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História Passion Fruit - Vermelho-alaranjado


Escrita por: Andrezadoll

Capítulo 9 - Vermelho-alaranjado


Fanfic / Fanfiction Passion Fruit - Vermelho-alaranjado

Marinette havia trocado a camisetinha e o jeans pelo uniforme: uma camisa preta com gola branca e saia cor-de-rosa. O cabelo estava preso num coque que deixava o rosto mais alongado e distinto. A camisa a destacava dos demais garçons, uma vez que todos nós usávamos peças brancas.

Chefinha… Ah, aquela era chefinha e ela estava de volta. Marinette era graciosa todos os dias, mas havia uma mudança perceptível em seu comportamento assim que colocava a máscara de joaninha. Ela ia além, se tornava uma garota mais confiante, até mesmo os passos eram mais firmes.

Sentia uma ponta de inveja ao observar sua firmeza e porte refinado. Acho que eu deveria fazer o mesmo e incorporar meu lado mais sisudo, se é que eu tinha um. Foi difícil não extravasar meu bom humor depois dos momentos que passamos juntos na estação de metrô; minha pele ainda guardava a sensação inebriante dos dedos dela debaixo dos meus.

Aproveitei um momento ocioso para me aproximar; o coquetel ainda não tinha começado. Era um salão não muito grande num prédio comercial. Entreguei a máscara de gato preto a ela, pedindo silenciosamente por ajuda. Claro que era só um pretexto para conversamos (além de agradar meu próprio coração).

— Conseguiu comentar com o Luka do luau? — sussurrei e virei de costas.

— Ainda não, assim que der eu pergunto, não posso parecer muito interessada ou ele vai suspeitar. — Ela terminou de amarrar e me cutucou no ombro.

Virei de frente. Seus olhos azuis passearam nos meus e ela elevou as mãos para ajeitar melhor o item no meu rosto. Sem querer, as pontas dos dedos dela sutilmente me tocaram feito carícia e eu estremeci internamente. Fiz um esforço gigantesco para não fechar os olhos e ceder ao afago ou virar a cabeça para o lado e pousar um beijo naqueles dedos delicados.

Logo depois, chefinha arrumou minha gravata borboleta e a gola. Mesmo com o rosto coberto pelo disfarce, dava para perceber seu semblante de incógnita. Senti que ela não apenas ajeitava minha camisa, ela estava… tateando o tecido?

— Tá sujo? — perguntei.

— Não, é que… parece algodão egípcio.

Prendi a respiração. Era algodão egípcio, e uma camisa daquela não era exatamente barata.

— Você conhece? — desconversei.

— Eu estudo moda. — Ela retirou a mão de cima de mim. Então percebi que Luka e Jess se aproximavam.

O moreno estava com a máscara verde que imitava pele de cobra e Jess usava a de pássaro (parecia muito uma águia, não sei por que ele a chamava de pardal).

— Alguém quer ganhar elogio da chefinha… Ai! — Luka pronunciou e logo recebeu da namorada um leve tapa na parte de trás da cabeça.

— Não chama ela assim — Jess lhe advertiu.

— Era um elogio! — Luka tentou corrigir. Então se virou para mim. — Nunca vi um vinco tão perfeito — disse ele, se referindo às minhas mangas.

— Tava guardada há muito tempo — desconversei outra vez. Achei que não era uma boa ideia dizer que tinha uma passadeira na mansão Agreste.

— Ei, Luka, eu tava falando pro Adrien das festas que você costuma dar. Faz tempo que não faz uma. — Marinette mudou de assunto e eu quis muito, muito beijá-la.

O moreno me olhou com breve desconfiança, como se buscasse confirmação ou algo a mais nas entrelinhas proferidas pela amiga, mas logo voltou ao jeito despojado:

— Tenho um show amanhã, não vai rolar, mas podemos marcar pra sábado que vem.

— Todo mundo folga no domingo — Jess me explicou. — As festinhas do Luka nunca terminam cedo.

— E começam tarde — Marinette seguiu.

— Depois do pôr do sol — Luka completou.

— Eu posso levar uma amiga? — perguntei a ele, fingindo indiferença.

— Sim, claro.

Marinette me fitou em aprovação.

— Já tinha comentando com ele que era um luau — ela disse de forma suave. — Só não falei onde é. E vocês também não vão contar — falou em tom misterioso, puxando um dos lados da boca num sorriso astuto.

Os três comparsas se entreolharam e eu fiquei intrigado.

— Você que manda, chefinha — ele respondeu. — Ai! — Luka ganhou outro tapa de leve no mesmo local, desta vez foi a Marinette.

— Ele é todo seu, Jess — Marinette proferiu e saiu andando. Luka prendeu os lábios entre os dentes para disfarçar o sorriso.

— Não vai mesmo me contar onde é? — tentei.

Luka apoiou a mão no meu ombro e se aproximou, fixando os olhos azuis nos meus.

— Não se esqueça da regra número dois. — Então olhou rapidamente para o adesivo na minha camisa. — Cat Noir.

— Jess?

— Desculpa. A regra número dois é sagrada, novato.

“Nunca irrite a chefinha”. Céus… o que exatamente eles queriam dizer com aquilo?

— Ah, não precisa se preocupar com as despensas daqui, tá legal? Elas abrem por dentro — Jess implicou.

Luka não conseguiu mais segurar o riso e gargalhou. Acho que seria eternamente zoado pelo deslize no meu primeiro dia.

***♡***

Ao final do coquetel me ofereci para acompanhar Marinette até em casa. Tive de relembrar que eu morava ali perto e não seria incômodo nenhum. Nenhum mesmo.

Nós dois estávamos tão cansados que praticamente não conversamos durante a viagem de metrô. Fechei os olhos para aliviar a sensação de cansaço e então senti uma pressão no meu ombro. Marinette estava dormindo em cima de mim. Mantive o corpo imóvel para não acordá-la, apesar do meu peito ansioso.

Sempre me perguntei como ela conseguia ser tão forte. Aquela garota tinha uma rotina deveras puxada, trabalhava dia e noite e nunca deixou transparecer semelhante exaustão. Então entendi que, embora tivesse o espírito audaz, ela se esforçava para não deixar os outros perceberem seus limites.

E ela expôs sua fragilidade diante de mim. Ou talvez apenas estivesse cansada demais para se importar. Fechei meus olhos e apoiei a lateral do rosto no topo da cabeça dela enquanto o vagão nos acalentava.

As estações passaram mais rápido do que eu gostaria e quando percebi já estávamos prestes a chegar no nosso destino, então a acordei, sacudindo o ombro dela da forma mais delicada que pude.

Marinette logo percebeu onde estava e arregalou seus olhos avermelhados. Eu continuava muito próximo a ela, tentando lhe transmitir alguma segurança.

— É a próxima parada — sussurrei.

Mais tarde, quando a deixei em casa, ela me agradeceu e entrou. Alguns minutos depois, recebi uma mensagem no celular:

“Desculpa por babar na sua camisa. Acho que ela está arruinada”

Segurei a vontade de oferecer meu guarda-roupa inteiro para ela. Daria até meu próprio travesseiro se ela quisesse.

***♡***

Aproveitei meu pagamento, no sábado, para comprar uma caixa daqueles deliciosos macarons para presentear mamãe. Ela gostou bastante da pequena surpresa e disse que se orgulhava do meu empenho, o que tornava tudo mais gratificante.

Não vi a joaninha no domingo, também não trocamos nenhuma ligação ou mensagem. Foi uma folga um pouco dolorosa para o coração, mas pelo menos serviu para eu organizar a cabeça. E só havia pensamentos sobre Marinette em todas as gavetas da minha imaginação.

Durante a semana, não resistimos à tentação de observar os alvos da nossa operação secreta. Eles se “encontraram” três vezes ao todo. Nathaniel, ao que parecia, ia todos os dias; Chloé, somente em dias aleatórios para ser um pouco discreta (ela não era nada discreta com aqueles óculos escuros coloridos. Marinette tinha razão, Chloé tinha mesmo uma coleção espantosa cuja existência eu nunca tinha reparado).

E assim se passou uma semana.

— Como assim não posso usar vestido? — Chloé indagou.

Estava no hotel aguardando minha irmã postiça se arrumar.

— Foi o que a Mari me falou; “avisa pra ela não ir de saia ou vestido”.

— Não é uma festa?

— É só um luau entre amigos, mas ela tá fazendo mistério do lugar. Não consegui persuadi-la com meu charme.

Chloé saiu do closet de calça jeans e camiseta branca; ela me deu um olhar enviesado.

— Essa história aí tá muito mal contada — resmungou.

— Vamos, querida — disfarcei.

Eu pedi a ela que me acompanhasse, mas ela meio que não sabia que o Nathaniel também estaria lá. Para ser sincero, eu também não tinha certeza. Eu avisaria sobre ele… em breve.

Então busquei a sacola com queijos e vinhos, cada um de nós tinha ficado de levar alguma coisa. Marinette era a encarregada dos doces e eu estava animado por isto também. Mesmo após quase duas semanas trabalhando lá e sendo refém das delícias do senhor Dupain, eu jamais ficaria enjoado de açúcar.

Caminhamos até próximo das margens do rio Sena e depois seguimos na direção da ponte Alexandre III. Já era quase vinte e duas horas e o sol estava prestes a se pôr. Avistei um grupo de pessoas no lugar onde Marinette combinou para nos reunirmos, no início da ponte, então parei de andar para conversar com Chloé uma última vez a sós.

— Não surta, por favor — pedi.

— O que você fez, Adrien?

— Há grandes chances de um certo amigo da Marinette estar lá.

— Um alto, ruivo e lindo?

Ofereci a ela o meu olhar menos culpado possível.

— Sim…?

Ela suspirou pesadamente.

— Eu já desconfiava.

— Você não está brava?

— Claro que estou. Eu queria muito usar um vestido. — Ela sorriu e fez menção de seguir adiante, então se virou para mim outra vez. — Mas se quer saber estou prestes a surtar.

— É pra isso que serve o vinho. — Brinquei. — Se quiser desistir, a hora é agora.

— Não. Eu quero ir, quero vê-lo. — Sua voz era quase um sussurro.

Voltamos a caminhar.

— Se não quiser se aproximar ou dar ideia, ninguém vai te obrigar. E eu estarei lá com você caso precise de ajuda. Mas, Chloé… acho que você deveria tentar sozinha.

Ela consentiu, embora um pouco hesitante.

Entramos na ponte histórica de calçada larga. Havia algumas pessoas ali reunidas a fim de apreciar o pôr do sol. Não sabia se eram todos amigos entre si ou se aqueles eram os amigos da Marinette; não reconheci ninguém além dela.

Ela estava praticamente de costas para mim quando virou o rosto para o lado, na minha direção. O céu estava vermelho-alaranjado quando ela me viu, e o tempo congelou o instante. Estava rodeada por pessoas, mas ela era a única que eu enxergava.

Eu e Chloé nos aproximamos do guarda-corpo de balaústres brancos. Era possível ver a parte superior da torre Eiffel ao longe, com o sol descendo ao seu lado direito. Acomodei-me exatamente ao lado dela. Marinette ainda me observava, sem nada dizer, embora os olhos expressassem tanta admiração que pareciam um reflexo do meu próprio sentimento por ela.

O vermelho do poente tingia sua face e destacava ainda mais o azul dos olhos pequenos e enfeitiçantes. O vento brincou com sua franja, afastando ocasionalmente os fios de sua face.

— Aqui é a melhor vista que tem do rio. — Assim ela me “cumprimentou”.

— Tem razão. Este é o pôr do sol mais belo de Paris.

Ela piscou, movimentando os cílios curvados, e os lábios se entreabriram, atraindo minha atenção para o local.

— É mesmo… — pronunciou com suavidade, então voltou a encarar o horizonte. Ela parecia suspirar. Eu suspirei.

Observei Chloé do meu outro lado, ela estava igualmente feliz e concentrada no movimento quase imperceptível do sol, até que enfim ele desapareceu por completo; o céu ainda mantinha um tom escuro de vermelho.

Apoiei minha mão nas costas de Chloé para lhe chamar a atenção e apresentei as duas formalmente.

A loira se apressou e ofereceu o rosto para trocarem dois beijos. Não era comum na nossa cultura tal demonstração de afeto entre pessoas que não tinham nenhum grau de intimidade. Mas Chloé era Chloé.

— Já ouvi falar muito de você — Marinette disse com simpatia.

— Ah, eu também já ouvi o Adrien falar muito sobre você. É como se eu já te conhecesse.

Eu quase morri. E desejei enforcar a Chloé.

— E o pessoal? — mudei de assunto.

— Já deve tá todo mundo lá, só vim aqui pegar vocês.

Descemos as escadas da ponte para a rua abaixo, atravessamos o pequeno túnel abaixo da passagem e seguimos a caminhada ali pela margem do rio.

— Aqui. Chegamos.

Olhei em volta… não havia nada ali, exceto… Minha nossa.

Marinette avançou na rampa e entrou num dos barcos atracados. Eu e Chloé a seguimos. O barco não era muito grande, mas também não era exatamente pequeno. Era de madeira, não tinha velas, e parecia turístico; estava todo enfeitado com varais de bandeirolas triangulares e coloridas dispostas em fios que cruzavam todo o convés.

Um homem de quepe branco se aproximou, mas não o reconheci de cara.

— Sejam bem-vindos à minha tripulação, eu sou o capitão Luka Couffaine e… Ai! Mãe!

Uma mulher saiu não sei de onde e lhe arrancou o chapéu da cabeça.

— Já falei pra você não pegar o meu quepe. — Ela o repreendeu, muito séria, então magicamente mudou o humor quando olhou para a gente. — Amigos novos?

Marinette se adiantou e nos apresentou.

— Sejam bem-vindos, marujos — a senhora pronunciou com simpatia e então se afastou.

— Onde nós vamos? — perguntei baixinho para a Mari.

— Só dar uma volta, a festa é aqui. — Então mudou o semblante para preocupação. — Oh, minha nossa… espero que vocês não tenham medo de água, eu quis tanto fazer uma surpresa que… — Chloé a interrompeu.

— Ah, não se preocupe. Adrienzinho é um excelente nadador, ele já ganhou até algumas medalhas. Sério, ele é muito bom, você tem que ver ele nadando algum dia.

Que os deuses me ajudassem. Chloé poderia escrever um tutorial sobre como matar alguém de vergonha na frente do crush em menos de dez minutos.

— Luka…? — Chamou uma voz masculina às nossas costas. Todos nos viramos para olhar.

Nathaniel estava parado na frente dos degraus. Poderia jurar que ele estava pálido, ou no mínimo surpreso. Após um instante a mais ali estático, ele caminhou até próximo do grupo e voltou a falar.

— A Alix me ligou, ela não vem.

— Então estamos todos aqui, já podemos zarpar — Luka concluiu.

— Já conheceu meus amigos? — Mari perguntou ao ruivo. — Adrien e Chloé. — Ela nos indicou.

— Como vai? — Nathaniel apertou minha mão e em seguida se virou para Chloé.

Até eu assisti em câmera lenta. Os olhos se fixaram uns nos outros, parecia que eles estavam se vendo pela primeira vez. Bem, talvez fosse o caso, pelo menos mutuamente, já que eles tinham mania de revezarem o olhar.

A loira estendeu a mão vagarosamente.

— Muito prazer…

— Nathaniel — ele acrescentou, como se ela não soubesse. Tolinho. Ele se inclinou levemente para frente e alcançou a mão dela para cumprimentar. — O prazer é meu.

Aproveitei que estavam ocupados e fitei Marinette. Disfarçadamente, dei uma rápida piscadela. E ela puxou um dos cantos da boca para sorrir de forma que somente eu entenderia.

Marinette acertara em cheio com aquela ideia. Estávamos todos juntos naquele barco, num espaço limitado, sem ter como fugir e prestes a seguir num passeio pelo rio Sena através da nossa querida e romântica Paris.

A operação cupido não poderia ter começado melhor.


Notas Finais


Tem mais alguém aí com brabuletinhas no estômago? :p


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