História Passing Time - HSL - 11.1 - Beach party, parte 1

EPISÓDIO 11

Beach party, parte 1

A segunda-feira chegou e com ela vieram os dezessete anos de Alana. Apesar do marco, ela não estava muito feliz e esse sentimento vinha de um simples motivo: Isaac Davies.

Isaac tinha o costume de pregar peças não muito amigáveis na irmã em seu aniversário. Na comemoração de cinco anos, o garoto colocou uma bolinha de gude dentro de um cupcake e lhe deu de presente - foi assim que seu primeiro dente de leite caiu; na de onze, colocou chicletes no cabelo da mais nova; na do ano anterior, de dezesseis, foi até a festa acompanhado dos amigos (o que era pior do que todos os acontecimentos anteriores).

Mas esse ano estou preparada!

A luz invadiu os olhos claros da garota às nove da manhã através das cortinas rosas de seda. Um pouco menos de vinte minutos depois, sua bolsa para o dia de praia já estava pronta.

De acordo com seus cálculos, ela tinha cerca de cinco minutos até Isaac descer para lhe atormentar como de costume, então colocou seu plano em ação. Alana pegou uma de suas cadeiras e colocou debaixo da maçaneta dourada da porta de madeira; um truque clássico, porém potente. Isso devia atrasar o mais velho alguns minutos.

Então abriu a janela de maneira discreta, para não alarmar a mãe ou o irmão. Como se estivesse num filme de ação, a garota subiu na penteadeira e pulou a janela. De forma graciosa e sutil, sem problemas, seus pés tocaram o chão.

- Tantos anos de balé serviram para algo, afinal! - Falou para si mesma.

A água da piscina dos fundos da casa ondulava de maneira suave. Bom, Isaac realmente não estava acordado, então.

- Tudo tranquilo…

A ruiva soltou um suspiro de alívio.

- Ei, cabeçuda! - Ela ouviu, distante. - Incoming!

Olhando na direção da voz do irmão, ela não conseguiu distinguir muito bem o que aconteceu; foi tudo tão rápido… Primeiro veio o impacto, depois o estado de choque.

- Isaac! - outra voz mais fina veio de longe. - Desça já daí, seu pai está aqui!

Alana sentiu uma substância viscosa escorrendo pela sua testa. Seu couro cabeludo formigava e latejava de maneira irritante. Ela bufou e cobriu seus olhos.

Um ovo na cabeça, ótimo. 

A menina sentiu uma mão em seu ombro e se virou para trás, esfregando o rosto.

- Feliz aniversário, filha. - Stephanie sorriu de maneira gentil e limpou o rosto da garota com um paninho. - Arrume seu cabelo, seu pai está aqui.

- Perfeito! - A mais nova rosnou, um nó começando a formar em sua garganta. - Justamente o que eu precisava.

=/=

Agora com os cabelos molhados e uma expressão falsa no rosto, Alana estava pronta para ir receber o pai.

Um homem de negócios e de grande sucesso, Jorwerth Davies era sempre frio com os filhos e distante - muitas vezes literalmente, fora a trabalho ou, na maioria das vezes, apenas emocionalmente afastado da família. 

O tal se estendia de pé de forma prepotente na grande sala da residência, passando uma mensagem clara: não estou aberto a romantismos. Nada com que Alana já não tivesse se acostumado nos seus agora dezessete anos de existência.

- Feliz aniversário, Alana. - O pai estendeu a mão de maneira tensa.

Nem um bom dia, nem um abraço. Tudo bem, ela nunca havia recebido um abraço do pai mesmo.

- Muito obrigada, senhor. - A filha apertou a mão do homem de forma forçada.

- Olá, Isaac. - Disse de maneira mecânica para o filho, que estava encostado na mesa de jantar com os braços cruzados. Os sentimentos dele pelo pai não eram os melhores.

- Olá, senhor. - O ruivo revirou os olhos.

- Esperava algo mais caloroso depois de eu ter passado tanto tempo fora. - O pai arqueou as sobrancelhas ruivas. Alana e Isaac se entreolharam de modo cômico.

'Como se ele fosse caloroso com a gente'.

 - Bem... - O mais velho continuou, agora se direcionando à filha. - Do jeito que suas notas andam, logo logo você pode ir para a faculdade. Talvez lá encontre um partido ideal, assim já pode ir pensando com quem vai se casar.

Um silêncio nada confortável tomou a sala. Alana soltou a mão do pai depressa e cruzou os braços.

- Ou construir um império! - Stephanie apoiou a filha. - Sabe, com sua idade…

- Você estava começando a Crown. - A ruiva revirou os olhos sem que ninguém visse. - É, mamãe, eu sei.

Ela estava cansada de ouvir aquilo todo ano. Suas duas únicas opções eram se casar ou abrir uma empresa, ter um império, sei lá o quê. Não que ela não quisesse ter um bom futuro, longe disso! Mas às vezes seria bom respirar um pouco em sua própria casa. Será que machucaria tanto se todos a deixassem seguir seu próprio ritmo? 

- Te darei 25 euros para a festa. - Jorwerth começou a mexer na carteira. - É mais que o suficiente, não acha?

25 euros não estavam nem perto de serem suficientes para um piquenique, quem dirá uma festa.

- Não se preocupe, senhor. - Alana abaixou a cabeça. - Não vou fazer festa nenhuma este ano. Vou encontrar minhas amigas na praia.

- As de Bunoffaire?! - Isaac exclamou, felizmente chamando toda a atenção para si. - De jeito nenhum!

- Isaac, por favor, não comece... - A irmã suspirou. - Já não basta você ter arruinado meu cabelo?

- Seu cabelo já é feio, o ovo não precisou fazer nada.

- Alana, pare de dar atenção às brincadeiras de seu irmão. - A mãe entrou no meio da briga.

- “Brincadeiras”? - Alana arregalou os olhos, levantando a voz. - Ele jogou um ovo em mim! Do segundo andar! Doeu pra caramba!

- Isso não é maneira de falar! - A voz firme do homem da família deixou todos congelados no lugar. - Muito menos de agir. Vocês dois estão agindo como duas crianças. - Os dois engoliram em seco. - Alana, de maneira alguma você vai sozinha para a praia, ainda mais com aquelas molecas. Isaac irá te acompanhar.

- O quê…? 

- Por que eu?! - Isaac pisou forte no chão.

- Não é você que tanto reclama dela passar tempo com as amigas? - Stephanie sorriu de modo malicioso. - Nada mais justo do que o senhor dar uma olhada na sua irmãzinha, visto que se importa tanto!

O de cabelos cacheados grunhiu alto, visivelmente frustrado.

- Que ódio.. - Alana disse para si mesma.

- O que disse? - Jorwerth franziu o cenho, ameaçador.

- N-nada, senhor.

- Martin vai acompanhar vocês. - A mãe dos adolescentes tirou uma nota do bolso de seu vestido. - Tome, Alana. Cuide bem e não deixe com seu irmão, todos sabemos que homens não são bons com dinheiro.

O marido da loira arqueou uma sobrancelha e franziu seu nariz longo. Era algo bem irônico de se dizer, considerando que ele era o administrador de finanças de algumas das pessoas mais afortunadas da Europa.

- Exceto você, querido, é claro! - Ela deu um sorriso amarelo.

Alana balançou a cabeça, como se quisesse se fazer acreditar que aquilo não era real.

Começamos o dia bem...

=/=

- Que delícia, Lis! - Diana exclamou de boca cheia. O cheiro de guloseimas recém-cozinhadas invadia toda a área.

À sua frente, numa toalha, haviam vários doces, frutas, pequenos sanduíches, biscoitos e um bolo coberto de chocolate e protegido por uma vasilha de plástico (foi o jeito que as meninas arrumaram para proteger a comida da areia da praia).

- Que bom que gostou, fiquei um dia inteiro fazendo esses macarons… Comprei corante demais.

- Ei, vocês acham que os balões podem sair voando? - Lola exclamou mais à frente na areia, chamando a atenção das mais novas.

Ela e Zöe vinham discutindo há um tempo se apenas os chinelos conseguiriam segurar os balões ou não. A morena balançou a cabeça com um balão rosa na mão.

- Se vocês colocarem só dois amarrados em cada, acho que não. - Diana respondeu. - Afinal, já temos oito chinelos e nem todo mundo chegou ainda.

- Ha! Te disse! - A de cabelos vermelhos mostrou a língua para Zöe.

- Que seja... - Resmungou a outra. - Coloca logo os chinelos aí.

- Bem, a culpa é minha por não ter lembrado de trazer os suportes - Diana abaixou a cabeça. - Desculpe.

- Não se preocupe, não é o fim do mundo. - Zöe sorriu para a loira, agora indo sentar junto às amigas.

Os balões estavam a uma distância segura do mar e a “mesa” de doces estava mais atrás, quase perto do calçadão. Era algo simples, mas todas sabiam que Alana iria apreciar o gesto.

Lola estava tremendo levemente. Mesmo cobrindo seus ombros com uma toalha curta, a ruiva estava com frio. Seu biquíni era simples, quadriculado em vermelho e branco, com um short jeans para acompanhar - estava gelado demais para o tirar agora.

- Nem está ventando tanto assim e você já está com frio? - Diana riu.

- É, aparentemente meu sangue russo não quer me favorecer. - A mais velha riu. - Eu sinto frio em qualquer lugar.

- Acho que a Alana chegou… - Lis mudou de assunto, forçando os olhos para olhar o horizonte.

Todas as garotas olharam em sua direção.

- Ah, sério isso? - Zöe suspirou. - O que é que aquele babaca tá fazendo aqui?

- Aquele é o Isaac? - Lola colocou uma mão sobre os olhos, cobrindo os raios fracos do sol para ver melhor, sem êxito.

- É, sim. - Diana colocou parte de sua canga azul sobre os joelhos. - Não sejam mal educadas, hoje é o dia da Alana.

A dupla de irmãos se aproximou cada vez mais. Ao ver todos os enfeites e guloseimas, Alana ofegou e colocou as mãos nos lábios, seus olhos verdes arregalados.

- Feliz aniversário, princesa! - As meninas exclamaram em uníssono.

- Não acredito! - A ruiva abraçou cada uma, rindo. - Vocês não me avisaram que iam fazer isso, eu nem trouxe nada!

- Considere isso um presente de Lola para você. - Diana olhou para a amiga. - A ideia foi dela.

Alana abraçou Lola, que riu sem jeito.

- Não tinha dinheiro para te dar um presente à altura, então eu usei essas bobinhas para te agradar. - Ela brincou. - Mas sério, feliz aniversário.

- Obrigada, ratinha.

Zöe olhou para Isaac de cara fechada.

- Bom dia, Isaco. - Lhe lançou um olhar ácido. - O que o traz aqui? Resolveu festejar com a plebe?

- Estou só assegurando de que minha irmã vai sair daqui viva. - O ruivo rebateu, se sentando na areia, distante do grupo. - Não falem comigo.

Alana suspirou.

- Ignorem ele. Meu pai mandou ele vir junto só por segurança.

- Vamos começar a festa, então? - Lis gesticulou na direção de seus doces. Ela usava uma suéter aberto de seu pai por cima de seu maiô azul, se protegendo do vento. - Prove os macarons de avelã, Alana! Fiz especialmente para você.

- Vocês estão me mimando demais hoje! - A aniversariante se sentou na areia. - Estou adorando, não vou mentir.

- Que bom que está gostando. - Diana sorriu, colocando uma mão gentil no pescoço da amiga. - Aqui está seu presente.

Alana olhou para baixo - um belo colar feito à mão adornava seu peito. Uma concha lilás estava pendurada de forma natural em palha trançada, dando um ar simples ao acessório.

- Dee, é lindo! A cor é tão bonita… - A aniversariante abraçou a amiga.

- Eu mesma fiz! - A loira devolveu o abraço. - Como você diz, roxo…

- É a cor da realeza. - Isaac completou. - Ela vive falando disso. Chega a ser insuportável.

- Mas é verdade. - A irmã deu de ombros.

- Minha vez! - Zöe tirou uma caixinha de sua bolsa. - Aposto que você vai usar muito, já que vive anotando coisas pra lá e pra cá.

Uma vez entregue, Alana abriu a caixa fina e enfeitada. Dentro, se assentavam quatro canetas brilhantes em tons pastel. Na ponta de cada, estava colado um bonequinho de plástico transparente.

- É uma cor para cada uma de nós. - A amiga continuou. - Branco para Diana, preto para mim, rosa para Lola e azul para Lis. Assim você pode sempre se lembrar de nós e ainda por cima fazer algo útil, já que a tinta de suas canetas sempre acabam rápido.

- É o presente perfeito! - Alana sorriu, calorosa. - Vocês me conhecem tão bem que chega a ser inacreditável.

- Uma das vantagens de conviver com você há tanto tempo. - Lola riu.

O grupo de meninas passou cerca de meia hora comendo, conversando e aproveitando o clima cada vez mais quente, ainda que os ventos não parassem de soprar.

- Acho que já está ensolarado o suficiente para entrarmos no mar. - Diana se levantou e tirou sua canga azul, revelando um biquíni laranja cheio de babados, que acentuava as curvas de seu corpo saudável. - Mamãe vai chegar daqui a pouco.

- Se tivesse sua confiança, iria sem problemas. - Lis murmurou.

- Ah, nós precisamos entrar? - Lola resmungou, fazendo manha. - Eu odeio o mar…

- Só vamos ficar no raso... - Zöe puxou a amiga. - Vamos logo!

- Ainda bem que você veio. - Alana riu na direção do irmão. - Assim pode olhar nossas coisas.

- Fique à vontade, Isaac! - Diana sorriu calorosamente, apesar do olhar de asco do mais velho. - A comida da Lis é deliciosa.

- Pode comer se quiser, não ligamos… - A de cabelos curtos acenou com a cabeça.

- Sure. - Isaac respondeu de maneira seca.

Então já com as roupas de banho, as adolescentes foram em direção à beira do mar.

- Ali estão elas! - Uma voz familiar chamou a atenção das garotas assim que molharam os pés.

Rosalya e Leigh vinham andando pela areia. A namorada acenava de maneira alegre, vestida com uma maiô roxo decotado, enquanto o namorado estava totalmente coberto por uma camisa leve de estilo vitoriano, calças e botas. Apesar de estranhar, nenhuma das meninas comentou.

- Uau, olha o maiô dela! - Zöe arregalou os olhos.

- Não babe. - Lola zombou.

A morena deu uma cotovelada na menor.

- Ei, Rosa! - Alana sorriu, caminhando rápido até o casal. - Você veio!

- Não só vim como lhe trouxe uma lembrancinha. - Rosalya puxou de sua bolsa trançada um pacotinho brilhante. - Feliz aniversário!

- Ah, não precisava! - Ela espiou dentro do pacotinho, revelando belos brincos longos dourados. - Eles são lindos, obrigada! - Os colocou nas orelhas, um sorriso brilhante enfeitando o rosto.

- Por nada, eles ficaram lindos em você. - A de cabelos brancos pegou o namorado pelo braço e caminhou até mais perto da água, perto das outras colegas. - Então, não sei se além de Lola alguma de vocês conhece o Leigh; ele é meu namorado!

- Ah, o irmão do Lysandre! - Diana estendeu a mão, tirando seus tornozelos da água. - Prazer, sou Diana.

- O prazer é meu. - O moreno respondeu aceitando a mão da menor.

- Eu sou Alana Davies. - A aniversariante se apresentou e apontou para as outras três meninas que estavam um pouco mais atrás, na água. - Aquelas são Zöe, Lola e Lis. 

- Encantado. - Leigh sorriu de maneira tímida.

- Bem, vou me juntar às meninas. - Diana avisou. - Qualquer coisa, sintam-se à vontade para nos chamar.

- Tudo certo, vou só conversar mais um pouco com Rosa. - Alana acenou para a amiga, que foi até as três meninas na água.

- Alana, você não viu Lysandre por aí? - Rosa olhava ao seu redor. - Ele foi dar uma caminhada, mas não o encontramos mais.

- Lysandre veio com vocês? Acho que Diana vai gostar disso…

Os dois mais velhos se entreolharam e riram.

- É, acho que eles vão gostar de se encontrar. Lys-fofo não sai muito, por isso o forcei a vir.

Leigh riu nervoso com uma leve curva no cenho, como se também tivesse sido forçado.

- Ah, entendi... - Alana acenou a cabeça. - Tenho certeza que vamos encontrá-lo eventualmente.

A garota achou interessante todos esses colegas de sala no mesmo lugar. Assim ficaria mais fácil de se enturmar mais e comemorar bem a data. Suas melhores amigas no mundo, talvez Castiel, Leigh e Rosa, Lysandre…

Não era um pensamento de todo dia imaginar um garoto como Lysandre na praia - como Rosa disse, ele não tinha cara de que saía muito.

Lysandre… Lysandre na praia.

Alana arregalou os olhos em entendimento repentino.

A tatuagem!

- Está tudo bem? - Leigh perguntou, preocupado. - Você parece agitada.

- Não, não é nada de mais! - Alana balançou a cabeça, afastando os pensamentos mal-educados de sua mente.

- Confesse logo... - Rosalya abriu um sorriso malicioso. - Você está morrendo de vontade de ver o Lys-fofo sem camisa!

- O quê?! - A ruiva franziu o cenho. - Não, não era nisso que eu estava pensando…

E realmente não era. Bem, de certo jeito era, sim. Mas ao mesmo tempo, não era. Alana não tinha interesse algum no platinado, ela só queria matar logo essa curiosidade e ver a bendita tatuagem.

Leigh corou e riu, nervoso. Parecia que esse era seu modo padrão de agir perto de estranhos. Isso a lembrava um pouco de Lis e Lola, de certo jeito.

- Querida, não seja indiscreta.

- Estou só sendo honesta! - A garota deu de ombros. - Sei no que meninas da nossa idade pensam, ok?

Alana abriu um sorriso amarelo. A verdade é que ela não pensava com muita frequência naquilo. Para ser completamente honesta, a menina não conseguia lembrar de uma vez sequer nos últimos anos em que tinha pensado no assunto.

- Vamos dar um mergulho, Rosa? - Ela rapidamente mudou de assunto. - Ou quer comer? Lis fez doces deliciosos!

- Ah, eu adoraria! - Rosalya bateu palminhas de alegria.

- Cuidado, ela pode comer tudo se você der muita liberdade. - Leigh comentou, o que puxou gargalhadas de ambos os lados.

=/=

Diana se sentou na beirada da água, recuperando o fôlego. Às vezes brincar com Zöe era perigoso - apesar de não estarem nem ao nível de afundar os joelhos na água, todas as garotas estavam encharcadas. 

No momento atual, Lola tentava afundar a mais alta e falhava miseravelmente, enquanto Lis e Diana observavam, entretidas. A morena era como um muro perto da branquela franzina.

- Aquelas duas têm tanta energia… - Lis ofegou. - Eu tenho até medo de brincar com Zöe no mar, considerando meu tamanho.

- É verdade que às vezes ela pode ser bruta. - A loira riu, observando as amigas.

- Ela me lembra um cachorro. - A morena falou casualmente, desenhando na areia. - Sabe, lealdade incondicional, energia interminável…

Diana gargalhou.

- Espera só até ela ouvir isso…

- Não diga que falei nada! - A menor bateu de leve no ombro da amiga. 

O celular de Diana vibrou, interrompendo a conversa das duas.

- Mamãe chegou! - Ela se levantou, animada. - Vamos buscá-la? Ela está no quiosque perto das escadas.

- Vamos lá. - Lis acompanhou a amiga e tirou a areia das pernas. - Deixa eu avisar as meninas primeiro.

A morena foi até Lola e Zöe e explicou aonde estavam indo.

Diana olhou ao seu redor - não havia muitas pessoas na praia nessa época do ano. Alguns casais e famílias avulsas se banhavam no mar ou comiam peixe grelhado na areia.

- Tudo pronto. - A menor voltou.

- Vamos, então.

=/=

Lysandre só queria ir embora. Diferente da crença popular, ele não gostava nada da praia - não era nada inspirador para ele, só uma grande distração. O garoto não gostava da areia entre os dedos. Não gostava de se sentir exposto. Não gostava do cheiro exageradamente salgado do mar.

Sentado em um dos degraus finais do grande lance de escadas de madeira que levava ao calçadão, o jovem rabiscava de maneira impaciente em seu bloco de notas. O local era bem mais silencioso e calmo do que onde o irmão e a cunhada estavam.

Mas de repente essa calma foi interrompida por pares de chinelos barulhentos descendo atrás de si. Era de se esperar; afinal, ele estava sentado na escada. Toda a comoção chamou sua atenção sem querer.

O platinado olhou discretamente para trás; um par de mulheres que aparentavam estar com seus cinquenta anos olhava de um lado para o outro enquanto desciam, como se esperassem alguém. A menor tinha cabelos curtos e vestia um maiô próprio para surfe, enquanto a maior tinha cabelos espessos enrolados e era bem mais escura que a acompanhante. Diferente dela, a mulher não estava vestida para ficar muito tempo por lá. Ambas seguravam pranchas coloridas em tons vibrantes debaixo de seus braços.

Bem, não era nada de anormal. Eram só pessoas aproveitando um dia de praia como todas as outras. Lysandre voltou sua atenção para o bloquinho mais uma vez enquanto as mais velhas caminhavam na areia à sua frente.

Mas então algo realmente especial o desconcentrou novamente - um emaranhado de cabelos ondulados cor de creme se misturava e, ao mesmo tempo, se destacava frente aos grãos de areia do horizonte. Olhos turquesa e esmeralda brilhavam com alegria genuína e lábios rosados se curvavam ao longo das falas de maneira bela.

- Didi! - A mulher de cabelos curtos acenou.

Diana acenou de volta. O ato chamou a atenção do garoto para o resto do corpo da colega. Suas curvas eram bem definidas, mas não de modo provocante. A loira parecia madura, mas de maneira inocente e natural - pura, até.

Pela primeira vez em um longo tempo, Lysandre ficou sem palavras.

Ele viu a garota abraçar as duas mulheres.

Atrás dela, Lis observava a cena. Seus olhos encontraram os azuis da menor, que arqueou as sobrancelhas em surpresa.

- Aqui está sua prancha, querida. - A mulher mais alta falou, entregando sua prancha de surfe.

Qual é a relação de Diana com elas?

Logo a adolescente morena notificou a amiga da presença de Lys. As duas olharam em sua direção e sorriram.

O platinado levantou, saindo de seu estupor.

- O acaso é produtivo, não? - Diana riu, olhando do garoto para as mulheres. - É um prazer encontrar você por aqui, Lysandre.

- Hã… é. - Lysandre conseguiu soltar. - É uma surpresa agradável.

- Ah, então você é colega de classe da Diana? - A mulher de cabelos curtos sorriu, radiante. - Eu sou Margaret, essa é Clarisse.

- Somos as mães de Diana. - Clarisse estendeu a mão para o garoto. A mais velha tinha um aperto firme, mas caloroso. - Você deve ser Lysandre, certo?

- Diana fala bastante de você! - Margaret pegou a outra mão de Lysandre, o deixando dividido.

- Mamãe, deixe ele respirar. - Diana riu, separando o embolado de mãos.    

Lysandre e Lis a acompanharam, gargalhando, apesar do mais velho estar nervoso.

- Bem, já que vocês estão acomodadas, vou indo. - Clarisse deu um beijo na bochecha da esposa. - Se divirtam. Ah, e deem os parabéns para Alana por mim! Ela é uma boa garota.

- Sim, senhora! - A de cabelos curtos respondeu com um sorriso apaixonado enquanto a outra se afastava.

- Hoje é aniversário da Alana? - Lysandre perguntou, seu cenho levemente franzido.

- É, estamos dando uma festinha improvisada para ela mais à frente. - Lis explicou. - Acho que ela não vai ligar se você aparecer para lhe dar os parabéns, Lys.

- Quer nos acompanhar? - Diana sugeriu.

O platinado olhou entre as três mulheres. Não era seu plano ficar por muito tempo na praia, mas agora ele tinha um novo motivo para isso. 

- Claro, se não for muito incômodo... - Ele deu de ombros.

- Vamos para perto do mar, então! - Maggie deu o braço para a filha.

=/=

Lola e Zöe estavam deitadas na areia, ofegantes. Até a atleta tinha seus limites.

- Para quem não gosta de sair de casa, você se diverte bastante fazendo splish splash na água. - Zöe cutucou a mais velha. - Sua criançona!

- Calada... - Lola chiou, sem ar.

Os cabelos negros de Zöe estavam agora cacheados e cheios de areia - isso daria tanto trabalho quando ela voltasse para casa… 

A morena bufou e balançou a cabeça como um cachorro, espalhando água e areia pela pele branca de Lola.

- Ei! - A ruiva se sentou rápido e começou a esfregar o rosto. - Você quase que me afoga!

Zöe gargalhou. Antes que ela pudesse formular uma resposta irônica, um grande cão preto passou de maneira rápida pela água, latindo de forma intimidadora.

- Credo! - Lola pulou para trás, assustada. - Olha o tamanho dessa coisa!

- Ei, cachorrinho! - A outra menina começou a estalar os dedos, tranquila. - Cadê seu dono?

- “Cachorrinho”?! Ficou louca, é? Isso é do tamanho de um tanque!

Logo uma voz forte se fez ouvir distante.

- Dragon! 

Lola semicerrou os olhos, tentando identificar o dono do cachorro. Sua visão não parecia estar tão boa naquele dia.

- Ah, é o Castiel! - Zöe interrompeu os esforços da menor. - Ele veio, então.

- Acha que o cachorro é dele?

- Não acho, tenho certeza. - Ela riu. - Quem mais daria um nome desse pra um cachorro?

O de cabelos vermelhos se aproximou cada vez mais, quase correndo. Só usava uma bermuda preta e vermelha e levava em mãos um graveto grande e uma guia que balançava, seguindo o movimento do andar do menino.

Enfim, ele chegou perto das garotas. Vendo o dono, Dragon chacoalhou a cabeça e deu voltas no lugar, como se estivesse zoando com a cara dele.

- Cachorro malcriado. - O garoto rosnou para Dragon, se aproximando com a guia. - Não te posso soltar um minuto!

- Bem vindo à festa, cabeça de fósforo! - Zöe gargalhou. - Queimou muitas calorias?

- Você tem sorte dele ter gostado de vocês, senão eu mandava morder. - Castiel prendeu a guia na coleira do cachorro preto. - Geralmente ele se irrita facilmente quando chega perto de quem não conhece, então sintam-se especiais.

- Ele gostou da gente? - Lola arregalou os olhos cinzas. - Eu achei que ia me atropelar!

- Pare de ser dramática, o cachorro nem fez nada... - A mais alta expôs a amiga.

Castiel riu.

- Então, cadê as outras? - Ele se sentou ao lado das meninas na areia. - Achei que vocês andavam em bando.

Dragon dava voltas pela praia com seu movimento limitado. Apesar de ter uma aparência que muitos poderiam considerar ameaçadora, parecia um cachorro tranquilo.

- Alana foi pegar comida com Rosalya e Leigh. - Lola explicou, encolhida. Ela queria ficar o mais longe possível do cão. - Diana foi com Lis buscar a mãe dela.

- Vocês chamaram uma mãe para um aniversário? - Castiel caçoou. - O que é isso aqui, festa do chá?

- Para de ser chato! - Zöe deu um soquinho no ombro nu do amigo. - Maggie é super legal, você vai ver.

- Ah, obrigada, Zöe, querida!

Como se fosse combinado, Diana voltou com Lis e a mãe. Mas o que surpreendeu a todos foi a adição ao trio - Lysandre acompanhava de maneira tímida as garotas.

As meninas cumprimentaram a mulher mais velha e logo viraram sua atenção para o novo convidado.

- Lysandre? - Lola arqueou uma sobrancelha vermelha. - Alana também te chamou?

- Não seja mal educada. - Diana riu. - Nos encontramos quando fomos buscar a mamãe. - A loira olhou ao redor e avistou Castiel de cabeça baixa, encarando seu cachorro. - Ah, oi, Castiel!

- E aí? - Ele respondeu e sorriu para Margaret, sem jeito. Não era muito bom com pais em geral, a maioria não ia com a cara dele.

- Agora só falta a aniversariante para completar a festa. - Lis bateu palminhas no lugar. - Vou ir buscá-la!

- Não é melhor irmos todos juntos? - Zöe se levantou e limpou a areia de seu maiô preto. - Assim os meninos e Maggie podem comer.

- Parece uma boa ideia. - Diana se virou para a mãe. - Vamos até lá.

=/=

- Sabe, também sou libriana. - Rosalya comentou de boca cheia. - Faço dezoito daqui há seis dias.

- É mesmo? - Alana ofegou. - Devíamos fazer outra festa, então!

- Rosa não quer festa esse ano. - Leigh falou pela namorada, que explorava uma travessa de croissants. - Ela diz que virar adulto é deprimente, não motivo de comemoração.

- Ela está certa, sabia? - Isaac comentou, também comendo. - Ser adulto é um pé no saco. Nada muda para melhor.

- Isaac, você nem se formou ainda. - A irmã do garoto escarneceu. - Só porque tem dezoito não quer dizer que é adulto, você não tem responsabilidade nenhuma.

- Cala a boca! - Ele rebateu, tirando risos de Leigh e Rosa.

Mais a frente, um grupo de adolescentes chegou perto da área das toalhas, conversando e rindo.

- Alana, trouxemos convidados! - Zöe acenou. - E Maggie está aqui!

A ruiva olhou para a cena. Lysandre usava uma camisa bege entreaberta, enquanto Castiel estava sem camisa - seus braços eram finos e pareciam meio fracos. Ela ficou surpresa com a quebra de expectativas, já que esperava mais de um guitarrista.

Enquanto isso, não se via muito do corpo do mais alto, o que era frustrante, já que ela estava ansiosa para ver sua tatuagem.

- Olá, Alana. - Lys sorriu. - Feliz aniversário!

- É, feliz aniversário, princesa. - Castiel pegou um croissant, sem muita cerimônia.

- Sempre educado... - Zöe bufou, acompanhando o menino e pegando um doce.

- Obrigada, rapazes! - Alana riu e se levantou para cumprimentar a mãe de Diana. - Que bom que veio, Maggie!

- Feliz aniversário, linda! - A mais velha abraçou a mais nova. - Que ótima ideia fazer uma festa na praia, eu estava mesmo com vontade de pegar umas ondas.

- Que bom que gostou!

Os convidados se sentaram à areia e conversaram por horas, comendo doces e pratos salgados. Castiel parecia ter formado intimidade com os mini-hambúrgueres, enquanto a grande maioria das garotas preferia comer biscoitos ou pedaços do bolo.

Rosalya chamou Alana de lado e sorriu de maneira maldosa.

- Então, viu o Lys-fofo? 

- Como você é maldosa... - A ruiva revirou os olhos, rindo. - Eu estava tão ansiosa!

A platinada gargalhou.

- Ah, que decepção, não?

- Não é nada gentil rir da cara dos outros assim.

- Pelo menos a camisa estava aberta!

- Mas é o que está debaixo que me interessa! - Alana bufou, fazendo beicinho.

- O quê? - Rosa franziu o nariz. - Lysandre nem é tão musculoso assim…

- Eu não quero ver o corpo dele, Rosalya, eu quero ver a tatuagem!

- Aaah! - A outra exclamou em entendimento. - Você está interessada mesmo… Seria engraçado ver você tentando fazer ele tirar a camisa.

Alana ergueu as sobrancelhas. Rosalya tinha um lado malicioso que se escondia por baixo do rostinho bonito.

- Eu não sou doida a esse ponto… Eu acho.

- Alana, ei! - Lis tocou levemente no ombro da amiga. - Aquele não é o Nathaniel?

- Ei, é ele mesmo! - Rosalya olhou na direção do mar.

Alana ficou pálida na hora. Uma onda de culpa a tomou por não ter chamado o colega.

- Você o convidou, então? - A platinada olhou para Alana. - Ou seria isso o destino?

- Hã… Não, não consegui encontrar ele no final da aula na sexta, então...

Obviamente aquilo era uma mentira. Chamar Nathaniel sabendo que uma das amigas tinha basicamente envenenado sua irmã seria muito cínico da parte dela, além de arriscado. A garota só não queria ter que lidar com esse peso na consciência.

- Olá, meninas! - Nathaniel acenou, caminhando em direção à festa. Ele vestia uma bermuda branca com estampas florais em azul e seu cabelo parecia úmido. - Que surpresa ver todo mundo aqui.

- Oi, Nathaniel. - Lis acenou.

- Olá, Nath... - Alana sorriu sem jeito. - Estamos fazendo uma festinha, sabe… Desculpe não ter te convidado, é que não consegui te achar na sexta pra te dizer.

- É, hoje é aniversário da Alaninha aqui. - Rosa pegou a ruiva pelos ombros.

- Ah, parabéns! - O loiro sorriu. - Não levo a mal não ter recebido o convite, afinal nos encontramos de qualquer jeito. Que bom que saí com a Ambre hoje…

Lis arregalou os olhos e olhou para Alana, em pânico. A aniversariante engoliu em seco.

- Então a Ambre está aqui também? - Rosa suspirou, nada discreta.

- Zöe e Lola não vão gostar disso… - Lis disse para si mesma.

- É, Ambre está aqui também! - Uma voz bem familiar exclamou.

Ambre vestia um biquíni turquesa chique, mas isso não era o suficiente para embelezar seu caráter, infelizmente. A loira segurou o braço do irmão, possessiva, e olhou para Alana com o nariz franzido em desgosto.

A outra segurou a vontade esmagadora de revirar os olhos.

- Nós vamos colocar nossos pertences em um lugar mais afastado. - Nathaniel colocou uma mecha de seu cabelo curto atrás da orelha. - Acabamos de chegar, então não achamos um lugar ainda.

- Podem deixar suas coisas com meu irmão! - Alana ofereceu (contra seus melhores instintos). - Ele está olhando tudo. Além disso, lá tem comida, também.

Lis e Rosa a encararam de maneira engraçada. Ambre franziu os lábios como se tivesse uma opinião forte sobre aquilo, mas antes dela poder responder seu gêmeo abriu um sorriso.

- Muito obrigado!

O trio caminhou pouco até chegarem no conjunto de toalhas de praia. As coisas estavam bem animadas - Maggie demonstrava a Zöe como ficar em pé em cima de uma prancha, Lola e Castiel discutiam um assunto qualquer em relativa paz - os dois estarem de bom humor era uma dádiva dos céus -, Lys e Diana escreviam em seus cadernos e Isaac parecia ter odiado Leigh menos que os outros convidados, já que pareciam estar conversando. Sérios e de maneira discreta, mas conversavam.

Ao avistar Nath e Ambre chegando, Castiel e Lola reviraram os olhos, mas ficaram calados - o menino por respeito à mãe de Diana e a menina por pura culpa (mesmo que ela jamais fosse admitir).

Rosalya caminhou alegremente até Leigh e Lis se juntou a Zöe e Margaret enquanto Nathaniel foi colocar seus pertences na areia, deixando Ambre e Alana a sós.

A ruiva estava preparada para seguir em frente sem estresse desnecessário, mas um aperto em seu pulso direito a impediu.

- Escuta bem, ferrugem... - Ela rangeu os dentes. - Estou com o Nath para ficarmos juntos. Eu e meu irmão, somente! Então pare de gracinha e não nos atrapalhe. Fui clara?

Um dos olhos de Alana tremeu de maneira não intencional. Mais uma vez Ambre a botou contra a parede, mais uma vez ela queria que a garota se sentisse intimidada. 

E mais uma vez ela responderia de cima.

- Que bom que você melhorou desde sexta, Ambre. - Sorriu e colocou uma mão no ombro da loira, forçando intimidade. De certa maneira, o sentimento era sincero. Alana estava, de fato, aliviada pela outra ter melhorado, mesmo que não fosse por preocupação pessoal. - Espero que aproveite a festa!

Sem olhar para trás, a garota foi em direção aos amigos, deixando uma Ambre boquiaberta e frustrada no mesmo lugar.

=/=

Se olhar matasse, Ambre Carello seria uma mulher morta. 

Lola se sentia culpada pela travessura de sexta-feira, isso era um fato, mas isso não significava que gostava da mocreia de repente.

Depois de algum tempo, havia se formado uma roda na areia. Todos estavam interagindo bem, conversando e comendo. Apesar de ter dado um pouco de trabalho no início, agora Dragon lambia as mãos das pessoas e rodava o lugar em busca de algum guardanapo saboroso.

- Se continuar desse jeito, vai atravessar ela. - Diana deu uma leve cotovelada na de cabelos vermelhos. - Você devia pedir desculpas ao invés de ficar nessa amargura.

- Ficou louca? Se eu pedir desculpas, vou me entregar! - Lola sussurrou.

- Não estou pedindo para se entregar. Já que não pode pedir desculpas por ter colocado laxante na água dela, peça desculpas por rir num momento de vergonha da sua colega de sala…

A falsa ruiva suspirou.

- Vou pensar no seu caso.

O clima da festa estava, no geral, agradável. Era legal encontrar todos os colegas de classe fora da escola.

Alana não podia pedir por um aniversário melhor.