História Pela luz dos olhos teus... - Capítulo 17

Depois de uma péssima noite de sono, Hermione se levantou e a primeira coisa que fez foi olhar se Severus havia deixado alguma mensagem.

Nada.

Sua preocupação voltou com tudo. E se ele não aparecesse no trabalho? O que ela faria? Como iria encontrá-lo? Saber que estava bem?

Tentou ligar mais uma vez, e o telefone novamente caiu na caixa de mensagem.

— Tudo bem Hermione, se acalma. Ele está bem. - ela disse a si mesma enquanto se arrumava.

Chegou a empresa e foi diretamente para o laboratório.

— Hermione! Hermione! - ela ouviu alguém a chamar e se virou. Era Draco.

Ele rapidamente a alcançou.

— Bom dia meu amor!

— Bom dia Draco!

— Você não me ligou ontem.

— Me desculpe, cheguei muito cansada e acabei dormindo.

— Está melhor? - ela assentiu, queria logo ir ver se Severus já havia chegado - Vamos almoçar juntos hoje?

— Sim.

— Certo, nos vemos mais tarde. - ele se aproximou e lhe deu um beijo na bochecha e se despediu.

Hermione voltou a caminhar para o laboratório, torcendo para que ele estivesse lá e estivesse bem. 
Assim que chegou na porta do laboratório teve a certeza de que ele chegara. O cheiro dele o denunciava, e após respirar fundo de alívio, sentiu um frio tomar conta do seu estômago. 
Entrou e o viu concentrado em seu computador.

— Bom dia! - ela cumprimentou tentando parecer que era só um dia normal e que nada havia mudado.

— Bom dia Hermione. - devolveu sem olha-la, parecendo muito concentrado no que fazia.

Toda a preocupação que estivera sentindo até entã se transformou em pura fúria.
"Se ele estava bem, por que não ligou? Por que não lhe deu nenhuma justificativa?"

Ela esperou e esperou que ele lhe dissesse algo, lhe desse alguma explicação, ele lhe devia isso afinal. Não suportando o silêncio e a curiosidade, ela perguntou.

— O que teve de tão urgente para fazer que não pode nem mesmo me ligar.

Ele a olhou, mas não disse nada.

— No recado que deixou para mim no hotel. Dizia que teve que ir correndo para resolver uma urgência, e que tinha arrumado um táxi para me trazer de volta.

Ele respirou fundo, odiava mentiras, mas aquela tinha sido necessária.

— Nem tudo que acontece na minha vida é do seu interesse. - respondeu seco e irritado.

Ela se surpreendeu com o tom de voz e a grosseria e logo lhe devolveu no mesmo tom.

— Se alguém precisava ficar irritada seria eu, Severus Snape. Eu fui deixada sozinha em um hotel em uma cidade a quilômetros de casa e você mal se indignou a me falar alguma coisa. Sequer me deu um telefonema! Nem nada. Eu te fiz um favor e tudo que recebi foi um recado deixado na recepção de um hotel!

Ele a olhou um tanto surpreso. Nunca havia visto ela irritada.

— Eu não lhe devo explicações Granger! Nós não somos nada!

Aquilo a acertou em cheio.

— Não, não deve mesmo Severus! E pensar que eu terminei com o Draco só para te acompanhar nessa maldita viagem!

— Estava demorando. Eu sabia. Tinha certeza que mais cedo ou mais tarde você iria jogar isso na minha cara.

— Eu não estou jogando nada na sua cara seu imbecil! Eu só esperava que você tivesse um pouco mais de consideração.

As lágrimas rolavam pelo rosto dela, borrando a maquiagem que ela dedicara um tempo extra para fazer. 
Severus deu um passo em direção a ela. Precisava conforta-la e abraça-la. Dizer que tudo aquilo era um engano, ele a amava e que já não conseguia viver sem ela. Contudo parou assim que a porta da sala foi aberta e Draco entrou por ela com um sorriso, que morreu no mesmo instante que viu a namorada.

— Hermione, nós... Aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupado e viu Severus se virar e Hermione secar as lágrimas.

— Nada Draco, está tudo bem.

— Não, não está. - ele disse quase gritando e a abraçando - O que aconteceu? O que você fez Snape?

Severus ficou calado. A mistura de sentimentos contraditórios em sua cabeça, a briga em seu coração. Ele estava usando todas as suas forças para se conter, para continuar inexpressivel.

— Não foi nada Draco. Se me dão licença eu preciso ir ao toalete.

— Eu vou com você, meu amor. Mas eu juro que se eu descobrir que você fez alguma coisa, se considere um homem morto Snape.

Hermione saiu acompanhada por Draco e Severus precisou socar a mesa a sua frente para liberar toda a raiva e angústia que estavam lhe subindo pela garganta.

Ele respirou fundo, tentando colocar seus pensamentos em ordem e acalmar sua alma. Se recriminando pela sua atitude e pela perda do controle.

Severus estava fora de si e precisava dar um tempo de tudo aquilo e impedir um desastre maior. Deixou sua sala e foi diretamente para a diretoria, precisava de uma conversa com Lucius.

—.-.-.-.-.-.-

Depois de passar um tempo explicando para Draco que nada acontecera, que ela apenas estava exagerando devido a atitude de Severus no dia anterior, Hermione se permitiu respirar e raciocinar tudo aquilo que acontecera.

Ela estava irada com ele. Como ele pôde? Depois de tudo que ela fizera? Como ele podia simplesmente dizer que eles não tinham nada? É claro que eles tinham, eram amigos. Pelo menos da parte dela. Será que ela se enganara durante todo aquele tempo?
Respirou fundo.

Talvez tudo seria mais fácil se os sonhos não a pertubassem tanto. Aquela fora a segunda noite que sonhara com Severus. Com eles juntos, se beijando e se amando. Acordou no meio da noite suando frio, e não conseguiu voltar a dormir. Aquilo não parecia certo, ele era um amigo. Ao menos ela o considerava assim, talvez o mesmo não poderia ser dito por ele.

— Droga Hermione! Você está enlouquecendo isso sim!

Respirou fundo e fez o melhor que conseguiu com a maquiagem e voltou para a sala.

Encontrou Severus organizando a mesa e guardando alguns documentos em uma pasta.

— Sr Snape, eu gostaria de pedir desculpas pelo que aconteceu alguns minutos atrás. Eu não deveria ter me exaltado.

— Não precisa se desculpar Srta Granger. Eu também me exaltei, e espero que isso não comprometa o trabalho que tem desenvolvido aqui.

— Não senhor.

— Ótimo. Porquê a Srta é a nova responsável pelo setor.

— Como é? - ela perguntou incrédula. Será que o Draco havia pedido a demissão de Severus? Não, eles não podiam demiti-lo. A empresa só funcionava graças a ele.

— Isso mesmo que ouviu Srta Granger. É a nova responsável. Será temporário, mas seria bom que levasse a sério as implicações de tudo isso.

— Mas, e você Severus? - perguntou deixando de lado a indiferença e o tratamento frio.

— Não se preocupe comigo Granger, ficarei bem. Vou apenas resolver alguns problemas da filial em Moscou, acredito que estarei de volta em duas semanas. Por favor, não destrua o laboratório enquanto isso.

Ela sorriu, mas seu coração se apertou com aquela notícia. Ficaria duas semanas como chefe do controle de qualidade, um verdadeiro sonho. Se não fosse pelo fato de que ficaria duas semanas sem ver Severus, e isso lhe causava uma dor no peito que era quase insuportável.

Ela não disse nada. Apenas o observou organizar as coisas e desligar o próprio computador.

Severus pensou em apenas sair, sem nada a dizer. Percebera que ela tinha se surpreendido com a sua repentina viagem, mas que também nada dissera. Contudo ao chegar a porta, não pode resistir e acabou dizendo, mesmo sem olha-la.

— Espero que fique bem Granger.

E saiu, sem esperar resposta e sem olhar para trás. Tinha certeza de que se olhasse seu coração se partiria ainda mais, seja porque visse tristeza ou indiferença. Ambos o matariam.