História Partners in Time - Sharks and Otters

CHLOE 

Beijei a Max. Aliás, ela me desafiou a beijá-la. O que tinha sido aquilo? Foi tão bom que eu não consegui parar. Será que ela sente algo por mim ou foi só parte do jogo? Acho que alguns goles de cerveja não poderiam ser os únicos responsáveis por aquele momento, mas como vou perguntar? Com que cara? O que eu faço? Acho que vou enlouquecer, se não fizer nada logo.

- Meninas, por que vocês estão tão silenciosas? Aconteceu alguma coisa?

- Nossa, mãe! Até com o silêncio você implica. - falei num tom mais irritado do que gostaria.

- Desculpa, filha, só achei estranho porque vocês estão sempre tagarelando toda hora.

- Eu só estou cansada, Joyce. Meu dia foi muito louco hoje. - Max quebrou o silêncio.

- Nem me fale. - pensei alto.

- Você vai dormir aqui, Max?

- Vai sim. - falei sem lhe dar tempo para negar - amanhã cedo eu levo ela pra Blackwell, já que agora tá muito tarde. Já deve estar fechado.

Depois do jantar, subimos para meu quarto, trocamos de roupa e nos deitamos lado a lado, ainda no mais completo silêncio. Eu precisava fazer alguma coisa para mudar aquilo e já sabia o que. Virei minha cabeça em sua direção, ela olhava para o teto.

- Max?

- Hum?

- Da próxima vez que for me beijar, tente disfarçar melhor o quanto você gosta de mim. - consegui ver suas bochechas ficarem vermelhas apesar da pouca luz.

- Chloe?

- Hum?

- Foi você quem me beijou.

- Só porque você me desafiou. - ela ficou um pouco em silêncio antes de responder.

- Você adorou cada segundo. - ela falou, então eu sorri e a abracei com força depois de ouvir aquilo.

- Boa noite, Max!

- Boa noite, Che!

No dia seguinte acordamos tarde e tivemos que nos arrumar e comer rapidamente pra que a Max não chegasse atrasada à aula. Acabamos conseguindo. 

- Te vejo mais tarde? 

- Não sei, Chloe! Tenho aula o dia todo e, consequentemente, muitos trabalhos. Provavelmente só estarei livre já tarde da noite. Aí não faria muito sentido eu te chamar.

- Não tem problema. Agora vou indo. - ela não sabia, mas eu tinha um plano em mente.

MAX

Já eram quase 23h e eu estava cansada de tanto estudar. Depois de tudo que havia acontecido naquele curto espaço de tempo, ler e fichar capítulos de história da arte parecia algo meio bobo e sem propósito. Não que eu não gostasse daquilo. Fotografia era uma das grandes certezas da minha vida, mas nesse momento eu simplesmente não conseguia me concentrar em nada  daquilo.

Depois de um tempo resolvi fazer uma pausa e mandar uma mensagem pra Chloe.

[Max]: E aí, fazendo o que?

[Chloe]: Vendo você conversar comigo enquanto deveria estar estudando.

[Max]: já estudei o dia todo. Preciso relaxar um pouco. -.-"

[Chloe]: Uau, MadMax! Que hardcore! Daqui a pouco você vai estar por aí fazendo aquelas tatuagens de chiclete, escrevendo seu nome em cadeiras usando corretivo e andando pelo campus fora horário. Ah, e sem emojis, por favor!

[Max]: Muito engraçado, Chloe! (¬︵¬)

[Chloe]: Tá querendo mesmo relaxar?

[Max]: Você não faz ideia do quanto.

[Chloe]: Então vai na sua janela e olha pra baixo.

Obedeci. Ela estava na frente do meu dormitório, balançando algo que parecia um molho de chaves, enquanto me olhava com um sorriso diabólico. Nada de bom poderia surgir dali.

Por isso mesmo, vesti uma calça jeans qualquer, um tênis preto, meu casaco cinza e desci o mais rápido que pude.

- O que você está fazendo aqui a essa hora?

- Vim realizar seu desejo.

- Agora você é o gênio da lâmpada?

- Hoje eu sou o que você quiser. - ela sorria me encarando e eu, como sempre, não sabia como responder àquela frase, então decidi continuar calada.

- Hoje é dia de natação noturna, AquaMax. Vamos, me siga!

- Você não está planejando fazer o que eu to pensando, está?

- Eu não, nós. - ela me corrigiu.

- Sério, Chloe?

- Splish splash. - ela falou enquanto me puxava pela mão.

Quando menos esperei, já estávamos na área da piscina, o habitat natural das lontras, a equipe de natação de Blackwell. 

De alguma forma que eu desconheço, Chloe havia conseguido roubar as chaves do David e agora tinha acesso a todas as trancas do colégio. Felizmente ela se contentou em invadir apenas a piscina. Não teríamos explosões naquela noite. Pelo menos era o que eu esperava.

- Garotos ou garotas? - ela me olhava maliciosamente e eu resolvi entrar no jogo.

- Garotas, óbvio. 

- Resposta certa, Max.

Passamos rápido pelos vestiários e logo chegamos à piscina. Chloe foi rápida, acendeu as luzes, tirou a roupa e pulou na água. Notei que ela tinha um biquíni por baixo assim que ela se posicionou pra mergulhar.

- O que você está esperando, Max? Não me faça ir até aí te buscar.

Não esperei uma segunda ameaça, tirei minha roupa e pulei na piscina.

- Você poderia ao menos ter avisado que viríamos pra cá pra que eu pusesse um biquíni.

- Aí qual seria a graça? - ela riu.

- Certo, vou deixar essa passar. Só dessa vez. - depois de uma pausa, tive coragem de perguntar - Chloe, você já trouxe a Rachel pra cá?

- Agora você só fala na Rachel, Max? Se você quiser, posso te dar o telefone dela, aí vocês marcam de se encontrar em vez de perder seu tempo aqui comigo.

- Desculpa a intromissão, é que não consigo evitar ficar curiosa em relação às pessoas importantes da sua vida.

- Tudo bem. E não, nunca trouxe a Rachel aqui. A gente costumava fazer coisas bem mais triviais quando ela estava em Arcadia, tipo invadir festas do Clube Vortex, ficar na minha casa ou na dela conversando e bebendo, ou ficando doidonas num ferro velho que encontrei há algum tempo na saída da cidade. Qualquer dia te levo lá.

- É.  Coisas super triviais mesmo. - ironizei.

Ficamos um tempo caladas, boiando na piscina e, quando menos esperei, ela começou.

- TAN TAN TAN TAN TAN 

- Para com isso, eu morro de medo desse filme até hoje. - falei jogando água na cara dela.

- Não posso evitar, Max. Eu sou um tubarão e tem uma lontra nadando em minhas águas. - ela falava enquanto se aproximava de mim. Eu recuava instintivamente. - e você sabe o que tubarões fazem quando encontram lontras indefesas perdidas por aí, Max? - eu já estava escorada numa das bordas da piscina, encurralada.

- O..o que? - consegui sussurrar as palavras, enquanto ela colocava as mãos uma de cada lado do meu corpo se apoiando na borda, como se não quisesse deixar nenhuma saída pra que eu fugisse. Eu realmente parecia uma presa capturada pelo seu predador natural, porque sequer conseguia me mexer do lugar agora. Ela se aproximou mais ainda, de modo que seus lábios roçaram no meu ouvido, me causando um arrepio que percorreu toda minha espinha. Então ela sussurrou: - eles mordem, Max.

Ela então desceu em direção ao meu pescoço e o mordeu levemente. Meu coração estava tão acelerado que posso jurar que era possível ouví-lo à distância. 

Ela continuou mordiscando vários pontos do meu pescoço, enquanto eu sentia meu corpo esquentar a cada toque, até que fechei os olhos instintivamente deixando escapar um suspiro. Percebi que ela sorriu ao me escutar. Então ouvimos um barulho vindo de fora, na entrada dos vestiários.

- Temos que ir, Max. Rápido.

Saímos da piscina e tentamos nos esquivar ao mesmo tempo em que vestíamos as roupas, escondidas nas sombras do vestiário. A eletricidade que percorreu meu corpo enquanto estava encurralada na piscina havia sido substituída pela adrenalina que me inundava naquele momento, devido ao medo de sermos descobertas.

Finalmente conseguimos sair do local e corremos em direção ao estacionamento.

- Chloe, você não pode ir embora no seu carro, eles vão te reconhecer de longe e saber que fomos nós que invadimos a piscina.

- E o que você sugere, Maxeinstein? Que eu vá a pé?

- Óbvio que não. Você pode ficar no meu dormitório essa noite e amanhã cedinho ir embora.

- É uma boa ideia. Vamos logo.

Chegamos rápido ao dormitório e, por sorte, não havia ninguém acordado. Passamos sorrateiramente até entrar no meu quarto. 

- Então é aqui que você se esconde, jovem lontra? Não acho que seja muito inteligente trazer um tubarão pra conhecer seu habitat natural.

- Você está nos meus domínios, nenhum tubarão vai conseguir me atacar aqui.

- Nossa, como está confiante. Pena que essa sensação de falsa segurança é o que pode causar sua ruína. - ela me ameaçou e eu resolvi entrar no jogo de novo.

- Quer apostar? - falei piscando e vi que ela corou. Eu tinha ganhado, mesmo que momentaneamente.

Dei uma roupa pra Chloe dormir e notei que ela estava se direcionando para o sofá.

- O que você está fazendo?

- Indo dormir, ué!

- No sofá?

- É o que parece.

- E por que não dorme na cama comigo?

- Que proposta indecente é essa em plena meia noite, Maxine?

- Não seja boba, Che! Só acho injusto que você durma no sofá, se sempre que vou na sua casa, durmo na cama.

- Mas essa cama é de solteiro.

- Não é como se nós fôssemos obesas. Tenha santa paciência, Chloe!

- Tá bom, mamãe. Se você insiste.

Ela se deitou na cama, encostada na parede e eu me deitei com a cabeça apoiada na dobra de seu ombro.

- TAN TAN TAN TAN TAN 

- Che!

- Desculpa, é que o tubarão ainda está faminto, mas não se preocupe, ele vai deixar a jovem lontra escapar. Só por hoje.

O que ela quis dizer com isso?

- Você não jantou, Chloe?

- Jantei até demais.

- Então o que você quis dizer com estar com fome?

- Boa noite, Max!

Ela me abraçou forte e logo dormimos.