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História Pequenos Infinitos - Saturno


Escrita por: WilkensOficial

Notas do Autor


Esse capítulo se chamaria "Lanterna dos Afogados" por ser o título de uma música que escuto umas 10 vezes por dia e por ser muito a ver com o capítulo em si, entretanto, tem "Saturno", outra canção que escuto umas 13 vezes ao dia e que além de seu grande significado, tem também o contexto entre os dois irmãos.


Boa leitura e até breve.

<3

Capítulo 22 - Saturno


Fanfic / Fanfiction Pequenos Infinitos - Saturno

Acordei sentindo cheiro de pão com queijo na chapa. Abri os olhos lentamente e vi que Gustavo estava preparando o café da manhã e pareceu ter ficado meio constrangido quando viu que eu tinha acordado por causa do barulho que ele fazia.

Rapidamente, percorri toda a sala com os olhos à procura de Vinícius, mas ele não estava mais ali, provavelmente tinha voltado para o quarto antes do amanhecer.

- Desculpa se eu te acordei. – disse Gustavo num tom de voz manso e meio rouco.

- Tudo bem. – falei me sentando e olhando para o sorriso dele, que parecia tão cheio de bondade e verdade. Era difícil acreditar que uma pessoa como ele pudesse existir.

- Você dormiu bem? – disse Gustavo puxando assunto.

- Eu… acho que sim. E você? – perguntei coçando a cabeça.

- Demorei um pouco pra dormir, mas consegui descansar sim. – quando ele disse isso, eu engoli em seco, temendo que ele soubesse da “escapulida” do irmão no meio da noite.

- Cadê o Vinícius? – falei sem parecer muito interessado.

- Ele ainda tá dormindo. – Gustavo fez uma pausa, mexeu um pouco na frigideira e então olhou para mim – Eu… posso te fazer uma pergunta?

- Claro. – eu estava dobrando meus lençóis quando ele fez a pergunta.

- De que maneira você gosta do meu irmão? – quase caí pra trás quando ele disse isso. Suando frio, eu respondi.

- O Vinícius? Bom… ele… ele é um chato, um metido, mas é um cara legal. Porque a pergunta? – tentei ser o mais natural possível, mas por dentro eu estava surtando na certeza de que ele sabia de alguma coisa.

- Eu só quero que você tenha cuidado. – Gustavo apagou o fogo, tirou o pano de prato do ombro e se aproximou de mim, tocando meu rosto – As coisas nem sempre são o que parecem.

- O que você quer dizer com isso?

- Bom, é que… estamos falando do Vinícius, ele tem o hábito de magoar as pessoas. Independente de qualquer coisa, saiba que eu sempre estarei aqui pra você. – quando ele disse isso, não consegui me conter e o abracei, não apenas por ele estar sendo bastante carinhoso, mas também porque o olhar dele me intimidava.

- Será que eu tô atrapalhando alguma coisa? – disse Vinícius surgindo só de calção e com a cara fechada pra nós dois, como se estivesse diante de um terrível pesadelo.

- Nós só estávamos conversando. – respondi me desfazendo daquele abraço.

- Deu pra perceber. – ele disse isso e então deu meia volta, me deixando com um sentimento de culpa que com certeza me atormentaria o resto do dia.

Não demorou muito pra que Vinícius se irritasse e antes mesmo do café da manhã fosse embora. Papai, quando acordou, ficou sem entender o que havia acontecido, mas não deu muita bola.

Tomamos o café da manhã num clima estranhamente tenso e acho que isso durou o resto do dia.

Naquele domingo, Vinícius e Gustavo já iriam dormir na república e eu, sozinho em meu quarto, sentiria o cheiro dos dois e me martirizaria pelo que havia acontecido naquela manhã.

Quando já era segunda-feira, levantei cedo e me arrumei com antecedência. Naquela manhã, Amanda e eu iríamos juntos para o colégio.

É claro que ela não perderia uma oportunidade de ficar se oferecendo pro meu pai. Tava mais do que na cara que ela tinha uma tara enorme por ele.

Amanda chegou com uma blusinha toda apertada e quando viu o papai, começou a falar com uma voz doce, não a ponto de ser meiga, mas um tom doce que tentava seduzir. É claro que o papai não entendeu, pelo menos eu acho.

A fim de evitar problemas, arrastei Amanda pra fora e então fomos a pé para o colégio.

- Ai, porque a gente tem que ir tão cedo? Eu tava trocando uma ideia tão legal com o teu pai. – dizia Amanda batendo os pés.

- Desde quando ficar olhando pro volume na calça do meu pai é “trocar uma ideia legal”? – falei estreitando os olhos.

- Pra mim não existe nada mais legal do que isso, ainda mais quando se trata do seu pai, aquele gostoso! – Amanda falava e mordia os lábios sem se preocupar com as outras pessoas que olhavam pra ela como se ela fosse louca.

- E a dedetização de sábado deu certo? – falei tentando mudar de assunto.

- Eu espero que sim porque não aguento mais ter que dividir a república com baratas e mosquitos! – disse fazendo cara de nojo enquanto cruzávamos o portão do colégio – Nossa! Nós chegamos cedo demais, não tem ninguém aqui! O que deu em você Renan?

- Nada, eu só acordei cheio de disposição, que problema há nisso? – falei entre risos enquanto caminhávamos até a cantina.

- Parece que você não foi o único a vir cheio de disposição hoje. – disse entre risos enquanto apontava com os olhos para uma roda de pessoas reunidas no gramado.

Nos aproximando da roda, vi que era Gustavo quem era o centro das atenções. Ele tocava alguma música com seu violão e outras seis pessoas, escutavam atentamente, das quais cinco eram garotas.

Arregalei os olhos quando ele sorriu pra mim e piscou. Amanda, é claro, apenas sorriu e fez cara de cínica quando lhe cutuquei.

- Porque não me falou que ele tinha vindo mais cedo também? – cochichei.

- Às vezes ele sai cedo pra ficar tocando aqui feito um hippie. Pensei que você soubesse. – disse depois de muito tempo, sem me convencer.

Gustavo pigarreou e então começou a falar.

- Sei que vocês devem estar se perguntando porque eu estou sentado na grama com um violão velho, tocando músicas sem motivo aparente. Bom, a verdade é que essa é a forma que eu encontrei de extravasar meus sentimentos e, no momento, acho que estou transbordando. – quando ele disse isso, senti uma indireta para mim e acho que Amanda também percebeu, já que ela ficou sem graça e talvez com receio em olhar para mim – Eu costumo dizer que na vida, sempre seremos como Saturno ou Júpiter. Se você conhece um pouco sobre astrologia, vai entender o que eu quero dizer.

Depois disso, ele começou a dedilhar uma melodia e a cantar baixinho.

 

“Quando tá escuro

E ninguém te ouve

Quando chega a noite

E você pode chorar

 

Há uma luz no túnel

Dos desesperados

Há um cais de porto

Pra quem precisa chegar

 

Eu tô na lanterna dos afogados

Eu tô te esperando

Vê se não vai demorar

 

Uma noite longa

Pra uma vida curta

Mas já não me importa

Basta poder te ajudar

E são tantas marcas

Que já fazem parte

Do que eu sou agora

Mas ainda sei me virar

 

Eu tô na lanterna dos afogados

Eu tô te esperando

Vê se não vai demorar

 

Uma noite longa

Pra uma vida curta

Mas já não me importa

Basta poder te ajudar

Eu tô na lanterna dos afogados

Eu tô te esperando

Vê se não vai demorar”

 

Quando ele terminou aquela canção, percebi que seu olhar estava fixo em mim.

Constrangido, me afastei dali e tentei ir para o mais longe possível. Eu não sabia o que pensar diante do que tinha acabado de acontecer.

Fui para a quadra e Amanda logo veio atrás me mim, sentando ao meu lado e me abraçando sem dizer nada, apenas me deixando sentir.

- O que foi que acabou de acontecer? – falei finamente, cortando o silêncio e temendo a resposta.

- Eu… acho que o Gustavo gosta de você. – disse Amanda hesitantemente – Aquela música, aquele olhar… só Deus sabe há quanto tempo ele vem suportando gostar de você. Ele deve estar transbordando com esse sentimento dentro dele e não consegue mais esconder… eu… acho que ele está sofrendo.

Fiquei pensativo. Tudo estava acontecendo tão de repente. Vinícius e Gustavo, a fim de mim? Quais eram as probabilidades disso?

- Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto. – falei passando a mão na cabeça – Vai ver foi tudo coincidência.

- Renan, não foi coincidência. Mas ele vai ter que se conformar com a sua amizade, afinal de contas, você não curte rapazes, não é mesmo? – aquela pergunta tinha um ar de dúvida vindo dela, talvez medo da resposta, mas eu não podia mais mentir. Eu precisava me abrir com alguém.

- Eu gosto do Gustavo, mas enquanto o Vinícius estiver em minha vida, não haverá espaço para ele. – quando eu disse isso, Amanda ficou pálida.

- Co-como assim? O Vinícius? O que você quer dizer com isso? Renan… você é gay?

- Me desculpa. – falei com a voz chorosa – Eu… eu não me defino como gay, nem nada disso, eu simplesmente gosto do que me faz bem, sem escolha de gêneros.

- Esse é o problema! O Vinícius é uma pessoa tóxica. Ele consegue brincar com os sentimentos de qualquer um que se aproxima dele e quando ele souber disso, ele vai usar isso contra você porque é isso que aquele safado faz! – pela maneira que ela falava, quase acreditei que ela tinha algum passado com Vinícius, mas preferi não perguntar.

- O que você faria no meu lugar? – perguntei segurando sua mão com firmeza.

- Nada é óbvio. Deixa isso pra lá e segue em frente, até porque as meninas do colégio inteiro iriam te odiar pra sempre, se é que já não te odeiam porque depois daquela declaração melancólica, provavelmente todo mundo já deve estar sabendo que o Gustavo é gay e será só uma questão de tempo até descobrirem sobre você também.

- Eu não me importo com a porra da opinião dos outros! – falei irritado – Vem, vamos pra sala que já tá no horário.

Mal saímos da quadra e Carol já veio avançando no nosso pescoço.

- MEU DEUS! EU PROCUREI VOCÊS EM TODOS OS LUGARES!  A FOFOCA TÁ ROLANDO SOLTA! – disse desesperada.

- Deixa eu adivinhar… tem a ver com o Gustavo e eu? – perguntei entre suspiros tediosos e percebendo que do nada metade dos alunos já tinham chegado.

- Estão dizendo que vocês dois estavam na maior pegação ali perto da cantina. Que se assumiram em público e…

- Maior pegação? – repeti atônito – Dez minutos e a verdade já se distorceu tanto? Carol, vai por mim, não acredite em tudo o que as pessoas dizem.

- O Gustavo só cantou pro Renan, o que teoricamente pode ter várias interpretações. – disse Amanda em minha defesa.

- Mesmo assim. Vivemos dias sombrios. Isso já seria o suficiente pra te apedrejarem ou pior… te mandarem pra um reformatório. Imagina só? – dizia Carol segurando a minha mão – Olha, eu estou do seu lado amigo, disso você pode ter certeza.

- Eu também. – retrucou Amanda.

- E… você viu o Gustavo? Onde ele está? – perguntei ignorando alguns olhares acusadores.

- Quando eu cheguei, o Max tava implicando com o Gustavo enquanto ia rumo à biblioteca.

- O Max? – falei boquiaberto – Aquele delinquente! E VOCÊS? TÃO OLHANDO O QUÊ? – berrei para algumas garotas que cochichavam e olhavam pra mim entre risos.

- VERDADE! TÃO OLHANDO O QUÊ? NUNCA VIRAM UM GAY NA VIDA? ESTÃO COM INVEJA NÉ? VÃO SE FODER! – Carol mostrava o dedo do meio pra todo mundo enquanto gritava feito uma louca, o que causava certos murmurinhos e até xingamentos discretos.

- Tenta não chamar muita atenção, por favor Carol. – disse Amanda abaixando a mão de Carol, que ainda estava com o dedo apontado para cima.

- Desculpa, é que desde que vocês me ensinaram a xingar, eu aproveito cada oportunidade. É libertador. Deveriam tentar.

Dei um sorriso pra ela e a abracei. Carol era uma pessoa incrível e conseguia ser naturalmente sensível sem muito esforço e isso era encantador.

- O que você vai fazer? Vai assistir à aula ou prefere ir pra casa? Posso ir com você se você quiser. – perguntou Amanda.

- Tudo bem, eu só preciso de um tempo pra mim. – falei forçando um sorriso e me afastando.

- Aonde você tá indo?

- Vou à biblioteca. – falei dando um tchauzinho como se as dezenas de olhos curiosos não estivessem me observando.

Cheguei na biblioteca e cumprimentei a bibliotecária, que pedia para eu me identificar.

Após a identificação, fui até as mesas mais distantes e lá estava Gustavo, sentado sozinho com um livro sobre astrologia em mãos.

Sentei ao lado dele e percebi que ele chorava. Na cadeira ao lado estava seu violão, quebrado.

- Gustavo eu sinto muito. – falei olhando do violão para ele – eu não queria ter causado problemas a você, eu…

- Você não me causou problema nenhum Renan, eu só perdi o controle emocional. Me perdoa. – Ele suspirou – O Vinícius vai me matar!

- Vai ficar tudo bem. – falei olhando mais uma vez para o violão – Quem fez isso?

- Não importa. – disse ele balançando a cabeça, mas eu tinha quase certeza de que Max havia quebrado – Eu não queria ter te assustado, eu só… precisava fazer isso senão iria ficar louco.

- Há quanto tempo você…

- Há um bom tempo. – respondeu com a voz e mãos trêmulas – Na noite em que dormimos na sua casa, vi quando Vinícius levantou para ir dormir com você durante a madrugada. Fiquei inquieto, minha vontade era gritar para ele sair de perto de você, só que eu não podia, afinal de contas, Vinícius é meu irmão e eu jamais poderia traí-lo. Eu juro que tentei esconder esse sentimento, mas naquela noite, percebi que precisava lutar por você de alguma maneira, ou pelo menos fazer você me olhar, nem que fosse por um instante, já que seus olhos e seu coração estão voltados para meu irmão. – ele hesitou um pouco – Sei que passei dos limites, mas é mais forte do que eu.

- E estar apaixonado pro outro cara não te incomoda?

- Acho que não. As pessoas se preocupam demais com rótulos, gêneros, cor, altura, eu só penso em ser feliz, pois o amanhã é incerto demais para viver de indecisões. – segurei a mão dele nesse instante e sorri enquanto ele me olhava confuso – Renan… o que vai acontecer agora? – ele perguntou olhando nos meus olhos.

- Vamos dar um jeito nisso juntos, como deve ser.

- Juntos?

- Sim, como amigos. – falei com pesar no meu coração – É tudo o que posso te oferecer. E eu sei que gostar do Vinícius é um risco e que ele pode destruir minha vida, mas eu preciso arriscar ser feliz ao menos uma vez nessa minha vida tão miserável. Esse desejo tem crescido a cada dia dentro de mim.

Ele forçou um sorriso.

- Eu não vou chorar, nem implorar para você ficar comigo. Você fez a sua escolha e se me quer como um amigo, então um amigo você terá, mas saiba que no primeiro vacilo do meu irmão, eu farei de tudo para te roubar para mim.

Fiquei sem palavras quando ele disse isso.

No silêncio do lugar, ele apontou para uma página do livro e pediu que eu lesse.

 

“O glifo do planeta Saturno se parece com o inverso do glifo do planeta Júpiter e isso tem um motivo: Saturno e Júpiter simbolizam energias opostas. Saturno parece exercer uma força de limitação frente à expansão de Júpiter, não permitindo que as forças da natureza de Júpiter fiquem fora de controle. Ele é o planeta que na vida terrena significa restrições e obstáculos que você deve enfrentar se seus objetivos pessoais forem incorretos. Sua posição no mapa astral pode indicar áreas em sua vida em que você precisará se esforçar um pouco mais, mas que também terão potencial para serem mais sólidas. Por isso, Saturno tem sido chamado de o planeta do destino, o Senhor do Karma ou O Grande Maléfico. Simboliza o passar do tempo e a paciência, tradição e experiência. No seu melhor, ajuda a consolidar esforços e no seu pior restringe os mesmos esforços.”

 

- Eu sou como Saturno e o meu irmão é como se fosse Júpiter, já você, acho que você seria a energia entre nós dois.

- Bom eu… não entendi muito bem o que isso significa, mas deve ser coisa boa. – falei me sentindo um completo idiota, ele apenas riu.

- Acho que você precisa voltar pra aula, não é mesmo?

- Bem eu… tava pesando em tirar esse tempinho pra terminar de ler “O Sobrinho do Mago”. – falei com o meu olhar preso no olhar dele.


Notas Finais




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