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História Perfect - Você É Uma Flor, Jungkook.


Escrita por: vanelope-stars

Notas do Autor


OLÁ!
PRIMEIRAMENTE: viram que capa linda???? EU AMEI! Foi feita pela @Bpoetini do @JikookLandsPjct!! EU AMEI MUITO!!! Apoiem ambos💌
Sobre o capítulo: kk.
💕

Capítulo 11 - Você É Uma Flor, Jungkook.


O tempo e sua duração, passagem e velocidade foram totalmente ofuscados e deixados em mais que segundo plano. Foram esquecidos, apagados, como se nunca houvessem um dia sido reais ou tão importantes. Tudo o que existia era o calor do peito de Jimin e o carinho indefinidamente gracioso, leve e protetor de suas mãos. O abraço dele me mudou enquanto durou. Eu senti isso; senti que me tornei outra criatura sob seu calor. Era uma boa criatura, uma criatura bonita, mística, uma criatura vinda da mais esquecida e antiga mitologia; única, apagada da memória e da história somente para que jamais algo pudesse copiá-la ou a ela se assemelhar.

Esqueci quem eu era. Esqueci quem ele era. Esqueci tudo e todos. Eu era aquela criatura e a criatura respirava o ar dele, via somente a luz dele e sobrevivia com seu calor, se alimentava dele. Senti que deixá-lo seria o mesmo que morrer, por isso afundei tão fundo e tão rápido. Me prendi naquilo, naquela sensação paradisíaca e viciante. Firmei minhas garras para nunca soltar.

Respirei como se fosse a primeira vez que o ar adentrava meus pulmões. O abracei tão forte que teria temido assustá-lo e machucá-lo se não estivesse tão entorpecido. Eu não possuía capacidade para formular o mais simplório pensamento.

A música ainda tocava, ou era minha mente repetindo? Havia algo além de nós ali? O mundo ainda existia? Que horas eram? Há quanto tempo eu estava com o rosto apoiado em seu peito, há quanto tempo eu estava sonhando? Eu de fato estava dormindo ou só me encontrava afetado demais para exercer as funções de alguém acordado?

Nada existia. Tudo morreu. O próprio universo diminuiu, sofreu combustão, desapareceu. Éramos o início da vida. Um gênesis inigualável, decididos a jamais trazer à nossa imensidão uma prole, apenas para podermos ser pela eternidade o início e o fim. Foi assim que eu senti. Foi exatamente assim que senti e percebi o tempo gasto dentro do carro.

A realidade voltou paulatinamente; detalhes aqui e ali. A música soando, o cheiro do estofado de couro invadindo o espaço dedicado ao odor marcante do perfume nas roupas de Jimin, a textura de sua camisa em meus dedos; movi a mão. A respiração dele, o cair e levantar de seu peito. O bater memorável de seu coração. Sua mão tocando minha cabeça. Abri os olhos. Estava escuro, meus olhos doíam devido ao pranto. A rua tinha movimento e luzes pelos cantos. Me afastei minimamente dele.

Aos poucos acostumei-me com a claridade ofuscada que repousava no veículo. Pisquei repetidas vezes e passei os dedos nos olhos. Minha garganta parecia seca; Jimin percebeu quando pigarreei e me deu a garrafa de suco novamente. Tomei sem dizer nada. Minha percepção do mundo ainda era granulada.

ㅡ Se sente melhor?

A voz dele… Suspirei, meu corpo todo relaxou e arrepiou. O observei com cautela. Sua franja pincelava a testa, os olhos fixados em mim, a feição ainda impassível. Ele parecia nunca se abalar ou afetar por nada. Uma rocha. Uma rocha explorada por hábil artista que o tornou aquela obra que transbordava delicadeza e força, beleza e natureza. Mais delicado que um anjo, mais puro que um deus, mil vezes mais atraente que a mais poderosa luxúria de um demônio.

Indefinível, incognoscível, inefável. Essas eram as palavras. Eu não fazia ideia nenhuma do que era Park Jimin e do que acontecia dentro de seu peito forte, porém ainda assim havia entregado e desejava entregar incontáveis vezes meu lado mais sensível e ferido a ele. Ignorante demais para decifrar seus mistérios, eu apenas assenti com a cabeça. Ele sorriu. Retribuí sem saber o que aquele ato dizia sobre seu estado.

ㅡ Vamos voltar para os bancos da frente. Ou prefere ficar aqui? Não devemos demorar demais.

ㅡ Não, não… Vamos para o banco da frente. Tudo bem.

Fui o primeiro a sair do posterior do carro, me acomodando no banco do carona. Coloquei o cinto enquanto Jimin se ajeitava ao meu lado. Permaneci em silêncio enquanto ele ligava o carro. Ainda tocava música.

ㅡ Posso desligar, se quiser ㅡ sugeriu. Neguei.

ㅡ Gosto de música.

ㅡ Está certo. Quer conversar? Não quero invadir seu espaço.

Invadir meu espaço. Era possível invadir o espaço de alguém mais do que eu havia invadido o dele minutos antes? Lambi os lábios.

ㅡ Você não vai invadir meu espaço. Só… não prometo responder tudo que perguntar.

ㅡ Então quer conversar? ㅡ Concordei. Ele encarou a rua por alguns instantes; fez uma curva. ㅡ Pode me explicar o que houve naquela sala para que você ficasse tão desestabilizado?

Olhei para a janela. A rua correndo do lado de fora me acalmava. Brinquei com meus dedos, incapaz de responder de maneira direta. Me senti prestes a criar um labirinto sem destino.

ㅡ O pessoal, todos lá, estavam jogando o jogo da garrafa. ㅡ Observei Jimin. Ele não esboçou reação; fez um sinal com a mão para que eu continuasse. Não temi que ele contasse à direção da escola sobre aquilo. ㅡ Era inofensivo e eu nem acho que iriam mesmo ser capazes de beijar alguém, mas… Conhece o filho do professor Jung?

ㅡ Hoseok?

ㅡ Isso. Ele… Ele estudou comigo alguns anos atrás e tivemos uma relação estranha com um final pior ainda, pelo menos pra mim. Ele estava lá. É amigo de Taehyung, e na hora em que ele tirou a máscara…

Memórias me tingiram de azul escuro e branco vazio. O olhar hesitante dele, sua expressão nervosa, o corpo inquieto… O momento em que nos vimos. Hoseok definitivamente adiou aquilo o máximo que pôde.

ㅡ Eu me lembrei de tudo. Não consegui ficar no mesmo ambiente que ele e fugi. Não funcionou tão bem quanto eu queria. Eu já estava tendo uma crise antes de poder assimilar. 

ㅡ Suponho que ninguém de lá sabia disso além dele.

ㅡ Sim. Só ele e Yoongi sabem, pelo menos do pessoal da escola. Minha família sabe também. Enfim… eu não estava contando com encontrar algo como ele. E meu dia também não começou bem, então foi um compilado.

ㅡ Quer falar sobre essas outras razões?

ㅡ Não. Sim. Não sei. Você quer saber? ㅡ Inclinei a cabeça para capturar com exatidão sua resposta. Ele desviou o olhar da estrada e se concentrou em mim apenas o tempo necessário para me analisar ao responder:

ㅡ Quero saber tudo sobre você, Jeon. Tudo o que você quiser me contar.

Suspiro. Um longo suspiro. Eu estava me apaixonando tão rápida e profundamente. Mordi o lábio inferior.

ㅡ Meu hyung está estudando fora há um tempo e faz semanas que não manda notícias para ninguém da família. Parece que nos ignora de propósito, e não sabemos a razão. Ele me mandou uma mensagem desejando feliz halloween e eu quase queimei. ㅡ Apertei o cinto do carro. Espremi os lábios. ㅡ Ele agiu como se não fosse nada. Eu… Eu… Como ele pode fazer isso, entende? Como se eu não fosse irmão dele. E ainda hoje. Essa data sempre foi importante para nós e ele fez isso. Não consegui mais descansar depois disso.

ㅡ Compreendo. Contou a alguém sobre isso? Talvez sua família goste de saber que ele, pelo menos, está vivo.

ㅡ Ainda não disse. É uma das discussões que estou adiando. Não queria estragar o dia de mais ninguém.

ㅡ Você adia muitas coisas para não machucar os outros.

ㅡ Se há uma chance de poupar alguém da dor, eu escolho esse caminho.

ㅡ Você cruzou com muitas pessoas que não fizeram essa mesma escolha, eu imagino.

Encarei Jimin outra vez. Uma parte de mim se agitou. Talvez levemente machucada, como se ele espetasse uma ferida. Não durou muito, também. Meus instintos de fuga recuavam quando se tratava dele.

ㅡ Sim.

ㅡ Não quis ser invasivo.

ㅡ Não foi.

O carro estacionou. Era o meu jardim. Tirei o cinto e respirei fundo. Jimin saiu do carro antes de mim. Tive uma leve ânsia de vômito ao sentir ar puro. Me aliviei, no entanto, por me ver tão próximo de casa. Ele parou ao meu lado. Toquei sua mão, temendo ser rejeitado; não fui. Fechei os olhos para aproveitar o toque.

ㅡ Quer que eu entre com você?

ㅡ Não. Você tem que voltar à escola. Já te ocupei demais.

ㅡ Eu dormirei ao seu lado se você pedir, Jeon.

Gemi em resposta. Ele me deixava fora do eixo. Enrubesci e também pensei naquela proposta mais do que devia, com mais significados do que devia. Significados que eu sabia que não eram a que ele se referia, todavia não deixei de considerar. Considerar mais do que devia.

ㅡ Não é necessário. Eu agradeço sua ajuda. Você já fez o bastante por mim. Agora é por minha conta.

Um acenar de cabeça foi a resposta que ganhei. Ele virou-se de lado, ficando de frente para mim. Perdi parte do ar.

Eu costumava ficar sem fôlego com facilidade devido à frequência com que sentia mal estar, contudo, Jimin tirava o meu ar de uma forma que eu adorava. Ele me tirava do eixo, me fazia instável, nervoso, me fazia esquentar e suar e perder as palavras e sempre de um jeito único e indiscutivelmente bom.

Todos os sintomas da minha doença se subvertiam em sinais de amor para ele. O azul escuro que me engolia quando eu estava prestes a morrer sofria mutação e se tornava o azul celeste composto das batidas incontroláveis das asas das milhares de borboletas que expulsavam meu sangue para poder correr em minhas veias e manter meu coração vivo sempre que ele me dirigia o menor olhar.

Apaixonado. Eu estava apaixonado. Cuspindo os mais belos lepidópteros a cada vez que abria a boca.

ㅡ Pode me ligar se precisar de mim. Eu atenderei a qualquer hora. Virei a qualquer momento se você pedir. É um aviso.

ㅡ Não precisa se comprometer tanto…

ㅡ Eu quero me comprometer por você e com você, Jeon. É capaz de aceitar isso?

ㅡ Sou. Só não acredito que alguém como você faça algo assim por mim.

ㅡ É comum para os humanos buscarem algo maior que si mesmos e então se maravilhar diante desse algo. Estamos sempre admirando e nos ajoelhando diante de divindades.

ㅡ E como isso me envolve?

ㅡ Você é a divindade para qual eu quero fazer reverência.

Olhar nos olhos dele se tornou tão impossível quanto necessário. Eu não compreendia o que havia acabado de ouvir. Foi como paralisar. Aquilo, aquele momento, aquelas palavras, ele. Ele não podia ser palpável.

ㅡ Hyung… eu imploro para que você pare.

ㅡ Por que eu devia?

ㅡ Porque estou me apaixonando mais a cada segundo e isso me assusta.

Seu sorriso foi grande. Sua mão direita tocou minha bochecha. Alguns poucos passos foram dados por parte dele. Com o rosto próximo o bastante do meu, ele me esquadrinhou por segundos enquanto eu era sugado por suas íris. Perdi-me do eixo outra vez, escorri em impulso. O beijei.

Um encostar singelo de lábios, uma troca de calor. O senti sorrir mais ainda. Sua outra mão percorreu os cabelos da minha nuca e me virou para o lado. Ele se encaixou em mim. Sua língua me tocou devagar.

Se eu estivesse segurando algo, teria derrubado no chão naquele instante. Meu corpo todo sofreu um susto, quase como um gigante soluço. Perdi minhas estribeiras. Agarrei seu pescoço com ambas as mãos e não só abri passagem para sua língua como também introduzi a minha em sua boca com uma velocidade absurda. Nos encontramos, enfim. Eu o experimentei como um alimento exótico. Ele devolveu meu fervor com empenho ainda maior. Sua mão direita segurou minha cintura enquanto a outra acariciava e por vezes puxava meu cabelo. 

Lembrei de nossa dança na sala de aula e a lembrança me fez desabar sobre ele. Procurei sua língua com tanta vontade, o apertei forte, até inclinei o pescoço em sincronia com minhas investidas. Ouvi o som de nosso pecado e incendiei. Eu teria mesmo que me desculpar pelo que fiz depois. 

Segurei seu pênis por cima da calça. O beijo acabou. Jimin gargalhou violentamente. Se afastou de mim e apoiou o corpo no carro. Lágrimas escorreram de seus olhos. Achei que alguém fosse nos notar ali.

Fiquei sem reação. Morri de vergonha. Não foi um constrangimento comum, passável, não, não. Foi, possivelmente, uma das maiores vergonhas que já senti em toda a minha vida. Superando até mesmo o "Chupe com vontade".

Avermelhei tanto que parecia febre, tamanho o calor. Desejei correr para dentro de casa e me afundar na cama, gritar no travesseiro por horas a fio. Tomar banho frio para apagar aquele súbito e mortal calor.

Eu não sabia no que exatamente havia errado. Ele estava rindo por que eu pareci ridículo? Desesperado? Apressado? Ou estava gargalhando porque, assim como eu, se surpreendeu? Ou eu havia… o tocado errado? De repente a ideia de ter envolvido seu falo de forma equivocada me atingiu. Quase chorei de tanta vergonha e arrependimento.

Se tratando de genitália masculina, eu era um analfabeto. Além de meu próprio corpo jamais havia visto ou dedilhado outro. Me arrependi amargamente de ter ousado fazer algo que não dominava. Me aproximei de Jimin enquanto ele ainda ria.

ㅡ Hyung… Hyung, me perdoe. Eu nunca fiquei com outro cara. Eu não sei direito como fazer. Me perdoe se te toquei errado.

Os solavancos do tronco dele cessaram demoradamente. Ele se colocou de pé diante de mim mais uma vez e secou as lágrimas. As minhas, estavam prestes a rolar. Ele segurou meu rosto.

ㅡ Não foi nada disso, Jeon, não se preocupe. Eu só não esperava que você fosse me tocar assim, tão íntima e diretamente, na rua em frente à sua casa. Fui pego de surpresa e não tive reação senão rir do quão ousado você foi.

ㅡ Ah… ㅡ Mordi o lábio e concordei. Estava crepitando ainda. ㅡ Eu… eu entendi. Me perdoe. Não farei mais isso.

ㅡ Não se desculpe por isso. Foi um ato adorável. Eu teria feito o mesmo em outras circunstâncias.

ㅡ Quais?

ㅡ Qualquer uma que não fosse na rua de frente para a sua casa.

ㅡ Ah… ㅡ Ele riu de novo. ㅡ Hyung, pare de rir, por favor. Estou com tanta vergonha que acho que vou morrer.

ㅡ Mas foi você quem me apalpou na rua! Eu que devia estar encabulado diante de tanta indecência!

ㅡ Jimin hyung!

E ele gargalhava enquanto eu torcia por uma morte rápida.

ㅡ Tá bom, vou parar. Não tenha vergonha. Está tudo bem. E tire de sua cabeça as dúvidas quanto à abordagem do toque. Sua pegada foi perfeita.

ㅡ Foi mesmo?

ㅡ Sim. Se não estivéssemos aqui, eu certamente iria retribuir e te deixar avançar.

ㅡ Você me deixaria avançar?

ㅡ Eu deixaria você fazer tudo que desejasse comigo, Jeon.

Era tão fácil desmoronar quando ele agia assim…

ㅡ Pare de falar disso. Eu fico ansioso.

ㅡ É perceptível que você tem bastante apetite sexual. ㅡ Mordi o lábio; assenti. Jimin sorriu. ㅡ Como você descarrega todo esse desejo, Jeon? ㅡ Sua voz foi calma e branda. Quis aspirá-la como perfume.

ㅡ Eu realmente acho melhor você não saber, hyung.

ㅡ Já se descarregou… pensando em mim?

Neguei freneticamente com a cabeça, depois assenti com a mesma frequência, morto de tão constrangido.

ㅡ Hyung! Não me faça falar sobre isso.

ㅡ Existe assunto mais natural para debater do que a masturbação?

ㅡ Não sei. Sei que não quero a minha sendo pautada!

Ele riu mais uma vez. Fez carinho na minha bochecha.

ㅡ E a minha?

E a dele? A dele? A dele. Meu Deus. E a dele?

ㅡ A sua… me interessa mais. Podemos falar sobre ela. Não, não, não podemos. Devemos. Nós devemos falar sobre ela.

ㅡ Ah, mesmo?

ㅡ Sim. É necessário.

ㅡ Nesse caso…. Te garanto que não há nada que você faz pensando em mim que eu já não fiz pensando em você. Pensando em nós.

Nós. Nós. Nós. Nós? Meu Deus… nós.

ㅡ Eu juro que se você estiver mentindo, eu vou chorar.

ㅡ Eu não minto, Jeon. Se lembra?

ㅡ Aish… Mas, hyung… Você não pode querer falar disso e depois me deixar em casa… deste jeito.

ㅡ Que jeito?

Estalei a língua no céu da boca e me afastei um pouco. Olhei para os lados para ter certeza de que ninguém me via. Bufei ao dirigir meu olhar a Jimin outra vez e apontar ㅡ muito discretamente ㅡ para a confusão armada na minha calça. Ele proferiu um "Ohh" e me puxou pela cintura. Minha intimidade raspou nele. Oh, droga.

ㅡ Receio que eu não possa fazer nada a respeito disso aqui. ㅡ Pegou o celular do bolso e o guardou outra vez após ver rapidamente o que queria. ㅡ Já se passou tempo demais. Tenho que ir. Se não tivesse, te traria alívio ali dentro do carro.

A simples ideia de Jimin saciando minha ereção dentro do automóvel me fez endurecer ainda mais.

ㅡ Você não está ajudando ao falar essas coisas.

ㅡ Perdão. Espere um pouco antes de entrar se não quiser que seu pai te veja assim.

ㅡ Tudo bem. Eu corro até o quarto com uma desculpa qualquer. ㅡ Suspirei e mirei seus olhos. ㅡ Obrigado por me trazer até aqui, hyung. Obrigado por tudo. Pela música, pelo apoio, pelo carinho e… por me beijar tão gostoso. Eu nunca vou esquecer.

ㅡ Também não vou, Jeon. Nunca. Mas, antes que eu vá, e tenho mesmo que ir, vou te fazer uma proposta.

ㅡ Estou ouvindo.

ㅡ Saia comigo. Me deixe te levar a uma festa diferente dessa na escola ou só venha até a minha casa. Eu irei adorar passar um tempo ao seu lado e, se for da sua vontade, transar.

Eu desisti completamente de tentar broxar. Ele colocava mais lenha na fogueira a cada palavra!

ㅡ Deus…. ㅡ Foi o que eu disse. Dei alguns passos para respirar. Estava sem ar algum.

ㅡ Me avise se decidir. Pode me ligar ou o que preferir. Vou aguardar.

Espremi os lábios com força e assenti, queimando da melhor forma que já tinha queimado em todos os meus anos de vida.

ㅡ E não se acanhe por inexperiência. Aconteça o que acontecer, te quero tão ousado quanto hoje.

Eu ia gozar ali mesmo, na rua, e não haveria força superior capaz de me parar.

ㅡ Si-sim. Estarei be-bem ousado, hyung, já que você gosta.

ㅡ Fazia um tempo que você não gaguejava.

ㅡ E você es-espera que eu fa-fale como? Estou qua-quase tendo um orgasmo bem aqui!

Fui colado a ele outra vez, cortesia de suas mãos em meu quadril. Sua pergunta foi concisa:

ㅡ Então você gagueja quando tem orgasmos?

ㅡ Pu-puta que pariu…

ㅡ Vou interpretar isso como um sim. ㅡ Colocou a franja para trás. Gemi. ㅡ Até logo, Jeon. Não hesite em me chamar. Tenho permissão para te dar um beijo de despedida?

ㅡ Até no-nove.

O riso voltou a escapar dele pouco antes de juntarmos nossos lábios sem pressa. A tão estimada etapa com a língua foi rápida; uma prova de gosto e já estávamos longe. Jimin deu a volta no carro e sentou-se ao volante. Acenei quando o carro saiu e torci para que o restante de sua noite fosse boa. Encarei minha casa e soube que era hora de voltar ao mundo sem-Jimin ㅡ e eu não apreciava tanto esse mundo.

Caminhei rapidinho até a porta e abri sem grandes problemas; papai estava me esperando. Vi apenas sua cabeça de longe; ele estava no sofá da sala. Se virou para me ver e sorriu. Me aliviei. Minha aparência devia estar boa, então, pois ele não demonstrou preocupação. No entanto, logo se confundiu, porque eu corri até o quarto na tentativa de impedi-lo de notar minha excitação. Quando cruzei a porta do quarto, me encostei na madeira e respirei fundo. Avistei o relevo na minha calça.

Jimin, todos os atos seguintes foram em seu nome.


{...}


Mesmo sendo noite meu pai quis saber sobre a festa e minha chegada ㅡ aparentemente, ele havia me visto pela janela com Jimin e estranhou minha demora para entrar. Não falou nada sobre beijos ou derivados, então torci para que ele apenas tivesse nos avistado conversando.

ㅡ Você se divertiu? ㅡ Foi sua primeira pergunta. Eu já havia tomado banho e estava no sofá ao lado dele vendo o especial de terror na televisão. Pensei em Dahyun.

ㅡ Sim. Foi legal. ㅡ Fechei os olhos e neguei com a cabeça. Não estava disposto o bastante para enrolar até o dia seguinte. ㅡ Na verdade, eu tive uma crise. Jimin me trouxe por isso.

Olhei meu pai, engolindo em seco, temendo vê-lo desapontado. Reparando bem em suas feições… Papai era muito atraente. Tinha pouquíssimas rugas e sua aparência era saudável. O admirei por isso. Desejei me assemelhar a ele. Lamentei por pintar seu rosto delicado com minha dor.

ㅡ Foi muito ruim? Foi porque Yoongi não estava lá? Alguém te fez algo? 

Ele tirou meu cabelo da frente da testa, chegou mais perto de mim. Me aconcheguei em seu peito como havia feito com Jimin anteriormente.

ㅡ Foi bem ruim, pra ser sincero. Como aquelas que tenho após tomar banho, às vezes. Foi… Pai, se eu te contar uma coisa, você promete não fazer nada sobre ela?

ㅡ Sendo seu pai… acho que essa promessa seria em vão. ㅡ Suspirei. Agarrei seu casaco. Fechei os olhos com força. ㅡ O que houve, hm? Sou seu pai. Quando foi que deixei de ser confiável?

ㅡ Não é isso… Tenho medo de estragar tudo pra você.

ㅡ Garanto que não. Me diga o que é.

Me calei. Espiei o filme de terror. Alguém estava morrendo. Papai acariciou meu ombro. Juntei todas as minhas forças para não chorar.

ㅡ Você lembra do Hoseok, pai?

ㅡ O covarde mirim? Lembro.

ㅡ Eu vi ele. Ele estava lá. É amigo do Taehyung. Por isso passei mal. Mas não é só isso… Você sabia que ele é filho do Sr. Jung?

Silêncio. Meu coração disparou. Sangue voou para todos os lados na tela. Gritos. Ele suspirou.

ㅡ Não. Não liguei os pontos quando ele me falou sobre a família. Parando pra pensar, eles…

ㅡ Eles são bem parecidos, não são? ㅡ Ri; saí de seu peito e me acomodei no espaço ao lado. Ele concordou. ㅡ É que… não quero que isso atrapalhe você. O Sr. Kijoon não é o Hoseok. Não quero que seu namoro acabe porque eu e Hoseok tivemos desavenças. Quero que você seja feliz e se isso significa ter que suportar Hoseok vez ou outra, eu estou disposto.

ㅡ Porém, eu não.

Bufei. Batuquei os dedos no sofá. Odiava quando ele se comportava desta forma.

ㅡ Não vou te forçar a conviver ou interagir, ainda que pouquíssimo, com Hoseok por minha causa. Além do mais, se Kijoon for tão correto quanto parece irá entender. Iremos chegar a um acordo sobre isso. Tenho certeza que Hoseok também vai ser uma variável que ele vai considerar. Vamos dar um jeito. Não se torture com isso. Agora… quem disse que estou namorando?

ㅡ Em nome de Deus, pai. Eu sou lento, não burro.

ㅡ E você deve achar que eu sou os dois para ter feito o que fez na rua.

Corei demasiadamente e encarei as pessoas em pânico no filme. Me identifiquei com elas. Também estava em completo desespero.

ㅡ Agora vai fingir que não sabe do que eu estou falando?

ㅡ Pai… por favor…

ㅡ Sério, não podia ser dentro do carro? Os vidros são escuros, seria bem mais…

Me virei, cobri a boca dele com uma almofada e tentei ignorar o calor extremo em minhas bochechas. Respirei fundo e indaguei:

ㅡ O que você viu?

ㅡ Ah… ㅡ sua voz estava abafada pela almofada, mas vi sua testa franzida ㅡ ouvi som de porta de carro fechando, olhei pela janela e te vi com Jimin. Sentei no sofá para te esperar, contudo demorou mais do que eu esperava. Espiei de novo e ele parecia próximo demais de você. Pensei "Ah, tudo bem, um beijo de adeus"', não quis invadir a privacidade de vocês e me sentei de novo. Aí vieram risos. Ignorei. Aí demorou e demorou. Quando olhei pela última vez, ele estava beijando você. Admito que imaginar a língua dele dentro da sua boca não foi exatamente o que...

ㅡ Para, para! Para, por favor. Você viu só isso? Ele me beijando e rindo? ㅡ Ele acenou com a cabeça. Me aliviei. Papai franziu a testa novamente.

ㅡ O que você fez, Jungkook?

ㅡ Eu? Nada. ㅡ Abracei a almofada e encarei a televisão. Ele me olhou com desconfiança.

ㅡ Jungkook...

ㅡ Você disse que não queria invadir minha privacidade, todavia está fazendo isso agora! Todos têm direito a… segredos.

ㅡ Se aconteceu na rua, não é segredo.

ㅡ E por que você acha que eu fiz algo? Não pode ter sido ele? Por que automaticamente deduziu que fui eu?

ㅡ Eu te conheço desde que você nasceu, Jungkook. E te juro, você nunca, nunca, foi muito limpo quando se tratava de sexo.

O encarei de olhos arregalados e boca aberta. Como podia dizer algo assim sobre mim?

ㅡ Que coisa horrível pra se dizer, pai!

ㅡ Você sabe que é verdade. Olha, não quero invadir seu espaço. Na verdade, quero, mas não vou, porque é errado. Você não é mais virgem e também não é tão ingênuo, então não vou morrer de preocupação. Me conte o que quiser contar. 

Ele pegou o pote de geleia cheio até a metade da mesinha de centro e continuou a comer o restante com a colher. O observei em silêncio. Sorri e deitei a cabeça em seu ombro. Não vi necessidade em dizer o que havia feito, porém quis contar outra coisa. Uma que estava me revirando por dentro.

ㅡ Jimin quer transar comigo, pai.

Ele parou com a colher na boca. Fechou os olhos e assentiu com a cabeça, retornando a ingerir com gosto a geleia de uva.

ㅡ Isso não me surpreende tanto. Você também quer?

ㅡ Quero.

ㅡ Isso me surpreende menos ainda. 

ㅡ Eu devo?

ㅡ Está me perguntando se deve fazer sexo com seu professor particular de biologia? ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Claro que não. Pra mim, você tem que desenhar e brincar com seus carrinhos. Mas não é como se eu fosse assim tão preso ao passado. Se você quer, faça. E, por favor, não me diga que tenho que te ensinar alguma coisa, pois eu realmente não quero. Gastei toda a minha coragem na nossa conversa sobre a Momo.

ㅡ Eu não quero pedir conselhos nem nada. Eu só… Droga, você viu como ele é lindo, pai?

ㅡ Vi.

ㅡ E ele gosta de mim. Gosta daquele jeito. ㅡ Sorri; mordi o lábio. ㅡ E eu gosto tanto dele. Espero que corra tudo bem conosco.

ㅡ Vocês têm uma data marcada ou algo assim? Devo sair de casa?

ㅡ Não seja bobo! Jimin tem casa.

ㅡ Ah, você vai transar fora de casa. Isso me alivia tanto, nossa. Meu sono hoje será tranquilo.

Ri enquanto abraçava seu braço. Não falamos mais, só assistimos ao filme. As coisas pareciam normais outra vez.

No dia seguinte, eu contaria sobre Seokjin. Aquela noite não. Não podia.

Após o fim do filme, papai foi ver alguns e-mails da floricultura e eu permaneci na sala. As luzes apagaram e a madrugada chegou enquanto eu mal mantinha os olhos abertos, porém não queria ir até o quarto. Não estava tão interessado no filme também. A verdade era que minha cama sempre me remetia sono, e eu não queria dormir. Eu queria prosseguir acordado, consciente. Queria relembrar meus momentos com Jimin até dormir e sonhar com ele.


Eu:

Boa noite, hyung - 02:23

Jimin:

Boa noite, Jeon. Você está bem? - 02:24

Eu:

Estou ótimo. E você? - 02:24

Jimin:

Estudando. A vida de professor é um saco às vezes. - 02:25

Eu:

Eu imagino. - 02:25

Hyung… sobre seu convite… - 02:25

Jimin:

Não se preocupe: eu tenho um pote cheio de preservativos. - 02:25

Estou brincando - 02:25

Continue - 02:25


Quase derrubei o celular no meu rosto devido à tremedeira nas mãos. Tive que respirar fundo e me conter para não imaginar que dentro de pouco tempo eu estaria, realmente, sem ser ilusão ou sonho ou desejo, fazendo sexo com Park Jimin. Parecia tudo uma pegadinha.


Eu:

Eu aceito, Jimin hyung. Tanto a festa quanto a visita à sua casa. Só não prometo ser um bom acompanhante o tempo todo. Temo, também, ser um incômodo na festa. Não quero que o que houve hoje se repita. - 02:25

Jimin:

Não vai. Eu te garanto. Se eu te levar a algum lugar será unicamente para me divertir com você. Não te deixarei sozinho nem irei permitir que nada te chateie, também iremos embora quando você quiser. Eu farei tudo que você pedir, Jeon. - 02:26

Eu:

Não fale assim. Eu não sei como responder. - 02:26

Jimin:

Diga que me ama outra vez. - 02:26


Grunhi e bati os pés no sofá. Merda. Ele era tão… ele!


Eu:

Eu te amo, Jimin hyung. - 02:26

Jimin:

Eu também te amo, Jeon dongsaeng. - 02:26


Foi bem ali que meu coração parou de bater. Jimin nunca havia dito antes. Não soube o que replicar. Estava extasiado.


Jimin:

Te aviso o dia para sairmos, então. - 02:27

Eu:

Sim. E, hyung, sobre nós… Me desculpe se demorar a pegar o jeito. Como te disse hoje: eu nunca estive com outro cara antes. - 02:27

Jimin:

Não se preocupe. Tudo dará certo. Vou dormir agora, e você também devia. - 02:27

Sonhe comigo, Jeon. - 02:27

Eu:

Só se você também sonhar comigo, hyung! - 02:28

Jimin:

Eu sempre sonho com você. - 02:28

Eu:

Boa noite. Agora estou com vergonha. Até. - 02:28

Jimin:

Até, Jeon. - 02:28

Relaxe. - 02:28

Eu:

Eu irei, hyung. - 02:29


E eu relaxei. Coloquei o celular sobre o peito e deixei meus olhos fecharem. Dormi sem medo ou preocupações. Meu último ato foi sorrir.


{...}


ㅡ Inacreditável o quanto você é um traíra, Jeon Jungkook.

Acordei mais tarde que o costumeiro, porém com tempo o bastante para tomar banho e me aprontar para a escola. Soube que meu dia não seria fácil logo ao acordar. Não foi meu pai que me despertou, e sim Yoongi que sentou em cima de mim no sofá e cutucou meu olho até eu elevar as pálpebras. Seu peso em meu abdômen estava desconfortável; Yoongi era alguns quilos mais pesado que eu. E isso fazia todo sentido: ele comia o tempo todo.

ㅡ Yoonie, está doendo… ㅡ reclamei. Minha voz estava baixa e lenta. Olhá-lo doía porque a luz queimava. O sono curto estava me castigando.

ㅡ Sabe o que dói mais que um Min Yoongi de mais de setenta quilos em cima de você? Uma facada no peito, Jungkook! Igual a que levei ontem! Não recebi uma única mensagem! Seu pai que teve que me contar! ㅡ Ele começou a quicar no meu abdômen. Não pude me impedir de lhe estapear a nuca. ㅡ Desgraçado! Ainda me bate?! Agora você vai conhecer a dor!

Yoongi quicou mais forte, e senti que ia vomitar meu jantar. O empurrei e corri para o banheiro. Fui seguido, infelizmente, e meu nem tão querido amigo entrou comigo, trancou a porta e me encarou de braços cruzados. Estava com olheiras.

ㅡ Você não dormiu, Yoongi?

ㅡ E quem dorme naquela casa? A merda do meu irmão tossiu a porcaria da madrugada toda. Fiquei levando xarope e comida pra ele na cama. Quando eu fechava os olhos um tiquinho ㅡ representou o "tiquinho" com os dedos ㅡ, Kyungseok voltava a tossir feito um fumante com tuberculose! Troquei de quarto com Eunwoo. Você está entendendo? Dei meu quarto àquele monte de bosta pra poder cuidar de Kyungseok. Fiquei na cama do Eunwoo. Mas quem disse que pude dormir? Ai, e Jae vive tendo pesadelos! Que raiva! Quando Kyungseok finalmente dormia e eu pensava que era minha hora de descansar, Jae começava a gemer e gritar! Você acredita que ele veio chorando e pediu pra dormir comigo? Mas não tem isso, não! Dei um tapa bem dado naquela cabeça e mandei ele voltar pra cama dele! Mas acha que isso parou ele? O infeliz ficou voltando e voltando até eu aceitar que ficasse comigo! Aí que não dormi mesmo! Kyungseok tossindo, Jae tendo pesadelos e ainda por cima me agarrando como se eu fosse um brinquedo! Olha isso! ㅡ Levantou a camisa. Diversas marcas manchavam sua barriga; espremeu a carne. ㅡ De tanto ele me apertar, me arranhar! Infeliz! 

Percebi que aquilo iria levar tempo demais e comecei a escovar os dentes. Minha aparência estava péssima, daria tudo para dormir mais algumas horas. Yoongi prosseguiu narrando sua noite de horror.

ㅡ Impune ele não saiu! Jungkook, eu dei um tapa, mas um tapa, meu Deus, o melhor tapa que já dei nesta vida, naquela bunda magrela! Ele chorou por meia hora, mas me arranhar, não arranhou mais. E aí dormiu, né? Dormiu enquanto eu sofria. E só de pensar que enquanto eu vivia este pesadelo o Eunwoo dormia calminho na minha cama, quero morrer mais ainda! E a Sana por aí com a Mina, né? Nem voltou pra casa ainda. Desgraçada. Fodendo enquanto eu me fodia. Tranquei a porta de casa depois de sair. Ela que fique fora o dia todo, porque ninguém vai abrir pra ela, e chave reserva, não deixei. Kyungseok acordou melhor, graças a Deus. Estava sem forças pra nada ontem. Uma febre terrível. Mamãe quis deixar o trabalho pra cuidar dele, porém não pôde. Saiu triste de casa. Como eu podia dizer: Mãe, hoje eu vou sair, tá? Vou deixar essa criança ardendo em febre e sumir!

Eu apenas murmurava. Não havia tempo para falar, também. Yoongi tinha a mania de contar tudo de uma vez. Enxaguei a boca e lavei o rosto.

ㅡ Não dava, sabe? Ela estava desolada. Tive que ficar. Eunwoo até tentou, mas ele é imaturo demais! Kyungseok gemia e ele começava a chorar. Sensível demais para um Min. Sana já tinha encontro marcado e disse para eu avisar se precisasse dela. Mas quando Kyungseok piorou mesmo, já tinha passado de meia noite. E ela tinha passado a semana estudando pra faculdade. Pelo menos isso ela faz, né? Estuda. Não quis tirar a única noite de descanso dela. Ai, mas foi um inferno, Jungkook, um inferno. Nem sei o que faria se aquele menino não parasse de tossir.

ㅡ Lamento pela sua noite e pelo Kyungseok, Yoonie. Espero que ele melhore logo. Vamos marcar um dia pra nós. Você também merece descanso.

ㅡ Lembra da época em que dividíamos sala? ㅡ Apoiou a cabeça no meu ombro. ㅡ Que saudades, meu Deus. Podíamos relaxar e pedir ajuda um pro outro. Agora só fazemos educação física junto. Que raiva.

ㅡ Eu sei. Éramos mais próximos. ㅡ Beijei sua cabeça. Ele suspirou e se afastou. Estava chorando. 

ㅡ Que noite horrível, Jungkook. Senti sua falta lá. Sua presença teria feito toda a diferença. ㅡ Soluçou. Meu coração se partiu em pedaços.

ㅡ Hyung, meu Deus… não chore!

ㅡ O que eu faria se ele não parasse de tossir? Meu Deus, quase morri de preocupação. Tudo o que eu dava pra ele tomar, tudo o que eu fazia, dizia, nada funcionava. Eunwoo estava se desesperando, Jae estava agitado pela preocupação. Eu não sabia pra onde ir. Não dormi nem dois minutos. Quero morrer, Jungkook. Quero entrar em coma. Não aguento mais.

O tronco dele sacudiu e lágrimas grossas escorreram de seus olhos pequenos. O abracei forte e descemos ao chão, ajoelhados. Segurei-lhe pela nuca e o afaguei nas costas. Seu queixo estava apoiado no meu ombro e os soluços eram infindáveis.

ㅡ Hyung, conte à sua família que está sobrecarregado. Você não pode prosseguir assim.

ㅡ Mas o que eu vou dizer? Todos estão ocupados, Jungkook. Sana faz o que pode fazer. Ela trabalha também. E, além do mais, ela não aguenta tanta coisa. Você deve se lembrar do quanto a Jihyo tentava mantê-la calma. Eu sou o único com tempo e disposição o bastante. E tudo bem! Eu não me importo em cuidar deles. Mas… ㅡ soluçou novamente; fechei os olhos ㅡ às vezes eu sinto que não tenho ninguém. Eu e Sana trocamos os dias quando podemos, e aí eu descanso, mas… parece mesmo que nunca termina. ㅡ Seus dedos agarraram forte minha camisa e os solavancos de seu corpo aumentaram. ㅡ Eu não tenho ninguém. Todos têm seus próprios problemas e eu não posso chorar no colo do meu pai quando tenho um dia ruim. Eu só queria… me sentir mais leve. Se eu ficar deprimido quem vai sofrer são os meninos e eu não vou permitir! Eu morro, definho, porém não deixo que eles se machuquem por minha causa.

Estar perto de Yoongi era constantemente ser bombardeado de sinais do quão sortudo eu era. Minha família sempre fez tudo por mim. Eu cresci num lar repleto de amor onde as pessoas se importavam comigo e ouviam cada palavra minha, mesmo que fosse boba. Yoongi inegavelmente era amado. Infinitamente amado. Mas esse amor não o fazia menos sozinho. Seus deveres e correria diária o consumiam, assim como a todos naquela casa, de tal forma que a exaustão o impedia de aproveitar quem amava. Ele não podia brincar com os irmãos, rir com os pais ou correr com o cachorro. Passava todos os seus dias, o dia todo, com essas pessoas sem poder de fato usufruir do amor e apoio delas.

Eu nunca tive tanta certeza de que ele era muito mais forte do que eu imaginava e também mais machucado quanto naquele momento. O momento em que ele desabou em cima de mim e eu percebi aquilo que, sem perceber, havia me recusado a ver e aceitar durante todos aqueles anos de amizade; aquele fato que invalidava todas as minhas certezas, me tornava explosivo e resistente como rocha.

Yoongi… me enxergava como um de seus pilares. Queria e se permitiu desabar em cima de mim como não pôde fazer com sua família. Ele realmente acreditava que eu era tão forte quanto ele.

Isso era loucura! Não era?

Eu! Jeon Jungkook diante de Min Yoongi; como podia haver igualdade? Era ridículo.

Naquele momento, vi que era real. Min Yoongi soluçando nos meus braços. Aquilo me amadureceu. Senti instantaneamente. Senti uma parte do meu peito se juntar, fechar, senti que minha carne estava selada e revestida com rocha. Me tornei mais forte naquele instante; ou talvez tenha apenas me dado conta naquele momento.

Acariciei com carinho sua cabeça e sussurrei que iríamos resolver. Disse que estava tudo bem, disse que ele podia chorar, e ele podia. Eu mesmo o daria minhas lágrimas caso ele precisasse chorar e não conseguisse mais.

ㅡ Vou te ajudar. Vou te ajudar com os meninos. Sei que não pediu, mas faço com prazer. Vou estar lá. Vamos estar sempre juntos agora. Sempre. ㅡ Beijei sua orelha e me afastei para poder olhá-lo nos olhos e segurar seu rosto redondinho. Inchado. Vermelho. Molhado. ㅡ Vamos ficar sempre juntos agora, Yoongi hyung. Você nunca mais vai se sentir sozinho. É uma promessa.

Ele nada disse. Me abraçou de novo. Esperei por ele como ele sempre esperava por mim. O dei todo o meu amor, todo o meu carinho, o dei tudo, pois nada daquilo possuía valor enquanto ele estivesse sofrendo. Eu não era nada quando ele sofria, me sentia desaparecer como fumaça. 

Me abandonei, abandonei minha dor e meus medos. Me entreguei ao nada para poder me dar a ele por inteiro e fui recebido com sede. Ele se alimentou das minhas forças e cerne como necessitava. Eu estava nele agora, fui eu quem mantive seu coração batendo por alguns momentos. Uma parte minha agora o mantinha vivo e isso me deixou feliz. Finalmente a parte dele que habitava em mim não sofreria mais com a solidão.


{...}


O café da manhã me fez tremer. Foi devagar e cheio de receio que contei sobre a mensagem de Seokjin. Papai pareceu aliviado por meu irmão estar bem e depois demonstrou seu ressentimento, pois sabia o peso que o halloween tinha pra mim. Yoongi conteve a maioria de seus xingamentos; apenas porque eu não gostava quando tratavam mal o hyung na minha presença. Porém, ele ainda demonstrou sua raiva com expressões faciais e palavrões nem tão ruins.

Após isso, pensei se mencionava ou não o assédio que sofri. Tanto papai quanto Yoongi sabiam o quão difícil era pra mim me aproximar e permitir ser tocado por outras pessoas. Eles seriam mais afetados que eu. Tive medo que me achassem fraco, incapaz de me impor e definir limites. Era daquela forma que me sentia.

ㅡ O que mais você quer dizer? ㅡ meu pai questionou. Neguei com a cabeça. Senti que iria chorar. ㅡ Seokjin disse mais alguma coisa?

ㅡ Não. ㅡ Funguei e apoiei os cotovelos na mesa, coloquei as mãos no rosto. Yoongi tocou minhas costas.

ㅡ Nos diga o que foi, Jungkook.

Meu coração acelerou. Por que era tão difícil falar? O que me impedia? Me sentia tão infantil. Detestava esconder coisas; ainda mais quando se tratava de pessoas tão próximas de mim como papai e Yoongi, contudo as palavras pareciam presas e dizê-las soava errado. Respirei bem fundo. Pensei em Jimin e em nossas pausas para pegar ar. Lembrei que foi ele quem se encarregou de adverter Jisung. "Relaxe, Jeon". Relaxar. Eu podia relaxar. Soltei o ar e contei, de olhos fechados e voz mais baixa do que desejei:

ㅡ Aconteceu uma coisa ontem. Foi na escola. Depois que conversei com Jimin, antes de sair. Um… um garoto passou a mão em mim.

Houve silêncio. Apertei os olhos, implorei para que alguém dissesse algo. Meu pai fez esse favor por mim.

ㅡ Como aconteceu?

ㅡ Eu parei pra ver minhas mensagens e só senti alguém pegar minha bunda. Ele passou por mim depois disso. ㅡ Abri os olhos. Yoongi estava com uma expressão que eu conhecia bem e me deu medo. Meu pai… meu pai parecia desolado. Senti culpa. ㅡ Eu não queria preocupar ninguém. Jimin está cuidando disso, ele viu! Não quero que ninguém sofra por minha causa.

ㅡ Não é por sua causa, e você sabe ㅡ Yoongi replicou com o tom grave que me tornava receoso. Ele deixou de lado o bolo que comia e se levantou, pediu licença e fez um sinal com a cabeça enquanto resgatava a mochila do chão. ㅡ Vamos, Jungkook.

Cedi. Tomei o resto do meu suco e peguei minha mochila também, me despedi de papai e saí. Yoongi me esperou na porta, andou ao meu lado. Não soube o que fazer com minhas mãos trêmulas, no entanto ele soube.

ㅡ Me explique isso direito ㅡ pediu. Puxou minha mão esquerda e entrelaçou forte com a sua. Suspirei aliviado. ㅡ Não me diga que foi como estou pensando, Jungkook. Espero que não. Se for… ㅡ Mordeu o lábio. ㅡ Eu vou cortá-lo em pedaços.

ㅡ Você não fará nada. Jimin fará. A escola fará. Não você, não eu, mas essas pessoas.

ㅡ Não irão tomar providência alguma, e você sabe disso. Tudo vai ser deixado de lado. Jimin pode até tentar, e talvez com a palavra dele tenhamos mais resultados, porém colocar fé nisso e em algum tipo de justiça é ilusão. A escola nem apoia o Jimin tanto assim, e você também sabe disso. Aquele jeito neutro dele e o cabelo colorido, você sabe o que pensam da presença dele ali. Então não me diga que tudo vai ser resolvido, não tente me acalmar. Me conte se foi como acho que foi.

ㅡ Odeio quando você fala assim ㅡ sussurrei. Ele parou de andar e me segurou pelos ombros. Me recusei a olhar em seus olhos inicialmente.

ㅡ Pare com isso. Sabe que é desnecessário esconder qualquer coisa de mim. Me diga, Jungkook. Confirme minhas suspeitas.

Assenti com a cabeça e tirei suas mãos de meus ombros, entrelacei nossos dedos novamente e retornei a andar. Eu respirava de modo forçado.

ㅡ Foi Jisung, sim. E ele sorriu depois de fazer o que fez. Eu paralisei na hora e não soube como agir. Jimin estava passando e notou tudo, tomou conta da situação. E acaba aqui. Não há mais nada.

ㅡ Ele gosta de você.

ㅡ Sim, Jimin gosta de mim ㅡ falei, estranhando a citação. Hyung discordou.

ㅡ Não Jimin. Jisung. Ele gosta de você.

Não pude prender o riso na garganta. Parecia uma piada muito ridícula e de extremo mau gosto.

ㅡ Jisung? Não. Ele me detesta.

ㅡ Ele finge, Jungkook. Você acha que ele iria mesmo deixar a pose de machão de lado? Implicar conosco traz boa fama pra ele, bajulação e seguidores. ㅡ Fez um "Argh!". ㅡ Mas ele é bem mais fixado em você. Tem medo, eu acho. Você exala tudo aquilo que ele e os amigos odeiam, como o perfume de uma rosa. 

ㅡ Você sempre me compara a uma flor.

ㅡ E você é. ㅡ Balançou nossas mãos unidas e as encarou.  ㅡ Você é uma flor, Jungkook. A mais bela, delicada, resistente e cheirosa do mundo. Eles têm medo disso. Jisung morre de medo disso porque também cai aos seus encantos. Sem querer soar apaixonado demais, Jungkook, mas você é irresistível. Me perdoe, sei que não acredita, mas é verdade. Você é bonito pra caralho, tem um sorriso lindo, uma personalidade encantadora e ainda se destaca, mesmo que deseje o contrário. As pessoas viram os pescoços quando você entra e não é só porque você tem má fama. Elas te admiram de longe, sem coragem de se aproximar. ㅡ Nossos olhares se encontraram. As palavras de Yoongi foram sérias: ㅡ Você fascina as pessoas, e elas não conseguem se impedir de se apaixonar por você, no entanto isso não é o bastante para que se tornem seu séquito. Preferem te excluir e rejeitar a admitirem que estão apaixonadas por você, porque tremem de pavor de um dia sofrerem tudo o que você sofre.


{...}


O começo do dia se passou de forma lenta e insólita. Estavam cochichando sobre mim, não era só minha impressão. Imaginei que fosse pela minha saída da escola noite passada e que boatos de que eu estava aos prantos no banheiro se espalharam. Fingi que não percebi nada. No almoço, quando eu estava saindo do banheiro para ir ao encontro de Yoongi, Suhyun me puxou pela mão até um canto vazio. Aquilo sem dúvidas não seria um bom boato para ela.

ㅡ Op… Não, você disse que não preciso te chamar de oppa, perdão. Jungkook, temos que conversar ㅡ começou ela, parecendo preocupada. Suspirei pressentindo o pior.

ㅡ Se é sobre ontem, eu já estou melhor. Só tive um momento ruim e passou.

ㅡ É sobre ontem, porém também é sobre mais! As pessoas estão mentindo sobre você, Jungkook. Alguém começou a dizer que você e o professor Park tem um caso.

Arregalei os olhos, olhei em volta e puxei Suhyun para dentro do banheiro masculino, nos tranquei em uma cabine. Meu coração estava em chamas, tudo parecia prestes a derrapar.

ㅡ Co-como assim, dongsaeng? O que houve?

ㅡ O professor Park foi te levar pra casa, o pessoal sabe porque me ouviram explicar tudo a Taehyung depois que você saiu. Mas um menino disse que você e ele têm um caso, que foi por isso que ele te levou de carro, disse que você e o senhor Park estavam mentindo sobre ele para…

Segurei os ombros dela. Parei de ouvir por alguns segundos, tive vertigem, me forcei a perguntar:

ㅡ Por acaso, uma dessas pessoas que está comentando é Park Jisung?

ㅡ Parece que ele foi um dos primeiros a falar… ㅡ sussurrou, seus olhos estavam cheios de pavor. ㅡ Acha que ele está fazendo isso só pra te atingir? ㅡ Assenti, soltei seus ombros e bufei. Me encostei na parede. ㅡ Então é verdade… Ele realmente assediou você e está se passando por vítima? ㅡ Concordei novamente. Ela cobriu a boca com a mão, sua visão se tornou turva.

ㅡ Mas isso não é seu problema, dongsaeng, senhor Park vai resolver. São apenas boatos que vão sumir. Não pense demais nisso. Obrigado por me contar, você fez muito por mim.

ㅡ Não, não, eu não fiz nada! Só quis te dizer porque acho melhor que saiba o que acontece para poder se defender e também para que saiba que estou do seu lado. Isso tudo é injusto, Jungkook oppa. Não pode prosseguir assim. Ah, me perdoe por usar novamente o honorífico!

ㅡ Tudo bem, tudo bem. Agradeço o apoio, Suhyun, todavia não se envolva muito. Será pior pra você. Eu e o professor Park daremos um jeito de conter isso. Não se exalte, de verdade.

ㅡ Irei me manter neutra enquanto puder. Não hesite em me pedir ajuda se precisar, oppa. Eu testemunho a seu favor.

Ri do quão séria e adorável ela parecia. Meu riso a tornou tímida. Agradeci com uma reverência sua gentileza em me alertar.

ㅡ Você é um cara muito legal e bonito, oppa. Não sei como tantas pessoas podem te odiar.

Recordei das palavras de Yoongi subitamente. Fizeram mais sentido do que nunca e usei delas para responder minha dongsaeng.

ㅡ Não. Elas fingem, Suhyun. Estão sempre fingindo porque é melhor pra elas.


{...}


Taehyung pediu tantas desculpas no almoço que ficou sem ar. Pelo que contou a mim e Yoongi, Hoseok havia lhe esclarecido tudo noite passada e não saiu impune: levou tapas e muitas repreensões por parte do Kim. Não o acompanhou no almoço conosco como de praxe. Nas palavras de Taehyung: Ele está morrendo de medo de falar com você, está com vergonha também. Disse que tem te observado na tentativa de conversar e que sempre fraqueja. Me mandou pedir desculpas por ele. Eu mandei ele mesmo pedir! Porém ele prefere se esconder na toca. 

Então eu não estava louco quando achei que alguém estava me observando. Era Hoseok. Ele continuava tão imprevisível quanto na infância.

"Diga a ele que tudo bem. Eu não guardo mágoa, só fiquei muito assustado ontem e estava em um dia péssimo. O diga para não ter medo de falar comigo. Não é preciso.", essas foram as palavras que pedi que fossem enviadas ao Jung. Taehyung concordou em mandar o recado. 

Eu já tinha esclarecido tudo sobre a festa e meus momentos com Jimin a Yoongi, então ele não ficou confuso ao me ver desenrolar o assunto com Taehyung. Na verdade, recuperou o tempo perdido flertando e criando laços com seu "crush". Fiquei feliz por eles, mesmo de fora do assunto eu não era uma vela. Acho que é assim quando as pessoas realmente gostam e se importam com você: elas fazem você se sentir parte, mesmo quando tudo contribui para que você sinta o contrário.

De longe, vi Jimin andando. Ele apenas sorriu pra mim. Imaginei que os boatos tivessem chegado até ele. Teríamos que nos ver menos na escola. Por mais que fossem mentiras inofensivas para estudantes, podiam custar o emprego de um professor. E, no nosso caso, nem mentira era.

A ideia de sermos pegos me deu calafrios. E eu ainda havia nos imaginado transando na sala de artes. Será que eu não pensava? Que merda.

O almoço acabou antes do que eu queria e a aula retornou. Vi Hoseok antes de entrar na sala e lhe ofereci um sorriso e um aceno. Ele tentou retribuir, mas estava suando e com uma expressão de terror. Ri, pois era estranho cogitar que ele me temia. Ao me ver rir, sua expressão melhorou.

"Você exala tudo aquilo que ele e os amigos odeiam, como o perfume de uma rosa."

Se ao sorrir eu podia confortar pessoas, então talvez eu estivesse disposto a acreditar nas palavras do hyung e considerar que eu espalhava um perfume pelo ar. E mais: talvez eu estivesse disposto a parar de me preocupar tanto, pois não era minha responsabilidade se as pessoas odiavam minha fragrância. Eu não podia impedir ninguém de ter asco de mim; tinha que me lembrar disso.


{...}


Saída da escola como no dia anterior. Não tinha visto Jimin. Iríamos ter que discutir novamente o andamento de nossas aulas. Me lembrei de Jisung ao passar pela saída e me convenci a esquecer. Uma pena que ele não se esqueceu de mim.

Várias coisas foram uma pena naquele momento: Yoongi ter ido correndo pra casa para ver Kyungseok, eu ter sido desatento, um número tão grande de estudantes ter saído tão rápido e de forma cruzada, bagunçando a visão. Pequenos e grandes detalhes que tornaram mais fácil que eu fosse puxado pela mochila e empurrado até um local escondido pelos muros. Caí na grama quando fui solto e gemi ao me levantar. Meu pulso esquerdo doía.

ㅡ O que você quer? ㅡ questionei. Agradeci por minha voz estar normal. Ele me olhou com fúria e riu, caminhou e me prendeu na parede. ㅡ Que porra você quer, Jisung? Eu não fiz nada. Me deixa ir!

ㅡ Que porra tem na cabeça pra dizer que não fez nada? Tem ideia de quantos problemas estou tendo por causa do seu protetor de merda?

ㅡ Não é minha culpa se Jimin nos viu. Você estava lá! Eu nem disse nada a ninguém. Isso se espalhou porque você começou a falar!

ㅡ E como sabe disso? Você nem sequer tem amigos pra que alguém te conte algo. Além daquele veadinho, ninguém liga pra você!

Meu rosto ferveu. Meus olhos se encheram de lágrimas e meus punhos se fecharam.

ㅡ Não fale de Yoongi desse jeito! Ele não tem nada a ver com isso pra você mencionar o nome dele dessa forma imunda!

ㅡ E eu menti, por acaso? Aquele infeliz, por acaso, gosta de mulher?

ㅡ O que ele faz ou deixa de fazer não é da sua conta. Você quer falar comigo? Fale! ㅡ Enxuguei os olhos com o antebraço. Gostaria de não ter reparado em como ele engoliu em seco antes de prosseguir. 

ㅡ Pare de me dar problemas. Não fale mais de mim para o seu professorzinho, ou seja lá o que ele é seu.

ㅡ Eu não falo de você! Eu nem mesmo iria contar a alguém se Jimin não tivesse visto. É você quem está tão empenhado em implicar comigo!

O olhar dele vacilou, o rosto enrubesceu. Nunca desejei tanto na vida que Yoongi estivesse errado sobre algo.

Ele me socou. Foi bem no estômago. Doeu um monte. Me agachei, meu sistema nervoso já estava colapsando, por isso não foi surpresa quando vomitei. As lágrimas rolaram, tudo girou. Não reparei mais nele ou no que fazia, apenas vi seus pés diante de mim. Não moveu um músculo durante segundos. Quando fez algo, me ergueu do chão para me prender na parede novamente. Eu já não via bem e estava começando a soluçar.

ㅡ Pa-pare com isso. Nem te soquei tão forte.

Não pude responder, já estava longe demais. Só desejei que acabasse logo, que o que quer que ele fosse fazer, que fosse rápido, porque eu não suportava mais estar ali em pé.

ㅡ Vamos! Pare de chorar! Que inferno, Jungkook!

Aquela foi a primeira vez que o ouvi dizendo meu nome. Se não estivesse tão ébrio teria notado melhor. Ele me soltou no chão, ao passo em que caí de joelhos, tentando de forma tosca regular a respiração. Jisung se abaixou à minha frente, me empurrou para que eu sentasse com as costas encostadas na parede, me deu tapas fracos nas bochechas, acredito que na tentativa de me reanimar. Não funcionou. 

ㅡ Água, e-eu preciso de água… ㅡ Foi tudo que consegui dizer. Claro que não esperei que ele fosse me dar, era mais um pedido destinado a qualquer outro do que a ele. No entanto, para mais uma surpresa naquele dia, ele tirou a mochila das costas e me deu uma garrafa pequena, fechada. Peguei sem pensar muito, contudo não pude abrir com a visão embaçada e mãos tão tremulas.

ㅡ Merda ㅡ ele reclamou; arrancou o objeto das minhas mãos, abriu e me devolveu. Bebi longos goles, contando de um a dez. ㅡ Está melhorando? ㅡ Assenti. Ele suspirou em alívio. Eu não compreendia mais nada. ㅡ Consegue andar? Quer que eu te leve até em casa?

Neguei duplamente. O devolvi a garrafa e me coloquei de pé, apoiei a mão na parede. Passei a manga da blusa no rosto. Tudo ainda girava um pouco.

ㅡ E como eu vou te deixar andar até em casa assim, merda? ㅡ Bufou e guardou a garrafa novamente. 

ㅡ Se você se importa ta-tanto assim… por que me bateu?

Seu lábio foi mordido com força e ele pareceu se encher de raiva outra vez. Levantou o braço; fechei os olhos, crente de que o próximo golpe seria no meu rosto. No entanto, tudo mudou.

Uma das coisas que não foi uma pena naquele dia: Hoseok estava obstinado a me perseguir.

Somente ouvi barulho de passos e quando abri os olhos, Hoseok tinha empurrado o Park no chão, repetia inúmeras censuras ㅡ até bem cômicas, não omito; em melhor estado, eu teria rido, e o fiz assim que possível ㅡ e o socava sem dó, enlouquecido.

Levei segundos para conseguir entender a reviravolta que nasceu diante dos meus olhos. Foi tudo tão rápido e inesperado. 

Gargalhei. Não havia nada mais que eu pudesse fazer. Hoseok estava proferindo xingamentos que eu sequer sabia o que significavam. Seu tom era altamente fino e raivoso e, por Deus!, Jisung estava tão confuso quanto eu. Tentava se afastar do Jung, a todo momento dizendo: Quem é você?!

Eu não me aguentava em pé. A briga acabou só porque Hoseok perdeu o foco ao me ver rir. Segurava os braços do garoto abaixo dele, o impedindo de fazer qualquer coisa, e me encarava com dúvida. Céus, ele parecia muito um cachorro curioso!

Se levantou e caminhou até mim como se há segundos não estivesse agindo como um personagem de Mortal Kombat. Jisung também ficou de pé, dirigiu um olhar de indignação absoluta a Hoseok e depois me encarou. Não disse nada, virou o rosto e saiu. Meu riso foi reprimido, entretanto eu ainda estava sorrindo quando meu agressor se foi. A brusca chegada de Hoseok havia mudado tudo.

ㅡ Jungkook, meu Deus! Você está bem? Ele bateu em você? Me diga que o vômito na grama não é seu!

ㅡ Eu estou melhor agora, não se aflija. E sim e sim, para as últimas dúvidas. Mas, Hoseok ㅡ voltei a gargalhar ㅡ como me achou aqui? O que estava pensando? O que estava fazendo? O quê? 

ㅡ Eu te procurei quando saí. Ia te espionar, não posso mentir! Só que aí você sumiu e eu fiquei vagando atrás de você! Te achei por sorte! 

ㅡ Sim, minha sorte. Vamos sair daqui. Eu quero chegar logo em casa.

ㅡ Claro, claro! ㅡ Concordou várias vezes com a cabeça. Achei engraçado.

Andamos até o pátio, até a saída; foi na calçada que um assunto surgiu ㅡ e quem iniciou fui eu, para surpresa de todos, inclusive minha.

ㅡ Não precisava ter feito aquilo. Mas agradeço por ter feito.

O rosto dele permanecia em pânico, porém se animou ao me ouvir. Jung Hoseok era… esquisito. 

ㅡ Ele pareceu prestes a te bater! Tive que fazer algo! E, graças ao meu bom Deus, cheguei na hora certa! 

ㅡ Acredito que sim.

ㅡ Você ainda me odeia? 

ㅡ Hm?

ㅡ Você ainda me odeia? Pelo que eu fiz! ㅡ Sua expressão era tão nervosa que comovia; me senti mais leve. Neguei com a cabeça. 

ㅡ Eu nunca te odiei, Hoseok. Só fiquei triste por tudo que aconteceu e fim que teve. Não guardo magoá, só… Não sei. Acho que passei todos esses anos aguardando para ouvir a sua versão da história.

Ele concordou, suspirou e estufou o peito. Idêntico a personagem de desenho animado. 

ㅡ Você meio que foi meu impulso para me assumir gay.

ㅡ Ah… uau. Eu achei que tivesse sido mais um teste.

ㅡ Também.  ㅡ Suspirou pesado. Dobramos a esquina. ㅡ Eu achava vários garotos bonitos, mas você era o mais atraente! Sua franja era retinha e eu achava incrível! Nunca tive coragem de dizer "Oi". Eu era do tipo que observava.

ㅡ Eu pude notar.

ㅡ Pois é! Aí, em um belo dia de sol, eu te vi andando sozinho e achei que aquela era a minha chance, porque minha mudança de escola já estava certa para o dia seguinte. Porém… quando eu cheguei em você, congelei. Eu percebi que realmente era do tipo que observa. Mas eu também era impulsivo! 

ㅡ Eu reparei.

ㅡ E só me deixei levar, entende? Nem era meu plano beijar você! Éramos crianças e eu nem tinha tanta noção de romance! Porém aconteceu. Achei que não faria diferença, mas quando voltei a esta escola e percebi como todo mundo tratava você… pecebi que foi irrelevante apenas pra mim. Me desculpe. Eu não quis te trazer tantos problemas. Não fazia ideia de que alguém iria nos ver e que esse estigma iria te perseguir. Eu lamento, Jungkook! Se você me perdoar, serei o ser humano mais feliz da Terra!

As mãos dele juntas em súplica me fizeram rir de novo. Não me pareceu nada ruim ser forçado a ver Hoseok devido ao romance de nossos pais. Pedi que desfizesse o gesto de prece e me pronunciei. 

ㅡ Está tudo bem, Hoseok. Não há o que perdoar. Eu compreendo que tudo foi um efeito borboleta antes de qualquer coisa. Não é sua responsabilidade. 

ㅡ Aah! Mesmo? Estou tão feliz! Muito, muito obrigado, Jungkook!

Recebi um abraço. Foi repentino e demorei para retribuir, todavia gostei quando fiz. O toque era diferente, tive que alertar meu corpo de que Hoseok não era ameaça. Logo nos separamos.

ㅡ Agora podemos ser amigos? Seu amigo bochechudo parece bem ciumento. 

ㅡ Yoongi? Não. Ele vai gostar de você. Sente conosco. Taehyung está ansioso para poder te levar.

ㅡ Eu sei! É que ele me ama muito. É um fardo que carrego, sabe? Ser assim tão legal. 

Ele falou de um jeito muito, mas muito sério mesmo. Não era brincadeira! Ele realmente acreditava em suas palavras! Dei uma risada alta, quase perdendo as forças nas pernas. Hoseok apenas abordou outra questão:

ㅡ Devemos falar sobre o namoro dos nossos pais?


{...}


Apareci leve na floricultura. Mesmo com todos os contratempos quase inacreditáveis do meu dia, algo na caminhada com Hoseok me fez bem. Lembrei dele e de Suhyun com carinho enquanto cuidava das flores. Sentia que… algo em mim estava esclarecido. Imaginei que fosse minha perspectiva das pessoas e seus papéis em minha vida e vice-versa. Concluí mais tarde que estava certo. 

Dahyun me contou sobre sua noite de halloween com os primos que a visitaram, dos filmes que viu e de toda a comida que mastigou. Mais calmo, expliquei a ela os motivos do meu desânimo no dia anterior. 

Ela ficou chocada, como achei que ficaria, ao saber sobre Jisung. A poupei dos acontecimentos recentes, já que nem sabia por onde começar e muito menos terminar de contar. 

Falei rapidamente com meu pai e o prometi explicar meu dia conspícuo quando retornasse. Eu iria passar a noite em Yoongi.

Havia prometido não deixá-lo só, e não deixaria.

Enchi minha mochila com o que precisava e tomei um banho rápido antes de sair. Deixei para jantar lá. Caminhei sem pressa até a casa dele e fui calorosamente recebido por Sana, que estava varrendo o chão. Yoongi, como de costume, estava fazendo o jantar. E que jantar! Ele estava alerta a várias panelas; tudo o que reconheci foi o Tteokbokki.

ㅡ Ah! Que bom que chegou, Jungkook! Deixe suas coisas no meu quarto e venha me ajudar. E saiba que desde já eu lamento pelo que você vai encontrar lá no corredor. Eu tentei impedir, mas quando uma criatura insiste em ser idiota, nada pode pará-la.

Confuso e um pouco assustado pelas palavras dele, fui deixar meus pertences em seu quarto. Nada aconteceu até eu sair do quarto. Quando fechei a porta e pisei no corredor, entendi tudo. 

Jungoo, há quanto tempo!

Eunwoo. Eunwoo de cabelo penteado, perfume forte, usando terno rosa e segurando um enorme buquê de Camélias. Fiqueis embasbacado. 

ㅡ São pra mim?

ㅡ Obviamente que sim! Flores bonitas para uma ainda mais bela. ㅡ Me entregou o buquê, enfiou as mãos nos bolsos e inclinou a cabeça para o lado. Eu quis rir tanto.

ㅡ Nossa! Muito obrigado, Eunwoo. Eu nem sei onde deixar estas Camélias.

ㅡ Vou as manter aqui até que você vá e as leve. Sempre pense em mim ao vê-las.

ㅡ Tenha certeza de que irei. Obrigado mais uma vez. Yoongi me quer na cozinha, então vou indo.

ㅡ Não vá sem antes ouvir o meu poema!

Não podia ser real.

ㅡ Poema? Você escreveu um poema?

ㅡ Sim! E irei recitá-lo, se assim você permitir.

ㅡ Claro! Eu acho… Re-recite.

Ele retirou do bolso um papel. Cobri a boca com a mão para disfarçar meu divertimento, não queria ser cruel.

ㅡ Assim como estas Camélias de botões rosados, meu coração se encontra caindo e desolado. No meu peito nasce uma flor que apelidei de Goo, pois é seu nome que a faz brotar em meu órgão cru. Por todo o meu sangue derramado, eu rolo e choro, na vã esperança de ser acolhido em seu colo. Os dias se passam e eu nado em lágrimas, esperando impacientemente pelos seus olhos quentes como magmas! Peço que ame estas charmosas flores, nelas estão contidos todos os meus doces amores.

Ele guardou o papel, fez uma reverência e ficou sorridente à espera de uma reação minha. Eu estava quente de tão sem jeito. Nenhuma palavra vinha à mente. Gesticulei e busquei um meio de fugir. 

ㅡ No-nossa… foi tão bo-bonito que estou sem palavras. Veja: estou até corado! Minha nossa, Eunwoo, eu não esperava por isso! Eu… eu não sei o que dizer agora.

Graças aos céus meu celular vibrou naquele momento. O puxei rápido do bolso e saí pela brecha. 

ㅡ Tenho que ver quem é. Mas eu já volto! E foi um lindo, lindo poema, Eunwoo!

Corri novamente para o quarto de Yoongi e tranquei a porta. Ouvi o agradecimento animado de Eunwoo e neguei com a cabeça. Às vezes os Min eram de matar de choque…

Se eu esperava ficar calmo, ler aquela mensagem não ajudou.

Jimin:

Nossa saída pode ser amanhã? Conversamos e depois nos divertimos. - 21:12

Não precisa ter sexo. Te ver já será prazeroso o bastante. - 21:12

Contudo, como já disse: faremos o que você quiser. O que você quer, Jeon? - 21:12

Eu queria uma máquina do tempo para avançar ao dia seguinte! 


Notas Finais


Quanta coisa, né? Nossa...
ALIÁS, eu não tinha planos de fazer o Jisung ser o Jisung do NCT, eu escolhi o nome aleatoriamente, mas podem imaginar ele assim pra não terem que criar um personagem.
Ele é assim: https://pin.it/4GNn4cA
É só isso mesmo.
Até!! 💌💕


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