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História Pedaço da Lua - Capítulo I


Escrita por: Downdownbaby

Notas do Autor


Bom dia raios de Sol~~~

Vamos começar a mostrar quem o povo quer ver de verdade? Vamos sim.

Preciso deixar uma coisa clara antes de começar o capítulo: aqui Kai e Jongin são criaturas completamente diferentes e sem ligação nenhuma. Não confundam o elfo moreno e seduzente (Jongin) com o corvo (Kai).


Enjoy it~

Capítulo 2 - Capítulo I


 

Quando ainda vivia no reino com sua família, Kyungsoo levava a vida mais tranquila que poderia desejar. A emoção mais forte que tomava seu ser era a admiração ao ouvir a história da batalha entre dragões que aconteceu há muito tempo atrás, sobre as montanhas em que ele vivia com seu povo.

Seus olhos brilhavam cada vez que ouvia Sooman - um velho estranho, que o visitava sem motivo - repetir as palavras que narravam o momento de ascensão dos dragões:

 

“O manto negro da noite de lua cheia foi cortado por um rastro de fogo vermelho. E como o relâmpago é predecessor do trovão, aquele feixe de chamas foi seguido de um rugido gutural.

Cada homem abaixo do firmamento deteve-se no lugar que se encontrava, interrompendo golpes letais no meio do movimento, largando as espadas, escudos, machados, arcos, setas, massas e lanças no solo manchado de sangue fresco, temendo agora um novo e formidável inimigo comum.

Somente o gnomo do pântano não estava surpreso. O restante dos saqueadores sabia que o tamanho daquele tesouro contaria com proteção sólida e bem organizada, mas jamais imaginava que isso incluiria o dragão colossal que serpenteava sob a luz da lua, fazendo as escamas iridescentes cintilarem e dispararem feixes coloridos pelo cenário caótico da batalha que lutavam.

As lendas diziam que dragões não eram vistos fora do santuário há milênios, mas ali estava, em sua frente, um grande e furioso dragão de cristal a queimar o ar da noite.

O cheiro de cinzas, que já era suficiente para fazê-los temer por suas vidas, se intensificou quando um novo rugido reverberou estrondoso aos ouvidos de cada um e se deram conta de que não vinha do dragão de cristal. Alguns homens caíram de joelhos, atônitos, quando uma nova fera surgiu majestosa. As escamas prateadas denunciavam que era um dragão de aço. Um grande e imbatível dragão de aço.”

 

Sooman ria quando o jovem elfo repetia que, se lhe fosse dada a oportunidade de escolher, não hesitaria antes de optar por ter vivido naquele tempo. Queria ver com os próprios olhos a dança poderosa dos dragões no céu.

Em exatamente cinquenta anos, Kyungsoo teria uma batalha maior do que aquela narrada pelas letras inclinadas diante de seus olhos redondos.

 

 

 

||

 

 

 

Kyungsoo ouviu um zumbido forte o bastante para parecer cortar sua cabeça como uma lâmina não material, seguido pelo som das asas de Kai batendo rápidas enquanto ele alçava voo. O corvo saiu pela janela da casa onde vivia com seu dono um segundo depois do som forte da explosão chegar a quem passava perto dela. A ave negra pousou num galho fino a pouco mais de dez metros da casa que expelia fumaça púrpura pela janela lateral, dali poderia observar seu mestre e voltar quando fosse seguro.

Dentro da casa o jovem elfo se levantou do chão – onde o impacto da explosão tinha lhe jogado - e usava a manga da camisa para proteger seu sistema respiratório da fumaça que seu colega provocara. Estava difícil ver dentro do ambiente mesmo que ele abanasse o braço direito freneticamente, tentando dissipar a fumaça. Seus olhos queimavam fracamente e preferiu fechá-los para garantir que não sofressem nenhum dano. Seria muito mais eficaz chamar por Jongin e seguir sua voz para encontrá-lo, mas também não queria abrir a boca e acabar inspirando aquele gás desconhecido.

Aquilo tinha resultado de mais uma das magias mal executadas de Jongin, então não tinha confiança de que não seria algum veneno ou entorpecente. Rezava a Ehlonna para que o silêncio do outro fosse pelo mesmo motivo que o seu e não por estar desmaiado ou morto. Seu amigo feiticeiro já tinha feito os dois elementos citados anteriormente em acidentes anteriores, então foi por segurança de ambos que, em silêncio e as cegas, procurou por ele. Pela posição que estavam antes da explosão e a trajetória que o próprio corpo fez, calculara mentalmente que o outro deveria estar perto da porta de saída.

Palpava os móveis e paredes em busca do moreno, deslizando os dedos pela madeira com cuidado. Identificou a mesa de estudos, seguiu a frente, encontrando a estante onde guardava pergaminhos e componentes materiais. Tropeçou e quase foi ao chão, quase praguejando com a dor no joelho. Afastou com a perna a cadeira caída um pouco longe da mesa onde devia estar e seguiu com mais cuidado.

Sentiu sua cabeça se chocar com algo e soltou um gemido irritado, logo se esquecendo da dor ao ouvir Jongin gemer também. Lançou a mão na direção dele e o agarrou pelo tecido das vestes. Abriu os olhos por dois segundos e pode ver apenas a silhueta à sua frente, mas já se sentia aliviado ao saber que ele estava de pé.

Não havia tempo para conversas, então se limitou a pegar a mão livre do moreno e lhe guiar para segurar no colete que usava, esperava que Jongin entendesse o que queria, porque precisava da própria mão livre para encontrar o caminho e sair daquele lugar fechado o mais rápido possível. Prendeu a respiração quando a mão do outro deslizou de onde havia indicado, indo parar num agarre firme na lateral de sua cintura. Sentia com atenção maior do que devia aquele toque quente. A situação ficou ainda pior quando o moreno deu um passo para se colocar atrás do corpo de Kyungsoo, deixando-o ciente de sua presença tão próxima. O pequeno quase esqueceu o que estava fazendo, mas foi desperto por um aperto questionador do outro em sua cintura. Sentiu a nuca arrepiar como se Jongin tivesse apertado sua pele diretamente, sem suas vestes intermediando o contato indireto.

Ao percebê-lo ainda estático, Jongin apertou novamente e gemeu uma interrogação. Kyungsoo se deu conta de que estava se comportando de forma irracional e voltou ao seu objetivo anterior.

Ainda tateando a parede, passou pela segunda cadeira que tinham, chutou para o lado e arrastou a mão pela superfície adornada em busca da porta. Encontrou o vão e puxou Jongin consigo ao sair por ele.

Precisaram dar alguns passos até estar longe da nuvem de fumaça que se formou em frente à porta da casa que dividiam. Ao estar longe o suficiente, abriram completamente os olhos e baixaram o pulso que cobria narinas e boca. Ambos olhavam desolados e ofegantes para a fumaça – agora cinza – que parecia não ter fim, sem saber como poderiam retirá-la completamente de sua casa para torná-la habitável novamente.

Vários elfos das árvores próximas estavam nas aberturas das janelas altas, olhando e especulando o que poderia ter acontecido ali. Temiam ataque de inimigos, mesmo que a aldeia dos aprendizes fosse um local neutro nos combates. No entanto, qualquer desconfiança de que fosse obra de algum mal intencionado desaparecia assim que viam Jongin parado perto da cena. Alguns reviravam os olhos, outros riam e alguns até ignoravam, simplesmente voltando ao que faziam antes.

Kim Jongin não tinha uma boa fama entre os aprendizes. Esta era merecida, visto que suas magias costumavam culminar em algum desastre de menor ou maior grau – como a explosão que presenciavam agora. Ele conseguira desde soltar faíscas de fogo pelas mãos quando não queria até criar uma lâmina de vento letal sem controle que derrubou uma das árvores habitadas antes que Sooman a neutralizasse. Aquele episódio poderia ter terminado de forma trágica se não fosse pela intervenção do velho mago e Jongin quase desistiu das artes mágicas depois dele. Quase. Porque, apesar de todos os mestres terem lhe dado as costas, Kyungsoo estava ao seu lado e não lhe deixou abrir mão de seu dom. Poucos elfos da floresta demonstravam aptidão para a magia, os dois eram especiais e não podiam deixar o medo impedi-los de usar o dom para o bem do reino élfico. Principalmente Jongin, que devia tanto aquele povo.

Foi acolhido pelos elfos da Floresta Anciã quando sua própria aldeia o rejeitou. Sua família não o defendeu quando foi expulso de lá porque tinham medo de seus dons. Esta era a principal razão par ainda viver com Kyungsoo e rejeitar o pedido que recebia todos os dias para viver noutro lugar.

Foi ali, naquela floresta, com aqueles elfos, que Jongin aprendeu que não precisava temer a própria energia, ela era parte de si. Ainda que fosse uma parte descontrolada e muito propícia a causar acidentes.

“Pobre Kyungsoo”, muitos pensavam ao encarar o elfo de olhos redondos em cada cena desastrosa de Jongin, pacientemente buscando uma solução.

Era isso que ele fazia agora: buscava uma forma de tirar toda aquela fumaça – possivelmente tóxica – de dentro de sua casa.

– Soo...

A voz suave e acuada soou de suas costas e lhe tornou consciente da proximidade que ainda mantinham. Ao menos a mão de Jongin não estava mais em contato com seu corpo, o que lhe conferia uma dose extra de capacidade de raciocínio.

Deixou de encarar a cena estressante a sua frente e olhou para o moreno, incentivando-o a continuar a falar. Jongin tinha os braços jogados ao lado do corpo e o tronco curvado para enfatizar sua face arrependida. Ele sempre fazia isso quando causava problemas, e Kyungsoo sempre lhe dizia:

– Vamos dar um jeito e tentar de novo.

– Isso não vai levar a lugar nenhum. Devíamos parar de tentar me fazer usar as suas magias. – disse com esperança de que o outro entendesse.

– Que seja. – assentiu. Apesar de não concordar com a proposta de Jongin, preferiu não contrariá-lo naquele momento sensível. – Você está bem? Não inalou muito daquilo?

– Acho que está tudo bem. Meus olhos queimaram um pouco, mas já não é mais tão doloroso. – Alinhou a postura ao responder. Olhou para a fumaça e viu que ela diminuía a densidade, se dissolvendo entre a copa das árvores anciãs. Isso significava que sairia da casa deles, o que era bom, mas significava também que iria entrar em contato com as árvores que os abrigavam. Nessa hora foi conveniente que as casas tivessem o espaço médio de cento e oitenta a duzentos pés entre elas, assim pelo menos nenhum outro elfo seria incomodado, apenas as velhas árvores. Apontou o indicador para cima para que Kyungsoo olhasse também. – Será que não faz nenhum mal à floresta?

O menor ponderou por instantes. Aquelas árvores estavam ali a mais tempo do que ele poderia contar, haviam resistido a investidas muito mais violentas, de acordo com as histórias que o velho Sooman conta. Foram atingidas por magia, maldições, lâminas, flechas, fogo, gelo, pedras e até a fúria de dragões.

– Elas aguentam. – concluiu.

Jongin assentiu, mesmo que não entendesse de onde Kyungsoo tirava tanta confiança. O moreno era quase um século mais novo e muito menos experiente. Kyungsoo teve a honra de ser aprendiz de um dos melhores magos do reino durante cinquenta anos inteiros depois que suas habilidades se manifestaram. Já o mais alto deles, ainda tinha problemas para lidar com sua capacidade e não tinha um tutor antes de Sooman lhe acolher. O velho era bom, mas precisou deixar o acampamento às pressas, deixando Jongin sob a tutela de Kyungsoo – e bem, Kyungsoo também era um aprendiz, então não era tão eficaz quanto gostaria de ser.

– Então... Só precisamos esperar? – Jongin perguntou ainda baixo. Kyungsoo lhe olhou e deu de ombros. Ele tinha razão, o que mais poderiam fazer? – Podemos ir pra casa do Chanyeol comer alguma coisa.

Chanyeol era um elfo guerreiro que morava na árvore mais próxima a dos dois feiticeiros. Apesar da aparência bruta e da voz intimidadora, era um bom amigo de Kyungsoo e, assim, de Jongin. Dividia a moradia na árvore com mais dois aprendizes: Jongdae – um bardo – e Baekhyun – um arqueiro. O arqueiro era conhecido não só pela habilidade de esculpir setas em minutos - contando que lhe dessem uma adaga e um galho, mas também pelos dotes culinários.

– Pode ser.

Kai observou de seu posto quando os dois elfos caminharam pela ponte de cordas e madeira até a árvore onde o guerreiro alto morava com os companheiros.

 

 

 

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Jongdae cantarolava uma canção sobre os céus do oriente sentado na janela da casa enquanto Baekhyun terminava uma infusão de ervas doces, deixando todo o lugar tomado pelo aroma suave. O terceiro e maior morador da casa estava sentado na cama mais baixa das três que existiam ali, polindo a espada que adquirira na última viagem. Reparava nos entalhes delicados que adornavam a empunhadura, o brilho impecável da lâmina afiada e sorria inconscientemente. Era a terceira espada que adquiria no último ano. Mesmo que só utilizasse uma em batalha, sua admiração pela beleza das peças forjadas artesanalmente era maior, o que o levou a formar um pequeno arsenal com as peças que comprava ou ganhava ao longo das expedições em nome do reino da floresta.

Jongdae parou de cantar assim que viu Jongin e Kyungsoo se aproximando pela ponte a sua direita, passando as pernas curtas para o lado de fora da casa e sorrindo enviesado para os dois.

– Bela exibição, Jongin! – comentou com ironia. – Poderia tentar outras cores da próxima vez. Algo mais... Vivo do que aquele roxo fúnebre.

– Calado Jongdae. – Foi Kyungsoo quem defendeu o maior, soando ameaçador o suficiente para que o bardo lhe obedecesse e virasse as pernas de volta para dentro da casa e anunciasse aos seus companheiros a chegada dos visitantes.

Teve o cuidado de falar audivelmente ao se dirigir ao líder da casa, garantindo que os dois que seguiam para a porta de entrada lhe ouvissem:

– Temos alguns andarilhos aqui, Chanyeol. Podemos ficar com eles? Um deles é bem mal humorado, mas o outro é engraçadinho como um filhote de urso.

Baekhyun riu discretamente e adicionou dois copos extras a mesa que preparava. Jongdae ainda entraria em problemas sérios causados por aquela língua provocadora. Não seria problema se fosse apenas com os mais próximos, ou até mesmo com desconhecidos da mesma patente. No entanto, Jongdae não media palavras mesmo quando falava com superiores. Baekhyun pegou o cesto de lembas que Chanyeol trouxe da viagem da qual chegou pela manhã e colocou na mesa. Analisou a disposição de cada objeto sobre a mesa com o perfeccionismo de um bom arqueiro e, só então, se virou para os convidados que entravam em sua casa.

Kyungsoo era praticamente da mesma altura que ele mesmo, dotado de um corpo de poucos músculos e um rosto delicado de olhos grandes e lábios bem desenhados. Não parecia ameaçador até que abrisse a boca para proferir alguma ameaça fria. Já Jongin era alto como todos os outros elfos, e exótico como nenhum deles jamais seria. O único defeito daquele jovem era a falta de domínio de seus dons mágicos. Era aceitável que as crianças não conseguissem lidar com magia nos primeiros anos na aldeia militar, mas Jongin estava ali há algum tempo. As provocações despertavam nele o desejo de contar tudo o que descobriu sobre a própria energia para os amigos, mas continha-se, porque se contasse precisaria falar de segredos que não eram só seus.

O menor dos dois visitantes tomou a frente e cumprimentou os colegas. Foi obrigado a lidar com as piadas de Jongdae e o riso mais discreto – mas ainda presente – de Chanyeol e Baekhyun. O guerreiro ria mais da face irritada de Kyungsoo do que do erro de Jongin.

– Já mandei se calar Jongdae! Precisa que eu te ajude a manter a boca fechada? Vai ser um prazer. – O olhar que dirigiu ao bardo deixava claro que falava a verdade.

Jongdae se encolheu um pouco, mas disfarçou pulando da janela e seguindo até Baekhyun.

– Estou com tanta fome. Baek, cadê a comida?

Kyungsoo deu-se por satisfeito e voltou a falar com Chanyeol, que era quem realmente tomava as decisões naquela casa:

– Precisamos esperar algumas horas antes de voltar pra casa.

– E eu sei que sempre tem comida boa aqui. – Jongin falou pela primeira vez, deixando aos poucos a defensiva e voltando a sua postura costumeira. – Vocês tem sorte de ter Baekhyun em casa.

– Não fale de mim como se eu não estivesse aqui, mesmo que seja pra elogios. – respondeu da cadeira onde tinha se sentado para ouvir a história por trás da nuvem de fumaça que viu mais cedo.

– Devemos elogiar sempre quem merece os elogios. – Jongin fez um gesto pomposo com a mão, em direção àquele que lhe alimentaria.

– Tudo bem, pode parar com a bajulação e vir comer.

Jongin foi até a mesa e pegou a comida que queria, voltando para se sentar na janela ao lado da que Jongdae estava a princípio. As casas da aldeia não eram muito espaçosas, uma vez que existiam para abrigar os integrantes do exército na parte estratégica da floresta, de onde poderiam defender o castelo agilmente em caso de ataque. As casas ficavam pouco abaixo da copa das árvores anciãs, que gentilmente acolheram os elfos da floresta. Foram construídas pontes resistentes ligando todas as unidades, para que os moradores circulassem com facilidade. As formas arredondadas adequavam as casas perfeitamente ao formato natural das árvores. Esse era um dos pilares da boa convivência entre elfos e a floresta, o respeito devoto à natureza conforme ensinado por sua deusa Ehlonna. Havia várias janelas de quase sete pés de altura e pouco menos de três de largura. Não precisavam de muitos móveis, apenas as camas de lã – forradas com mantos tecidos no reino especialmente para as acomodações militares – necessárias de acordo com os moradores, uma mesa, prateleiras fixadas nas paredes para suportar os itens dos moradores e o aparato desenvolvido há séculos para preparo das refeições. Este aparato planejado pelos elfos para não agredir a natureza consistia em uma placa de metal sobre uma caixa repleta de pedras vulcânicas encantadas para manterem a superfície aquecida quando ativadas pelo código que apenas soldados recebiam. Exceto pelo metal da placa e sua caixa, os móveis eram constituídos de madeira retirada fora da floresta anciã e habilidosamente entalhada, com motivos curvilíneos, elegantes e intricados, por vezes formando flores e folhas nas arestas. O bom gosto e atenção para aqueles detalhes eram uma das características marcantes do povo élfico e eram visíveis também nas mantas, vestimentas, objetos do cotidiano e construções.

Baekhyun pegou um copo cheio e algumas lembas em suas mãos pequenas, se aproximou de Chanyeol e ofereceu a comida ao guerreiro com um sorriso sereno. Sabia que ele estava se esforçando para parecer bem perante os companheiros, mas a falta de sua voz como presença constante na conversa era prova sólida de que não estava em boa condição. Ele tivera uma viagem longa logo após uma luta violenta que deixou marcas grosseiras no corpo alto, Baekhyun viu o tamanho da atadura que ele usava para cobrir as costelas da parte esquerda do tronco.

Park Chanyeol era um elfo guerreiro, e como tal, tinha o orgulho como uma das características mais fortes em sua personalidade. Em batalha, essa era um dos traços que Baekhyun mais admirava, mas em casa isso lhe deixava preocupado a ponto de cuidar de Chanyeol como cuidaria de uma criança indefesa – o que estava longe de ser a condição real do guerreiro.

Todos os outros se serviram das lembas de bom grado. Na floresta a alimentação dos soldados era montada para garantir resistência física, aquela iguaria não fazia parte do cardápio habitual e só era conseguida na aldeia próxima ao castelo de pedra, geralmente dada aos viajantes que saiam em missão pelo reino. O sabor adocicado e a textura suave eram deliciosamente complementares.

Kyungsoo sentou-se na janela ao lado de Jongin. Olhava de tempos em tempos para sua própria casa e checando qual era a situação da fumaça.

O bardo morador da casa onde passavam o tempo logo puxou sua harpa da cama mais alta e iniciou um show particular para os convidados. Além de tocar eximiamente o instrumento mágico, Jongdae havia sido prendado pelos deuses com uma das mais belas vozes que aquela floresta já ouviu, então logo todos passaram a lhe direcionar total e encantada atenção.

E quando Jongdae conseguia a atenção do público, ele poderia tocar por dias.

 

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Depois de algum tempo Jongdae deixou de tocar para voltar a comer lembas. Só então os outros tiveram consciência de que o Sol especialmente brilhante do verão, já descia em direção ao horizonte e tingia o céu em um gradiente mesclado de cores primárias, indicando que o dia se findaria em pouco mais de meia hora.

Jongin saltou da janela onde estivera sentado piscando rápido.

– Muito obrigado pela comida e música. Eu queria ficar aqui mais tempo – Coçou a nuca, desconfortável por sair tão repentinamente –, mas preciso ir a um lugar e acho que já estou atrasado.

– Aonde você vai de novo? – Kyungsoo foi direto em seu questionamento, longe de tentar camuflar a irritação que este carregava.

– Preciso ver alguém. – respondeu baixo. – Não é nada perigoso, nem mesmo precisarei usar magia. E volto em no máximo duas horas.

Kyungsoo estava desgostoso com as constantes visitas de Jongin a “um lugar”. Ele nunca lhe falava claramente onde ficava ou o que fazia. O moreno simplesmente desaparecia no fim das tardes e, quando questionado sobre o que estivera fazendo, dava respostas evasivas e pouco convincentes. Aquilo incomodava Kyungsoo pelo fato de sempre ter cuidado de Jongin, de tê-lo recebido tão jovem e zelado por sua segurança durante todos os anos seguintes. Na verdade, se Kyungsoo fosse sincero consigo mesmo, saberia que era mais que o instinto protetor naturalmente seu, era o sentimento de posse que se manifestava sobre alguém que não deveria despertar tanta vontade de ficar junto como o elfo estrangeiro causava. Jongin não era seu da forma que ele queria, por isso não podia pedir que ficasse, que não fosse se encontrar com quem quer que esteja colocando aquele sorriso em seu rosto, desde que aquelas visitas tiveram início.

Ele queria fazer isso mais do que já quis qualquer outra coisa, mas sabia seu lugar na vida do moreno, então se resignou a ele e anuiu com firmeza.

Jongin se inclinou respeitosamente ao abrir mais um daqueles sorrisos que apenas aquele que ele iria ver tinha capacidade de causar e saiu pela porta caminhando com pressa.

A intuição de Kyungsoo estava certa, Jongin caminhava em direção àquele que lhe fazia bem. Seu interior pulsava apenas com a lembrança da beleza daquela criatura, lhe impedia de controlar o sorriso fascinado e a vontade de tê-lo nos braços novamente. Jongin não deixava de vê-lo por um único dia que fosse. Tinha medo de perdê-lo a qualquer momento. Não parecia certo que alguém tão belo permitisse a ele - um mero elfo da floresta que não podia, ao menos, exercer sua função perfeitamente - que o tocasse e apreciasse. A mínima chance de que ele caísse em si e mandasse Jongin para longe lhe apertava o peito, por isso ele usava todo o tempo livre naquela caverna, cuidando para que seu bem mais precioso não se sentisse solitário, dedicando a ele o melhor que sua personalidade possuía na esperança de que lhe entregasse o coração assim como ele havia entregado o próprio.

Seguiu pela ponte de cordas em direção à montanha situada a leste da floresta. Quando a extensão da estrutura chegou ao fim, a capa negra do feiticeiro já tremulava ao que ele corria com energia. Jongin aproveitou o impulso, flexionou as pernas e saltou sobre a corda que limitava o fim da ponte. Sussurrou a magia que lhe daria uma queda mais suave na trajetória até o solo, mas segurou as pontas do tecido da capa e esticou-a para diminuir a velocidade da queda caso ele falhasse novamente. Não queria confiar uma possível queda de vinte metros às suas habilidades mágicas em desenvolvimento.

Seus pés calçados voltaram a correr tão logo tocaram a grama abaixo da floresta anciã. Saiu dos limites de seu reino seguiu pela Clareira das Luzes. Cada passo injetava em seu corpo a dose de ansiedade necessária para manter-se correndo até estar na trilha entre a vegetação mais baixa que as árvores anciãs que cercavam o caminho da caverna dos cristais, localizada na montanha nascente.

A floresta anciã habitada pelos elfos era cinto de proteção para duas montanhas: nascente e poente, denominadas de acordo com sua posição em relação ao movimento de rotação da Terra. A lenda contada no reino dizia que foram construídas para abrigar dragões, ainda na época em que eles voavam livres pelos céus, como um santuário para que pudessem viver longe do alvo de predadores. Isso explica o fato de as terras da região se tornarem famosas pela presença de pedras preciosas, assim como a presença de metais nobres sob o solo dos domínios humanos, do outro lado da montanha poente.

Muitos povos foram cegos pela ganância e se atreveram a violar as montanhas. Cada um deles foi castigado por seu pecado, até que os elfos e humanos que ali habitavam agora conseguiram se estabelecer. Alguns acreditavam que os dragões incumbiram espíritos protetores de guardar seu tesouro, outros acreditavam que os deuses puniam os invasores do local, e os mais céticos diziam que eram apenas ladrões matando outros ladrões que mantinham o lugar intocado. Jongin conhecia a verdadeira história, contada por alguém que viveu o bastante para ver toda a história acontecer.

A verdade era que a Floresta Anciã, que sempre esteve no entorno do tesouro, não aceitaria entregá-lo aos ladrões sujos que o buscaram. Somente quando recebeu povos virtuosos o suficiente para lhe agradarem, os acolheu em seu interior em troca de ajuda na proteção das montanhas. Assim a montanha nascente era vigiada pelos elfos da floresta e a poente pelos humanos que viviam do outro lado.

Apesar de conhecer bem o território, era perigoso para Jongin estar nas montanhas sozinho. Mesmo que a floresta lhe desse cobertura em seu caminho, o destino de sua corrida era também alvo de ladinos mal intencionados de todas as raças e partes do mundo.

Mesmo com todos os fatores contra, Jongin corria com a guarda baixa e – descuidadamente – desarmado.

Sentiu o peito arder em alarme ao que uma flecha passou zunindo em frente ao seu peito e parou no solo batido a menos de um metro de seus pés com uma pluma vermelha presa no fim, apontando para quem a disparara. Girou agilmente para a direita e se pôs atrás da árvore mais próxima de si, buscando com olhos nervosos o atirador da flecha que quase lhe tirara a vida. Não tinha sinal de movimento atípico em lugar algum da floresta, mas ele sabia que havia alguém oculto entre as árvores. Alguém que seguramente não era aliado. Nessas horas sentia a desvantagem de não ter conseguido realizar a invocação de um companheiro animal, que poderia lhe ajudar a localizar o inimigo com seus sentidos apurados. Mais duas flechas iguais a primeira passaram ao lado de sua cabeça e ele foi obrigado a esconder o corpo completamente. Praguejou baixo por sua imprudência. Como seria capaz de lutar sem armas? Teria que recorrer à única técnica ofensiva que aprendera até ali. Só havia mais um problema: ele precisava ver o alvo para disparar.

Saiu de seu esconderijo e desviou-se de mais uma flecha, logo olhando na direção de onde ela viera a tempo de capturar a sombra de uma figura pequena voltando a se esconder atrás de uma árvore á sua frente.

Dedicava sua atenção ao ponto onde localizou o inimigo e não entendeu quando uma flecha certeira vinha ao seu encontro da direção oposta. Seus ouvidos captaram o som da seta, mas a posição não lhe permitia sair do alcance a tempo. Foi em centésimos de segundo que precisou decidir pelo movimento que preservaria sua vida. Deslizou até o chão e a ponta que se direcionava para seu peito acabou cravada no ombro esquerdo. Não perdeu tempo absorvendo a dor, logo arrancando a flecha do local para prevenir mais danos, utilizou um encanto druídico para parar o sangramento. Proferiu um gemido agoniado, se sentindo tonto após a movimentação rápida demais aliada à dor latejante que lhe atingiu na carne rasgada depois de alguns segundos depois. Não poderia continuar aquela luta, não fazia a menor ideia de quantos inimigos mais estavam escondidos junto aos dois que lhe atacaram. Poderiam ser apenas os dois assim como poderiam ser uma dúzia ou uma centena. Onde está o esquadrão dessa área? Passou os olhos nervosamente pela copa das árvores em busca dos companheiros elfos que deveriam estar por perto, mas não davam sinais.

Sem alternativa, cobriu a cabeça com o capuz da capa verde do exército e sussurrou as palavras de ativação que Kyungsoo fez questão de lhe fazer praticar até a exaustão. Utilizava sua energia ligada aos elfos da floresta para combinar sua presença à natureza e passar imperceptível aos sentidos de toda criatura. Seus passos não emitiam mais som quando ele saiu de trás de seu refúgio, seguindo ainda hesitante por entre as árvores, evitando a trilha central. Os olhos negros fixos na direção de onde a flecha viera captaram quando um gnomo de pouco mais de um metro de altura saltou do galho onde estava empoleirado ao lhe atirar a flecha. Outro gnomo levantou-se do chão, onde folhas secas cobriam-no, e juntou-se ao primeiro na busca por Jongin.

Se ao menos eu tivesse minhas adagas. O feiticeiro lamentou ter saído às pressas depois de ter perdido noção de tempo com a música de Jongdae. Mesmo que nenhum dos inimigos tivesse conhecimentos mágicos, ele não seria capaz de vencê-los sozinho. Por hora, sua única alternativa era acompanhar a dupla até ter certeza de que iriam embora dali, ou que algum dos elfos do esquadrão os encontrasse e detivesse para interrogatório. Não ficaria incomodado se os matassem, na verdade. Seu único receio era que pudessem encontrar a entrada da caverna e atacá-la em busca das joias guardadas no interior da montanha. Um arrepio incômodo subiu por sua espinha o imaginar que seu precioso guardião sofria com ameaças como aqueles dois a todo segundo.

Caminhou no encalço dos dois até que eles passaram pela árvore onde Jongin deixara sua runa para indicar o caminho da caverna. Ficou parado ao lado desta enquanto os dois seguiam seu caminho para fora da floresta. Quando os perdeu de vista permitiu-se suspirar aliviado e descer o capuz pesado. Não sabia o que os dois poderiam estar fazendo dentro da floresta se sua intenção não era saquear, mas agradecia mentalmente por estarem indo embora sem causar maior alvoroço.

Deixou a tensão em segundo plano e seguiu para seu destino.

As runas mágicas foram ensinadas a ele por Kyungsoo como estratégia para quando precisasse marcar o caminho. Pareceu inútil para ele na primeira vez que ouviu a função da magia, mas Kyungsoo foi incisivo em seguida lhe atirando “o que você vai fazer se precisar entrar em um labirinto? Derrubar todas as paredes eu sei que seus braços não conseguirão. Você é um manipulador de magias, use-as para realizar o que precisa e pare de achar que tudo se resolve na força bruta”.

Ele estava mais do que certo. Jongin encontrara a caverna dos cristais seguindo a força que o chamava para aquele lugar, mas queria garantir que não se esqueceria de como chegar ali nunca mais depois que o guardião lhe sorriu acolhedor. Marcou pontos estratégicos entre os troncos espessos da floresta anciã e só precisava segui-los a cada nova visita.

Assim Jongin seguiu runa por runa, caminhando pela trilha formada naturalmente entre as duas montanhas até estar de frente para a rocha sólida com a última marca mágica. Espalmou a mão destra sobre a marca e pode sentir sua pulsação disparar ao receber a resposta do habitante daquela caverna oculta.

– Sou eu. – falou baixo, próximo a rocha.

O que antes parecia parte da montanha se abriu a partir do ponto onde a palma de Jongin descansava em direções opostas. A mão não teve tempo de vacilar quando perdeu apoio, porque a pedra foi substituída pela pele macia de quem permitira a entrada do elfo ali.

Jongin sorriu abertamente quando a rocha abriu passagem para que pudesse vê-lo completamente, tocando-o gentilmente ao entrelaçar os dedos claríssimos aos seus e puxá-lo para dentro da caverna. A rocha fechara a passagem depois de sua passagem e ele ficou parado onde estava. Os olhos do outro eram coloridos e incertos como a projeção de um prisma. As cores cintilavam com o reflexo das luzes difusas nas pedras que tomavam conta de todas as paredes da caverna e lhe faziam duvidar da realidade.

O mundo julgava que sua raça, os elfos, era a dotada de maior beleza dentre todas as outras, e Jongin acreditara nisso durante toda a vida até encontrar aquele ser a sua frente. Não sabia se era uma característica comum à sua raça, mas sabia que era mais bonito que qualquer coisa que já tenha visto ou ouvido histórias. Parecia com um humano em alguns pontos, mas nenhum humano que tenha conhecido apresentava a energia mística que aquele guardião emanava. Muito menos sua beleza. Além dos olhos cintilantes em cores oscilantes, ele possuía cabelos longos, lisos e brilhantes como ouro, a pele branca de toque suave e o rosto delicado que causaria inveja até mesmo ao mais belo dos elfos. Jongin mal podia crer que realmente tinha aquele belo guardião para si.

– Você está bem? – perguntou e deslizou a palma livre pela lateral do rosto de Jongin num gesto preocupado com a palidez dele. – Haviam alguns ladrões na floresta agora há pouco. Não encontrou-os no caminho?

– Eu desviei deles há pouco. Mas e quanto à você? Eles estiveram aqui?

O mais baixo riu. Como o elfo poderia ser tão preocupado com o bem estar de alguém como ele?

– Sim, estiveram. Quantas vezes eu preciso dizer que não vão me machucar? Como pode pensar que um daqueles vermes seria capaz de me machucar? Vir aqui foi um erro deles e posso garantir que nenhum gnomo voltará a me incomodar depois do que eu lhes mostrei.

– Eles estavam armados! Não se feriu?

– Você se esquece de que eu sou mais forte que todo o seu exército, Jongin.

O elfo sorriu aliviado, mas logo os lábios deixaram de ter força para sustentar o sorriso. Então os olhos perderam o foco, todo o corpo não tinha mais forças e Jongin iria ao chão se os braços do guardião não tivessem lhe amparado.

O guardião agarrou o corpo moreno nos braços, segurando pelos joelhos flexionados e na altura das costelas. Caminhou para o interior da caverna até a câmara onde ele vivia e deitou-o delicadamente sobre as peles que cobriam parte do chão, onde os dois costumavam passar horas juntos durante o inverno. Retirou o broche verde que prendia a capa do exército élfico e não precisou retirar mais peças para saber o que havia de errado com seu visitante. Uma mancha de sangue fresco denunciava o ferimento causado pela flecha dos ladrões que estiveram em sua frente mais cedo. Torceu o expressão em ira ao praguejar contra os gnomos. Malditos! Devia ter esmagado todos. Aproximou o rosto do local e percebeu que havia sido encantado para não sangrar em demasia, mas exalava um cheiro férreo mais forte do que o sangue. O guardião teve ímpetos de levantar-se, correr pela floresta até encontrar os dois gnomos que deixara vivos do grupo e arrancar a cabeça de cada um daqueles corpos pequenos e nojentos. Como poderiam ferir alguém tão indefeso? Jongin jamais os atacaria primeiro, era uma das criaturas mais pacíficas que já conheceu em toda sua longa vida.

Acariciou o rosto adormecido do elfo com admiração legítima. Sentia seu interior revirando-se em chamas vivas ao tê-lo por perto, sentia-se bem como nunca em todos os seus milênios de existência. Não o deixaria morrer pelas mãos de serezinhos sujos e gananciosos. Para garantir – Que tipo de veneno é esse, Jongin?

 


Notas Finais


Então? Pode ficar confuso em certos momentos, mas vai se explicando aos poucos. Se surgirem dúvidas sobre o universo onde se passa a estória podem me perguntar que eu adoro tagarelar sobre d&d e LOTR ^^ Eu fiz um tumblr (edit: https://www.tumblr.com/blog/pedaco-da-lua) pra postar algumas explicações e as duzentas mil imagens de referência que eu salvo dos confins da internet desde que o plot surgiu, mas ainda sou nova nesse negócio de tumblr :v Quando tiver bom, posto o link aqui.


Por hoje é isso, pessoal q

Até a próxima.


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