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História Paranoid - O que está fazendo aqui?


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Como sempre, notas finais ;*

Capítulo 8 - O que está fazendo aqui?


Fanfic / Fanfiction Paranoid - O que está fazendo aqui?

Fiquei deitada perdida em meio à obscuridade dos meus pensamentos durante um bom tempo e também deixei que algumas lágrimas escapassem por meus olhos enquanto a ficha de tudo o que havia me acontecido ia caindo aos poucos e por mais que eu me encontrasse completamente decepcionada, a única certeza que havia no meio daquilo tudo era que eu não planejava permanecer naquela aflição por muito tempo. Lauren querendo me controlar não se tornaria um empecilho para mim, aliás, ela só estava querendo fazer o seu papel de melhor amiga e ficar brava com ela, porque a mesma se encontrava preocupada comigo – e com minhas insolências –, não parecia justo. Porém, ficar chateada era um direito meu, visto que a necessidade que eu tinha de continuar me aprofundando até descobrir a verdadeira história do encapuzado era devastadora dentro de mim e mesmo ela tendo conhecimento do quanto sempre fora complicado controlar os anseios da minha curiosidade, a mesma havia tentando inferir naquilo sem ao menos utilizar um bom argumento, se explicar civilizadamente ou até mesmo me dar um pingo de confiabilidade. Eu sabia que havia sido cruel ao compará-la com meus pais, contudo ela também havia sido cruel ao tentar me manipular de forma tão baixa, mesmo sabendo que se eu não acabasse de vez com aquelas dúvidas, me encontraria perturbada por cegas suposições pelo resto da minha vida. Lauren me conhecia melhor do que ninguém, ela conhecia meu lado mais obscuro e meus segredos mais sórdidos, mas confesso que eu não esperava que ela concordasse com as minhas ideias absurdas, no entanto a mesma não fazia ideia do quanto o argumento que usou para tentar me barrar havia sido extremamente ofensivo e aposto que nem ao menos pensou no impacto que sua ameaça maldosa me causaria.

Eu sempre fui uma pessoa demasiadamente curiosa, sempre fui uma exploradora do desconhecido e nunca soube impedir aquilo. A curiosidade para alguns era a capacidade natural de tentar entender alguma coisa, entretanto minha curiosidade era doentia, extremamente ambiciosa, perseguidora e dominadora. Não era somente um instinto ou um desejo, era uma necessidade incontrolável que eu não conseguia repudiar até que finalmente descobrisse tudo, fuçar até mesmo o último detalhe minucioso e não havia outra maneira de cessar aquilo, por isso eu precisava ir atrás de informações. Precisava vasculhar profundamente, expor o suficiente até descobrir se ele era ou não o que todos julgavam e para isso eu precisava examinar os dois lados da história e não me importava se Lauren ou qualquer outra pessoa tentasse cruzar meu caminho, Eu não iria parar até conseguir o que minha curiosidade, e boa parte mim, tanto queria.

Levantei-me após um tempo, caminhando cambaleante até o banheiro. Liguei o chuveiro e despi-me cautelosamente enquanto deixava a água caindo até que a temperatura da mesma se encontrasse morna. Desfiz a trança que ainda estava em meus cabelos e o amarrei em um coque alto, entrei em baixo da água após um tempo e a mesma chicoteou minha pele de forma branda, trazendo-me uma sensação boa e pura. Aquele banho somente me ajudou à reforçar as ideias fixas que rondavam minha cabeça e após terminar toda minha higiene, enrolei-me em minha toalha da Minnie Mouse caminhando de volta para o quarto. Fui até meu closet e peguei o primeiro pijama que eu vi, vestindo-o sem demora e depois soltei o coque de meus cabelos, penteando-os cegamente com os dedos. Deitei-me e fitei o teto branco enquanto esperava o sono chegar, senti mais algumas lágrimas quentes escorrerem por meu rosto e fiquei contando carneirinho tentando de todas as formas parar de me torturar tanto mentalmente. Até que finalmente peguei no sono.

●●●

Acordei com a claridade invadindo novamente a fresta da janela e praguejei por não ter checado se a mesma estava devidamente fechada.

“Droga!” Pensei lutando para conseguir abrir meus olhos que se recusavam a responder aos meus comandados.

Fiquei naquele esforço irritante até que finalmente consegui fazer com que os mesmos se entreabrissem e os movi lentamente pelos arredores para que se acostumassem com a claridade ambiente. Coloquei-me de pé após um tempo e caminhei tropegamente até o banheiro, despindo-me durante o caminho e jogando minhas roupas pelo chão enquanto meus olhos permaneciam minimamente abertos. Tive dificuldade para abrir o chuveiro e com esforço mudei a temperatura para água gelada, esperando que a mesma se encontrasse na temperatura exata e entrei sentindo-a aflorar os sentidos do meu corpo. Meus olhos se abriram rapidamente e a temperatura um pouco quente do dia fez com que aquela água deliciosamente gelada fosse bem-vinda por minha pele quente que no começo reclamou com arrepios constantes fazendo-me contrair meus músculos, mas não demorou para que a mesma começasse a aprovar a sensação boa que a mesma me causava. Quando enfim conclui toda minha higiene, o forte sono que eu sentia havia se dissipado e eu me enrolei em minha toalha, voltando para o quarto enquanto cantarolava diversas músicas misturadas. Fui até o closet e separei uma roupa deixando-a sobre a cama, avistei o relógio sobre a penteadeira que marcava 10h00 e só então notei que aquele fora o que eu havia conseguido dormir até mais tarde e apesar de ainda me sentir cansada, por andar dormindo mal durante os últimos tempos, naquele instante a tensão e o cansaço pareciam menores.

Me vesti, amarrei meu cabelo em um coque e daquela maneira sequei-o com a ajuda de um secador e quando soltei-o as pontas se encontravam encantadoramente onduladas. Passei uma maquiagem básica destacando meus olhos castanhos, espirrei um pouco de perfume em meu pescoço e em meus pulsos e quando finalmente me encontrei pronta, organizei o quarto e saí caminhando rapidamente pelo corredor.

— Lauren? — Chamei quando cheguei à sala e lembrei-me que ela havia avisado que pegaria o turno da manhã, respirei densamente lembrando-me da nossa discussão na noite anterior e balancei a cabeça espantando as abstrações. 

Caminhei até a cozinha e avistei um bilhete sobre a mesa, ignorei-o no primeiro momento e fui até a geladeira retirando uma jarra com suco natural de laranja, peguei um copo no armário e fui até a mesa mirando o bilhete novamente. Coloquei um pouco de suco no copo e dei a primeira degustada, em seguida alcancei o bilhete e abri-o apressadamente.

Hey Sav, eu sei que você deve estar brava pelo o que aconteceu ontem e eu estou realmente arrependida por ter sido tão cruel com você. Eu te amo acima de tudo e eu só quero o seu bem, mas sei que não tenho direito algum de interferir nas suas decisões. Quero que você seja mais responsável e que não se envolva em encrencas, contudo eu não posso te privar de fazer suas próprias escolhas. Quero que você enxergue os seus limites e não faça nada que vá te prejudicar e eu realmente sinto muito Sav, quando voltarmos e, se você quiser, podemos resolver tudo isso. 

Com amor, Lauren.  

Um pequeno sorriso se apoderou de meus lábios quando eu terminei de ler o conteúdo no bilhete de Lauren e eu senti a tensão, que a preocupação que a briga da noite anterior havia infligido sobre mim, diminuindo. Aquela era uma das diversas razões por eu apreciar tanto nossa amizade, nossas brigas nunca duravam muito tempo e eu nunca conseguia ficar com raiva dela por mais que ela vacilasse feio comigo. A decepção era algo que passava rápido quando ela vinha com seu jeito calmo de se explicar e eu a entendia, sabia o quanto era difícil lidar comigo e ficava feliz por ela sempre se esforçar ao máximo para me compreender. Mesmo a contragosto. Dobrei o bilhete e coloquei-o em meu bolso, tomei o resto do suco que estava em meu copo rapidamente e deixei-o sobre a pia caminhando até a sala novamente. Peguei a chave do carro e o meu celular que se encontravam sob a estante e alcancei o livro em cima da mesinha de centro, tomei a precaução de deixar a casa seguramente fechada e saí trancando a porta. O sol entrou em contato com a minha pele e eu semicerrei meus olhos desligando o alarme do carro quando me aproximava do mesmo, abri a porta e entrei me sentando e passando o cinto por meu corpo. Dei partida pela estrada e liguei o rádio me deparando com I love it tocando, logo comecei a cantar junto com a música e batucava no volante tentando manter minha mente longe de devaneios para que não perdesse o foco no trânsito, que por sorte se encontrava tranquilo aquela hora. Quando cheguei próxima à biblioteca, desliguei o rádio e estacionei sem demora, peguei o livro que estava no banco do passageiro ao meu lado e abri a porta. Liguei o alarme e travei as portas enquanto caminhava para dentro da Library of Grayson me deparando com Nancy – filha do Sr. Grayson, dono da biblioteca – no lugar da antiga recepcionista que eu procurei pelos arredores, mas não encontrei.

— Olá. — Saudei quando me aproximei e ela ergueu seus olhos verdes, que antes analisavam um livro, em minha direção.

— Oi, Savannah. — Disse animada e deu a volta no balcão para me dar um breve abraço. — Quanto tempo!

— Eu estive aqui uns dias atrás, mas era a Rachel quem estava aqui. — Comentei semicerrando o cenho e ela respirou fundo, em seguida torceu os lábios.

— Ela pediu demissão ontem, estava com uns problemas pessoais.

— Ah. — Foi tudo o que eu disse, pois não tinha ideia do que poderia dizer além daquilo.

Rachel era uma garota legal e atenciosa, sempre trocávamos algumas palavras quando eu ia alugar um livro, mas pouco eu sabia sobre a garota. Era uma pena saber que ela não trabalharia mais ali.

— Então — Nancy disse após um tempo em silêncio. — , veio pegar um livro?

— Não, na verdade — comecei e dei uma pausa umedecendo meus lábios. — vim devolver este. 

Mostrei o livro que estava em minhas mãos e ela sorriu, concordando com a cabeça, retornando para o outro lado do balcão. Entreguei-o na mão dela e ela registrou a entrega, paguei pelo aluguel e avisei que iria dar uma volta pela biblioteca somente porque não queria voltar para casa e ficar a tarde inteira sem ter o que fazer. Fui direto para o corredor onde se encontravam os livros de romance e caminhei lentamente analisando a capa de cada um. Peguei um analisando-o completamente interessada e apesar de sentir vontade de lê-lo, eu sabia que se o pegasse acabaria não lendo do mesmo jeito que eu havia feito com O morro dos ventos uivantes. Peguei meu celular em meu bolso anotando o nome do livro em meu bloco de notas e mantive-o em minhas mãos para que anotasse o nome de mais alguns livros que deixaria para ler quando tudo estivesse finalmente resolvido. Estava analisando outro livro totalmente interessante quando ouvi duas garotas cochichando do outro lado das prateleiras e olhei entre os livros, me deparando com uma garota ruiva e uma loira, paradas na mesma direção em que eu me encontrava viradas uma de frente para a outra conversando euforicamente.

— Eu não sei muito bem, o meu irmão que estava comentando com os amigos dele. — A garota ruiva disse gesticulando com as mãos e a loira cerrou o cenho.

— Você é maluca! Eu jamais faria isso. — A loira disse incisiva, virando-se de frente para os livros e eu me abaixei com medo de que a mesma me visse bisbilhotando-as.

— Qual é Melanie? — A outra rebateu zombeteira. — Você é muito medrosa.

— Não sou medrosa. — A tal Melanie se defendeu prontamente. — Só tenho amor a minha vida, uma coisa que você não tem, pois se tivesse não estaria com essa ideia idiota de querer ir até o Forest Park só para ver se a casa do esquizofrênico realmente existe!

Senti meu queixo caindo e tive certeza que minha boca estava em um perfeito “O”, minha garganta secou e meu coração começou a bater rapidamente. Aproximei-me ainda mais dos livros e a garota ruiva ainda não identificada revirou os olhos colocando as mãos na cintura.

— Só seria legal se fossemos até lá e descobríssemos que tudo não passa de uma mentira, então ninguém mais nos colocaria medo, porque eu tenho uma vontade enorme de acampar no Forest Park, mas não posso por causa de um maluco que sequer deve existir!

Melanie revirou os olhos e bufou pouco interessada, remexendo em alguns livros ignorando a garota ruiva que mantinha os olhos fixos sobre a mesma, provavelmente esperando que ela dissesse alguma coisa.

— Não me inclui nessa, se ele existe ou não, eu não quero saber. Isso não é da minha conta! — Ela disse por fim, cortante e a garota ruiva resmungou contrariada.

— Você é muito cafona. — Resmungou provocante e a garota loira de grandes olhos verdes olhou-a entediada, ambas deviam ter a mesma idade que eu ou eram poucos anos mais novas.

— Eu tenho uma vida para cuidar e não tenho tempo de ficar procurando uma aventura que pode acabar numa grande encrenca, Bridgit! — Melanie disse convicta e eu estreitei minhas sobrancelhas, ela me parecia totalmente responsável e seu jeito lembrava-me um pouco Lauren, sorri de lado analisando a garota que fuçava os livros para procurar uma forma de fugir do assunto da tal Bridgit. — Não acredito que mesmo com a faculdade você ainda encontra tempo para querer ir até um local que você nem ao menos deve conhecer...

— Leif Erikson Drive. — Bridgit cortou a Melanie quando a mesma se encontrou pensativa e ela olhou-a indiferente. — Tem uma rota de carro e para chegar até a casa dele tem que estacionar próximo a primeira entrada de trilha, aquela parte que foi bloqueada para acampamentos, e caminhar por uma parte estreita rodeada de árvores. No final dessa trilha, que não é tão cumprida, o terreno vai se alongar e vai sair praticamente em cima da casa. Pelo menos foi isso que o Bradley e os amigos estúpidos dele estavam dizendo ontem à noite na competição semanal de vídeo game deles. Parece conhecimento o suficiente para você? — Riu debochada e a outra perdeu certo tempo encarando-a. 

— Você deveria ter vergonha de ficar escutando as conversas do seu irmão com os amigos dele. — Recriminou, demonstrando desinteresse no resto do argumento da amiga. — Vai que eles estivessem falando coisas inapropriadas, não é legal ficar escutando conversas de garotos.

— Melanie, para com esse papo de virgem, cara! — Bridgit disse e eu me segurei para não rir, tampei minha boca notando o quanto seu jeito maluco me lembrava Hannah e a mania da mesma de sair falando tudo o que pensava.

— Você sabe que eu não sou virgem, Bridgit. — A loira disse entredentes e a ruiva gargalhou jogando a cabeça para trás.

— Sinceramente não é o que parece. — Bridgit contrapôs provocante. — Você vive fugindo das situações e isso é coisa de garota virgem que tem medo de alguém tirar sua inocência e convenhamos que de inocente você não tem nada, no entanto você é a maior covarde que eu conheço!

— Pode me ofender o quanto quiser Brid. — Melanie proferiu, indiferente. — Eu não vou cair na sua pilha!

— Sem problema Mel, vou encontrar alguém mais corajoso para ir até lá comigo.

— Vejo que terei que ter uma boa conversa com seus pais! — Melanie ameaçou e eu estreitei minhas sobrancelhas, uma sensação de déjà vu me dominou e Bridgit sorriu zombando da cara da amiga. — Você não está me dando outra escolha.

Me assustei ao ouvir uma gargalhada escandalosa ecoando no ambiente, que ficou momentaneamente silencioso, e logo percebi que a mesma partia da garota ruiva, que se contorcia de tanto rir.

— Você achou mesmo que eu iria lá? — Questionou em meio a uma risada escandalosa. — Por Deus, Melanie! Eu sequer acredito nisso! Eu teria que ser muito idiota para perder tempo procurando uma coisa que nem existe! — Rolou os olhos.

Por alguns segundos imaginei o que a mesma faria se soubesse que era verdade, que ele realmente existia. Será que ela teria coragem de ir até lá? Abandonando aqueles pensamentos assim que minha mente evidenciou o quão improvável era existir alguém mais insana do que eu, com toda minha insensatez e leviandade em ter coragem o suficiente – mesmo com um imenso medo – de ir até lá sem hesitar.

— E você me sairia uma completa idiota querendo me delatar para os meus pais, acredito que às vezes você esquece que não somos mais crianças. — Concluiu, demonstrando desapontamento.

— Sua imbecil. — Melanie chiou pegando um livro que antes tampava meu rosto e eu me movi bruscamente, escondendo-me entre outros livros. Por sorte ela aparentemente não havia notado minha presença. — Já escolhi, vamos embora.

— Mel, você é muito boba. — Bridgit cantarolou enquanto ambas caminhavam pelo corredor e a garota loira mostrou-a o dedo do meio, sorri de lado com a atitude das duas lembrando-me de mim e Lauren e quando ambas desapareceram de minha visão, encostei-me à prateleira fechando meus olhos com força.

“Leif Erikson Drive. Tem uma rota de carro e para chegar até a casa dele tem que estacionar próximo a primeira entrada de trilha, aquela parte que foi bloqueada para acampamentos, e caminhar por uma parte estreita rodeada de árvores. No final dessa trilha, que não é tão cumprida, o terreno vai se alongar e vai sair praticamente encima da casa.” Aquelas palavras da garota ruiva se repetiam em minha cabeça incessantemente e a curiosidade ressurgiu com força, fazendo-me a lembrar da promessa que eu havia feito para a mesma de que iria até o fim com aquilo tudo e naquele momento eu me deparava com a faca e o queijo na mão, só precisava de um simples impulso para dar o primeiro e largo passo para iniciar minhas descobertas.

Antes mesmo que eu pudesse controlar, minhas pernas caminhavam rapidamente pelo corredor levando-me inconscientemente até a saída, passei por Nancy e me despedi rapidamente da mesma saindo da biblioteca e caminhando até meu carro com uma pressa digna do desespero que me dominava e nem mesmo conseguia controlar os meus passos. Adentrei meu carro e então consegui ter controle do meu corpo encostando minhas mãos no volante e deitando minha cabeça sobre o mesmo, uma guerra interna me dominou e eu me senti perdida dentro do meu próprio corpo. Meu lado coerente me dizia para voltar para casa e deixar de lado aquela ideia maluca enquanto meu lado insano e minha curiosidade berravam que eu deveria seguir em frente e lidar com qualquer que fosse a consequência que aquilo me traria. Mordi meu lábio inferior com força e ergui minha cabeça olhando para um ponto invisível em minha frente enquanto uma guerra devastadora se estendia cada vez mais dentro de mim e então decidi que iria em frente, independente de qualquer coisa. Iria enfrentar qualquer sequela que minha decisão me atribuiria caso o tiro saísse pela culatra, contudo, naquele momento, tudo o que eu precisava era agir com prudência e raciocinar antes de falar qualquer coisa.

Liguei o carro e, sem nem ao menos me preocupar em pôr o cinto de segurança, dei a volta pegando a estrada que me levaria até o Forest Park que ficava a uns vinte minutos de onde eu estava, liguei o som e deixei a música tocando de forma ambiente enquanto me esforçava para me concentrar na direção. O trânsito tranquilo só ajudou para que eu chegasse ao local sem sequer perceber e eu adentrei o mesmo dirigindo em direção à estrada Leif Erikson Drive, que ficava dentro do local. Dirigi por mais uns bons minutos antes de me deparar com a primeira trilha cujo se encontrava proibida para acesso. Senti meu coração bater forte contra meu peito e então a ficha caiu, fazendo-me apertar meus dedos contra o volante e mordi meu lábio inferior com certa força outra vez. Dei uma breve analisada aos arredores antes de desligar o motor do carro, tomando toda a coragem necessária e uma vontade repentina de dar meia volta me dominou No entanto, após uma breve briga interna, bufei frustrada e decidida a acabar de uma vez por todas com aquela tensão, abri a porta do carro e saí em passos firmes. Caminhei apressadamente pela trilha estreita de barro sem ao menos olhar para os lados e, por mais que a mesma não fosse tão comprida, – e eu estivesse andando completamente rápido – demorou um pouco para que eu me aproximasse do fim. Onde se encontrava um terreno amplo como a tal Bridgit havia dito. Preparei-me mentalmente para chegar até lá e não ver nada mais e nada menos do que um terreno vazio, onde pessoas antes acampavam e então iria rir descontroladamente da minha burrice extrema, voltaria para casa e tentaria matar minha curiosidade de uma maneira menos arriscada. Contudo, quando finalmente cheguei até o fim da trilha e me deparei com o grande terreno que eu cogitei que estaria vazio, uma enorme casa ao fundo chamou minha atenção e eu pude jurar que meu coração parou de bater momentaneamente, em seguida voltando a bater tão forte que era como se fosse rasgar minha caixa torácica a qualquer momento. Minhas pernas continuaram caminhando inconscientemente e quando eu finalmente tive uma boa visão da velha casa, parei em frente à mesma analisando-a espantada. A curiosidade e o medo me consumiam por dentro e apesar da minha consciência me dizer para ficar o mais longe daquele lugar possível, tudo o que eu mais queria era continuar com aquela loucura, levar aquilo até o final e encarar qualquer consequência que viesse. Eu sempre fui assim, quero dizer, decidida e como papai dizia: estúpida. Sempre mantinha minhas decisões e muitas vezes me enchia de problemas por causa disso e algo dentro de mim parecia gritar que aquela minha ideia absurda seria mais uma das minhas loucuras que me trariam problemas. Entretanto, mesmo minha coerência berrando as negatividades do que eu estava prestes a fazer, havia boa parte de mim que aceitava aquela minha condição e ardia de excitação para acabar de uma vez com aquela guerra toda e seguir em frente com minha decisão. Eu já estava ali, fugir seria muita covardia.

Joguei meu cabelo para o lado deixando alguns fios caírem sobre meu rosto e respirei fundo abaixando minha cabeça e fechando meus olhos com força, minhas pernas almejavam por movimentos, minha parte curiosa berrava por rendição, para que eu acabasse com aquilo de uma vez. Eu precisava ir até lá, eu precisava ver. Ver de perto e saber se tudo era verdade mesmo ou se não passava de uma mentira. Precisava tomar uma atitude e ser corajosa, pois meu lado desafiador necessitava e eu não sossegaria enquanto não descobrisse cada detalhe daquilo tudo. Ergui meu rosto e abri meus olhos encarando a casa à minha frente, o local era silencioso, apenas banhado pelo canto dos pássaros e o chacoalhar das folhas das árvores. A casa tinha a aparência daquelas de filme de terror, toda de madeira, porém não era tão bizarra por conta da claridade que dava certos detalhes interessantes na residência que parecia ter sido reformada há pouco tempo. As janelas estavam fechadas e cobertas por cortinas escuras, a porta de madeira maciça escura parecia me chamar minuciosamente toda vez que meus olhos iam até a mesma e o jardim bem cuidado tirou minha atenção e me pôs em devaneios durante longos minutos. Engoli em seco e respirei fundo juntando toda a minha coragem.

“Vamos lá, não vai dar para trás agora!” Meu lado desafiador proferiu em minha mente e eu me rendi colocando minhas pernas para funcionarem em passos firmes e decididos até a casa, que cada vez que ficava mais próxima, se tornava ainda mais assustadora.

Assim que cheguei perto o suficiente da mesma, fui até uma das janelas e por uma pequena brecha, dei uma breve analisada ao local que estava mal iluminado por conta das cortinas escuras. Afastei-me da janela e me distanciei dando mais uma analisada no local, notando uma janela entreaberta no andar de cima e fiquei olhando-a atentamente durante longos minutos, imaginando o que eu poderia fazer caso fosse flagrada e não fazia ideia de qual seria minha reação, aliás, eu estaria completamente ferrada se aquilo acontecesse. Contudo, após perceber que ninguém aparecera ali ainda, me encaminhei até a porta e fiquei indecisa se continuava com aquilo ou não. Com esforço ergui minha mão, fechando-a em punho para bater sobre a mesma e desisti em seguida, ao ponderar que não fazia ideia do que diria quando alguém viesse atender a porta. E se a casa fosse mesmo do encapuzado? O que eu poderia dizer? Qual desculpa eu daria por estar ali, mais uma vez, perseguindo-o? O pânico começou a me dominar quando as possibilidades das reações dele durante minha presença se passaram em minha cabeça. E se Lauren estivesse certa? Talvez as coisas horríveis que diziam sobre ele fossem à verdade e mesmo com toda aquela incerteza lá estava eu, estúpida o suficiente, me arriscando somente por causa da minha maldita curiosidade que um dia ainda acabaria me custando à vida. Afinal, que tipo de pessoa iria até uma casa no meio da mata, com a consciência de que poderia estar correndo grande risco, bateria na porta e denunciaria sua presença? Eu era burra. Extremamente burra. Fiquei naquela luta interna durante um longo tempo, mas – como das outras vezes que eu havia passado pelo mesmo – logo decidi que iria seguir em frente e ligando completamente o foda-se resolvi que não iria dar para trás naquele momento, até porque eu estava diante da suposta casa dele, diante do local que minha curiosidade tanto quis conhecer e se eu fosse embora não teria coragem para voltar ali outro vez, então eu precisava simplesmente me aproveitar da estranha coragem que havia dentro de mim. Usufruir daquele momento e saciar o máximo que eu conseguisse.

“Ele não vai me fazer mal.” Mantive aquele pensamento, me forçando a acreditar que eu estava certa e sem esperar mais dei três batidas na porta. “Agora não tem mais volta e sair correndo demonstraria fraqueza demais”, pensei e permaneci parada, até porque eu sempre fui muito desafiadora para sair correndo sem motivo algum.

Esperei momentaneamente e nenhum movimento ou barulho suspeito fora capaz de ser ouvido – por meus instintos totalmente aguçados – vindo do outro lado da porta. Olhei para trás e tudo permanecia silencioso, olhei para a janela semi-aberta e ela permanecia sem ninguém, hesitante ergui minha mão e dei mais duas batidas forçando minha mão ao final e meus olhos se arregalaram quando a porta se entreabriu causando um barulho baixo, porém que me pareceu dolorosamente assustador. Respirei fundo e minhas pernas pareciam pilastras grudadas ao chão, via-me incapaz de raciocinar naquele momento, o medo lavando boa parte do meu corpo enquanto a curiosidade ainda me parecia mais audível e dominadora. Olhei para brecha aberta da porta e a casa parecia vazia, respirei fundo e empurrei a mesma mais um pouco liberando espaço suficiente para que eu pudesse entrar, olhei para trás novamente e tudo permanecia silencioso e vazio. Engoli em seco e sussurrei um “Vamos nessa” antes de iniciar passos cautelosos para dentro da residência, encostei a porta com cuidado deixando um pouco aberta para o caso de precisar fugir e me virei olhando para todos os cantos da casa, atentamente e tudo era organizado demais. Quem via aquela casa por fora, jamais imaginaria que a mesma era tão magnífica por dentro. Senti meu queixo cair com a decoração completamente excêntrica e aconchegante, uma residência tão luxuriosa que era digna de ser considera perfeita e pertencente a uma pessoa extremamente cuidadosa. Tinha um cheiro bom, um aconchego caseiro e uma essência do campo que trazia certa paz interior e por mais que eu soubesse o perigo que eu estava correndo por estar dentro da mesma, eu me senti menos tensa por conta da áurea boa que parecia haver ali dentro. Olhei para a estante que ostentava uma televisão enorme e reparei em toda decoração daquela sala totalmente interessante e bem adaptada. Deixei meu dedo indicador percorrer pelo móvel e olhei-o em seguida notando que não havia sequer um vestígio de poeira sobre o mesmo e estreitei minhas sobrancelhas surpresa, pois quem quer que vivesse naquela casa era uma pessoa totalmente amante de limpeza e confesso que era duvidoso o fato de um esquizofrênico morar em uma casa tão bem cuidada como aquela – o que me fez analisar que não havia sentido naquilo e que talvez aquela casa pertencesse à outra pessoa. Avistei diversos porta-retratos com fotos de uma mulher, um homem e um garotinho extremamente fofo sobre a estante e peguei uma que estava solta ao lado de um deles, analisando-a meticulosamente, observando o quanto aquela família parecia feliz e realizada. Virei à foto e me deparei com uma frase escrita por uma letra quase ininteligível que descrevia uma breve declaração que dizia:

Família: temos uma só na vida, independente de ser fácil de lidar ou não, temos sempre que honrar nossos familiares. Precisamos de união, sempre estar do lado quando for necessário, para conversar, dar conselhos ou até mesmo proteger um ao outro. Eu digo isso porque sei. Faça o que tem que ser feito hoje, agora, pois amanhã pode ser tarde demais e não haverá mais chances para demonstrar os sentimentos. 

Umedeci meus lábios e reli aquela declaração algumas vezes observando a dor, angústia e o arrependimento que existia por detrás daquelas palavras e virei a foto de frente observando o sorriso no rosto daquelas pessoas me perguntando o que havia acontecido com aquela felicidade deles, me perguntando qual era o sentido daquela frase atrás da foto, entretanto pouco eu sabia sobre família para entender o sentido que a mesma tinha. E a conclusão que eu havia tirado com aquelas palavras fora que quem havia escrito-as talvez não tivesse mais sua família e assim como o inventor daquela frase, apesar de ainda ter alguns membros da minha família vivos, eu sentia como se não tivesse mais uma família também. Até porque eu sempre fui um projeto para os meus pais e não uma filha, eles sempre tiveram planos em cima de mim, não amor e confiança e sempre fora assim, como se eu fosse um robô inútil que deveria somente seguir os comandos, mas felizmente minha rebeldia havia conseguindo destruir os planos deles.

Dei alguns passos para trás e sem querer bati na mesa de centro derrubando um molho de chaves que estava sobre a mesma, que por sorte não fizeram barulho por conta do tapete. Coloquei a foto em meu bolso somente para apanhar as chaves, ajeitar a mesinha do jeito que a mesma se encontrava anteriormente e assim que terminei ouvi o barulho da janela batendo e olhei para trás completamente assustada, observando que fora o vento que havia feito com que a mesma batesse. Respirei profundamente e voltei a minha análise sobre a casa, olhando aos arredores vez-ou-outra para averiguar se não havia mesmo ninguém por perto. Caminhei cautelosamente até outro cômodo e andei por um pequeno corredor, onde havia uma porta de vidro em minha frente, e quando olhei para o lado me deparei com uma cozinha muito bem organizada, com móveis de madeira envernizadas e, reparando em cada detalhe, continuei caminhando e parei próxima à porta que dava para um quintal. No qual alguns lençóis brancos estavam estendidos em varais improvisados. Observei a cozinha novamente, notando o quanto a mesma era requintada e logo retornei para a sala, checando os arredores novamente, ao lado direito encontrei uma escada com três degraus que dava para uma linda sala de jantar com uma decoração perfeita e cada parte daqueles cômodos tinha um toque interessante e certo mistério. Quanto mais eu analisava, mais queria conhecer todo local que já me encantava de forma resplandecente. Voltei para a sala e me deparei com uma escada de madeira próxima – não tão próxima assim – da porta. Me aproximei da mesma e olhei para cima sentindo a curiosidade crescer dentro de mim e involuntariamente balancei os ombros com indiferença, olhei para trás novamente, aproveitando-me do fato da casa parecer estar vazia para continuar com minha bisbilhotice, pois se alguém chegasse era só eu procurar um esconderijo ou me fingir de garota-perdida-bisbilhoteira. Virei-me para escada novamente e notei que atrás dela havia um corredor enorme e precariamente iluminado cujo no final possuía uma porta branca que estranhamente chamou minha atenção, caminhei lentamente na direção daquele lugar que me parecia familiar, mas antes que eu ao menos adentrasse o corredor, ouvi algo apitando e em seguida vibrando, notei que era o celular em meu bolso. Dei alguns passos para trás e me escorei na escada olhando para cima novamente antes de voltar à atenção para o celular em minha mão.

Se estiver se sentindo sozinha pode vir aqui na lanchonete, Hannah já está sentindo saudades sua! Laurie, xoxo.

Respirei profundamente e cliquei em responder a mensagem, Lauren ficaria extremamente brava com o que leria, mas eu precisava fazer aquilo até mesmo por questão de segurança. Comecei a digitar a mensagem rapidamente e sem sequer relê-la apertei o enviar sem ter escolha de voltar atrás.

Me ligue daqui há dez minutos e se eu não atender, por favor, venha atrás da mim. Estou na Leif Erikson Drive, entrando na primeira trilha bloqueada para acampamentos. Xoxo, Sav.

Ativei o bloqueio do celular e olhei para trás novamente, encarando a porta ainda entreaberta pronta para o caso de eu precisar sair correndo dali a qualquer momento. Respirei fundo e subi o primeiro degrau encorajando minhas pernas a continuarem subindo. Quando cheguei até o último me deparei com um corredor para o lado esquerdo, ao qual se encontrava quatro portas de madeiras escuras, duas de cada lado. Caminhei lentamente pelo corredor de paredes de madeira iluminado por luzes em um tom amarelado e olhei para trás enquanto sentia o medo crescendo conforme eu me aproximava das portas e me afastava cada vez mais da saída. Tentei abrir a primeira, mas a mesma se encontrava trancada, um pouco mais para o lado e, do lado oposto da primeira porta, havia outra que também se encontrava trancada. Continuei caminhando e avistei a quarta porta que ficava ao fim do corredor observando que a mesma encontrava-se entreaberta enquanto as outras três provavelmente encontravam-se chaveadas. Apressei meus passos, mantendo-os firmes e leves – para não fazer muito barulho, apesar de que o chão de madeira e minhas botas não cooperavam muito –, aproximando-me cada vez mais da porta semiaberta que parecia um imã para minha curiosidade completamente aflorada e guiadora das reações do meu corpo. Assim que me encontrei na frente da porta olhei pela fresta e vi somente a parede de madeira velha e escura, uma cadeira com um travesseiro sobre a mesma e encostei minha mão sobre a maçaneta, empurrei a porta cautelosamente e a mesma se abriu sem fazer ao menos um barulho. Dei uma boa avaliada aos arredores e notei o edredom jogado sobre a cama – o que denunciava que alguém usava aquele quarto –, adentrei alguns passos e olhei para janela atrás da cama, notando que aquela era a janela entreaberta que eu vi quando estava do lado de fora da casa. Fui até uma porta do lado direito e dando mais uma analisada em todos os lados, caminhei até a mesma abrindo-a sutilmente e observando que se tratava de um pequeno closet que continha algumas roupas penduradas em cabides e outras dobradas organizadamente. Tratavam-se de roupas masculinas e pelo gosto e estilo, não era um homem tão velho assim. Aproximei minha mão das roupas penduradas para dar uma analisada melhor nelas, mas antes que eu tocasse nas mesmas, o barulho de algo se mexendo entre o edredom jogado sobre a cama me fez paralisar no mesmo lugar e meu coração disparou no mesmo instante, fazendo com que um pânico imenso crescesse dentro de mim causando-me uma dor de cabeça incomoda e meus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas. Minha boca secou. Permaneci na mesma posição estática e virei minimamente minha cabeça, facilmente observando que havia alguém deitado naquela cama e uma respiração densa dominou o ambiente, fazendo-me comprimir meus lábios para que um grito de medo não escapasse pelos mesmos e então eu me colocasse ainda mais em risco. Fechei meus olhos e permaneci em minha posição procurando alguma força dentro de mim que me fizesse sair daquele quarto e ir embora dali o mais rápido possível, para o mais longe e então eu nunca mais voltaria. Mas ao contrario daquilo, a única coisa que eu senti quando observei que quem estava deitado naquela cama dormia profundamente, e sequer havia notado minha presença, senti curiosidade em descobrir quem estava naquela cama e quem era o dono daquela casa. Pouco me importando com os conselhos que meu subconsciente disparavam em minha mente.

Meus pés foram se aproximando inconscientemente da cama e, assim que eu me aproximei o suficiente da mesma, meus olhos se fixaram na figura adormecida em minha frente cravando-se instantaneamente e minha boca se abriu em surpresa. Eu me encontrava deslumbrada pela visão em minha frente e minha única reação foi estreitar minhas sobrancelhas enquanto analisava intensamente aquele anjo querubim totalmente alheio diante dos meus olhos que os devoravam fervorosamente. Um lindo rapaz de rosto angelical se encontrava em sono profundo naquela cama diante de mim e suas feições tranquilas só fizeram com que minhas pernas me levassem para mais perto de si. Senti as batidas do meu coração se intensificando, mas as sensações sobre meu corpo não eram mais aterrorizantes. O rapaz adormecido em minha frente ostentava uma beleza surpreendente e cativante, me sentia completamente encantada e avaliava-o da forma mais adoradora que já havia avaliado alguém antes. Seu cabelo castanho claro puxado um pouco para o loiro tinha os fios lisos totalmente desgrenhados e o formato do seu rosto era completamente artesanal, digno de ter sido esculpido pelo artista mais renomado de todo o universo, tão encantador e hipnotizante que eu senti que poderia passar o resto da minha vida olhando-o dormir daquela maneira serena e fascinante. Seus lábios bem delineados, volumosos e avermelhados se encaixavam perfeitamente com o contraste da pele cor de creme do mesmo, que também se adaptava com a cor dos fios de seus cabelos. A existência de algumas pintinhas em seu rosto era o que dava o toque de meiguice e até mesmo ingenuidade da beleza dele. Tentei imaginar a cor de seus olhos, contudo presumi que  qualquer que fosse, aquilo supostamente se somaria e completaria a constatação da perfeição do ser em minha frente. Umedeci meus lábios e dei mais um passo para perto dele reavaliando cada detalhe do seu rosto e percebendo cada vez mais o quanto ele era maravilhoso, o quanto ele era magnífico e perguntei quem ele era, qual era o seu nome e quantos anos o mesmo tinha. Tantas dúvidas diante de uma beleza tão extasiante que eu nem ao menos conseguia raciocinar e por mais que soubesse que já era hora de sair daquela casa, eu simplesmente não conseguia parar de olhá-la, não conseguia me afastar, porque sua beleza havia se tornado excessivamente atrativa para os meus olhos que tragavam cada detalhe do mesmo, adorando morbidamente o rapaz desconhecido em minha frente.

Continuei alheia ao lado dele analisando-o contemplativamente durante um indeterminado tempo, idolatrando sua beleza enquanto diversas suposições rondavam minha mente e era a primeira vez em muito tempo que eu me encontrava completamente fascinada pela beleza de um homem, uma vez que o estado de adoração em que eu me encontrava por aquele indivíduo era até mesmo maior do que o que eu havia sentido a primeira vez que havia visto meu estúpido ex-namorado e diante daquele cara eu me encontrava tão centrada e extasiada que minha mente parecia voar por lugares desconhecidos, fazendo-me provar um pouco do paraíso e eu estava adorando aquela sensação. Uma calmaria, como se toda aquela beleza fosse alguma espécie de anestesia. No entanto, senti o gosto amargo do inferno, que eu tanto costumava me encontrar ultimamente, assim que um bipe alto ecoou pelo quarto e eu senti meu corpo congelar. Tateei meu bolso rapidamente e puxei meu celular, destravando-o ligeiramente e me deparando com uma mensagem de Lauren, mantive meus olhos focados na tela do celular e abri a mensagem que dizia:

QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO FOREST PARK? SAÍA AGORA SAVANNAH, AGORA!

Vi o edredom em minha frente se mover novamente e um braço direito inteiramente tatuado fora descoberto, obrigando-me a analisá-lo atentamente e de uma hora para outro senti minha boca secar enquanto meus olhos iam descendo por aquele braço – um tanto quanto musculoso – levando-me até a mão pálida, que mesmo que eu só houvesse visto uma única e ligeira vez, minha boa memória jamais esqueceria. Senti um calafrio estranho percorrer meu corpo e estreitei minhas sobrancelhas dando um passo instintivo para trás, erguendo meu olhar pelo braço dele e quando o mesmo se encontrou no rosto do indivíduo que antes se encontrava adormecido, me deparei com íris cor de mel fitando-me de forma questionável e intimidante. Posso jurar que senti minha alma saindo do meu corpo momentaneamente e quando a mesma retornou, um baque forte fez com que todos os sentidos de pânico retornassem para o meu corpo com força total e meu coração batia tão forte, rápido e incontrolável que era como se o mesmo fosse saltar por minha boca a qualquer momento. No entanto, aquela troca de olhares fora sustentada durante um prolongado instante e por mais que eu quisesse sair correndo daquele lugar, eu simplesmente não conseguia. Não conseguia, porque não estava acreditando no que eu estava vendo, porque aquela situação me parecia ridícula e eu não conseguia acreditar naquilo. Não tinha como aquilo ser real, não tinha como ser ele e minha mente recusava aquilo veemente, de forma tão estranha que eu estava me desconhecendo mais do que nunca por estar tão atormentada e relutante diante de tantos fatos que só me faziam constatar que havia uma enorme chance de que aquele garoto maravilhosamente lindo diante de mim fosse... Fosse o Creed. O encapuzado esquizofrênico que todos repeliam e recriminavam sem clemência alguma. Permaneci estática, contando mentalmente enquanto tentava forçar minhas pernas a obedecerem os comandos do meu cérebro e se começarem a correr para longe dali, contudo elas sequer se moveram um mísero passo, e o Creed – que antes se encontrava deitado completamente entorpecido pelo sono e mesmo sendo extremamente bonito, naquele instante me parecia extremamente assustador – já se encontrava de pé ao lado oposto da cama, seu maxilar travado e as sobrancelhas unidas, demonstrando-me toda sua revolta. Não pude deixar de constatar o quanto ele parecia ainda mais sedutor naquele momento.

O que você está fazendo aqui? — Finalmente questionou, visivelmente atormentado. Sua voz máscula soando rouca e contida disparou o medo que pareceu inexplicavelmente triplicar dentro de mim e eu precisei me segurar para não sair correndo por àquela porta naquele exato momento. Afinal, havia esperado tanto para ouvi-lo falar alguma coisa e quando o mesmo havia, por fim, o feito, um grande nó se alojava em minha garganta e tudo o que eu conseguia fazer era olhá-lo completamente espantada. Tentei abrir minha boca demasiadas vezes, mas nenhuma palavra conseguia ser pronunciada, pois pela primeira vez eu me encontrava completamente sem argumentos, afinal de contas, o que eu ainda estava fazendo ali?


Notas Finais


Look da Sav: http://www.polyvore.com/look_savannah/set?id=111918973

yeyyy paranoicas ✌
Primeiro deixa eu me desculpar pelo atraso, sei que combinei de fazer as postagens de 3 em 3 dias, mas é que minha vida anda super corrida ultimamente e só tive tempo para criar o capítulo ontem e fiquei até seis horas da manhã escrevendo, minha mãe surtou, masok açlsjajs ainda estou tentando assimilar tudo, então espero que sejam pacientes para esperarem 1 ou 2 dias de atraso, prometo que não passará disso. Mas enfim, como prometido está aí o capítulo CHEIO de surpresas! Sav foi na humilde residência que o Creed herdou dos pais dele: http://i120.photobucket.com/albums/o191/itsbiancap/Paranoid%20-%20fanfiction/casadocreed_zpsd4d7ac77.jpg, conseguiu ver ele sem o sobretudo (babou adoidado nele) e de quebra ele ainda falou com ela D: convenhamos que ele não foi muito educado e a pergunta foi um pouco grosseira, mas ele ter dito alguma coisa já é um bom começo né? Então, quero agradecer pelos comentários, por todo carinho, incentivo e pelos favoritos, VOCÊS SÃO FODAS e cada uma já tem um espaço no meu <3 haha é isso aí, espero que vocês gostem do capítulo e surtem bastante nos comentários porque eu sei que geral não imaginava que seria assim que a Sav descobriria quem ele é e se preparem para mais emoções! Milhões de beijos paranoicas e cuidado com a curiosidade hein ;) xoxo e até a próxima postagem!


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