpar a casa, apesar de sempre estar impecavelmente limpa.  

A parte de baixo não me deu muito trabalho e na de cima, os três quartos – meu quarto, o do Justin e o quarto do piano – estavam com as portas abertas. No quarto do Justin estava tudo em ordem, portanto, nem precisei passar por lá. Já o meu tive que arrumar, posto que eu havia acordado preguiçosa naquela manhã e por isso não o ajeitei antes de sair.  

Após limpar tudo, desci para guardar os produtos de limpeza, rodo e vassoura, na lavanderia e decidi subir para tomar um banho, depois descer novamente para fazer o jantar e assistir tevê enquanto esperava o Justin.   

Enrolei bastante sob o chuveiro e lavei o cabelo, aproveitei para me depilar e o fluxo menstrual já estava mínimo – nunca passava de quatro dias. Utilizei um absorvente pequeno e coloquei uma camisola preta, de comprimento médio. Arrastei-me pelo corredor penteando meu cabelo e voltei para o quarto do piano. Os quadros, das fotos dos pais do Justin, não estavam mais nas paredes e nem nos móveis e aquilo não deixou de me aborrecer, pois era muito provável que ele os tirasse para que se sentisse menos culpado.  

 Toquei piano por um tempo, exercitando os dedos e o cérebro, o tempo – como sempre acontecia quando eu tocava – passou voando.  

O céu já estava completamente escurecido quando desci e ainda não havia nenhum sinal do Justin. Preparei um macarrão, utilizando um sachê de molho branco que havia vindo nas compras, no início fiquei em imensa dúvida se deveria esperar o Justin chegar para jantarmos juntos ou se deveria comer antes que ele chegasse.  

No final acabei sendo vencida pela fome e separei um prato para ele no micro-ondas, guardando o resto na geladeira. 

Deixei um bilhete em baixo de um prato – como ele costumava fazer – para o caso de eu acabar dormindo antes da chegada dele, avisando que ele podia me acordar, pois precisávamos conversar. Fui até a sala e liguei a tevê, deitei no sofá e tentei assistir um filme que já havia começado há algum tempo e a qualquer barulho eu me movia, pensando que fosse o Justin, mas não era, era apenas o vento balançando as janelas e as portas – após um tempo aquilo começou a me causar certo medo, mas tentei não pensar tanto ou então ia acabar entrando em pânico.  

Adormeci antes que pudesse prever e acordei em minha cama, o despertador berrando sem parar bem ao lado do meu ouvido. Levantei-me de uma vez só e senti minha cabeça rodando, quase me deitando novamente. Mas, apesar da dificuldade, me mantive de pé. Sem, ao menos, me olhar no espelho, e sequer desligar o despertador – que tocou até cansar –, saí do quarto, chamando pelo nome do Justin. A casa estava em total silêncio outra vez.  

— Eu devo estar sonhando — resmunguei comigo mesma, coçando a cabeça.  

Na cozinha, tudo estava em perfeita ordem e eu nem mesmo me lembrava de ter lavado as louças que sujei na noite anterior. O bilhete que eu havia deixado para o Justin também não estava mais lá e nem o prato, assim como o prato com macarrão dentro do micro-ondas.  

— Justin — chamei outra vez, indo na direção da sala, começando a me sentir irritada.  

Aproximei-me da janela da sala e olhei para o lado de fora. O carro dele não estava lá outra vez, somente o meu. Mais uma vez ele não havia deixado bilhete algum.  

— Droga — resmunguei, emburrada e depois me arrastei até a escada.  

Como um imã meus olhos encontraram o corredor atrás da mesma e a porta branca lá no final. Vista pela luz da manhã, a mesma não parecia tão assustadora como costumava parecer durante a noite – muitas vezes eu procurava não olhar muito naquela direção, apesar de ter quase certeza de que se tratava apenas de um quartinho de bagunça. Porém naquela dia, talvez por conta dos questionamentos de Lauren em relação à mesma, movida pela curiosidade que sempre tentei ignorar, caminhei naquela direção a passos cautelosos e apressados. Alcançando o fim do corredor e aproximando-me da porta, não havia nenhum barulho lá também e eu segurei a maçaneta, forçando-a, contudo, a mesma não abriu. Tentei apenas mais uma vez e depois desisti, caminhando no mesmo ritmo para fora de lá – como uma criancinha apavorada pela ideia de ser pega aprontando uma coisa terrível – e subi as escadas a passos pesados, sentindo-me irritada e contrariada.   

Afastando os pensamentos, tomei um banho rápido e me preparei para mais um dia de trabalho, decidida a não pirar por besteira e esperar o Justin aparecer para elucidar as coisas. Presumi que talvez ele estivesse resolvendo assuntos importantes e não houvesse me acordado por ter chegado muito tarde, e ter consciência de que eu levantaria cedo no dia seguinte. Justin se preocupava muito comigo e a recíproca era verdadeira, obviamente eu queria que ele confiasse em mim e me contasse o que andava fazendo, e parasse de simplesmente desaparecer. Esforçando-me para não pensar naquilo até que voltasse a ser inundada por paranoias, enchendo-me de motivos que no final me fariam brigar com ele.  

As coisas estavam tão bem entre nós e depois da conversa com a Melanie eu havia ficado tão mais otimista, e aí ele sumia, deixando-me no escuro outra vez. Completamente chateada, porque queria que ele não me mantivesse por fora das coisas daquela maneira.  Afinal de contas, ele mesmo havia exigido aquilo de mim dois dias atrás e eu achei que aquela era uma sentença que serviria para nós dois.  

Focar no trabalho foi extremamente difícil, mas me esforcei ao extremo. Durante todo o tempo fiquei pensando em possibilidades do porque do Justin ter desaparecido, e uma ideia era simplesmente pior e mais fantasiosa que a outra. Portanto, quando o relógio apitou meu horário de almoço, e Nancy veio suprir minha ausência daquela vez, resolvi dirigir até a lanchonete, para me distrair com a Lauren.  

Quando cheguei, ela estava parada, conversando com a Hannah do lado de fora e não estava usando o uniforme.  

— Oi, fofoqueiras — me aproximei e beijei a bochecha de Lauren, ela fitou-me assustada e depois, ao me reconhecer, sorriu largo.  

— Ray-ray — saudou-me e foi à vez dela de beijar minha bochecha, grudando meu rosto com força, obrigando-me a fazer beicinho e eu resmunguei.  

— Me larga — empurrei-a e ela riu.  

— Fiquei sabendo que você enricou e por isso vem menos para esse lado da cidade — Hannah comentou e eu dei risada.  

Aproximei-me dela, dando-a um beijo estalado na bochecha. 

— Pois é, por que eu comeria nessa espelunca com o mar de grana que tenho agora? — abanei com a mão, fingindo desdém e a brincadeira nos rendeu gargalhadas escandalosas. — Eu tenho vindo aqui muitas vezes, não tenho culpa se não era no seu expediente.  

— Consegui pegar meu horário de volta hoje, agora Lauren vai ter que me aturar — ela disse, esboçando uma expressão de deboche e a Lauren abafou a risada.  

— Você não está trabalhando hoje? — questionei e ela olhou-me.  

— Vou começar agora, tive que sair para resolver umas coisas da social para o James — explicou e eu apenas assenti. — Vamos ao banheiro, tenho que me trocar.  

Antes que eu pudesse responder ou me despedir de Hannah, Lauren puxou-me para dentro do estabelecimento e depois na direção do banheiro. No meio do caminho olhei na direção de uma das mesas e avistei o Andrew, sentado, sozinho. Virei o rosto depressa e ajudei a Lauren a apressar o passo.  

— Adivinha quem vai me levar para jantar hoje? — ela questionou quando entramos no banheiro e eu arqueei as sobrancelhas. — Não fala que é o James, porque os conhecimentos cavalheirísticos dele são muito limitados para isso.  

— Cavalheirísticos não existe — rebati, provocante e ela rolou os olhos.  

— No meu vocabulário, existe — sacudiu a mão e foi minha vez de rolar os olhos.  

Lauren entrou em uma das cabines e eu virei na direção do espelho, ajeitando meus cabelos, que estavam soltos, amarrando-os em um coque apertado. Uma garota entrou no banheiro, somente para ajeitar o cabelo e passar batom, depois se retirou sem ao menos olhar em minha direção. 

— Nolan vai me levar para jantar, Savannah — Lauren gritou e eu despertei, dando um sutil pulo. — Fico feliz em saber que você se interessa por isso.  

— O quê? Oh, Lauren, me desculpe. Eu — umedeci os lábios, virando na direção das cabines tempo depois, cocei minhas sobrancelhas. — Eu estou um pouco distraída hoje.  

— Um pouco — ela repetiu, rindo. — Qual é o problema? Você já falou com o Justin da social amanhã?  

 — Bem — comecei, entortando os lábios, escorando-me no mármore da pia —, Nolan tocou no assunto com ele antes que eu pudesse ter dito, mas no final conversamos sobre e ele disse que vem.  

— Ah, então é por isso que Nolan me disse que achava ter feito uma burrada quando comentou, mas você sabe que não foi por querer, não é?  

— Claro que sei — respondi, depressa. — Por que ele te chamou para jantar?  

— Por que um homem e uma mulher, sem grau de parentesco ou intuitos profissionais, saem para jantar, Savannah? — ela questionou, abrindo a porta do banheiro e saindo, ajeitando o avental em sua cintura.  

— Lauren...  

— Antes do sermão, me deixa explicar — estendeu o indicador, parando em minha frente e eu revirei os olhos, antes de me render e anuí. — Eu tive que ir resolver uns assuntos do Buffet hoje cedo e o James disse de última hora que não poderíamos ir juntos e então eu teria que ir sozinha. Tenho certeza que isso foi por ele ter dormido com uma qualquer e ter perdido à hora, e então eu estava lá na frente da lanchonete esperando por um táxi e o Nolan apareceu do lado de fora da mercearia do avô dele. Acenamos na direção um do outro e ele veio conversar comigo, eu comentei o que estava prestes a fazer e ele me ofereceu carona e companhia, e eu aceitei, porque a companhia de Nolan Green é indispensável.  

Rimos ao mesmo tempo e ela suspirei, eu acabei fazendo o mesmo, em seguida ela voltou a se pronunciar: 

— Quando chegamos ao local, Nolan disse que podia esperar do lado de fora, mas eu pedi para que ele entrasse comigo. Fui provando os doces e os salgados enquanto ele experimentava as bebidas e íamos escolhendo os melhores. Foi tão divertido, Savannah. Não foi um momento tão longo, mas eu não me lembro de já ter estado tão verdadeiramente contente na presença de um cara depois do... — ela expirou, fico pensativa e em seguida negou com a cabeça. — Bem, depois nós viemos embora e ele me deixou aqui, demorou cerca de cinco minutos para conseguir me chamar para jantar e, até mesmo para a minha surpresa, eu disse sim de imediato. Aceitei não porque quero provocar o James ou porque estou tentando massagear meu ego ferido, mas sim porque eu quero jantar com ele e quero trazê-lo na social amanhã porque quero tê-lo por perto e — pausou, adotando uma expressão cômica e eu me segurei para não rir. — Quer saber? Que se dane! Eu quero o Nolan Green e eu já o queria antes de conhecer o Harry, mas fui burra e fiz a escolha errada. Se estou sendo abençoada com outra chance, não vou cometer o mesmo erro.  

— Lauren! — exclamei, um sorriso de ponta a ponta de abrindo em minha boca. — Finalmente!   

Bati palminhas e ela encolheu-se, envergonha. 

— Demorei a perceber, mas a verdade é que o James foi o primeiro cara por quem me interessei depois do Harry e eu me enganei em relação ao que sentia, eu só quis me prender a isso pela imagem que tinha dele no começo, mas que se modificou conforme eu fui vendo quem ele realmente era.  

— Uau, Lauren. Que profundo — coloquei a mão sobre o peito, forçando a expressão de comoção e ela gargalhou. — Eu sempre disse que o James é uma boa pessoa, mas não um bom partido.  

— Se ouvíssemos os conselhos uma da outra, nunca teríamos problemas!  

— Concordo — rebati, rindo. — Mas eu ouço mais os seus do que você os meus!  

— Ah não, vitimização, não — retrucou, revirando os olhos.  

 Prendi a risada e ela se rendeu ao riso tempo depois. Depois me analisou atentamente.  

— Você não parece tão animada para quem vai trazer um garanhão pra esfregar na cara do Owen amanhã.

— Lauren, não vou trazer o Justin para esfregá-lo na cara do Andrew, na verdade, por mim ele nem mesmo viria, foi ele que insistiu.  

— Eu sei, mas...  

Antes que ela pudesse prosseguir, eu a interrompi:  

— Eu ‘to legal com o Justin e não preciso provar nada para ninguém, e muito menos para alguém como o Andrew. Se você acha que isso vai fazê-lo parar, você ‘tá enganada, porque ele não sabe o que é ter limites.  

— Nossa, que lapada na minha cara — ela murmurou, forçando um sorriso e eu expirei.  

— Lauren, não quis ser grossa com você, é só que... É uma situação muito complicada, o Justin se disponibilizou e eu aceitei porque não queria magoá-lo, mas não acho que seja uma boa ideia. Não tenho um bom pressentimento em relação a isso.  

— O que poderia dar errado? — ela questionou, erguendo os ombros. — Ninguém o conhece, ninguém vai saber sobre o Creed ou qualquer outra coisa.  

Continuei negando com a cabeça e ela olhou-me ainda mais preocupada.   

— O que aconteceu?  

— Eu não vejo o Justin há dois dias — contei e soltei o ar em seguida —, a última vez que o vi foi no dia em que você foi lá e no dia seguinte ele ficou fora o dia inteiro e acho que voltou no meio da noite, mas hoje ele já não estava lá outra vez.  

— Nenhuma mensagem? — neguei. — Nenhum bilhete? — neguei outra vez. — Nenhum sinal de fumaça?  

Tentei não rir, mas fui incapaz e ela olhou-me satisfeita, rindo também.  

— Você pode parar de ser idiota quando estou falando sério? — pedi, forçando a seriedade. — Isso é sério, Lauren, eu estou preocupada.  

— Savannah, não estamos falando de nenhuma criança. Ele deve estar bem.  

— Eu não sei, isso é estranho. Ele já ficou fora um dia, mas não dois! Talvez ele tenha desistido por medo de descobrirem a identidade dele. 

Lauren rolou os olhos, afastando-se tempo depois. Parou de frente para o espelho e começou a ajeitar o cabelo, passou um pouco de base e gloss labial.  

— Ninguém saberia, Savannah. Eu jamais saberia se já não o conhecesse. O Justin parece ser completamente normal, nada a ver com o Creed. Ele parece simplesmente se transformar quando usa aquelas roupas.   

Contrariada, soltei o ar pesadamente pelos lábios.  

— Esse medo é mais sei do que dele. Fica tranquila — disse, calmamente, virando-se em minha direção. — Ninguém que vai estar na social amanhã é capaz de descobrir identidades ocultas.  

Mais uma vez não pude prender o riso e ela riu sutilmente, apertando a ponta do meu nariz.  

— Tente descobrir o que está acontecendo e traga-o com você. Acredite em mim, vai fazer bem para vocês. E eu e Nolan também estaremos aqui caso qualquer coisa dê errado.  

Após um tempo hesitante, assenti veemente e ela sorriu, em satisfação. 

— Acho que ele está fugindo de você — ela provocou e eu a fitei, ultrajada. 

— O quê? Por que ele teria motivos para fugir de mim? 

— Ah, Savannah, você fica negando fogo para o pobre coitado — quando as palavras escaparam por seus lábios, eu gargalhei bem alto. — Você tem noção do quanto deve ser difícil para eles vocês morarem na mesma casa e não rolar nadinha? 

— Lauren! Você sabe que não sou assim e — calei-me por um tempo, desconcertada — quando chegamos perto disso, eu estava no meu período. 

Ela rolou os olhos, maneando a cabeça. 

— Eu sei bem que seu período some no quarto dia, então amanhã — fechou as mãos e depois as abriu, um sorriso malicioso nos lábios. — Amanhã é à noite, minha amiga. Veste a sua melhor lingerie e capricha na produção, se ele não arrancar suas roupas depois da festa, você ‘tá namorando o seu pai. 

— Lauren, qual é o seu problema? — perguntei, minha voz soando estridente por conta da risada. 

— Hoje eu estou terrível. 

Sorriu presunçosa e eu abafei o riso. 

— Efeito Nolan Green. 

— Efeito Nolan Green — ela repetiu, sorrindo feito tola. 

— Vê se não vai deixá-lo arrancar sua roupa fácil demais — provoquei e ela encarou-me com cara de paisagem. 

— Você ‘tá achando que sou o quê? 

— Você ‘tá achando que sou o quê? 

Gargalhamos ao mesmo tempo e ela me deu um tapa no braço, em seguida o retribui e isso só nos rendeu mais risadas. Éramos duas malucas. 

— Imagina que loucura se todos soubessem que o Creed não é nenhum deformado e sim um rapaz bastante bonito, e  que vocês estão juntos — ela disse enquanto caminhávamos na direção da porta do banheiro. — Os queixos iam parar no chão. 

— Se isso os fizesse parar de criticá-lo, eu não me importaria — murmurei, divertida, ela riu sutilmente. — Mas, por outro lado, fico feliz que não saibam, pelo menos isso dá ao Justin uma chance. 

 Enruguei o nariz e a Lauren inclinou-se em minha direção, empurrando-me com o ombro. 

— É um segredo que vai estar somente entre nós — piscou em minha direção e eu sorri. — Amanhã vai ser incrível! 

— Amanhã vai ser incrível — repliquei e cruzamos os dedos. 

Ainda estávamos sorrindo quando saímos do banheiro, mas meu sorriso morreu rapidamente quando olhei para a nossa frente e vi Andrew Owen caminhando, um pouco mais adiante, e a sensação somente piorou quando ele olhou por sobre os ombros, com uma expressão bastante perturbadora, antes de caminhar apressado na direção da saída da lanchonete e prosseguir sem olhar para trás.   

Por parecer que ele estava saído da direção do banheiro, senti meu coração gelar ao ponderar a possibilidade dele ter escutado alguma parte de minha conversa com a Lauren, mas rapidamente dispersei o pensamento ao me lembrar que o banheiro masculino ficava bem de frente para o feminino. E quem sabe ele só houvesse ido até lá e só houvesse olhado para trás por ter ouvido o barulho da porta e das nossas risadas, e só tenha me olhado daquela maneira porque se tratava de mim.  

Hannah e Elizabeth estavam conversando um pouco mais a frente, próximas do balcão onde se fixavam pedidos, e eu e Lauren nos aproximamos. Lizzie se afastou assim que viu nossa aproximação e eu encarei a Lauren, que me encarou de volta, fazendo uma careta engraçada. 

— Depois a minha educação que é questionada — Hannah murmurou, rolando os olhos e eu prendi o riso. 

— O Owen já foi? — questionei, fingindo-me surpresa.   

— Sim — ela respondeu, suspirando aliviada e liberei o riso daquela vez. — Ele fechou a conta, foi usar o banheiro e então felizmente caiu fora.   

Suspirei, aliviada também – um alívio um bocado diferente do qual ela provavelmente pensou que fosse – e ela gargalhou, e me permiti rir também, deixando a tensão de lado.    

— Você vêm amanhã na social do James? — Hannah perguntou e eu assenti veemente.   

— Claro — respondi, subitamente entusiasmada. — Comes e bebes sem custo, não perco por nada.   

Ela e Lauren gargalharam, e eu ri mais sutilmente. E por mais que parte de mim estivesse distraída com o início de uma conversa entre as meninas, lá no fundo ainda havia uma linha de preocupação que não se passava despercebida, e que me causava certa inquietação. 

“Amanhã vai ser incrível”, pensei, rezando para que realmente fosse. 

 

Dirigi um pouco acima do limite enquanto voltava para casa, estava exausta. Quando retornei de meu horário de almoço, a biblioteca estava bastante movimentada. Um grupo de universitários haviam se juntado lá e só foram embora um pouco antes do horário de fechamento – boa parte deles levaram pilhas de livros, o que me rendeu muitos cadastros.  

Toda aquela concentração fez com que eu me desligasse um pouco, no entanto, mesmo quando o expediente terminou, meu ânimo não se modificou em nada, pois, em nenhum momento, cogitei a possibilidade do retorno do Justin. Até porque não queria criar expectativas como no dia anterior para acabar decepcionada, e ele que retornasse quando bem entendesse, mas de maneira alguma escaparia de me dar uma boa explicação! 

Por esse motivo, fui completamente pega pela surpresa ao encontrar o carro dele estacionado na frente da casa e um misto de felicidade e revolta me dominaram; parte de mim apenas querendo sair correndo para pular em cima dele, beijá-lo sem me preocupar com nada, enquanto a outra parte ansiava por explicações, disparando um alerta diante dos meus olhos que me fazia crer que havia algo sórdido por trás do sumiço dele. 

E foi movida por uma convicção súbita, e os anseios de minha segunda parte, que desci do carro e bati a porta, acionando o alarme no meio do caminho e praticamente correndo na direção da casa, mas controlando os passos ao alcançar a varanda. 

— Justin — chamei, seguindo calmamente até a cozinha após adentrar a sala e ouvir um barulho vindo de lá. Espantando-me quando estava prestes a adentrar o cômodo e ele surgiu em minha frente, quase esbarrando em mim. — Oh, meu Deus.  

Expirei profundamente, dando dois passos para trás. E automaticamente engoli em seco ao fixar meus olhos nele. Ele parecia péssimo, exausto e deprimido. O rosto estava pálido e as bolsas negras ao redor de seus olhos, em conjunto com a expressão desoladora, fizeram com que um aperto sufocasse meu peito. A preocupação estourando dentro de mim como uma bomba-atômica e eu quis me lançar na direção dele e abraçá-lo, enchê-lo de questionamentos, inundá-lo de carinho. Mas existia algo no olhar dele que me intimidava e então eu permanecia petrificada; não me permitia fazer o que minha mente tanto pedia para ser feito.   

— O quê — comecei e parei, perdendo-me no emaranhado de dúvidas que rondavam minha cabeça. — Como — ele estreitou levemente os olhos, entortando minimamente os lábios e eu tentei não pensar no quanto ele havia ficado bonito daquela maneira. — Por onde você andou? — algo coerente finalmente escapou por meus lábios e ele suspirou, e depois deu as costas para mim e retornou para a cozinha.  

Franzi minhas sobrancelhas e meu corpo endureceu. Uma fina linha de raiva se enlaçando a toda minha preocupação e eu suspirei pesadamente antes de, decididamente, segui-lo. Quando adentrei o local, ele estava parado de frente para a porta de vidro que levava para o amplo quintal externo, fitando as árvores adiante. O semblante em seu rosto demonstrando o quanto sua mente estava distante. Chamei-o duas vezes e ele permaneceu estático, os olhos paralisados em algo que lhe parecia fascinante demais para deixar de olhar por sequer um só segundo. Por uma razão inexplicável, senti como se meu estômago estivesse afundando e engoli em seco outra vez, sentindo um peso doloroso pousando em meus ombros. 

Toda a tranquilidade, exaustão e qualquer outro sentimento anterior, desaparecendo ligeiramente. 

Após alguns segundos hesitante, aproximei-me completamente do Justin, parando ao seu lado, e deixei que meu olhar vagasse na direção à qual ele olhava, numa expectativa de enxergar o que tanto o prendia. Mas não havia nada de diferente lá. Não para mim.   

— Só porque você não vê, não significa que não esteja lá — murmurou, relapso, como se estivesse lendo minha mente, e  me sobressaltei, sentindo um calafrio pavoroso subindo por minha espinha.  

— O q-que vo-você — limpei a garganta, maneando a cabeça negativamente, antes de prosseguir: — O que quer dizer com isso?   

Ele me ignorou outra vez. E o silêncio residiu entre nós por mais alguns instantes, até que ele expirou e eu me movi inquieta.  

— Justin — minha voz saiu mais alta do que eu havia planejado e a cabeça dele rapidamente virou-se para mim, seus olhos me encarando, estreitos. — O que está acontecendo?  

Eu estava tentando fortemente esconder o receio, mas sentia cada membro do meu corpo vibrando e diante dos meus olhos parecia existir uma luz vermelha, piscando sem parar, um típico alerta de perigo. Afinal de contas, faziam dois dias que eu não o via e quando ele finalmente aparecia, era daquela maneira completamente introvertida – o total oposto de como ele estava há dois dias.  

— O que está acontecendo com você? — silêncio. — Por onde andou? — mais silêncio.  

Respirei profundamente, tentando manter o autocontrole, visto que detestava ser ignorada.  

— Justin, você está me deixando preocupada.  

— Talvez assustada seja a palavra certa — rebateu, erguendo os ombros.  

Irritei-me completamente e soltei um muxoxo, não escondendo minha insatisfação.   

— Droga, por que você tem que fazer isso? — perguntei, por entre os dentes. — Por acaso está tentando me enlouquecer?  

Apontei para a minha cabeça e ele me olhou por um período de tempo que me pareceu eterno. E não foram como os outros olhares que já havíamos trocado. Existiam tantas coisas... Existia uma carga tão insuportável em alguns instantes de uma conexão que normalmente costumava me causar sensações distintas das quais naquele momento eu experimentava.  

Senti medo.  

Um medo que nunca havia sentido na presença dele antes. E movida por aquele sentimento, lancei-me para trás ao senti-lo inclinando-se em minha direção. No entanto, ele ligeiramente me alcançou e segurou minha mão. Os sentidos do meu corpo adormeceram de imediato e o característico formigamento percorreu da palma da minha mão até se alastrar por todo o meu corpo.  

Era prazeroso e extasiante.  

Fazia com que não me importasse se a expressão no rosto dele despertasse algo ao qual não me permitia sentir em relação a ele, porque seu toque continuava sendo o mesmo, portanto, ele também continuava. Só estava escondido por trás daquele seu injusto lado sombrio, que tanto lhe castigava. Porém, eu já havia o visto antes e já havia o visto desaparecendo também. Por essa razão, e diversas outras, não podia ceder ao anseio de querer correr para o mais longe possível dali, pois, desde o início, ajudá-lo era uma prioridade para mim.  

Sendo assim, eu só precisava esperar até que o Justin que eu conhecia, e possuía sentimentos cada vez mais intensos, retornasse. O meu Justin.   

— Diz alguma coisa — pedi, sussurrando. — Qualquer coisa.  

— Tão linda — ele sussurrou de volta, seus olhos, um pouco estreitos, se moviam freneticamente, visivelmente percorrendo cada traço do meu rosto. — Às vezes me questiono se você é mesmo real ou apenas invenção da minha cabeça.  

— O quê? Mas que absurdo! É claro que sou real! — contestei de imediato. — Santo Deus, o que há de errado com você?  

Os dedos dele enlaçaram os meus e escorregaram por entre os mesmos, subindo pelo dorso de minha mão até o meu pulso, deslizando sorrateiramente por meu braço e as típicas sensações explodiram de uma só vez. Ao arrastarem-se por meu ombro, meus lábios se abriram automaticamente e o ar, que até então ao menos notei tê-lo prendido, saiu pesado.  

Com o indicador, Justin brincou com a alça fina de minha camiseta, mas, muito embora eu estivesse entorpecida pelos toques dele, a nebulosidade em seu olhar foi à razão pela qual me afastei bruscamente e os olhos dele se estreitam, em surpresa e desaprovação.  

— O que, diabos, você está tentando fazer? — questionei, ressentida, sentindo a confusão me sufocando como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor.   

Subitamente, ele avançou a distância que recuei e eu quis poder me afastar novamente, mas assim que o perfume dele adentrou minhas narinas e sua respiração bateu em meu rosto, os sentidos do meu corpo petrificaram novamente.   

— Não faça perguntas, Sav — pediu, puxando-me até que meu corpo estivesse grudado ao seu e seus braços enlaçaram a minha cintura. Meu corpo rapidamente relaxou e fora devastado por arrepios quando os lábios dele tocaram o meu ombro, meus olhos se fecharam pesadamente. — Eu só quero ficar perto de você. Savannah, eu sinto muito... Eu sinto tanto.  

— Por favor — supliquei em um murmúrio —, me diz o que está acontecendo. Me deixa ajudar.  

Tentei me afastar para olhá-lo, mas ele não permitiu.  

— Shhh — sibilou, apertando-me contra seus braços. — Não importa. Nada importa quando estou com você, porque você é o meu remédio.   

Senti meus olhos e minha garganta arderem. E por mais que suas últimas palavras houvessem mexido profundamente comigo, eu não podia entender e muito menos  aceitar. Não ficaria em paz comigo mesma se não soubesse o que havia acontecido e, principalmente, pudesse ajudá-lo. 

— Por que você sumiu? 

Após um indeterminado tempo calado, ele finalmente me respondeu, em um fio de voz, soltando o ar quente contra a minha pele:  

— Para proteger você. 

A sensação me deixou dispersa por um tempo, mas assim que meu cérebro digeriu as palavras dele, me afastei e ele me analisou, totalmente surpreso e contrariado.   

— Me proteger? Me proteger do quê?  

Ele tentou me puxar outra vez, mas eu o interrompi, espalmando minha mão em seu peito e empurrando-o para trás, negando veemente com a cabeça. Fitei seus olhos e esforcei-me ao máximo para não ceder, para não me permitir abalar pela melancolia que ofuscava as íris cor de mel que eu tanto venerava.  

— Savannah...  

— Responde a minha pergunta — exigi, firmemente e ele suspirou. — Do que ou de quem está tentando me proteger?  

Ficamos nos encarando enquanto eu esperava pela resposta dele, que aparentemente nunca viria, e então, quando ela finalmente veio, descobri que era a que eu mais temia:  

— De mim. 


Notas Finais


Hello my frieeends! Cá estou eu com mais um cap e ele foi mais voltado para resolver alguns pontos necessários e para trazer de volta o suspense da fic, mas no próximo (estou ansiosíssima para começar a escrever, as ideias estão lindas e maravilhosas em minha cabecinha!!!!) vai ter muito momento javannah e depois vai ter a social e serão tantas emoções que aposto que cês vão até se lembrar do rei Roberto Carlos HAHAH. Enfim, não me prolongarei. Espero que gostem e não deixem de comentar, a opinião de vocês é essencial (me desculpem se deixei passar qualquer erro, só revisei rapidamente). Obrigado pelos favs e pelos comentários nos cap anterior, estou dando o meu melhor para continuar aqui com vocês e agradeço por serem pacientes e tão carinhosas. Enfim, beijão paranoicas e até maaaaais. A tendência agora é só fazer vocês pirarem ;)


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