História Pela luz dos olhos teus... - Capítulo 6

Severus se remexia em sua cadeira, estava inquieto desde que Hermione chegara. Naquele dia ela resolvera usar uma saia. Sim era uma saia discreta e bem profissional, bem abaixo do joelho, mas era justa, e com certeza algo que Hermione jamais usara ali na empresa. E em conjunto usava uma camisa com os três primeiros botões abertos. Novamente estava de salto e sempre que ela se sentava ele a ouvia suspirar de alívio, e ele quase riu com aquilo.

Por céus será que ela estava realmente decidida a acabar com cada gota de sanidade que ele tinha? Porque se fosse ela estava se saindo muito bem. Podia até imaginar indo ao concerto com ela, depois um jantar. Ele a levaria em casa e poderia até mesmo se atrever a um beijo, ou quem sabe algo mais... Se aventuraria por aqueles cachos macios e sedosos e sentiria a cremosidade de sua pele, e a ouviria gemer seu nome quando a fizesse se derreter de prazer... Severus... Severus, ah ele podia até mesmo ouvi-la...

- Severus? Severus? – ela tocou em seu ombro e ele despertou de seus devaneios. Ficou completamente sem jeito. Não deveria ter deixado sua mente seguir para tão longe. Ele a olhou, tentando esconder qualquer coisa que pudesse revelar seus pensamentos. – Tudo bem? Você parecia distante.

- Sim. Sim. Granger. Estou bem, só estava pensando em alguns testes novos que quero implementar. – mentiu esperando que ela acreditasse.

- Se você diz, mas seja lá o que você estava pensando, parecia estar bastante feliz. – disse sorrindo e ele fechou a cara. – Bom, mas não foi para isso que eu te chamei. Vou precisar levar alguns documentos que precisam ser despachados e gostaria de saber se quer que eu traga um café na volta?

- Não Granger, obrigada.

- Certo volto logo. – disse e saiu. Os saltos fazendo um som único no piso de mármore.

Severus sacudiu a cabeça para terminar de limpar aqueles pensamentos e voltou a se concentrar nos relatórios que já deveria ter terminado de preencher. E então alguém bateu na porta.

- Entre! – pediu ainda concentrado nos documentos, apenas levantando o olhar quando a porta se abriu. Seus lábios se crisparam e descontentamento.

- Snape!

- Malfoy! A que devo a honra? Que eu me lembre eu só preciso entregar os relatórios para o Marketing na próxima semana.

- Não vim atrás dos relatórios Snape. Estou no meu intervalo, e vim para...bom... a Srta Granger trabalha mesmo aqui? – perguntou incerto olhando para o pequeno escritório que tinha uma das paredes toda de vidro, dando visão plena do laboratório.

- Sim Malfoy. Ela é minha assistente. Por que o repentino interesse? – perguntou semicerrando os olhos.

- Eu vim para convida-la para tomar um café comigo.

- Não acredito que ela esteja interessada. – disse com desdém. Hermione jamais se interessaria por alguém como Draco Malfoy. Superficial, egoísta, egocêntrico e arrogante. Não ela merece algo muito melhor!

- Creio que quem deve decidir isso seja ela Snape! – respondeu com ar superior.

Severus bufou.

- De qualquer maneira ela não está.

- Não tem problema, eu posso esperar. – deu com os ombros e Severus bufou novamente voltando aos relatórios.

E ele esperou. Severus teve de admitir, ele estava sendo persistente. Sempre ouvia o loiro se gabar que jamais esperava por ninguém, e que as pessoas que deviam esperar por ele.

Meia hora depois pude ouvir o som dos saltos de Hermione se aproximando.

- Severus eu... Sr Malfoy? – Severus a encarou e ela estava corada. Não. Não ela.

- Srta Granger. – disse aproximando –se dela.- Espero que não tenha se esquecido que combinamos de tomar um café?

- Não, não claro que não. – disse completamente embaraçada. Ela olhou no relógio seu expediente já havia chegado ao fim. – Eu só preciso verificar com Severus se ele não precisa de nada por agora. – Ela o encarou – Tudo bem Severus?

Era sua chance. Sua chance de impedir aquilo. Mas não conseguia, sabia que jamais conseguiria negar nada a ela.

- Não, Hermione. – respondeu tentando evidenciar a intimidade que ele tinha e o outro não com ela. Mas de que adianta, ela está saindo para tomar café com ele e não com você seu imbecil. -  Seu expediente já se encerrou.

- Tem certeza? Quer que eu lhe traga alguma coisa? Notei que não comeu quase nada durante o dia. – ela perguntou juntando os pertences.

- Já disse que eu estou bem. – resmungou e ela fingiu não ouvir.

- Certo. Não se esqueça da reunião com o pessoal da qualidade pela manhã. Bom, eu lhe envio um lembrete. – Disse por fim e lhe sorriu.  Até amanhã Severus!

Hermione se despediu e ele apensa acenou com a cabeça.

Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Você realmente poderia ser mais imbecil Severus Snape? Se pergunto cerrando os punhos.

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Hermione mal pode acreditar em seus olhos e ouvidos quando viu Draco Malfoy parado na sala que dividia com Severus, e quando ele a lembrou sobre o convite para o café, suas pernas amoleceram.

Quase começou a gaguejar, como fazia nos tempos de escola quando alguém do sexo oposto vinha falar com ela. Mas então se lembrou dos conselhos que a ruiva lhe dera na noite anterior quando contara a ela sobre ter esbarrado no loiro.

Ela lhe dissera para ser confiante, mesmo que sentisse que não poderia. Se bem que com aquelas roupas que estava usando ela se sentia mais confiante, afinal havia atraído a atenção dele, não havia?

Deveria rir das piadas dele, mesmo que elas fossem sem graça. Mesmo que ela precisasse fingir. Deveria sempre encontrar motivos para toca-lo, sempre tentando se aproximar dele. Hermione achava que aquilo não daria certo, era tímida demais para aquilo, mas entendia que o toque era o primeiro passo para se aproximar dele.

E mais que qualquer coisa, não deveria de forma alguma se mostrar controladora. E por mais que Hermione tivesse dito a amiga que aquilo era impossível, ela sabia que era um ponto crucial.

Agora estava andando com ele até a cafeteria para tomarem um café. Nem em seus mais maravilhosos sonhos aquilo acontecera. Era Draco Malfoy ali, sorrindo para ela.

- E então, trabalha na empresa há muito tempo?- perguntou assim que se sentaram, tentando extrair o máximo de informações dela.

- Pouco mais de cinco anos. Entrei como estagiária e de repente me tornei assistente de Severus. – respondeu com um sorriso nos lábios.

- Ele é um pouco difícil para se trabalhar não? – perguntou com um sorriso que provavelmente faria uma dúzia de mulheres se derreterem. – Sempre mal humorado, e muito exigente.

- Não diria difícil. Ele tem seus ‘momentos’ mas é uma pessoa maravilhosa. Aprendi muito com ele. E ainda tenho muito a aprender. Você o conhece há muito tempo?

- Um pouco. Ele e meu pai são velhos amigos.

- Ah sim.

- Mas não vamos falar sobre eles. Prefiro assuntos mais interessantes.

- Como o que? – perguntou sorrindo para ele.

- Você! – ele respondeu segurando a mão dela e ela quase engasgou.

-Não sei se sou muito interessante. – disse desviando o olhar.

- É claro que é. Você realmente atraiu minha atenção ontem. E devo ressaltar que está ainda mais linda hoje.

Ela corou. Não se lembrava de ter sido chamada de linda alguma vez por alguém fora da família e amigos. Nem mesmo seus ex namorados o fizeram.

- Obrigada.

- Me fale sobre você.

Hermione iria começar um monólogo sobre sua vida, faculdade, amigos, seu pai, como sempre o fazia, mas lembrou-se de um dos conselhos primordiais da amiga. “Jamais fale sobre você. Os homens não estão realmente interessados, isso é apenas uma armadilha. Se ele te fizer uma pergunta do tipo, tente reverter a situação, primeiro porque você não fica tagarelando, segundo, você  terá uma vantagem em conhece-lo (homens adoram falar sobre eles mesmo, isso infla o ego) e por fim você acaba sendo mais misteriosa escondendo algumas informações.”

- Não há muito que se dizer sobre mim.

- Ah aposto que não está sendo sincera. Vamos, me diga o que gosta de fazer.

Outra armadilha. “Nunca diga ler. Ele não é o tipo de homem que gosta de mulheres intelectuais.”

- Gosto de sair com os meus amigos a noite – mentiu pedindo que aquilo nunca fosse colocado em cheque. – Mas vamos falar de você. O que está achando do trabalho no marketing?

O sorriso dele aumentou. Ponto para Gina. E ali ficaram por quase uma hora com ele falando e falando. Contando sobre seu cargo e sobre suas viagens. Por vezes ele colocava um dos cachos do cabelo dela atrás da orelha e aproveitava para acariciar sua bochecha o que a fazia corar e ele sorria triunfante.

Hermione foi para casa se sentindo flutuar. Não conseguia acreditar que tinha tomado um café com ele, e que ele, Draco Malfoy, havia flertado com ela. E mais, para completar aquele dia incrível, ele a convidou para um jantar! Sim, ele a buscaria e eles sairiam para jantar!

A felicidade não cabia mais dentro dela.

Chegou em casa e encontrou Gina em meio a um amontoado de jornais.

- Mi! Que bom que já chegou! Venha preciso da sua ajuda!

- Oi Gina. Eu estou bem e você como passou o dia?

- Estou ótima. Me desculpe, mas estou tão empolgada que mal consegui me segurar.

- O que aconteceu?

- Bom, eu finalmente consegui o apartamento! Isso não é incrível?

Gina estava em uma espécie de batalha por um apartamento desde o dia que decidira se mudar. O dono estava vendendo a um preço abaixo do mercado e tinham mais três pessoas interessadas naquele local, o que gerou, obviamente, uma luta quase mortal pelo imóvel.

Era um apartamento não muito grande, mas todo mobilhado e aconchegante e o fato de ser no prédio em frente ao apartamento de Hermione tornou tudo ainda mais perfeito.

- Ai que bom! Fico tão feliz por você!

- Sim. Pelo menos agora o Harry pode voltar para casa. Aliás conversei com ele hoje e pedi que nós saíssemos para conversar. Para acertar as coisas, afinal somos amigos!

- E ele? – ela perguntou apreensiva.

- Ficou meio relutante, mas aceitou! – o sorriso brilhava em seus lábios.

Fico muito feliz, e espero que vocês se acertem.

- Tem algum conselho para me dar? – perguntou entre a apreensão e a esperança.

- Só... tente ir devagar com Harry. Ele é um cara ótimo, mas... bom digamos que os anos do colégio foram ótimos para acabar com a nossa auto estima, então, só vá com passos mais lentos. Imagine que ele é um cervo, se você chegar muito abrupta ele vai fugir, mas se for aos poucos...

- Entendi. Prometo ir com calma. Obrigada Mi!

- Não por isso.

- Mas me conta, como foi o seu dia?

E Hermione contou. Contou sobre o café e como os conselhos de Gina tinham lhe sido úteis, contou que ele a convidara para um jantar e como estava empolgada com aquilo. A ruiva assentiu, apesar de estar desconfiada e ainda não acreditar que Malfoy era o cara certo para a amiga, ficava feliz em vê-la feliz.