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Olhares na Escola Vol 1 Parte 1 (Link nas notas finais)
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Tudo o que eu queria naquele momento era desaparecer e esquecer que todos ao meu redor existiam. Eu precisava daquele tempo para mim.
Vinícius, mesmo não tendo a obrigação de estar comigo, fez questão de ficar ao meu lado naqueles momentos difíceis.
∞
Desliguei meu celular para que ninguém me incomodasse e segui viagem com Vinícius para qualquer lugar que me fizesse esquecer da realidade em que eu vivia.
Paramos em um posto de gasolina para encher o tanque do carro e então seguimos para fora da cidade, em completo silêncio.
Era mais de uma da manhã e eu ainda não tinha parado de fungar e chorar, acho que eu nunca tinha chorado tanto em toda a minha vida, como se isso não bastasse, vários momentos de minha vida, bons e ruins, vinham em minha mente espontaneamente para me causar mais dor.
Eu não tinha ideia do que eu era, nem do que seria da minha vida depois que eu tivesse que voltar à realidade, já que eu não poderia fugir para sempre.
Em certo momento, Vinícius parou o carro em um lugar familiar.
- Sabe onde nós estamos? – perguntou ele segurando a minha mão e sorrindo com os olhos de forma que me fazia sentir seguro. O problema era que, eu estava tão machucado, que era difícil acreditar que ele não me machucaria na primeira oportunidade também. Eu já podia esperar tudo de todos àquela altura do campeonato.
Pensei por um instante e me lembrei das árvores e da canção que ele havia cantado na primeira vez em que estivemos ali.
- Berço Cristalino! – falei já descendo do carro e seguindo até a prainha que eu sabia exatamente aonde ficava.
As águas pareciam estar mais transparentes do que eu conseguia me lembrar e as conchas brilhavam como se fossem feitas de cristal. Tudo parecia estar com uma beleza mais intensa e eu conseguia perceber mesmo com meu mundo desabando por todos os lados.
Sentei na areia e cruzei as pernas enquanto enchia meus pulmões com aquele ar puro e cheio de vida.
Vinícius continuou de pé por alguns instantes, me olhando atentamente. É difícil tentar descrever as expressões dele, mas uma coisa eu posso afirmar, eram completamente diferentes das expressões que eu já tinha visto. Ele estava mais amável e seu olhar parecia cheio de preocupação, medo, desespero, paixão. Ele parecia querer me dizer todas as palavras do mundo e ao mesmo tempo não queria dizer nada. Eu daria qualquer coisa para entrar na mente dele e saber o que ele estava pensando naquele momento enquanto me observava.
- Porque está me olhando desse jeito? – falei quebrando o silêncio. Ele sorriu.
- É que… da última vez que estivemos aqui eu fui tão…
- Imbecil? – completei fazendo-o sorrir.
- É, acho que isso me define um pouco. – disse ele sem tirar os olhos dos meus – Eu nunca imaginei que fosse me apaixonar por um carinha tão chato como você. – ele disse isso e então se sentou de frente pra mim, também com as pernas cruzadas.
Vinícius, por alguma razão, parecia estar nervoso.
Estendi minhas mãos para ele e no momento em que o toquei, percebi que ele estava frio.
- Você está bem? – perguntei sem demonstrar preocupação para que ele não pensasse que fosse exagero meu.
- Eu… bom… você sabe que eu sempre tive o desejo de ir embora dessa cidade, construir minha vida longe de todo mundo, recomeçar e… bom, depois de tudo o que aconteceu, eu pensei que talvez nós dois pudéssemos… - nesse momento, ele desviou o olhar, talvez com medo da resposta – O que acha de fugirmos juntos? Descobrirmos o mundo juntos? Sei que vai ser dificultoso no começo, mas a gente dá um jeito. Eu posso conseguir um emprego e…
Me aproximei de seu rosto e lhe dei um selinho, impedindo que ele se enrolasse mais ainda.
- Vamos descobrir o mundo juntos! – falei lhe abraçando e, apesar do medo, senti que talvez aquela fosse minha última oportunidade de ser feliz, ao menos era nisso que eu queria acreditar.
Vinícius sorriu e me deu um beijo, não um beijo como os outros, mas um beijo cheio de pegada, cheio de desejo, cheio de tesão.
Talvez aquele beijo representasse não apenas o quanto ele estava feliz, ou o quanto me desejava, mas, talvez, e, principalmente a sensação de liberdade que ele estava sentindo de forma plena. Saber que eu era parte disso me deixava completamente extasiado.
- Eu te quero tanto. – disse ele num tom de voz sussurrante e quase inaudível – Obrigado por amar uma pessoa como eu.
- Eu tenho sorte em ter te encontrado. – respondi jogando meu corpo sobre o dele e o fazendo deitar na areia.
Fiquei por cima dele e comecei a morder sua orelha enquanto um volume crescia por baixo de mim.
- Acho melhor pararmos por aqui. Não podemos.
- Porque não?
- Porque eu não quero colocar sua saúde em risco e não temos preservativo. É arriscado.
- Vai ser só dessa vez. – falei lhe apalpando.
- Eu não posso. – disse tirando minha mão de seu pau – Se eu fizesse isso com você, eu nunca me perdoaria.
Depois daquele “banho de água fria”, me senti completamente sem graça por estar em cima dele que nem uma cadela no cio. Me senti uma puta.
- Não fica chateado. Você não tem ideia do quanto eu quero, do quanto eu te imagino, só que agora não podemos. Eu não farei nada com você sem prevenção. Não quero contaminar você, ainda mais com todos os rumores que andam circulando por aí.
- Que rumores? – quando eu perguntei isso, o telefone dele vibrou. Ele tirou do bolso e eu pude ver que era Gustavo.
Vinícius revirou os olhos e guardou o celular no bolso novamente.
- Porque não atende?
- O Gustavo acha que eu não sei me controlar emocionalmente. Ele me acha explosivo e vive me perturbando como se eu fosse um filho pra ele. Às vezes ele é irritante.
- Ele só está preocupado.
- Foda-se. O mundo pode esperar, pois agora, só existe você e eu. – ele me deu mais um beijo e então levantou – Vamos, temos uma longa estrada pela frente.
- “Uma longa estrada”? Pra onde exatamente?
Ele me ajudou a levantar, com um olhar de quem estava tramando alguma coisa e então me enroscou em seus braços.
- Pra começar, vamos para uma cidadezinha chamada Braga! Depois de amanhã, à noite, vai acontecer uma festa e nós dois vamos.
- Pela forma que você fala, parece até que você já tinha planejado isso.
- E eu tinha. Quando a Amanda sugeriu uma viagem durante esse período de suspensão escolar, eu pesquisei lugares que valessem a pena te levar e acabei encontrando Braga, que nesse ano de 2011 vai dar uma tremenda festa em comemoração aos cento e dez anos de existência. Podemos até conhecer a Praia das Conchas que fica nas proximidades.
- Mas Braga fica a quase dezesseis horas daqui!
- Vamos pegar a estrada e não vamos poupar na velocidade, quem sabe conseguimos chegar até meio-dia lá!
- Bom, uma aventura de vez em quando não faz mal e… - de repente me dei conta de um fato que quase deixei passar – Ei! Espera um pouco! Acho que a Alana e a Alice moram lá!
- Quem?
- São as garotas que meu pai e eu conhecemos naquela noite de carnaval. – falei lembrando do quanto Alice era cabeça-quente.
- Ora, então temos mais um motivo para irmos pra lá! Quem sabe a gente encontre com elas, não é mesmo?
- Sim eu… vou mandar mensagem pra ela quando estivermos lá.
∞
Depois de um último beijo, voltamos para o carro e seguimos estrada rumo à Braga.
Tomado pelo cansaço físico e emocional, adormeci e quando acordei, percebi que estávamos entrando em uma cidade que aparentava ser bem menor que a cidade de Orégano.
Olhei para Vinícius e ele estava nitidamente cansado, com os olhos avermelhados e as pálpebras pesando.
Me aproximei dele e lhe beijei o rosto. Ele sorriu sem tirar os olhos da estrada.
- Bom dia dorminhoco. – disse por fim – Finalmente chegamos. Bem-vindo à cidade de Braga.
- Que horas são? – perguntei esfregando os olhos.
- Duas e pouco da tarde! – disse abrindo um sorrisão – Você dormia feito uma pedra e babava feito um bebê, sabia? Fiquei com medo de acordar você, mas acho que seu cansaço era maior que a estrada esburacada.
Sorri meio intimidado enquanto ele estacionava o carro em frente ao que parecia ser um tipo de pensão ou pousada, que por sua vez, ficava bem em frente a um clube, que parecia estar sendo enfeitado para a grande festa que prometia ser uma grande comemoração.
- Parece que vai ser uma noite e tanto, mas… eu não sei se realmente tenho ânimo pra festejar depois de tudo o que aconteceu. O meu pai…
- Ei, amor, você precisa desse momento. Sei que pode parecer cruel da minha parte, mas acredite, eu mais do que ninguém, sei que às vezes é preciso anestesiar a dor.
- Bom, eu nem sei o que dizer nesse caso. – falei meio sem graça.
- Diga que me ama. – corei quando ele disse isso quase de olhos fechados depois de mais de doze horas dirigindo sem parar – Bom, vamos ver se temos sorte em conseguir vaga nessa pousada.
Saímos do carro e entramos rumo à recepção, onde estava acontecendo algum escândalo envolvendo cliente.
- COMO ASSIM VOCÊS NÃO QUEREM DEVOLVER MEU DINHEIRO? EU NÃO GOSTEI DAQUI E QUERO MEU DINHEIRO DE VOLTA! – um rapaz de vinte e poucos anos fazia o maior alarde.
Ele era branquelo e muito alto. Usava roupas escandalosas com estampas de bananas. Seus óculos eram cor de rosa e em sua cabeça havia uma tiara que piscava todas as cores possíveis.
Num momento em que ele se virou em nossa direção, percebi que ele usava um colar com uma medalha enorme que dizia uma única palavra: EMMET.
- Senhor, por favor, são normas do lugar. O que eu posso fazer é colocá-lo em outro quarto.
- Isso é uma tremenda palhaçada! Nunca mais venho nesse muquifo! – ele disse isso e então parou de falar com um suspiro ao nos ver. Sua sobrancelha se ergueu e ele abaixou os óculos para nos ver atentamente – Uau… parece que as coisas por aqui estão começando a melhorar! ERICK! CORRE AQUI! – dizia o rapaz escandaloso para alguém – ANDA!
- O QUE É? SABE QUE EU NÃO GOSTO DE PASSAR VERGONHA AO SEU LADO!
- Cala a boca e dá uma olhada nisso… não te dá vontade de deixar de ser hétero por um instante? – ele apontava em nossa direção com um sorriso contagiante enquanto seu amigo, o tal de Erick, permanecia sério – Oi meninos, meu nome é Emmet e esse é meu amigo Erick… ele é meio sem graça porque infelizmente não é gay, pelo menos é o que ele diz… então, vocês pretendem se hospedar por aqui?
Vinícius e eu nos entreolhamos.
- Acho que sim. – respondeu Vinícius tão surpreso quanto eu com aquela abordagem.
- Que bom, só não aceitem ficar no quarto dezessete. Ele é terrivelmente quente, assim como tudo nessa cidade.
- Tá bom. Obrigado. – respondeu Vinícius completamente constrangido enquanto o tal de Erick pedia desculpas a nós e puxava Emmet para longe de nós.
- Tomara que essa loucura não seja contagiosa. – falei sorrindo.
Embora conseguir um quarto fosse burocrático, conseguimos um que não tinha tanto luxo, mas dava pra dormir, o que já era mais do que o suficiente pelos próximos três dias.
- O quarto de vocês é o quarto treze. – disse a recepcionista ainda nervosa por causa do escândalo de Emmet.
Fomos para o nosso quarto e após jogarmos as mochilas na cama, fomos tomar banho.
A princípio, fiquei meio sem graça em tirar a roupa na frente do Vinícius, talvez porque eu me achasse magro demais, ou porque tinha medo de ele não gostar do meu corpo. De qualquer forma, fechei os olhos e superei meu dilema.
De banho tomado, ligamos o ar condicionado e então deitamos abraçadinhos como se não existisse um mundo lá fora desabando lentamente sobre nós dois.
∞
Acordei ouvindo gritaria vindo do quarto ao lado.
Vinícius, claro, dormia feito uma pedra, mas eu fiquei muito incomodado com aquilo.
Fui até o quarto quatorze sem me importar com o fato de estar só de shortinho, até porque eu nunca me achei bonito, muito menos interessante.
Bati na porta meio irritado.
Não demorou muito e a porta se abriu. Pra minha surpresa, era o tal de Erick, que me olhou com desdém e virou a cara.
- O que é? – disse ele.
- Será que dava pra vocês fazerem menos barulho? Eu tô tentando dormir e…
- Quem tá aí? – disse Emmet surgindo de longe – AMIGO! VOCÊ POR AQUI? A MÚSICA TÁ TE INCOMODANDO? Entra, por favor, isto é, se você não for um assassino!
- Eu não quero entrar, só vim pedir pra diminuir o barulho por favor.
- Diminuir o barulho? Tá louco? Essa música da Christina Aguilera deveria ser o hino nacional! Entra logo antes que eu te pegue pelo braço!
- Não, obrigado. – falei dando um passo para trás.
- Ai credo. Que mau humor.
- Eu só quero descansar, só isso! – falei ficando ainda mais irritado e voltando para meu quarto.
∞
Vinícius estava acordando e estranhou ao me ver entrar com a cara fechada.
- O que aconteceu? Tava aonde? – perguntou esfregando os olhos.
- Esse barulho tá me incomodando! Que saco! – falei sentando ao lado dele meio agressivo.
- Relaxa. E se acostuma porque a cidade inteira ou quase, está fazendo barulho adoidado por todos os lados. – disse ele me dando um cheiro no pescoço.
- Precisamos mesmo ir pra essa festa?
- É claro. Aproveita pra mandar mensagem pra sua amiga Alice. Vai ser bom pra você encontrar um rosto amigo. Quem sabe a gente até fique por aqui, caso você goste do lugar. – disse me sacudindo carinhosamente.
- Bobo! – respondi sorrindo e esquecendo do meu estresse repentinamente.
- Sou bobo mesmo e esse bobo aqui, ainda vai casar com você! – disse estufando o peito, todo orgulhoso e me agarrando por trás, provavelmente pra que eu sentisse seu pau, que estava duro, roçar na minha bunda – Gosta disso?
Não respondi, talvez porque eu ainda não me sentisse “livre” o bastante, ou por falta de intimidade com ele, ao invés disso, me estiquei pra pegar um travesseiro e amassar na cara dele, que urrou e me apertou mais forte ainda. Eu tava vendo a hora do pau dele me perfurar todo, já que estava muito, muito duro e parecia ter um tamanho razoável e com certeza maior que o meu.
- O que vamos vestir amanhã? – falei tentando fazer com que a concentração dele mudasse para uma conversa mais séria.
- Não sei. Qualquer coisa. Ou, se você quiser, podemos comprar na hora.
- Por mim tanto faz, eu só espero que você não esteja gastando mais do que deve comigo. – falei sentindo a péssima sensação de estar sendo um peso para ele.
- Deixa de bobagem! Pra que servem cartões de crédito se não for pra estourar?
- Idiota! – falei atirando mais um travesseiro nele, que dessa vez aparou e jogou de volta para mim, só que com mais força.
A partir disso, dei um pulo e começamos a brincar de luta como se fossemos dois moleques.
Um tentava imobilizar o outro e fazê-lo se render. E é claro que ele estava se aproveitando da situação pra ficar esfregando o pau dele em mim o tempo todo.
De repente, aproveitando um momento de distração, eu o peguei por trás e finalmente consegui fazê-lo implorar para que eu o soltasse.
Aquela pequena disputa terminou com muitos beijos e muitas carícias que não passaram disso, já que ainda não tínhamos camisinha e por causa das limitações dele, precisávamos planejar pra que acontecesse da forma correta.
∞
Quase não tivemos tempo para descansar, e embora Vinícius estivesse muito mais cansado do que eu, ele se esforçava para demonstrar disposição para sair.
Acabamos tomando energético e então fomos atrás de um lugar bom para comermos.
Estávamos trancando a porta do nosso quarto quando Emmet e Erick saem e dão de cara conosco.
Emmet, é claro, soltou um berro escandaloso como se estivesse reencontrando velhos amigos e Erick, por sua vez, fechou a cara e voltou para dentro como se nossa presença o incomodasse.
- Qual é o problema dele? – perguntou Vinícius claramente desconfortável com a forma que ele havia olhado para nós dois antes de entrar.
- Ai amigo, o Erick é meio problemático, mas deixa ele pra lá. Aonde vocês estão indo?
- A gente vai comer alguma coisa e…
- Que ótimo. Também estou morrendo de fome. Vi um restaurantezinho aqui perto que parece ser higiênico o suficiente para despertar minha fome. – Nesse momento, olhei pra Vinícius e perguntei mentalmente “Quem o convidou para almoçar conosco?” Tive a impressão dele me perguntar a mesma coisa com o olhar – Qual é o nome de vocês mesmo? Eu sou o Emmet, vocês devem saber por causa do meu colar e da estampa da minha blusa.
Olhei para a blusa que ele usava. Era rosa com estampas de bananas por toda parte. Dentro das bananas, havia o nome dele.
- Eu mando fazer algumas das minhas roupas. Adoro ser exclusivo. Mas me contem sobre vocês. O que vieram fazer em Braga? Estão a passeio?
- A gente veio pra festa de amanhã à noite.
- Que bacana. Nós também. Quer dizer, eu vim pra festejar, o Erick só veio porque ele tem medo que alguém me bata por eu ser um gay alegre. – Emmet revirava os olhos.
- Então, qual é a dele mesmo? – perguntou Vinícius novamente.
- Bom, o Erick é meio solitário. Ele diz que é hétero, mas eu acho que ele ainda precisa se libertar. Até onde eu sei, ele ficou chato desde a morte do irmão gêmeo, mas não comentem isso com ele, ele fica estressado.
- Eu pensei que vocês dois fossem… ham…
- Ficantes? – completou Emmet – Imagina! O Erick é um irmão pra mim, só assim pra ele me suportar e eu suportar ele também.
Seguimos para o restaurante que Emmet havia falado e realmente a comida era magnífica. Durante a refeição, Emmet ficava fazendo várias perguntas, sobre como havíamos nos conhecido, onde morávamos e coisas do tipo. Eu ficava completamente constrangido em responder, mas Vinícius parecia sentir orgulho em dizer que éramos namorados.
Depois de comermos duas vezes, finalmente estávamos prontos para voltar ao quarto e descansar até o dia seguinte, quando iríamos para a tal festa que eu iria só para alegrar Vinícius, já que minha vontade de ir era zero.
∞
O dia seguinte passou num piscar de olhos e ao anoitecer saímos para comprar algumas roupas decente para usarmos. Com a ajuda de Emmet, que dizia entender tudo sobre moda, conseguimos comprar umas quatro peças cada, e todas com ótimos preços.
Voltamos para a pousada quando a rua principal já estava bem mais movimentada.
Acabamos combinando com Emmet de irmos todos juntos, assim poderíamos dividir uma mesa e tornar a noite mais agradável.
Por volta das nove da noite Emmet já estava batendo na nossa porta.
Abri e quase caí pra trás quando vi a forma com que ele estava caracterizado.
Emmet usava uma calça transparente que só cobria as partes íntimas. Sua blusa também era branca e transparente, porém, com algumas rendas amarelas espalhados pelo tecido.
Ele usava um chapéu preto e calçava uma bota marrom de cano longo, isso sem falar nos olhos contornados com lápis preto. Não tinha como ele não causar nessa festa.
Atrás dele estava Erick, usando uma camisa azul e outra aberta por cima. Usava também uma bermuda jeans escura e tênis Nike, ele era, basicamente, o oposto de Emmet.
- Nossa, você está tão…
- Lindo, eu sei. – disse Emmet já entrando – Você também está divino com as roupas que eu ajudei a escolher.
Eu usava uma camisa com gola V que tinha alguns detalhes brilhosos, uma calça colada e tênis azul marinho. Meus cabelos estavam arrepiados propositalmente.
Vinícius, sem muito esforço, estava muito gato.
Ele usava uma camisa vermelha que valorizava seu tom de pele, seus cabelos loiros, caídos para a frente, lhe deixavam mais atraente que o normal, isso sem falar na calça, que deixava um volume bastante evidente no meio das pernas. Confesso que fiquei meio enciumada com a forma que Emmet olhou para ele, mas disfarcei para não estragar aquela noite que nem estava me animando tanto.
- E aí rapazes. – disse Vinícius cumprimentando Emmet e Erick, que forçou um sorriso antipático para ele.
Depois disso seguimos para a festa que estava acontecendo na avenida principal que estava fechada e cheia de atrações, incluindo bandas ao vivo e parques de diversão.
- Eu só queria saber porque você veio vestido como se estivesse indo pra uma boate! – disse Erick num tom de voz meio agressivo para Emmet que deu de ombros e começou a rebolar ao som da música que tocava distante. – Eu tô falando com você veado!
- O que é Erick? Para de ser chato e aproveita a noite! – disse Emmet sacudindo o amigo pelos ombros.
- Como é que você consegue se divertir sabendo que o mundo está um caos? Todos os dias vários homossexuais são assassinados ou mortos por causa da Praga do Século!
- Por isso devemos viver o dia de hoje, porque talvez não exista o amanhã! E cala a boca que você não é santo! – Emmet, irritado, saiu de perto de Erick e veio se encostar em mim – Vou colar em vocês porque vocês são mais divertidos e não ficam tentando me controlar. Vinícius e eu sorrimos meio sem graça, e seguimos até um dos bares com mesas disponíveis para que pudéssemos sentar.
Um dos bares ficava perto de um carrinho de cachorro-quente que tinha como vendedora, uma garota morena de corpo esbelto. As poucas pessoas que paravam ali para querer comprar, eram espantadas pelo escândalo que ela fazia por algum motivo.
- Melhor nem olhar muito porque aquela garota parecer ser desequilibrada. – disse Vinícius segurando minha mão e a beijando – Quer beber alguma coisa agora?
- Refrigerante, pode ser. – respondi franzindo a testa e reconhecendo uma garota tão brava quanto um pitbull, parada na barraquinha de cachorro-quente.
- Não pode ser! É a Alice! – falei surpreso ao reencontrá-la.
Levantei e fui até lá, e, antes que eu chegasse perto, pude escutar todo o barraco que estava acontecendo.
- … Moça, eu só quero um cachorro-quente! – dizia Alice surpreendentemente calma.
- NÃO TENHO COMO FAZER CACHORRO-QUENTE PORQUE MEU NAMORADO FOI BUSCAR O QUEIJO RALADO HÁ UMA HORA E NÃO VOLTOU! EU MATO O RAFA HOJE! – berrava a morena, histérica.
- Com licença. – falei cutucando Alice, que abriu um sorriso largo e me abraçou. Fiquei muito feliz em saber que ela lembrava de mim.
- FALA SÉRIO, MAIS UM! OLHA RAPAZ, NÃO TEM CACHORRO-QUENTE! CAI FORA!
- Eu não vim… ah, deixa pra lá. – falei tentando dar atenção para Alice, que tinha ficado eufórica.
- O que faz aqui? – perguntou ela toda sorridente.
- Eu vim com o Vinícius. Lembra dele? – apontei para Vinícius que nos olhava de longe.
- Eu não acredito que você conseguiu fisgar aquele gato! Olha, me surpreendi agora. – disse ela com pequenos aplausos para mim.
- Surpreso tô eu…
- Porque?
- Quando eu te conheci, você quase me agrediu por causa de um sorvete. Essa garota aí tá toda agressiva pra cima de você e você não fez nada!
Alice sorriu.
- Como dizia Benjamin Franklin, “Aquele que tiver paciência terá o que deseja.” – quando ela disse isso, a garota do cachorro-quente resmungou alguma coisa, mas que não prestei atenção. – Eu também que tô fazendo um pequeno tratamento. A Alana me obrigou a fazer isso depois que eu colei as pálpebras de um carinha que pegou na minha bunda semana passada.
- VOCÊ O QUÊ? – berrou a vendedora de cachorro-quente, de deveria ter mais ou menos a nossa idade, talvez uns vinte anos no máximo.
- Foi mais forte do que eu. – respondeu Alice sem jeito.
- POIS VOCÊ TÁ ME DANDO UMA ÓTIMA IDEIA PORQUE SE EU NÃO ENCONTRAR O RAFA DAQUI PRA DEPOIS, EU VOU ARRANCAR O PAU DELE E COLAR NA BUNDA… a propósito, meu nome é Melissa, mas todo mundo me chama de Mel. – disse a garota ficando calma repentinamente – Meu namorado inventou de vendermos cachorro-quente pra levantarmos uma graninha pra visitarmos nosso amigo Leandro em Londres, mas pelo jeito isso nunca vai acontecer.
- Uau! Londres é muito longe! – falei boquiaberto.
- Pois é. Infelizmente meu amigo precisou ir pra lá, mas quem sabe eu possa visita-lo ou ele volte, né? – de repente, Mel olhou para alguém que estava distante e começou a gritar – BRUNO! BRUNOOO! DROGA! ELE NÃO ME VIU! Tomara que ele saiba do paradeiro do Rafael.
Alice e eu nos entreolhamos e nos afastamos de fininho daquela garota que parecia ser bastante agitada.
De volta à nossa mesa do bar, apresentei Alice para Emmet e Erick e assim ficamos nós cinco bebendo e dançando até meia noite mais ou menos.
Foi só depois de altas doses de cerveja que Emmet sugeriu que fossemos para o clube, onde estava acontecendo uma festa diferente e mais reservada.
Eu não tinha bebido muito, mas o suficiente para querer conhecer essa tal “festa do clube” que Emmet estava falando. Com um pouco de dengo, pedi a Vinícius para que fôssemos. Ele, que já tinha bebido muito, aceitou com a condição de que eu o beijasse, eu, claro, lhe dei um beijo no rosto, mas prometi fazer algo mais quando estivéssemos sozinhos. Vinícius fazia questão de me agarrar pela cintura e quando algum grupinho de jovens olhava para nós, ele fazia alguma careta ou Emmet começava a se “rasgar” até que parassem de olhar. Erick e Alice, por outro lado, estavam se dando bem e até conversavam sobre coisas paralelas, o que era bom, assim ninguém se sentia entediado.
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