História Pela luz dos olhos teus... - Capítulo 22

Capítulo 22

- Ah meu Deus. Foi real! – ela o olhou surpresa e ele não entendeu. – Os sonhos dela, não foram sonhos. Foi real, aconteceram de verdade.

Ela continuou falando consigo e juntando os pontos.

- Srta Weasley, a srta está delirando?

Ela levantou os olhos o encarando.

- Você e a Hermione ficaram juntos no casamento! – acusou o encarou com os olhos semicerrados e ele quase engasgou. – Eu não consigo acreditar! Meu Deus! Como você pode?

- Perdão? – questionou confuso com a raiva que se espalhou pelo rosto dela.

- Você se aproveitou que ela estava bêbada para ter o caso de uma noite!

Ele se limitou a rir. Por um minuto, não, um segundo chegou a acreditar que talvez seus problemas pudessem ser solucionados. Mas não, agora ele ainda iria ser acusado por se aproveitar dela.

- E que maravilha deve ter sido para você quando ela acordou e não se lembrava de nada.

E novamente ele riu, suprimindo a vontade de gritar.

- Você é desprezível! E pensar que a Hermione te considera um grande amigo.  – ela o olhava com nojo. E aquilo o enfureceu.

Severus agarrou pelos braços e quase a sacudiu no meio da festa.

- Você não sabe nada do que aconteceu naquele casamento. Não sabe como eu me senti, então não me acuse de coisas que você não entende. – ele disse, e a ameaça estava no tom de voz e não no volume.

Ela o olhou surpresa. E quando ele a largou e passou a mão pelos cabelos, procurando por calma, e por Hermione que não voltava nunca, ela abaixou a cabeça confusa.

- Ah meu Deus! É claro! Gina sua burra! – ela disse consigo mesma dando um tapa na própria testa e depois o olhou nos olhos - Você gosta dela!

Ele se virou e não mais a olhou.

- Você gosta dela! Faz todo o sentido agora! Na verdade TUDO faz sentido agora. Como eu não vi isso antes?! Como ela não viu isso antes?

Severus respirou fundo e olhou em volta deles. Ninguém parecia ter prestado atenção a surto da ruiva.

- Você tem que contar a ela! - exigiu o encarando.

- Não, e escute bem as minhas palavras. Hermione não deve saber jamais que aquela noite aconteceu. Jamais! A srta compreendeu bem? - sua voz era, apesar de calma, firme.

- Mas isso não é justo com ela! Ela vem tendo sonhos com você – disse um pouco envergonhada e Severus achou aquilo interessante -  E não consegue entender o porquê. Você precisa dizer a ela.

- Não. - ele afirmou decididamente.

- Mas porquê não Snape? Se você gosta dela não faria tudo para ficarem juntos? Não gostaria de poder dizer a ela o que sente?

- Você não consegue ver não é mesmo? Amanhã ela vai viajar com o Malfoy – as palavras saíram com escárnio – Ele vai apresenta-la a família dele.

Quando Gina ia para questiona-lo ele continuou.

- Lúcius me contou. A srta o conhece bem, por acaso se lembra de quantas garotas ele apresentou para Lucius e Narcisa?- ele não esperou que ela respondesse - Isso mesmo nenhuma. Ele sabe que ela é especial. Ela o mudou. Lúcius contou também que ele pretende pedi-la em casamento. – disse com riso autodepreciativo – Eu não posso fazê-la feliz! Ele pode... Ela é a mulher certa para ele...

Gina ainda estava em choque com aquelas informações. Draco iria mesmo pedir a mão de Hermione?

- Pode até ser, mas ele não é o homem certo para ela. E você sabe disso. 

Eles perceberam que Hermione se aproximava.

- Seu segredo está a salvo comigo. Mas não se engane, uma hora ela vai descobrir.

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Assim que Hermione voltou, Severus arrumou uma desculpa qualquer e saiu dali. A única coisa que mantivera sua sanidade ao longo de todos aqueles anos, e principalmente depois do casamento era que ninguém desconfiava dos sentimentos dele. Mas agora, bem agora a ruiva sabia e com certeza logo o amigo também saberia, e em breve, ela também saberia. Não era assim que ele queria que as coisas acontecessem.

O peso daquilo começou a sufoca-lo. O ar começou a lhe faltar e ele se viu caminhando para o banheiro. Afrouxou a gravata e se olhou no espelho.
Que visão ridícula! Ele concluiu. Abaixou a cabeça e sentiu que alguém entrava no local.

- Snape, Snape. Aproveitando a noite? - Draco perguntou debochado e Severus apenas  levantou o olhar. O encarando pelo espelho.

- Bastante Malfoy e você?

- Impossível não aproveitar ao lado de uma mulher como Hermione. E pretendo aproveitar mais, depois da festa, se é que me entende!

Draco riu e Severus fechou os punhos e respirou fundo.

- Soube que vão viajar amanhã!

- Sim. E nem tente arruinar essa viagem Snape, te garanto que seus esforços serão inúteis. - Draco ameaçou, mas Severus viu insegurança nos olhos azuis cinzentos dele.

-  Seu pai me disse sobre o anel de família. Tem certeza do que pretende fazer?

- Tenho sim. Não vou perde-la.

- Não precisa se preocupar comigo Malfol, não vou estar no seu caminho ou dela.

Draco não disse mais nada, apenas olhou para Severus desconfiado.

Lavou as mãos e quando foi saindo olhou para trás e sem saber como apenas disse:

- Cuida bem dela.

Não conseguiu se despedir de Hermione e nem de ninguém na festa. Apenas foi embora, precisava aprender a unir os cacos do seu coração ou não conseguiria mais continuar.

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- Vamos? - Draco perguntou a abraçando pelas contas.

Hermione sorriu e assentiu.

- Viu o Severus? Ele simplesmente sumiu!

- Ele deve ter ido embora. Sabe como os mais velhos gostam de dormir cedo. - ele disse rindo e ela se soltou dele.

- Não gosto quando fala assim dele. Severus não é velho.

- Vai defende-lo?

- Vou. Ele é uma pessoa maravilhosa, e eu queria que se dessem bem. Draco, não vamos discutir, tudo bem? Eu estou cansada e amanhã sairemos cedo.

- Sobre isso, eu tive uma ideia. Eu sei que seu amigo não vai estar no seu apartamento e sua amiga ruiva vai dormir sei lá onde. Eu estava pensando, em dormir lá com você, e amanhã saímos juntos da sua casa. O que acha?

Hermione ficou insegura, mas quando ele a abraçou e lhe beijou, se viu dizendo:

- Claro. Boa idéia.

Ele lhe deu outro beijo e segurou em sua mão, e por algum motivo ela sentiu que aquilo estava errado, como se não se encaixasse.

Mais tarde, mesmo com Gina insistindo que não era necessário, Hermione e Draco a levaram para a casa do irmão, onde ela passaria a noite e depois seguiram para o pequeno apartamento que Hermione dividia com Harry.

Era estranho estar ali, sozinha com ele. Respirou fundo assim que entraram. A primeira noite deles aconteceria ali. Respirou fundo novamente, e assim que fechou a porta Draco a abraçou e começou a beija-la. Ela tentou se soltar e aproveitar o momento, mas não conseguia. Algo estava lhe impedido, ou melhor alguém. Seus pensamentos fugiam para Severus a cada toque de Draco e ela precisou parar.

- Ok. É... Meu quarto é no final do corredor a direita. Eu preciso, preciso...

- Se preparar? - ele perguntou com os olhos em fogo, esperara por aquela noite muitas vezes. - Tudo bem, vou espera-la no  quarto. Quer beber alguma coisa?

Ela sacudiu a cabeça e depois de um beijo ele foi para o quarto dela e Hermione entrou no unico banheiro do seu apartamento.

Tornou a respirar fundo. Abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou nela, olhou para o relógio.

01:27

- Calma Hermione! Não é nada de mais. E nem é como se você fosse uma virgem. Só... Respira.

Ela então se levantou e se olhou no espelho. Começou escovando os dentes, e depois ajeitou o cabelo. Voltou a se sentar na tampa do vaso e pegou o enxaguante bucal, que tinha um rótulo extremamente interessante.

Hermione leu, uma, duas vezes as instruções. E leu também, outras três vezes, os inúmeros benefícios do produto.

Pegou o demaquilante e o algodão e removeu a maquiagem que a amiga havia feito mais cedo para a festa. Ficou um tempo encarando as pequenas sardas em volta do nariz, crente que elas tinham aumentado na última semana. Precisava se lembrar de usar mais filtro solar, mesmo morando em Londres.

Tirou a roupa, e a ansiedade e insegurança voltaram com tudo. Se enrolou no roupão e pegou o celular. Precisava anotar mais alguns itens na sua lista de compras.

"Algodão, filtro solar, outro sabonete (aquele cheio de frescuras que a Gina comprou)"

Pegou o hidratante e passou no corpo. Olhou para o teto e concluiu que teria de fazer uma limpeza naquele banheiro assim que tivesse mais tempo.

Se levantou. Chegou a hora. Levou a mão a maçaneta. Soltou e voltou a se sentar.

- Respira Hermione. Respira.

Pegou o celular, e não se controlou, ligou para a pessoa que sentia falta.

A voz dele veio rouca e séria, mas antes que ela se dissesse algo, percebeu que se tratava do correio de voz dele.

"Alô? Severus? Por que o seu telefone está desligado? Você nunca o desliga. Espero que esteja bem. Eu estou te ligando porque... Bem, porque eu queria saber como você está. Saiu da festa e não se despediu. Fiquei pensando se aconteceu algo."

Ela ficou em silêncio por um tempo, mas logo continuou, sendo mais sincera.

"A verdade é que, eu não sei porquê estou te ligando. Você vai rir quando eu te contar e dizer que sou uma tola, ou algo do tipo, mas estou trancada dentro do meu banheiro. E... - outra respirada funda - E... O Draco está aqui. Bem, não aqui no banheiro. Ele está aqui em casa. Vai passar a noite aqui, e eu não sei porquê estou te contando isso. Eu devo estar louca. E, bem. Acho que eu disse 'bem' umas dez vezes, o quê indica que eu perdi toda e qualquer capacidade linguística. Mas, eu precisava te ligar. Não sei porquê, mas precisava. Queria ouvir sua voz."

Mais um tempo de silêncio.

"Eu sei que está tarde, e eu não deveria estar te ligando, me desculpa. Eu preciso ir. Quando receber essa mensagem me liga. Boa noite Sev!"

Ela desligou e se levantou. Era hora de ser corajosa. Deu mais um nó no roupão, uma última olhada no espelho e saiu.

Caminhou vacilante até seu quarto. A distância parecendo ao mesmo ter ser um quilômetro e um milímetro.

Uma última respirada mais profunda na porta do quarto e ela entrou.

Draco estava deitado na cama. Já não usava camisa e o cinto, mas permanecia de calças e por algum motivo Hermione  agradeceu aquilo.

Ele estava dormindo e vez ou outra ressoava baixo, com um ronco ou dois as vezes.

Hermione vestiu seu pijama de flanela e se deitou na cama ao lado dele. Decidiu não acorda-lo. Estava cansada e ele também devia estar. Afinal já passava das três e em algumas horas eles teriam que se levantar e se arrumar para irem a estação de trem.

De alguma maneira conseguira adiar por mais uma noite. Mas dentro de si ela se perguntava se deveria estar se sentindo feliz com aquilo, afinal não era uma situação normal, era?