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História Passion and Pride - Capítulo 13



Notas do Autor


⚠️ no final do capítulo há fragmentos de violência doméstica/sexual que podem ser sensíveis para alguns leitores.

espero que gostem ♥️

Capítulo 13 - Capítulo 13


Sérgio entrou no quarto sentindo algo que jamais havia passado por seu coração antes.

A ira e a inveja. Ele estava com raiva de seu irmão por pedir Raquel em casamento, e ao mesmo tempo sentia inveja porque ele iria se casar com ela.

E Sérgio também queria casar-se com ela.

A combinação dos dois fatores era extremamente perigosa e o fato de que ele não sabia como dominar aqueles dois sentimentos, era mais perigoso ainda. Ele sentiu algumas lágrimas formarem-se em seus olhos e ele jamais pensou que o seu irmão seria tão rápido ao ponto de pedir a mão de Raquel em casamento bem na sua frente.

E o pior, ela havia dito sim. Ela havia aceitado, sem pensar duas vezes.

Ele esticou uma das mãos e empurrou o castiçal que estava em cima da escrivaninha no quarto.

O objeto era de vidro, então caiu no chão e se partiu em vários pedaços.

Agora ele entendia as poesias que costumava ler, e que relatavam sobre a fúria existente em se apaixonar.

Ele mirou o castiçal no chão e nem mesmo acreditou no que havia acabado de fazer. Ele não era um homem que se deixava levar pelo ódio, mas tudo o que ele sentia estava o levando ao limite.

Então, ele sentou-se na cadeira na frente da escrivaninha e pela primeira vez chorou por uma mulher, chorou por amor, porque não a teria e porque ela se casaria com o seu irmão e ele seria obrigado a vê-los juntos pelo resto da vida.

Havia muito tempo que ele não sentia nada tão forte e duvidava muito que já houvesse possuído aquele tipo de sentimento por uma mulher.

Raquel.

Ele soube que ela bagunçaria a sua vida desde a primeira vez que a viu.

Sérgio retirou a camisa do corpo e limpou as lágrimas em seu rosto com as mãos, ouvindo que alguém não parava de bater na porta de seu quarto.

Ele correu até a porta com a esperança de que fosse Raquel.

Ele ainda possuía a esperança que ela desistiria do casamento. E era irracional que ele quisesse que ela desistisse pois havia sido ele quem havia desistido de tudo.

Só que agora, que ele via tudo realmente acontecendo na sua frente, ele não queria o sentimento.

Mas era apenas o seu irmão na porta. Cortando qualquer esperança de que Raquel poderia ter mudado de ideia.

- O que quer aqui? - Ele perguntou com certa irritação, e Fabio não o deu resposta, apenas entrou no aposento e viu os vidros quebrados no chão.

- Você parece estar com raiva. - Fabio cruzou os braços na frente do corpo e fechou a porta atrás de si mesmo, fazendo Sérgio respirar fundo.

- Fabio, seria bem mais saudável se você pudesse sair daqui.

- Por que? Você sabia que isso iria acontecer. Você se voluntariou a sair da disputa.

- Mas você precisava ser tão... afobado? A pediu em casamento em questão de minutos. - Ele explicou com certa dificuldade e sem conseguir manter o olhar nos olhos de seu irmão. - Segundos, para ser exato.

Ele sempre sentia a sua insegurança aumentar quando estava perto de Fabio, e ali foi exatamente um desses momentos que ele detestava.

- E ela aceitou. Ela poderia ter dito não, mas aceitou. - O mais velho disse com certo deboche e Sérgio apenas respirou fundo.

Era a verdade. A última palavra havia sido dela.

- Sérgio, as coisas seguiram o curso que deveriam seguir depois que você desistisse. Você desistiu. Por que você está tão irritado comigo? Sempre soube que eu tinha a intenção de me casar com ela e você também tinha. Isso... era o planejado. - Ele disse aquilo sem nenhuma zombaria em sua voz e ele realmente não entendia a raiva repentina do irmão. - Quando saímos da França, prometemos que isso não seria algo entre nós. Prometemos não deixar uma mulher ou um reino estar entre nós.

- As coisas seguiram por um curso diferente. Já faz um tempo que ela está entre nós. - Ele desviou o olhar por alguns segundos, mas voltou a encarar o irmão rapidamente. - Sempre houve competição entre nós dois. Mas as coisas saíram um pouco do controle desde que chegamos no castelo, você tem estado muito mais ambicioso e...

- Curso diferente? Não saiu como o seu planejado com aquela coisa de assalto e tudo mais? Sérgio...

- Eu não planejei aquele assalto. - Sérgio disse sério. Ele não estava alterado, mas precisava defender a sua própria integridade.

- Quase todos acham que sim. Inclusive a Raquel. É por isso?

- Não. Não é por isso... - Ele virou-se de costas, sem conseguir olhar para o próprio irmão e Fabio franziu a testa olhando para as costas dele.

O mais velho viu exatamente as pequenas marcas de unhas que Alicia havia visto ao ter ido ali mais cedo. Não era nada chamativo ou estranho, mas era notável se fosse bem observado.

E era perceptível serem marcas de sexo.

- Estava transando com ela? - Fabio perguntou de forma calma, apesar de que não era isso o que ele sentia.

Por dentro, ele estava se corroendo de ciúmes.

Sérgio lembrou-se das marcas vermelhas em suas costas e arregalou os olhos, voltando a virar-se para o irmão. Ele nunca pensou que as marcas que Raquel havia deixado em suas costas seriam tão visíveis, no momento que estava com ela, nem doía nada, ele apenas sentiu a dor no banho.

E era um bom tipo de dor, o recordava como havia sido bom estar com ela.

- Hum... - Ele abaixou um pouco a cabeça, sem saber exatamente o que dizer.

Ele não era o tipo de homem que saía dizendo para outro cavalheiro o que havia feito ou deixado de fazer com uma mulher.

- Estava ou não estava? - Fabio insistiu na pergunta, querendo forçar uma resposta.

- Isso faz alguma diferença?

- Eu não sei. Estava transando com ela? Só preciso que você admita porque as marcas em suas costas entregam muito bem o que você esteve fazendo. - Ele ironizou sorrindo de lado e Sérgio deu-se por vencido.

- Sim. Eu estava dormindo com ela.

- Quantas vezes?

- Algumas.

- Então é por isso que você está com raiva? Dormiu algumas vezes com ela e se iludiu achando que ela iria casar com você? - Ele perguntou franzindo a testa e Sérgio respirou fundo.

Não havia zombaria na voz de Fabio, mas havia um ciúme explícito e principalmente havia ego ferido.

Afinal, Raquel jamais havia cedido a qualquer uma de suas investidas, que foram muitas durante as semanas que esteve ali.

- Talvez. - Admitiu ele, derrotado.

A maior perda já havia acontecido, Sérgio já não se importava com o seu orgulho.

- Sério, Sérgio? Você nem deve saber o que fazer com uma mulher daquelas. - Ele brincou, e realmente não sabia dos sentimentos do irmão.

- Talvez. - Ele deu de ombros. - Mas você pode sair do meu quarto?

- Sérgio. Eu ainda sou o seu irmão. Talvez durante esse tempo nós tenhamos deixado as coisas seguirem um caminho complicado... e eu admito que perdemos o controle, mas...

- Eu sei, Fabio. Ainda somos irmãos, mas tem coisas que realmente não dá para relevar. No caso, você pedindo a mulher que... - Ele queria dizer: a mulher que me apaixonei, mas não poderia. - A mulher que eu estava dormindo, em casamento.

- Você saiu da competição, Sérgio. - Ele disse sem pestanejar. - E eu fiquei com o reino e a mulher.

- Eu sei, eu já aceitei... eu só... - Ele respirou fundo.

- Sérgio... - O mais velho refletiu um pouco. - Você está apaixonado? - Sérgio afastou o olhar no mesmo segundo, ele não iria responder aquilo. - Sim, você está. Por isso a sua raiva. Você criou sentimentos por ela... a Raquel não é apenas um reino para você.

- Não. Ela não é. E nunca foi. Ela é Raquel, ela é uma mulher que tem sentimentos como qualquer outra, ela pode ser a rainha da Espanha, mas antes de tudo ela é uma mulher.

- Não pode estar apaixonado pela esposa do seu irmão.

- Ela ainda não é sua esposa.

- Mas será. E você terá que aceitar, pois é a decisão dela.

- Eu já entendi, Fabio. Eu já entendi que ela quer se casar com você e não comigo. Eu respeito a escolha dela.

- Tudo bem. O recado foi compreendido. Eu vou sair de seus aposentos...

- Por favor... - Ele apontou para a porta com uma das mãos.

- Acha que ela tem sentimentos por você também? - Fabio perguntou após abrir metade da porta, virado para o corredor. - Se for recíproco, as coisas se complicam um pouco.

- Eu não acho que ela tenha. Pode ficar tranquilo. - Sérgio respondeu com certa confiança no que dizia e Fabio saiu de seus aposentos, batendo a porta com força.

[...]

Na manhã seguinte, o sútil pedido de casamento feito por Fabio já havia surtido efeito em todo o castelo, a corte inteira sabia e comentava sobre o ocorrido, que finalmente a rainha da Espanha havia escolhido um marido e que iriam se casar em breve.

Oh céus, era tudo o que se comentava em todo o norte da Espanha e era incrível como as notícias se espalhavam rápido ali.

Apesar de tudo, a noiva não parecia muito contente.

A sala de estar estava repleta de damas da corte e de tecidos e fitas e coisas que mulheres adoravam escolher. Estavam reunidas porque um casamento iria acontecer, o casamento da rainha, e era necessário que todos os preparativos fossem perfeitos.

- Qual cor será o vestido, majestade? - Mônica perguntou com curiosidade. - Já se decidiu?

- E a decoração? - Paula inquiriu do outro lado. 

- Vocês já marcaram a data?

Alicia observava as mulheres da corte bombardearem Raquel com perguntas sobre o casamento e apenas observava de longe tentando não transparecer a sua percepção.

Quando as mulheres se afastaram, perdendo-se em laços de fita e tecidos enviados pelo alfaiate para a escolha da rainha, Alicia resolveu se aproximar, alcançando um tecido dourado com alguns bordados de cor branca e andando até Raquel.

Ela sentou ao seu lado no sofá e Raquel estava tão perdida em seus próprios pensamentos que nem mesmo percebeu.

- Você não gostou dos tecidos? - Alicia estendeu o tecido que tinha em mãos e Raquel desceu o olhar, mas voltou a olhar para a ruiva em seguida. - Ou das fitas?

- São todos belíssimos. - Ela roçou os dedos sobre o tecido e suspirou. - Este dourado é o meu preferido, mas eu já tenho um vestido desse mesmo tecido. Eu o usei na noite que eu baguncei tudo. - Ela refletiu consigo mesma, mas Alicia percebeu do que ela falava.

- Na noite que você fez um ménage com os meus irmãos?

- Milady? - Raquel arregalou os olhos e fitou a sala ao seu redor, por sua sorte ninguém estava prestando atenção.

- Não se preocupe, eu não irei contar para ninguém e ninguém ouviu isso. Mas eu e o Andrés sabemos o que vocês fizeram. - Ela sorriu levemente maliciosa e Raquel sorriu um pouco envergonhada.

- É bom com dois homens? - A ruiva perguntou com certa curiosidade e Raquel se permitiu sorrir, aliviando-se um pouco de toda a confusão ao redor dela.

- É sim, eu não lembro muito bem, mas não tenho nenhuma lembrança ruim, então... O único problema é quando... você desenvolve sentimentos por um deles e pior ainda, mexe com os sentimentos dos dois. Eu me perdi demais achando que possuía poder sobre coisas que estão fora de meu alcance. E em relação ao sexo, eu prefiro só com o Sérgio...

- Eu tenho observado tudo ao nosso redor e gostaria de saber como a senhora está, verdadeiramente...

- Hum, estou quase casada. - Ela sorriu um pouco tímida. - Creio que daqui a alguns dias eu serei a sua cunhada.

- Eu sei. Mas... para ser sincera, eu nunca achei que você fosse realmente se casar com o Fabio. Não achei que você fosse escolher o Fabio.

- Por que não? Ele é um bom cavalheiro.

- Por causa do jeito que você e o Sérgio se olhavam. Por causa do jeito que vocês se olharam ontem. Você olhou para ele quando o Fabio a pediu em casamento e em seguida ele saiu da mesa como se houvesse sido atingido por uma flecha.

- Alicia é bem complicado. Ele armou um assalto...

- Você realmente ainda acredita nessa história? - Raquel desviou o olhar, ela já não sabia o que pensar sobre tudo.

- Um pouco, sim. Mas eu já não sei mais. Eu já não sei se aceitei me casar com o Fabio porque queria...

- Magoar o Sérgio? - A loira prendeu o lábio entre os dentes e assentiu. - Você não acha que foi uma atitude um pouco extrema? - A ruiva repreendeu como se não estivesse falando com a rainha da Espanha e Raquel desviou o olhar.

- Sim, foi uma atitude extrema. Mas eu preciso encontrar um marido e se não for o Sérgio, tem que ser o Fabio. E ponto. - Ela revirou os olhos. - Isso não é mais discutível... A igreja já me deu prazos para me decidir, eu só tenho alguns dias para me resolver e... - Ela iria continuar a sentença, mas Alicia a interrompeu.

- Se o Sérgio for inocente com aquela coisa do assalto, você o escolheria?

- Sem pensar duas vezes.

- E por que você não segue o seu coração?

- Eu não sei lidar com isso, Alicia. É a primeira vez que... que eu me sinto assim por um homem. É a primeira vez que eu... me apaixono. - Ela desviou o olhar novamente e dessa vez para cima, para atrás de Alicia.

A ruiva virou-se para trás, curiosa em saber o que havia chamado a atenção da rainha. Sérgio estava parado no final da sala, ele parecia apreensivo com algo.

- Majestade, posso ter um segundo com a senhora? - Sérgio perguntou e ela assentiu levantando do sofá, Alicia estreitou os olhos, sorrindo por perceber que ela nem havia hesitado antes de ir até ele.

- Deseja algo, milorde? - Ela perguntou ao se aproximar e ele curvou-se um pouco, a cumprimentando adequadamente.

- Será que podemos conversar... em particular? - Ele olhou ao redor, se certificando de que ninguém, além de Alicia, estava prestando atenção nos dois.

- Eu não sei se isso seria adequado, eu estou noiva... - Ela comentou e aquelas palavras doeram. Como ele nunca imaginou que pudessem doer.

- Um lugar aberto, majestade. De preferência no jardim... não estou a convidando para ir aos meus aposentos.

- Oh... é claro. - Ela assentiu com o rosto corando um pouco por causa de sua frase, e os dois começaram a caminhar para fora do castelo.

Eles foram o caminho inteiro em silêncio e ao chegarem no jardim, Raquel parou de caminhar para virar-se para ele e o olhar nos olhos. Sérgio possuía uma expressão curiosa e ao mesmo tempo confusa em seu rosto, ele juntou as mãos uma na outra e as colocou atrás do corpo.

- Eu quero falar sobre a minha ida de volta para a França. Eu sei que há um protocolo a ser seguido e eu realmente não tenho mais ninguém para falar sobre isso, então...

- Você não pode ir embora agora. Não estritamente agora, se for embora nesse momento em que eu estou prometida ao seu irmão, as pessoas irão deduzir que... você está com raiva por ter perdido o reino e a minha honra fica comprometida. Vão assumir que houve um caso entre nós dois.

- Era isso o que eu pensava, por isso vim discutir com a senhora. Discutir o que deveria seguir, eu não me importo com o que irão pensar de mim, mas me importo com o que vão pensar da senhora.

Cada vez que ele repetia a palavra “senhora” ela o sentia se distanciando dela e não era de forma física.

- Espere pelo menos uns dois dias se não quiser ficar para o casamento. - Sérgio engoliu em seco ao ouvir a palavra casamento. - São apenas dois dias. Não vai te matar. - Ela mordeu o lábio inferior de forma nervosa.

- Está feliz por se casar com ele?

- Ah, Sérgio... sério? - Ela revirou os olhos, descruzando as mãos que estavam a frente de seu corpo. Ela estava torcendo para que ele não fizesse perguntas como aquela, porque ela realmente não sabia como deveria responder. - Eu estou. Estou feliz por finalmente sair dessa confusão. Eu apenas escolhi...

- O caminho mais fácil? - Ele perguntou um pouco mais perto dela e Raquel desceu o olhar para os lábios dele, era uma atitude que ela havia desenvolvido involuntariamente.

Ele começava a falar e olhos dela desciam diretamente para os lábios dele.

- Sim. - Ela voltou a o olhar nos olhos. - Na verdade, você escolheu... não fui eu. - Ela passou os dedos por seus próprios cabelos, prendendo uma pequena mecha atrás da orelha.

- Você escolheu também.

- Você escolheu quando mentiu para mim. - Ela retrucou cansada. - E quando simplesmente decidiu ir embora como um foragido.

- Eu não menti para você. Eu fui sincero o tempo inteiro. - Respondeu ele, em um tom de voz sério e se aproximando cada vez mais dela.

E os dois nem perceberam quando já estavam perto demais.

- Mas eu não vim aqui apenas falar sobre isso. Eu irei embora daqui a dois dias, de acordo com o protocolo, então talvez esta seja a última vez que nós nos veremos. - A sentença a assustou e a possibilidade de nunca mais o ver a deixou devastada. - Então, eu... - Ele desceu um pouco o olhar, e fitou o chão, até ter a coragem de a olhar nos olhos dela novamente.

A timidez dele a encantava, apesar de ela saber que não era um sentimento fácil de lidar. Então, ela segurou a mão dele, o fazendo olhar para ela, tentando manter o ambiente confortável.

- Você pode me contar o que quer que seja. - Ela acariciou os dedos dele e ele desceu o olhar para o gesto, ele havia feito a mesma coisa quando ela confessou ter pendências de seu passado.

E aquela conexão era intensa, pois eles entendiam as inseguranças um do outro. Eles sabiam que elas estavam ali, mas sempre necessitavam mostrar um ao outro que elas não precisavam existir entre os dois.

- Eu nunca irei esquecê-la. - Ele tocou o quadril dela levemente, roçando os dedos por cima do tecido do vestido, aproximando um pouco o rosto do dela e consequentemente os lábios, mas sem a beijar. - Eu nunca me apaixonei antes. - Ele assumiu fechando um pouco os olhos. - E eu nem tenho mais idade para isso, porque eu já tenho muitos anos, mas você é o meu primeiro amor. - Ela engoliu em seco ao ouvir aquilo. - Eu irei me lembrar de cada beijo, de cada toque, de todas as vezes que estávamos em uma cama e eu ardia em chamas por você. Eu vou sempre me lembrar não da rainha, mas da Raquel. - Ele soltou a mão dela, e levantou a sua própria, roçando os dedos sobre a bochecha dela em uma carícia leve.

- Você não está mentindo para mim, está? - Ela perguntou imponente, mas com a voz baixa, sussurrada, com os olhos subindo e descendo por não saber para onde deveria olhar.

- Por que eu mentiria para você? Você já irá se casar com outro homem. - Ele respirou fundo e aproximou-se ainda mais dela.

Raquel sentiu o corpo inteiro arrepiar quando ele a acariciou nas costas, com as pontas dos dedos, na parte que o vestido inocentemente descobria.

- Eu ainda te considero a mulher mais bonita que eu já conheci. E eu não digo apenas por beleza física... Você irá sempre habitar os meus sonhos, Raquel. Eu não consigo parar de pensar em você por nenhum segundo do meu dia e duvido muito que um dia conseguirei me livrar desse sentimento. - Ele se afastou, logo após dizer aquilo. - Eu espero que você seja feliz com ele. Eu espero que você seja feliz sozinha... E o que quer que te atormenta, eu espero que você consiga esquecer.

- Sérgio... - Ela tentou argumentar, totalmente enfeitiçada pelo que ele falava, sentindo um frio na barriga que nunca havia sentido da mesma forma. - Você está apaixonado.

- Estou. Eu estou ardendo de paixão por você. E não estava em meus planos. - Ele segurou a mão dela e a suspendeu até a altura de seus lábios, beijando o torço por cima da luva branca. - Seja feliz. - Ele disse por último e saiu, ela ainda chamou o seu nome cerca de duas vezes, mas ele não deu atenção e ela estava tão desnorteada por tudo que apenas o deixou ir.

Ela apenas o deixou ir, sabendo que todas as lembranças com ele, a perseguiriam também.

[...]

A noite chegou e o dia parecia estar passando tão rápido que Raquel mal tinha controle do que estava acontecendo. Era escolha de tecidos, de comidas, datas para o casamento e principalmente declarações de amor de outro homem.

Declarações de amor vindas de um homem que ela não iria se casar. Pior ainda, do irmão de seu futuro marido.

Porém, o que realmente a atormentava, era o fato de que ela sentia o mesmo. Tudo o que Sérgio havia dito, era um espelho do que ela sentia.

Ela se sentia queimar de tanta paixão por ele. E ela jamais havia sentido algo como aquilo, por isso ela tinha medo do que sentia, pois era tudo novo demais.

Era novo para os dois, e eles não sabiam como lidar com aquele turbilhão de sensações.

Para Sérgio, que viveu a vida inteira trancado dentro de bibliotecas e para Raquel também, que esteve presa em um casamento por mais de vinte anos com um homem que nunca amou.

Raquel estava tão magoada e perturbada, que de repente estava trancada em um quarto com Fabio, sentada no colo dele e ele beijava o seu pescoço, tentando abrir o espartilho, e ela não estava fazendo nenhum esforço para aquilo acontecer.

- E se... esperarmos o casamento. - Ela o empurrou, um pouco ofegante, mas ele nem a escutou de antemão, então ela o empurrou novamente. - Fabio, é sério. Vamos esperar o nosso casamento para fazermos.

- Eu não entendo. Nós já fizemos isso antes. - Ele a olhou um pouco confuso, mas sem impor nada.

- Eu sei. Mas eu não estou no momento para isso... - Ela tentou dizer, mas ele apenas mantinha o olhar em seus seios apertados pelo espartilho branco. - Você pode olhar em meus olhos? - Ela levantou o queixo dele com o indicador. - Os meus olhos ficam bem aqui. - Ela apontou para o próprio rosto e ele sorriu.

- Perdão. A senhora é bonita demais, me deixa desnorteado... - Ele mordeu o lábio inferior e voltou a beijar o pescoço dela.

- Fabio... - Ela franziu a testa, incomodada com a situação. - Milorde...

- Em alguns dias serei o seu esposo... não há problema se fizermos isso. E... se você não está no clima para transar... podemos apenas nos beijar. Somos noivos... - Ele entrelaçou os dedos com os dela. - Em breve marido e mulher.

- Eu sei, mas...

- O que foi? Está com dúvidas...? - Ele indagou com cuidado.

- Não... - Ela acariciou os cabelos dele, percebendo que não era a mesma coisa quando acariciava os cabelos de Sérgio. Joder, nem mesmo era parecido. - Eu só queria pensar um pouco...

Por que ela não parava de pensar em Sérgio?

- Pode pensar enquanto me beija... - Ele aproximou os lábios dos dela, e ela deixou-se ser beijada, mesmo sem corresponder.

O que ela estava fazendo? Estava indo se casar com um homem que ela não a amava, que não estava apaixonada e que naquele momento nem mesmo o desejava.

- Você não parece a mesma daquela noite aqui no seu quarto, você possuía mais vontade de me beijar quando eu era um desconhecido. - Ele acariciou a bochecha dela com o dedo polegar.

- Hoje não é um dia bom. - Ela abaixou o olhar levemente.

- Você quer conversar? Nós podemos conversar se você quiser. - Ele passou um dos braços pelo quadril dela. - Pessoas casadas dividem problemas e se vamos nos casar...

- Você não parece muito a fim de conversar... - Ela sorriu um pouco, sentindo a ereção dele pressionar a coxa dela.

- Eu posso ignorar isso... - Ele lambeu o lábio inferior. - E apenas prestar atenção em você. - Ele a olhou e parecia sincero, então ela levantou de seu colo, tomando uma decisão impensada.

- Eu vou beber um pouco de vinho. - Ela andou até a pequena mesa que estava em seu quarto e encheu uma taça com o vinho que estava dentro de uma garrafa larga de vidro.

Se iria se casar com ele, então teria de se acostumar a transar com ele.  

Em uma dinastia ninguém se casava por amor, então a decisão correta era se acostumar.

Ele a olhava com curiosidade e ela apenas bebia do vinho, voltando a se aproximar dele quando terminou de beber todo o líquido da taça. Ela encheu a taça novamente e Fabio estranhou um pouco, mas não disse nada, porém arregalou os olhos quando ela bebeu o vinho completamente, como se fosse um copo de água.

Ela desejava estar bêbada para pelo menos sentir um pouco de desejo, ou esquecer que Sérgio existia.

Ela sorriu levemente, evitando pensar em Sérgio e sentou no colo de Fabio de frente, com as pernas abertas.

Raquel passou a mão por sua barba por fazer e ele a beijou na boca, sentindo o gosto de vinho e quase sem acreditar que iria se casar com uma mulher que o fazia sentir tanto desejo. Ele a derrubou na cama, e a loira riu um pouco por conta do movimento inesperado. Então, ele a beijou pousando o corpo por cima do dela.

Ele passou as duas mãos pelas coxas dela e foi subindo por todo o corpo, até que chegasse em seus braços e ele os segurou para cima pelos pulsos dela, os prendendo com as duas mãos.

Foi um movimento involuntário, a maioria das mulheres com quem ele havia transado gostavam daquilo, então talvez ela gostasse também. Fora o que ele pensou.

Mas o que aconteceu foi o contrário, o corpo dele era pesado acima do dela e a sensação de não poder mover os braços ou sair dali quando quisesse, a sufocou, pois uma lembrança foi despertada.

Uma lembrança perturbadora.

- Fabio... - Ela gemeu sem forças para se retirar dali e ele achou que era um gemido de prazer.

- Sim, meu amor...

- Me solte, me solte agora... - Ele desviou o olhar para o dela e a soltou na mesma hora, percebendo que ela estava pedindo aquilo com certa agonia, como se não pudesse respirar.

- Eu a machuquei? - Ele franziu a testa e ela negou no mesmo segundo.

Já fazia um tempo que aquelas memórias não eram acionadas em seu cotidiano, mas a forma com que ele levantou os pulsos dela, mesmo sem intenção de imobilizá-la, a relembrou Alberto.

E em questão de segundos, já não era mais Fabio acima dela, e sim o ex-marido dela. Por alguns segundos, ela viu Alberto, mesmo que ela soubesse que aquilo não era culpa de Fabio.

- Não... mas saia, por favor. - Ela pediu e ele levantou, sentando-se na cama. Ele não entendia a reação dela, Raquel estava sentada na cama e engolindo em seco como se a qualquer momento fosse entrar em colapso.

- Majestade... - Ele estendeu a mão para a tocar e ela se afastou, colocando as duas mãos na frente do próprio corpo.

- Você pode sair do meu quarto...?

- Por quê?

- Por favor... - Ela pediu séria, mas estava implorando para que ele saísse e que parasse de a relembrar Alberto.

Ela nem mesmo conseguia olhar nos olhos dele, pois via a imagem de seu antigo marido.

- Tudo bem. - Ele assentiu e ela abaixou o olhar. - Se precisar...

- Eu não irei, saia daqui, por favor.

Fabio saiu do quarto sem indagar mais nada e ela deitou na cama, não conseguia nem mesmo chorar. O coração dela doeu quando a lembrança da noite em que a morte de Alberto aconteceu invadiu a sua mente.

- O que está fazendo em meus aposentos, milorde? - Ela perguntou cobrindo-se com os cobertores de forma ainda mais aconchegante.

De forma a afastá-lo.

- É a minha esposa, posso entrar no seu quarto quando eu bem entender, por isso temos uma porta de ligação. - Ele apontou para a porta com um olhar de deboche como se aquilo fosse óbvio e Raquel fosse estúpida.

- Não foi isso que eu quis dizer, apenas quis saber o que você queria. - Ela se encolheu ainda mais debaixo dos cobertores.

Ela sabia o que ele queria.

- O que eu quero? Eu só entro em seu quarto para uma única coisa, Raquel.

- Eu não estou com vontade. - Ela respondeu, torcendo para que ele saísse de seus aposentos.

Que ele fosse embora, que ele fosse embora, que ele fosse embora...

- E quando você está?

- Acho que se a sua esposa não tem vontade de fazer sexo com você, algo de errado você deve ter feito, não é, Alberto? - Ela virou-se para o outro lado, com intenção de que ele se retirasse dali, mas Alberto apenas andou até ela e a puxou pelo braço.

Em seguida ele puxou os cobertores de cima dela.

- Não... - Ela colocou os dois braços na frente do corpo, arrastando-se para trás no colchão. - Não vai me obrigar a isso, hoje... hoje não. - Ela levantou da cama e ele a seguiu, a segurando pelos dois braços.  - Alberto... - Ela o empurrou e conseguiu que ele fosse um pouco para trás, mas ele acabou voltando.

- Você é minha esposa, tem que estar disposta para mim quando eu quiser.

- Não é assim que funciona. - Ela tentou se soltar, mas foi um esforço completamente inútil, ele era umas cinco vezes mais forte. - Eu sou uma mulher e preciso ter vontade para fazer isso também.

- Não quer transar comigo, por quê? Você tem outro? - Ela revirou os olhos no mesmo segundo, sem acreditar que ele realmente havia feito aquela pergunta.

- É um absurdo você me perguntar isso, depois de mais de vinte anos que eu venho sendo fiel. Só tive você desde os meus dezessete anos, me machuca quando você me pergunta esse tipo de coisa. Eu sou fiel, mesmo sendo casada com um homem como você. - Ela assumiu com desdém e apenas sentiu o tapa pesado em sua bochecha.

Ele não pensava duas vezes antes de a atingir com a mão.

Geralmente não era no rosto, pois ele possuía medo que as pessoas vissem.

- Como eu posso ter vontade de me deitar com um homem que me bate, Alberto?

- Se estivesse transando comigo, eu não teria que te bater. - Ela limpou a lágrima que caía de seu olho e tentou se soltar dele.

Era incrível como ele ainda a culpava por ter sido agredida.

Mas ele não a deixou se soltar dele, apenas a puxou um pouco mais contra seu corpo e a jogou na cama, com toda a força que possuía.

Aquilo acontecia quase todas as noites e quando ele deitou o corpo por cima do dela, Raquel respirou fundo.

Ela não podia aceitar ser abusada por mais uma noite.

- Por que não procura uma das suas prostitutas? Você tem tantas... - Ela o empurrou, mas ele não a dava atenção, apenas subia a saia da camisola dela.

E as mãos grossas dele, passando por sua pele, eram para ela a pior sensação existente no mundo.

- Eu quero um herdeiro.

- Nós não iremos ter herdeiros, será que você ainda não entendeu?

- Bom, nenhuma das minhas meretrizes é a rainha da Espanha. Não é a mesma coisa, sabe? - Ele segurou o queixo dela, forçando um beijo na boca. - Fica quietinha, e eu não te machuco. Todo mundo sai feliz, hum?

Raquel foi invadida pelo ódio, o asco, a fúria e o desespero. Não poderia o ter dentro dela novamente, forçando e forçando... ela não queria ter que tomar banho sentindo seu corpo inteiro doer por conta de uma relação forçada.

Ela não queria ter que passar mais vinte anos com ele. Ter que passar mais anos apanhando e sendo violada quando ele bem entendesse.

Ele prendeu os dois braços dela para cima pelos pulsos com uma força desnecessária e ela teria que usar luvas para cobrir as marcas por pelo menos uns cinco dias.

Então, ela resolveu que naquela noite não iria chorar, não iria gritar e muito menos implorar que ele a soltasse.

- Tudo bem... - Ela sussurrou de forma compassiva. - Mas... podemos fazer diferente? - Ela empurrou os ombros dele com cuidado e ele a olhou confuso levando a cabeça para trás. - Me deixa ficar por cima de você? - Ela forçou um sorriso e naquele momento ela nem se reconhecia mais.

- Por quê? - Indagou ele, totalmente surpreso. Já havia muito tempo que os dois não faziam sexo.

Pois ela nunca consentia, e ele sempre a violentava.

- Vamos relembrar o começo do nosso casamento... quando éramos felizes... - Ela passou as mãos pelo peito dele, começando a abrir os botões da camisa que ele usava. - Você gostava da visão. - Ela sorriu, mordendo o lábio inferior e tentando ao máximo parecer convincente.

- Tudo bem. - Ele saiu de cima dela, interessado e excitado pelo que ela possivelmente faria.

- Deite-se na cama. - Ela pediu e quando ele o fez, ela retirou a camisola, ela ainda usava o espartilho e a anágua.

No fundo ela sabia que ele invadiria o seu quarto no meio da noite, e quanto mais roupas, mais tempo ela ganhava.

Mais difícil seria o acesso dele ao seu corpo. Era simplesmente a atitude de uma mulher desesperada. Dormir de espartilho era uma atitude de uma mulher desesperada.

E a partir daquela noite, ela nunca mais dormiria de espartilho.

E ela se preparou para o caso de ele invadir o seu quarto e torceu para que ele não aparecesse, porque se o fizesse, a tornaria uma assassina.

Raquel sentou-se sobre os quadris de Alberto e sorriu para ele. Aparentemente ela parecia um anjo, mas já não possuía a inocência de um.

- Fecha os olhos? - Ela pediu.

- Você está muito estranha. - Ele estreitou os olhos para ela. - O que você está querendo fazer, Raquel? - Ele tentou se mover para cima, mas ela colocou as duas mãos no peito dele, de forma leve, apenas para que ele voltasse a deitar.

- É uma coisa que você vai gostar... - Ela sorriu novamente e se esfregou sobre ele. - Eu apenas quero que seja bom para nós dois.

Ela realmente precisava parecer convincente.

- Vamos, Alberto. Feche os seus olhos... O que eu poderia fazer? Você é muito mais forte. - Ela insistiu novamente e dessa vez ele a obedeceu.

Raquel moveu os quadris sobre ele mais uma vez e afrouxou a fita que prendia a anágua, desprendendo uma adaga que estava presa no interior de sua coxa esquerda.

Ela não possuía nada a perder. E aquela era a única opção de deter o rei da Espanha.

Então, ela não pensou, apenas a abriu e antes que Alberto pudesse se assustar com o barulho, ela a enfiou no estômago dele. Era uma adaga longa de cabo prateado e de ponta fina, feita especificamente para matar.

Ele abriu os olhos e engoliu em seco, arregalando os olhos e tentando segurar os braços dela, mas era impossível. Ela puxou a adaga novamente e a enfiou no fim da barriga dele.

Alberto gritou de dor e ela engoliu em seco, vendo o sangue começar a se espalhar em suas mãos. 

- Essas são por você me agredir e violentar... - Ela a puxou e a enfiou em sua barriga novamente.

- Raquel... - Ele clamou em um sussurro, tentando apaziguá-la, mas não conseguia, ela havia ganhado uma força quase que descomunal.

- Está machucando? - Ela perguntou em um tom sarcástico.

O seu ódio acumulado por anos, estava sendo mostrado ali.

- Essa aqui... - Ela empurrou a adaga com força quase atravessando o cabo em sua carne e ele gritou mais uma vez. -  É por você fazer com que eu me sinta menos mulher porque não posso ter filhos. Eu sou uma mulher como qualquer outra... Eu apenas não posso conceber crianças e eu não sou uma aberração por conta disso. Eu não mereço ser violentada por causa disso... nenhuma mulher merece... - Ela chorou, sem nenhum controle das lágrimas que já se misturavam com o sangue que se acumulava nos braços dela e em seu espartilho branco. - Eu era uma menina quando me casei com você. Uma menina...

- Raquel... - Ele chamou sem força com os olhos revirando de dor e o sangue se espalhando pela cama.

- Cala a boca, filho da puta, que eu ainda não terminei. - Ela abaixou para sussurrar no ouvido dele e enfiar a adaga mais uma vez, dessa vez no peito dele. - Você destruiu a minha vida inteira, e agora eu estou encerrando a sua.

Foi a última coisa que ela disse e o último movimento que fez. Foi o movimento fatal.

Raquel olhou para a quantidade de sangue que possuía em suas mãos e vestes, para Alberto na cama totalmente sem vida e suspirou, ela se assustou com o que fez, mas ela precisava fazer aquilo por sua própria sobrevivência.

Ela havia matado. Ela havia assassinado o seu marido e não sentia culpa por isso.

Ela finalmente era uma viúva. Ela finalmente estava livre.



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