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História Passion and Pride - Capítulo 8



Notas do Autor


boa leitura, espero que gostem ♡♡

Capítulo 8 - Capítulo 8


Sérgio estava se afeiçoando a uma estranha.

Era uma estranha bonita e cruelmente interessante, mas não deixava de ser uma desconhecida e ele jamais se havia deixado entregar ao desconhecido.

Ele gostava de saber exatamente em que território estava pisando, em que tipo de jardim estava se perdendo, ele até planejava as vestes que usaria no dia seguinte, mas não estava sendo assim em relação a Raquel.

Era impossível planejar algo estando com ela, e no fundo ele gostava da sensação.

- Eu agradeço a gentileza, mas gostaria de pagar. - A loira avisou ao homem que estava a oferecendo frutas de forma gratuita, por ela ser a rainha.

Os dois estavam em uma vila de camponeses e Raquel estava andando por ela naturalmente como se não possuísse o título mais alto da nobreza espanhola.

Aquilo fora um pouco surpreendente para ele, quando a conheceu, apenas viu nela mais uma monarca egocêntrica que estaria mais preocupada com tons de cortinas e vestidos e pedras preciosas em sua coroa, enquanto a parte desfavorecida da sociedade passava fome.

- Não gostaria de experimentar aquele doce que prometeu da última vez que veio aqui, majestade? - Uma senhora robusta e de aparência cansada, se aproximou dos dois, curvando-se educadamente. Ela era uma loira bem mais clara que Raquel e aparentava estar na casa dos sessenta anos.

- Ah, mas é claro... - Ela assentiu com um sorriso sincero. - Você vem, milorde? - Ela perguntou, juntando o xale com mais força ao redor do corpo.

- Está com frio? - Ele indagou enquanto a seguia, quase esticando a mão para tocar o rosto dela, no qual as bochechas estavam vermelhas por conta da temperatura, e também pelo o que estavam fazendo anteriormente.

- Um pouco. Aqui ainda é mais frio que o Norte, e eu não escolhi um modelo de vestido adequado. Talvez eu devesse ter optado por algo com mangas mais longas... - Ela explicou e ele desceu o olhar para os ombros e os braços dela, nos quais os finos pelos estavam eriçados, demonstrando um claro arrepio.

- Quer usar o meu casaco? - Ele subiu o olhar para os ombros dela.

- Não seria apropriado. As pessoas falariam... - Ela comentou e os dois andaram devagar até uma banca de madeira. - Seria praticamente colocar um anel de casamento em meu dedo.

- Aqui, majestade. - A mesma mulher a entregou um pequeno prato com um tipo de doce rosado e uma pequena colherzinha, desviando totalmente a atenção dos dois.

- Muito obrigada, Dona Clarissa. Tenho certeza que irei achar gracioso. - Ela levou a pequena colher para o doce, juntando uma pequena quantidade e em seguida levou a colher a boca.

Sérgio desceu o olhar para o que ela fazia, e até quando ela não tentava seduzi-lo, ela naturalmente o conseguia, pois ele não conseguia retirar os olhos dos movimentos que ela fazia lentamente com a língua na colher.

- Algum problema, milorde? Quer um pouco de doce? - Ela ofereceu, mas ele negou com a cabeça.

Céus, por que a desejava tanto? Havia estado com ela há pouquíssimo tempo na carruagem, porém já a queria novamente.

Isso era... totalmente novo para ele.

- Não, está tudo bem, majestade. - Ele sorriu, limpando a garganta.

- Devemos ir até o arquiduque, se demorarmos mais chegaremos no castelo de madrugada. - Ela sorriu para ele e Sérgio correspondeu como um bobo. - Muito obrigada por tudo, Dona Clarissa. O doce é maravilhoso e encomendarei uma parte para o castelo... - Sorriu para a senhora que se curvou em agradecimento mais uma vez.

- É um prazer servi-la, querida. - A mulher disse de forma singela, sem segundas intenções.

Raquel tinha a simpatia da população, apesar de ser uma rainha com fama de crueldade. Ela era temida e ao mesmo tempo amada, coisa que nem todos os governantes eram capazes de ter.

- Onde mora o arquiduque? - Sérgio perguntou após se distanciarem alguns passos da vila.

- Perto daqui e... você tem que me esperar do lado de fora do escritório dele, não podemos falar de assuntos estatais na sua frente. - Ela disse de forma seca e ele assentiu, percebendo que ela já havia voltado aos seus tons de frieza constante.

- Eu posso esperar aqui na vila?

Ela franziu a testa, colocando uma mecha de cabelo para atrás da orelha.

- Gostou das pessoas?

- São simpáticas, mas não é isso. Você disse que eu precisava sair um pouco, então passear pela vila pode ser um bom começo. - Ele se justificou, mas na verdade ele só queria ficar um pouco sozinho para pensar sobre o que sentia, sobre o que estava fazendo, precisava pensar sobre ela.

Se ficasse mais tempo perto dela, tinha grandes chances de explodir com os próprios pensamentos. Jamais havia sentido algo tão complexo como aquilo que estava começando a se formar em seu peito.

- Tem certeza, vossa graça? - Ele estreitou um pouco os olhos, desde que havia chegado ali, ela não havia reconhecido que ele também possuía um título.

- Sim. Eu posso te encontrar na casa dele... Serão apenas alguns minutos que irei passar aqui fora.

- Tudo bem, milorde. - Ela assentiu, mas por algum motivo não queria deixá-lo ir. - Tenha cuidado.

- Tenha cuidado também, vossa majestade.

Sérgio fez uma reverência e seguiu pela estrada de terra, sumindo pelas muitas pessoas que estavam ali.

Ele se distanciou ainda movendo a cabeça para a olhar, mas não voltou, pois precisava daquele tempo longe dela.

[...]

No escritório do arquiduque, Raquel pensava que poderia ter certeza que ainda sentia Sérgio entre as suas pernas quando saiu da carruagem, e ela teve a confirmação quando se sentou no sofá da sala e quase deixou um suspiro sair de sua garganta.

- Está tudo bem, majestade? - O arquiduque indagou depois de alguns minutos de silêncio e ela assentiu.

- Sim, tudo ótimo, vossa graça. - Ela sorriu forçadamente, não gostava do homem e ele sabia disso. O único motivo pelo qual ainda mantinham contato, eram os seus títulos na realeza.

- Sou seu ex-cunhado, você poderia me chamar perfeitamente de Philip.

- Eu gosto de deixar as coisas claras aqui, vossa graça. E como não temos mais nenhum laço desde a morte do Alberto, o senhor é apenas vossa graça. - Ela mexeu no colar que trazia no pescoço de forma quase nervosa, não gostava de encontrar-se com ele.

O homem trazia a mesma áurea de seu falecido marido e não era à toa que eram irmãos.

- Aceita uma bebida? Um uísque? Sei que a senhora aprecia...

- No momento, eu apenas gostaria que você fosse direto ao assunto. - Ela levantou-se do sofá, passando as mãos pela saia e se aproximando um pouco do arquiduque que estava sentado na beirada da mesa do escritório. - Irei liberar os portugueses para voltarem ao seu país de origem, e gostaria que o senhor colaborasse.

- Não sem a minha permissão. Lembre-se- se que eu sou o membro da corte responsável por essa parte do país e eles foram encontrados nas terras que estão em minhas posses.

- E o que pretende, vossa graça? Condena-los à morte?

- Hum, é uma boa ideia se contarmos com os fato de que eles podem ser espiões da Inglaterra.

- Provavelmente, o senhor está exagerando, milorde. Eu creio que sejam apenas viajantes das grandes navegações que se perderam no caminho, eles não precisam de condenação à morte. - Ela interviu de forma calma, mas a sua paciência estava por um fio de ser esgotada.

- O que foi, Raquel? Criou compaixão no seu coraçãozinho de pedra? É uma pena que não a teve com o meu irmão, não é mesmo?

- O que está querendo insinuar, milorde?

- Você sabe muito bem o que quero dizer, vossa majestade. - Ele a olhou de cima para baixo, assim como Alberto fazia. - Estou falando da sua falta de misericórdia.

A lembrança a fez ter náuseas.

- Acha que eu não sei das suas artimanhas, majestade?

- Que artimanhas uma mulher como eu poderia ter, vossa graça? - Ela fingiu certa inocência e Philip a olhou com raiva.

- Para de me chamar de vossa graça.

Ele segurou um dos braços dela e Raquel desceu o olhar para o gesto, então ele a soltou, começando a caminhar pelo escritório. Ela seguia os movimentos com o olhar, mas preferiu não dizer nada.

Philip foi até a alta estante de madeira na parede e retirou de lá uma garrafa de uísque.

- Aceita, vossa majestade?

- Não, milorde. Eu vim aqui falar de assuntos estatais. Assinar um acordo e ir embora para o norte da Espanha, de onde eu nem deveria ter saído. - Raquel disse de forma imponente, já se arrependendo de ter ido até ali, ela conhecia Philip e não sabia porque insistia em conflitos com ele.

- Já escolheu um marido, vossa majestade? A Espanha precisa de um rei. - Ele encheu um copo largo de vidro até a metade e o levou até os lábios. Raquel revirou os olhos e sorriu de forma cínica.

- É incrível o fato de que estamos discutindo o destino de viajantes e o senhor traz esse assunto para o enredo.

- Eu poderia ter a desposado depois da morte do meu irmão. - Ele sorriu e ela gargalhou ao ouvir aquilo.

- Você, Philip? - Ela desceu o olhar pelo homem.

Ele era um pouco mais velho e pelo que ela se lembrava, ele deveria estar na casa dos cinquenta anos e era um homem bonito, diferentemente de Alberto.

Mas assim como o irmão, não possuía caráter nenhum e o mais importante para os dois era um título alto da nobreza para ostentar poder, joias e mulheres.

- Você seria tão amada se as pessoas soubessem que você é uma viúva... peculiar?

- Peculiar? - Ela levantou a sobrancelha ao indagar aquilo.

- Uma viúva negra, vossa majestade. Uma assassina sedutora...

- No fundo as pessoas desconfiam e é isso que as fazem temer.

- Eu não temo.

- Porque é um tolo. - Ela respondeu sorrindo. Philip estava tentando a amedrontar, mas já havia um bom tempo que ela não se amedrontava por homens.

- Acha que eu sou tolo, majestade?

- Se não fosse já teria me dado o papel para assinar a ida dos portugueses. - O encarou séria e ele voltou a apertar o braço dela com força.

- Pode fingir pureza para a sociedade, mas eu sei bem a meretriz que és, vossa majestade.

Raquel não esperou nenhum segundo, cerrou um dos punhos e acertou o nariz do arquiduque, ele arregalou os olhos a olhando e ela o acertou de novo.

- Eu sou a rainha da Espanha. - Ela o socou novamente, ele estava tão aturdido que nem conseguia tomar uma atitude perante uma mulher que possuía três quartos da altura dele.

- Não vai me chamar de prostituta e achar que irei ficar calada. - O socou mais uma vez e ele caiu no chão, sem acreditar na mão pesada que ela possuía para bater.

A porta se abriu e ela se preparou para discursar a sua inocência, mas era Sérgio atrás da porta.

- Eu cheguei há alguns minutos e eu ouvi barulhos estranhos. Perdão, intervir... - Ele desceu o olhar para o arquiduque no chão e com uma das mãos por cima do nariz. - Isso...

- Eu acho que ela quebrou o meu nariz... - O arquiduque limpou um pouco de sangue em seu rosto com um lenço.

- Me chamou de prostituta, não é assim que se trata a realeza da Espanha. E já faz um tempo que eu quero te socar no rosto, milorde. - Ela respondeu quando o homem se levantou do chão com um olhar irritado. Ela o havia socado exatamente como Andrés a havia ensinado, com os anéis diretamente nos ossos do nariz dele, havia uma enorme chance de ela realmente ter quebrado um dos ossos de seu rosto. - Então, já está tudo resolvido. Portugueses em Lisboa, e eu no Norte da Espanha. Estou certa, vossa graça? - Ela perguntou de forma sarcástica.

- Você ainda irá pagar por isso, Raquel. - Ele respondeu com ódio, mas ela sabia que eram apenas blefes.

- Passar bem, milorde. - Ela provocou e olhou para Sérgio que estava a ponto de um colapso. Ele não sabia se ria ou se assustava, então a surpresa tomou conta de seu semblante. - Vamos, lorde Marquina?

- Mas é claro. - Ele abriu um pouco mais a porta e assim que ela saiu, ele a seguiu pelo corredor da casa do arquiduque.

Raquel sacudiu a mão de dor, assim que chegaram do lado de fora da casa.

- Ele tinha um nariz duro. - Ela sorriu e ele riu também, trocando olhares engraçados com ela e sem conseguir se controlar. - O que foi? - A loira perguntou quando começaram a caminhar. - Pode zombar.

- Você socou um homem.

- Eles merecem às vezes. - Ela respondeu e desviou os olhos para os dele. Os dois riram novamente e depois abaixaram a cabeça de forma quase tímida. - Se você precisar de alguém para te defender...

- Eu não preciso de ninguém para me defender. - Ela sorriu de forma engraçada e o olhou de cima para a baixo. - Sou bem maior que você.

- O arquiduque também era.

- Não deixaria você me bater.

- Eu espero não ter motivos para te bater. Mas você quer me dar um motivo? - Ela perguntou e ele segurou o seu pulso, estendendo a mão dela. - Posso segurar as suas duas mãos, usando apenas uma das minhas. - Ele segurou o outro pulso dela, prendendo as duas mãos de Raquel.

Ela não se sentiu ameaçada com o toque, havia apenas uma inocente brincadeira no que ele fazia.

- Você é insuportável. - Ela revirou os olhos e se soltou dele, enquanto os dois riam juntos.

- Você me surpreendeu mais uma vez esta manhã. - Ele começou dizendo enquanto os dois caminhavam em linha reta. - Achei que iria te defender quando entrei no escritório, mas... você já havia se defendido sozinha.

- Aprendi a me defender sozinha, milorde. É necessário para uma mulher no mundo em que estamos.

- Eu imagino...

- Não imagina, não. - Ela negou com a cabeça. - As mulheres são ensinadas a esperar por cavalheiros que irão protegê-las, mas nunca foi assim comigo... - Ela parou de falar quando ele a interrompeu, pousando a mão em seu abdômen para que ela cessasse a caminhada. - Está tudo...

- Shhh... - Ele pediu silêncio e ela olhou para a frente, alguns homens haviam abordado a sua carruagem a alguns metros de distância dali.

- Está brincando...

- Silêncio. - Ele a puxou pela cintura, a trazendo para um beco no meio da Vila.

- O meu dia começou bem, mas está entrando em uma linha de declínio que só piora. - Ela sussurrou próxima a ele e os dois esticaram-se um pouco para ver o que estava acontecendo.

Eram cinco assaltantes, eles renderam os três lacaios e os dois guardas, levando a carruagem. Um dos homens olhou para trás e Raquel empurrou Sérgio de volta para o beco.

- Se nos virem, nos matam. Eles odeiam a nobreza. - Ela sussurrou mais uma vez, e ele sabia que não era a hora de pensar no que ele estava pensando, mas só conseguia concentrar a sua mente no fato que de que o seu corpo estava colado no dela e que a loira possuía as duas mãos em seus ombros, enquanto ele mantinha as dele em seu quadril.

Quem olhasse de longe pensaria que a qualquer momento os dois iriam se beijar.

- Como faremos para voltarmos para o castelo?

- Voando, milorde. - Ela disse com zombaria e ele revirou os olhos.

- É, vai nos levar na sua vassoura? - Ele perguntou de forma sarcástica e ela o bateu no braço.

- Insolente. - Ela o empurrou para longe enquanto ria. - Não sou feia como uma bruxa.

- Não acho que uma bruxa seja feia. Na verdade, acho que sejam bonitas demais ou como fariam para seduzir?

- Bom ponto, Milorde. Touché. - Ela respondeu e ele sorriu, mas os dois esticaram-se novamente para ver o que ainda acontecia.

- Os lacaios devem ter ido nos procurar no lado errado. - Ela apontou para a estrada vazia. - Porém um dos cavalos fora deixado para trás. - A loira se distanciou dele e seguiu para a estrada, e ele a seguiu sem pestanejar.

- Como sabe que é um cavalo do castelo? - Ele indagou olhando para o cavalo branco que possuía um pelo brilhante.

- É o meu favorito. - Ela passou a mão pelo animal. - Se chama Sunset. - Ela sorriu para Sérgio. - Podemos seguir com ele até parte do caminho, mas irá demorar um pouco mais. - Ela mordeu o lábio e passou os dedos pelos cabelos.

No movimento que ela fez, o xale que era de um tecido leve caiu com a força do vento, indo direto para a lama.

- Não... - Ela revirou os olhos. - Não é possível.

- Quer o meu casaco agora? - Sérgio perguntou e ela olhou ao redor, retirando a tiara que trazia na cabeça.

- Se eu não for a rainha da Espanha, não preciso assumir compromisso por usar o seu casaco. - Ele assentiu sorrindo e abriu os botões do casaco, o retirando e o colocando por cima dos ombros dela em seguida.

Sérgio afastou os cabelos dela e por trás de seu corpo, fechou o primeiro botão.

Raquel suspirou, engolindo em seco e percebendo o quanto gostava do toque dele.

Ela guardou a tiara no bolso do casaco e ambos ficaram em silêncio por alguns segundos e Raquel desviou os olhos para Sunset.

- Me ajuda a subir? - Ela perguntou estendendo uma das mãos para ele que assentiu.

Com uma das mãos ele segurou a mão dela e com a outra a cintura, a ajudando a subir no cavalo.

- Você não vem? - Ela segurou as rédeas do animal, concentrando o olhar em Sérgio.

- Sim, não seja apressada. - Ele moveu o corpo, subindo no cavalo, estando atrás dela e Raquel riu quando ele fez isso, pois o mau humor parecia querer começar a tomar o seu corpo.

- Quer tomar as rédeas? - A loira mordeu o lábio inferior, olhando-o de lado.

- Eu posso? Pensei que só tomaria as rédeas com você em um único lugar. - Ela riu, o sentindo passar os braços ao redor de seu quadril.

- Aqui são as rédeas do cavalo, milorde. - Ela o bateu no estômago com o cotovelo, então ele a apertou mais em seus braços.

- Sim, majestade. Vou tomar as rédeas. - Ele puxou as rédeas do cavalo e as balançou de leve para que ele começasse a andar.

O rosto dele estava entre os cabelos dela e a barba dele roçava em seu pescoço, a causando arrepios que transpassavam por seu corpo inteiro, como uma corrente elétrica. Sérgio prendeu-a entre os seus braços de uma maneira forte e ela pousou os dela sobre os dele, acariciando o seu antebraço com uma das mãos.

Hum, seria uma longa viagem.

- Um perfeito cavalheiro... - Ela comentou enquanto os dois passavam pelos campos esverdeados do Sul da Espanha.

- Vai ser insuportável durante toda a viagem? - Ele resmungou de forma mal humorada.

- Não era isso que você estava dizendo na carruagem.

- Claro, havia um pouco de distância mínima entre nossos corpos e aqui não temos. Nós estamos... as suas costas em meu peito.

Ele terminou a frase quase sem nenhum sentido e Raquel riu.

- E o seu cabelo incomoda um pouco o meu rosto, porém tem um cheiro muito bom.

- É?

- Pare de zombar. Eu ainda preferia a distância que havia...

Era uma grande mentira, ele não preferia a distância.

- Havia uma distância? Em qual parte? A que você estava em cima de meu corpo ou a que você estava dentro de mim? - Ela perguntou sarcástica e os dois estavam no ponto de começar uma briga ali em cima do cavalo e bem no meio da situação em que estavam.

- Deus, majestade... - Ele sussurrou e ela moveu um pouco o pescoço para o olhar. - Você não tem limites com essa sua língua...

- É melhor ir se acostumando. - Raquel sussurrou de volta e quando o seu olhar encontrou o dele, Sérgio quase suspirou.

Não era correta a forma que ela o fazia se sentir, não era nem mesmo justa.

[...]

Quando o sol começou a desaparecer e o escuro tomar conta do céu, Raquel segurou o braço de Sérgio levantando um pouco a própria cabeça que estava apoiada no corpo do homem.

- Algum problema, majestade?

- Podemos parar um pouco? Está escuro...

- Mas se for assim, iremos chegar ainda mais tarde no castelo.

- Eu sei, mas as estradas são perigosas durante a noite e eu estou com sede. - Ela virou-se um pouco para ele, com o rosto bem perto do dele.

- Sede? - Ele perguntou, também estava cansado e com sede.

- Sim. Vamos parar...

- No meio da floresta? - Ele indagou perto de seu ouvido, e Raquel encostou um pouco mais o corpo no dele.

No fundo, Sérgio estava adorando ter ela apoiada nele com tanta confiança, mesmo que ele não gostasse de andar à cavalo.

- Não, milorde. Quando chegarmos perto de algum tipo de civilização. - Ela esticou um pouco o rosto para o olhar, mas desviou quando ele desceu os olhos para a boca dela. - Você deveria me abraçar mais... ainda estou com frio. - Ela reclamou e Sérgio sorriu um pouco, apertando ainda mais os braços ao redor dela.

- Assim está suficiente, majestade? - Ele sussurrou em seu ouvido e ela assentiu, o fazendo sorrir ainda mais.

Eles já haviam viajado por algumas horas, exatamente naquela posição. E Raquel adorava o sentimento de ter os braços de Sérgio ao redor de seu corpo.

Ela se sentia protegida como nunca havia se sentido nos braços de um homem. Foi a primeira vez que ela sentiu tanta confiança ao ponto de sentir sono, e deixar-se dominar por ele.

Os dois continuaram por alguns segundos, em um sério silêncio, sentindo o vento ir contra seus rostos e cabelos.

Quando se aproximaram de outra vila, Raquel segurou o braço dele novamente.

- Vamos parar naquela taberna? E beber algo? - Ela apontou para um lugar que possuía um clima sombrio, apesar de ter várias luzes acesas.

- Uma taberna não é um local adequado para uma dama. - Ele sussurrou de forma séria.

- Mas você já atestou que não sou uma dama comum, não é, milorde? - Ela se esticou novamente para o olhar nos olhos.

 - Mesmo assim, eu acho que não seja uma boa ideia nós pararmos em uma taberna. Você é mulher e é rainha da Espanha...

- Mas eu estou acompanhada por você, não estou?

- Oh, não era você a senhorita posso-me-defender-sozinha? - Ele perguntou de forma rápida e a fazendo revirar os olhos.

- E eu posso me defender sozinha. - Ela o atingiu com o cotovelo novamente e ele apertou os braços ao redor dela. - Mas perante a uma sociedade, preciso ser defendida por um nobre cavalheiro. - Ela ironizou de forma irritante e Sérgio manteve o equilíbrio para não revirar os olhos.

- Tudo bem, tudo bem. Paramos na taberna. - Sérgio puxou as rédeas novamente e parou com o cavalo na frente do local.

Ele desceu e estendeu a mão para Raquel, que a segurou no mesmo segundo, usando de sua ajuda para descer do animal.

- Tem certeza que quer entrar em uma taberna?

- Tenho, Sérgio. - Ela levantou a barra do vestido com as duas mãos, evitando pisar no tecido.

O lorde apenas assentiu, dobrou o braço e o ofereceu a ela. Raquel sorriu, enlaçando o braço no dele.

Assim que os dois entraram na taberna, os olhares dos homens logo se direcionaram aos dois. Além de Raquel só havia no máximo duas mulheres ali e provavelmente cortesãs. Os homens eram em sua maioria robustos e barbudos, usando roupas simples de camponeses.

O contraste que ele e Raquel apresentavam era assustador.

- Certeza? - Ele ainda perguntou no ouvido dela, apenas para ter a confirmação.

- Sim. - Ela o arrastou até o balcão de uma madeira suja, que nem um dos dois teve a coragem de apoiar os braços ou as mãos.

- Eu gostaria de um uísque. - Raquel vociferou assim que se aproximou do balcão, onde um homem de meia idade estava atrás.

Ele a olhou de cima a baixo e ela ajeitou o casaco no corpo de forma a se cobrir mais. Ela já estava muito coberta, mas o olhar dele, a fez sentir algo estranho.

Alguns homens, a maioria deles, possuía aquela capacidade horrenda de incomodar uma dama apenas com o olhar.

- Não temos uísque aqui, senhora. - Ele respondeu com um sorriso, revelando dentes amarelos e a fazendo recuar novamente.

- E o que vocês têm? - A rainha inquiriu de forma imponente.

- Cerveja, madame.

- Então, eu quero dois copos. - Ela sorriu dando de ombros.

- Eu não quero cerveja e nenhuma outra bebida. - Sérgio interviu.

- Não seja bobo, acompanhe a madame. - O homem disse e por algum motivo, Sérgio sentiu malícia em seu tom de voz.

O desconhecido virou-se de costas e passou mais tempo do que o esperado para encher dois copos de cerveja. Quando ele voltou a se virar, tinha um sorriso mais estranho ainda.

Sérgio estava sentindo o perigo, mas Raquel parecia despreocupada demais.

- A primeira bebida é por conta da casa. - O homem olhou mais uma vez para Raquel.

- Tudo bem. - Ela respondeu apenas e segurou os dois copos nas mãos, se direcionando para uma mesa junto com Sérgio.

O lugar era pequeno, mas possuía uma boa quantidade de pequenas mesas e uma enorme no centro onde vários homens bebiam e conversavam de forma exageradamente alta.

- Algum problema, milorde? - Ela indagou ao perceber que ele possuía um semblante levemente preocupado.

- Sim, é só que... os homens parecem olhar demais para você. Talvez pensem que a senhora é uma cortesã.

- Se pensam isso, veem que estou acompanhada, então sou a sua cortesã. - Ela levou o corpo de cerveja para a boca, olhando maliciosamente para ele.

- Não brinque com isso. A senhora é uma lady e não uma cortesã.

- Cortesãs também são mulheres.

- Eu sei bem disso e não foi o que eu quis dizer, majestade. Só que não quero que pensem que a senhora é uma, ser uma meretriz no meio de tantos homens pode ser perigoso para a sua segurança.

- Já esteve com cortesãs, vossa graça? - Ela mordeu o lábio inferior, curiosa em saber um pouco mais sobre ele.

- O quê? - Ele enrubesceu totalmente, distanciando-se dela e a loira gargalhou.

A reação dela fora estranha, ela havia bebido pouco demais para estar tão alegre.

Sérgio desceu o olhar para a própria bebida e resolveu por não a tocar, apenas a levava até a boca, mas logo a abaixava e derramava o conteúdo atrás de sua cadeira quando percebia o olhar de algum homem sobre ele.

- Sim ou não? - Ela insistiu, mesmo que já soubesse a resposta por Alicia.

- Hum, uma única vez quando eu era muito jovem. - Sérgio assumiu com certo custo, às vezes só queria apagar aquele episódio de sua vida.

- E... a experiência foi boa? - Sérgio abaixou um pouco a cabeça, sem saber exatamente o que deveria responder. - Não existe resposta errada. - O tranquilizou, esticando a mão e a colocando sobre a dele por cima da mesa.

- Bom, não foi. - Ele assumiu. - Eu cheguei a pensar que não gostava de... - Ele limpou a garganta.

- De sexo?

- É. Fora tudo muito rápido e mecânico e...

- Por que foi até lá?

- O meu pai queria que eu e o meu irmão provássemos a nossa masculinidade, a honra...

- Transando com uma meretriz? - Ela riu negando com a cabeça.

- A visão dos homens sobre masculinidade é um pouco deturpada.

- Enquanto nós mulheres provamos a nossa honra nos mantendo castas até o matrimônio. A balança é bem desequilibrada. - Ela riu mais uma vez e ele acabou rindo também.

- É, a balança é totalmente desequilibrada.

- Você quer dançar? - Ela levantou da cadeira e ele olhou para o copo dela, agora totalmente vazio.

Raquel retirou o casaco que usava por cima dos ombros e o jogou no chão, deixando restar apenas o vestido.

- Dançar? - Ele perguntou confuso e ela o puxou pela mão.

- Sim... - Ela gritou.

- Espera um minuto.

- Vou sem você. - Ela soltou a mão dele e foi para o meio de alguns homens que dançavam ao som de um violino mal tocado.

Alguns eram escoceses, e tocavam a gaita de foles, instrumento da Escócia.

Sérgio andou até os copos e aproximou o nariz do que ele havia usado, não possuía nenhum cheiro além de cerveja, mas deveria ter alguma coisa ali. Porém, quando aproximou o nariz do copo que Raquel havia bebido, o cheiro de ópio era fortíssimo.

Ópio. Raquel estava drogada.

O dono do bar havia a drogado para se aproveitar dela, e com certeza iria o fazer dormir com alguma substância para que ele não pudesse defende-la.

Quando Sérgio voltou o olhar para cima, Raquel já dançava no meio dos homens e ele respirou fundo porque seria difícil de retirá-la dali.

Ela já possuía um gênio difícil sóbria, imagina como seria sob o efeito de drogas.

Nenhum deles a estava desrespeitando, mas pareciam fascinados com uma mulher tão bonita. Sérgio se amaldiçoou pois também estava fascinado com o jeito que ela dançava, era contagiante e mais nada ali presente chamava tanta atenção.

Era como se ela brilhasse em meio ao caos, ou talvez ela fosse o próprio caos.

Ele só voltou a se preocupar quando ela subiu na maior mesa do bar e começou a dançar em cima dela.

Ela levantava a parte baixa do vestido, para não pisar na barra e o penteado que ela possuía pela manhã já não existia e seus cabelos eram apenas madeixas loiras ao lado de seu corpo e atrás dele.

Os homens presentes se aglomeraram ao redor dela e até repetiam os movimentos que ela fazia. Ela movia os pés, os quadris e quando ela girou na mesa, ele pensou que ela poderia cair, então se aproximou também, passando por cima de todos os brutamontes da taberna.

- Raquel...  - Ele começou dizendo e ela desceu o olhar para ele.

- Olhe para mim, posso dançar... - Ela respondeu com um sorriso gigantesco, como uma criança faria.

- Sim, você pode. - Um dos homens respondeu com entusiasmo.

- Por que não desce? - Ele perguntou com certa irritação.

- Porque ela não quer. - Outro homem interviu, mas ele não deu ouvidos.

- Desce daí, Raquel. É perigoso... - Ele estendeu a mão para que ela segurasse, mas Raquel apenas ignorou.

- Não quero agora. - Ela insistiu e voltou a dançar, tendo seus movimentos acompanhados por todos os homens que já a olhavam com certo desejo e aquilo amedrontou Sérgio.

Ela girou o corpo novamente e dessa vez caiu, como ele havia imaginado, porém ela caiu exatamente nos braços dele que foi rápido o suficiente para a segurar.

- Você é forte. - Ela pendurou os dois braços ao redor do pescoço dele. - E tem um reflexo rápido.

- E você é teimosa. - Ele andou alguns passos com ela em seus braços e ela sorriu, beijando um lado de seu pescoço.

Quando ia chegando a porta, o dono da taberna segurou o seu ombro, o fazendo virar-se para ele. Raquel desceu de seus braços, parando atrás do corpo dele, ela estava levemente tonta e as pessoas pareciam se multiplicar em sua visão.

- O quê? - Ele perguntou olhando para o desconhecido.

- Não pode levá-la assim. - Ele sorriu maliciosamente. - Quem é você?

- Parente. Agora me dê licença. - Ele segurou a cintura de Raquel, mas o homem impediu que os dois fossem embora, aproximando-se mais.

- Não vai embora com ela. - O desconhecido insistiu e Raquel se pôs atrás do corpo de Sérgio, segurando o quadril dele de forma temerosa.

Realmente a senhorita posso-me-defender-sozinha.

- Você irá me impedir? - Ele perguntou com raiva e entrelaçando a mão com a de Raquel.

Todos no bar pararam o que estavam fazendo para observar o que acontecia.

- Talvez sim, não o conhecemos. - Se aproximou um pouco mais e Sérgio retirou a espada que trazia ao lado do corpo, fazendo o homem recuar para trás. - Calma, não precisamos de espadas. - Ele olhou para o objeto brilhante e pontiagudo na mão de Sérgio.

Ninguém ali esperava por aquele movimento repentino.

Nem mesmo o próprio Sérgio.

- Eu vou levá-la. E nenhum de vocês irá me impedir. - Ele olhou para o restante dos homens ao redor.

Por dentro ele estava tremendo de medo que os interceptassem e o que os matassem, pois eram um número bem maior, mas ele demonstrou tanta confiança que todos eles deram passos para trás se afastando dos dois.

- Ela é sua? - Um dos homens inquiriu.

- Sim, é minha. - Ele voltou a colocar a espada ao lado do corpo e virou-se para trás, abrindo a porta da taberna e segurando a cintura de Raquel.

Os dois chegaram ao lado de fora e ele respirou em alívio ao ver o cavalo.

- Gostaria de deixar claro que não pertenço a ninguém. - Ela cruzou os braços na frente do corpo.

- Eu sei, Raquel. Só queria que nos deixassem em paz. - Ele revirou os olhos.

Não era possível que Raquel quisesse discutir posse naquela altura do campeonato.

- Mas eu gostaria de ser sua. - Ela sorriu como uma criança e ele estreitou os olhos.

- Gostaria?

- Não sei... você gostaria que eu fosse? - Ela sorriu, e ele percebeu que era apenas o ópio falando.

- Você perdeu o meu casaco. - Sérgio resmungou olhando para os ombros dela.

- Percebeu agora? - Ela estendeu a mão para ele. - Me ajuda a subir no cavalo?

- Claro, majestade. - Ele a segurou pela cintura e a colocou no cavalo, porém ela se desiquilibrou quase o derrubando no chão. - Raquel, quer quebrar as minhas costas?

- Não, perdão. - Ela se desculpou, arregalando um pouco os olhos.

- A senhora está completamente bêbada. - Ele subiu no cavalo. - Você sabe o que colocaram no seu copo? Ópio. - Ele passou os braços ao redor dela e Raquel se aconchegou em seus braços como se já não se importasse com mais nada.

- Ópio? - Ela perguntou despreocupada, como se aquilo não significasse nada.

- Sabe o que poderia ter acontecido se eu estivesse lá com a senhora?

- Mas você estava, certo? - Ela moveu o rosto para o olhar nos olhos mais uma vez. - Para onde vamos? Para o castelo?

- Não, estrada perigosa. Se lembra?

- E para onde iremos, milorde? - Ela indagou quando ele puxou as rédeas e o cavalo começou a se movimentar.

- Deve haver alguma hospedaria por aqui... - Ele sussurrou perto dela e Raquel sorriu.

- Pelo que me lembro há uma. E não fica muito longe... - Ela suspirou, percebendo algumas memórias antigas voltarem para a sua mente.

- Devíamos ter ido direto para lá, não sei o que estávamos pensando. Você já usou ópio antes?

- Uma única vez, quando era mais jovem. Você já? - Ela segurou os dois antebraços dele, os acariciando com as duas mãos em seguida, e ele jurou sentir o corpo arrepiar.

- Não, mas já vi usarem em procedimentos médicos.

- Já assistiu esse tipo de coisa?

- Sim, gosto de medicina.

Fora a última coisa que ele respondeu e os dois passaram os seguintes minutos em silêncio, até começarem a ver as luzes de uma hospedaria ali perto. Era um pequeno castelo com muitas janelas e parecia ser um lugar muito acolhedor.

Sérgio respirou aliviado e se deu conta que Raquel havia adormecido em seus braços.

- Não pode dormir no cavalo, majestade. - Ele apertou o quadril dela de forma acorda-la.

- Oh. - Ela gemeu aturdida e despertando de seu sono. - Isso dói um pouco, milorde. Faça de novo... - Ela pediu com malícia e ele revirou os olhos.

- Isso é apenas para você não cair do cavalo. - Ele puxou as rédeas com força para que o cavalo parasse.

- Vamos descer aqui? - Ela perguntou e ele moveu-se, descendo do animal em um único movimento.

- Sim. Me dê a mão. - Ele estendeu a mão e ela se apoiou nele, descendo do cavalo também.

Ele amarrou o Sunset em uma pilastra e seguiu para dentro da hospedaria com Raquel.

- Boa noite. - O homem atrás do balcão olhou para os dois, ele era alto e possuía cabelos ruivos, além de um sotaque engraçado que Sérgio não reconheceu de onde vinha.

- Olhe essas flores... são... beautiful. - Ela olhou para as flores de coloração branca em um vaso no balcão.

- Ela acabou de misturar idiomas, milorde? - O homem perguntou confuso, olhando diretamente para Sérgio.

- Ela acordou um pouco estranha hoje.

- É a sua esposa? Sir...

- Lorde Marquina. Ela é mais ou menos minha esposa.

- Fazemos sexo às vezes. - Ela respondeu com um sorriso e Sérgio sentiu o rosto enrubescer enquanto o homem a sua frente arregalou os olhos. - Duas para ser exata. Duas vezes muito boas...

- Raquel, por favor. Pode parar dizer essas coisas? - Ele a olhou de forma repreendedora e ela apenas sorriu.

- Raquel? Como a rainha da Espanha? - O homem olhou com mais atenção para ela e Sérgio teve medo que a situação piorasse. - É a rainha da Espanha. - Ele se deu conta e Sérgio colocou os dedos sobre os próprios lábios, fazendo um sinal para que o homem se calasse.

- Ela bebeu um pouco demais. Não faça alarde e nos dê quartos. Eu posso pagar... - Ele engoliu em seco e o homem estreitou os olhos. - Dois quartos. - Ele pediu e o homem abriu um caderno, passando os dedos por algumas folhas e uma expressão de desânimo tomou seu rosto depois de alguns segundos.

- Temo que só tenhamos um, milorde.

- Esse dia só fica mais perfeito. - Raquel disse com um olhar brilhante e Sérgio revirou os olhos.

Ela estava o levando ao limite da irritação.

- Tudo bem. Só precisamos de discrição se for possível. Não deixe saberem que a rainha da Espanha está aqui e que... está acompanhada por um cavalheiro. - Ele explicou enquanto Raquel mexia no vaso de flores como uma criança.

- Está tudo perfeitamente bem, Milorde. O segredo de vocês está a salvo. - Ele retirou uma das chaves penduradas em um prego atrás dele. - Fiquem com o quarto 8. O único disponível. - Estendeu a chave. - Gostaria de ter um quarto melhor para a rainha da Espanha, mas foi uma temporada cheia e...

- A rainha da Espanha está muito satisfeita com o quarto. Preciso assinar algo?

- Não. Pelo que me lembre não quer que ninguém saiba que estiveram aqui, não é? - Ele sorriu de forma cúmplice e Sérgio correspondeu o sorriso.

- Sim, sim. Muito obrigada. - Ele sorriu, alcançando a chave. - Vamos, Raquel? - Ele segurou o quadril dela, a movendo para frente.

- Para onde estamos indo?

- Aposentos. - Ele sussurrou, olhando educadamente para as pessoas que os encaravam com curiosidade e até cochichavam.

Ele realmente esperava que não estivessem reconhecendo a rainha da Espanha.

Os dois subiram as escadas, com Raquel fazendo comentários aleatórios sobre flores e cortinas a cada cinco segundos. Ele abriu a porta do aposento e a fechou em segundos, Raquel se sentou na cama e olhou fixamente para o seu rosto.

- Preciso de ajuda. - Ela pediu e ele foi até ela, parando na sua frente. Ela precisou esticar o pescoço para olhar nos olhos.

- O que você precisa? - Ela sorriu de forma maliciosa e ele estreitou os olhos.

- Flores lilás. Lilás, tem que ser lilás.

- Temo que não possa arranjar flores lilás, majestade. - Ele franziu um pouco a testa, era um pedido estranho.

Raquel bateu com as duas mãos nas saias, de forma a arruma-las e ele continuou a olhando.

- Abaixa um pouco. - Ela puxou a sua mão, para que ele ajoelhasse na sua frente, dobrando um dos joelhos. - Você é muito bonito. - Ela tombou a cabeça para um único lado e passou uma das mãos por sua barba. - Muito mesmo. As coisas que eu faria com você... - Ela roçou os dedos por seus lábios e ele apenas a olhava nos olhos, esperando o que ela iria fazer. - Você acha que eu sou bonita?

- Hum, você é um pouquinho, sim. - Ele provocou, quase deixando um sorriso brotar em seus lábios, mas se manteve sério, querendo ver a reação dela.

- Só um pouco? - Ela cruzou os braços, levantando uma das sobrancelhas enquanto sorria.

Ela era linda.

Ele teve vontade de dizer que ela era a mulher mais bonita que ele já havia conhecido em toda a sua vida, e naquele momento resolveu dar vasão ao que sentia.

- Você é a mulher mais bonita que já conheci, principalmente agora.

- Por que principalmente agora?

- Há vezes que você sorri, mas eu não vejo felicidade em seu olhar, majestade. É como se você já houvesse sofrido um pouco demais...

- E nesse momento você vê? - Ela sorriu abertamente, mais uma vez passando os dedos pela barba de Sérgio.

- Sim, eu vejo. - Ele também passou os dedos por seu rosto e ela esticou-se para o beijar, porém ele não deixou que o fizesse, desviando um pouco dela e a surpreendendo com a atitude.

- Não gosta de me beijar?

- Gosto, mas não agora que você está fora da sua consciência normal, não é correto fazer isso com uma dama.

- Faz sexo comigo? - Ela mordeu o lábio inferior, roçando as mãos pelos ombros dele.

- Não acredito que você está pensando em sexo no meio dessa situação, Raquel.

- Que situação? - Ela franziu a testa, olhando ao redor. Na visão dela, eles estavam a salvo e estavam muito bem e em um quarto muito bom.

- Fomos assaltados, andamos por horas em um cavalo, fomos parar em uma taberna, te drogaram, não queriam nos deixar sair e tem lama no seu vestido... - Ele apontou para a barra.

- Então, tira ele... - Ela sorriu passando as mãos pelos próprios quadris. - Se você está tão incomodado.

- Não, você tem ópio no seu sangue.

- É que fazer sexo com você me deixa feliz, na verdade você me deixa feliz. - Ela assumiu e ele se surpreendeu um pouco. - E é muito bom transar com você.  É muito bom fazer qualquer coisa com você, na verdade. Até andar de cavalo, mesmo que as minhas coxas estejam doendo agora pela posição desconfortável... - Ela sorriu como se falasse sobre algo muito alegre.

- Por que te faz feliz? - Ele perguntou interessado.

- Ah. Você é bom. E... sabe brincar com o meu clitóris. - Sérgio quase caiu para a frente quando ela disse aquilo e Raquel gargalhou com o seu olhar de surpresa.

- Majestade... - Ele abaixou um pouco o olhar.

- É incrível, milorde. Eu nunca conheci um único homem que soubesse fazer aquilo e você... você sabe. E você é tão carinhoso, mas também fode quando quer e... gosto do jeito que me olha. Eu realmente gosto muito do jeito que você me olha.

- Como eu olho você?

- Como se eu fosse única...

- Você a rainha da Espanha, você é literalmente única.

- Não. É diferente... é como se eu fosse a única mulher que existisse na terra. - Ela virou a mão, acariciando a barba dele com as costas dos dedos.

- Majestade, talvez não seja justo que eu escute as suas confissões sob efeito de ópio. - Ele se levantou, se segurando para não rir um pouco, mas sentindo o corpo vibrar e o coração mudar de temperatura ao ouvir o que ela dizia.

Ela não teria porque mentir, então tudo o que ela dizia era verdadeiro. E se ele a trazia o mínimo de felicidade, já era um bom começo.

- Com quanto tempo passa o efeito disso? Eu estou tão feliz. - Ela deu ênfase no “tão” e deitou na cama, tombando sobre o colchão.

- Mais duas ou três horas. - Ele respondeu e ela sorriu assentindo.

- Que pena...

- Majestade...

- Vai me deixar dormir de espartilho? - Ela esticou o pescoço para o olhar.

- Você é mesmo uma tentação, não é? - Ele se sentou na cama e ela fez o mesmo movimento, sentando-se de costas para ele.

- Eu costumava dormir de espartilho durante um tempo da minha vida... hoje eu não preciso mais.

- Por quê? Deus, você poderia morrer usando essas coisas enquanto dormia.

- Eu desejava morrer... - Ela sorriu um pouco triste. - Mas... era por outro motivo que eu o usava.

Sérgio abriu todos os laços e a peça se desfez, caindo ao lado de Raquel na cama, ele roçou os dedos pela parte que o vestido descobriu e o corpo de Raquel tremeu um pouco.

- Está tudo bem? - Ele perguntou perto de seu ouvido e a loira assentiu.

Ela voltou a se deitar e a fechar os olhos.

- Sérgio...

- Sim?

- Antes de mim só esteve com aquela cortesã? - Sergio não sabia se deveria responder aquilo, mas provavelmente ela nem se lembraria de nada no dia seguinte, então ele resolveu por dizer a verdade.

- Sim, apenas. Agora, você pode dormir pelas próximas três horas e eu te acordarei para um banho.

- Vai tomar banho comigo?

- Você sabe que não.

- Então vai me espiar? - Ela sorriu, aconchegando a cabeça no travesseiro e abrindo os olhos para o fitar.

- Não, majestade. Você sabe que eu jamais faria algo assim.

- Por que me chama de majestade?

- Você é a rainha da Espanha.

- Sou? - Ela franziu a testa e abriu os olhos.

- Sim.

- Eu sou mesmo?

- Sim, você é. Agora, durma. - Ele se aproximou de onde ela estava e acariciou os cabelos dela com uma das mãos.

Em seguida, ele puxou o lençol da cama para cima dela, a cobrindo para que ela não sentisse frio enquanto dormia.

Sérgio sorriu após fazer isso, pois como ela havia desejado no começo da manhã, ela não foi a rainha da Espanha.

Por um dia ela não foi, e ele percebeu que gostava muito mais da Raquel apenas Raquel, do que a monarca da dinastia Murillo.

E talvez, apenas talvez, ele pudesse estar começando a se apaixonar por ela, mas naquele momento nem ele mesmo sabia disso.



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