1. Spirit Fanfics >
  2. Parece Mais Fácil Nos Filmes >
  3. Poetically Pathetic

História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Poetically Pathetic


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


GENTE, oi :D k. Olha, eu queria pedir desculpas por minha demora. Sei que levo um tempinho pra atualizar e que isso incomoda algumas coisas, mas garanto a vocês que não é por mal, é só que não tenho como postar mais rápido. Mas ok, é a vida. E CLARO, QUERO AGRADECER, OBRIGADA DO FUNDO DO CÓRE!

Capítulo 20 - Poetically Pathetic


Sexta-feira.  

   Sexta feira. Octogésimo oitavo dia. Hoje não me opus a ir para o colégio. Mesmo que eu quisesse ficar em casa não poderia. Hoje eu teria que matar dois coelhos com uma só cajadada. O primeiro era fugir da Ferrer e o segundo — e o pior — era conversar com Camila. Fiquei a madrugada inteira criando e recriando os nossos possíveis diálogos. As coisas tinham que dar certo dessa vez. Mas não posso ser uma sonhadora e dizer que não penso no lado ruim das coisas. Eu não sou como Camila. Eu não consigo ver um ponto mínimo de luz no meio da escuridão e é por isso que preciso considerar a possibilidade de tudo dar errado. Você sabe muito bem que não sou o tipo de pessoa que consegue zerar um jogo sem antes tentar umas 20 vezes. Não sou o tipo de pessoa que consegue completar uma fase, do jogo, com sucesso ou sem ter trapaceado em alguma parte. Acho que no fim das contas eu não sou o tipo de pessoa certa para Camila, não sei se ela é para mim também, mas e daí? Eu posso trapacear um pouco e fazer a coisa do jeito certo. Eu consigo. Claro que consigo, só preciso que Camila fique quieta e não me irrite! 

   — Você manda eu não me atrasar só pra ficar esperando?  

   — Calma, Normani. Espera só um pouco. Eu sei que você vai querer falar com elas e eu não quero ter que fugir. Seria humilhante. 

   — Ok. Hoje eu vou relevar. 

   — Obrigada. 

   Outra vez ficamos paradas em frente à casa da Normani. Hoje tudo precisa sair como calculei, caso contrário nada dará certo. Aguardamos até o relógio marcar, exatamente, 7h:25. Seguimos nosso habitual caminho para o colégio. Era bom fazer algo normal depois de 4 dias, faz-me pensar sobre tudo o que passou ser apenas um pesadelo. Eu preferia que fosse um pesadelo. 

   — Quer saber de uma coisa? — Normani perguntou. 

   — Não. 

   — Que seja. É que eu senti falta de trilhar para o colégio com você.  Na volta eu ainda tinha a Dinah e a Mila... 

   — Hum... Pra mim tanto faz. Eu poderia ir e vir sozinha todos os dias sem sentir sua falta. — Normani parou de andar, ficando um pouco pra trás. Fiz o mesmo e girei para olhá-la. — O que foi? 

   — Isso que você falou é verdade? — Perguntou um tanto melancólica. 

  — O quê? Que eu não sentiria falta. — Ela assentiu. — Oh, Deus! — Ergui meus braços, não acreditando naquilo — Você se magoou? 

   — Eu praticamente declarei sentimentos à nossa amizade aqui e você me diz uma coisa dessa!

   — Foi mal, Normani... Achei que você não me levasse a sério...  

   — Você fala tão séria as coisas que não são sérias... Às vezes fico em dúvida. — Deu 4 passos até chegar perto de mim.  

   — Vamos. — Continuei a andar. — Sem sentimentalismo. 

   — Você nunca quer sentimentalismo entre nós duas.  

   — Você também nunca cobrou. Vai cobrar agora? Por favor, não. 

  — Não vou cobrar hoje, mas depois possa ser que queira cobrar. — Surgiu ao meu lado, acompanhando meus passos. 

 — Eu agradeço. — Dei uma tapinha em suas costas e seguimos sem mais sentimentalismos. 

   Ao chegarmos no colégio levamos uma bronca bem feia da inspetora, por pouco ela não nos deixou ficar de fora da primeira aula. 

 — É o segundo atraso das duas neste ano. Sem contar as suas faltas individuais, Jauregui. Sua situação não está nada boa com a escola! 

  — Ela vai recuperar. Vai entrar em um grupo de estudos. Vai participar de... sei lá, alguma atividade extraescolar... Prometo. Mas deixa a gente entrar. Por favor. — Normani pediu. 

   — Assim espero. Entrem. — Sorrimos agradecidas e saímos dali. — Sem mais atrasos a partir de amanhã! — Ainda gritou. 

   — Você entre em alguma atividade extraescolar! Me deixe de fora de suas promessas. — Reclamei com a morena. 

   — Prometi uma das coisas, não as três... Você recupera as notas e pronto. Tchau e se cuida com seu amor. — Falou rindo, pegando o caminho para a sua sala.  

   — Me esquece! — Andei mais um pouco até o meu destino. 

   Parei ao lado da porta. Precisei inspirar e expirar três vezes para conseguir entrar na sala. Bati na porta e após a permissão silenciosa — apenas um aceno com a cabeça — da Srta. Hastings, entrei procurando algum lugar disponível. Mirei o lado esquerdo e Alexa estava lá, sem condições. À direita estava o Austin, nem morta. No meio estava Camila com a cabeça baixa, anotando algo e havia uma cadeira livre atrás dela, mas com certeza não estava disponível, não para mim. Acabei indo para o fundo da sala, sentando logo atrás da Marielle. Na fila ao lado da que Camila estava. O ponto positivo é que mesmo aqui no fundo eu teria uma vista privilegiada dela. 

   E sabe o que mais me irrita? O que mais me irrita é pensar que há uma semana atrás Camila estava praticamente me obrigando a sentar perto dela, sem esquecer de sua escolta. E agora? Ah... Agora ela não me quer por perto, não quer olhar para mim e quiçá nem tenha vontade de falar comigo. Isso é ruim, admito. Era ruim quando eu não passava de uma anônima para ela, agora é ruim porque ela está me tratando como uma anônima bem depois de tudo.  

   — Muito bem, quem gostaria de fazer a leitura desse texto?  

   — Eu, senhorita Hastings! — Alexa falou, agitando a mão no ar. 

  — Oh... — A professora encaminhou seu olhar para Camila que estava calada, mas com a mão erguida. — Quem lerá primeiro? 

   — Eu! — Ferrer disse antes. 

   — Você lê a primeira estrofe, Alexa. E Camila, a segunda. — Camila apenas balançou a cabeça.  

   — Tudo bem. — Camila abaixou a mão. Ela estava zangada e isso eu poderia afirmar só por escutar a sua voz.  

   A turma parecia não se incomodar com nada. O silêncio era praticamente absoluto, mas eu quase podia ouvir correntes sendo arrastadas, pessoas berrando e apostando quem ganharia aquela batalha. Camila e Alexa estavam prestes a anunciar um grito de guerra e ameaças de morte. Sim, eu estava imaginando um tatame e uma luta prestes a acontecer, uma luta no estilo daquele filme O Grande Dragão Branco. 

   Alexa esperou um pouco, então começou a ler e eu abaixei a cabeça para acompanhar pelo meu livro 

   — "Li um dia, não sei onde/Que em todos os namorados/Uns amam muito, e os outros/Contentam-se em ser amados." 

    Hum, entendi. Poema romântico. Por que a senhorita Hastings só nos faz ler esse tipo de coisa? Quando será que chega a parte dos movimentos literários legais e sem sentimentos?  

   — Cabello. — A professora anunciou. 

   — "Fico a cismar pensativa/Neste mistério encantado.../Diga prá mim: de nós dois/Quem ama e quem é amado?..." 

   Será que posso ficar de pé e aplaudir essa garota? Camila nasceu para falar e eu, com certeza, nasci para escutá-la.  

     — Obrigada às duas. 

     Mas agora vamos fazer uma análise sobre o texto. Que poema mais... Hum, impróprio para o momento, não acha? Eu, particularmente, não gostei e detestei. Poemas de amor deveriam ser banidos das escolas. Poderiam colocar poemas naturalistas, parnasianos... Adoraria falar sobre um vaso! Um vaso tem muito a dizer!  Mas sobre o amor? Ah, isso não! Esses escritores só sofriam e viviam por alguém? Deixe-me voltar no tempo e ensinar-lhes o que a vida realmente é!  

   — Alexa, comente a estrofe lida por você. — Hastings ordenou. 

   — Certo. — Olhei para a Ferrer que sorria para a mulher em frente à classe. — É aquela coisa de... Acho que em certas relações uma pessoa acaba gostando muito mais do que a outra. 

   Nossa, Alexa. Se fosse pra falar a mesma coisa que estava escrita, ela não teria pedido seu comentário! 

   — E tem que levar o peso de gostar por dois. — Camila comentou, sendo rapidamente repreendida pela Srta. Hastings. 

   — Como eu dizia, — Alexa prosseguiu, se impondo. — nesses relacionamentos um gosta mais do que o outro, o que não significa que a outra pessoa não possa gostar da outra com o tempo. 

   Camila levantou o braço, esperando o consentimento. 

   — Pode explicar a parte lida por você, Cabello. — A mulher mais velha, mas não tão velha, falou.  

   — Claro. Mas antes eu gostaria de dizer algo sobre a explicação da Ferrer. — Isso não está soando muito bem para mim. 

   — Pode dizer. — Um sorrisinho surgiu no canto dos lábios da Hastings. Ela sabia que Camila e Alexa eram sempre as únicas que debatiam em suas aulas, mas agora eu acabei de comprovar que ela gosta de ver a guerra! 

   — Só quero observar que, no caso em si, a tal pessoa que não ama não chegará a amar em algum ponto da vida. Ficou claro que só uma das partes era capaz de sentir tanto. — A voz dela estava grave. Ela só falava assim quando... quando estava descontente. — A autora explicou, não supôs. — Camila! Você é meu ídolo. Sou sua fã! Eu estaria rindo agora mesmo da cara da Alexa se eu não tivesse sentido a indireta. 

   — Perdão, Cabello, mas você devia cuidar da sua parte e deixar a minha comigo! — Alexa não demorou para rebater. Preciso sair daqui de fininho.  

  — Quando você deixar a minha parte comigo, eu deixo a sua com você. — Cabello respondeu e a professora apenas observava, calada. Acabei engasgando com a minha própria saliva. 

   Tenho certeza que isso foi uma ofensa ambígua. Elas não iam discutir aqui, não é? Alguém faz parar! 

   — Sua? — Alexa riu sozinha. Cala a boca, Ferrer! Não se pode brincar assim com a Camila. Ela é agressiva e você sabe! — Como você pode chamar algo de seu sem saber se a parte quer ser sua?  

   Eu já estava desesperada com a situação. Olhei para Camila, que estava de costas para mim e apertava com força sua mão no assento da cadeira.  

   — Muito mais minha do que sua... Se é que alguma parte da parte te pertence... — Camila respondeu tranquilamente enquanto eu roía minhas unhas compulsivamente. 

   — Onde tem escrito que pertence a você? Quando tiver algo que comprove, avise-me. 

   Ferrer não sabe com quem está mexendo. Camila é perigosa! Abaixei a cabeça, olhando para o chão, com medo do rumo que aquilo poderia tomar. 

   Antes que a outra pudesse responder, Hastings pigarreou. 

   — Acredito que esse debate não faz parte da aula. — Finalmente a senhora resolveu fazer algo útil! 

   A classe inteira olhava para as duas sem entender nada. Claro, quem iria imaginar as duas garotas mais tranquilas da turma tendo uma quase discussão assim? Nem eu mesma acreditava nisso! E o pior, eu tenho quase certeza absoluta de que a tal "parte" tinha algo a ver comigo... 

   — Perdão, senhorita Hastings. — Cabello pediu e a mais velha não respondeu. 

   — Muito bem. Agora quero uma terceira opinião. — Neguei com a cabeça ainda roendo as unhas. Essa mulher é meio despirocada por insistir num texto desses. — Lauren, o que você tem a dizer sobre o poema? — Continuei olhando para o chão, esperando que a pessoa opinasse logo. — Jauregui? — Prendi a respiração e fechei os olhos. Sou eu?  

   Levantei a cabeça e encontrei os olhos castanhos e impassíveis da professora. Ela sempre foi assim. Impassível a tudo e a todos. Nunca ligou muito para as coisas ao seu redor. Se um aluno não quisesse aprender, ela não fazia questão de ajudá-lo, mas se fosse um interessado ela o recepcionava agradavelmente. No fundo, eu admirava aquela mulher. 

   — A senhora quer que eu fale o quê? — Perguntei receosa. 

   — Comente o poema lido por suas colegas. 

   — Ah... — Assenti e observei vários olhos voltados para mim, inclusive os de Camila e os de Alexa. Eu estava perdida! — Hum... Um bom poema. 

   — Disso nós já sabemos. Quero uma análise. 

  — Hum, aham. É... — Você sabe de alguma coisa, Hastings? Você quer declarar a minha morte aqui? Eu devo comentar a estrofe lida pela Camila ou a lida pela Alexa?  

   Com os olhos sérios, a mulher levantou o braço e sem desviar o seu olhar do meu, deu duas batidas no relógio que estava em seu pulso. 

   — Sem delongas, Jauregui. 

   — Certo... — Mirei Ferrer que sorria para mim. Mirei Camila que me encarava sisuda. Parei meus olhos na professora que estava calma. — É, eu concordo com a... — Escolha a pessoa certa! — Concordo com a... — Se eu escolher a sorridente psicopata, vou dar esperanças a ela e Camila me odiaria ainda mais. Porém se eu escolher a sisuda, a mesma irá achar que foi uma indireta para ela e me odiaria ainda mais! — com as duas. Não tenho muito o que dizer. As análises delas se completam... explicam. É isso... 

   Fitei Camila que agora estava com as sobrancelhas erguidas. Isso é um bom sinal? 

   — Tudo bem. Obrigada, Jauregui.  

   A aula voltou ao seu curso comum fazendo-me ficar aliviada. Camila balançou a cabeça de um lado para o outro e voltou a olhar para a frente. Isso não era um bom sinal! Mas que diabos eu fiz agora? Ela não percebeu que eu estava tentando amenizar as coisas? Céus, me salvem agora mesmo porque Camila está me sufocando. Camila agora, além de um vírus, é o conjunto dos 5 oceanos do planeta Terra inteiro! E eu sou apenas uma anêmona marinha no meio disso tudo. Afogada pela imensidão de água. No me caso, pela imensidão de coisas confusas que Camila é. 

   As três aulas antes do intervalo voaram. Eu não sabia exatamente em qual momento Camila e eu iríamos conversar. Como esquecemos de combinar isso? Seria no intervalo? E será que ela ainda queria conversar comigo? Não importa! Mesmo contra a vontade dela nós duas iríamos ter uma conversa digna de duas adolescentes quase adultas! 

   O barulho de pessoas foi esvaindo-se enquanto eu, pacientemente, arrumava o meu material. Fechei o zíper da mochila, levantei-me, coloquei a mochila sobre a cadeira e fitei o chão, encontrando dois pés, além dos meus. Segui meu olhar pelas pernas, tronco e finalmente a cabeça da pessoa.  

   — Oi, Laur!  

   — Oi, Alexa. — Respondi sem humor, procurando por Camila que não estava na sala. 

   — Você está melhor? — Assenti olhando para a porta. — Posso falar com você? 

   — Não, certo? — Olhei para ela. — Eu preciso realmente ir agora.  

   Não esperei que ela respondesse e saí da sala, indo para o refeitório. Eu sabia que se alimentasse a conversa de Alexa ela iria esgotar o tempo do intervalo. No fundo não consigo sentir uma gigante raiva pela Ferrer, apesar de sentir muita raiva pela Ferrer. Eu sei que Camila me esfaquearia se me escutasse falar uma coisa assim, mas o que posso fazer? Não consigo enxergar a tal Alexa dissimulada que tanto Camila fala e é por isso que eu preciso ter a idiota da Cabello por perto! Ela sempre consegue ver além do que eu vejo... Eu sinto a falta dela. 

   Abri a porta do refeitório procurando com urgência a mesa de costume e sorri fraca e brandamente ao ver as quatro garotas ali. Tudo bem que eu estava de fora, mas me confortava vê-las ali, no lugar de sempre. Eu senti falta, também, disso. 

   Aproximei-me com cautela de onde elas estavam. Dinah e Allyson estavam de frente para mim, enquanto Normani e Camila estava de costas para mim. Ao me ver, Dinah levantou com os dois braços abertos e um sorriso estampado na cara. Parei ao lado da mesa com medo de falar alguma coisa. Não sabia se elas estavam com ódio de mim também. 

   — Zangada! — Jane berrou e em um apressado movimento me abraçou. — Acho que nunca fiquei tanto tempo sem te ver assim!  

   Mantive meus braços abaixados, mas não pude conter um sorriso. Se a Jane que é a Jane não está me odiando, então é um peso a menos. 

   — Só estive tirando algumas férias de você, Jane. — Minha voz saiu abafada pelo contato do meu rosto com o corpo da garota mais alta. 

   — Mentirosa. — Disse rindo e me soltando. — Você sentiu falta também. 

   — Não. — Ri negando com a cabeça e acabei levando um tapa da Dinah. — Dinah! 

   — Pra você não ficar mal acostumada com meu abraço. — Disse antes de ser empurrada por Allyson. 

   — Laur, abrace-me! — A menor de todas falou fechando seus braços ao redor de meu corpo. 

   Era óbvio a diferença entre o sufocamento de Dinah e os bracinhos da Brooke. Acabei sorrindo ao perceber que havia sentido falta disso também. Não dos abraços, por favor, isso jamais. Muito menos delas duas, mas da diferença de tamanho das pessoas... Exato. 

   — Brooke, você não estava torrada e intocável? — Perguntei quando ela me soltou. 

   — Estou melhor! — Sorriu largamente. — Coloquei bastantes paninhos úmidos durante as noites... Funcionam! 

   — Ainda bem que melhorou. — Ri dela e desviei meu olhar para Normani. 

   — Quer? — Levantou um saquinho com algum salgadinho estranho dentro. 

  — Não, obrigada. — Ela deu de ombros e voltou a comer. Olhei para Camila que mantinha o rosto virado. — Camila. — Ela não me encarou. — Quero falar com você. — Ok, vou desistir se ela não me olhar nos próximos3  segundos. 

   Um... Um e meio... Nada. 

   Dois... Dois e metade de dois e meio... Nem um centímetro movido. 

   Dois e meio... Vou deixar até quatro segundos dessa vez. 

   — Vai logo, Mila! — Allyson interrompeu minha contagem mental. — Camila. — A pequena disse séria.  

   Pude ver Camila travar o maxilar e virar a cabeça para me encarar. Eu realmente quis sair correndo dali. 

   — Você tinha dito "tudo bem" ontem... — Expliquei um pouco apreensiva. 

   — E você acha que vai ser agora no intervalo? — Onde mais seria, Camila? Não abuse de minha simpatia. 

   — Só temos esse tempo livre... — Autocontrole, Lauren. 

   — Não sei se quero. — Cruzou os braços e eu revirei os olhos. Dane-se você, Camila! Eu não vou querer mais! 

   — Se você não quiser falar comigo agora, não precisa querer falar nunca mais! — Falei já impaciente com aquela dificuldade que a idiota estava impondo. 

   — Garotas, vão conversar, vão. Não briguem. — Dinah se intrometeu, mas Camila continuou calada. — Anda, Chancho! 

   — Ok. Vou aqui.  — Dei de ombros e estava prestes a me virar para sair dali. 

   Quando eu nascer de novo eu começo a correr atrás das pessoas por muito tempo, mas por enquanto, nessa vida, prefiro manter minha dignidade! 

   — Espere aí mesmo! — Cabello disse e eu permaneci parada.    

   Camila muxoxou, levantou totalmente contrariada e passou, por mim, andando, deixando o rastro de seu perfume que eu senti falta, também. Lancei um último olhar para as outras três que sorriram para mim. Respirei fundo e fui atrás dos passos de Camila, que já estava do lado de fora, acho que me esperando.  

   — Hum, qual o melhor lugar para conversarmos? — Perguntei, achando a entrada/saída do refeitório um lugar impróprio. 

   — Por mim você falaria aqui mesmo. — Deu de ombros olhando suas unhas.

   Crispei meus olhos para ela. 

   — Será que você pode parar de agir assim comigo?! Não vou aguentar por muito tempo essa sua grosseria! 

   — E será que você pode fazer a coisa certa apenas uma vez? 

   Fiquei indignada agora. 

   — O que foi agora? Você só reclama de mim! — Tentei manter minha voz baixa para que não chamasse a atenção de quem passasse por ali. — Até parece que eu só faço a coisa errada! 

   — E você nunca me escuta! — Ela bateu o pé no chão, irritada. — Eu reclamo e você continua fazendo a coisa errada! — Me olhou e respirou fundo. — Você quase sempre faz a coisa errada! 

   — Tipo o quê? — Franzi o cenho. Acho que ultimamente até o meu respirar é errado pra você. 

   — Tipo ficar com aquela lá! Meu Deus! — Olhei para os dois lados com medo que alguém visse aquilo e voltei a olhá-la. — Você viu que eu quase briguei com ela na sala de aula hoje?  

   — Vi... — Quase enfartei com aquilo, minha cara. 

   — Certo. E mesmo depois de entender a situação você diz que concorda com a opinião dela?  

   — Camila, aquilo era sobre um poema! — Levantei minhas mãos para explicar. — Não era sobre o acontecido do início da semana!  

   Mentira. Eu sabia que aquela análise e opinião era muito além do poema. 

   — Não importa! — Ela passou a mão pelo rosto. — Independentemente do que ela faça ou fale, você sempre acaba se fazendo de idiota. Sabe muito bem que você dizer um "eu concordo com você, Ferrer." significa um "estou te dando moral, Ferrer." para ela!  

   — Camila... — Olhei para ela, mas não aguentei ver sua ira e desviei meu olhar para o chão. — Eu... — Coloquei minhas mãos nos bolsos traseiros da calça. — Eu não quero brigar com você outra vez. — Praticamente sussurrei.  

   Ela não disse nada. Eu não disse mais nada. O sinal tocou e o barulho das pessoas preencheu nosso silêncio quando a porta do refeitório foi aberta. Tive que me mover para o lado dela, evitando empatar a passagem das pessoas. 

   — Vamos? — Ela disse baixinho e eu apenas assenti. 

   Seguimos de volta para a sala em um silêncio terrível. Durante o pequeno caminho não falamos e nem olhamos uma para a outra. Foi ruim. A esse ponto eu estava prestes a desistir de tudo. Camila estava irredutível por causa de uma coisa boba, quase sem importância. Agora tente imaginar se eu tivesse feito alguma coisa de verdade? Não. Não imagine porque se você imaginar eu vou me pegar no erro de imaginar que Camila e eu estaríamos namo... juntas. Com um "título"... Céus, se tivéssemos mesmo esse título ela teria me matado? 

   Contrariando o que eu pensava, Camila acompanhou-me até o fundo da sala, onde eu estava alojada hoje. Continuei em pé, esperando que ela falasse alguma coisa.  

   Fingi estar limpando a garganta, chamando a atenção dela.  

   — Você... quer alguma coisa? — Perguntei com cautela. 

   Ela levantou a cabeça e assentiu. Depois olhou diretamente para onde Alexa estava. Esta, por sua vez, encontrava-se ocupada demais apontando seu lápis. 

   — Você pode ir lá em casa mais tarde, se quiser conversar ainda... — Seus olhos me encontraram. 

   — Oh! — Eu estava surpresa. — Tem certeza? — Ela assentiu mais uma vez, mordendo o lábio inferior como quem ainda quer falar algo. — Certo. Irei um pouco depois do almoço, mas bem antes da hora do jantar... — Me senti nervosa. 

   — Ok... — Camila olhou mais uma vez para a Ferrer. Acompanhei seu olhar e encontrei a outra garota nos encarando. Ignorei e olhei para Camila. — Eu vou para o meu lugar. — Apontou sua cadeira.  

   — Aham. — Entrelacei minhas próprias mãos. Eu não sabia mais o que dizer. 

   — Eu... — Ela começou, mas rapidamente parou e meneou a cabeça. Ficou de costas para mim, porém não andou. Eu estava esperando pacientemente suas ações e então ela virou-se de volta para mim. — Eu posso te pedir uma coisa? — Mordeu o canto de seu lábio inferior. 

   — Pode! — O que você quiser! Mentira, quase tudo!

   — Será que você consegue não deixar aquela lá — Indicou com a cabeça. — te beijar hoje?  

   Acabei rindo do pedido dela. 

  — Essa é fácil. Ela nem vai encostar em mim. — Garanti, sorrindo e balancei minha mão no ar. 

   — Assim é melhor... — Ela sorriu fraco, bem fraco. — Até. 

   — Até! 

   Eu estava absorta em uma mistura de nervoso, ansiedade, medo e felicidade. Ela me mandou ficar longe da Alexa! Eu precisava ouvir alguma coisa que me fizesse acreditar que nós duas ainda tínhamos conserto. Não sei qual conserto, mas qualquer coisa que não seja o ódio dela por mim era bom. E eu ouvi! 

   Ah... Se ela apenas tivesse noção de um terço do meu sentimento por ela... Talvez ela deixasse de ser idiota e de me confundir tanto assim.  

   Acomodei-me em meu lugar e prestei atenção à aula inteira... Ou nos cabelos de Camila... Talvez eu tenha olhado para ela algumas vezes... Ou quem sabe olhei o tempo todo... Ok, eu prestei atenção somente ao início da aula porque depois dos 15 primeiros minutos fiquei distraída demais com aqueles fios castanhos... Era tudo o que eu podia ver, seus cabelos, e ainda assim, só com isso, conseguia me arrancar da realidade. 

   As aulas acabaram e com uma velocidade incomum eu arrumei meu material na mochila e coloquei a mesma nas costas. Ajeitei meu cabelo e caminhei até a cadeira de Camila. A garota já estava de pé, guardando suas coisas. Segurei a alça de minha mochila com uma mão e com a outra cutuquei o braço da garota. 

   Calmamente ela me encarou. 

   — Você se incomodaria em ter minha companhia até o pátio? — Sorri sem mostrar os dentes.  

   — Pensei que você tivesse entendido as regras ontem. — Ajeitou a mochila sobre os ombros. 

   — Mas eu entendi.  

   Ela me ignorou e saiu andando. A segui. 

   — Entendeu mesmo? 

   — Claro. — Disse andando ao seu lado. — Mas sou a última pessoa de todas as galáxias que vai concordar com as coisas que você diz. — Dei de ombros e escutei o riso, quase contido, dela. 

   — Eu não deveria ter me esquecido que você é do contra com tudo que eu digo. 

   — Quase tudo. Às vezes dá pra salvar alguma coisa que você diz. — Observei. 

   Camila sorriu e ao mesmo tempo bateu seu ombro no meu, fazendo meu corpo inteiro congelar para logo depois se aquecer com a alegria que me faltou nesses dias. Eu senti falta de seus empurrões! Devo ser uma pirada, realmente! 

   Seguimos até onde as garotas estavam. Ao nos ver, as três pararam de conversar e sorriram. Revirei os olhos. Camila pareceu não notar e foi para o lado de Dinah.  

 — Então vamos marcar nosso programinha de sábado hoje à noite? — Allyson perguntou e Normani assentiu. — Certo, espero vocês na chamada de conferência. Aquilo é o máximo. — Não acho. Não gostei. 

   — Eu também achei o máximo! — Camila disse.  

   — Vamos, Normani? — Chamei. 

   — Zangada amou a conferência!  

   — Odiei, Jane. 

   — Ah, vai participar da de hoje outra vez, de qualquer forma. — Riu, me ignorando. 

   — Nos falamos mais tarde. Tchau! — Brooke se despediu e foi embora. 

   — Vamos, Mani! — Pedi outra vez. 

   — Ai, tá. — Respondeu de má vontade. — Tchau, gente.  

   — Tchau! — As duas disseram em coro. 

   — Tchau, Zangada! — A Hansen deve me amar. Sinceramente. 

   — Tchau, Jane... — Falei e ousei olhar para Camila. Ela apenas acenou com a cabeça para mim e eu fiz o mesmo. 

   — Vem. — Agarrei Normani pelo braço e puxei-a com pressa para longe do colégio. 

   Andamos metade do caminho sem pronunciarmos uma palavra sequer e isso porque sempre que eu pensava em dizer alguma coisa, um intruso passava entre nós duas. Já estava ficando irritada quando quatro crianças passaram correndo ao meu lado. 

   — Esperei demais. — Normani disse. — O que aconteceu hoje entre vocês duas, hein? 

   Contei tudo para ela enquanto atravessávamos as ruas, passávamos por pessoas e finalmente chegávamos à rua da casa dela. Paramos em frente à residência. 

   — Então. O que devo falar pra ela hoje de tarde? 

  — A verdade. Sei lá. Tenta se controlar porque vocês duas conseguem fazer uma conversa virar uma briga em questão de segundos. — Estalou a língua enquanto subia os degraus indo até a porta. — Só faça a coisa certa. Nos falamos à noite. — Acenou, entrando em casa. 

   Segui meu caminho até em casa pensando e considerando o que seria a "coisa certa". Não sei se Normani sabe, mas o certo varia de pessoa para pessoa. E se o meu certo for o errado para Camila? Preciso de ajuda! 

   Cheguei em casa e almocei apressadamente. Tomei um banho corrido. Arrumei-me rápido. Fiz tudo com pressa e fiquei pronta esperando que o tempo passasse rápido e eu pudesse sair de casa para vê-la. 

   14h:37. Exatamente nesse horário eu desci as escadas, falei com minha mãe e saí nervosa para a conversa que eu tanto aguardava e temia. 

   Ok, isso não é tão complicado, você ensaiou. Falei para mim mesma quando parei em frente à porta da casa dos Cabello's. Respirei fundo, tentando me acalmar, contei até três e, exatamente no três, toquei a campainha. Certo, agora não tem como voltar atrás. Prendi a respiração quando a porta foi aberta. 

   — Lauren? — Ai que bom, não é Camila. Sinu apareceu sorrindo para mim. 

   — Oi, senhorita Cabello. — Acenei um pouco tímida. 

   — Entre! — Chegou para o lado, dando espaço para que eu passasse. 

   — Com sua licença. — Pedi entrando na casa. 

   — Como você está? — Perguntou fechando a porta. 

   — Bem... — Menti. — E a senhora? 

   — Estou bem, obrigada. — Agradeceu e aproximou-se de mim. 

   — Quer ver a Kaki, certo? — Isso é meio óbvio, dona Sinu. 

   — É... Se não for um incômodo eu gostaria de falar com ela. 

   — Ela está no quarto. Você já sabe o caminho, não sabe?  

   — Sei sim. — Sorri sem mostrar os dentes. — Sofia também está em casa? — Perguntei tímida. 

   — Sim. — Ela riu. — Está em algum lugar lá em cima. — Apontou o segundo andar. 

   — Ok. Vou subir. Licença. — Falei e ela apenas acenou com a cabeça. 

   Subi, vagarosamente, degrau por degrau, adiando o máximo que pude a minha conversa com Camila. O que realmente em vim fazer aqui? Não faz sentido! Cheguei ao topo da escada e continuei caminhando até parar na frente do quarto de Sofia, que estava com a porta aberta. Aproximei-me da soleira, mas não entrei. 

   — Sim, Elsa, o Olaf adoraria viver no seu castelo. Ele não pode derreter. — Observei a garotinha criando um diálogo entre uma rena e uma boneca.  

   — Ótimo, Sven! Mande ele vir logo morar comigo. Fico tão sozinha por aqui. — Céus, se um dia eu fiquei falando sozinha com meus brinquedos, espero que ninguém tenha visto porque é estranho e só faz sentido na mente da criança. 

   — Agora vou chamar o Mike e o Sulley pra ficarem com você! — Engrossou a voz dando vida a reninha. 

   Depois dessa eu não pude mais controlar e acabei entrando no quarto. 

   — Você sabe que o Mike e o Sulley não têm nada a ver com Frozen, né? — Comentei me aproximando e sorrindo. 

    Sofia parou o que estava fazendo, soltou os bonecos e em um pulo ficou em pé. 

   — Lolo! — Abriu os bracinhos e abraçou-me pelas pernas. — Eu sei, mas seria bem legal se todos fossem do mesmo filme. 

   — Oi! — Afaguei seu cabelo. — Acho que prefiro cada um no seu filme... Eles separados já são tristes, imagine juntos! 

   — Verdade, eu chorei assistindo os dois. — Não é pra tanto, Sofi. Só sua irmã que chora vendo um filme. — Mas quer brincar comigo? — Perguntou animada, soltando-me e sorrindo largo. — Eu te empresto qualquer um que você quiser! — Apontou para os bonecos. Essa graciosidade que ela e a irmã têm acabam comigo, juro. Apesar de que a irmã mais velha estar sendo uma grosseira esses dias. 

   — Hoje não... Na verdade preciso de uma ajuda sua.  

   — Eu te ajudo! — A garota pulou empolgada e eu ri me sentando no chão. — Com o que posso ajudar? Eu quero te ajudar! 

   — Ótimo. — Dei dois tapinhas no chão para que ela sentasse ali. — Eu vou te contar uma coisa... 

   — Vai ler uma história para mim?! — Seus olhos exalavam alegria. 

   — Não... — Senti seu semblante murchar. — Não hoje... Olha, vou te explicar uma situação, tá? É como uma história. — Ela assentiu rapidamente. — Sabe quando você faz uma coisa ruim pra sua amiga e ela zanga com você? 

   — Sei... 

   — Então... Tinha duas garotas... no mundo... cada uma em um lugar e em um certo dia as duas pararam no mesmo lugar, mas elas não viraram amigas tão rápido, sabe? — Ela concordou com a cabeça. — Aí uns anos depois elas começaram a conversar e ficaram bem próximas... amigas bem próximas. 

   — Tipo melhores amigas? — Sinceramente, não sei definir.

   — É... Tipo isso... Então, uma das amigas acabou fazendo, sem querer — Enfatizei a palavra. — uma besteira que irritou a outra amiga e essa amiga irritada não queria falar mais com a outra amiga que errou sem querer. O que você faria no lugar da amiga que errou sem querer

   Estou desabafando para uma criança. A que ponto cheguei... 

   — É a Kaki?  

   — O quê? — Arregalei meus olhos. 

   — A amiga irritada... — A pequena riu completamente sapeca. — É a Kaki? 

  — Ah, hum, que-que, nã-não. — Tentava achar uma explicativa. Não era pra ela perceber minha história disfarçada! — Por que seria sua irmã? 

   — Porque ela tá bem zangada esses dias e com você. — Riu mais ainda colocando as mãozinhas na barriga. 

   — Ela... te contou? 

   — Não, Lolo! Mas ontem eu fui pedir de novo pra ela te entregar o presentinho que eu fiz pra você e ela gritou comigo! — Coitada, você não tem culpa, pequena Sofi. Vou reclamar sua irmã insensível. 

   — Gritou? 

  — É, ela falou que você tava doente e que ela não ia entregar... hum, ela disse um palavrão feio na hora... — A pequena entortou os lábios e eu dei dois tapinhas carinhosos em sua cabeça. 

   — Não repita as coisas feias que ela fala. Eu entendi...  

   — Uma vez a Regina brigou comigo porque eu quebrei o lápis-de-cor rosa dela... Foi ruim ficar de mal dela...  

   — E como se resolveram? — Pobre Sofi. Aposto que o lápis quebrou sozinho! 

   — Eu quebrei o meu lápis-de-cor rosa exatamente no meio, medi com uma régua, e dei uma metade pra ela e ela me desculpou. — A garota sorriu feliz e eu gargalhei. 

   — Isso. Continue assim sempre, tá? — Pedi e ela fez que sim com a cabeça. 

   — Você e a Kaki brigaram assim? 

   — Aham... Mas não teve lápis quebrado. — Foi meio que a confiança.  

   — Ah... Eu já briguei com a Kaki várias vezes quando ela não me deixa ver o que eu quero na TV. 

   — E como você pede desculpa pra ela? 

   — Ah, eu não peço. A gente volta a se falar sem perceber. — É uma pena que comigo não vai ser assim, Sofia. 

   — E o que você acha que eu devo fazer?  

   — Já pediu desculpas? 

   — Já... Não adiantou. — Falei. Eu tinha pedido, não tinha? Talvez...

   Sofi fez beicinho, pensou um pouco, foi até o seu guarda-roupas, pegou algo que não vi e voltou com a coisa escondida em suas costas. 

   — Adivinha o que é!  

   — Não sei. 

   — Tenta! — Odeio brincar disso, por favor! 

   — Sei lá... — Revirei os olhos. — O vento. 

   — Você não sabe brincar. — A garotinha riu. — Aqui! — Trouxe suas mãos para a frente, revelando uma capa de DVD.  

   — Hum. — Peguei o objeto e olhei direito. — A Bela e a Fera? 

   — A Kaki gosta desse filme. Ela sempre assiste quando tá zangada. 

   — E...?

   — Vai assistir com ela! 

   — Oh! — Finalmente entendi a intenção da criança. — Você acha que vai funcionar? 

   — Claro que sim! Você é legal e não quero a Kaki brigada com você.  

   — Obrigada. — Sorri sincera e levantei-me. — Se der certo eu prometo que vamos brincar do que você quiser outro dia. 

   — Mesmo? — Assenti. — Eu vou esperar então!  

   Sorri uma última vez para ela e saí do quarto. Quem diria que uma criança solucionaria grande parte do meu problema? Sofia, sem dúvida alguma, me ajudou bastante. Agora é aquela parte que somente eu posso executar. Ninguém vai conversar com ela no meu lugar, infelizmente. Dei exatos cinco passos e parei em frente à porta fechada. Tentei me acalmar, mas não consegui. Dei exatas três batidas na madeira.  

   Primeiro duas. Pausa. E mais uma. 

   — Entra! — Escutei sua voz. Girei a maçaneta e entrei bem devagar. 

   — Oi. — Acenei com uma mão para ela. 

   — Oi... Fecha a porta. — Pra quê fechar a porta?! Fiz o que ela disse. 

   Fechei a porta quase sem fazer barulho algum e voltei a olhar para ela que lia um livro que eu não sabia qual era. Ela pegou o marcador de texto que estava jogado na cama, colocou-o entre duas páginas e fechou o livro. Ergueu a cabeça e me encarou sem falar nada. 

   — Então. — Falei enquanto passava os olhos pelo cômodo. 

  — Senta aqui, se quiser. — Olhei para ela que agora tinha as pernas cruzas em posição indiana e batia no colchão. 

   — Ok. — Andei acanhada até a cama e sentei-me na pontinha, de frente para ela.  

   Ficamos em silêncio.

   — Pelo telefone você disse que eu ia te escutar... 

   — Ah é... — Olhei para os meus pés. — Eu tenho que falar. 

   — Estou escutando. 

   — Sabe... Eu... Não, assim... Tem coisas que... é... — Minhas mãos começaram a suar frio quando resolvi encará-la. — Ah... 

   — Fica calma. É só falar o que você tem pra falar... — Com você me olhando assim é difícil! 

   — Camila, eu realmente sinto muito.  

   — Pelo quê? 

   — Por aquilo que você viu. Eu não queria que tudo ficasse assim entre você e eu... — Seus lábios formavam uma linha reta enquanto seus olhos me analisavam atentos. — Eu jamais iria fazer uma coisa daquelas com o propósito de te irritar. Se eu pudesse voltar no tempo eu voltaria e nem teria saído sozinha com a Alexa... — Inspirei fundo. — Você tem razão sobre aquela garota. Ela é meio louca. 

   — E sonsa. 

   — Hum... É. — No momento eu iria concordar com tudo. — Sério, sinto muito, mesmo. Você me ignorando só consegue me deixar pior do que já estou. — Expirei devagar. — Só queria que tudo ficasse bem entre nós duas. Só isso. — Murmurei as duas últimas palavras.   

   Mantive meu olhar grudado nela. Camila coçou o braço e tombou a cabeça para o lado. Depois olhou para suas mãos, jogou o cabelo para trás e voltou a me olhar. Eu não iria aguentar tanta encenação por mais tempo. 

   — Camila... Você me desc... — Eu não tinha culpa! Não vou pedir desculpas! — Você quer voltar a falar e agir direito comigo?

   — Lauren, Lauren... — Disse calmamente. — Você me irritou bastante. Eu pensei que estava começando a te odiar, sabia? — Franzi o cenho e ela sorriu. — Mas eu considerei os fatos e você não é completamente culpada. A culpa, em sua maior parte, é da Ferrer e você só fica com a outra parte. Enfim... — Grunhiu. — Eu não vou conseguir te ignorar por muito tempo! 

   Sorri. 

   — Isso é um "Está tudo bem entre nós, Lauren"? 

   Ela negou com a cabeça e riu. Desfiz meu sorriso. 

  — Isso é um "Tudo ficará bem entre nós se você parar de fazer tanta besteira, Lauren.". — Revirei os olhos. 

   — Idiota, isso dá no mesmo! 

   — Não dá, não. Tem muita diferença. 

   — Qual? 

   — Alguma... Muita... Mas tem! 

   — Cala a boca, Camila. — Ri e neguei com a cabeça. — Sério. Está tudo bem entre nós agora/nesse exato momento? 

   — Sim... Lolo. — Ela sorriu largamente ao pronunciar o meu apelido. 

   Ao escutar aquilo eu coloquei as mãos em meu rosto e fechei os olhos sorrindo. Se ela disse "Lolo" é porque realmente estava tudo bem!  Me senti tão mais leve ao escutar aquilo que foi como se uma rocha gigante tivesse sido tirada de cima de meus ombros. 

   — Que bom, Camila. Sério. Isso é ótimo! — Olhei para ela. 

   — Digo o mesmo... Mas o que é isso? — Apontou para as minhas mãos e acompanhei com os olhos. 

   — Vim assistir com você. — Mostrei o DVD. — Sofia disse que você assiste quando está zangada. — Dei de ombros. 

   — Coloca lá no aparelho e vem aqui. — Sorriu, batendo na cama com a mão. 

   Rapidamente me levantei, liguei a televisão e coloquei o disco no aparelho. Peguei o controle e voltei para a cama. Olhei atentamente onde iria me sentar.  

   — Toma. — Entreguei o controle a ela, tirei minhas sandálias e acomodei-me do lado direito da cama, enquanto Camila estava no esquerdo. 

   — Você esteve conversando com minha irmã? — Perguntou enquanto olhávamos para a tela da TV. 

   — Sim... Mas este é um assunto confidencial. 

  — Você está confidenciando coisas com minha irmã mais nova e eu não posso saber o que é? 

   — Coisa particular. 

   — Mas eu quero saber... 

   — Shhh. — Ergui meu dedo indicador. — O filme começou. 

   — Você é chata. — Cochichou antes de calar-se. 

   E realmente já havia começado. Estava naquela parte em que o narrador conta a história de como o príncipe virou uma fera por meio de um feitiço e que a única forma de ele ser salvo era encontrar o amor verdadeiro antes de completar 21 anos. Logo depois apareceu a Bela cantando e caminhando pela aldeia enquanto os outros moradores a chamavam de estranha. Coitada da Bela, era considerada estranha só porque gostava de ler!  

   Virei minha cabeça para o lado em que Camila estava, fitei o seu rosto de perfil, completamente concentrado no filme. Sorri ao vê-la assim. 

   — Por que está me olhando? — Perguntou sem desviar sua atenção do desenho. 

   — Acabei de ver que você não é a única estranha do mundo. 

   Camila riu e me olhou. 

   — Mas nunca fui a única. 

   — Você já havia se comparado a Bela?

   — Não... — Meneou a cabeça. — Você consegue ser mais estranha que eu. 

  — Tsc tsc. — Revirei os olhos em reprovação enquanto ela sorria. — Cala a boca. Prefiro ver a Bela estranha. 

   Camila gargalhou e voltamos a ver o filme. 

   Trinta minutos depois e a Bela já estava trancafiada no castelo da Fera. Por vezes escutei Camila rir quando o casal principal discutia como duas crianças por besteira. A Fera sempre perdia o controle com um simples "Não" da Bela.  

   Quarenta minutos depois e senti Camila se arrastar um pouco pelo colchão, aproximando-se de mim. Observei-a de soslaio, mas ela continuava olhando para a tela. A essa altura a Bela e a Fera já começavam a se entender. Brincavam na neve, davam comida aos pássaros, liam juntos... 

   Uma hora de filme havia se passado e enfim chegou a clássica parte em que o casal dança no salão. A Bela estava em seu vestido amarelo e a Fera em sua roupa azul de príncipe. Uma melodia começa a soar e então a voz do bule de chá faz-se presente. 

"Sentimentos são 

Fáceis de mudar 

Mesmo entre quem 

Não vê que alguém 

Pode ser seu par" 

   Cocei a nuca e permaneci compenetrada na tela. Aquela música estava me agoniando. Eu já havia visto esse filme algumas tantas vezes quando era menor, mas nunca tinha reparado na letra dessa canção. 

"Basta um olhar 

Que o outro não espera 

Para assustar 

E até perturbar 

Mesmo a Bela e a Fera" 

   Aos poucos senti dedos tocarem a minha mão. Fiquei estática quando Camila cobriu a minha mão com a sua. 

"Sentimento assim 

Sempre é uma surpresa 

Quando ele vem 

Nada o detêm 

É uma chama acesa" 

   Meu coração batucava irregularmente com o calor que emanava dos dedos de Camila. Nossos dedos não estavam entrelaçados, ela apenas segurava a minha imóvel mão. Eu deveria fazer alguma coisa, certo? Ela não podia achar que eu não queria aquilo. Eu queria e precisava saber que, definitivamente, estava tudo bem entre nós. 

"Sentimentos vem 

Para nos trazer 

Novas sensações 

Doces emoções 

E um novo prazer" 

   Tomei fôlego, virei minha mão embaixo da dela, fazendo as palmas das mesmas encontrarem-se, e então entrelacei nossos dedos. Desviei meu olhar da tela e observei nossas mãos juntas. Camila apertou seus dedos aos meus e eu sorri. 

"E numa estação 

Como a primavera 

Sentimentos são 

Como uma canção 

Para a Bela e a Fera" 

   Subi o meu olhar por seu braço, ombro, pescoço e queixo até pousá-lo naquelas íris castanhas, que me fitavam. Sorrimos uma para a outra ao mesmo tempo em que eu me arrastei mais ainda para o seu lado, ficando com meu corpo encostado no seu. 

"Sentimentos são 

Como uma canção 

Para a Bela e a Fera" 

   Pensei rápido e resolvi deixar de lado, por um segundo, meus receios. Soltei nossas mãos para poder passar meu braço direito por sobre seus ombros. Camila não hesitou em momento algum e sem demora ajeitou-se em corpo, puxando minha mão livre para entrelaçá-la com a sua. Apertei-a um pouco em meu braço sem desviar seu olhar do meu.  

   Ela era linda! E eu sou só uma condenada e fadada a ser eternamente apaixonada por ela. Como consegui ficar 3 dias sem olhá-la? 

   Percebemos que o filme havia voltado às falas normais e a Bela já estava indo embora, abandonando a Fera por algumas horas. Sorri ainda fitando seu rosto, inclinei-me um pouco e beijei, demoradamente, a sua bochecha. Escutei um riso escapar de sua boca e me afastei para olhá-la. Ela negou com a cabeça e encostou a mesma em meu peito. Um suspiro de alívio saiu dos meus pulmões. Agora sim estava tudo bem. 

   O filme não demorou mais do que uma hora para chegar ao fim. Os créditos começaram a rolar na tela e novamente estava lá a maldita canção.  

   — Vai querer ver isso até o fim?  

   O sol já estava quase se pondo e a única luz no quarto era a da TV. 

   — Não... Já vi os créditos desse filme muitas vezes. — Ela riu. 

   — Sabe o que notei? — Ela negou com a cabeça. — Você se parece com a Bela e não é só pelo fato de ser estranha.  

   Camila ainda olhava para a televisão. 

   — Em quê, então? 

   — Hum... Ela é meio sonhadora e você também. Ela acredita nas histórias, assim como você... E, sei lá, ela consegue ver o lado bom das coisas... E ainda é idiota, de qualquer forma. — Provoquei-a. 

   — Ei! — Desencostou sua cabeça de meu peito e levantou-a para me encarar. — Ela não é idiota! 

   — É sim. A Fera quase morreu por culpa dela. 

   — Não! Ele quase morreu porque ele é um idiota, grosseiro e sem paciência... Parece com você... 

   — Como?! — Questionei indignada. — Está me comparando a ele?! — A garota gargalhou e assentiu. — Ótimo. Trate de ir procurar alguém que não seja uma fera. 

   Soltei-me dela e cruzei os braços. Eu não parecia a Fera! Eu sou uma pessoa legal! Ele também, mas... Não sou como a Fera! 

   — Lolo... — Ela ria enquanto me chamava. 

   — Esqueça-me, idiota! 

   — Vem cá, Ferinha. Falei pelo ponto de vista poético. — Ferinha é o caramba, Camila. 

  — Sai. Você é poeticamente patética, então. — Protestei quando ela abraçou meu corpo e apoiou o queixo em meu ombro. 

   — Sou, sou... Olhe pra mim, Ferinha.  

   — Não. 

   — Olhe! — Bufei e virei meu rosto para ela. Por ela estar muito perto, tive que encará-la de soslaio.  

   — O que é? 

   — Eu sou tipo a Bela, certo? — Assenti. — Então... — Sua respiração batia em minha bochecha. — Já encontrei minha Fera. Não quero outra. 

   Ao ouvir isso meu corpo relaxou e eu ri. 

   — Ok, Camila. — Virei-me um pouco para o lado, com o intuito de vê-la melhor. 

   A garota tinha os olhos mais lindo que já vi na vida. 

   — É sério. Minha Fera está bem aqui na minha frente e vomfxmfmx — Não deixei-a terminar a frase e rapidamente colei meus lábios nos seus.  

   Com uma certa pressa, Camila aprofundou o beijo. Não me importei, eu também estava desesperada por aquilo. Me ajeitei na cama, de modo que meu corpo ficasse de frente para o seu, segurei firme a sua nuca e quando pensei em fazer alguma coisa, Camila separou nossas bocas e eu fiquei olhando-a sem entender. A garota, lentamente passou a língua entre os próprios lábios e sem esperar mais, atacou minha boca em busca de um beijo urgente. Agarrou suas mãos em minha cintura ao mesmo tempo em que sua língua adentrava furiosa em minha boca. Deixei escapar um gemido quando sua língua encontrou a minha. Camila me puxou mais ainda para si, mas nossa posição não era a mais confortável e parecendo perceber isso, a de olhos castanhos soltou minha cintura e cessou o beijo, em um movimento inesperado por mim, levantou-se um pouco e acomodou-se em meu colo, de frente para mim. Suas pernas estavam, cada uma, curvadas sobre os joelhos uma de cada lado do meu corpo. 

   — Camila. — Ofeguei quando a garota segurou-me pelo pescoço. — Sua mãe pode aparecer... 

   Ela me ignorou completamente, calando a minha boca com a sua. Juro que tentei me controlar e acabar com aquilo tudo, mas era impossível quando uma Camila louca estava em cima de mim. 

   Ela colou ainda mais nossos corpos e eu levei minhas mãos para as suas costas, trazendo-a para perto. Camila era quem conduzia o beijo, explorando avidamente cada canto do interior da minha boca com a língua. Vez ou outra ela diminuía o ritmo para tomar um pouco de ar, mas não por muito tempo. Ficamos por alguns bons minutos nisso. Parecia que ela estava há anos sem beijar alguém! E não, não estou reclamando. Quem reclamaria disso?! Eu reclamo porque gosto de reclamar! 

   Aos poucos Camila foi parando o beijo. Lentamente sugou meu lábio inferior e beijou meu queixo, meu maxilar, arrastando os lábios por meu pescoço. Arfei com o ato dela e meu corpo que antes estava frio de nervoso, agora estava quente por causa do... do nervoso também! Senti sua língua molhada lamber rapidamente a minha pele para então seus dentes tomarem o controle e morderem com calma o lugar. 

   — Camila... Não faz... — Soltei o ar pesadamente quando a garota puxou minha pele entre os dentes para então sugá-la com os lábios. Puxei-a ainda mais para mim, deslizando minhas mãos de suas costas para sua cintura, apertando-a forte. Camila segurou forte em meus cabelos enquanto ainda beijava ferozmente meu pescoço. 

   Eu precisava parar aquilo, mas eu não querianão conseguia

    — Quero ver o dia... — Falou com a voz rouca, arrastando a ponta da língua pela meu pescoço. — em que você... — Mordeu o lóbulo da minha orelha. — vai deixar aquela sonsa... — Levantou a cabeça, olhando diretamente nos meus olhos. — tocar outra vez na sua boca. 

   Mordeu o lábio inferior. 

   — Ela... nã-não... vai. — Minha dificuldade era perceptível até demais. Minha boca é sua, garota! Pode patenteá-la! 

   — Assim espero. — Sorriu, inclinando-se para beijar-me outra vez na boca. Suspiramos juntas e deslizei minhas mãos espalmadas por suas costas, parei-as na base das mesmas. Será que eu podia fazer aquilo ou deveria puxar minhas mãos para cima?

   — Camila... — Falei com seus lábios colados nos meus. 

   — Humm? — Murmurou tentando aprofundar o beijo, mas eu tinha uma dúvida. 

   — Eu posso... Hummm... — Ela não me deu atenção. — Camila! — Minha dúvida era urgente! 

   — Fala... — Desistiu da minha boca e desceu seu rosto para a curvatura do meu pescoço. 

   — Eu... Eu posso... — Como eu poderia pedir aquilo sem soar como uma tarada? 

   — Pode o quê? — Disse com a voz abafada. 

   — Posso... tocar... na sua... — Eu estava quase morrendo de vergonha. — Hum... Parte corporal inferior? 

   Camila aquietou a boca e gargalhou em meu pescoço. 

   — Você quer tocar no meu bumbum? — Perguntou pronunciando aquelas palavras com divertimento. Senti minhas bochechas se aquecerem de vergonha. Assenti sem falar nada. — Sinceramente? Acho que você deveria fazer isso.  

   — Ok. — Respondi me sentindo na dúvida. Aquilo não era ousado demais? Mas eu precisava, desde aquele dia da praia! Mas e se ela achar que sou mesmo uma tarada? Isso me faz ser uma tarada ou apenas uma curiosa?

   — Argh!  Vai pensar agora? — Falou e sem delongas pegou minhas mãos, colocando-as exatamente em cima de... seu bumbum! 

   — Céus! — Sussurrei, arregalando os olhos completamente pasma com aquilo. O que eu faço agora? 

   As mãos nervosas da garota agora estavam em minha cintura. Seu rosto foi aproximando-se devagar do meu, até nossos lábios se tocarem e Camila iniciar um beijo lento.  

   Enquanto sua língua movia-se, agora, sem pressa alguma juntamente com a minha, deixei que meus dedos fossem pressionados por cima de seu short.  

   Senti meu coração falhar o batimento quando pressionei minhas mãos naquela parte traseira de Camila e a mesma arfou entre o beijo. 

   Cerca de 1 minuto passou-se e eu já não conseguia mais respirar. Sentia que ia desmaiar com todos aqueles toques inéditos para mim. Percebendo isso Camila encerrou o beijo, afastou-se e eu abri os olhos para deparar-me com ela sorrindo.  

    — Garota... — Falei, retirando minhas ousadas mãos de seu bumbum e colocando-as fechadas em punhos, apoiando-me na cama.  

   — Acho que isso foi... Oh, isso foi... — Ela tentou dizer. Não nos seguramos e caímos em uma gargalhada.  

   — Foi mais ousado do que o seu assédio na praia. — Comentei endireitando minha coluna. 

   — Muito mais... — Falou enquanto enrolava alguns fios de meu cabelo em seus dedos. — Mas digamos que a culpa é sua. — Franzi o cenho. 

   — Impossível. 

  — Você me irritou demais, Ferinha. — Bufei com o apelido. — Mas já canalizei minha raiva. 

   — Me tarando, acredito. — Acho que te tarei também... Ela riu e balançou a cabeça em concordância. 

   Virei o rosto para fitar a janela e constatei que faltava pouco para escurecer de vez. 

   — Olha... Não quero ser chata, mas preciso ir... 

   — Já? 

   — Vai escurecer logo, Camila. 

   Ela suspirou e saiu de cima de mim, sentando-se na cama. 

   — Tudo bem.  

   Pus-me de pé no chão e ajeitei-me por inteira. Meu cabelo e minha roupa. Fui até o aparelho de DVD e retirei o disco, guardando-o na capa. Mirei Camila. 

   — Me leva até à porta de lá de baixo? — Pedi. 

   — Com certeza! — Sorriu, pondo-se depressa ao meu lado.  

   A garota abriu a porta e saiu, antes de fazer o mesmo desliguei a TV. Camila não repara nas coisas! Que tola! Ia gastar energia! Descemos as escadas e encontramos Sofi assistindo televisão. Fui até a garota e entreguei-lhe o DVD. 

   — Obrigada. Você tinha razão. — Abaixei-me e cochichei em seu ouvido. 

   Sofia sorriu e bateu palminhas. 

   — Kaki! Você deu o Victor pra Lolo? 

   — Que Victor? — Perguntei. 

   — Não... Pega lá, eu esqueci. — Camila disse. 

   — Espera, Lolo!  

   A criança falou e correu para subir as escadas. 

   — Cadê sua mãe? 

   — Provavelmente na cozinha. 

   — Já venho. — Avisei indo até a cozinha e despedindo-me de Sinu.  

   — Não quer mesmo ficar para o jantar? — A mulher loira perguntou enquanto enxugava um copo. 

   — Obrigada, mas não posso. Minha mãe está me esperando. 

   — Cuidado no caminho para casa, Laur!  

   — Terei cuidado sim, senhora. Até mais. — Acenei para a mulher que colocava alguns talheres na mesa. 

   — Até! — Respondeu. 

   Voltei para a sala e Sofia conversava com Camila. Ao me ver, a pequena veio correndo em minha direção. 

   — Olha, Lolo! — Levantou uma mão com algo entre os dedos indicador e polegar.  

   — O que é isso? — Peguei a coisa e observei.  

   — O Victor da noiva cadáver! 

   — Uma versão abstrata... — Camila riu. 

   — Obrigada, Sofi. — Sorri para a pequena ignorando o sarcasmo da mais velha. — É lindo. 

   — Fiz na aula de artes! E dei a Emily pra Kaki. 

   — Ou uma bola azul... 

   — Kaki! 

   — Estou brincando. — A outra continuou rindo. 

   — Bom. Eu já vou. Tchau, Sofi. — Acenei para ela. 

   — Tchau! Volta logo pra gente brincar! 

   — Certamente! — Falei indo até a porta já aberta. Camila estava escorada na mesma. — Até mais, Cabello. 

   — Ei! — Ela disse me acompanhando até o lado de fora, encostando a porta atrás de si. — Quero uma despedida digna. 

   — Sei o que você quer, mas não farei isso.  

   — Ninguém vai ver!  

   Olhei para trás, observando a rua e sim, alguém iria ver. Na casa paralela a dos Cabello's tinha uma senhora regando as plantas. 

   — Tchau, Camila!  

   — Ela não vai ver! — Referiu-se à senhora. 

   Desci os poucos degraus rapidamente antes que ela aprontasse alguma. 

   — Lolo! — Continuei ignorando. — Te odeio! — Berrou. 

   — Eu também. — Acenei para ela e segui para casa. 

   Adiantei meus passos para chegar em casa antes que anoitecesse. Jantei no modo automático e acho que até ri de algumas piadas feitas pelo Chris. Tomei banho e aprontei-me para dormir ainda anestesiada com tudo o que tinha acontecido. Pelo visto Dinah tinha desistido do "programinha do final de semana". Quem liga? Eu não. 

   Estava olhando para o teto com a cabeça deitada sobre um braço dobrado quando meu celular vibrou. Peguei o aparelho e desbloqueei a tela. Uma nova mensagem de Camila. Cliquei para ver. 

   Oi, Lolo! Quero dizer que você é a Zebra mais Fera Zangada que já conheci! Isso é realmente poético, não acha? Acho que nos falaremos ainda hoje junto com as garotas. Te vejo logo :p :D - Camila

   Sorri ao ver que ela sempre usava emoticons em suas mensagens e constatar que Camila era a pessoa mais pateticamente poética que já conheci. Mas eu definitivamente adorava aquilo. 


Notas Finais


ME DEEM ATENÇÃO AQUI, POR OBSÉQUIO kk. Tenho algumas coisas pra falar, gente. Primeiro, eu sou uma tragédia escrevendo cenas como essas, então relevem porque eu estou tentando. Segundo, se vocês tiverem um tempinho livre procurem bem assim A Bela e a Fera - Mi Vieira e escutem a música nessa versão, garanto que vale a pena demais, porque o Mi né s2s2. E terceiro, comentem por favorrr, preciso saber o que vocês pensam, de verdade, mesmo. Falem comigo, é sério kk. E me perdoem pelos erros, vocês sabem minha eterna luta. Mas enfim, a gente se vê. Saudações :D/


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...