História Pero me acuerdo de ti - A gota d'água

LETY

Cheguei em casa totalmente aturdida. Aproveitei a ausência dos meus pais e subi como um furacão para meu quarto. Eu estava mais perdida que agulha no palheiro. Meus pensamentos estavam bagunçados. A três dias eu tinha uma vida amorosa normal, um namorado atencioso, que mesmo não me completando, era um doce, um galã perfeito que fazia muitas suspirarem. E quando eu menos espero... Lembranças, reencontro, beijo, declaração. Tudo de uma só vez, me fazendo retroceder em minhas escolhas.

O furacão que eu chamava de vida estava destruindo a mim mesma. E seu eu não resolvesse logo, continuaria na mesma vida medíocre que eu levava conformada. Mas isso não continuaria assim.

Andei em círculos pelo quarto acrescentando mais pensamentos a bagunça mental que eu possuía. Eu estou decidida a não levar adiante esse relacionamento fajuto com o Rafa. Eu estou fazendo sofrer os dois. Ele pode muito bem encontrar alguém que corresponda seu sentimento, que não o beije friamente ou que deseje passar um tempo sem vê-lo como eu fazia.

Me lembrei do jantar que ele citou com a mãe dele, hoje a noite. Eu não poderia fazer isso em uma reunião familiar, sei que serei odiada por Dona Julia depois do que farei, mas essa situação não vai mais se pendurar. Vou ligar para ele vir aqui, e então colocarei um ponto final nisso.

Foi aí que me dei conta: Onde eu deixei o celular?. Justo agora, que eu mais preciso, ele desaparece. Vasculhei quarto todo a procura dele e nada, mas isso não vai me impedir, desci as escadas a fim de ligar pelo telefone residencial, mas avistei minha bolsa e mudei o caminho. Meu celular ainda estava dentro. Desbloqueei e a montanha de notificações de instaurou. 27 mensagens do Luigi. É, eu tirei mais dias de folga do que deveria, coitado, estava sozinho no ateliê. Apaguei essas notificações, outra hora resolvo isso, mas uma segunda conversa me despertou a curiosidade. Omar Carvarral, 1 nova mensagem. Foto.

A um tempo eu não falava com Omar, é claro, ainda tínhamos contato, principalmente depois que ele e Carol começaram a namorar. Mas é inegável que quando eu e Fê estávamos juntos, nosso contato era mais constante. Cliquei na mensagem curiosa, fui direcionada ao seu contato e a foto surgiu mais ampliada, com ela, uma breve legenda:

“Sei que prometi deixar você viver em paz e descobrir sua felicidade em outra pessoa, mas não posso deixar esse idiota te enganar mais nem um minuto. Sei que tomará a decisão certa, amando-o ou não. Fê”

Abri a foto e dei zoom. Eu não estava ficando míope, estava nítido demais. Rafael Mattos estava agarrando uma ruiva, mas... Que cara de pau! Disquei seu número furiosa, o cínico ainda tinha o descaramento de não me atender. Liguei novamente e ele finalmente atendeu.

- Oi amor, sentiu minha falta? – Riu

- Sim querido, por que não me faz companhia um tempinho? Estou tão sozinha... – Fiz voz manhosa

- Não demoro

- Até daqui a pouquinho então – Simulei beijos e deliguei.

Esse descarado já deve ter dispensado a ficante e vem continuar com o teatrinho para o meu lado, isso não continua assim, ah mas não mesmo! Me certifiquei de que meus pais não voltariam agora e olhei novamente para a mensagem de Omar mandada por Fernando. Me perdi em pensamentos novamente. Me lembrei da amizade de Fernando e Omar, eram dois trapalhões. Me peguei rindo sozinha e fiquei feliz por esse reencontro deles. A campainha soou e minha raiva tomou conta novamente. Respirei fundo e coloquei o melhor sorriso para abrir a porta.

- Oi... – Ele sorriu

- Entra – Abri mais a porta – Você veio rápido

- Sim, não poderia deixa-la sozinha em um caso desse – Se aproximou e senti seu bafo de álcool

- Não gosto de ficar sozinha

Ele abraçou minha cintura e eu segurei seu rosto e ele parecia gostar. Acariciei a região para o tapa certeiro que avermelhou seu rosto.

- Seu safado! Canalha! – Me afastei

- Você ficou louca?

- Acabou Rafael!

- Você ficou louca? – Ele me olhava com a mão onde eu bati

- Que descaramento da sua parte seu cínico! Você se agarra com uma por aí e ainda vem dar um de inocente? Por favor!

- Do que você está falando?

Mostrei a foto e ele se calou me olhando.

- Lety...

- Sai da minha casa, eu não quero te ver, está tudo acabado

- Lety me escuta

- SAI DA MINHA CASA!

- QUER SABER? EU VOU MESMO! NUNCA TE AMEI, ESTAVA COM VOCÊ PARA NÃO SER DESERDADO. DANE-SE ESSE DINHEIRO! VOCÊ É UMA FREIRA SEM AÇUCAR!

- SÓ POR QUE EU NÃO ME DEITEI COM VOCÊ? ÓTIMO! ADORO SER FREIRA.

- MIMADA! SE NÃO FOSSE TÃO IDIOTA TUDO ESTARIA BEM!

- E VOCÊ COM SEU DINHEIRO, QUE É A ÚNICA COISA QUE TE IMPORTA – Tirei o anel do dedo e joguei nele – ENGOLE!

Ele saiu pisando duro e eu me sentei no sofá. Estava aliviada por ter me livrado dele, mas estava ofendida por ser usada como carta de boa conduta para o pai dele. Tentei não ficar com raiva de Dona Julia, talvez ela não soubesse disso, ela era tão boa... Ou estava apenas fingindo e compactuando com o filho. Eu nunca vou saber por que naquele antro de lobos eu não entro nunca mais.

Mas havia ainda uma coisa que me encucava, ou melhor, alguém. Meu Fê... Agora nada me impedia de me jogar nos braços dele e dizer todos os ‘Eu te amo’ que eu guardei durante esses anos. Nada me impediria de reatar meu grande e verdadeiro amor. Só preciso localiza-lo.

Olhei ao redor sem saber por onde começar e vi o celular ainda acesso. Estava no contato do Omar, se o Fê mandou a mensagem, eles dois estão juntos. Peguei o celular. Finalmente as coisas estavam conspirando a favor da minha felicidade.