1. Spirit Fanfics >
  2. Parece Mais Fácil Nos Filmes >
  3. Wednesday

História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Wednesday


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


OLAR! MUITO OBRIGADA POR AINDA ESTAREM AQUI! ISSO É IMPORTANTE!

Capítulo 61 - Wednesday


Quarta-feira.

   Você certamente já ouviu falar sobre os Moluscos ou já estudou sobre eles. Se você já viu desenhos animados vai lembrar dos moluscos famosos: Lula Molusco ou Gary. Os moluscos são conhecidos por diversas características, mas uma bem marcante de alguns é eles terem a capacidade de carregar a própria casa, literalmente, neles mesmos. Um caracol evidentemente tem a concha e você pensa “ok. É aí que ele mora”. Mas se você observar uma lula vai acabar se perguntando: por que você está falando que esse polvo tem a própria casa? Onde está a concha?!”. Eu sei. A lula se parece com um polvo e este também é um molusco, mas nosso foco não é a lula porque ela realmente não possui uma concha externa, mas você ao menos entendeu que estou falando sobre moluscos. E mesmo sem possuir uma “casa nas costas” a lula possui um mecanismo de camuflagem e defesa: soltar tinta.

   Onde quero chegar com tudo isso? Muito simples. Os animais que carregam suas casas aonde vão, não devem sofrer tanto com a mudança. Os que precisam fugir sempre, também não parecem sofrer com as mudanças. Mas nós, humanos e não sortudos como os moluscos, sofremos porque temos a mania de fixar concreto e madeira no chão e achar que estamos fixados ali também, tampouco sabemos fugir jogando tinta para acobertar um passado.

   São raros os humanos que mantêm a herança histórica dos nômades.

   Quarta-feira. 3.455 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. E definitivamente um dos dias mais estranhos que já tive em minha vida pentagonal, ou seja, em minha vida compartilhada com outras 4 garotas. Já passamos por muita situação estranha, ruim, feliz, ociosa... mas definitivamente essa é muito estranha.

   Tudo começou há 2 meses. Era Outono e meu noivado com Camila ia muito bem. Muito bem eu quero dizer: todos os nossos amigos e familiares comemoraram a atitude de Camila, estavam gostando.

   Então, antes de explicar a situação estranha, preciso falar sobre a reação das pessoas ao descobrirem que eu estava noiva de Camila. No dia seguinte ao que recebi a intimação de casamento, tudo pareceu diferente a partir do momento em que acordei. Acordei de um jeito que não era tão comum nas quartas-feiras.

   “Mas o que é o comum antes que eu saiba o incomum, Lauren?” Então, geralmente é o despertador quem grita e me manda sair de casa.

   “E o incomum?” O incomum é ter minha namorada e noiva me apertando como se eu fosse um travesseiro enquanto beija seguidas vezes o meu rosto.

   — Bom.dia.noiva.

   Sorri antes mesmo de abrir os olhos, apenas me deixei sentir os lábios da minha namorada tocarem minha bochecha esquerda, depois a direita. Então, ainda sem abrir os olhos, livrei meus braços do abraço de Camila e os coloquei em volta do corpo dela. Escutei um pequeno riso.

   — Noiva, eu queria ter algum tempo com você, mas você precisa trabalhar... — Ela avisou. — eu só vou mais tarde.

   — Hummmm... por que você me intimou em casamento no meio da semana?

   Camila riu em meu ouvido, fazendo-me apertá-la ainda mais. Acordar sendo noiva fez-me sentir como um escoteiro recebendo mais uma medalha, era incrível. “Você venceu um urso, Lauren. Ganhe essa medalha” e então “Você conseguiu cuidar do acampamento, Lauren. Ganhe mais uma medalha”. Não sei se escoteiros ganham por ações assim, mas eu prefiro encarar assim. Venci muitas situações para estar com Camila até hoje e consegui manter — quase sem falhas — o meu relacionamento com ela. Sou uma escoteira minimante considerável.  

   — Não sei... eu só senti que precisava ser ontem. — Ela falou em meu ouvido, tão próximo que pude sentir seu hálito quente. — Agora, levanta. Temos alguns minutos antes de eu levar você.

   Camila fez menção de levantar-se ao apoiar as mãos em meus braços e mais uma vez eu impedi.

   — Obrigada por evitar que eu pegue o transporte público. — Agradeci.

   Eu sei que em algum momento passou por sua mente: Quando Camila e Dinah tiveram licença para dirigir? Elas não fizeram o teste com vocês.

   Sim. Elas fizeram anos mais tarde, mas dirigiam sempre que podiam sem a licença. Eu não gosto de assumir, mas preciso: até mesmo sem as licenças e mesmo depois delas, Dinah e Camila dirigiam melhor do que eu. Acho que se colocarem o Sparky em frente a um volante, ele consegue se sair melhor.

   — Tudo por você, noiva.

   Eu não podia e não queria que aquele momento acabasse. Segurei minha namorada e noiva, tomei um impulso e virei com ela na cama, ficando por cima. Finalmente abri os olhos, deparando-me com um sorriso que certamente foi o meu sol da manhã.

   — Ugh! Eu só quero ficar aqui com você. — Avisei, beijando o nariz dela, fazendo-a rir. — Vou faltar hoje.

   — Amor, lembre-se que não vou sustentar você.

   Nenhuma outra frase me motivava mais do que “não vou sustentar você”. Minha namorada sabia como ser carinhosa e romântica, principalmente na primeira manhã em que acordamos noivas. Aposto que você também acordaria de uma vez por todas ao ouvir que não terá apoio caso fique desempregada.

   Levantei-me sem falar mais nada e fui para o banheiro levando minhas roupas e toalha. Tomei o meu banho e arrumei-me de forma lenta, mas ágil o suficiente para não me atrasar. Assim que terminei, fui para a sala.

   — Meninas, por favor, falem oi para a minha noiva. — Camila disse assim que coloquei os pés na sala, olhei para as três garotas com as faces recém acordadas e não pude evitar algumas lembranças.

 

   “Quando chegamos ao apartamento as outras três já estavam lá sentadas no sofá e quando nos viram fizeram caras de surpresas e assustadas.

   — Ally, Cheechee e Mani, — Camila as chamou sorrindo. — vocês conhecem a minha namorada?

   — NÃO ACREDITO! — Allyson foi a primeira a gritar.

   — ZANGADA, VOCÊ PEDIU?!

   — É SÉRIO, AMIGA?!”

 

   Elas ignoraram Camila, então minha namorada levou-me até a mesa e disse que tomaria o café da manhã comigo, mesmo sendo muito cedo.

   — Noiva, você prefere torrada ou cereal? — Perguntou, empurrando-me para sentar.

   — O que você prefere, noiva? — Entrei na tática dela.

   — Os dois, noiva. — Respondeu, passando os dois braços por meu pescoço, sentando-se sobre minhas pernas.

   — Então é o que vou querer, noiva.

   Ela juntou nossos lábios suavemente antes de levantar e ir para a cozinha. Foi então que mais memórias vieram.

   “Como no ano novo, Camila colocou os dois bichinhos aos nossos pés e voltou a se deitar inclinada sobre mim.

     — Agora diz boa noite pra sua namorada. — Sorriu e eu também sorri ao notar que ela fazia questão de dizer a todo instante que agora ela é minha namorada.

     — Boa noite, Camila. — Falei e ela me deu um tapa no braço. — Ok. Boa noite, namorada...

     — Boa noite, namorada. Minha namorada, claro.”

 

   — Você fez exatamente o mesmo quando começamos a namorar, noiva. — Falei, abraçando-a de lado depois que ela voltou com uma vasilha cheia de cereal com leite e algumas torradas. A vasilha foi para suportar a quantidade para nós duas, já que ela teve preguiça de servir duas tigelas. — Digo, você apenas me chamava de namorada...

   Ela sorriu e deu de ombros.

   — Ahh, noiva... — Suspirei por achar lindo ela me chamar de noiva e observei-a falar enquanto mordia uma torrada. — Eu preciso mostrar às pessoas que subimos um nível e que eu recebi um sim!

   — Noiva, você não recebeu um sim. — Rebati.

   Camila sorriu e concordou com a cabeça.

   — Isso é verdade, noiva. Mas isso não importa, noiva. Recebi muitos sinônimos, noiva. — Ela usou propositalmente a anáfora, me fazendo rir e comer o meu cereal. — Aquilo foi quase um sim e melhor do que um sim.

   — É. Não importa. — Falei, tentando engolir rápido e ergui minha mão direita. — Olha só para isso... Nunca imaginei que teria uma algema em meu dedo.

   Camila olhou para minha mão, segurou-a e levou até seus lábios, beijando demoradamente. Senti um arrepio com aquela sensação.

   — Logo vai ter uma no esquerdo.

     “ — ‘Teste se você está pronta para namorar’. — Escutei a morena rir. — Quer fazer esse teste? Acho que seria bem útil no momento. 

   — Camila e eu não vamos namorar, sabia? — Respondi observando um vizinho praticando sua corrida de cada manhã, acompanhado por seu cachorro. Um Bloodhound muito parecido com o Pateta do desenho animado.  

   — Por que não? 

   — Porque não. Somos jovens para isso e nem temos nada decidido. Eu nem sei ao certo o que temos ou o que quero ter. Nem sei se ela mesma sabe. — Dei de ombros, olhando para o céu quando o cachorro saiu do meu campo de visão. Eu gostaria de ter um cachorro parecido com o Pateta. 

   — Mas achei que você sempre quis isso... — Escutei a revista ser fechada com uma força excessiva. — Lauren, você ainda gosta da Camila, não gosta? Eu realmente queria escutar um "não, não gosto mais" há um tempo atrás, talvez no início do ano, mas se você me disser isso agora, depois de tudo, eu vou... Não sei o que vou fazer!  

   Arqueei as sobrancelhas percebendo o engano que Normani tinha cometido, para então virar meu rosto e encará-la. 

   — Oh, não! Você entendeu errado! — Balancei as mãos no ar ratificando minha negação. — É claro que ainda gosto dela, Normani! Camila é o karma da minha vida. Você sabe disso! Mesmo que eu não quisesse estar com ela, ela ainda atormentaria minha mente mesmo sem estar presente... Ela é um karma...” 

 

   Eu estava errada ao falar que não namoraria Camila, mas estava completamente certa ao achar que ela era um karma. Veja só, eu estou noiva da garota que eu dizia que não iria nem namorar. Eu vou casar com ela. Isso é grave. Não tenho um cachorro parecido com o Pateta, mas praticamente tenho um que se parece com algum dos amigos do Hamtaro.

   Então percebi que eu amava aquilo. Eu amava estar noiva de um karma e amava ter um cachorro, com esse karma, que mais parecia um hamster.

   — Camila.

   — Oi. — Ela respondeu, olhando-me com atenção enquanto mastigava.

   — Eu te amo. Amo você como minha paixão platônica, como minha amiga, como minha coisa indefinida, como mãe do Sparky, como minha namorada e como minha noiva.

   Minha namorada ganhou um brilho intenso nos olhos, então largou a colher que segurava e me abraçou da forma que pôde, já que estava sentada ao meu lado.

   — Eu te amo como tudo isso, mas principalmente por você ser a minha pessoa. — Respondeu, tomando meus lábios com os dela. — Hum... — Parou antes de seguir. — Eu ainda não escovei os meus dentes, mas vou te beijar porque você vai me aguentar pelo resto da vida, de qualquer forma.

   Ri com a informação não necessária e tomei a iniciativa do beijo dessa vez. Eu poderia citar alguma informação sobre um beijo sem uma manutenção bucal adequada e quebrar o momento, poderia, não queria.

   — Vocês já podem começar a procurar uma casa. — Dinah disse, interrompendo nosso momento. — Não sou obrigada a voltar para essas palhaçadas. Sabem o quanto tive que aguentar o “namorada”?

   — Dinah, é bonitinho. Deixa elas. A Mila sofreu para conseguir isso. — Escutei Allyson falar em um tom baixo, mas Camila e eu ouvimos e não conseguimos segurar o riso que encerrou o beijo.

   — Quero fazer uma aposta. — Normani disse e sorriu assim que percebeu que todas nós estávamos olhando para ela.

   — Aceitamos. — Allyson respondeu com um tom desafiador e eu me perguntei o porquê de ela ainda não ter desistido.

   — Quanto tempo vai durar até o dia do casamento?

   — Eu posso participar? — Minha namorada perguntou.

   — Camila! — Chamei a atenção dela.

   — Amor, eu sei que vai demorar.

   O pedido foi ontem, por que você já quer criar uma data para a cerimônia?!

   — Vai? — Eu indaguei.

   As quatro ficaram em silêncio e me encararam, de forma que eu entendi o que queriam dizer: LAUREN, VAI DEMORAR E A CULPADA SERÁ VOCÊ.

   A verdade é que eu estava feliz por casar futuramente ou em breve, mesmo que o futuro seja em breve, mas isso somente em teoria. Casamento é algo trabalhoso e complexo e eu não estava pronta para isso na prática.

  Antes que eu decida não relatar, vou deixar aqui como contei isso aos meus pais. Foi na noite desse mesmo dia pós pedido de casamento. Eu havia acabado de tomar banho e estava ocupada lendo um artigo que Veronica escreveu e queria minha opinião antes de enviar para tentar publicar. Então Camila entrou no quarto, entregando-me o meu próprio celular. Eu sequer lembrava que estava sem ele, apenas a encarei e esperei algo ser dito.  

   — Amor, ligue para a sua mãe. Sua sogra quer muito fazer planos com ela, mas eu não deixei porque ela ainda não sabe. Então conte logo! — Falou, sentando-se ao meu lado direito na cama.

   Deixei as folhas de papel que continham o artigo de Veronica impresso de lado e sorri para a minha namorada.

   — Eu iria fazer isso, mas esqueci. — Respondi.

   — Não. Você não iria. — Ela realmente me conhecia.

   — Claro que iria... Eu tinha a intenção de contar ontem mesmo, então adormeci!

   A dos olhos castanhos suspirou e segurou uma de minhas mãos entre as delas. Olhou-me com uma demonstração silenciosa de afeto.

   — Se sente nervosa por ter que contar a sua mãe?

   — Não... — Tentei negar em vão.

   — Amor, sua mãe nos aceita e respeita. Ela já sabe que isso vai acontecer.

   O modo com que Camila simplesmente sabia como eu funcionava e o que eu pensava me assustava às vezes, mas também me fazia perceber que se não fosse por ela, eu estaria sendo obrigada a ter consultas com algum analista na tentativa de ver o mundo como um aliado e não uma ameaça. Minha sorte por ter Camila comigo era astronomicamente considerável.

   — Eu sei que ela sabe... mas é que não quero que ela crie expectativas. — Confessei o que estava sendo sufocado. — Ela certamente vai pensar que eu é quem fiz o pedido, então vai descobrir que eu não sei fazer pedidos de namoro, de noivado e evito pedir comida por telefone porque me sinto nervosa e vou fazer você esperar muito tempo até o casamento acontecer. Não quero que minha mãe confirme que sou um fracasso total com você! Digo, ela deve esperar que, depois de encará-la para estar com você, eu seja capaz de ser uma boa companheira e...

   — Amor. — Ela tentou me parar, mas eu não deixei.

   — Não! Ela vai fazer perguntas e com as perguntas eu terei que ter respostas. Me dê algum tempo até que eu tem-

   — Lauren Jauregui, cale essa boca e me escute! — Camila disse de forma firme.

   — Ok. — Respirei fundo e soltei o ar pesadamente.

   Ela esperou algum tempo, sem soltar a minha mão.

   — Você não é um fracasso. — Começou dizendo. — Não importa quem pediu quem em casamento ou a forma. Também não ligo se casarmos aos quarenta. Sua mãe ama você da forma que você é, assim como eu te amo. Eu não tiraria nem colocaria nada em você, amor... Somente ligue para Clara. Ela vai ficar feliz.

   — Você tem certeza? — Perguntei com minha insegurança pulando em meus ombros.

   — Sim, amor. E mesmo que ela tenha uma reação ruim, vou estar aqui com você e nada mudará. Mas ela ficará feliz.

   Suspirei e encarei bem fundo nos olhos delas, tentei encontrar algo que me fizesse vacilar, mas não encontrei. Pelo contrário.

   — Tudo bem. — Cedi, soltando a mão dela e agradecendo, para em seguida pegar o meu celular.

   — E se ela citar algo sobre data ou futuro, diga que vai ser em breve.

   — Mas você mesma disse que não seria. — Respondi confusa, já buscando o número da minha mãe nos contatos.

   — Ninguém precisa saber que nosso breve demorará. Não precisa ser exatamente aos quarenta... — Ela disse e eu sorri.

   A verdade é que eu nunca superei a época em que a minha mãe era contra eu estar com Camila ou contra o fato de eu namorar uma garota. Quando ela resolveu tentar entender e abraçar a situação, eu comecei a ter, em silêncio, medo de como ela me enxergaria em uma relação com Camila. Ela colocaria muita expectativa? Esperaria que aquilo fosse algo que me faria mudar e ser, por fim, a filha que ela sempre quis?

   Todas essas dúvidas me faziam medir cada passo meu que chegaria até ela e até mesmo deixar Camila tomar a frente em muitas vezes, já que Camila é o tipo que minha mãe, certamente, queria ter como filha. E era notável o quanto ela gostava da sua, até então, única nora.

   Minhas inseguranças não poderiam sumir do dia para a noite, mas eu poderia vencer uma por vez.

   Sorri rapidamente para Camila antes de colocar o telefone sobre meu ouvido. Esperei chamar e logo minha namorada encostou em mim, para ouvir.

   — Querida! Que bom que ligou!

   — Mãe, tem uma coisa que preciso contar.

   — O que foi? Você está bem?

   — Hum...  Aconteceu algo ontem.

   — Lauren... O que aconteceu?

   — É estranho... Eu nunca pensei que viveria algo assim...

   — Você terminou com a Camila? Lauren!!  

   Camila sussurrou “sua mãe me ama”, me fazendo rir e sentir-me um pouco menos tensa.

   — Não! Fui pedida em casamento e agora tenho uma aliança em minha mão direita.

   Então a minha mãe pareceu se empolgar. Sua reação foi como Camila sabia que seria e como eu não esperava.

   — Quando? Como?!

   Fiquei algum tempo contando como tudo tinha sido, mas minha mãe, assim como qualquer outra pessoa, preferia ouvir a versão de Camila sobre os acontecimentos. Então a minha namorada a e noiva foi convocada para uma ligação no viva-voz.  Clara pareceu estar genuinamente feliz com a notícia, o que me surpreendeu um pouco.

   — Camila, acho que você já pode começar a pensar em bebês que se pareçam com a Lauren.

   — Mãe, nós não vamos ter fil- — Tentei explicar.

   — Clara, vou pensar sim. Prometo que você terá ótimos netos.

   — Eu não vou fazer parte disso!

   Meus irmãos não estavam em casa e meu pai não pareceu animado. Só falou:

   — Parabéns, garotas. Fico feliz pela decisão.

   E lá estava mais um dos momentos em que eu queria perguntar ao meu pai o que ele realmente pensava sobre o meu relacionamento com Camila, mas como em todas as outras vezes, eu não consegui e fingi que estava tudo bem.

   Logo depois disse que iria dormir. Camila continuou conversando com minha mãe e eu falava quando necessário.

   E foi isso.

   Após tudo isso, você guardou minha explicação sobre moluscos? Sim? Não? Era para ter guardado porque agora posso contar sobre a situação estranha, a situação molusco. Já havia passado 1 mês desde o pedido de noivado. Eu continuava trabalhando com adolescentes e Camila continuava na clínica, com a adição do projeto em que ela foi aceita. Ela precisou organizar o horário de trabalho para que tivesse tempo para o projeto, que ainda não havia começado a pesquisar em campo.

   Normani continuava no estúdio de dança, Allyson na clínica de aparelhos ortodônticos e Dinah havia desistido de tentar um emprego.

   Não.

   Dinah não pretendia ser uma eterna desempregada, ela tinha o objetivo de atuar como dançarina e enquanto fazia testes e mais teste com Normani, usou o dinheiro que conseguiu guardar, que foi pouco, e recebeu ajuda da família, claro.

   Então, em uma noite, Camila, Allyson e eu estávamos esperando as outras duas chegarem para enfim jantarmos, já que nossos momentos juntas estavam escassos. Camila estava quase ligando para Dinah quando a porta foi aberta.

   — Podem colocar a melhor roupa de vocês! — Dinah disse animada demais, entrou no apartamento e jogou a bolsa no chão.

   Normani veio logo atrás e fechou a porta, virando-se logo em seguida.

   — Amigas, vamos jantar fora!

   Eu não soube identificar o motivo e pelo visto ninguém além delas duas sabia.

   — Estamos comemorando algo? — Allyson perguntou.

   — Sim! Conta a elas, Mani. — Dinah acotovelou Normani, que por sua vez sorriu largo, juntou as mãos e suspirou.

   — Ok. Adivinhem quem conseguiu papel para um pequeno musical que vai entrar em cartaz em dois meses?  

   — Quem?! — Perguntamos, as três, juntas.

   — NÓS DUAS! — Normani respondeu, empolgada.

    Camila e Allyson foram as primeiras a correr para abraçar as dançarinas e gritar com elas, eu demorei um pouco, mas acabei participando do abraço. Era bom que as duas tivessem conseguido aquilo juntas, esperaram tanto por algo assim e certamente a conquista dupla merecia uma comemoração.

   Então decidimos jantar em grande estilo. De fato, colocamos nossas melhores roupas e decidimos jantar a forma que quase todo adulto já jantou e falando assim eu quero dizer: fomos a um restaurante no SoHo, que não era muito longe de onde morávamos, porém não tínhamos o hábito de comer fora. Sempre que pensávamos “vamos jantar fora?”, encontrávamos o número da entrega em domicilio e optávamos por ela.

   O SoHo é um bairro um tanto quanto descolado e famoso por ter sido “criado” por artistas que no passado buscaram os galpões vazios para transformar em lofts e assim pagar aluguéis baratos. Era um lugar condizente com a situação, por isso o escolhemos naquela noite.

   — Cheechee, você é a minha estrela favorita. — Camila disse assim que recebemos nossos pratos.

   — Acho bom vocês duas falarem que sou a de vocês. — Normani disse, de forma ameaçadoramente brincalhona, para Allyson e eu.

   — Manibear, certamente você é a única estrela. — Falei, usando o apelido que raramente eu usava. Normani, certamente, leu as entrelinhas e entendeu que eu quis dizer “estou muito feliz por você!”, ao sorrir em resposta.

   — Zangada, você deveria saber usar suas palavras. Você brinca com o perigo. — Dinah apontou um garfo para mim.

   Eu apenas ri e tomei um gole da minha água.

   — Garotas, entre nós cinco há duas estrelas. — Allyson disse. — É tudo o que temos. Nem mais, nem menos.

   — Tudo bem. Eu gostei dessa ideia. — Normani disse, dando de ombros e provando o macarrão com frutos do mar.

   — Bem justo. Assim fica claro que a Zangada não brilha. — Dinah disse, sem perder o costume de querer me provocar.

   — Essa comparação com estrelas é um pouco... — Pensei em alguma palavra eufemista. — equivocada. As estrelas só brilham depois de mortas... — Avisei.

   — Claro que não. — Ela respondeu. — Estrelas não morrem, Zangada.  

   — Cheechee, não é isso. A Lauren quis dizer qu- — Camila falou, mas não terminou.

   Dinah revirou os olhos.

   — Chancho, eu aprendi algo em todos esses anos de estudos. Não me subestime.

   Camila deu de ombros e deixou Dinah com seus próprios conhecimentos.

   Então o jantar demorou muito mais do que o normal. Com nosso tempo reduzido por causa das rotinas diferentes, os momentos em que podíamos parar e falar sobre qualquer coisa que quiséssemos foram reduzidos. Por isso, sem percebermos, fizemos daquela noite no SoHo um desses momentos. É claro que alguns risos nossos foram mal vistos por pessoas nas mesas vizinhas, mas não nos importávamos.

   Estávamos comendo nossas sobremesas quando Normani decidiu falar algo. E é esse algo que vai precisar da sua aplicação da informação sobre moluscos.

   — E o jantar é para anunciarmos uma coisa: precisamos procurar um imóvel perto de onde os ensaios e apresentações irão acontecer. — A morena disse sem rodeios.

   Ficamos em silêncio e pude ouvir Camila pigarrear.

   — Uma mudança temporária? — A de olhos castanhos ao meu lado perguntou.

   Dinah olhou para Normani e pediu para que ela falasse.

   — Mila, é meio que uma mudança permanente.

   Camila deixou o garfo cair e encarou as duas garotas, parando de comer seu pedaço de torta.

   — Vocês vão embora?

   — Chancho, nós conversamos e pensamos que já está na hora. — Dinah disse. — Bem, nós três conversamos bem antes de Normani e eu conseguirmos isso.

   — Três? — Camila perguntou e então todas nós nos viramos para Allyson.

   A dentista demorou a perceber que precisava explicar, então sorriu sem graça antes de dizer algo.

   — Lauren e Mila, preciso falar que como as garotas irão sair em algum momento, vou apenas esperar isso acontecer para ir morar com o Caleb. Digo, eu não sabia que seria anunciado hoje, mas Dinah e Normani já haviam comentado comigo sobre isso, então eu apenas pensei que quando o momento delas chegasse, eu deveria seguir o meu caminho, também. — Allyson disse.

   Agora foi a faca que caiu da mão de Camila e eu entrei em estado de alerta.

   — Ally, você vai embora também?

   Meu pudim estava tão bom que eu comia ele bem devagar para aproveitar mais, por isso quando percebi que Camila não estava reagindo bem, comi um pouco mais rápido, preparando-me para agir, se necessário.

   — Mila, nós três conversamos e percebemos que já está na hora de seguirmos nossos caminhos. Eu já estou quase noiva do Caleb e ele já me convidou diversas vezes para morar com ele. Dinah e Normani terão dias árduos com esse musical. E, bem, você e Lauren estão caminhando para um casamento, seria bom as duas aprenderem como será a vida de casadas. Mas, é sério, eu não sabia que elas iriam falar sobre isso hoje e não sabia, também, que tinham conseguido os papéis. Só tivemos a conversa um tempo atrás.

   Allyson estava, realmente, quase noiva. Caleb chegou a pensar sobre o caso depois de uma conversa com Veronica, em uma noite que saímos apenas os 3. Ele confessou que queria fazer aquilo, mas não se sentia preparado. Veronica, delicada que é, perguntou se ele queria ser igual a mim. Então Caleb riu e decidiu pedir Allyson em casamento, mas no dia em que iria fazer isso, ele apenas anunciou para a dentista que iria pedi-la em casamento algum dia, mas não naquele dia.

   — Vocês não podem casar e levar nós três com vocês. — Dinah disse para a amiga de infância.

   Camila olhou atônita para elas e então buscou minha mão por cima da mesa.

   — Amor, você concorda com elas?

   — Camz, eu concordo com o que for melhor para cada uma. — Respondi, acariciando sua mão com meu polegar, mas minha outra mão ainda me servia pudim.

   Ela ficou em silêncio olhando para cada uma de nossas amigas, então olhou para mim por um tempo demorado. Apertei sua mão em apoio e assenti.

   — Ok...Eu só estou surpresa. Não é ruim.

   Depois desse momento, Dinah mudou o assunto e nos contou sobre a peça. Antes de tudo, não era nenhuma produção que seria apresentada na Broadway, mas era um começo. Um rapaz recém formado em Artes Cênicas tinha um roteiro e, o mais relevante na situação dele, dinheiro para investir em uma peça independente. Ele seria o diretor, então abriu inscrições para os atores. Normani e Dinah, sem muitas opções, decidiram fazer o teste e como não tinham muita concorrência, passaram. É claro que elas possuíam talento, também.

   O jantar terminou depois de algum tempo, mas Camila quase não falou nada. Eu sabia que ela estava minimamente afetada pela notícia, por isso fiz questão de redobrar minha atenção para ela.

   Não voltamos a falar sobre o assunto da mudança nem mesmo quando chegamos ao apartamento, mas minha namorada estava quieta demais e cabisbaixa também. Constatei que algo estava errado quando ela deixou que eu dirigisse o carro na volta, sendo que ela detestava a forma que eu dirigia. Ela e todas outras garotas. O único que não reclamava era o Sparky.

   Já no apartamento, cada uma seguiu para seu quarto. Procurei pelo cãozinho, encontrando-o dormindo no quarto da Allyson, a mesma disse que não havia problema e que eu poderia deixa-lo lá, assim eu fiz. Então corri para ser a primeira a tomar banho, depois voltei para o quarto e levei algum tempo pensando: mudanças... animais... humanos... mudanças... casas... moluscos... Mas isso foi até a porta ser aberta por minha namorada.

   — Camzor? — Chamei-a.

   — Oi, amor... — Respondeu, fechando a porta e indo até o guarda-roupa escolher alguma roupa.

   Eu me encontrava sob o edredom, pronta para dormir, mas estava esperando minha namorada.

   — O que você está sentindo?

   Ela tirou a toalha que a cobria e eu precisei fechar meus olhos com a bainha do edredom. É claro que em anos de namoro eu já havia visto minha namorada desnuda diversas vezes, mas algo em mim gritava FECHA OS OLHOS quando ela se trocava em minha frente, então eu fazia o que esse algo gritava.

   — Já estou vestida. ­— Ela disse, já sabendo dessa minha mania. Então eu apenas descobri meus olhos. — Eu não sei. Mudanças... Só não sei lidar com elas. Sabe... Sair da casa dos meus pais cedo foi difícil, eu apenas me acostumei com essa nossa família nova aqui... — Suspirou, acendeu a luz do celular e apagou a do quarto. — E agora temos que seguir.

   Abri meus braços e ergui o edredom para que ela logo deitasse ao meu lado. E ela fez o que eu esperava, abraçou-me de lado e apoiou a cabeça em meu ombro.

   — Eu vou cuidar de você. Não se preocupe. Vou lidar com essas mudanças e ajudar você a lidar com elas, também. — Falei, tentando levar algum conforto para ela.

   — Obrigada. — Respondeu, entrelaçando nossas mãos.

   Beijei o torso de sua mão e esperei até que ela adormecesse.

   Não consegui dormir tão rápido naquela noite, minha mente só conseguia pensar e pensar e ao fim, antes que eu fechasse os olhos, concluí: malditos moluscos! Encontraram primeiro uma capacidade incrível!

 

Quarta-feira.

   Após aquele jantar, passaram-se 2 meses. Normani e Dinah decidiram que morar em um local próximo ao que fariam os ensaios seria a melhor opção. Elas comunicaram que encontraram uma casa de 3 quartos, também, uma rua antes do teatro e estúdio. Elas iriam se mudar em uma semana, então o drama começou porque Allyson disse que via aquilo como a hora dela, finalmente, ir morar com o namorado.

   Recebemos a notícia uma semana depois do jantar, não demos muita atenção, mas quando as duas aspirantes a estrelas nos levaram até a casa, descobri que ficava a apenas 30 minutos de onde morávamos.

   — Por que vocês estão mudando-se para trinta minutos de onde moram? — Perguntei a Normani enquanto a ajudava a empacotar coisas de seu quarto.

   — Amiga, não se sinta ofendida. As garotas e eu pensamos que você e Camila sempre precisaram da nossa ajuda em alguns pontos do relacionamento. Somos felizes por podermos ajudar, já que vocês se amam, mas se acomodam muito facilmente. Até mesmo a Mila. Então decidimos que vamos dar esse empurrãozinho para que vocês não demorem a oficializar o casamento e seguir a vida de casadas.

   A enxurrada de informações sinceras não era esperada por mim.

   — Normani, admiro sua sinceridade, mas acho que agora ela foi enorme!

   — Sou sua amiga, preciso ser sincera.

   Ela disse de forma tão tranquila quanto a que arremessava suas roupas em uma mala.

   — Tudo bem. Obrigada.

   Ela ficou mais algum tempo arremessando roupas sem dobrar enquanto eu pegava todas elas e dobrava para caber. Então ela desistiu de me fazer desistir, sentando-se ao meu lado.

   — Vou sentir sua falta. — Falou.

   Parei de dobrar e olhei para ela. Vi aquele sorriso que sempre esteve ali para mim desde o dia em que conheci a minha primeira amiga, que no caso era ela mesma. Eu sentiria uma maldita falta dela, sentiria de Dinah e Allyson também.

   — Sentirei a sua, também. Nos conhecemos desde que podemos lembrar e eu às vezes esqueço que você é minha amiga, já que você está comigo como se fosse da minha família.

   Normani murmurou um “awn” e me abraçou forte.

   — Realmente me habituei a estar com vocês quatro sem precisar marcar encontros. Creio que é o que vai começar a acontecer. — Ela disse, sem me soltar.

   Minha reação foi abraça-la de volta, dando alguns tapinhas em suas costas.

   — Você quer que eu diga uma das frases otimistas que aprendi com Camila ou quer a verdade? — Perguntei.

   — A verdade.

   —Sim. Vamos começar a ter esses empecilhos de adultos, mesmo que não queiramos isso as vidas próprias vão nos empurrar, então vamos começar a ter ligações para encontros nos fins de semana, mas não se surpreenda se alguma de nós falar que não pode ir. E quando algum filho aparecer, isso vai mudar tudo. Um dia você pode casar e Dinah também. Vai ser difícil, mas necessário e bom.

   — Esse é seu modo de dizer que vai sentir saudades da nossa família aqui?

   — Sim. Eu vou sentir um vazio onde vocês três estiveram. — Confessei.

 

 “Terminamos de varrer, passar pano, tirar a poeira e desinfetar tudo quando já estava anoitecendo e ficando mais frio. Preciso comentar que aqui faz mais frio do que em Miami, não notamos tanto a mudança durante a correria do dia, mas agora era impossível não sentir. Assim que cada uma terminou de tomar banho e se vestir, fomos até a cozinha e tivemos que comer uns pães, que compramos mais cedo, com suco. Não sabíamos cozinhar... ainda. Quando deu 23h:25 já estávamos cansadas demais e resolvemos ir dormir. Fomos para nossos quartos e quando eu estava quase pegando no sono, escuto a porta ser aberta e alguém entrar devagar.

   — Mani? — Era a voz de Brooke.

   — Hum? — Normani respondeu sem vontade.

   — Posso dormir aqui? Estou com medo de ficar sozinha essa noite. — Allyson pediu em um cochicho.

   — Pode.  

   — Ok. Vou pegar meu colchão. — Observei a sombra dela sair.

   Em poucos minutos Brooke voltou, mas não estava sozinha. Dinah e Camila também estavam ali dizendo que não conseguiriam dormir sozinhas em uma nova casa. Resultado disso tudo: tivemos que levar os colchões para o quarto da Allyson que tinha mais espaço e dormimos assim, todas nos colchões espalhados no chão, como sempre fazíamos. Obviamente Jane fez questão de ficar entre Camila e eu.”

 

   Camila era quem estava expondo o susto da separação, mas os semblantes e o humor moderado das 5 denunciavam que não estava sendo fácil para ninguém. Allyson já havia levado suas coisas um dia antes, mas passou a noite com todas nós, mas ninguém conseguiu dormir. Então apenas juntamos colchões na sala e nos deitamos para ficarmos em silêncio vendo o seriado que costumávamos ver. No meio da noite, Veronica apareceu e juntou-se a nós, já que queria ver o drama de perto segundo ela.

   — Eu amo vocês, todas vocês. Só que chega a hora de seguirmos. — Allyson falou pela milésima vez na noite em que era nossa última noite como moradoras oficiais do 1432.

   — Não. Ainda não está na hora! Cheechee... — Camila, também pela milésima vez, rebateu.

   — Chancho, a casa  á vai ser melhor para nós. Você e a Lauren já vão treinar uma vida de casadas!

   — Eu posso morar lá também? Claro que o “eu” inclui a Lauren, nem precisava explicar. Se você fala Camila, você está falando Camilauren.

   A psicóloga fez uma piada que somente eu achei engraçada, então ri acompanhada por minha namorada.

   — Amiga, o terceiro quarto ficou com a Vero... — Normani falou, ignorado a brilhante piada e fazendo nosso riso cessar.

   Até eu parei de comer a pipoca para ouvir aquilo.

   — Vero? — Camila chamou a minha antiga colega de classe, que apenas sorriu sem graça.

   Veronica olhou para toda a sala antes de conseguir falar algo.

   — Isso foi decidido semana passada. Não tem dado certo morar com a Alexa. Resolvemos que seria bom a gente ficar um tempo morando longe uma da outra, mas o namoro continua. Claro.

   — Vero, você pode morar com a gente! — Camila sugeriu.

   — Nada contra, mas vocês são um casal. Eu vou ter muito mais o que fazer com pessoas solteiras.

   — Você não é solteira, Veronica. — Lembrei-a.

   — Eu sei. Mas seria um tédio só ver casal... Sem contar que lá é mais perto da casa da Alexa.

   — Amor, fala alguma coisa. — Camila pediu a mim.

   — Camzor, eu não posso falar nada...

   Naquela situação eu, realmente, não tinha o que falar  ou tentar.

   — Cheechee, vem aqui. — Dinah disse, puxando a garota para um abraço. — Você e a Zangada estão praticamente casadas, vocês precisam viver assim. Nós cinco não iriamos morar juntas para sempre. A Ally também vai casar em breve com o Caleb. Mani e eu estamos em uma ótima chance em nossa carreira, precisamos nos dedicar. Minhas portas estarão abertas para vocês, sempre. Isso não significa que vocês precisam interromper o meu sono por qualquer coisa.

   — Eu só queria todo mundo aqui... Eu te vejo todos os dias da minha vida desde que... eu não lembro desde quando! Está me entendendo?! — Camila disse, agarrada a Dinah.

   — É porque nós não nos desgrudamos desde que nos conhecemos. — Dinah disse, mas não tinha humor em sua frase.

   — Então, Dinah... A gente tinha um plano...

   Dinah assentiu e olhou para cada uma de nós, ao parar seu olhar em mim, sorriu.

   — Cumprimos o plano, agora faremos outros.

 

   Durante a manhã, Caleb chegou cedo para ajudar na mudança, assim como Alexa, que buscou Veronica para que ela pudesse pegar suas coisas. O apartamento agora só tinha o quarto que Camila e eu dormíamos, os outros dois eram apenas vazios ocupando o lugar. O Sparky até conseguia fazer eco ao latir neles.

 

    “— Calma! Ninguém abre a porta ainda! — Dinah levantou o braço e tirou mais uma foto de todas nós em frente a porta. — Agora quero que todas nós coloquemos nossas mãos na chave porque temos que abrir juntas. — Respirei fundo e fizemos o que ela disse. — Não girem! — Tirou mais uma foto e só depois nos deixou entrar.

   Empurramos a porta e hesitamos um pouco até adentrar de vez no nosso novo lar...”

 

    Dinah pediu que tirássemos uma foto antes que elas deixassem o local. E ali, na porta do 1432, nós tiramos nossa última foto no apartamento. Tentamos sorrir, mas foram os sorrisos mais bizarros que já vi em nós 5.

   A fanática por fotos olhou uma última vez para o apartamento, então para todas nós e grunhiu puxando Camila para si, abraçando-a forte.

   — Chancho, vai ficar tudo bem. — Ela disse para minha namorada.

   — Você é quem está sentindo agora. Pode desabafar. — Camila sabia reconhecer os sentimentos da amiga.

   Elas duas estavam tendo o próprio momento, então apenas cruzei os braços e esperei. Olhei para o elevador e encontrei Allyson em minha frente, com os braços abertos e um sorriso maligno.

   — Não vamos ser sentimentais. De forma alguma. — Avisei.

   — Laur... só um abraço...

   — Allyson, vamos apenas apertar nossas mãos.

   — Amiga, cala essa boca.  — Normani disse, puxando-me para abraçar as duas.

   Eu revirei os olhos e aceitei aquilo, mas não queria. Não estava sendo uma separação feliz e ter momentos nostálgicos não ajudava, não a mim.

   Fomos interrompidas por latidos e alguns puxões em nossas pernas.

   — Vem com sua tia preferida. — Normani disse, soltando-se de nós e pegando o Sparky. — Mila, ele vai comigo no caminho.

   — Cuide bem dele. — Minha namorada avisou.

   Descemos e nos acomodamos da forma que pudemos. O carro de Caleb era o único que iria caber todas elas, já que Normani colocou uma TV no banco de trás do meu carro e de Camila.  Elas alugaram um caminhão de mudanças, que estava apenas nos esperando para seguir.

   Foi rápido o percurso e tão logo que descemos, tivemos que retirar as coisas do caminhão. Passamos algum tempo fazendo isso.

   — Amiga, você precisa trazer logo a minha TV! — Normani gritou para mim.

   Ela, Dinah, Allyson, Caleb, Veronica e Alexa estavam indo e vindo com os objetos, não sei o motivo, mas designaram a mim levar a TV para dentro da casa.

   — Camila, me ajuda! — Pedi sentindo que a TV era muito pesada para que eu conseguisse carregar sozinha, mas algo na cabeça de Normani dizia que eu era capaz.

   — Eu não acredito que a Dinah está indo morar com a Normani e Veronica, nos deixando de fora. Até a Ally... — Camila falou, com os braços cruzados enquanto eu morria ao tentar equilibrar a TV.

   — Elas só não querem... sei lá. Não sei o que falar. Você não entende. — Falei, tentando fazer minha noiva notar meu pedido de ajuda.

   — Entendo sim. — Rebateu, apoiando-se no carro e me ignorando. — Dinah e eu planejávamos morar juntas no futuro! Ela está me traindo e não consegue enxergar isso!

   Respirei fundo e deixei a TV onde estava, antes de tocar no ombro da garota escorada no carro.

   — Camz, vocês moraram juntas e dividiram um quarto por dez anos! Isso é muito mais do que amigas conseguem, sabia? Vocês tiveram sorte, assim como Normani e eu e assim como nós cinco, ao longo do processo. Agora, me ajuda.

   Ela olhou para mim e revirou os olhos.

   — Eu sei... eu só vou ter que me acostumar a acordar e não ter mais elas três ou quatro no mesmo lugar. Você não vai sentir falta? A Ally sempre fazia meu café da manhã quando eu estava sem vontade e a Normani sempre cuidou mais do Sparky do que eu e a Dinah sempre me lembrou do que eu esquecia...

   Desisti de levar a TV e deixei-a dentro do carro pela segunda vez. Ao voltar a observar minha namorada, enxuguei a testa.

   — Camzor, você quer empregados ou amigas?

   — Não pense que estou sendo infantil. Eu sou madura o suficiente para entender e saber que a vida tem momentos assim e que é normal, mas se eu não desabafar para vocês o fato de eu estar sentindo o impacto emocional, vou falar pra quem?

   Ela estava sendo a única que demonstrava o sentimento que nós 5 estávamos tendo. É claro que estamos contagiadas com o que o futuro reserva para cada uma de nós, mas a sensação de “isso passou tão rápido” não seria anulada facilmente e minha namorada estava certa ao desabafar.

   — Você tem um plano, lembra? — Tentei fazê-la lembrar.

   — ZANGADA, TRAZ A TV AQUI AGORA MESMO. CHANCHO, TRATE DE AJUDÁ-LA!

   Ouvimos, mas ignoramos.

   — Você tem razão, amor. — Ela sorriu. — Meu plano.

   — A TV! EU QUERO ELA AQUI! VOCÊS VÃO TER MUITO TEMPO PARA CONVERSAS BOBAS!

   Camila gritou qualquer resmungo para Dinah e finalmente decidiu me ajudar com a TV.

   Colocamos tudo dentro da casa e ainda servimos de decoradoras, já que Dinah, Normani e Veronica nos faziam mudar os móveis de lugar sempre que achavam ruim. Alexa foi a primeira a gritar que não aguentava mais, então decidimos parar com aquilo.

   Estava um pouco de calor por causa dos movimentos que fizemos e eu já havia bebido muita água, consequentemente ido muito ao banheiro também. E quando finalmente terminamos tudo, almoçamos sanduíches que eu mesma preparei como almoço de todos.

   — Meninas, Lauren e eu temos algumas recomendações para as quatro. — Camila disse, retirando um pedaço de papel do bolso.

   — São importantes. E, Iglesias, sabemos que você sabe se virar, mas escute também. — Completei.

   Nós duas havíamos anotado coisas que precisavam serem repassadas, já que nos julgamos as mais cuidadosas de todas.

   — Nunca abram a porta para um desconhecido, confiram cada eletrodoméstico antes de dormir ou sair de casa. — Minha namorada começou a ler.

   — Tenham cuidado com fogão, ferro de passar... tomadas, fios... — Continuei lendo.

   — Olhem sempre a geladeira e confiram se têm o que comer.

   — Nada de festas por aqui. Sempre tranquem tudo.

   — Acabamos? — Ela perguntou e eu assenti. — É isso. Nós fizemos essa listagem para vocês.

   Todo mundo ficou em silêncio. Camila e eu nos entreolhamos e sorrimos, esperando algum agradecimento, afinal, ninguém iria pensar naquilo.

  — Por que estão agindo como nossas mães e pais? — Normani finalmente disse. — Só mudamos de casa.

   — Vocês estão bem ou o noivado tem feito isso com vocês? — Alexa perguntou.

   Camila franziu o cenho e virou-se para mim.

   — Amor, por que estamos agindo assim? — Perguntou em um tom mais baixo.

   Cocei minha nuca e tentei achar um motivo.

   — Não sei. Mas o porquê não importa também. — Falei. — Vocês precisam se cuidar. Caleb, quero falar com você antes de ir. Por favor.

   — Lauren, você já teve diversas conversas com ele. — Allyson lembrou, mas aquilo não significava nada. Agora eles morariam sozinhos. Os pais dela não estavam ali e cabia a alguém.

   — Eu vou resolver isso aqui. Fique calma. — Falei, levantando-me e esperando Caleb me seguir para o quintal.

   — Deixa, Ally. Ela gosta de pensar que é ameaçadora. — O único rapaz do grupo disse.

   Chegamos ao lado de fora e então eu tentei parecer séria e madura o suficiente para aquela conversa. Cruzei meus braços e pigarreei.

   — Você vai cuidar muito bem da Allyson. — Avisei.

   — Claro. — Ele assentiu.

   — Se você falhar, teremos outra conversa. E compartilhe os trabalhos domésticos com ela. Ela pode ter surtos se fizer tudo sozinha. Também não é legal ela fazer tudo sozinha. Entendeu?

   — Lauren... eu sei. — Ele disse com cautela.

   Eu sabia que Caleb jamais faria mal algum para a minha amiga, mas eu precisava fazer aquilo. Era certo fazer aquilo.

   — Elas todas são jovens. Acham que sabe algo sobre a vida adulta, mas não sabem muito.

   — Você sabe que Camila e você morando juntas é pior, não sabe? Vocês quase causaram um incêndio! — Ele deu dois tapinhas em meu braço, rindo.

   Fingi que aquilo não era um bom argumento.

   — Sim. Tem isso. Bem lembrado. Jamais queime as bandejas da Allyson. Ela vai lembrar disso por dias e dias seguidos. — Converti em algo que ainda me fizesse ter razão naquela conversa.

   — Não faça isso. Eu certamente vou dormir com meu celular sobre o criado-mudo todos os dias. Se seu nome ou o da Camila aparecer, vou pedir para a Ally discar os bombeiros.

   — Muito engraçado, Shomo. Muito engraçado.

   Ele riu e me abraçou de forma rápida.

   — Eu vou cuidar da sua amiga, não se preocupe. E, se for necessário, cuidarei de vocês também.

   — Obrigada.

   — Estamos conversados? Ou ainda tenho algo para saber? — Ele quis saber.

   — Você já sabe de tudo.

   Caleb esteve conosco durante todos esses anos, é claro que ele sabia sobre tudo e como todas as cosias funcionavam. Às vezes eu me perguntava como ele não se sentia sufocado em um grupo que tinha apenas mulheres, mas ele parecia não se importar. Estava em toda reunião ou encontro que fazíamos.

   Algum tempo depois e Caleb anunciou que iria embora com Allyson, então Camila e eu aproveitamos a situação para irmos também. Nos despedimos das garotas e Caleb, e seguimos para o carro.

   — Vamos lá, companheira de apartamento. Seremos só nós duas. — Minha namorada brincou, dando uma leve cotovelada em meu braço direito.

   Ri e logo percebi que ela estava esquecendo alguém.

   — Está esquecendo o seu filho. Somos três. — Minha frase teve um duplo sentido.

   Então Camila parou de andar, olhou para trás e correu de volta para a casa.

   — NORMANI, ME DEVOLVE O SPARKY!

   Elas travaram alguns minutos de discussão. Normani argumentava “amiga, apenas essa noite, por favor!” e “mas eu me acostumei com ele, amiga. Ele gostava de ver TV comigo... A gente escutava música.”, mas Camila não cedeu e levou o Sparky. Enquanto isso eu já a esperava no carro.

   — Amor, pise fundo no acelerador antes que a Normani roube o nosso filho.

   Gargalhei e fiz o que ela mandou.

 

PRIMEIRA NOITE.

   No fim do dia da mudança, Camila e eu estávamos exaustas. Comemos qualquer coisa que encontramos na geladeira, alimentamos o Sparky e tivemos que ficar algum tempo chamando o cãozinho, que farejava todo o apartamento, principalmente os quartos que agora estavam vazios. Tentamos entreter ele com um osso de brinquedo, com bolinha, levamos ele para passear na rua, mas nada adiantou. A única saída foi colocar ele para dormir entre nós duas, eu teria uma péssima noite, mas seria pior se ele começasse a latir e uma multa parasse debaixo de nossa porta.

   — O que você falou para o Caleb? — Camila perguntou quando tentamos dormir, mas o soo não chegava.

   — Nada... coisas importantes. Mas ele veio lembrar que nós duas quase causamos um incêndio no apartamento. Então o perigo está em nós duas. — Avisei, sentindo-me deslocada no canto da cama sem poder abraçar minha namorada porque o Sparky gostava de deitar entre nós duas e ter um bom espaço somente para ele.

   — Mal sabe ele que estávamos incendiando outro lugar e não vamos precisar de bombeiros... nós mesmas nos apagaremos. — Ela provocou. — Quer colocar um pouco de fogo agora?

   Gargalhei, mas escutei um “grrrr” vindo do cãozinho que estava em um dia de cão, então parei.

   — Não comece! — Pedi.

   — As garotas falaram que precisamos iniciar o teste para nossa vida de casadas. E...bem... nos filmes os casais aproveitam os momentos a sós na cama... — Camila continuou.

   — Se eu levantar um dedo para perto de você, o Sparky faz de mim apenas a mão da Família Adams, mas sem um dedo. — Avisei, mesmo sabendo que não doeria se o cãozinho me mordesse, mas eu sentiria aqueles dentinhos, com certeza.

   — Vou colocar ele lá na sala e você toca vários dedos em mim. Que tal? — O flerte só piorava e eu precisei me conter ao rir.

   — Não. Não hoje. Vamos apenas dormir.

   — Ok... Tudo bem. — Ela disse, rindo também. — Mas, sabe, não vou me acostumar tão fácil.

   Fiquei em silêncio e várias coisas começaram a rondar minha mente de forma insegura.

   — Estou começando a achar que sou um fracasso como colega de apartamento, amiga, namorada e noiva. — Confessei.

   — Por quê?

   — Você está parecendo odiar ter que viver comigo. Eu sei que eu não sei cozinhar muito bem, mas eu posso tentar... Eu limpo tudo muito bem... Eu até te ajudo a lavar suas roupas! Eu cuido do Sparky... Eu não sou tão ruim. — Tentei achar mais coisas que fizessem de mim uma boa pessoa para se morar junto, mas era difícil.

   Eu não era uma pessoa divertida, não tinha ideias de diversão e quase sempre me contentava com o simples e estático. Devia ser bem ruim morar comigo, mas eu tinha pontos positivos... poucos, mas tinha.

   — Amor, não pense isso! — Ela disse, parecendo ter percebido como aquela situação estava para mim. — Eu amo a ideia de morar apenas com você, só estou sentindo o impacto dessa mudança. Você e o Sparky são suficientes para mim. Mas esse apartamento tem muitas lembranças de todos nós...

   — Você quer procurar um outro apartamento? Algum menor... Não sei.

   — Sim. Depois nós podemos fazer isso... Mas não pequeno. Se vamos ter filhos...

   Ela só precisou citar “filhos” para que eu esquecesse o foco da conversa.

   — Você tem razão. A culpa é do apartamento que tem muitas lembranças. Você disse que quer um novo apartamento pequeno? Ouvi você dizer que quer um loft? Um loft é bom porque só tem lugar para duas pessoas e um cachorro.

   — Sua mãe me apoia, acho bom você repensar tudo isso.

   Então ficamos mais algum tempo conversando, ela até tentou encostar em mim, mas o Saprky não aceitou ser deixado de lado.

 

SEGUNDA NOITE.

   Nosso dia passou de forma normal, conseguimos sobreviver e até passeamos com o Sparky. Já era um pouco tarde quando voltamos para o apartamento. A primeira coisa que nos fez lembrar da mudança foi abrir a porta e estar tudo escuro. Sorrimos uma para a outra e não falamos nada.

   Abrimos a geladeira e não tinha nenhum risoto, nenhuma torta ou sopa. Sorrimos mais uma vez e fizemos sanduíches, colocamos a comida do cãozinho, sentamos na sala e Camila balbuciou um “Din-“, mas riu sem graça e apenas ligou a TV.

   Comemos em silêncio.

   — Ok. O silêncio vai ser o pior para nos acostumarmos. — Ela finalmente disse.

    E Camila tinha razão sobre isso. Primeiro tivemos que nos acostumarmos com a falta das nossas famílias, agora temos que saber lidar com o silêncio de um apartamento em que nossa segunda família vivia. Até mesmo o Sparky estava meio deprimido, já que sempre tinha alguém paparicando ele, agora ele apenas tinha Camila e eu e nenhuma de nós colocava fones em seus ouvidos. O apartamento sempre parecia estar em guerra. Ou tinha barulho vindo dos quartos ou da sala ou da cozinha. Agora não tinha nada além da TV.

   Desistimos de qualquer outra coisa e fomos dormir, dessa vez o Sparky ficou no sofá da sala por vontade própria. Tomamos nossos banhos e nos vestimos. Quase prontas para fechar os olhos, o celular de Camila tocou. Ela mostrou o visor para mim: ALLY.

   Sorrimos, de verdade dessa vez, e Camila atendeu, então juntei-me para ouvir.

   Allyson: Estou fazendo uma chamada em conferência. Calma.

   Em seguida meu celular tocou e era a Allyson. Dei de ombros e atendi.

   Camila: Por que você ligou para Lauren e eu se estamos no mesmo quarto?

   Allyson: Foi o hábito... desculpe!

   Dinah: Ela fez o mesmo aqui! Normani está do meu lado!

   Normani: Amigas, não vou desligar.

   Camila: Vocês duas já jantaram? Cheechee, a Lauren e eu compramos comida congelada, deixamos aí na geladeira, vocês só vão precisar esquentar para o almoço! Olhem no freezer! Colocamos lá!

   Normani: Amiga, nós duas é que precisamos perguntar se vocês se alimentaram. Vocês sempre foram as piores.

   Camila: Ontem comemos uma lasanha congelada, era a última e hoje sanduíches. Estamos bem.

   Allyson: Mila, você viu o livro de receitas rápidas que deixei para você? Está no quarto em que eu dormia.

   Camila: Não... Vou procurar amanhã mesmo. Não quero que minha noiva fique doente e desnutrida.

   Lauren: E você, Brooke?

   Allyson: Está tudo bem por aqui...

   E naquela noite nós cinco ficamos conversando por um longo tempo até eu adormecer abraçada à Camila.

  

 

TERCEIRA NOITE.

   Era noite de Sexta-feira e, como no dia anterior, Allyson fez uma chamada de voz em grupo.

   Allyson: Gente... o Caleb já está dormindo, mas eu não consigo. Vim para a sala, liguei a TV e já ia perguntar “quem quer ver o próximo episódio?”, mas não tinha a quem perguntar.

   Camila: Lauren e eu estamos vendo vídeos na internet aqui no quarto porque a sala começou a assustar de tão silenciosa que está. Mani iria gostar desse vídeo.

   Normani: Dinah foi fazer o jantar e acabou fazendo uma quantidade além do necessário.

   Dinah: Eu esqueci! Mas amanhã mesmo mando potes de sopa para vocês três! Acho que vocês vão ter a janta por uma semana!

   Normani: Amigas, vocês não querem dormir aqui amanhã não? A gente pode terminar de ver o seriado e comer a sopa!  

   Camila: Queremos!

   Normani: Traz o Sparky.

   Camila: Você nem tente furtar meu filho, apesar de ele sentir falta de vocês.

   E assim ficou decidido que no dia seguinte nós iriamos passar a tarde e noite na nova casa delas.

 

Sábado.

   No dia em que fomos dormir na casa nova das garotas, Alexa também foi. Estava tudo ocorrendo normalmente e de forma agradável. Eu só não entendia o motivo de elas estarem morando separadas, mas aquela estar sendo a terceira noite consecutiva que Alexa dormia lá.

   — Você simplesmente deixou a Veronica vir morar sozinha? — Camila perguntou.

   Estávamos na sala. Eu na ponta do sofá, abraçada a Camila que tinha suas pernas sobre as minhas e Alexa ao lado dela. Em minhas mãos tinha uma tigela com amendoins sem pele. Normani e Allyson estavam ocupadas com o Sparky no outro sofá.

   — Nós estávamos discutindo muito, provavelmente começamos a morar juntas cedo demais. — Alexa respondeu.

   — Ah...

   Instintivamente olhei para Camila e ela me olhou também como quem pergunta “o que a gente fala sobre isso?”. Parecendo perceber nossa confusão, Alexa continuou o assunto.

   — Nem todo mundo tem a paciência de conseguir viver com a pessoa desde o colegial.

   — É... Acho que já sabemos muito uma da outra e brigamos todos os dias desde o colégio... — Camila falou sobre nosso relacionamento, mas não era um argumento bom para a conversa.

   Eu comia o amendoim, Camila abriu a boca para mim e eu entendi que era para eu servi-la. Assim o fiz: coloquei alguns amendoins na boca da minha noiva, ela sorriu e agradeceu.

   — Sim. Vocês têm sorte. — Alexa disse nos encarando com uma expressão confusa. — E eu preciso manter o meu namoro, então se ela acha melhor ter esse tempo morando longe, tudo bem.

    — Entendemos... — Mas na verdade a gente não entendia até porque nunca pensamos em morar longe, somente tínhamos quartos separados numa mesma casa.

   Camila e eu não chegamos a ter por muito tempo a sensação de “qual dia será que vou dormir com minha namorada?” ou  então “como será morar junto? Será que o amor acaba?”. Nós tivemos essas dúvidas cortadas prematuramente, nossos dramas eram outros, como “essas meias são minhas ou dela? E essa calça?”, sem contar a mais importante “qual de nós duas vai se arriscar a cozinhar enquanto a outra ajuda mesmo sem saber?”. E mesmo tendo dúvidas que você pode julgar sem emoção alguma, nós duas conseguíamos manter um namoro que nunca parecia desgastado e eu amo isso em nós.

   Veronica jogou-se ao lado de Alexa, abraçando a namorada e prestando atenção na conversa.

    — E vocês estão noivas. — A médica continuou a falar. — Entendam a sorte. Vocês não namoravam e moravam juntas. Namoravam e moravam juntas. Noivaram e moram juntas. Quando casarem ainda vão estar juntas e não pensam em separar.

   — Entendo perfeitamente. — Camila assentiu veemente.

   — Você não entende, lindinha. — Veronica disse rindo. — Alexa, elas não têm um relacionamento normal e nunca tiveram.

   — Eu sei, meu bem. — A médica respondeu de forma doce, fazendo Camila e eu trocarmos olhares e sorrisos como quem pensa “você imaginou alguma vez ver a suposta psicopata sendo amável?”. — Mas achava que elas tinham noção.

   ­— A gente tem. — Minha noiva disse. — Amor, fala pra elas.

   — Sim. A gente tem muita noção disso... — Respondi mesmo sabendo que todos os nossos amigos sabiam que Camila e eu não sabemos mentir juntas. — Nossa noção é tão grande que fazemos muita ideia do que você está falando.

   Veronica olhou para Alexa e negou com a cabeça antes de beijar a namorada.

   — Cheechee, a sopa! — Camila gritou, tentando atrapalhar o beijo ao nosso lado.

   — Se você parasse de conversar e me ajudasse, já estaria pronta! — Dinah revidou, mas tudo o que ela ia fazer era esquentar a sopa.

   — Dinah! Saia desse celular e vá esquentar nosso jantar! — Allyson gritou, já prevendo o que a outra estava fazendo.

   — Elas precisam mesmo trocar sentimentos em beijo em nossa frente? — Normani perguntou.

   — Alexa, ainda não nos acostumamos a ver você trocando carinho. Não nos traumatize! — Minha namorada disse, cutucando o braço da médica, que grunhiu.

   — Cabello, eu ainda não esqueci que você me acordou somente para falar que estava noiva!

   — Vero, pode calar ela. Por favor. — Camila disse.

    Ri do jeito que minha namorada falou e beijei-lhe a bochecha.

   — Amor, você já pensou em morar longe de mim depois de termos metade de uma vida juntas? — Ela perguntou.

   — Não. E você?

   — Também não.

   — Então a gente não tem mesmo noção... — Concluí.

   — Eu falei! — Veronica gritou ao nosso lado.

   Eu que odiava voltar para Miami e passar o tempo longe de Camila, mas gostava de estar com a minha família. Eu queria que pudéssemos estar juntas nessas ocasiões, mas era impossível porque nossas famílias eram da mesma cidade.

   E esse foi o primeiro sinal de que as coisas realmente estavam ficando sérias: nossa quase nunca separação e muito menos a vontade de estarmos em lugares diferentes.

   — Mas, Vero, eu posso imaginar e prefiro não passar por isso. — Camila disse.

   — Sim. Nós não temos a preocupação de querer um tempo. — Completei.

   — Já tivemos intervalos e não queremos mais isso. Tudo o que preciso saber é: Lauren, você já fez sua parte no joguinho do celular? — Ela disse, me fazendo gargalhar.

   — Sim. Nossas preocupações são essas... — Garanti.

   Alexa e Veronica reviraram os olhos e nem se deram o trabalho de responder nós duas. Camila sorriu para mim.

   — O jantar está aqui, venham buscar!

   A tarde e noite na casa delas foi muito agradável. Era como se tudo estivesse bem e em seu devido lugar: o barulho, as gargalhadas, os xingamentos, as brincadeiras, as implicâncias...

   Fomos dormir quando já era madrugada. Normani arrumou os quartos, dizendo que Camila e eu poderíamos ficar no dela e ela dividiria com Dinah e Allyson o outro livre. Mas nós não queríamos aquilo, as cinco sabíamos o que estávamos precisando e foi o que fizemos: arrumamos os colchões delas na sala e nos amontoamos neles com o Sparky. Já Alexa preferiu o conforto da cama da namorada.

   — Boa noite! — Allyson disse quando já estava tudo escuro.

   — Boa noite. — Respondemos.

   Fechei meus olhos e abracei Camila por trás, já que era a única posição que cabia todas nós. Passei um braço por sua barriga e ela entrelaçou seus dedos aos meus. Apoiei minha testa em sua nuca e inspirei fortemente o cheiro dela.

   — Amor. — Ela chamou.

   — Hum?

   — Precisamos ir ao supermercado amanhã?

   — Acho que sim. — Respondi. — Não temos nada além de água em casa e a sopa congelada.

   — Meninas, eu quero dormir.

   — Desculpe, Mani. Mas, amor, vamos amanhã?

   — Mila! — Allyson chamou a atenção dela.

   — Vamos dormir, Camzor. — Avisei.

   — Vou precisar usar uma tática antiga para conseguir dormir? — Dinah perguntou, fazendo todas nós rir.

   — Não! Não ouse se jogar entre Lauren e eu! — Camila gritou.

 

    — Lolo... — Camila chamou.

   — Fala. 

   — Te vejo quando o sol raiar. 

   — Também te vejo quando o sol raiar. — Ri. Ou em meus sonhos

   — Certo... Boa noite, tá? 

   — Boa... 

   — Até amanhã. 

   — Até... 

   — Dorme bem. 

   — Você também... 

   — Calem essas bocas agora mesmo! — Normani mandou. 

   — Ai, até breve, Lolo. 

    — Boa noite, Camila.  

    — Lolo, você soube que... 

   — O que é que custa pra vocês ficarem caladas?! Credo, vocês só vão dormir! — Allyson reclamou. 

   — Ok! — Camila sussurrou. — Lolo, falo com você amanhã. Beijos... 

   — Tchau, Camila. — Sorri encerrando nossa conversa antes que as garotas reclamassem mais uma vez. 

 

   Então algo me atingiu como um Pêndulo de Newton: eu sempre amei Camila e sempre amei aqueles momentos pentagonais.

   — Camzor, boa noite. — Falei, abraçando-a um pouco forte. — Não esqueça que eu te amo.

   — Eu te amo, amor. — Respondeu, apertando-me de forma carinhosa. — Boa noite.


Notas Finais


Apenas mais 5 capítulos. Garanto que serão legais. Não criem expectativas, mas o último é o melhor. Não garanto, mas é isso aí!!!!!!!
UMA COISINHA: eu sei que muita gente não repara nos nomes dos capítulos, MAS, PESSOAL, vocês poderiam, se quiserem, começar a reparar. Ou não kkkk. É importante, mas não é importante. Porém é importante, só que não pensem que é importante porque vai ser para alguns e não ser para outros porque é... assim mesmo.
SAUDAÇÕES =D/


PS: Tem um erro enorme nessa fanfic além dos de ortografia. É de acontecimentos... Eu tentei corrigir, mas se tiver ficado ruim... vai ter que ficar assim mesmo hehe


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...