Segunda-feira.
— Você está roubando, Mani? — Dinah perguntou semicerrando os olhos.
— Por que eu estaria roubando? — Normani devolveu indignada. — Eu consigo ganhar algum jogo, sabia?
Dinah deu de ombros e virou o rosto para a esquerda.
— Ally, você está ajudando-a?
— Eu estou de frente pra ela. — Brooke apontou calmamente para Normani. — Impossível eu ajudar!
Dinah suspirou, mas não desistiu.
— Camila, é você então. — Apontou para a garota que estava ao meu lado muito ocupada e concentrada organizando as cédulas à sua frente no chão.
— O que tem eu? — Ergueu a cabeça sem entender nada.
Era tão linda a forma que ela passa o jogo inteiro sem organizar nada, depois para tudo e se concentra apenas em organizar, mas ainda assim não consegue organizar de uma forma realmente organizada... Sorri disso e logo voltei a olhar para Dinah.
— Caramba, Dinah! — Normani esbravejou. — Eu posso ser ruim no War, mas sou boa no Banco Imobiliário!
Explicou, mas Dinah fez cara de quem pouco se importa e balançou os ombros para cima e para baixo seguidas vezes.
— Eu devia estar ganhando aqui! — Respondeu como se fosse óbvio e nós apenas bufamos, negamos com a cabeça e ignoramos.
Segunda-feira. 282 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Hoje era pra Camila e eu nos encontrarmos na praia, apenas nós duas, mas como as coisas não costumam ser do jeito que a gente planeja, as outras três resolveram aparecer bem na hora em que Camila bateu na minha porta e eu, ansiosamente, corri pra atender com um quase sorriso na cara.
— Iam sair?
Ao invés de encontrar Camila, me deparo com Dinah, Normani e Allyson hiper sorridentes fazendo com que meu quase sorriso sumisse.
— Ally! Dinah! Acho que estamos interrompendo um encontro. — Normani disse e eu franzi o cenho sem entender muito bem.
— O que vocês estão fazendo aqui?! — Perguntei fitando as três e notei que tinha alguém atrás delas. Eu podia ver uma cabeça.
— Desculpa, Laur. — Brooke disse com um semblante pesaroso. — Nós não temos muito o que fazer até receber as cartas das universidades... e ficar em casa está me deixando ansiosa!
Assenti ainda sem entender muita coisa.
— Eu não tenho nada pra fazer lá em casa, Zangada. E meus irmãos saíram com minha mãe hoje.
Não respondi nada, já prevendo o que elas queriam dizer com aquilo.
— Amiga, viemos passar o dia com vocês! — Normani anunciou animada.
Bati a palma da mão na testa e revirei os olhos procurando por Camila que apenas sorriu e deu de ombros. Sem outra alternativa, saí do caminho e deixei que elas passassem. Camila foi a última a entrar e ao passar por mim, sorriu e balançou a cabeça como quem diz "Não fique chateada por causa disso. Está tudo bem.". E, claro, eu segui o que ela disse, mesmo que a contra gosto.
— E o que é isso em suas mãos, Ally? — Camila pergunta enquanto eu fecho a porta.
— Banco Imobiliário!! — Brooke diz animada.
— Eu adoro esse jogo, Ally! — Do que é que você não gosta, Camila?
— Jura? — A outra pareceu interessada no assunto.
— Zangada, estamos no seu quintal. — Jane avisou e, sentindo-se em casa, seguiu para o quintal.
E foi assim que o meu dia na praia — que não era exatamente o que eu queria — com Camila tornou-se um dia no meu quintal jogando Banco Imobiliário com as intrusas e Camila. Que também não era o que eu queria. Mas é como eu digo, a gente nunca tem o que a gente quer e por isso temos que nos conformar com o que temos. Eu me conformo em ter essas pessoas em minha vida, apesar de nunca ter querido ninguém. E não. Isso não é uma reclamação.
Camila estava distraída tentando decidir se comprava a propriedade ou não enquanto Normani e Allysson tentavam fazê-la não comprar e brigavam entre si porque elas queriam comprar exatamente aquela propriedade. Eu estava pouco me importando com aquilo até sentir um toque em minha perna.
— Zangada, eu vou falir! — Dinah sussurrou e eu dei de ombros. — Me passa algumas notinhas...
Ela apontou para o banco do jogo que estava sendo administrado por mim depois de eu ter insistido para ter essa função.
— Isso seria roubo... — Falei também em um sussurro.
Desde que começou a falir, Dinah passou a acusar todo mundo de estar roubando porque, de acordo com ela, não nasceu para perder em jogo algum. E agora quer que eu colabore em um roubo?!
— Lolo, devo comprar ou não? — A voz de Camila soou ao meu lado, fazendo-me encará-la rapidamente.
— Deve. — Respondi sem paciência.
— Mila, compre essa aqui... — Normani voltou a tentar persuadir Camila.
— Anda! — Jane cutucou outra vez minha perna. — Eu não tenho mais nada pra vender! — Ela implorou e eu meneei a cabeça ignorando. — Se eu sair desse jogo, não vou deixar vocês jogarem em paz, principalmente você...
Droga! Ameaça não vale!
Revirei os olhos e, cautelosamente, peguei algumas notas do banco para então dá-las a Dinah. Ela sorriu completamente contente e virou o rosto para a frente como se nada tivesse acontecido.
— Adiantem! — Ordenou.
— Ela vai comprar. — Falei já cansada daquela discussão entre as três. Procurei o título da propriedade e entreguei a Camila.
— Obrigada, Lolo. — Agradeceu. — Estava meio difícil decidir sozinha.
— Por nada. — Sorri bobamente.
Eu estava pouco me importando com o meu próprio jogo. Ajudar Camila a decidir, organizar, comprar ou construir era bem mais interessante. Claramente eu estava jogando por jogar, não fazia ideia de como estava minha situação na partida e só acordei do meu transe no fim, quando Camila venceu.
— Você ajudou o tempo inteiro, Lauren! — Brooke reclamou jogando as cédulas na grama.
— E não podia? — Perguntei.
— Podia sim. — Camila respondeu convicta.
— Amiga, você roubou. — Revirei os olhos pra Normani.
— Zangada, que trapaça! — Jane, não me venha falar sobre traças!
— Quer mesmo falar sobre roubo, Jane? — Desafiei.
— Sobre o que vocês estão falando? Que roubo? — Camila questionou perdida.
— Dinah me pediu dinheiro quando estava falindo. — Delatei.
— E você me passou as notas. — Dinah gargalhou se jogando de costas sobre a grama.
— Amiga! Você jogou sujo duas vezes! — Normani repreendeu-me, mas apenas revirei os olhos e cruzei os braços.
Eu ajudo e ainda sou acusada e culpada!!
— Quero revanche! E quero ser o banco! — Não aguento mais, Allyson. Chega desse jogo quase infinito.
— Não, Ally... — Camila choramingou.
— A Lauren roubou! Temos esse direito. — Revidou.
Busquei o olhar de Camila, que riu pra mim e deitou a cabeça em meu ombro.
— Ok. Vamos pra revanche. — Disse calmamente. Não, Cabello! Não quero revanche!
— Camila... — Reclamei.
— Não temos nada mais pra fazer, Lolo. Aproveita. — Passou um braço por minhas costas abraçando-me de lado.
— Tudo bem. — Murmurei em concordância, mas apenas porque Camila me convenceu. Nada além disso.
E a tarde em que eu deveria passar sozinha com Camila, passei jogando Banco Imobiliário. Jogamos a revanche por mais de uma hora e meia, mas não adiantou muito, Camila ganhou novamente e elas desistiram.
Quarta-feira.
Quarta-feira. 283 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez e a minha vida não poderia estar mais estranha. Nunca foi normal, mas eu posso garantir que esses últimos dias foram os mais estranhos que já vivi!
Acordei às 07h:25 sem a ajuda do despertador. Apenas não consegui ficar na cama por mais tempo. Minha mente trabalhava alucinadamente pensando em coisas, pessoas, acontecimentos, escola, família, mais pessoas, pessoas que nem existem, faculdade, futuro, carta de admissão, passado... presente.
— Bom dia, Lauren. — Minha mãe disse quando desci o último degrau da escada e cheguei à sala.
— Oi, mãe. — Respondi procurando-a e encontrando-a sentada no sofá lendo uma revista, como sempre.
— Tem uma coisa pra você sobre a bancada da cozinha. — Falou sem tirar os olhos do papel.
— O quê? A senhora fez algum banquete pro meu café da manhã? — Perguntei já animada com a possibilidade de realmente ter algo diferente para comer logo ao acordar.
— Não, minha filha... Umas cartas chegaram...
— Oh, não! — Exclamei já sentindo um nervosismo. Claro que eram as cartas das universidades!
— Não abri. Vá vê-las!
Não esperei nem mais um segundo e corri em disparada para a cozinha. Parei em frente ao balcão e lá estavam três envelopes brancos. Minhas mãos tremiam quando peguei o primeiro com o brasão da Cornell. Soltei o ar pela boca e abri puxando a carta. E fiz o mesmo com as outras duas.
Universidade de Cornell: Não fui admitida.
Universidade de Nova Iorque: Não fui admitida.
Universidade de New Haven: Não fui admitida.
— Alguma novidade? — Minha mãe pergunta.
— Não passei. — Digo fingindo não me importar.
— Em nada?!
— Em nada, mãe. — Confirmei indo até a geladeira procurando por algum suco.
Peguei uma caixa com suco de abacaxi e segui para a mesa.
— Pegue um copo. — Dona Clara alertou enquanto analisava bem as cartas.
Levantei e peguei um copo, mesmo não havendo necessidade. Eu estava decepcionada e tomaria sozinha aquela caixa de suco inteira, até a última gota, até não sobrar mais nada!
— Lauren...
— Tudo bem, mãe. — Enchi o copo com o suco e bebi de uma só vez. — Eu estou bem.
Minha mãe não se contentou com o meu "tudo bem" e passou o resto da manhã falando sobre eu não ter me dedicado o suficiente para conseguir ser admitida, sobre eu ter que ver o que faria da minha vida a partir de agora e que eu iria estudar para conseguir entrar depois e que se eu estava pensando em arranjar um emprego eu estava completamente certa, que eu deveria começar logo durante as férias. Mas não rebati nada em momento algum. Escutei tudo calada e apenas abri a boca para beber o meu suco.
Somente depois do almoço — e de escutar algumas coisas do meu pai, umas poucas piadas dos meus irmãos — pude subir para o meu quarto e respeitar a minha própria quase dor. Quase dor porque no fundo eu sabia que não conseguiria passar. Eu sabia que tinha ido bem na prova de acumulação de pontos, mas minha carta de recomendação foi escrita por uma professora de Inglês, o que eu queria optando por cursos que não tinham lá quase nada a ver com a matéria? Também não sei. Mas o erro está feito e agora eu preciso pensar sobre o que farei daqui pra frente.
Já passava das 15h quando a campainha tocou e eu não dei importância porque estava um pouco ocupada fazendo uma planilha sobre meus dias daqui pra frente. Consegui ocupar meu tempo com algumas tarefas domésticas, com algumas horas de estudo e se eu trabalhasse teria que replanejar tudo...
— AMIGA, EU TENHO UMA NOVIDADE! UMA NÃO! QUATRO! — Normani falou tudo rápido demais ao mesmo tempo em que entrava no meu quarto e se jogava em cima de mim.
— Mas... — Tentei falar enquanto ela me abraçava contente.
— Fui chamada pra um teste em NYU! — Anunciou totalmente empolgada soltando os braços de mim.
— Eu também! — Dinah se jogou em minha cama.
— Gente, fui admitida na Columbia! — Allyson caminhou e sentou-se educadamente sobre o colchão.
— Eu não passei na Cornell... — Camila disse sorrindo. — Mas passei na NYU!! — Jogou-se no pouco espaço que ainda tinha no colchão.
Impressão minha ou as quatro conseguiram passar em Nova Iorque?
Comecei a suar frio no mesmo instante em que meu cérebro começava a digerir o bombardeio de informações.
— Lauren, suas cartas chegaram?! — Normani perguntou eufórica.
— É... — Devo sorrir e mostrar estar feliz por elas ou apenas dizer a verdade sobre minha, agora oficialmente, dor?
Como elas conseguiram e eu não?! Não estou dizendo que elas não iriam conseguir, mas...
— Zangada? — Dinah chamou-me.
— Já parabenizei vocês? — Sorri, notoriamente, forçada. — Parabéns. — Estendi a mão para Allyson. — Parabéns. — Fiz o mesmo com Dinah. — Parabéns. — Bati no ombro de Normani. — E parabéns. — Apertei a mão de Camila.
— Amiga, o que aconteceu? — Normani perguntou e eu ri nervosa. — Fala!
— Eu, talvez... — Fitei o rosto de cada uma delas com pressa. — Não... Tenha... passado...
Ao terminar de falar, o silêncio foi absoluto.
Qual é? Vocês não precisam fazer essas caras assustadas/abobadas/pasmas! Eu também não fiquei pulando de alegria quando recebi 3 cartas e nem uma admissão! Eu já estava começando a aceitar minha nova vida e vocês fazem isso!
— Não passou em nada? — Allyson perguntou.
— Nada. — Respondi.
— Oh, não... — Camila exclamou parecendo desanimada.
— Deve chegar alguma carta ainda.
— Já recebi todas, Allyson... — Cocei a nuca sentindo-me desconfortável.
— Você se inscreveu em quantas? — Dinah indagou.
— Nas mesmas que vocês e uma outra.
— Pega lá essas cartas. — Jane disse. — Tem algo errado. — Também pensei ter algo errado quando abri a primeira, mas depois da segunda concluí que a única coisa errada era eu mesma. — Impossível! A gente passou, Lauren! Você tinha que passar! — Concordo.
— Aham. — Brooke assentiu.
— Você é mais inteligente do que eu! Eu assumo isso! — Dinah disse inconformada e eu me controlei para não rir.
— Deve ter sido os cursos que coloquei... Ou as atividades extraescolares... Você e Normani estiveram nas aulas de dança o ano inteiro...
— Eu nunca falei que eu não era inteligente. Me tire dessa, amiga. — Normani revirou os olhos.
— Desculpa. — Pedi.
Estranhei o silêncio de uma certa pessoa e não consegui controlar a vontade encará-la. Camila parecia estar muito concentrada em seus pensamentos enquanto olhava fixamente para o chão.
— Vai pegar as cartas, Lauren! — O grito de Dinah me assustou.
— Ok. — Respondi e corri para a cozinha.
Segundos depois voltei com os envelopes em mãos. Camila estava sussurrando algo para Dinah, mas quando me notaram pararam de falar.
— Aqui. — Entreguei a Normani que sorriu e olhou atentamente os papéis.
— Amiga, aqui só tem três. Cornell, NYU e a de New Haven...
— Sim... — Lá vem. Eu sinto que alguma reclamação está vindo.
— Lauren, você se inscreveu na Columbia, né? — Brooke perguntou e eu apenas joguei o meu cabelo para trás enquanto olhava o teto. — Não posso acreditar...
— Amiga, você cometeu mesmo essa idiotice? — Normani conferiu os papéis. Cometi. Mas quando é que não cometo, não é mesmo?
— Se superou, Zangada! — Dinah gritou e eu arregalei os olhos espantada. — Caramba!
— Eu não iria passar de qualquer forma! — Me defendi mantendo a calma.
— Quem garante?! — Dinah revida levantando e tomando os papéis das mãos de Normani. Ela parou um segundo e analisou tudo. — Biomedicina, Bioquímica e Direito?!
— Colocou um curso em cada? — Allyson perguntou como se aquilo fosse um crime.
— Desde quando você gosta da área de saúde? E Direito?! Lauren... — Não sei, mas quem liga? Coloquei e já era.
— Você nem sabe do que eu gosto. — Respondi tentando achar minha voz da razão na situação, mas ela não existia.
— Você não levou a sério! — Dinah diz irritada. — Você não leva nada a sério!
— Jane, para com essa ideia de morarmos juntas... — Reviro os olhos.
— Eu estou falando de tudo! — Ela diz séria levantando e ficando na minha frente. — Você não levou nem o seu futuro a sério! — Falou entredentes.
Engoli em seco com receio de apanhar, mas não demonstrei.
— Eu posso cuidar da minha vida sozinha. — Reviro os olhos mais uma vez.
— Calma. Fiquem calmas. — Allyson pediu colocando-se entre nós duas.
— Passou da hora de encarar a vida, Lauren. — Ela diz e nega com a cabeça. — Isso aqui é a prova disso. — Balança os papéis no ar, depois me bate com eles e entrega para Normani.
Ninguém diz mais nada. Dinah suspira e segue para a porta do quarto.
Acho melhora ir mesmo, Jane. Seria bom se cuidasse de sua própria vida porque eu já fiz uma planilha pra minha!!
— Cheechee? — Camila finalmente se pronuncia. — Aonde você vai?
— Vou pra casa. — Vá logo! Se quiser posso ensinar-lhe a fazer uma planilha de vida.
Normani me cutuca em um sinal de que eu diga algo, mas ignoro e cruzo os braços sem dizer nada.
Camila levanta da cama e olha perdidamente para mim e depois para Dinah.
— Eu... — Parecia em dúvida do que fazer. — Eu vou com você, Cheechee! — Fala para a garota que murmura e sai do meu quarto. — Te ligo mais tarde? — Pergunta para mim.
— Seria legal. — Digo tentando não demonstrar que fiquei boba com a pergunta. Claro que quero falar com você mais tarde! Quando é que não quero? Ok. Sei que às vezes eu fujo, mas no fundo eu quero, sim.
— Ok... — Sorri para mim e logo segue Dinah.
Observo Camila sair e bater a porta para então eu respirar aliviada.
— Lauren. — Normani, me deixa!
— O que vocês vão criticar agora? — Descruzo os braços e me jogo sentada na ponta da cama.
— Nada. Só queremos entender. — Brooke tranquiliza.
— Não tem o que entender. Eu não iria passar na Columbia, por isso não me inscrevi.
— Vou mesmo deixar de te ver quase todos os dias depois de todos esses anos? — Normani pergunta e eu sinto um leve aperto dentro de mim.
Ela estava certa. Pela primeira vez em anos nós iriamos ficar longe uma da outra. Não que eu me importe com isso, só... nada.
— O telefone ainda existe. — Falei cortando o drama.
Ela muxoxou e me abraçou. Allyson pousou uma mão em meu ombro e sorriu fraco.
Sexta-feira.
Sexta-feira. 285 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Hoje finalmente eu iria encontrar, apenas e somente, Camila. Ela pediu que eu fosse até a sua casa e que deixássemos a praia para um outro dia. Sem titubear aceitei e, dez minutos depois da hora marcada, eu cheguei na casa dela.
— Oi... — Falei assim que a própria Camila abriu a porta.
— Oi! — Respondeu animada abrindo os braços e envolvendo-os em mim. — Muito bom te ver hoje. — Sussurra em meu ouvido me puxando para dentro da casa e fechando a porta.
— Aham... — Respondo enquanto deixo meu corpo relaxar entre os braços dela, mas logo fico tensa. — Seus pais, Camila... — Tento me soltar, mas ela aperta ainda mais o abraço.
— Meu pai está no trabalho e mamãe levou Sofi na festa de aniversário de uma coleguinha dela. E você queria me ver também, eu sei. — Ela diz rindo e eu apenas assinto enlaçando meus braços na cintura dela, voltando a me sentir relaxada.
Eu sei o que você está pensando: Lauren! Você se deixou ser abraçada e abraçou a Camila assim tão fácil?! Inacreditável!
Eu também não acredito, mas me diz, pra quê negar um abraço que eu tanto queria? Eu consigo muito bem acorrentar minha eu renegadora e deixar minha eu — que ainda não conheço muito bem — tomar conta da situação. Consigo ser mais feliz assim, pelo menos em alguns segundos.
— Ok. Você não vai me soltar? — Camila pergunta e eu afundo meu rosto em seu pescoço negando com a cabeça. — Acho que você tem algum problema motor. — Parou de falar esperando alguma resposta, mas continuei calada. — Quando você usa os braços pra me abraçar, perde a fala...
— Não perco. — Murmuro. — É legal ficar aqui.
— Em meus braços ou no meu pescoço?
Nos dois. Em você. Com você.
Continuei quieta nos braços dela enquanto aspirava calmamente o pescoço e os cabelos da garota que eu tanto tive medo de perder, quase perdi, conquistei e que provavelmente vou, definitivamente, perder quando ela for embora. Por isso estou prendendo-a tanto assim, uma vez que ela se for eu não vou ter mais ninguém pra abraçar, também não vou ter um pescoço pra esconder o meu rosto e, a pior parte, não terei Camila.
Isso me causa uma espécie de dor, sabe? Estou, novamente, sentindo uma saudade antecipada...
Estava bastante à vontade naquela posição quando Camila segurou minha cabeça puxando do seu pescoço, fazendo-me encará-la.
— Vem. — Falou sorrindo e logo em seguida encostando seus lábios nos meus. — Vamos subir. — Obrigou-me a interromper o abraço e, segurando em meu braço, levou-me até o andar de cima. — Vem aqui. — Disse deitando-se na cama.
— Ok. — Respondi sentando-me na ponta do colchão.
— Lauren!
— Não mesmo. — Seria muito atrevimento meu deitar-me, apenas deitar, com ela quando os pais não estão em casa.
Ela bufou, arrastou-se pela cama e me puxou.
— Para com isso. — Disse voltando a deitar e me puxando para que eu deitasse sobre um braço dela.
— Camila, isso está errado! — Reclamei.
— Não vejo nada de errado.
— Eu que costumo ficar na sua posição e você na minha! — Falei por eu estar deitar sobre o peito dela.
— Idiota. — Bateu de leve em meu ombro e me abraçou. — Hoje será assim.
— Hum. Ok. — Aproveitei o momento e rapidamente afundei meu rosto no pescoço dela escutando um riso.
— Você está assim por causa da faculdade, não é?
— Acho que sim. Não sei. Talvez. Mas acho que não.
Depois disso eu acho que Camila entendeu que eu ainda não conseguia aceitar muito bem o que aconteceu e resolveu ficar em silêncio enquanto eu aproveitava o cheiro que minhas narinas aspiravam.
— Você e a Cheechee precisam fazer as pazes... — Quebrou o silêncio começando a mexer em meu cabelo.
— Ela é quem fez a briga. — Estalei a língua no céu da boca.
— Ela se preocupa com você. — Dou de ombros. — Dinah é um pouco explosiva e quando se trata de alguém que ela goste, a coisa vira uma grande explosão.
— Belo modo de demonstrar isso, hein? — Ironizei, mas no fundo eu não estava irritada com a Dinah.
Outra vez o silencio fez-se presente e eu pude observar que o abraço de Camila somado com as mãos de Camila deslizando por meu braço mais o cheiro de Camila resultam em quase uma soneca! Caramba! Eu gostaria de dormir algum dia assim. Deve ser incrível...
— Como vai ser agora? — Cortou meu pensamento.
— O quê? — Perguntei sem entender.
— Você continuará aqui?
— Acredito que sim.
— Eu sinto muito por você não ter passado. — Eu também, sabe.
— É...
— Ainda poderei te ligar?
— Eu gostaria que você me ligasse, sabe. Pra falar sobre o tempo de lá, sobre alguma coisa que aconteceu pela cidade, algum show que terá...
— Isso você pode saber no jornal, mas ainda assim ligarei.
— Você poderia fazer um jornal de você mesma e me contar tudo o que você fizer lá.
— Tipo, desde a hora que eu acordar? — Riu apertando o abraço.
— Aham. — Respondi observando seu rosto de lado.
— Gostei da sua ideia. Vai ser legal ter alguém pra escutar sobre mim.
— Aham. — Eu não tinha muito o que falar quando estava totalmente perdida olhando para o rosto dela que até visto de baixo consegue ser lindo.
— E você vai me visitar? — Melhor não. Você precisa ter uma vida sem mim.
— Não. Não está na minha planilha de nova vida, seria muita regalia para mim. Preciso me castigar, sabe?
— Mas, Lauren! — Me afastou um pouco para conseguir me encarar.
— Camila, poderemos nos ver quando você vier ver sua família. — Só não me apareça com nenhum namorado pra chegar em minha frente e dizer "Essa é a minha amiga Lauren que te falei.".
— Lolo... — Falou fazendo um enorme bico e contorcendo o rosto como se fosse chorar. — Agora que eu parei pra pensar em uma coisa... Vou te ver uma vez no ano e olhe lá.
— Aham. — O semblante dela se tornou desanimado e os olhos foram fechados.
— Nosso espaço em branco vai ficar invisível.
Preferi não responder mais nada. Entrar naquele assunto seria como um pulo na incerteza. Veja bem, Camila e eu não temos nada. Ela indo embora, não teremos nada multiplicado por cem... Claramente estamos com os dias sendo contados para o fim de tudo. Talvez nem tudo. Quem sabe nós viraremos amigas e somente amigas nada além de amigas? Quem sabe...
Segunda-feira.
Segunda-feira. 288 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Hoje foi um dia quase normal. Quase porque estava tudo muito tedioso até a campainha tocar durante a tarde.
— Oi, Dinah. — Falei um pouco surpresa ao abrir a porta.
— Posso falar com você? — Perguntou e eu senti meu corpo tensionar. Era estranho estar brigada com a Dinah. Eu não sabia como agir.
— Aham. — Cheguei para o lado e deixei-a passar. Fechei a porta e esperei que ela dissesse algo.
— Olha, Zangada. — Senti-me menos tensa quando escutei meu apelido. — Eu exagerei. Desculpa.
Ela veio se desculpar?! Eu não acredito!
— Tudo bem. — Digo sem saber como responder.
— Se você não me responder corretamente vou bater em você! — Reclama.
— Ok, Jane! — Exclamo. — Eu entendo e desculpo você.
— Agora diz que eu estou certa. — Eu apenas rio e nego com a cabeça. — DIZ!
Dinah poderia ser um pouco menos ameaçadora. Eu não gosto disso!
— Talvez você esteja certa. — Murmuro
— Zangada... — Sua voz agora estava melindrosa. — Só quero o seu bem.
— E seu plano bobo. — Cruzo os braços.
— Para... — Se aproxima de mim e sem hesitar me abraça. — Eu queria sim que meu plano desse certo, mas antes de tudo quero o seu bem. — Aperta o abraço. — Eu me preocupo!
— Jane... — Tento dizer, mas o braço dela está cobrindo meu rosto.
— Mesmo você não estando lá, vou guardar o seu lugar.
— Dinah...
— Prometo que um lugar pra sua cama ficará à sua espera. — Começou a balançar para os lados.
— Obrigada.
Dinah me esmagou ainda mais em seus braços e suspirou.
— Se eu não gostasse de você não agiria assim.
— Vou.morrer.aqui — Cutuquei-a.
— Ops... — Soltou-me rindo. — Pronto... — Seu riso morreu em um sorriso e suas mãos tocaram as laterais de meu rosto. — Sentirei saudades.
— Dinah, eu continuarei aqui. — Aviso ajeitando meu cabelo. — Não vou morrer. — Revirei os olhos.
— Ok. Preciso ir agora. A gente se fala depois. — Disse e beijou a minha testa, o que me fez franzir o cenho estranhando o ato.
— Tchau. — Respondo limpando o local que ela beijou.
— Você não muda. — Dinah revira os olhos rindo e me fazendo sorrir.
Terça-feira.
É normal sentir uma nostalgia antecipada? Porque eu estou sentindo isso. Enquanto as garotas estão animadas resolvendo coisas para a breve mudança, eu estou aqui. Sem ter muito o que fazer. Sem ter muito o que pensar além de: Vou perder Camila, terei que ficar longe de Normani, mal comecei com Camila e ela já vai embora, Allyson fará falta, Camila vai encontrar alguém, sentirei a ausência de Dinah, Camila vai estar longe da minha vigilância... Vou ficar sem amigos de uma vez por todas.
— Que droga. — Afundo meu rosto no travesseiro completamente inconformada.
Eu tive um ano inteiro pra tê-la comigo, mas preferi afastá-la. Agora que consegui coragem o bastante pra tê-la comigo a vida preferiu afastá-la de mim.
Você é injusta, vida. Muito injusta. Essa é uma crueldade que não se faz assim tão de repente.
— Lauren, achei que você tivesse dito que já tinha recebido todas as cartas. — Minha mãe chama a minha atenção ao entrar no quarto.
— Mas recebi, mãe. — Respondo levantando a cabeça.
— E por que essa aqui acabou de chegar? — Ergueu um envelope para mim.
— Deve ser alguma conta... Pra senhora, claro. — Eu ainda não tenho uma vida financeiramente ativa.
— Filha, tem o brasão de uma universidade.
— As universidades agora fazem propaganda por correspondência? — Já estão assim? Que mundo é esse?
— Da Columbia. — Legal, mãe. Não tenho interesse por agora.
— Nem me inscrevi lá.
— Tem o seu nome. Abre.
Franzi o cenho e encarei o envelope. Como o meu nome veio parar aqui sem eu ter me inscrito? Deve ser engano.
— Lauren... — Dona Clara diz e eu reviro os olhos para a agonia dela.
Sem pressa rasgo a lateral do envelope e puxo o papel que tem dentro. Desdobro calmamente e minha mãe se mostra impaciente. Respiro fundo e começo a ler.
Aquilo era uma piada. Com certeza isso é uma piada. Uma brincadeira muito sem graça e que não devia ter sido feita!
— Mãe...
— O que foi?!
— Que brincadeira de mau gosto é essa? — Solto um riso nervoso ainda olhando para o papel.
— O quê? — Ela puxa o papel de minha mão e rapidamente um sorriso cresce em seu rosto. — Oh meu Deus! Lauren! Você passou!
— Mãe, isso está errado. — Nego com a cabeça. — Eu não me inscrevi na Columbia. Tenho certeza!
— Como não?! Filha!!! — Gritou me abraçando e falando frases de animação.
— Vou resolver isso. — Desvencilhei-me do abraço, peguei a carta das mãos dela e fui até a porta. — Licença.
Desci até a sala, peguei o telefone e disquei o número da Columbia. Quando uma atendente perguntou se poderia ajudar-me em algo, respondi que sim e expliquei sobre eu ter sido admitida em algo que não me inscrevi. Ela pediu para eu aguardar e depois de pedir meu nome e alguns outros dados, confirmou que eu estava sim admitida e que não havia engano algum.
— Tem certeza? — Perguntei pela terceira vez.
— Sim, senhora. Posso ajudar em mais alguma coisa?
— Não... Obrigada. — Falei e desliguei o telefone encontrando dona Clara olhando-me com expectativa. — Mãe, não tem engano...
— Lauren, seja lá quem for que tenha feito isso, é um anjo! — Não posso dizer sem saber quem foi.
— Mãe, a senhora não me inscreveu lá mesmo, não? — Queria saber. Eu precisava saber.
— Não. Não foi nenhuma de suas amigas, não? — Questionou e eu parei para pensar um pouco.
— Não... Elas brigaram comigo justamente por eu não ter feito isso...
— Seja lá quem for, fez um grande favor. Pronto! Você descobrirá um dia!
— Mas... — Será que a senhora não entende que inscreveram sua filha? E se for uma armadilha?!
— Preciso falar para o seu o pai! Ele vai amar saber disso! — Pegou o telefone e correu para a cozinha.
Joguei-me no sofá sem conseguir acreditar no que aconteceu. Desde quando pessoas boas e que fazem favores a outras anonimamente existem? Eu sinceramente não consigo acreditar em tal bondade. E o ponto mais importante disso tudo é: Quem seria tão bom comigo? Eu nunca fiz nada de grandioso nem marcante para ninguém nem por ninguém... Isso está estranho.
Durante a tarde liguei para a casa de Normani e pedi que ela chamasse as outras três porque eu precisava ter uma conversa muito séria com as quatro. Se elas me dissessem que não tinham feito aquilo, eu já não saberia mais quem foi.
— Tem certeza de que não foi você? — Perguntei pela segunda vez depois de ter contado o acontecido.
— Amiga, eu garanto que não fiz isso, muito menos as outras três. — Normani, que chegou antes das outras, respondeu.
— Quem será que fez? — Perguntei. — Tem que ser uma de vocês, Normani.
— Não sei, mas esquece isso e vamos contar a todas porque 5 cabeças pensam mais do que uma. — Revirei os olhos e cruzei os braços.
— Conseguiria acreditar se falassem que roubaram alguma conta bancária minha, mas me inscreverem? Isso não é possível!
— Seja menos pessimista, amiga. E esquece isso. — Abriu os braços e eu já sabia o que estava por vir. — Vamos morar juntas! — Me abraçou e eu revirei os olhos.
Não demorou muito para que Allyson chegasse e logo depois Camila e Dinah. Quando todas se aquietaram no sofá, contei o ocorrido, expliquei que liguei para lá e que eu realmente havia sido inscrita e admitida.
— Não fui eu, Zangada. Eu jurava que você tinha feito isso naquele dia... Eu não brigaria por nada. — Dinah disse coçando o queixo.
— Camila. — Chamei.
— Não sei de nada. — Falou rápido demais e franzi o cenho. — Sério. Não sei nem do que você está falando.
— Mesmo?
— Aham. Mas fico muito feliz por você ter conseguido, Lolo! — Sorriu, mas não parecia muito contente.
Deixei passar e voltei-me para a Allyson.
— E não, Laur. Eu não tenho nada a ver com essa carta. — Brooke rapidamente se defendeu.
— Hum...
O silêncio fez-se presente e cada uma de nós parecia estar ocupada demais pensando. Dinah olhava para o alto, Allyson mantinha um semblante fechado e investigativo, Normani sorria sozinha encarando o chão e Camila estava suspeita... Muito suspeita.
— Olha, Zangada. Você tem uma chance ainda! — Dinah quebrou o momento. — Vamos apenas focar nisso.
— Ela não vai pra Columbia. — Camila disse de repente. — Prefiro que ela fique... — Como é que é? A gente não estava de bem, garota?! — Não aqui, mas...
— Camila! — Allyson repreendeu. — Não diga isso!
— Sabem quem vai pra Columbia? — Camila perguntou com um tom irônico. — A Alexa!
Não acredito que ela passou esse tempo todo pensando sobre isso!
— E o que isso tem a ver? — Allyson perguntou como se falasse com uma criança. — A Lauren vai estudar e apenas isso.
— Se vai estudar, estuda em qualquer lugar. — Camila meneou a cabeça e cruzou os braços totalmente irritada.
— Eu posso decidir isso sozinha, Cabello. — Falei.
— Com a Alexa?! — Oh, céus! Ela está mesmo preocupada com isso? Não posso acreditar.
— Camila, você está agindo mal. Pare com isso. — Normani disse firme.
— Estou?! Então virem amiguinhas da Alexa logo. Podem ir as quatro de uma vez! — Bateu o pé passando por mim com uma raiva incomum e rapidamente subiu a escada. A escada da minha casa.
— Tem a certeza de que vocês duas não estão namorando? — Dinah riu como se aquilo fosse engraçado.
— Eu saberia se namorasse alguém, Jane. — Respondi ainda pasma com a atitude de Camila.
— Deve ser pelo baile... — Normani tentou achar uma explicação. — Raiva.
— Aham. Não se prive por causa da Mila, Laur. — Brooke sorriu.
— Sabe o que eu acho? Acho que isso é ciúme. Não estão mesmo namorando? Se estiverem escondendo de mim vai ter briga... — Dinah ria sozinha.
— Querem subir? — Tentei mudar o assunto.
— Você deveria subir e conversar com ela. — Allyson disse.
— Isso seria admitir um erro e eu não errei. — Respondi.
— Tem certeza que não quer subir sozinha? — Allyson perguntou e eu assenti. — Então vamos.
— Não! — Normani disse enquanto cutucava Dinah com o braço, que ainda ria. — Faremos o seguinte. Nós três vamos embora e a Lauren vai resolver isso com a Camila.
— Mas eu não tenho culpa! — Retruquei.
— Anda, Zangada! — Dinah parava de rir. — Vamos embora. Essa cena de ciúme foi muito para o meu dia...
— Dinah! — Normani chamou puxando-a pelo braço.
— Mani, você viu que ela brigou e subiu para o quarto da Lauren? Quem faz isso quando briga com alguém? — Dinah ria enquanto era empurrada por Normani e seguida por Allyson.
Quando as três saíram e fecharam a porta, eu precisei respirar fundo e tomar um pouco de coragem para conseguir enfrentar Camila. Engoli em seco e depois de algum tempo consegui subir, completamente nervosa e temerosa, mas consegui.
A porta do meu quarto estava aberta, entrei devagar e encontrei Camila sentada em minha cama.
— Posso entender o que foi aquilo? — Perguntei em quase um sussurro. Minha voz não saía!
— Vamos supor que você vá. Eu acho que você vai. — Disse ainda encarando chão.
— Ok. — Permaneci perto da porta. Seria mais fácil pra fugir caso precisasse.
— Lembra do que me disse uma vez quando estávamos brigadas, mas ainda assim nos falando? — Não.
— Não sei o que eu disse, mas lembro da época... — Foi quase o ano inteiro, Camila.
— Então deixa eu lembrar a você. — Ainda olhava para o chão. — Quando perguntei: Qual faculdade você quer fazer? Você respondeu: qualquer uma onde ela estiver.
Esse dia foi... Hum... Eu lembro! Não! Ela levou aquilo a sério mesmo?! Ela não notou que eu só queria implicar por causa do Mahone?
— Camila! Aquilo foi um... Aquilo... — Não consegui explicar, mas tinha explicação!
— Foi verdade? — Ergueu a cabeça e me encarou. — O tempo inteiro?! — Céus, vai começar...
— NÃO! — Falei alto balançando as mãos. — Aquilo foi uma provocação! Eu só queria irritar você!
— Eu não quero você na Columbia com ela. — Cruzou os braços e franziu o cenho ficando linda, mas eu não podia dizer isso agora...
Eu não tinha o que responder, por isso fiquei quieta pensando em algo.
— Quer que eu vá pra Nova Iorque com você ou não? — Perguntei vendo que ela não iria falar algo tão cedo.
— Claro! É que eu não sei... — Respondeu mais calma.
— Não sabe o quê? — Ousei caminhar para mais perto dela.
— Se posso te privar de ir pra uma das melhores universidades por minha causa. — Realmente não pode.
— Eu não sei se vou... Não tive a melhor pontuação. Você sabe. A Allyson é a única que se esforçou de verdade dentre nós cinco... E de repente me chamam... — Expliquei.
— Você nunca foi ruim, Lauren.
— Que seja. Eu não me inscrevi lá, Camila! — Será que alguém pode entender isso?!
— Mas... Você vai... Pra Nova Iorque com a gente? — Sorriu grande pra mim.
— Não sei. — Sentei-me na ponta da cama, mas distante dela.
— Eu tenho o direito de te pedir para ir? — Não. Sim. Não. Talvez. Claro.
— Oh, não faça isso... — Eu claramente cederia a um pedido seu!
— Lauren... — Ela começou.
— Para.
— Eu te peço... — Não pede, não.
— Não pede!
— Vai pra Nova Iorque com a gente...
— Acabou? — Perguntei frustrada.
— Comigo... — Isso foi muito para mim. Não sei se consigo negar algo que ela peça dessa forma.
Deixei meu corpo cair sobre a cama jogando um braço sobre a testa. Ela conseguia me vencer muito fácil e eu sinceramente sinto raiva disso!
Respirei fundo e tentei pensar sobre cursar algo que eu nem escolhi. Eu só queria saber quem fez isso pra conversar e entender as razões da pessoa. Não tenho nada mais do que 4 amigas, meus pais e irmãos... E todos dizem não terem feito isso. Então quem foi?! Seria a Ferrer? Impossível.
Fui tirada da minha quase conclusão por um peso em cima do meu corpo.
— O que você está fazendo?! — Perguntei abrindo os olhos e dando de cara com Camila que estava com o rosto perigosamente perto do meu.
— Cala a boca. — Inclinou-se tentando alcançar minha boca.
— Ei! Meus irmãos estão em casa! — Alertei.
— A porta está fechada, Lolo... — Sussurrou passando a língua pelo lábio inferior para logo depois mordê-lo.
— É? Ah... — Não tenho ideia do que eu queria falar, mas eu gostaria de responder.
— Ahammmm... — Assentiu buscando minha boca e dessa vez eu não desviei. — Isso. — Roçou os lábios sobre os meus. — Sem fugas.
— Tá, mas... — Eu queria perguntar se a porta estava trancada porque meus irmãos não costumam bater, só que não tive tempo porque ela me calou com um beijo.
— Hummm... — Ela murmurou enquanto forçava a língua para dentro da minha boca. Concedi e estremeci ao sentir nossas línguas se encontrando. Camila suspirou ainda mais com o contato e levou uma mão para o meu rosto enquanto a outra apertava meu braço. Já eu preferi manter minhas mãos jogadas no colchão. Era melhor.
Ficamos por um bom tempo assim, nos beijando lentamente entre alguns suspiros até Camila se remexer em cima de mim e colocar a perna esquerda entre minhas pernas.
— Ei! — Falei interrompendo o beijo achando aquela posição muito... estranha.
Mas Camila ignorou e seguiu beijando minha bochecha, meu maxilar até parar em meu pescoço e fazer o que ela sempre fazia...
— Camila, para. É sé- aaah... — Não consegui completar, apenas fechei os olhos e praguejei mentalmente por saber que eu teria que esconder o que ela, com certeza, fez em meu pescoço. Pelo menos não estávamos mais no verão, não é mesmo?
— Você disse que gosta de estar em meu pescoço, — Falou enquanto mordia e sugava a minha pele. — mas eu realmente gosto de beijar o seu. — Disse erguendo o corpo um pouco e ficando com os joelhos dobrados sendo que um estava perigosamente localizado, enquanto beijava a minha clavícula e ousava descer ainda mais.
— Ei, ei! Parou! — Com um enorme esforço empurrei Camila que se jogou ao meu lado rindo. — Não ria. — Falei tentando me acalmar.
Meu corpo havia reagido muito energicamente àquilo. Preciso fazer uma nota mental para evitar beijar Camila em uma cama porque sempre me causa coisas estranhas.
— A gente nem estava fazendo nada. — Riu cinicamente.
— Você está cada vez mais abusada, Cabello. — Acusei. — Onde tem aprendido?!
— Filmes... — Que tipo de filme mostra isso? Preciso verificar isso depois.
— Esquece os filmes. — Virei minha cabeça para poder enxergá-la.
— Nem pensar. — Sorriu sem mostrar os dentes. — Vai pra Nova Iorque comigo?
Revirei os olhos também sorrindo.
— Talvez.
Quarta-feira.
Quarta-feira. 290 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez e eu acho que a vida notou o meu sofrimento e resolveu me dar mais uma chance de continuar tendo Camila por perto. Mas eu ainda não estava decidida, tudo o que eu enxergava era uma bifurcação. Eu tinha duas opções e as duas definiriam o destino da minha vida. Lógico. Uma faria eu me tornar uma pessoa feliz e a outra pioraria o grau de meu mau humor.
A primeira era ir para Nova Iorque, morar na mesma casa que as outras quatro, assim eu não precisaria dar adeus à minha amiga de infância, Normani. Nem a uma intrusa analisadora, Allyson. Muito menos a uma irritante e bruta, Dinah. E claro, ainda teria o ser vivo mais encantador da face da Terra ao meu lado, coisa que não seria fácil, mas seria infinitamente melhor do que dizer adeus
A segunda escolha seria não acreditar nessa admissão e, provavelmente, dizer adeus a todas quatro garotas que de um modo estranho mudaram a minha vida. Não que eu esteja elogiando, apenas comentando. Não assumindo, mas observando.
— O que devo escolher? — Encaro a tela do computador onde eu procurava informações sobre a Universidade de Columbia.
Você deve estar pensando: você ainda está pensando, Lauren? Sim! Há muito o que considerar na escolha de uma universidade, não apenas a companhia. E acho que nisso meus pais poderiam ajudar. De qualquer forma precisarei informá-los, afinal eles fazem parte da decisão final.
Fechei o notebook, deixei ao meu lado e então levantei-me da cama. Abri a porta e desci as escadas tentando imaginar qual seria a escolha dos meus pais.
— Mãe, pai. Posso falar com vocês? — Perguntei assim que os encontrei na cozinha.
— Pode. Aconteceu alguma coisa? — Meu pai diz sorrindo.
— Sim... Sobre a universidade. — Ergui a carta e balancei-a.
— Você tem dúvidas se vai?
— Acho que vim aqui exatamente pra... pedir... ajuda. — Digo pausadamente.
— Certo. Fale.
Expliquei sobre o plano das garotas, frisando a parte em que aleguei ser um plano bobo e adolescente e que eu não precisava fazer parte. Também falei sobre onde cada uma passou e por fim pedi que eles me auxiliassem na escolha.
— Você quer ir com elas?
— Não precisa, pai. Se o gasto for grande, eu fico no dormitório, tudo bem.
— Lauren, você quer ir com elas? — Quero.
— Talvez.
— Deveríamos conversar com os outros pais, Clara. — Meu pai diz decidido.
— Vamos sim. Lauren, fale com as garotas sobre isso. — Minha mãe responde contente.
— Vocês estão me deixando ir pra Nova Iorque? Sozinha?! Sabiam que a cidade é enorme?! Pode ser perigoso! — Digo abismada por eles terem concordado tão rápido assim.
— Filha, você ao menos terá a companhia de suas amigas. — Não, pai. Não importa.
— Que mal sabem se virar sozinhas!!!
— Aprendem, Lauren...
— Pai!
— Prefere ficar sozinha em um quarto com alguma outra garota estranha?
— Não. — Murmurei.
— Então, pronto.
Dei de ombros e saí dali indo em direção à sala. Ver que o sonho de Dinah estava realmente se concretizando, me deixava assustada. Eu nunca passei um final de semana sozinha e agora iria morar com quatro adolescentes irresponsáveis?! Era o meu fim!
— Você vai embora? — Chris pergunta sentando ao meu lado no sofá.
— Talvez.
— Mal ganho um irmão e vou perdê-lo? — Retardado. Pare com essa história de irmão.
— Chris, de qualquer forma eu jamais seria seu irmão. — Tentei explicar para ver se ele entendia.
— Eu sentia como se fosse... — Ele pareceu estar chateado e eu revirei os olhos. — Vou poder te visitar?
— Não.
— É verdade? — Taylor apareceu, sentando-se do meu outro lado. — Você vai embora, Laur?
— Aham. — Finalmente vocês dois farão as atividades domésticas sem mim.
— Vou ficar sozinha com o Chris? — Parecia inconformada. — Você é minha única irmã!
Enquanto um me chama de irmão, a outra entende que sou uma irmã...
— Não confunda a garota... — Chris falou rindo.
— Confundir com o quê? — Taylor perguntou.
— Nada. — Respondi antes de Chris falar demais. — E parem de falar como se eu fosse sumir!
— Prometemos manter seu quarto intacto. — Chris diz.
— Isso inclui não arrumá-lo. — Taylor completa.
— Talvez quando você disser que está vindo.
— Aí a gente arruma.
— Ou fingimos pra mamãe e trocamos os lençóis.
— Terminaram com essa despedida muito adiantada? — Não mereço essas pessoas que pensam que vou sumir só por não estar perto.
— Sim. Agora só no aeroporto.
— Obrigada, Taylor. Mas vou ali.
Levanto-me do sofá, sigo pra cozinha, encho um copo com água, bebo, ignoro o que meus pais estão conversando entre si e subo para o meu quarto.
Passo o resto do dia tentando entender o que está acontecendo com a minha vida, que em um dia não tinha nada e agora mudou completamente, virando um tudo incerto. Durante a noite, enquanto estou escutando música, meu celular vibra repetidas vezes. Estranho, pego-o e vejo que tenho 7 mensagens não lidas. Rapidamente abro-as e vejo que todas são do mesmo remetente.
Sei que não tem como me responder. Eu queria te ligar, mas achei meio tarde. Só queria dizer boa noite. - Camila
Boa noite :D
Hum... Eu quero te ver amanhã. :) - Camila
Então vou te ligar amanhã exatamente às 10h. Esteja acordada :p - Camila
Rio sozinha ao ler.
Dorme bem :D - Camila
— Ah, você também...
Eu estou com saudades :x - Camila
— Eu também. Eu acho.
Vou dormir agora. Exatamente depois de te enviar essa mensagem. Até amanhã :* - Camila
— Seria tão mais fácil se você não fizesse isso... — Reclamo, ativo o despertador e deixo o telefone de lado pra tentar dormir também. Eu precisava estar acordada quando ela ligasse!
Sexta-feira.
Sexta-feira. 292 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Na quinta-feira Camila realmente me ligou, ficamos nos falando por algum tempo. Na verdade, ela falava e eu escutava, ria e respondia as idiotices dela. Idiotices boas, boas porque eram dela. No meio da conversa ela me chamou para irmos à praia hoje, tentei negar, mas ela sabe como me convencer a fazer as coisas e conseguiu. Agora estamos aqui sentadas na areia sem dizer nada.
Já passava das 16h:12, mas o sol ainda estava um pouco forte por isso tive que colocar meu chapéu e passar um tanto de protetor. Até trouxe pra Camila, mas ela recusou alegando estar usando roupas e que isso era o bastante.
— Lauren. — Ela chama enquanto eu remexo a areia com um dedo.
— Oi. — Respondo sem muita atenção.
— Lamento informar, mas não foi dessa vez.
— Que o quê? — Continuo mexendo na areia, tentando cavar um buraco.
— Que você conseguiu se livrar de mim.
— Uma pena. Eu queria muito. — Ri enquanto tapava o buraco.
— Lauren! — Falou indignada e me surpreendeu com um tapa no braço, que me fez rir ainda mais.
— Ok. Compartilho do mesmo sentimento que você... — Admito em um quase sussurro.
— Vai ser legal te ver todos os dias... Outra vez. — Digo o mesmo. Talvez eu diga mais, mas você não precisa saber que sou apaixonada, não é? É.
— Vai? — Parei de mexer na areia e direcionei meu olhar para ela.
— Aham. — Passou um braço por meus ombros apoiando a cabeça na minha.
Sorri, fechando os olhos, me deixando imaginar um pouco como seria dormir e acordar sob o mesmo teto que Camila. O teto da casa, claro.
— Lauren. — Chama a minha atenção enquanto observo o mar.
— Hum.
— Eu gostaria, tipo, eu quero muito te beijar.
— Agora? — Pergunto surpresa.
— Eu estou querendo isso desde que você chegou.
— Oh...
Por que eu ainda não consigo lidar com as investidas de Camila?! Tudo bem que ela sempre me surpreende com umas frases um tanto paqueradoras... Mas quando ela exige, tão naturalmente, um beijo meu... Ah... eu fico enlouquecidamente paralisada. Minha vontade é gritar "beije-me quando quiser, quantas vezes quiser, em locais apropriados. Claro.". Mas nunca consigo retribuir o flerte dela.
— Ok. — Respondi sentindo meu coração começar a palpitar forte.
— Ok? É só isso que você me diz? Não quero mais. — Revirou os olhos e voltou-se para o mar.
— Camila... — Chamei-a querendo explicar tudo, mas sabe quando o tudo que tem em sua mente vira um nada quando convertido em palavras orais?
— Será que as baleias estão muito longe daqui? — Mudou o assunto.
— Camila, para. — Pedi.
— Acho que está mais fácil uma baleia tipo a Pérola aparecer aqui do que você mudar. — Quem quer saber da Pérola, garota? Estávamos falando sobre um beijo, lembra???
— Então fique esperando por ela. — Digo irritada.
— Vou mesmo.
— E nem peça pra me beijar mais.
— Não quero te beijar. — Deu de ombros.
— Que bom. Porque eu não quero também. — Bufo inconformada com aquilo.
— Hum. — Ela murmura.
— Você nunca vai encontrar a Pérola. — Provoco.
— Nunca mais vou te beijar também.
— O quê?! — Exclamo sem acreditar.
— Isso mesmo. — Diz convicta e eu nego com a cabeça.
— Camila!
— Nunca mais eu vou... — Ela começou a dizer, mas eu precisava acabar com aquela bobagem.
— Me beije agora!!! — Pedi me sentindo ridícula.
Camila riu, provavelmente do meu desespero, e meneou a cabeça.
— Não.
— Mas eu quero, Camila!
— E...? — Indagou levantando-se e tirando a areia do short.
— E que eu quero agora um beijo seu. — Pus-me de pé também.
— Se vire. — Não posso me beijar sozinha, idiota.
— Você me ouviu? — Perguntei, mas ela começou a andar. — Camila!!!
Ela me ignorou completamente e continuou andando.
Respirei fundo sentindo uma enorme inquietação em minhas pernas que, desobedientes, seguiram Camila.
— Você não pode me ignorar assim! — Gritei não me importando muito, já que a praia não tinha quase ninguém além de umas pessoas fazendo caminhadas.
— Você também não pode ser chata e ainda assim é! — Revidou.
— Chata?! — Exclamei. Aquilo era um absurdo! — Olhe para mim!
Exigi, mas Camila ignorou e continuou andando. Engoli o ar com força, fechei minhas mãos em punhos e pisei forte atrás dela até conseguir alcançá-la por trás. Ergui minha mão e segurei o braço da idiota obrigando-a a parar.
— Larga. — Ela mandou.
Preferi não responder, puxei-a fazendo com que ficasse de frente para mim.
— Eu falei que queria beijar você também. — Disse entredentes, mas ela fez de conta que não escutou.
Irritei-me completamente com a falta de importância dela para com a minha situação. Segurei possessivamente na cintura dela e trouxe-a para mais perto de mim, deixando nossos corpos quase colados. Escutei um suspiro vindo dela, olhei para os dois lados e, sem esperar mais, ataquei os lábios de Camila. A garota suspirou ainda mais alto com o contato, mas logo tratou de anular qualquer espaço que ainda existia entre nós quando passou os braços por meu pescoço, juntando o corpo ao meu. Logo tratei de espalmar minhas mãos na base das costas dela. Minha boca movia-se nervosa, minha língua buscava a dela com uma urgência incomum e a melhor parte é que ela retribuía tudo na mesma intensidade. Naquele momento era como se nada mais estivesse ao meu redor, apenas ela, eu e um grande nada, que bastava para mim. Os suspiros de Camila ficavam cada vez mais fortes e altos, tenho certeza de que os meus também, devido ao ar que estava ficando a cada segundo mais escasso.
Mas eu não queria parar. Eu estava com um pouco de raiva pela provocação dela e beijá-la era o único modo de me acalmar. Sentir os lábios dela sugando os meus fazia meu corpo amolecer e me entregar àquela garota. Ela podia ter o que quisesse de mim com apenas uma frase ou um beijo... Não. Com frases.
Quem Camila pensa que é para negar-me um beijo?! Tudo bem. Eu sei que ela é ela e sei o que ela é para mim. Mas ela não pode me beijar, desbeijar, provocar e negar quando bem entender!
— Humm... La-la. — Escutei-a tentando falar algo, mas eu estava ocupada demais prendendo os lábios dela entre meus dentes e não pude dar atenção. — Ok... — Murmurou segurando meus cabelos entre os dedos e sem que eu esperasse, Camila puxou-os levemente fazendo com que o beijo cessasse.
— Camila... — Reclamei abrindo os olhos.
— Eu... só... preciso respirar um pouco... — Respondeu ofegante.
— Ok... — Bufei revirando os olhos.
— Já entendi que você quer me beijar. — Que bom! Riu. — Mas, calma.
— Aham. — Respondi e apoiei a testa no ombro dela.
— Vem vindo um grupo de garotos. Aja naturalmente. Não sei se eles viram.
Agir naturalmente? Claro.
Entrelacei meus braços na cintura de Camila e grudei-a em mim. Garotos em praia costumam olhar pra qualquer garota que esteja com um short como o de Camila. Pff. Preciso aconselhá-la a usar calça quando resolver olhar o mar.
— São surfistas. — Comentou.
— E daí?
— Nada...
— Diga agora. — Levantei a cabeça para olhá-la e ela ria sozinha.
— É que Cheechee e eu costumávamos dizer que iríamos namorar com surfistas. — Não preciso saber disso, sabia? Surfistas... Até eu viro surfista em um mar com ondas pequenas num fim de tarde!
— Hum. — Respondo sem emoção e observo quatro garotos com pranchas de surf andando enquanto um deles olha rapidamente para nós e cochicha algo com outro.
Fecho o meu semblante para eles verem que não devem brincar comigo!!
— Me ouviu, Lauren? — Camila chama a minha atenção.
— Não.
— Vamos embora. — Ela diz soltando-se de mim.
— Desculpa. Quer repetir? — Peço ainda olhando de soslaio para os quatro surfistas.
— Eu falei que estou com fome. — Ela sorri e segura em meu braço.
— Ah. Vamos. — Começo a andar.
Se morar em Nova Iorque significa ter muitos mais momentos como esse que passei com Camila, eu sinceramente abro mão de minha dúvida e paro de reclamar sobre morar sozinha com elas. Se nessa bifurcação ir pra Nova Iorque significa o caminho que me leva até Camila, então é o caminho certo.
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