História Park Chanyeol e Outros Desprazeres - Maldito seja Kim Jongin!

 

 

Park Chanyeol possuía poucas preocupações em sua vida e com certeza a lista de exercícios de cálculos matemáticos gigantesca que precisava resolver valendo nota dentro de sua mochila jogada displicentemente no chão do seu quarto não era uma delas. 

No momento seu foco estava no joystick entre seus dedos e na tela que reproduzia a imagem fiel e pixelizada em gráficos realísticos de jogadores famosos controlados pelos comandos de seus dedos ágeis. Ou, na teoria, deveria ser. Pois claramente seus olhos apenas pairavam sobre a tela da TV enquanto um dos jogadores de Jongin cruzou a bola com facilidade pelo campo e lhe goleou sem que seu goleiro sequer tivesse chance de se defender. 

– Porra, Jongin – Chanyeol reclamou irritado.

Seus dedos apertavam os comandos de forma automática e quase involuntária, entretanto, sua mente vagava bem longe dali, impedindo-o de focar-se completamente na partida que se desenrolava a sua frente. 

Se fosse um pouco mais sincero consigo mesmo Chanyeol admitiria que chamar Jongin ali para jogar consigo era, na verdade, uma tentativa de fugir daquelas preocupações que nada tinham a ver consigo mas que insistiam em lhe preencher a cabeça com pensamentos inúteis.

Quer dizer, o que tinha a ver com o romance idiota de Baekhyun com o garoto do segundo ano? 

Absolutamente nada, claro.

Entretanto, eles precisavam mesmo fazer aquele tipo de demonstração pública e completamente patética de flerte, assim, para todo mundo ver?

Chanyeol achava que não. 

Não que estivesse sendo homofóbico ou algo do tipo já que Jongin sempre fora muito diverso em suas escolhas de relacionamento e não tinha problema nenhum com as preferências do amigo, quer dizer, ele namorava um cara e uma menina ao mesmo tempo, se fosse um pouco mais cabeça fechada nem seriam amigos em primeiro lugar, no entanto, só achava que havia sido bem desnecessária aquela cena que havia testemunhado mais cedo e aquela mania do Byun esfregar em sua cara o quão mais patético ele poderia ser por causa do Oh. 

Tsc. 

– Cara, você acredita que o Sehun realmente chamou o Baekhyun pra sair? – deu vazão aos seus pensamentos para o amigo.

O vinco entre suas sobrancelhas mostrando a profundidade de seu raciocínio a respeito daquele assunto que não tinha nada de especial em si, mas que só continuava anuviando sua mente de possibilidades e consequências. 

O brilho vitorioso nos olhos pequenos – e malignos – de Baekhyun ao lhe afrontar mais cedo continuava se repetindo em um loop eterno e completamente desagradável em seus pensamentos. Chanyeol não gostava de admitir estar errado ou perder para alguém, muito menos para o outro, em qualquer sentido. Aquele senso de competição com o menor era algo mais forte que si. E o pior era que o filho da puta vivia alimentando aquele seu lado que admitia ser completamente infantil. 

Ele dizia que não se cansava de irritá-lo? Pois não cansava-se mesmo. Não quando o menor era um boca suja de primeira classe e não perdia a oportunidade de lhe importunar também. Então não, não iria realmente parar de implicar com ele enquanto suas reações fossem tão exageradas e satisfatórias. 

Porque Chanyeol realmente sentia uma satisfação meio sádica de ver as chamas de ódio brilhando nos olhos pequenos de Baekhyun. 

– Até que enfim ele caiu na real – Jongin o respondeu distraído, a atenção toda voltada para o jogo na tela.– Você sabe, não dá pra deixar alguém como o Baek esperando por muito tempo.

E o maior riu fraco daquele comentário, desacreditado com o que ouvira. 

– Você fala como se aquele nanico fosse grande coisa... – desdenhou. 

– Chanyeol, você já olhou bem pro Baek? Para aquelas coxas? – apontou o moreno.– Pode crer que ele é grande coisa.

Tá. Ok.

Chanyeol talvez já tivesse constatado que, hipoteticamente, claro, Baekhyun pudesse ser meio avantajado em algumas áreas e coisa e tal, mas não era como se ele se tornasse tão mais especial por isso. Claro que não. 

Em seus olhos ele continuava sendo aquele baixinho meio acima do peso com humor inconstante e língua afiada que conhecera na segunda série e que sempre ameaçava contar para o resto da sala que possuía bala caso recusasse compartilhá-las consigo. Por que havia virado amigo daquele pequeno chantagista mesmo? 

E nessa hora se lembrava também de como apesar de possuir uma personalidade forte desde então, Baekhyun fora a primeira pessoa que se aproximara de si, o garotinho orelhudo e esquisito que entrou na escola no meio do ano. E, ao contrário das outras crianças que não se importavam de lhe incluir em suas brincadeiras, o menor o chantageou da forma como faria com qualquer outro amigo ou velho conhecido.

Naquele dia Chanyeol teve de compartilhar seu pacote secreto de balas, contudo, ter de sempre dar metade ao outro garoto não se pareceu tão ruim quando ele passou a chamá-lo para comer junto de seus amigos no refeitório e escolhê-lo para fazer parte de seu grupo nos trabalhos quando ninguém mais o fazia. 

E ao mesmo tempo, invocar todas aquelas lembranças trazia a tona um sentimento incômodo e meio amargo sobre como tudo tinha mudado tanto com o passar dos anos.

Baekhyun ainda continuava baixinho e desbocado, entretanto, hoje em dia ele não fazia mais questão de lhe tratar bem. E a culpa era completamente sua.

Aliás, porque havia mesmo entrado naquele assunto? 

– Deixa só o Kyungsoo e a Krystal ouvir você falando uma coisa dessas... – provocou, mudando o foco do assunto.

Repentinamente aquele tópico se tornara desconfortável para si. 

– Estou só brincando, seu babaca – Jongin rebateu, aproveitando a distração de Chanyeol para atacar em direção ao gol mais uma vez, sem sucesso.– Já estou muito contente com as coxas do Soo, obrigado.

E ao contrário do sorriso completamente safado que pairava nos lábios grossos do moreno, Chanyeol não conseguiu segurar a careta em seu rosto. Ugh. Imaginar Jongin e Kyungsoo era tão horripilante quanto imaginar seus pais transando.

Definitivamente traumatizante. 

– Nossa, que informação mais desnecessária. 

E a concentração do mais alto até parecera haver se voltado para o jogo e a partida em questão que perdia vergonhosamente para Jongin. Entretanto, nem mesmo seu esforços nos últimos minutos o impediram de perder para o moreno que até momentos antes sequer sabia como operar os comandos daquele jogo direito. 

Claro que fizera questão de frisar ao moreno que a causa de sua derrota fora por sua falta de atenção e pedira por uma revanche, no entanto, o silêncio causado pela concentração de ambos e quebrado apenas por algum xingamento ocasional não durou muito. 

Chanyeol não era de falar muito durante partidas de videogame, na verdade, ele ficava sempre atipicamente sério naqueles instantes, contudo, sua mania de balançar uma das pernas ansiosamente e sua falta de habilidade no gramado virtual mostravam que sua mente estava em qualquer lugar, menos na revanche que havia exigido de Jongin. 

– Até que para um cara mais novo ele é bem corajoso – Chanyeol quebrou o silêncio. De novo. 

– Quem? – o moreno compenetrado demais no jogo sequer percebera que mais uma vez ele voltava ao mesmo assunto. 

Novamente, não era mania dele falar durante as partidas no videogame. 

– O Sehun – o maior respondeu, com os olhos na tela mas os dedos letárgicos demais para bloquear o atacante do moreno de lhe golear mais uma vez.– Merda!

– O que tem ele? – Jongin quis saber, ainda não entendendo aonde o outro pretendia chegar com aquele assunto. 

– Chamar alguém do terceiro ano para sair e tal... – Chanyeol explicou. 

Aquela questão ainda martelava em sua mente. Fora realmente bem corajoso da parte do mais novo.

Na maioria do tempo Chanyeol achava Sehun quieto e na dele até demais. Não dava nunca para saber o que se passava por detrás de seus olhos sérios, e ele sempre parecia consciente demais dos próprios atos até em meio a turma amigos. Na verdade, ele tinha cara de ser exatamente aquele tipo de pessoa que não bebia nos rolês e que cuidava dos outros que exageravam e acabavam passando mal. Ou que bebia um gole de água a cada gole de cerveja para o álcool não fazer efeito. 

De qualquer forma seu súbito ato de coragem fora surpreendente. 

E só aqueles pensamentos lhe causaram uma careta de descontentamento. 

O que Baekhyun vira em um cara tão coxinha? 

Definitivamente o engomadinho não iria gostar de saber que o Byun tinha a mania nada saudável de beber além da conta em qualquer reunião social que comparecia. 

Já esse pensamento fez um sorriso lhe cruzar a face. 

Um Baekhyun bêbado era ainda mais divertido do que sua versão sóbria irritada. E as fotos vergonhosas dele embriagado na pasta de seu celular era sua fonte de diversão particular predileta. 

– Chanyeol... – Jongin o chamou com reticências implícitas no tom de voz. 

E apenas para ilustrar a seriedade de suas palavras o moreno pausou o jogo mesmo quando Chanyeol fazia um passe importante. 

– Ei! Por que você pausou? – Chanyeol reclamou assim que o moreno deu pause no jogo sem sua permissão. Poxa, só porque estava no meio de um passe importante? Aquilo era jogo sujo. 

Contudo, se tivesse prestado atenção na expressão desconfiada de Jongin teria percebido que seus motivos eram outros completamente diferentes. 

– Desde que a gente chegou aqui você não parou de falar do mesmo assunto, cara, e eu estou começando a achar que você está com ciúmes – Jongin falou, sério. 

E Kim Jongin simplesmente nunca falava em um tom tão sério. 

– O quê?! 

– Você não para de implicar com o Byun e agora não para de falar sobre como o Sehun chamou ele para sair na frente de todo mundo –  o moreno apontou. 

E é claro que Chanyeol possuía uma explicação lógica para aquilo. Já a acusação de Jongin não fazia sentido algum. 

– Exatamente, ele fez isso na frente de todo mundo, é por isso que estou comentando – explicou pausadamente. 

Ciúmes? Sério? 

E logo do Byun? 

– Você não parou de falar disso a tarde toda, Chanyeol – Jongin acusou com o mesmo olhar desconfiado. 

– Não falei não – o outro se apressou em negar. 

E por que diabos seu coração batia tão acelerado como se tivesse sido pego no flagra em uma situação constrangedora ou algo do tipo? Porque aquele definitivamente não era o caso. 

– Você 'tá a fim dele – Jongin constatou seriamente. 

E ao estudar todas as expressões de Chanyeol ao ouvir suas palavras, aquela informação apenas se confirmava. Ele estava afim do outro e sequer tinha percebido.

Pois a expressão urgente em seu rosto e a forma atrapalhada como ele tentava arranjar uma desculpa para seu comportamento mostravam claramente seu nervosismo com aquela realização e a forma como tentava negar a si mesmo tal fato. 

Na verdade, nem mesmo Jongin se dera conta daquele fato antes, mas estava claro, sempre estranhara aquela implicância velada do mais alto com Baekhyun e aquilo não podia ter outro motivo. Aquilo era pura tensão sexual e desejos reprimidos. 

Muita coisa estava explicada agora. 

– Para eu estar a fim do Byun primeiro eu preciso gostar de beijar outros caras e por enquanto eu estou bem certo das minhas preferências – Chanyeol se defendeu, certo de seu ponto de vista.

Jongin estava sendo completamente insensato. 

Ao contrário daquele desapego à rótulos do moreno que não se restringia a gêneros no quesito atração, Chanyeol estava bem certo de suas escolhas. 

Peitos. Sim, Chanyeol gostava de peitos. 

– Ser hétero não impede de você estar afim do Byun, Chanyeol. E você está – Jongin rebateu convicto. 

– Fale alguma coisa que faça sentido, Jongin – o maior falou revirando os olhos, remexendo-se em seu assento em um desconforto repentino. 

– Mas é claro que faz sentido! Por qual outro motivo você iria se importar tanto com o que o Baekhyun faz ou deixa de fazer? Você por acaso percebe como você sempre trás ele a tona com qualquer assunto que estamos falando? – disse o moreno. 

Porque Chanyeol realmente fazia cada uma dessas coisas. Só que até o momento Jongin nunca tinha parado pensar profundamente a respeito. Mas qual o sentido de falar tanto sobre alguém da qual não se possui interesse? 

– Eu não faço isso – Chanyeol negou veemente com os olhos grandes aumentando de tamanho. 

Ele não fazia... Fazia?

– Você que não percebe, Chanyeol. 

Ok, talvez ele fizesse um pouco. 

– Você por acaso não tem uma namorada e um namorado pra tomar conta? – mudou de assunto, visivelmente desconfortável.– Por que você está cuidando da minha vida mesmo? 

Entretanto, a sensação gélida instalada em seu estômago não iria se dissolver com uma simples mudança de tópico. 

Novamente Park Chanyeol não possuía muitas preocupações, no entanto, Jongin acabara de plantar uma completamente desnecessária em sua mente. 

– Não tente desconversar. Só fica esperto – Jongin avisou.– O Sehun foi lerdo, mas pelo menos tomou uma atitude e se você continuar negando a si mesmo, pode ser tarde demais – aconselhou, dando o assunto como terminado ali. 

Sabia que Chanyeol era um completo cabeça dura quando queria e o amigo não era muito aberto a opiniões quando o assunto era como deveria agir, então apenas respeitou a carranca no rosto dele e não se estendeu longamente sobre aquela situação. Entretanto, por conhecê-lo tão bem sabia também que ele iria pensar sobre o assunto. E aquilo era o suficiente.

Talvez ele conseguisse perceber por fim o que estava na cara e apenas ele não conseguia ver e se espelhasse um pouco na atitude de Sehun e caísse na real em relação ao Byun. Jongin esperava apenas que ele fosse rápido, pois aparentemente não havia muito tempo antes de ser tornar tarde demais. 

– Só cala a droga da sua boca e pega logo esse controle – Chanyeol rebateu emburrado, não levando o amigo a sério. 

No entanto, seu cenho franzido pela resto da tarde contava uma história diferente. 

Nenhum riso ou comentário brincalhão fora ouvido de sua parte e sua falta de concentração a cada partida falha que disputava com Jongin mostrava como havia sido afetado pelas palavras do moreno, por mais que tivesse negado cada uma de suas acusações. 

Ele a fim do Byun? De onde ele havia tirado uma ideia daquelas? 

Porém, por que diabos seu estômago gelava apenas ao se ver considerando seriamente a possibilidade daquilo ser realmente verdade? Por que sentia seu sangue ferver em puro descontentamento ao imaginar o mais velho junto de Sehun? 

Merda! Chanyeol não sabia a resposta para nenhum daqueles questionamentos e, na verdade, temia descobrir a solução. Temia descobrir que no fundo Jongin pudesse estar certo em qualquer uma de suas suposições. 

Não. Claro que não era nada daquilo. 

Definitivamente, Chanyeol não estava interessado em Byun Baekhyun. 

 

 

***

 

 

Um riso fraco tomava conta de seus lábios apenas de pensar na possibilidade idiota que Jongin havia levantado mais cedo.

Agora, no final da noite Chanyeol, depois de ter pensando e repensado a respeito daquele mesmo assunto de forma extenuante durante todo o dia, chegara à única conclusão de que o amigo estava vendo coisas aonde não existia nada. 

Não importava o ângulo de vista da qual analisasse a questão, não conseguia ver como seus comentários vexatórios a respeito do baixinho que soltava ocasionalmente e muito de vez em quando poderia ter algo a ver com alguma paixão encubada mal resolvida. Lógico que não. 

E Jongin por acaso levava em conta o tanto de meninas que havia beijado apenas no último bimestre? Como aquilo justificaria um interesse no Byun quando se mantivera tão bem ocupado com companhias tão mais interessantes? De vez em quando o moreno não fazia sentido algum. 

Talvez ele estar namorando dois dos melhores amigos do Byun estivesse o afetando de alguma maneira. 

Seu peito estava até mais leve em alívio depois de ter chegado a tal conclusão e sua mente já havia até mesmo esquecido daquele tópico que havia a preenchido durante todo o dia, passando a quilômetros de distância de qualquer coisa relacionada ao baixinho irritante e do esquisitão calado do segundo ano enquanto sentia o sono pesar suas pálpebras e o cansaço tomar conta de seus sentidos e embalá-lo em um descanso mais do que bem-vindo. 

Entretanto, é claro que a vida não cooperaria com seus planos de ter uma noite tranquila e satisfatória de sono antes de mais um dia letivo. Claro que não. 

E soube disso ao ler o nome da pessoa que chamava sua atenção na notificação da mensagem que brilhava na tela de seu celular que acabou o despertando logo quando sentia o sono o tomando por completo. 

É claro que não podia ser mais ninguém. 

Baekhyun.

Rolou os olhos antes mesmo de abrir a notificação, e já sabendo interiormente que se arrependeria. Qualquer coisa vindo do menor, principalmente aquele horário, não poderia ser boa coisa. 

 

Baekhyun: Obrigado, Park. 

Enviada às 23:33

 

Chanyeol: ???

Enviada às 23:34

 

Baekhyun: Por ser tão babaca a ponto de acabar me ajudando com o Sehun sem querer. Fico te devendo uma. 

Enviada às 23:36

Chanyeol realmente se arrependeu e qualquer rastro do sono que antes o tomava desapareceu assim que todas as sensações conflitantes que as acusações de Jongin lhe causaram voltaram a lhe invadir sem sua permissão. 

Ainda não fazia qualquer sentido, mas a simples menção do nome de Sehun voltou a acordar todos aqueles monstros interiores de outrora. 

Park Chanyeol não costumava ter muitas preocupações, entretanto, a forma como aquela mensagem visualizada o incomodou passou a ser uma delas.