No senado.
A oratória de Leia fora aplaudida por todos no recinto, até mesmo pela oposição. De fato a jovem conseguia ser eloquente em demasia quando se tratava de ajudar o povo da longínqua galáxia que tanto sofrera nas mãos malévolas de Palpatine, vez ou outra ela pensava se podia ter herdado essa característica de Padmé.
— Senadora Organa, você conseguiu novamente — Mon Mothma surgiu ao lado dela após o discurso, acompanhada por Pooja Naberrie e Amilyn Holdo que possuíam sorrisos orgulhosos para ela. — Com esse discurso, tenho certeza de que a maioria dos votos é nossa.
— Obrigada, Chanceler Mothma — ela agradeceu e soou abatida, o que não passou despercebido pela mulher mais velha, tal fato só confirmara o relato de Pooja sobre como encontrou Leia. — Mas com todo o respeito, eu apenas segui seus ensinamentos. A votação ainda vem a seguir. Não quero cantar vitória antes desta ser uma margem sólida.
— Sim, querida — Mon concordou pondo uma mão no ombro da jovem quase que maternalmente. — Após a votação, quero você na Sala da Chancelaria, para conversarmos. Entendeu, Leia? — a mulher mais velha falou fitando Leia seriamente, de modo que a jovem percebeu que Mon havia notado seu esmorecimento repentino.
— Sim, Chanceler — Leia respondeu e Mon seguiu para resolver os assuntos que abrangiam sua nova função, não antes de assentir positivamente para a garota, deixando para trás as duas mulheres que antes lhe acompanhavam.
— Na minha humilde opinião, você foi incrível! — Amilyn a elogiou aproximando-se mais dela, deixando de lado a linguagem formal que políticos costumavam usar, afinal, ela estava entre suas amigas e não necessitava do jargão.
— Sim! Você tinha que ver a cara de "certas pessoas" quando começaram e te aplaudir — Pooja concordou rindo levemente.
— É mesmo? — Leia perguntou sem muito interesse na resposta, os acontecimentos recentes ainda estavam frescos em sua memória e não a deixavam nem por um segundo, o que só a perturbava. Ela ainda não sabia o que fazer, só sabia que não queria voltar tão cedo ao seu apartamento, pois fora lá onde todo o desastre aconteceu, onde ela descobriu que duas das melhores pessoas na sua vida lhe traíram.
— Leia, o que aconteceu? — fora Pooja quem perguntou ao notar a distância da amiga/prima, lembrando-se de como a encontrou pelo holo-pad, logo atraindo a atenção de Amilyn que também já possuía estampado na face o sentimento de preocupação.
Tentando se desvencilhar do assunto a jovem respondeu: — Não é nada.
— Não é nada? — Pooja indagou retórica e com certo grau de ironia. — Se não fosse nada você não estaria chorando quando te chamei pelo holo-pad.
— O quê? — Amilyn perguntou assustada com o que havia sido dito, sua preocupação se elevando de nível.
— Eu não quero falar sobre isso — Leia respondeu firme. — E eu não quero vocês comentando minha vida. Agradeço toda a preocupação, mas eu vou resolver isso logo e não preciso de ajuda. Agora, se me dão licença, a votação vai começar — Organa respondeu e em seguida retirou-se do local, deixando as duas mulheres sozinhas e espantandas demais para esboçar qualquer reação. Amylin só esperava que o humor de Leia fosse passageiro, e que ele lhe contasse o que de fato havia acontecido. Não surpotaria vê-la sofrendo sem poder ajudar.
A votação seguiu e terminou a favor de Leia, embora ela não tivesse ânimo para comemorar a vitória de sua campanha. Cabisbaixa em meio aos corredores, ela apenas sorria falsamente e agradecia aos muitos que apareciam para cumprimentá-la e elogiá-la. Vez ou outra, algum senador da Velha República lhe dizia o quanto era parecida com sua falecida mãe, no entanto, ela não tinha muito respeito por essas pessoas, pois foram as mesmas que apoiaram o Império em sua ascensão ignorando completamente as súplicas de Padmé na época.
De fato, Leia criou grande admiração pela figura sublime que fora a Rainha Amidala, quase se igualando à admiração que Luke possuía por Anakin até mesmo depois da descoberta surpreendente de que ele era Darth Vader.
Nas últimas horas, Leia passara a pensar bastante na falecida mãe. Pelo o que Pooja lhe contava, ela era uma pessoa gentil, afável e de personalidade magnética, de modo que qualquer um que a conhecesse se atrairia por ela. De vez em quando, ela se perguntava como seria crescer ao lado dela, e o que ela diria para aplacar a dor que residia em seu coração.
"Você quer mesmo saber?" — uma voz familiar ecoou em sua mente. Instintivamente, ela olhou ao redor procurando o dono da voz, mas ninguém parecia se encaixar no padrão formado em sua cabeça, foi então que se lembrou de quem poderia ser.
"Anakin?" — ela chamou sem muita esperança de receber uma resposta.
"Olá, jovem" — sem mais dúvidas ela foi direta:
"O que você quer?"
"Quero que venha para Naboo"
"Naboo?" — ela indagou retoricamente.
"Sim, Leia"
"Eu não posso ir, Anakin. Eu..."
"Eu já sei, jovem. Você tem um dever com o povo desta galáxia. Eu entendo"
"Certamente que sim" — ela respondeu feliz pelo homem em sua mente compreender sua posição.
"Esses políticos irritantes. Eles estão certos, por mais que eu odeie admitir isso. Nesse aspecto, e também em vários outros, você realmente lembra Padmé" — após esse comentário, Leia sorriu timidamente, um sorriso que logo se desfez devido ao contexto em que a menina se encontrava. "Mas eu não vou precisar te convencer, Leia"
"O que quer dizer?"
"À sua esquerda" — foi a última vez que a Princesa ouviu a voz de seu pai biológico naquele dia. Leia imediatamente virou-se e olhou para a direção mencionada, encontrando Amilyn e Pooja vindo na direção dela.
— Senadora Organa, a Chanceler requisita sua presença na Sala da Chancelaria — fora Amilyn a se pronunciar, Leia notou a habitual linguagem formal, o que só podia significar que Mon falou sério mais cedo. — Podemos?
Leia assentiu e as seguiu pelos corredores, deixando Anakin para trás em seus pensamentos. Logo, se encontravavam em frente à requintada Sala da Chancelaria. As portas se abriram e Leia adentrou o gabinete, não estranhou o fato de que as duas moças não entraram, afinal, ela pediu claramente às duas que não se metessem em sua vida pessoal e era exatamente isso que seria tratado naquela, pelo menos ela esperava que fosse pequena, reunião com Mothma.
— Chanceler — ela fez uma curta reverência em sinal de respeito antes de sentar.
— Leia — suspirou antes de continuar. — Você já deve saber que não a chamei aqui para tratar de política.
— Sim, senhora.
— Pois bem, me conte o que está acontecendo — Mothma foi direta. Não tinha vergonha de atravessar os limites entre o profissional e o pessoal com a menina, para ela, Leia era como sua filha, e esta lhe retribuía o sentimento maternal. Desde que Organa e Amidala faleceram a mulher se sentia na obrigação de cuidar da jovem, observando e guiando seus passos.
— Senhora...
— Por favor, Leia. Estamos a sós, me chame apenas de Mon.
— Certo, Mon... — a jovem repetiu o nome como se o testasse, após, suspirou pesadamente buscando palavras que explicassem a situação humilhante pela qual ela passara a algumas horas atrás. Cada palavra fria, cada xingamento bem vivos em sua mente e por estar perto de uma pessoa que ela confiava permitiu que as lágrimas rolarem novamente por seu belo rosto relembrando os acontecimentos. Mothma observou o comportamento incomum da jovem com certa preocupação, já a vira abalada antes e os motivos para isso eram sempre extremos, Leia não era do tipo que chorava por qualquer razão.
A Chanceler foi ao auxílio da menina e a abraçou, afagando seus cabelos na intenção de acalma-la.
— Eles me traíram. As melhores pessoas da minha vida me traíram! — a voz embargada pelo choro encheu os ouvidos da mulher mais velha, esta rapidamente entendeu o que havia acontecido. Skywalker relacionou-se com Solo e a menina descobriu, fazia sentido que estivesse tão deprimida, afinal quantas vezes Leia lhe contara sobre as fortes ligações que possuía com os dois rapazes. A única vertente a não ter clareza era o porquê daqueles dois terem ficado juntos, mas por agora, era melhor que isso não tivesse sentido, pois se fizesse, só pioraria o estado da menina.
— Eu não sei o que fazer. Não sei se eu me afasto, não sei se os largo para sempre! — a garota dizia e intensificava o aperto dos seus braços em volta da mulher mais velha. — Esse seria o certo, não é? Depois do que eles fizeram era pra ser. Mas eu não os quero longe de mim! Eu já mandei Han ir embora! Dei um prazo enorme para ele ir só porque não quero entrar naquele maldito apartamento tão cedo, e também já me arrependi disso! Por mais que eu esteja acumulando tanto ódio… Eu não os quero longe de mim, Mon! O que eu faço?
— Leia… acalme-se — Mon disse suave continuando a acariciar os cachos volumosos, procurando manter contato visual com as amêndoas marejadas, logo as encontrando. — Você precisa se acalmar. Para depois tomar uma decisão — A mulher agarrou firmemente os ombros da jovem e prosseguiu. - É você quem tem que ditar o que vai acontecer a partir de agora. Entendeu?
— Eu entendi — Leia respondeu retomando a postura.
— Certo. Porque você não vai gostar do que eu vou dizer agora — a mulher disse retornando para a sua cadeira. Ela alcançou seu transmissor e disse: "Garotas, entrem agora."
Como o esperado, Amilyn e Pooja entraram na sala e depararam-se com uma Leia confusa e hesitante quanto as ações delas. Imediatamente as portas se fecharam deixando-as sozinhas com as já presentes no local.
— Elas estavam ouvindo? — a jovem perguntou enervada, soando assim mas do que deveria.
— Leia, acho que já está imaginando o que está prestes a acontecer, ou pelo menos faz alguma ideia — Mothma seriamente, juntando as mãos frente ao seu próprio rosto, demonstrando que agora ela falava como superior de todas as presentes ali, fazendo com que Leia tomasse mais cuidado com o que dizia. — Amilyn e Pooja a acompanharão até o planeta Naboo, afinal é um ótimo lugar para relaxar e pensar, já que é evidente que você não está em condições de tomar decisões desse porte no momento.
— O quê? — a menina indagou incrédula, não era possível o que estava acontecendo, mesmo sendo Mon ela não se aguentou.
— Está decidido. Você tirará uma licença para cuidar de assuntos pessoais.
— É a minha vida! — ela gritou ao se levantar, pensando estar certa ao fazer isso, pois como Anakin dissera, ele tinha um dever com o povo, um compromisso que jamais faltaria, não por vontade própria, e se tivesse que berrar com seus superiores ela o faria.
— Sim, é a sua vida! E é exatamente a sua vida que pode acabar prejudicando seu julgamento e consequentemente acarretar em erros futuros! — Mon respondeu à altura, logo se arrependendo por ter gritado com a jovem na frente das melhores amigas e também colegas de trabalho. — Senadora Organa, como a mulher madura, responsável e compromissada que você é deve lembrar-se de que, como senadora, tem um dever com o povo — Mon prosseguiu com o tom de um diplomata na intenção de parecer razoável, vendo que Leia atendia aos seu chamados atentamente — Mas como pretende ajudar o povo se a senhorita não está ajudando nem a si mesma? — aquela conversa estava mais para uma batalha, onde a Chanceler tinha de usar suas melhores armas, argumentos, para vencer, pois a jovem animosa a sua frente era uma exímia adversária naquele jogo e ela não podia perder.
— Hoje, eu fiz isso — Leia respondeu reunindo o máximo de confiança possível, ela também reconhecia aquela conversa como uma batalha e diante de uma superior, ela precisava parecer respeitosa. — Hoje eu falei em favor dos menos afortunados e por isso conseguimos aprovar nossa proposta, e agora as crianças dessas pessoas terão direito a um ensino digno. Eu fiz isso, eu os ajudei no estado em que me encontro agora. Então, Chanceler Mothma, não vejo o porquê de uma licença — fora sua melhor cartada e todas reconheciam isso, porém, nem Pooja e nem Amilyn se atreviam a dizer alguma coisa, permaneceriam caladas como Mon as tinha instruído, pois qualquer dito errado poderia culminar na perda daquela batalha e a Chanceler não estava disposta a arriscar.
— Eu lhe digo o porquê, Senadora Organa. Um motivo simples que você compreenderá agora — suspirou antes de prosseguir procurando as palavras certas. — Quando se põe o dever acima dos sentimentos, exprimindo-os, você acaba desenvolvendo um vício nisso. E cada vez mais suas emoções acumulam e, em um determinado momento, elas estarão tão exprimidas que uma hora irão explodir, farão você surtar, de modo que não conseguirá mais fazer nada com isso — a Chanceler abaixou a cabeça, tentando não deixar as próprios emoções transparecerem relembrando os horrores que ela teve que passar durante seus anos como líder da Aliança Rebelde.
— Confie em mim, querida, eu sei bem como é isso. Você desde de sua infância teve que levar um grande fardo sobre suas costas, como princesa, como líder rebelde e agora como senadora. Pense bem, um descanso não lhe faria mal, e muito menos à população desta galáxia — a mulher mais velha argumentou sentando-se novamente, prostrando uma mão sobre a testa revelando a própria exaustão.
Leia, diante da fala razoável, sentou-se também, e como aconselhado ela ponderou sobre a questão concordando com Mon finalmente. Ela necessitava descansar, por os pensamentos em ordem, achar soluções para os problemas e Naboo não era de todo o ruim, além de ser o planeta natal de sua mãe biológica e lá estar parte de sua família, Naboo abrigava paisagens naturais de encher os olhos tantos dos nativos quanto dos visitantes, e nesse ponto ela tinha de concordar com o maldito Imperador, o belo planeta era de fato a "Joia da Orla Média", a mesma já havia visitado o local em uma de suas incursões diplomáticas com Pooja.
— Está decidido então — a voz da menina se fez presente depois de um longo tempo, fazendo criar expectativas nas presentes - Eu tirarei a licença. Vou resolver essas questões e voltarei renovada.
A fala despertou um alívio na mulher mais velha que agradeceu à Força por ela ter aceitado sua proposta — Obrigada, Leia.
— Por nada, Chanceler — respondeu virando-se para as outras duas. — Eu espero vocês no hangar. Encontrarmos-nos dentro de uma hora.
— Estaremos prontas para a viagem — Amilyn respondeu, e em seguida Leia deixou a sala sem dar mais explicações.
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