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História Passion Fruit - Paraíso


Escrita por: Andrezadoll

Capítulo 3 - Paraíso


Fanfic / Fanfiction Passion Fruit - Paraíso

As horas seguintes voaram e quando dei por mim o coquetel já estava na metade. Não fazia ideia do motivo da comemoração (se é que fosse uma), apenas notei que a maioria dos convidados eram homens de terno. Talvez fosse algum evento corporativo.

Senti uma mão segurar meu braço para chamar minha atenção. Levei o maior susto, sequer notei que alguém se aproximava.

— O que você está fazendo? — Ouvi um sussurro próximo ao meu ouvido em tom severo.

Era Ladybug. (Pois é, ainda usava a máscara vermelha. Acho que ela ignorou meu flerte. Eu não me espantei, tinha sido loucura.)

— Fiz algo errado? — perguntei.

Ela arregalou os olhos de forma inquisitiva e eu soube de pronto que estava encrencado.

— É a primeira vez que você serve?

— Sim.

— Oh, meu Deus! — ela praguejou. — Você não disse que tinha experiência?

— Eu disse que tinha conhecimento.

Acho que ela perdeu o ar. E não foi de uma forma boa.

— Desculpa, não quis te enganar. Pensei que sabia o que fazer. Sei tudo sobre bebidas, só nunca servi outras pessoas.

(Ademais, já estive em vários ambientes refinados, não era exatamente uma novidade.)

— Tá. — Ela olhou ao redor de forma disfarçada, depois ajeitou o pequeno avental branco na cintura. Ou talvez tivesse apenas a intenção de limpar as palmas suadas.

— Você está sendo muito simpático, Cat Noir.

— Obrigado.

— Não foi um elogio.

Eu estava muito, muito confuso. E observar os olhos azuis de Marinette diante de mim, tão perto e imersos nos meus não me ajudava a manter a razão.

— Só... Só tente ser mais discreto — ela instruiu com receio. — Você não está aqui para fazer amigos. Use sua visão periférica e abaixe mais a cabeça quando for conveniente. Você sorri demais e está sempre com o queixo muito erguido. Se não fosse pela roupa e a máscara, até eu... Até eu poderia te confundir com um deles.

— Com um deles? — indaguei.

Ela segurou com mais força no meu braço a fim de se apoiar, e percebi que ficou mais alta ao se erguer nas pontas dos pés. Senti a respiração dela roçar em meu pescoço.

— Ricos, loirinho — sussurrou, mas não desfez a pose, apenas se afastou o suficiente para mirar meus olhos.

Senti que era eu quem precisava me segurar em alguma coisa, qualquer coisa, pois foi como perder o chão.

Estávamos lado a lado como Ladybug e Cat Noir, e nossos olhos se fixaram silenciosamente em cumplicidade pelo que pareceu uma vida inteira, mas de fato não havia se passado mais do que um mero segundo.

— Nós estamos aqui para servi-los, não esqueça — ela seguiu e eu assenti.

Aquilo me destruiu por dentro. Eu era um deles. E este foi o único pensamento que se cravou dolorosamente em mim, gerando um estigma na minha alma.

— Mantenha a postura refinada, mas levemente indiferente. — Ela sorriu de forma amável e, ao largar meu braço, o acariciou num gesto de encorajamento incrivelmente íntimo. — Você consegue.

Poderia suspirar se não estivesse me recuperando do baque.

Ainda aturdido, meus olhos seguiram os movimentos da jovem pelo salão movimentado. Foi quando entendi exatamente o que ela quis dizer. Marinette era ágil e eficiente, havia buscado uma bandeja com macarons para servir; os clientes mal a notavam e continuavam a conversar entre si.

Marinette não queria ser notada. E meu coração se apertou a ponto de ser dolorosamente intragável.

***♡***

Ao final do coquetel, voltei para o vestiário masculino e devolvi a roupa emprestada. (Luka não se incomodou em ficar com a peça suja, apesar da minha insistência em lavá-la primeiro).

— Luka Couffaine, é bom você estar aí dentro — gritou uma voz feminina, provocando um sorriso de imediato no moreno.

Um sorriso muito, muito largo. Só poderia ser a namorada dele.

— Pode entrar — ele gritou após olhar ao redor. Estávamos apenas os dois ali, o restante da equipe já tinha ido.

Jess invadiu o vestiário e foi direto para o moreno, beijando-o apaixonadamente. Tão, mas tão apaixonadamente que eu juro que fiquei desconfortável. (É claro que eu não fiquei olhando, mas era impossível não ouvir os… prefiro não descrever.)

— A Marinette não tá no salão. Achei que você tinha ido embora. Tentei te ligar, sabia? — Jess pronunciou fingindo estar chateada, envolvida pelos braços dele, mas o semblante era romântico e feliz.

A pronúncia do Francês dela era fluida e dinâmica, mas havia sotaque. Estrangeira, então. Com as tranças duplas na frente do corpo, o rosto arredondado, olhos pequenos e a pele naturalmente escura, era provável que fosse descendente de nativos americanos.

— Ainda não peguei no telefone. Desculpa — disse ele, tocando de leve a ponta do nariz da namorada com o indicador.

— Novatinho? — ela perguntou olhando pra mim e eles desfizeram o abraço.

— Adrien. Muito prazer. Você deve ser a Jess.

— Ele tentou pegar sua máscara — Luka comentou.

A garota balançou a cabeça.

— E você o impediu... Ou ia acabar confundindo ele comigo e o teria agarrado sem querer — implicou.

Luka gargalhou. Foi impossível não rir também. Que Deus me ajudasse. Aquela garota tinha o mesmo senso de humor zombeteiro de Luka.

— Jessica Keynes — pronunciou, estendo a mão para nos cumprimentarmos. — Não me incomodo que usem minha máscara. Luka que tem ciúme dela. Às vezes eu tenho ciúme dela.

Ele fez uma careta de desdém para Jess e depois se voltou para mim.

— Você não tinha que falar com a Marinette?

— Sim, ela ficou de se encontrar comigo.

— Deve estar no vestiário feminino.

— Não tá — Jess respondeu. — Passei lá primeiro.

— Não é do feitio dela... Ela é sempre a última a ir embora. Sempre. — O modo como Luka pronunciou a palavra com ênfase me fez ter certeza de que aquilo era a mais absoluta das verdades. — Ela deve estar no depósito. Fica no subsolo da cozinha. Se ela não estiver lá, espere no salão. Chefinha vai aparecer.

Sem que eu previsse, Jess deu um leve tapa no ombro do namorado com o dorso da mão.

— Ela não gosta que você a chame assim.

Luka sorriu.

— Eu sei.

Ela o encarou com o semblante zangado.

— Se não a encontrar, passa na confeitaria amanhã — Jess sugeriu de forma amável.

Assenti. Luka fechou o armário e buscou a mão da garota. Eles se despediram de mim e então foram embora.

Segui para a pequena cozinha de apoio, também vazia àquela hora. Encontrei facilmente as escadas para o subsolo. Nem sabia que o Le Grand Paris tinha um. Era curioso estar nos bastidores e conhecer todos aqueles pequenos segredos. Eu precisava contar tudo para a Chloé depois.

As luzes estavam acesas no porão. Havia grandes caixas de papelão empilhadas perto de uma das paredes. Nas portas do outro lado, havia uma que estava apenas encostada.

Abri-a vagarosamente e vi Marinette sentada no chão da despensa, entre as prateleiras, com a cabeça entre as pernas. Caminhei sem fazer barulho, não queria assustá-la.

— Marinette, você está bem...? — indaguei em baixo tom.

Ela ergueu a cabeça somente um pouco, o suficiente para nossos olhos se encontrarem.

BLAM!

Um estrondo ecoou às minhas costas. Quando me virei para a garota novamente, ela já tinha se levantado.

— Você deixou a porta bater? — O tom era de desespero.

— Não dá pra abrir por dentro?

— Por que você acha que ela estava encostada? — ela devolveu. — Tem alguém aí? — Ela bateu à porta com força, repetidas vezes.

— Não tem ninguém. Já foi todo mundo embora.

Ela arregalou os olhos para mim e percebi que estavam vermelhos. O rosto claramente molhado. O que poderia ser pior?

— Vou ligar pra uma ami... — tentei dizer quando fui interrompido.

— Aqui não tem sinal. Estamos no subsolo. Daqui a pouco alguém percebe nossa falta e vem atrás da gente. Não é a primeira vez que alguém fica trancado aqui embaixo.

Embarcamos num silêncio constrangedor. E eu não conseguia deixar de analisar aqueles olhos pequenos e inchados. Estávamos frente a frente.

— Você estava chorando. Por isso estava escondida.

Ela desviou o olhar por um momento. Então retornou.

— Eu só precisava respirar um pouco. Não esqueci que a gente tinha combinado... desculpa ter feito você me esperar.

— Não, eu que sinto muito por ter sido indiscreto. E por ter te trancado aqui contra sua vontade — falei com certa ironia e muito charme. É claro que eu não queria ter trancado a gente ali.

Para o meu alívio, ela sorriu, embora a felicidade não tenha alcançado os olhos.

Marinette usava as mesmas roupas de quando a vi pela primeira vez. O cabelo estava solto e o rosto, desprovido de máscara.

O disfarce de joaninha era intrigante. No entanto, é certo que ela ficava melhor exatamente daquele jeito, sem esconder sua beleza natural, agora levemente corada pelos efeitos das lágrimas anteriores.

— Já que vamos ficar aqui sei lá quanto tempo, podemos nos sentar. — Ela encolheu levemente os ombros.

A serenidade dela era contagiosa, talvez eu estivesse no mais absoluto pânico se ficasse trancado ali, sozinho. Para o meu alívio — e sanidade — Marinette controlava a situação com maestria, embora a resolução em si não dependesse dela. E eu a admirei outra vez.

Então caminhamos alguns passos para dentro da despensa retangular, e ela se ajeitou no chão ao cruzar as pernas uma sobre a outra.

Reparei na existência de uma caixa de fina espessura próximo a ela com o logotipo da confeitaria, mas nada comentei. Apenas sentei-me na frente dela e apoiei os antebraços nos joelhos dobrados, com as costas para outro conjunto de prateleiras, e pronunciei com a voz baixa:

— Quer conversar...? — Fiz uma pausa. Não queria ser invasivo. — Se isto puder te ajudar de alguma forma.

— Talvez. — Nossos olhos se encontraram.

— O que houve...? — perguntei com cautela.

Embora não chorasse mais, ela limpou a face, talvez para se certificar de que estava de fato limpa. Suspirou.

— É bobeira.

— Não é bobeira se te magoou — minha voz saiu mais o doce possível.

— Ouvi um casal desdenhando do meu macaron. Chamaram ele de degradante. Isto nem deveria ser um adjetivo pra qualificar comida. — Ela me ofereceu um sorriso desanimado, tentando disfarçar o sentimento que acumulava no peito. — É uma receita especial. Uma criação minha, entende? Não do meu pai. Trabalhei muito tempo pra aperfeiçoar a receita, criei muita expectativa em cima dela. É apenas o terceiro coquetel onde apresentei esses macarons. E quando desprezaram meu doce...

— Sentiu que desprezavam seu trabalho, sua dedicação — completei por ela. — Sentiu que desprezavam você.

Engoli em seco.

Marinette assentiu.

— Tenho certeza de que estão enganados com relação a você. E certamente também com relação ao doce. — Por mais que não fosse exatamente necessário, mantive minha voz baixa, quase em sussurro.

— Você... você chegou a provar?

Minhas sobrancelhas se juntaram em confusão.

— Não sabia que podia.

Ela sorriu e depois esticou o braço, abrindo a caixa da confeitaria.

— Não sobraram muitos. — Ela girou a caixa no chão e a empurrou na minha direção, me oferecendo o lado aberto. — É o amarelo...

— Maracujá? — perguntei.

— Sim. — Os olhos dela possuíam um brilho úmido de expectativa. — É o meu sabor preferido — comentou com timidez.

— É o meu sabor preferido também. — E era verdade.

— Temo que você não será um avaliador muito imparcial.

Olhei para ela com um sorriso charmoso, então apanhei um dos macarons que ela indicara.

— Se não sobraram muitos, isso só comprova minha tese — ergui as sobrancelhas em desafio.

— Experimenta logo.

— Sim, chefinha.

Mordi um pedaço. Era leve como nuvem e doce como um sonho bom. Aquilo tinha sabor de...

— Tem sabor de paraíso.

Ergui os olhos até encontrar os dela e tive certeza que ela soube da minha sinceridade. Percebi também que tinha lhe devolvido a confiança que perdera em si mesma. Naquele instante, parecia que ela havia até mesmo se esquecido de respirar.

Disfarcei o sorriso e inalei a essência do doce mordido que, não por coincidência, também me lembrava o perfume de Marinette. Só que havia algo a mais ali no meio, camuflado no açúcar... Estreitei os olhos enquanto refletia.

— Cravo? — perguntei.

— Sim, no recheio. Ninguém nunca reparou — comentou com incredulidade. — Fiz tipo uma infusão com a própria polpa do maracujá e depois retirei os cravos.

— Muito inteligente — elogiei. Ela ficou encabulada... e quieta. Então terminei de comer e segui. — Levemente ácido e levemente doce. Você encontrou o equilíbrio perfeito entre sabores opostos. É realmente incrível. Juro.

Marinette continuava me encarando de forma amável, então meneou a cabeça sutilmente.

— Obrigada. Não sei lidar com críticas. Acho que exagerei na minha reação. Talvez eu só precisasse dividir meu medo com alguém.

— Sim… Às vezes a gente só precisa... não estar sozinho, Marinette.

Estiquei a mão para a prateleira atrás de mim e recolhi um dos enfeites de papel para drinques que ali havia (era em formato de guarda-chuva). Tinha visto eles momentos antes ao me sentar no chão.

Abri o item e o ofereci a ela.

— Às vezes a gente só precisa de um pouco de amparo, de algum apoio.

Não sei quanto tempo se passou, ou se o próprio tempo congelou aquele instante e me permitiu sonhar, me permitiu aprofundar a atenção naqueles cílios curvados sobre os olhos azuis, nos lábios rubros entreabertos e nas maçãs do rosto dela tão bem desenhadas.

Então seus olhos desviaram para minha mão e ela estendeu o braço para segurar o enfeite de guarda-chuva, como quem recebe uma flor. Sua expressão se suavizou e os lábios se curvaram levemente para cima.

— Obrigada — murmurou.

Ela sorriu e eu percebi que estava errado. Aquilo era o paraíso.


Notas Finais


Alguém mais quer guardar a Mari num potinho? <3


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