História Pela luz dos olhos teus... - Capítulo 27

Capítulo 27

Estava perdido.
Definitivamente e irreversivelmente perdido.

Ela o beijara. Hermione o beijara. E ele correspondera.
Por Deus, ele não podia, não devia! Mas precisava admitir, apesar da surpresa, aquele fora o melhor beijo da sua vida. Nem mesmo os do casamento foram como aqueles.

A lembrança do beijo só o levava a devaneios, onde Hermione admitia que o amava e que havia terminado com o Draco por ele. Apenas para ficar com ele.

Severus sabia o quão estúpido era ficar pensando daquela forma, mas não conseguia evitar.

Pensar que Hermione o amava era o suficiente para tirar sua racionalidade.

Mas antes que pudesse se permitir sentir aliviado, feliz ou relaxado, um problema decidiu surgir e ocupar sua mente.
E apesar de estar longe de seu coração, não conseguia refutar aquela ideia.

Diane.

Sua relação com ela era recente, mas era boa. Era estável, agradável e consistente. Algo a que ele poderia se agarrar e sabia que não sairia machucado. Era seguro e confortável.

Passou a noite pensando naquilo, pensando em qual decisão tomar, qual caminho seguir. Os dois pareciam tão certos e tão errados ao mesmo tempo. E nem mesmo quando montou sua lista de contras e a favor conseguiu se decidir.

De um lado tinha algo completamente seguro, saudável, normal e tranquilo. Sem grandes ou nenhum problema, mas também sem grandes emoções. Era como se pudesse dizer exatamente como sua vida seria dali a dez anos. Completamente previsível e confortável. Sem riscos.

Já do outro, ele tinha alguém por quem ele era completamente apaixonado há anos. Alguém que ele não conseguia esquecer, alguém que nunca o deixaria confortável. Afinal se ele era calmaria, Hermione era mais um tufão tropical. Ela sempre o forçaria a testar seus limites e que poderia fazê-lo feliz como ninguém.  Mas haviam grandes chances de dar tudo errado e de se magoar mais uma vez.

Chegou na empresa ainda sem saber que decisão tomar, sem saber o que fazer. Tinha uma reunião com Lucius logo pela manhã, talvez depois dela conseguiria pensar em algo.

Entrou no escritório de Lucius e se deparou com Draco sentado na cadeira.

- O que está fazendo aqui?

Draco riu.

- Não é óbvio? - colocou os pés sobre a mesa - Vim rastejar e implorar para Hermione voltar comigo. Mas meu pai me encontrou antes e disse que um Malfoy não se sujeita a isso. Quando eu insisti, ele ameaçou manda-la embora. Então, aqui estou... Esperando pacientemente que a minha mãe venha me buscar, como se eu fosse uma criança mal educada na escola.

Severus ficou o olhando, ele estava claramente bêbado, e extremamente mal cuidado. Os cabelos loiros sempre tão adimirados pareciam estar sujos e despenteados. O rosto estava macilento e de uma coloração nada saudável. Aquela era a visão da desgraça que uma mulher poderia causar a um homem. Ou melhor, o que Hermione conseguira causar.

Draco se levantou e foi até o aparador na sala do pai e se serviu de vodca.

- Me diga Snape, você que a conhece a tanto tempo e quem ela tem uma enorme consideração. Me responda, o que eu fiz de errado?

- Não acredito que seja um assunto a ser discutido. E nem que seja eu a pessoa a responder.

- Ah Snape! Vamos lá, ajude um pobre coitado. Por que não deu certo? Ela deve ter lhe falado alguma coisa.

- Nós não conversamos sobre isso. Quase não tivemos tempo nos últimos dias. Não que seja da sua conta. Mas talvez, vocês não combinavam.

- Não combinavamos? Fala sério Snape. Éramos loucos um pelo outro. Quantas vezes você nos viu juntos? Foi só a coisa ficar mais seria que ela fugiu. Assim como ela fugiu na última viagem e te usou como desculpa para terminar tudo. Ela não sabe o que quer.

- Talvez ela só não queira você, Malfoy!

- Claro! Porque eu sou um péssimo pretendente, certo?

Severus não tinha resposta para aquilo.

- Admita Snape, e pare de querer defende-la. Ela não quer e não está pronta para um relacionamento maduro. A única ironia é o fato de eu estar falando isso.

Severus não teve muito tempo para rebater, apesar de uma parte dele já ter pensado naquela possibilidade. Lucius chegou e abriu a porta fazendo um sinal claro para que Draco o acompanhasse.

- Parece que a mamãe chegou! - disse debochado e saiu caindo na direção da porta - Não se deixe enganar Snape, ela também vai quebrar o seu. Quer você permita ou não.

- Me espere aqui Severus! - Lucius disse fechando a porta.

E Severus ficou ali, preso nos próprios pensamentos. Tentando finalmente se decidir. As palavras de Draco reforçando a parte da sua mente que dizia que aquilo era loucura.

Não teve muito tempo, logo Lucius retornou. Evidentemente irritado.

- Vou te fazer uma pergunta é eu exijo que você seja sincero comigo.

- Diga.

- Você tem algum relacionamento ou interesse na Srta Granger?

- O que? - ele praticamente engasgou com a pergunta inesperada - Não, claro que não Lucius.

- Eu vou lhe avisar. Se você a está mantendo aqui por que quer se meter no meio das pernas dela, eu já vou lhe avisando que a nossa amizade e a sociedade será desfeita no mesmo instante.

- Escute aqui Lucius.

- Não, escute você. Ela acabou com o meu filho e se ela fez isso por sua causa, nossos anos de amizade não valerão muita coisa.

- Você está fora de si. Quando recuperar a razão nós conversamos. A propósito, estou de saída hoje e não sei quando ou se eu retorno. Até Lucius, e boa sorte com o Draco.

Severus saiu dali o mais rápido que pode. Precisava ir embora. Não queria ver Hermione e nem ninguém até que pudesse repensar em tudo.
Infelizmente não teve essa sorte e soube disso assim que ouviu a voz doce as suas costas.

- Por que você está me evitando?

- Eu não estou te evitando.

- Está sim. Está me evitando desde ontem.

- Eu não estou te evitando. Só estou ocupado. Com licença Hermione.

- Não. Você vai encarar isso de frente. Como deveria ter feito meses atrás em Bristol.

Ele a olhou surpreso. Hermione o segurou pelo braço e o arrastou até a sala deles.

- Sim, eu sei de tudo!

- Eu disse pra ruiva intrometida ficar calada!

- O que? Gina sabia? Como? Quer saber deixa pra lá, ninguém me disse nada Severus, eu me lembrei de tudo. Na verdade, acho que nunca esqueci de verdade eu só não estava sabendo lidar com isso.

- E agora milagrosamente você sabe?

Ela não disse nada.

- Entendo. Eu tenho que ir Hermione. Tenho assuntos para resolver.

- Quando você vai parar de agir como alguém que não se importa? Quando é que vai lutar por algo que você queira?

- Lutar? Eu lutei por cinco anos Hermione. Por esse cinco anos eu tenho tentado. E o que eu ganhe em troca?

- Lutou? Por cinco anos? Jura Severus? Porque tudo que eu vi foi um covarde se escondendo por cinco anos. E quando finalmente teve coragem de fazer alguma coisa fugiu na primeira dificuldade!

- Não sou eu que tenho problemas de relacionamento.

- Você acha que eu tenho problemas com relacionamento? Eu? Bom, eu não se já percebeu mas pelo menos eu tenho coragem de arriscar alguma coisa. De tentar. Você não ama a Diane e sabe que nunca vai ama-la. Mas você se contenta com esse relacionamento de merda só porque é confortável e você  não precisa se arriscar com nada! Boa sorte com ela.

Hermione se virou para sair pela porta mas parou no mesmo instante que viu a mulher loira na sua frente.

- Uau! - ela disse olhando para os dois e depois saiu e antes que Hermione pudesse fazer algo, Severus saiu atrás dela.

- Diane, espere!

Hermione levou as duas mãos à cabeça. Provavelmente estava enlouquecendo. Não deveria ter dito tudo aquilo, ou deveria? O sentimento de culpa estava crescendo no seu peito. Ele tinha alguém, e ela sabia. Não deveria ter agido como uma criança de cinco anos que quer um brinquedo. Agora, provavelmente, o havia perdido, perdido para sempre.

........

Hermione organizava suas coisas no escritório. Precisava ir embora, sumir dali. Não suportaria mais vê-lo, estava com vergonha de tudo o que fizera. Isso sem contar a dor que estava sentindo por vê-lo se importando e indo atrás da outra.

A porta do escritório se abriu e ela o viu entrando. Seus poros se encheram da mais pura e bela esperança e ela correu até ele.

- Você voltou! Se você voltou é porque vocês terminaram. E...

- Não. Eu só voltei para pegar as minhas coisas. Diane está me esperando lá em baixo. Vamos para Cambridge hoje.  Já falei com Lucius, e o laboratório agora está sob sua responsabilidade.

- Mas... Mas... - ela não conseguia formular uma frase.

- Adeus Hermione. - ele disse depois de pegar sua pasta e sair.

Antes que ele saísse as lágrimas já não estavam mais sobre controle. Seu peito doía e tudo o que ela poderia ter certeza era de que havia perdido ele definitivamente, não só como um amor, mas também o seu amigo.

......

Severus se sentou no balcão do bar. Há anos não ia àquele lugar, mas beber em casa não seria o mesmo. Pediu o whisky duplo e tentou encontrar algo que justificasse sua decisão. Pegou o telefone e viu uma mensagem no correio de voz.

A voz soou firme, mas ele notou o tom de tristeza, talvez decepção de Diane.

"Severus, eu não sei bem porque eu estou te ligando, afinal quem deveria ligar e pedir desculpas era você. Mas você não está fazendo então...
Diz tudo o que eu preciso saber. Bom, adeus."